AUTORITARISMO E EXPLICITUDES NA NARRATIVA DO TELEJORNAL

June 29, 2017 | Autor: Fabiana Piccinin | Categoria: Narrativa, Autoritarismo, Telejornal, Explicitudes
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AUTORITARISMO E EXPLICITUDES NA NARRATIVA DO TELEJORNAL AUTHORITARIANISM AND EXPLICITNESS IN TV JOURNALISTIC NARRATIVE Fabiana Piccinin1

RESUMO: O artigo discute a relação estabelecida entre a explicitude das imagens dos telejornais contemporâneos e sua natureza autoritária. Parte-se da hipótese de que, na busca por ofertar o “mais real do que o real”, a mídia apresenta, a partir dos recursos tecnológicos, imagens intensas, contundentes e explícitas capazes de serem conotadas como traumas pela impossibilidade de elaboração. Dessa forma, esses dizeres imagéticos se tornam, assim, autoritários em sua oferta de sentido totalizante. Para análise, apresentam-se alguns exemplos de acontecimentos que foram exibidos pela mídia nacional e internacionalmente, a partir de imagens de grande impacto. PALAVRAS-CHAVE: telejornalismo; autoritarismo; real; explicitudes. ABSTRACT: This paper discusses the established relation between the explicitness of images in contemporary TV journalism and its authoritarian nature. It is assumed that, in searching for the authentic realness, “more real than real”, media presents, through technological resources, intense, assertive and explicit images capable of being labelled as traumas for their impossibility of elaboration. In this sense, these imagetic sayings become, then, authoritarian in their offers of totalizing sense. For the analysis, some examples are presented of events that were exhibited by national and international media, through images with deep impact, capable of producing a stunned feeling proper of traumatic situations. KEYWORDS: TV journalism; authoritarianism; real; explicitness of saying.

1 Autoritarismo e explicitude das imagens Uma ideia mais imediata a respeito do conceito de autoritarismo permite pensá-lo, por sua natureza verticalizada e autoritária, como o que implica, sobretudo, na restrição das liberdades. Trata-se de um método de fazer política em que o governo controla a vida dos indivíduos em vez de estar submetido ao controle democrático pelos cidadãos (JONHSON, 1997). Ou, por outra maneira, quando a autoridade da fonte da qual emana a ordem deixa de ser uma construção consensual coletiva para tornar-se arbitrária a partir do uso do poder e de meios ideológicos. (GALLINO, 2005) e sem exercício das liberdades (OUTHWAITE, 1996). Nesta perspectiva, a forma mais extrema de autoritarismo é o totalitarismo, um sistema político concebido para obter controle completo da vida interior e exterior do indivíduo. Embora, na gradação proposta por Arendt (1989), o autoritarismo seja um “primeiro estágio” dos regimes ditos de exceção e de grande intervenção do Estado, a autora apresenta o autoritarismo como a dominação permanente de todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida. Segundo Oliveira: Os governos autoritários restringem a liberdade, mas não a eliminam, porque permanecem sempre ligados aos direitos civis. Nos governos tirânicos ou ditatoriais, 1

Professora do Curso de Comunicação Social e Mestrado em Letras. Coordenadora de Pós-Graduação Stricto Sensu. UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul. E-mail: [email protected]

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porém, a liberdade é abolida completamente, o tirano assume sozinho a esfera pública e as decisões são direitos exclusivos do ditador, que age de acordo com seus interesses. Nesses governos assistimos à eliminação clara da “pólis”, pois a característica principal da esfera pública é a participação plural dos cidadãos em um espaço comum. Por fim, os governos totalitários operam com a total eliminação, não apenas da liberdade, mas da própria espontaneidade através do condicionamento e da massificação. (OLIVEIRA, 2006, p.4).

