Auxílio Britânico e Preparação do exército Anglo-português

August 31, 2017 | Autor: João Torres Centeno | Categoria: Guerra Peninsular
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Auxílio Britânico e Preparação do exército Anglo-português João Torres Centeno A meu pai distinto oficial do exército português. Corria o ano de 1809. Apesar das forças napoleónicas ocuparem o continente Europeu, a Península Ibérica e o Reino Unido resistiam. Após a derrota dos franceses na Roliça (17 Agosto 1808) e no Vimeiro (21 Agosto), que levou à assinatura da infame Convenção de Sintra, e a sua consequente expulsão de Portugal, não permaneciam dúvidas de que Napoleão não permitiria que a situação se mantivesse assim, ficando apenas a aguardar a primeira oportunidade para invadir de novo Portugal, com outros meios e concretizar o seu sonho imperial. Junot fora derrotado no ano anterior, obrigando à retirada das forças Francesas do território nacional. O obreiro dessa vitória politica e militar, Sir Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington, fora chamado a Inglaterra para responder numa comissão de inquérito destinada a averiguar as condições em que foi negociada a convenção de Sintra e as razões pelas quais os generais Ingleses tinham sido tão complacentes com a força ocupante, permitindo não só aos Franceses salvar o que restava do seu exército, mas salvar também o fruto do saque perpertrado por estas forças em Portugal. Efectivamente era incompreensível para Ingleses e Portugueses que aos derrotados fossem dadas prerrogativas de vencedor. Havia, pois, que reorganizar o exército português que Junot liquidara. A dissolução do exército português, levada a cabo por Junot, tinha levado à sua quase extinção. O armamento ou tinha sido destruído pelos franceses, ou recolhido no arsenal de Lisboa, e o pouco que ainda existia, pouca utilidade tinha. Os cavalos foram utilizados na remonta das unidades francesas e os que restaram, foram para a legião portuguesa. Portugal encontrava-se, mais uma vez, na difícil situação de ter de começar tudo de novo, praticamente do nada, e com o mesmo aliado de sempre, a Inglaterra. Para restaurar as unidades dissolvidas pelos franceses, o exército português é restabelecido oficialmente, por decreto de 30 de Setembro de 1808, no qual o Príncipe Regente ordena que se formem “todos os Corpos de Infantaria, Cavalaria e Artilharia, que compunham o mesmo exército no tempo que foi completamente desorganizado pelo intruso Governo Francês, e Ordenam que todos os Oficiais, Oficiais Inferiores, Tambores e Soldados se reúnam no espaço de hum mez àqueles Corpos a que pertenciam antes da sobredita desorganização, nos seus

antigos Quartéis, declarados na relação junta a este edital.”

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e, em edital anexo da mesma

data, se informam os oficiais, os sargentos e os soldados dos locais onde se estão a reorganizar os antigos corpos. Servindo de reserva ao exército de primeira linha, havia os corpos de milícias. Não é de admirar pois, que tendo sido liquidado o exército de linha por Junot, fosse nas Milícias que se centrou a revolta do Verão de 1808 contra o exército de ocupação francês. Estes corpos viriam a ter enorme influência na Guerra Peninsular, durante os anos de campanha em Portugal, especialmente nos anos de 1809 e 1810, onde chegaram a entrar em operações activas como tropa de primeira linha. Os portugueses tinham adquirido, desde a época da Restauração, uma enorme experiência em campanha com um exército defensivo baseado nas referidas três linhas (exército de linha, milícias e ordenanças), adoptando de novo essa fórmula no levantamento do exército, de 1808, alias, baseada na organização de 1806, e afinada pelas realidades que se viviam. Desta maneira, conseguia-se o levantamento geral do país e obtinha-se uma força armada entre 16.000 e 18.000 homens de tropa de primeira linha, sendo ainda restabelecidos os regimentos de milícias. A 20 de Dezembro eram restabelecidos os regimentos de milícias e aprovado o seu novo regulamento. Fazem parte deste cálculo 3.000 homens, com que o general Francisco de Paula Leite saiu de Campo Maior no dia 1 de Setembro; 7. 618 homens, que o general Bernardim Freire de Andrade reuniu em Coimbra, e o Corpo de Observação de 2.000 homens que se tinha formado em Traz os Montes e Beira Alta comandados pelo general Manuel Pinto Bacelar e, finalmente, as forças que o marquês de Olhão trouxe do Algarve. O exército foi então organizado do seguinte modo: A NORTE PRIMEIRO - Denominado EXÉRCITO DE OPERAÇÕES DA ESTREMADURA, sob comando do general Bernardim Freire de Andrade, e concentrado em Coimbra, com 7.618 homens; SEGUNDO - O pequeno corpo de observação das Beiras e Trás-os-Montes denominado exército de operações nas províncias da Beira e Trás-os-Montes, sob comando do general Manuel Pinto Bacelar, reunido em Castelo Branco, com 2.000 homens; TERCEIRO - corpo de reserva em Coimbra. Unidades destinadas ao bloqueio de Almeida, a guarnecer o Porto e outras povoações, com 2.000 homens. Do exército do Norte: Comandante Bernardim Freire de Andrade. Sob seu comando 1

SORIANO, Simão José da Luz, História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal, compreendendo a histórica diplomática, militar e política deste Reino desde 1777 até 1834, 19 vols. Lisboa, Imprensa Nacional, 1866-1890, vol. 1, 2º época, p.604

ficavam: Francisco da Silveira Pinto da Fonseca; Manuel Pinto Bacellar; Nuno Freire de Andrade. O general Manuel Pinto Bacelar fora nomeado pelo general Sepúlveda, comandante interino das tropas do distrito do Douro, nomeação aprovada pela junta provisional do supremo governo do Porto por portaria de 1 de Julho. Após o levantamento de Viseu, a Junta Provisional conferiu a 18 Julho a Bacelar o encargo de general das armas daquela província. As tropas do sul, porém, manobravam de forma independente, sendo nomeados para os respectivos comandos: O exército do Sul, formado pela junção das tropas do general Francisco de Paula Leite e marquês de Olhão, em Évora e Setúbal com 6.000 homens, dos quais mais de 3.000 sob o comando do general Paula Leite. No entanto os números apresentados, não contém soldados equipados e armados, mas sim homens mal equipados, não tendo a maioria armas de fogo. No corpo de observação das Beiras e Trás-os-Montes apenas 600 tinham armas. Este era o exército português que iria fazer frente à 2ª Invasão, comandada por Soult. Ao mesmo tempo que estas unidades eram constituídas, foi ordenada a fortificação de pontos importantes da Estremadura a fim de depositar os víveres que das vizinhanças ali fosse possível guardar, e organizar as defesas fortificadas a norte e sul de Lisboa, sendo nomeado o comandante do Real Corpo de Engenheiros, Marechal-de-campo José de Morais Antas Machado. Apesar da boa vontade, pouco mais se podia fazer com os recursos nacionais ,as forças não eram organizadas, não passando de um amontoado de homens e armas. Era necessário recorrer à ajuda exterior para reorganizar o exército de modo a prepará-lo para enfrentar o inimigo que se avizanhava de novo. É então, que o governo português no Rio de Janeiro solicitou, ao governo britânico, a designação de um oficial capaz de reorganizar o exército português. Esta designação acabaria por recair no Major-general William Carr Beresford (nomeado Comandante-em-Chefe do exército português por decreto de 7 de Março de 1809). Quando este assume o comando do exército português, este encontrava-se a operar do seguinte modo: General Henriques Miranda, com uma divisão, em Tomar. General Manuel Pinto Bacelar, com uma divisão, em Beira General Francisco de Paula Leite, no Alentejo, com algumas guarnições. General Bernardim Freire, com 1.400 homens na fronteira norte. Brigadeiro Francisco da Silveira Pinto da Fonseca, com 2.800 homens, em Trás-os-Montes. Brigadeiro Robert Wilson, Leal Legião Lusitana. A Norte do Douro General Bernardim Freire de Andrade que era o Governador das Armas do Partido do Porto, fora nomeado Comandante-em-Chefe do exército do Norte em 28 de Janeiro, recebendo a 24