De qualquer modo, em ambas as situações a ideia de censura se coloca a partir do gerenciamento das possibilidades de saber e dar a conhecer, em que suas condições são reguladas a partir de uma mão firme e nada invisível, que prescreve muito precisamente a aplicação das penalidades para as transgressões ao seu cumprimento. A censura, portanto, é pensada nas circunstâncias em que é deliberadamente assumida pelo Estado que a promove em nome de um certo bem estar. Ocorre, no entanto, que nas situações opostas a esta, em que se supõe a liberdade do saber e do conhecer, a censura pode também se estabelecer, embora não direito, mas de fato. E, portanto, por não assumida oficialmente, se estabelece de modo ainda mais perigoso. Assim, pensa-se em dinâmicas sociais operadas em níveis simbólicos que, por sua natureza autoritária, travestem-se de libertárias ao ofertarem-se em formas explícitas de seus dizeres. Especificamente, pensa-se nas narrativas oriundas da dimensão midiática, e neste caso especificamente as da televisão, analisadas nos programas de notícias que se endereçam à sua audiência como aquele momento da grade de programação identificado com o discurso referencial. São, assim, marcadas pelas práticas discursivas não ficcionais, vistas em sua natureza e comprometimento com os fatos do mundo. Relacionadas, portanto, ao que foi eleito como o que de mais importante aconteceu no dia segundo o rastreamento feito pelos jornalistas nas competências de seus fazeres. E que é de direito do indivíduo conhecer para que, em algum nível, possa bem empreender o gerenciamento de suas atividades, desde uma dimensão mais cotidiana, até uma instância mais complexa e abstrata atinente à ideia de estruturação do sentido de mundo. Para refletir sobre a questão do autoritarismo nos telejornais, é necessário considerar que, desde o fim da censura oficialmente regulada pelo Estado no país, nas últimas cinco décadas, usufrui-se de um sentido coletivo de liberdade ampla e irrestrita no que diz respeito ao campo das artes e da mídia e de suas produções simbólicas. Assim, as narrativas midiáticas como integrantes dos discursos contemporâneos resultam das influências externas, macroestruturais, com as quais tem que lidar e que neste momento permitem por princípio a liberdade dos dizeres, em combinação com razões e idiossincrasias que fundamentam seu sistema de funcionamento e operacionalização. O que se pode observar, em termos midiáticos, nesse “acesso sem limites” aos dados da realidade, diz respeito justamente à oferta discursiva sobre os acontecimentos de forma também explícita e pretensamente autêntica. Por outras palavras, é dizer que a mídia toma para si a missão de ofertar “o real mais real do que o real” construindo esta autenticidade ao se despir de mediações ou camadas. Assim, diferentemente da Modernidade, quando as narrativas lançaram mão de recursos estéticos para adornar os discursos sobre a realidade, no contemporâneo, notase a emergência do que os autores chamam de “paixão pelo real” ou retorno ao real (FOSTER, 2005), tratado pela cultura da redução dos artifícios, em busca da realidade mais espontânea e portanto, mais explícita. Pode-se compreender essa demanda pelo real como decorrente do sentido de aceleração que se experimenta contemporaneamente e que se evidencia em valores como o presenteísmo por oposição à aposta no futuro. Por consequência, essa dinâmica resulta na fragilização dos grandes relatos que ora sustentavam as utopias impulsionadoras da Modernidade que agora são 107

substituídas enquanto insumo por um imaginário coletivo pautado nas causas individuais e imediatas. Um ideário bem expresso na concepção de liquidez descrita por Bauman (2004): Diferentemente da sociedade moderna anterior, que chamo de "modernidade sólida", que também tratava sempre de desmontar a realidade herdada, a de agora não o faz com uma perspectiva de longa duração, com a intenção de torná-la melhor e novamente sólida. Tudo está agora sendo permanentemente desmontado mas sem perspectiva de alguma permanência. Tudo é temporário. É por isso que sugeri a metáfora da "liquidez" para caracterizar o estado da sociedade moderna: como os líquidos, ela caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades "auto-evidentes". Sem dúvida a vida moderna foi desde o início "desenraizadora", "derretia os sólidos e profanava os sagrados", como os jovens Marx e Engels notaram. Mas enquanto no passado isso era feito para ser novamente "re-enraizado", agora todas as coisas — empregos, relacionamentos, know-hows etc. — tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis. A nossa é uma era, portanto, que se caracteriza não tanto por quebrar as rotinas e subverter as tradições, mas por evitar que padrões de conduta se congelem em rotinas e tradições. (BAUMAN, 2004).