um aviso do governo, encarregando-o do comando de todas as forças da província do Minho e do Partido do Porto com o fim de ocupar as posições que julgasse mais próprias para ocorrer à defesa do Minho ou à entrada por Trás-os-Montes, tendo sempre em vista cobrir e defender a cidade do Porto. Deviam apresentar-se para o mesmo fim, as forças de Trás-os-Montes e da Beira, bem como as forças da Leal Legião Lusitana, cuja organização ficou a cargo do barão de Eben; este saíra para a Almeida com o 1.º batalhão que se formara. Sob seu comando ficavam: Francisco da Silveira Pinto da Fonseca; Manuel Pinto Bacellar e Nuno Freire de Andrade. Por «aviso», datado de 25 de Janeiro, ficava o brigadeiro Francisco da Silveira Pinto da Fonseca encarregado da defesa da província de Trás-os-Montes. No Centro Inicialmente, o general Manuel Pinto Bacellar fora encarregado da defesa da fronteira leste até ao Tejo, isto é, de Trás-os-Montes e Beira; com o «corpo de observação» das Beiras e Trásos-Montes, e para isso tinha os seus quartéis-generais em Viseu e Castelo Branco com 2.000 homens; mas, depois da chegada das notícias da entrada de Napoleão em Madrid (que ocorrera em 5 Dezembro), ficou incumbido apenas da defesa da Beira Alta, e guardando, particularmente, a ponte da Mucela, tendo o seu Q.G. na Guarda. O general Bacellar concentrou, então, entre o Mondego e o Tejo o maior número de forças portuguesas sob o comando do tenente-general António José de Miranda Henriques, que estabeleceu em Tomar o seu quartel-general, vigiando as passagens do Zêzere. Do Porto saíra para Almeida o major Robert Wilson com o 1 ° batalhão da Leal Legião Lusitana para auxiliar Moore; após as notícias do desastre deste, seguiu para Cidade Rodrigo. Aí, com auxílios espanhóis, organizou um destacamento de menos de 3.000 homens e com ele flagelou as tropas francesas que houve até Salamanca, deslocando-se rapidamente em correrias durante Janeiro, Fevereiro e Março. Obstou às tentativas inimigas por aquele lado. Apreciou o valor dos soldados portugueses, e disso deu notícias para Londres, o que muito contribuiu para dispor bem o governo britânico a favor de armar tropas portuguesas e de nos prestar auxílios. No Sul As tropas do sul manobravam de forma independente. Era governador das Armas da Corte Estremadura o general D. António Soares de Noronha, e tinha o seu quartel-general em Lisboa, nas Janelas Verdes. O governador das Armas da província do Alentejo era o general Francisco de Paula Leite. Esteve primeiro em Olivença, e, depois, passou a Évora, onde reuniu tropas de Évora, do Alentejo e, até, do Algarve. Comandante-em-Chefe do exército do Sul: conde de Castro Marim (depois marquês de Olhão) que desenvolveu notável actividade, levantando e reunindo tropas do Algarve.

No entanto, não bastava a vontade de organizar, era tambem necessário a vontade de combater. Como refería um oficial inglês, “Aunque el pueblo demuestre la mejor voluntad para defenderse, informaba el coronel Brown, jefe inglés, en una nota escrita, que se envió al Parlamento británico, sus esfuerzos no son continuados en el tiempo, y están tan mal combinados que no hay esperanza alguna de que pueda resistir al enemigo”2 . .Haveria que operar uma verdadeira revolução na organização militar e disciplinar do exército, o que veio a ser possível com a nomeação de dois homens de grande capacidade organizativa. William Carr Beresford e D. Miguel Pereira Forjaz, que, literalmente de uma mera vontade e da tenacidade e de acreditarem nas capacidades do povo português, levantaram das cinzas um exército composto de corpos de elite, um quadro de oficias de primeira categoria, e um exército eficaz e respeitado em toda a Europa, tudo em apenas 4 anos. Se o exército português antes da 1ª invasão se mostrava, como se referiu num estado deplorável, de desastrosa insuficiência, indisciplina e incapacidade para garantir a independência nacional, após a dissolução do que dele restava, por Junot, nada dele restava. Poder-se-á mesmo afirmar que não existia qualquer exército, como força armada organizada. Após a expulsão das forças francesas de Junot, as tentativas de reorganização tinham-se mostrado inconstantes, incoerentes, roçando e nalguns casos, como o da criação das 16 legiões da cidade de Lisboa, numa verdadeira calamidade. A maioria delas não passava de reformas de papel, sem qualquer tipo de tratamento ou enquadramento, já que os encarregados não tinham qualquer inclinação para os assuntos militares, acreditando que a guerra terminara. Assim, o exército português voltava a não passar de uma força abandonada, antiquada, e mal organizada, face às novas doutrinas militares dominantes à época. Também voltavam os problemas crónicos, para além da falta de experiência em campanhas militares desta magnitude. Esta realidade prendia-se com o facto de Portugal ter entrado nesta época em poucos confrontos, vivendo a maioria deles num ambiente de paz e sem qualquer experiência militar. Tal facto é referido por Wellington a Lord Liverpool “Their country having, with trifling and short exceptions, been at peace since the year 1763, they were generally throughout their service employed in the same garrison, if they remained with their regiments; or they lived with their families at home”3 À chamada dos antigos soldados, poucos foram os oficiais que se apresentaram, de forma que àqueles faltaram-lhes, para os enquadrar, oficiais à altura das graves circunstâncias do 2

J. Priego López, Guerra de la Independencia. Campaña de 1810, vol. 2, Editora San Martín, Madrid, 1981, p.341, citado pelo Nuno Lemos Pires, ibidem 3

J. Gurwood, The Dispatches of Field Marshal The Duke of Wellington. . ., vol. V, Albermarle Street, London, 1837, p.275 apud John Greham, John Greham, “Wellington´s fighting cocks: the portuguese army in the península”, The Peninsular War, Aspects of the Struggle for the Iberian Península, Staplehurst Spellmount, 1998.

momento e muitos dos que se apresentaram não tinham qualidades de comando. Ao mesmo tempo faltavam oficiais generais instruídos e hábeis, não havendo oficiais experimentados que dirigissem as unidades. Por tudo isto, constata-se que havia a urgente necessidade de reorganizar o exército português, especialmente de modo a operar com o exército britânico Quanto à força britânica em 1808, contava cerca de 30.000 homens, não sendo suficientes para o desencadear de operações ofensivas. Mesmo assim, Moore ao comando do exército britânico, com instruções e pressões do seu governo, tenta uma cooperação com o exército espanhol, marchando de Lisboa para o interior da península a fim de apoiar a insurreição espanhola e cortar o corpo de exército de Soult do resto das tropas francesas. Planeara, na execução desse plano, concentrar-se em Salamanca onde esperaria uma divisão com 12.000 homens que sob o comando de Sir David Baird desembarcara na Corunha. Moore tinha por objectivo Madrid, atraindo o exército francês sobre si de modo a aliviar a tensão sobre Portugal, Lisboa e centro e Leste de Espanha, dando tempo ao exército português e espanhóis para organizarem a defesa. Tinha Moore atingido Salamanca quando soube que Madrid tinha sido conquistada por Napoleão que se dirigira pessoalmente à península para comandar os seus exércitos, com mais de 100.000 homens, e não menos importante, soube que o exército espanhol tinha sido derrotado no Ebro. Pela adversidade em que se encontrava, Moore muda os objectivos e a sua linha de conduta. A cooperação espanhola falhara, estava frente a um exército numericamente superior composto pelos corpos de exército de Soult (2.° Corpo) e de Ney (6.° Corpo), seguindo-os Junot (8.° Corpo) que o poderia envolver e cortar-lhe as linhas de comunicação e fuga. A reunião das forças planeadas para Salamanca falhara. Moore sabia que não podia comprometer o único exército de que a Grã-Bretanha dispunha. Impossibilitado de retirar pelo eixo de Lisboa que estava ameaçada, Moore concebe a ideia de mandar reunir a esquadra na Corunha, que passaria a ser a sua base de operações, em substituição de Lisboa. É então que Moore avança em direcção a Burgos a fim de cortar as comunicações dos franceses para o norte. Napoleão destaca então o marechal Soult para enfrentar Moore, fazendo-o inflectir para Valladolid, Mayorga e Sahagun; iniciando-se então a perseguição da força britânica que vai retirando para a Galiza. Em condições extraordinariamente penosas e terríveis de inverno, o seu exército dirige-se para costa ocidental norte de Espanha onde a marinha real as poderia evacuar, conseguindo a final salvar o seu exército. Chegam à Corunha em 11 de Janeiro 1809 à Corunha, mas a frota ainda não tinha chegado e dias mais tarde, a 16 de Janeiro, dá-se a Batalha de Corunha, na qual o general Moore, vence o

exército francês, comandado pelo marechal Soult. Contudo Moore morre do decurso da batalha nesse dia. A batalha permitiu que a força britânica embarcasse com toda a segurança nos navios que os haveriam de levar de regresso à Grã-Bretanha. Nesta campanha notabilizar-se-ia o futuro comandante do exército português, o general Beresford. Foi a ele e à sua brigada que coube a missão de proteger as forças britanicas durante o seu embarque. Seriam as últimas a abandonar terra. Soult entrava no dia 20 desse mês, consumando-se assim a conquista da Galiza. Com a morte de Moore, o comando da força britânica na península, a qual se resumia à guarnição de Lisboa e pouco mais, passa para o comando de Sir John Craddock, que evitava qualquer confronto com as forças francesas. O exército britânico comandado por Moore tinha sido severamente maltratado, mas afastara os franceses de Portugal, abortado o plano de conquista deste reino em 1808 ao mesmo tempo que obrigara a dispersar as forças francesas pela península, ameaçando as suas linhas de comunicação ao mesmo tempo que salvava da aniquilação o único exército de campanha de que a Grã-Bretanha podia então dispor. As vitórias anglo-português e espanholas anteriores obrigaram Napoleão a vir comandar directamente o seu exército de 200.000 homens em Espanha. Napoleão entrega o comando a Jean-de-Dieu Soult voltando a França, mas deixando os seus planos bem expressos. No entanto, em consequência da insurreição espanhola, e da investida de Moore em Burgos e da sua posterior retirada para Corunha, os franceses estavam desdobrados por toda a península. Por sua vez, os ingleses começaram a perceber que o seu exército em operações na península só seria eficaz se pudessem levantar o exército português, de modo a juntar as forças e a operar em conjunto. O plano de apoio no exército português surgira com a decepção de qualquer entendimento ou cooperação com Espanha, no qual os Ingleses tinham depositado grandes esperanças, em detrimento de Portugal, mas que mostrara ser um rotundo fracasso com a derrota de Moore e a expulsão das forças Inglesas na Corunha. A própria campanha de Talavera (1809) demonstraria isso mesmo, que era impossível confiar nas autoridades e forças espanholas. Wellesley, desde cedo, vira que a defesa e auxílio a Portugal eram indispensáveis à GrãBretanha, e essenciais à vitória. Em memorando, de 1 de Agosto de 1808 (num memorando de Wellesley ao ministro da guerra em Londres), Castlereagh, referia: “Sou de opinião que a Inglaterra deve levantar, organizar e pagar um exército em Portugal. Compor-se-á de 30.000 homens de tropas portuguesas, que podem ser recrutadas em pouco tempo, e de 20.000 ingleses, 4.000 ou 5.000 dos quais serão de cavalaria. Este exército operará nas fronteiras de Portugal na Estremadura espanhola, e servirá de ligação entre a Galiza e Andaluzia. Por este meio a Grã-Bretanha terá o primeiro lugar na direcção da guerra da península, e qualquer que seja o resultado dos esforços dos espanhóis, ela salvará Portugal