Tomando a metáfora da liquidez para explicar o contemporâneo, advoguei em estudos anteriores (PICCININ: 2012; 2013), em consonância com autores como Zizek (2003) e Figueiredo (2010), a ideia de que a reinvidicação do real tem agora a ver com esse desconforto produzido pelas relações fluidas e efêmeras do contemporâneo. E à necessidade, em movimento dialético subsequente, de âncoras referenciais e de sentido como contrapartida a essa volatilidade das relações. Como diz Zizek (2003), busca-se o deserto do real, de um real autêntico face ao que se vive e com o qual se possa reagir à fluidez e falta de consistência, gerados pelo descolamento do mundo e das subsequentes hiperimagens utilizadas para simbolizar o referente. Para Santos (1986), trata-se da desreferencialização, manifestada pela dissolução ou pelo descolamento da dimensão material da experiência concreta em direção ao seu referente discursivo, a partir de textos e representações imagéticas, gerados pela imersão tecnológica e midiática. Ou seja, o sistema midiático que se consolida como instituição de mediação de saberes durante a Modernidade, agora se transforma, ele próprio, neste lugar a partir do qual estes dizeres que regulam as sociabilidades se estruturam e constituem as inteligibilidades (SOSTER, 2009; 2012). Portanto, não importa mais o objeto em si, mas o discurso ou a narrativa midiática sobre este. Segundo Zizek (2003), a realidade virtual generaliza este processo de oferecer um produto esvaziado de sua substância, oferecendo a própria realidade esvaziada do núcleo duro do real. O virtual passa a ser o real e seus limites com a ficção, que sempre foram tênues, passam a um estado de dissolução. Ou como diz Jaguaribe (2009), a experiência e a representação ficcional por sua força mimética fundem o objeto e seu invólucro imaginário. São as mídias, portanto, as construtoras do que Baudrillard (1991) chama de hiperrealidades que se colocam como a base da sociedade do simulacro. Estas imagens hiperreais “(...) refazem este mundo à sua maneira, hiper-realizando e o transformando em espetáculo”. (PICCININ, 2013, p. 131). Espetáculo gerado a partir da porosidade entre o vivido e sua representação, ou sobre a história coletiva e as memórias imaginadas dos meios de comunicação, fazendo crer que podem, pelo sentido construído, apreender este real a partir de ofertas narrativas ancoradas pretensamente num “real” mais real que o real. Uma oferta de realidade convincente porque explícita, e porque explícita, autoritária pela impossibilidade de elaboração.

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2 De como se constrói o autoritarismo das imagens Para Zizek (2003), a autenticidade de um discurso reside num ato de violenta transgressão em relação ao real na perspectiva lacaniana. Ou seja, a reafirmação do real é uma estratégia reafirmadora, mesmo quando contraditória, quando culmina em seu oposto aparente e consequente espetáculo. No jornalismo de televisão este fenômeno é identificável pela força oportunizada pelas imagens e porque estas são pautadas pela força de suas temáticas violentas e traumáticas. Neste sentido, é possível pensar em eventos mundiais que tiveram sua representação potencializada em sua versão midiática audiovisual, tornando-se mais “reais” que seus fatos originais. Coberturas de casos paradigmáticos como o ataque às torres gêmeas de 2001 ou das manifestações da Primavera Árabe em 2013 e 2014 podem servir à esta análise para ficar em alguns exemplos.

Fig.1 - Atentado às Torres Gêmeas em 2011

Nacionalmente, a contundência e, por vezes, a crueza dos fatos – ainda que construída – como a tragédia da boate Kiss, em 2013, na cidade de Santa Maria (RS) , que resultou na morte de 272 pessoas, do massacre aos detentos no presídio em São Luís do Maranhão (MA), do assaltante carioca preso nu a um cadeado de bicicleta no passeio público do Rio de Janeiro e muito machucado (RJ) , ou da dona de casa, vítima de bala perdida, também no Rio de Janeiro (RJ) arrastada pelo carro da polícia para citar alguns mais recentes durante o ano de 2014.

Fig. 2 - Velório dos mortos na Boate Kiss

Fig. 3 - Menor espaçando e preso na rua no RJ

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Fig.4 – Dona de casa, vítima de bala perdida, arrastada pelo carro da PM

É oportuno pensar o efeito de real produzido por essas imagens a partir da concepção proposta por Barthes (1988), que o pensou justamente mediante os elementos da narrativa que indicam ou simulam este real em sua representação direta, capazes, neste caso, de dar a este telespectador a ideia de que o autêntico relato se apresenta por oponência aos sentidos múltiplos. Ou seja, a pretensão do telejornal de ofertar o fato como equivalente/coincidente do experienciado e do vivido. Para Barthes (1988), o efeito de real cria a ilusão de coincidência entre o signo e o referente e, dessa maneira, a realidade é autenticada em narrativas marcadas pela intensificação do que contam e pelo modo como ofertam este sentido de explicitude de sua formatação. Ou, nas palavras de Lopes (2012), trata-se de um real que se pretende “sem mediações” (LOPES, 2012), como sintoma da necessária desconstituição dos artifícios ou de tudo que possa sugerir a artificialidade desse narrar. É justamente esta ideia da “completude dos sentidos” pretendida pelo efeito de real barthesiano a qual se pretende relacionar com o autoritarismo. As narrativas que se apresentam de modo geral propondo esta coincidência entre a experiência e a vivência, como diz o autor, via de regra estão associadas a temas fortes, por assim dizer traumáticos, dos quais o discurso tende a gerar espetáculo justo porque faz ou propõe essa transgressão de que fala Zizek (2003), ao real referencial. Assim, observa-se algo da ordem do excesso que se apresenta como fonte fértil para a ficcionalidade, pela impossibilidade de simbolização que a experiência traumática oferece nos termos psicanalíticos. O sentido destas imagens torna-se totalizante em sua oferta porque não oportuniza sua reelaboração visto que se apresentam de forma desvelada. A explicitude que certas narrativas de choque propõem, imobiliza pela falta de protocolos necessários à simbolização, como aponta Seligman-Silva (2012, p. 320). É em razão dessa incapacidade de metabolizar essas imagens traumáticas, especialmente em um tempo em que estas adquirem um estatuto de maior importância que os fatos que lhe deram origem, que o autor as nomeia como “imagens gorgôneas”, como se nelas: (...) o real tivesse se petrificado e elas possuíssem a capacidade de nos contaminar com esta disposição ao estarrecimento. A intensidade emocional ligada a essas imagens normalmente tem uma origem em fatos violentos, muitas vezes relacionados à morte.

Assim, as imagens, por sua explicitude, por se oferecerem pretensamente o mais próximo da realidade que lhes deu origem e por usufruírem de uma legitimidade maior que o próprio real em tempos hiperreais, apresentam-se em sentido totalizante. E, por essa razão, não são devidamente elaboradas por quem as assiste, levando à situação de estarrecimento, fruto deste trauma. Explícitas e estarrecedoras, estas imagens pretendem-se, sem lacunas de sentido, constituírem-se, em última análise, em narrativas autoritárias, eficazes o suficiente para serem traduzidas literalmente pela “realidade como ela é”. E assim obterem a adesão voluntária de quem as vê. 110