das garras dos franceses. Vós sabeis melhor do que eu se podeis ou não suportar esta despesa, ou em que proporção o governo português a quererá ou poderá suportar pela sua parte. Adoptando vós este projecto, tudo deve vir de Inglaterra, armas, munições, vestuário, equipamento, artilharia, farinha, aveia, etc. Estes artigos deverão ser remetidos à fronteira, em parte pela navegação do Douro e do Tejo, e em parte por outras vias”. Voltará a expor as mesmas ideias num outro memorando datado de 7 de Março de 1809: “Sempre fui de parecer que, qualquer que fosse o resultado da guerra da Espanha, era preciso defender Portugal, e que as medidas tomadas para defesa deste reino seriam também de uma grande utilidade para os espanhóis na sua guerra contra os franceses. Quanto a mim, o Estado militar de Portugal deve ser levado, como noutro tempo, a 4. 0.000 homem de milícias e 30.000 de tropas regulares, e além destas forças, sua majestade britânica deve ter em Portugal 20.000 ingleses, compreendendo neste número 4.000 homens de cavalaria, pouco mais ou menos. Penso que mesmo no caso de que a Espanha seja conquistada, os franceses não poderão submeter Portugal com menos de 100.000 homens; e que durante o tempo por que a guerra durar em Espanha, as forças portuguesas, a poderem-se pôr em actividade, serão muito úteis aos espanhóis, e poderão talvez decidir a questão; Entretanto é evidente que o Estado militar de Portugal não poderá ser reorganizado sem um amplo socorro de dinheiro, e um apoio político por parte da Inglaterra. A única maneira que me parece segura e mesmo praticável de prestar este socorro e apoio, ou de intervir nos negocias de Portugal, debaixo da relação militar, é o encarregar o embaixador de el-rei em Lisboa de dar, ou de reter as somas que julgar necessárias para ajudar os estabelecimentos militares somente, e de lhe recomendar que vigie que as rendas de toda a natureza de Portugal sejam empregadas primeiro que tudo neste objecto. Munido destes poderes e destas instruções, o embaixador poderá certamente sindicar todas as medidas do governo português, e poderemos então esperar ter em campanha um exército português em Estado regular. Mas como nesta época não tem sido possível seguir este sistema, tendo-se a atenção do governo dirigido para outros objectos, é provável que o Estado militar de Portugal tenha feito poucos progressos. Se se considera o número de tropas inglesas que exige a defesa deste país e as outras medidas a tomar, é necessária atender por um lado ao pequeno número de tropas portuguesas e à probabilidade de um ataque próximo por parte do inimigo, e por outro à continuação da guerra em Espanha, e à probabilidade de que os franceses poderão dispor de forças numerosas antes de pouco para atacarem Portugal. Recomendarei também a adopção das medidas políticas de que mais acima falei, para levantar o Estado militar de Portugal. É provável que a despesa para este objecto não exceda neste ano a um milhão esterlinos; mas se aproveitar e a guerra continuar em Espanha e em Portugal, a vantagem que se tirar do aumento do Estado militar compensará para mais as despesas que se tiverem feito. O exército britânico em Portugal, segundo este plano, não poderá ser menor de 30.000

homens, dos quase 4.000 a 5.000 de cavalaria, com mais um numeroso corpo de artilharia. Precisa-se de tanta cavalaria e artilharia, como digo, porque o Estado militar de Portugal carece justamente destas duas armas. A cavalaria inglesa, a alemã e a artilharia deverão servir com a infantaria portuguesa. Todo o exército de Portugal, inglês e português, será comandado por oficiais ingleses. O Estado-maior do exército, o comissariado sobretudo, serão compostos de ingleses. A importância destas administrações será proporcionada à força do exército que deverá obrar em Portugal, ao número dos postos destacados que será necessário ocupar, e às dificuldades que se poderão encontrar em achar e distribuir os víveres no país. Quanto às medidas secundárias, recomendo reforçar-se o mais breve possível o exército britânico em Portugal com algumas companhias de carabineiros ingleses, ou alemães; completar a artilharia deste exército até ao computo de 30 peças, sendo duas brigadas de 9; ter todas estas munidas de boas bestas; enviar para Portugal 20 peças de bronze de 12 sobre trens de viagem, para ocupar certas posições no país; e juntar ao exército um corpo ele engenheiros como para 60.000 homens, e um corpo de artilheiros para 60 peças de artilharia. «Bem sei que o exército britânico actualmente em Portugal é de 20.000 homens, compreendida a cavalaria. Completar-se-ão o mais breve possível 20.000 homens de infantaria, reunindo-se-lhes os carabineiros e outra boa infantaria, bem descansada já da guerra da Espanha. Os reforços seguirão à medida que as tropas forem repousando das suas fadigas. A primeira coisa a fazei é completar o exército de Portugal em cavalaria e artilharia, servindo as peças com boas bestas, como deve ser. Imediatamente partirão logo o general e oficiais de Estado-maior, porque pode contar-se que apenas os jornais anunciarem a partida dos oficiais para Portugal, os exércitos franceses em Espanha receberão ordem ele marchar para este reino, com as vistas de chegarem antes que possamos organizar a sua defesa. É-nos preciso pois ter tudo sobre o terreno, ou pelo menos antes de haver algum despertamento em Inglaterra, quanto aos nossos projectos. Alem dos artigos acima enumerados, é preciso enviar quanto antes para Lisboa 30.000 armas, fardamentos e sapatos para o exército português» . 4 Deixando a solução espanhola de fora, viraram-se para Portugal, pois como refere Luz Soriano «Quanto às tropas espanholas, nada se podia esperar delas pela sua falta de disciplina, e quanto às portuguesas, forçoso era aguardar que se organizassem e disciplinassem, e a urgência do tempo era tal, que não permitia sem risco semelhante espera.” 5 Os preconceitos contra o exército português tiveram de ser postos de lado, pois nele se encontrava o único meio de atingir a vitória sobre os franceses na península, e, assim, destabilizar o quadro europeu em favor da Inglaterra e seus aliados. 4

Simão José da Luz Soriano, ibidem, vol 2, 2 época, p.94 e Sir Arthur Wellesley, “Memorandum on the Defense of Portugal, 7 March 1809”, Wellington’s Dispatches…, vol. IV, London, 1837, pp.261-263. 5

Simão José da Luz Soriano, ibidem, vol 2, 2 época, p.102.

Este novo exército devia ser levantado, pago, disciplinado e reorganizado para se adaptar ao serviço de campanha britânico, no que às inovações tácticas dizia respeito. Como Estado pagador, a Inglaterra exigiu que o comando e controle deste «novo» exército fosse exercido por ingleses. Com o início da chegada do dinheiro e armas e demais mercadorias necessárias ao exército português, Castlereagh começou a exercer uma pressão, subtil e indirecta, no governo português para que o exército português fosse comandado por um oficial inglês. Aceitando Portugal tal facto, cabia escolher a quem caberia os destinos do exército português, assumindo essa organização, disciplina e comando, o qual seria nomeado Marechal do Exército. D. João, por intermédio do seu ministro em Londres, D. Domingos de Sousa Coutinho, e solicitado pela regência, pediu ao governo inglês um oficial de capacidade e prestígio para vir reorganizar, ou diremos antes, comandar as forças militares do país. Segundo alguns autores, a escolha inicial de Portugal recaíra sobre Wellesley, mas este recusara, indicando o nome do tenente-general William Carr Beresford. No entanto, o pedido formal apenas solicitava um tenente-general, com bons conhecimentos junto do governo britânico e capaz de treinar, disciplinar e organizar o exército, ao mesmo tempo que prometiam que tal oficial teria completo controle do exército português. A escolha final do oficial caberia a Lord Castlereagh. A escolha não foi tão simples, quanto à partida poderia parecer, pois, havia partidos e interessados ao cargo. Entre eles Craddock, Moore, John Doyle, John Murray e o coronel Le Marchant. Canning preferia publicamente Moore, enquanto Castlereagh (através do seu conselheiro militar - Wellesley) pretendia nomear Beresford. A escolha final , nada pacífica, foi uma surpresa para todo o corpo de oficiais do exército britânico. Acabou por recair num júnior Major-general. William Carr Beresford, promovido a Tenente-general para ser nomeado para o comando do exército português. A esta nomeação, não é alheia a «mão» de Wellesley. Beresford era o único subordinado a quem Wellesley (futuro Wellington) permitia que o tratasse de forma familiar. Com 44 anos, Beresford era nomeado marechal do exército português, por decreto de 7 de Março de 1809, comando que assumiria a 15 de Março. Sobre esta nomeação diria “The choice was not left to me, and the first thing that I was told was that it was not optional”6 , mas parece, que afinal, também ele era candidato «voluntário» ao posto. O general Beresford recebera, a 15 de Fevereiro, notificação do seu governo, para vir para Portugal, embarcando uma semana depois, chegando a Lisboa a 2 de Março de 1809. Beresford, no exército britânico, fora promovido a major-general (promoção local em Portugal) em 4 Setembro 1807, e efectivo a 25 de Abril de 1808. Tendo sido nomeado por 6

Simão José da Luz Soriano, ibidem, vol 2, 2 época, p.102.

decreto de 7 de Março de 1809 como marechal do exército português, e encarregado do comando em chefe das tropas do reino, para o efeito, decide o seu governo conceder-lhe a patente de tenente-general para efeitos locais (promoção local em Portugal). Esta promoção local a tenente-general, que se impunha, teve como consequência a indignação de alguns oficiais ingleses, como refere Luz Soriano “no meio do descontentamento de um grande número de oficiais superiores e generais do exército britânico, que se reputavam ofendidos, vendo à sua direita um indivíduo, que julgavam não ter direito algum para os comandar”. O major-general Murray, mais antigo que Beresford tendo recebido ordens de Wellesley para que as suas tropas cooperassem com as tropas portuguesas, não quis ficar subordinado a Beresford pedindo a sua exoneração e retirando-se para Inglaterra. Com a remoção de todos os entraves, era chegada a hora de organizar ambos exércitos de modo a operarem em conjunto. É então que Beresford, com as grandes qualidades de organizador e administrador que lhe são conhecidas, começa a estudar o exército português e a forma de o reabilitar, enviando memorandos, quer às autoridades inglesas, quer às autoridades militares portuguesas, propondo medidas na sua reorganização. Nesta tarefa hercúlea teria o total apoio do maior Estadista da Península. D. Miguel Pereira Forjaz, que era ele próprio o maior entendido em organização militar do Exército Português. A visão da reorganização do exército português rodava à volta de 3 pontos essenciais: corpo de oficiais ou seja dos quadros; atenção ao corpo dos Quartel-Mestre nas unidades militares (administração das unidades) e finalmente terminar com o facto dos homens em pleno período de serviço, permanecerem nas suas residências até serem chamados. Assim, sob o comando de Beresford, com o título de Marechal-de-exército, e sob a administração de D. Miguel Forjaz, Ministro da Guerra, em clima de colaboração e dependência mútua, o exército ganhou uma disciplina, coesão e combatividade exemplar, que veio a ser visível durante toda a guerra. Beresford, ao tomar o comando da reorganização efectiva do exército e ao reforçar os seus efectivos, irá colocar os militares no centro do processo de normalização do reino e de reafirmação da unidade do Estado, indo a longo prazo autonomizar o exército face aos poderes civis. Efectivamente, os militares tomarão conta dos destinos da Nação apenas o largando após o 25 de Abril de 1974, com a extinção do MFA. O EXERCITO ANGLO-PORTUGUES. Resta saber, quais as opções que se punham a Wellington para organizar o exército Angloportuguês. A primeira decisão a tomar seria se as forças Inglesas e Portuguesas continuariam organizadas em Brigadas, ou se seriam levantadas Divisões. Dito de outro modo, em 1809, a questão punha-se em organizar o exército de modo a operar em brigadas, ou se deveria operar em divisões ou corpos. A um nível inferior, se se deveria misturar as unidades de ambas nacionalidades, ou mantê-las separadas. Ao contrário do que entendem alguns autores ingleses, franceses e mesmo portugueses, o

exército comandado por Wellington era um exército Anglo-Português, perfeitamente integrado, com excepção do comissariado, o qual viria a ser alterado e unificado em 1813. Não se pode, com propriedade, falar do exército português ou exército britânico. Os dois exércitos eram enquadrados por uma estrutura única de comando e controle, que integrava os dois exércitos como um todo. Pretender estudar o exército português sem estudar esta integração, é ficar com uma visão limitada do conjunto, e falha por ser irreal. A estrutura de comando do exército Anglo-Português era tipicamente uma estrutura britânica, na qual se integrou o exército português. Mas sendo uma estrutura típica britânica, era fruto da visão de Wellington e da sua vontade, delineada nas estruturas da época, necessidades do terreno, imposições de comando da Horse Guards inglesa e do comando do exército português, que manteve na sua essencialidade as suas características Lusas. A estrutura era igual das brigadas para cima. Só na organização dos regimentos/ batalhões é que as unidades mantinham a sua identidade nacional, fosse ela britânica, portuguesa ou alemã. Grande parte dos créditos obtidos pelo exército Anglo-Português deve-se, sem dúvida, aos vários membros do seu Estado-Maior, oficiais de grande categoria e conhecimentos, e de uma diligência e obediência inquestionável. Nenhum oficial que serviu no exército Anglo-Português durante a Guerra Peninsular teria qualquer dúvida sobre quem decidia e comandava o exército. Um general recém-chegado à Península poderia dar uma qualquer opinião durante o jantar, mas certamente nessa mesma noite, perceberia que o seu comandante não só não pedia opiniões, como não gostava que lhas dessem. Aos seus militares apenas pedia que cumprissem as suas ordens e determinações. Os oficiais do estado-maior poderiam trocar as opiniões e discutir os assuntos que entendessem entre eles mas, teriam de ter cuidado na forma como abordavam qualquer assunto com Wellington. Wellington tratava do seu exército e Estado-maior como sendo propriedade sua, como uma entidade autónoma, inigualável e irrepetível ao qual cunhou a com a sua personalidade e carácter. Se bem que muitas características lhe eram impostas pelas necessidades da guerra, e pelas condicionantes políticas e militares inglesas e portuguesas. Conseguiu, no entanto, criar uma organização única, altamente preparada e funcional, com uma estrutura de controlo e comando inquestionável. Vejamos então a estrutura desta organização. As forças do general Baird, que chegaram à península em Outubro de 1808, foram organizadas inicialmente em brigadas, mas quando efectuou o seu avanço para se unir às forças de Moore em Novembro foram levantadas temporariamente duas divisões. Mais tarde Moore integra as suas forças com as de Baird e organiza-as em divisões, as quais combateram na Corunha. As operações militares na península, efectuadas até essa data, eram ao nível de brigada. Foi o General John Moore que pela primeira vez organizou o exército em divisões compondo-as de unidades das diversas armas (4 divisões, compostas com 2 brigadas de infantaria cada, uma brigada de cavalaria e uma de artilharia).