3 O explícito e o trauma O conceito de trauma é assumido aqui segundo a concepção freudiana de identificação com a ação de um excesso pulsional, entendido como acúmulo de excitação difícil de ser suportado pelo psiquismo. (CARDOSO, 2011, p. 73). Diz respeito, portanto, conforme a autora, à indizibilidade da dor, do amor e da catástrofe, dos infinitos. A tal ponto que sua representação imagética torna-se insuficiente diante da sua forte carga emocional. Essas representações que podem resultar por sua economia simbólica, em experiências traumáticas, derivam de um imperativo contemporâneo identificado pela ideia da “liberdade total”. Segundo Dufour (2013), a reivindicação do prazer agora e não mais adiado, produz ao indivíduo esta sensação de ausência de limites reafirmada nos modos e nos dizeres autoritários oriundos por exemplo da experiência midiática como um todo. Esta abre-se para o “sem-limite”, pelo que Dufour (2013) chama de “desinibição pulsional”, que conduz à servidão do homem liberado. O excesso, portanto, gera uma nova lei, a de que o prazer até então escondido e limitado, agora passa à liberação total, gerando extremos que ultrapassam as cancelas em todos os campos da experiência em sociedade. E leva, segundo Dufour (2013), à liberação das paixões e pulsões de posse, dominação e da avidez2. O autor propõe três dimensões da liberação ou da libido sem limites: a libido sentiendi (da carne), a libido dominandi (do poder) e a libido sciendi (da paixão de ver e saber). Naturalmente se relacionam e podem converter-se uma em outra. No entanto, aqui interessa pensar na libido sciendi, olhada na perspectiva da mídia, que continuamente nos oferece uma quantidade de produções e narrativas pautadas pela fruição sem limites, pelo contínuo acesso do que até então parecia impossível ou era intencionalmente velado. O imperativo do “usufrua e possa tudo aqui e agora” se traduz, portanto, em narrativas voltadas inclusive ao que antes era inatingível como, por exemplo, intimidades das micro-histórias dos programas como realities shows e à oferta, portanto, do que é privado agora para deleite público, ou de imagens de intensa crueza que passam a ser trazidas a público como o caso de massacres, guerras, cenas de violência, etc. As possibilidades tecnológicas, por meio do que os novos gagdets da maquinaria midiática pode ofertar, tem contribuído decisivamente para que tudo deva ser usufruído, sabido e visto. Do ponto de vista da narrativa audiovisual, pode-se observar, por exemplo, o caso dos drones3, as câmeras inteligentes que operam por computador e que, portanto, permitem registros imagéticos do que antes era, senão impossível, muito difícil. Agora traz, portanto, à evidência e explicitude registros originais absolutamente inéditos que fazem crer nessa oferta do todo, do que não é mediado, da “realidade absoluta” resultando, portanto, num sentido autoritário desse dizer e de fruir este dizer. Assim, o homem liberado acaba por ser o servo ou estar submetido às imposições discursivas da mídia com as quais, por explícitas e traumáticas, ele não consegue estabelecer a economia psíquica para metabolização dos sentidos. Em estado de choque estes dizeres não são elaborados simbolicamente, resultando daí a condição do telespectador de “refém” de sua natureza autoritária.

Dufour (2013) cita Platão para lembrar do texto “Os prazeres de Afrodite” onde apresenta a ideia de que a terceira alma, épithuma, onde se encontram as paixões naturais e sexuais, diz que esta é amiga do dinheiro porque é sobretudo com dinheiro que são satisfeitos estes tipos de paixões. 3 A associação mais simples para entender o que são drones, e mesmo para que servem, é lembrar de brinquedos de controle remoto. O conceito é simples: com um controle via rádio, você pode manobrar um drone sem tocar nele. No geral, estes aparelhos são concebidos para realizar tarefas arriscadas ao ser humano ou ferramentas para trabalhos que ninguém quer realizar. http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/10/o-que-sao-e-para-que-servem-os-dronestecnologia-invade-o-espaco-aereo.html 2

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4 Considerações finais: tudo pode e nada é possível Na medida em que o sentido construído pela mídia é de que, por meio de suas imagens, tudo se mostra, sem limites ou restrições, essa prática deixa de ser de alguma maneira ou em alguma medida velada enquanto oferta de sentido. Por isso, não se coloca como uma oferta de insumos à interpretação do mundo como de fato poderia ser porque a explicitude dos discursos midiáticos não permite sua elaboração de modo que estes passam a ser ofertados de forma totalizante. A tentativa de convencer sobre essa completude de sentido por parte da oferta midiática se dá por conta de esta trabalhar na perspectiva da coincidência entre o fato e sua representação, fomentada pela experiência virtualizada que marca o contemporâneo. No caso do telejornal, a representação deste sobre os fatos ganha reforços que potencializam seu discurso dada a legitimidade do jornalismo, tendendo a trazer a narrativa ao exagero em sua representação e produzindo, assim, o descolamento do sentido original em direção à espetacularização de um lado e ao seu esvaziamento de outro. Dessa forma, ao querer ofertar “todo o real”, o telejornal acaba por propor o esvaziamento de sentido como resultado da incapacidade dos sujeitos de lidar com as expilicitudes traumáticas. Estes, por seu turno se imobilizam “por tanta realidade”, limitandose nas possibilidades de interpretar ou refletir sobre o que vêem e fazendo pensar, em última instância, a que estes discursos totalizantes servem enquanto prática jornalística, uma vez que esta tem como missão institucionalizada justamente a proposição das epistemologias necessárias ao entendimento do mundo contemporâneo.

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Fig. (3) - Velório da Boate Kiss: http://www.novafm103.com.br/index.php?link=vernoticia&id_noticia=23270

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