A organização táctica Inglesa irá impor-se no Exército Português, não só porque este é integrado no exército de Wellington, numa primeira fase, de forma combinada integrando as brigadas Britânicas, como numa segunda fase integrando as brigadas portuguesas nas divisões do exercito (com 3 excepções: a 1ª Divisão que nunca teve qualquer brigada ou unidade portuguesa, a Divisão Portuguesa, composta unicamente por brigadas portuguesas e a Divisão Ligeira que tinha duas brigadas, com unidades portuguesas e Britânicas combinadas, pela sua especificidade, uma vez que era uma Divisão de tropas ligeiras). A fim de operarem em conjunto, o enquadramento do Exército Português, entre 1809 e 1810, foi feito a quatro níveis: 1. Pela integração de oficiais ingleses nas unidades regimentais para prestar serviço no Exército Português (cerca de 3 oficiais em cada Regimento, num quadro de mais de 50). 2. Pela adopção das manobras tácticas britânicas, com a consequente modernização dos regulamentos, traduzindo para o português regulamentos ingleses, dando uniformidade na acção aos dois exércitos aliados, que passarão a ter as vozes de comando nas duas línguas. 3. Pela utilização de armamento e equipamento britânico - armas, equipamentos e todo o tipo de impedimenta. 4. Pela reestruturação da administração militar com a criação, à semelhança do modelo britânico, do comissariado de modo a sustentar as operações militares. As consequências futuras, quer no campo táctico, quer no estratégico, serão enormes, e darão os seus frutos. A campanha peninsular foi pensada e realizada com uma manobra de aproximação indirecta no campo da grande estratégia, onde a decisão foi procurada através de meios militares, evitando a superioridade global do adversário. Wellington delineou desde o seu início uma campanha defensiva, perturbando os planos franceses com diversões e com um esforço militar leve. Este é o método britânico clássico. O exército Anglo-Português foi estruturado em brigadas e divisões, com unidades mistas britânicas e portuguesas, enquadrando ambos exércitos num só, mas mantendo no mínimo a individualidade dos corpos regimentais ou dos batalhões não arregimentados. A unidade táctica básica inglesa recairia sobre o batalhão, enquanto a portuguesa recaia no regimento a 2 batalhões. Para o exército britânico, o regimento era uma unidade de recrutamento, mobilização e instrução. Regimentos cujo universo de recrutamento se situava em condados mais populosos tinha a capacidade de mobilizar, equipar, armar e treinar mais do que um batalhão, mas o seu emprego em campanha era individualizado. Vários regimentos compostos por mais de um batalhão tinham-nos em campanha em locais diferentes do Império. Por exemplo o 1st Regiment of Foot (Royal Scots) no ano de 1810 tinha o 1º batalhão em Guadalupe, o 2º batalhão na Índia, o 3º batalhão na Península, estando presente no Buçaco, e o 4º batalhão na Escócia. A unidade de escalão Brigada era composta, habitualmente por 2 a 4 batalhões de infantaria de linha (sendo no caso das brigadas portuguesas por 2 regimentos de linha, a 2 batalhões cada,

ou seja a 4 batalhões), com companhias de infantaria ligeira (sendo no caso português por 1 batalhão de caçadores). A Brigada ficava sob o comando e controlo de um oficial de posto Coronel, Brigadeiro ou Major-general. No Exército Francês utilizava-se o escalão Corpo de Exército, unidade integradora de divisões e brigadas. Na península foram utilizados Corpos de Exército comandados por um General de Divisão ou Marechal. As unidades deste escalão, ou tinham missões próprias em campanha, ou formavam Exércitos de Campanha com missões específicas como foi o caso do Exército de Portugal sob Masséna na 3ª Invasão Francesa a Portugal (1810-11), composto dos II Corpo (Ney), VI Corpo (Reynier) e VIII Corpo (Junot), e mais tarde reforçado pelo IX Corpo (Drouet)). Só em 1812, o exército francês na península se passou a organizar exclusivamente em Divisões, abolindo o escalão Corpo de Exército. No exército Anglo-Português, as Brigadas integravam as Divisões, mas devido ao reduzido efectivo das mesmas, raramente formaram Corpos de Exército. Apenas em Waterloo, os Ingleses, organizaram cada 2 a 3 divisões em Corpos de Exército. Como exemplo, a força do exército Anglo-Português em 1813, por altura da batalha de Vitória, era composto de 52.484 ingleses e 28.792 portugueses, aos quais se juntaram 46.292 espanhóis. O total deste efectivo (127.568) compunha o exército peninsular. Mesmo assim estes efectivos de um Exército de Campanha eram pouco mais do que o dobro do I Corpo de Napoleão quando este invadiu a Rússia, em 1812 (69.000 homens). Wellington preferiu a Divisão como estrutura do exército Anglo-Português por forma a ter o controlo total na campanha. Desta forma, não teria de partilhar as decisões com comandantes de Corpos de Exército, controlando directamente as divisões e as brigadas independentes, agilizando o processo de decisão e acelerando o cumprimento de ordens. Este facto revelou-se uma vantagem sobre o lento sistema de decisão, distribuição de ordens e execução do Exército Francês. Wellington tornou o comando único e centralizado numa vantagem, mas acabou por ser acusado de não ter criado uma escola de generais que o pudessem, eventualmente, substituir ou dirigir campanhas de forma autónoma, restringindo as suas competências a meros executantes de ordens. Esta acusação, de falta de autonomia dos seus generais, não corresponde totalmente à verdade, pois Wellington permitiu que alguns dos seus generais assumissem grandes decisões em campanha, como aconteceu com Craufurd, Beresford e Hill. Este último chegou mesmo a comandar temporariamente um Corpo de Exército na Estremadura e Alentejo, com um elevado grau de autonomia. AS DIVISÕES O corpo rígido que caracteriza as formações da escola Prussiana nos meados do século XVIII foi paulatinamente substituído por um exército fraccionado em divisões com missões independentes que podiam ser conjugadas sobre um objectivo comum.

Essa modificação orgânica fora iniciada, teoricamente, por Pierre-Joseph Bourcet (1700 1780). Este autor enfatizou a necessidade da dispersão planeada, como um meio de obrigar o adversário a dispersar, também, a sua concentração e facilitar, assim, a obtenção da superioridade necessária em determinado local. A dispersão das forças durante a marcha, seguida de uma rápida concentração das forças, a determinada altura, antes que o inimigo conseguisse fazer o mesmo, era a chave do sucesso. Isto permitia o atacante obter uma vantagem significativa durante a batalha. Foi o Marechal de França Victor-François, 2º duque de Broglie (1718-1804), que introduziu no Exército Francês a organização divisionária, um corpo misto composto de unidades das armas de infantaria e artilharia. Esta organização foi oficialmente, aceite por Broglie nas suas instruções de 1761, quando comandante-chefe, durante a Guerra dos 7 anos, defendendo o fraccionamento do exército em grandes unidades - as divisões - que permitiriam, em simultâneo, a manobra com relativa segurança e a dispersão necessária à vida das tropas. Broglie acabaria por enunciar, com anos de avanço, os princípios gerais nos quais o sistema napoleónico de divisões e corpos operaria. Mas o sistema divisionário seria descartado após a sua morte, sendo mais tarde recuperado por Jacques Antoine Hyppolite, Conde de Guibert (1743-1790) e por ele incorporado nas reformas sofridas pelo exército em 1787, em vésperas da revolução. Guibert preconizava que o exército devia ser dividido em permanência e organizado em divisões capazes de se manterem autonomamente e assim facilitarem a sua mobilidade, sendo estas fraccionadas em pequenas colunas de batalhões, fáceis de movimentar em qualquer direcção e que rapidamente se poderiam desenvolver em linha de batalha. À medida que os exércitos cresciam, sentia-se cada vez mais a necessidade de os dividir em partes, para facilitar os seus deslocamentos e garantir a sua subsistência. A definição de Corpo ou Divisão não era então tão rígida e esquematizada como o é hoje. No fim do século XVIII, início do século XIX, estas organizações militares eram realidades completamente diferentes das que actualmente utilizam as mesmas designações. O período de 1803-1805 é considerado como o que deu início à formação do Corpo de Exército como o escalão base de um sistema organizativo e permanente de um exército. Assim o II Corpo, em 1805, transforma-se no Exército da Dalmácia, revertendo mais tarde as suas unidades para o XI Corpo, quando se juntam ao Grande Exército em 1809. Também em 1815 os IV, V e VII corpo constituem os Exércitos do Moselle, do Reno e dos Alpes, com dupla identidade, de Corpo e de Exército, sendo que a designação de Exército reflecte simplesmente sua situação como um Corpo que opera independentemente. No entanto, nas campanhas de Napoleão de 1805 e 1809, este mudava as formações e designações, trocando divisões, brigadas, criando e desfazendo Corpos e Exércitos durante as operações militares, não diferindo muitas vezes dos que os ingleses chamavam de alas, ou flancos, ou colunas.

O Exército francês durante a Guerra Peninsular utilizaria a sua organização táctica baseada essencialmente em Corpos (em geral com 3 ou 4 divisões de infantaria e uma componente de artilharia e cavalaria). Como se disse esta definição de Corpo fora inicialmente criada no exército francês por volta de 1800, mas com alguma sistematização e permanência após 1803. Em 1812 muda a designação para Exército, variando então entre 2, 6 e 8 divisões Estas novidades organizacionais francesas acabariam por ser imitadas pelos exércitos europeus. No entanto, os britânicos continuaram a optar claramente pela constituição dos seus exércitos em divisões. No Exército Britânico, a Divisão como formação permanente, aparece pela primeira vez na expedição a Copenhaga de 1807, na qual o exército expedicionário se organiza em 4 divisões. No fim do séc. XVIII, início do séc. XIX, a organização militar não era clara como hoje, em que o corpo é uma entidade superior à divisão, esta é superior à brigada, que é superior ao regimento, que é superior ao batalhão, etc., numa sucessão mecânica. Nessa altura, a mesma estrutura podia ter diversas designações. Os Prussianos em 1813 organizavam o exército em Brigadas (estruturalmente análogas às divisões francesas, mas ao contrário destes, que disseminavam a sua cavalaria ao nível corpo de exército, tinham a cavalaria como parte integrante da brigada) para fazer frente aos Corpos Franceses. Os regimentos britânicos eram meras organizações administrativas. Os batalhões eram organizados em brigadas tendo efectivos semelhantes aos dos Regimentos continentais. As divisões inglesas pouco maiores eram que as brigadas francesas. As unidades de Artilharia continuavam a denominar-se Parque de Artilharia. Em Waterloo o exército aliado foi dividido formalmente (e ilusoriamente) em Corpos por necessidade política de atribuir um comando ao Príncipe de Orange, mas na realidade operava como um todo organizado em divisões. Mas Waterloo não pode servir de exemplo devido à situação internacional das forças envolvidas e as implicações políticas do seu comando. Mesmo a sua repentina constituição e engrossamento até ao campo de batalha torna este exército aliado um caso único. Este conceito de Divisão (formação táctica com duas ou mais brigadas com unidades de artilharia e respectivos serviços), não tem nada a ver com o conceito de Divisão a nível territorial, pois no primeiro caso estamos face a uma organização táctica para emprego exclusivo em campanha e na segunda uma organização territorial. Como mero comentário, poderemos constatar que o exército Francês na Península foi dividido em Corpos até que o Marechal Marmont tomou o comando do exército de Portugal “L´armée du Portugal”, em 1812, fazendo cair a estrutura Corpo e organizando o exército em Divisões, eliminando as estruturas intermediárias dos Corpos e aliviando o comando. Estas novidades, nascidas em França no fim do século XVIII, foram sendo absorvidas pelas outras potências, nomeadamente por Inglaterra e, como não poderia deixar de ser, por Portugal.

Assim, no seguimento das novas organizações militares da Europa, Portugal também levanta uma Divisão Auxiliar em 1793, para intervir na campanha do Rossilhão. O seu comandante, John Forbes Skellater, defenderia mais tarde num trabalho sobre a organização do exército, a distribuição das unidades em 3 Divisões (Sul, Centro e Norte), tendo cada Divisão 8 regimentos de infantaria, agrupados em 4 brigadas, 4 regimentos de cavalaria, 1 de artilharia e uma Legião. Cada Legião a 2 batalhões de caçadores e 2 esquadrões de Hussardos. Cada batalhão de caçadores a 4 companhias. Seria apenas em 1806 que o exército seria pela primeira vez reorganizado e modernizado, mesmo em tempo de paz, em divisões e brigadas. No entanto era mais uma organização territorial que táctica, apesar da sua organização poder integrar perfeitamente a noção de Corpo. O exército regular Português formava assim três grandes divisões, denominadas do Norte, Centro e Sul, dependendo cada uma delas dos respectivos comandos regionais. Cada Divisão era formada por 8 regimentos de infantaria, agrupados em 4 brigadas; 4 regimentos de cavalaria e um de artilharia, exceptuando a Divisão do Sul, que tinha 2 regimentos desta última armam. Havia ainda uma Legião de Tropas Ligeiras, como referia o decreto «e estes números serão distribuídos promiscuamente pelos corpos das três Divisões». Assim, com base nesta nova reorganização iniciada pelo Príncipe Regente, foram formadas as Divisões em Portugal. No entanto esta reforma nunca veria a luz do dia, pois a sua implementação foi interrompida pela invasão francesa que ocorreria no ano seguinte (1807). BRIGADAS. As operações Britânicas na época, essencialmente por necessidade de prover o seu transporte por via marítima, eram efectuadas com pequenas forças expedicionárias, ao nível brigada ou batalhão, em contraposição com a organização e dimensão dos exércitos continentais. Quando Wellington desembarcou na Península Ibérica em 1808, o exército Britânico ainda estava organizado, com base em Brigadas, geralmente compostas por 2 ou 3 Batalhões, com efectivos compreendidos entre 1.400 a 2.500 homens. O exército Britânico desembarcado na Foz do Mondego em 1808 encontrava-se organizado em 8 Brigadas. Por outro lado, esta força de dimensões reduzidas comandadas por Wellington (com efectivos comparáveis a pouco mais que um corpo de exército de Napoleão), permitiu-lhe dirigir pessoalmente todo o exército e ter um estado-maior reduzido. No início da campanha peninsular, a maior formação táctica era a brigada (formação táctica com dois ou mais batalhões), que actuava sob o comando de um Coronel ou Brigadeiro-General O Brigadeiro-General no comando da brigada, no exército britânico, não era um posto militar no sentido estrito do termo, mas uma nomeação para comando da brigada, já que efectivamente, podia ser um oficial general ou o oficial mais antigo, cooptado de entre os comandantes dos Batalhões que formavam a brigada, por vezes um coronel, passando o

comando do batalhão a ser feito pelo seu 2º comandante. Quando mais do que uma brigada actuavam concertadamente, sem a direcção de um oficial general comandante de divisão, o oficial comandante da força era escolhido, pela sua antiguidade, entre os comandantes de brigada. INTEGRAÇÃO DAS BRIGADAS PORTUGUESAS As brigadas como forma de organização não eram desconhecidas ao exército português. Por Alvará de 19 de Maio de 1806, foi ordenada a constituição das brigadas no exército português. Como já se referiu, inicialmente, durante a campanha do Douro, (2ª invasão), algumas unidades portuguesas foram misturadas com unidades britânicas, formando brigadas mistas, que não resultaram por não atenderem à especificidade de cada nação. Esta seria a única vez que as unidades portuguesas e inglesas formariam brigadas mistas. Esta mistura de unidades das duas nações só iria sobreviver na Divisão Ligeira e seria a excepção. Sempre pragmático e com o reconhecido bom senso, em 1810, Wellington decidiu reorganizar de novo o seu Exército, misturando de novo unidades Portuguesas e Britânicas nas suas divisões, mas com uma nova forma. Em vez de misturar as unidades Portuguesas com as Britânicas nas respectivas Brigadas, inseriu uma Brigada composta por unidades portuguesas (4 a 5 Batalhões) nas divisões, que ficaram conhecidas pelas Brigadas Portuguesas com o nome do comandante respectivo até serem numeradas em 1813. Tratou-se de uma organização peculiar, criada pelo próprio Wellington, diferente de qualquer outra formação de qualquer outro exército moderno, e de modo muito parecido às Legiões Romanas. Distribuiu o exército em divisões com 4.000 a 6.000 homens cada, contendo cada uma, as partes componentes de um Exército, tornando-se assim completamente independentes entre si e capazes de operar com perfeita independência. Cada Divisão era um verdadeiro exército em miniatura, que poderia aventurar-se a executar operações e movimentos sozinha, o que demonstrou a genialidade do seu autor pela simplicidade do sistema organizacional montado. Este sistema permitia grande facilidade na acção e foi a mola percursora dos admiráveis movimentos que distinguiram o exército AngloPortuguês na Guerra Peninsular. É em 22 de Fevereiro de 1810, que Wellington ordena que cada Divisão passe a contar com uma brigada portuguesa, composta de dois regimentos de infantaria e um batalhão de caçadores. Uma Brigada Portuguesa ”completa” consistia em dois regimentos de infantaria (a dois Batalhões cada) e um batalhão de caçadores. As brigadas britânicas eram compostas de 2 ou 3 batalhões de infantaria e uma companhia de infantaria ligeira tirada dos batalhões respectivos e espalhadas pelas brigadas. A organização das divisões era composta como regra geral por 3 brigadas, 2 britânicas e 1

portuguesa. Uma brigada britânica tinha usualmente uma força de 1.500 a 2.000 homens, enquanto a força de uma brigada portuguesa tinha entre 2.000 a 2.500 homens. As brigadas britânicas a 2 ou 3 batalhões e a portuguesa a 2 Regimentos de Infantaria e 1º Batalhão de Caçadores. Cada Divisão teria uma brigada (bataria) de artilharia. No entanto a 1ª Divisão, a Divisão Ligeira e a Divisão Portuguesa eram compostas em moldes diferentes. A 1ª Divisão, sem brigada portuguesa e composta de 4 brigadas, a 2 batalhões cada. A Divisão Portuguesa, apenas com 2 brigadas portuguesas, sem qualquer brigada britânicas. Na primavera de 1810 foi introduzia uma grande inovação, que ficaria famosa. A criação da Divisão Ligeira ("The Light Division"), que fora levantada em 22 de Fevereiro de 1810, tomando como base a Brigada comandada por Robert Craufurd, retirada da 3ª Divisão, ao que se juntaram 2 Batalhões de Caçadores (o 1º e 3º), e mais tarde o Regimento de Infantaria 17. No Verão de 1810, levanta a 5ª Divisão, que não recebeu um Batalhão de Caçadores até 1811. Durante a Batalha do Bussaco, o exército Anglo-Português já contava com 7 divisões. Divisões antigas 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, a recente 5ª Divisão Ligeira e Divisão Portuguesa. Das 6 brigadas portuguesas restantes, duas, sob o comando dos Brigadeiros Archibald Campbell e Agostinho Luís da Fonseca, formaram a Divisão Portuguesa, que marchava com a 2ª Divisão de Hill, mas que não faziam parte integrante dela. Além destas, sobravam as Brigadas Portuguesas comandadas por Denis Pack, Alexander Campbell, Coleman e Thomas Bradford. Em 6 de Outubro de 1810 e 5 de Março de 1811, Wellington aumentou o exército AngloPortuguês em mais 2 divisões, a 6ª e 7ª divisões. No ano seguinte, foram reduzidas para 2 brigadas portuguesas independentes, já que uma das Brigadas passou para a 7ª Divisão entretanto criada e a outra para a 2ª Divisão. As duas Brigadas que não foram anexadas às divisões actuaram como independentes até ao fim da guerra, sendo esta a distribuição final das brigadas: 2ª Divisão - uma Brigada; 3ª Divisão - uma Brigada; 4ª Divisão – uma Brigada; 5ª Divisão – uma Brigada; 6ª Divisão – uma Brigada; 7ª Divisão – uma Brigada; Divisão Portuguesa – duas Brigadas; Duas Brigadas independentes. As Primeiras sete divisões eram numeradas, sendo a 8ª conhecida apenas como "The Light Division" (Divisão Ligeira), e a 9ª como Divisão Portuguesa. A 1ª Divisão tinha geralmente 4 Brigadas Britânicas, sendo que, em 1813 uma das Brigadas

foi substituída pela alemã “King's German Legion “ K.G.L. Esta Divisão nunca teve uma Brigada ou unidades portuguesas. A 2ª Divisão incluía inicialmente 3 Brigadas Britânicas, sendo-lhe incorporada a brigada portuguesa de Ashworth em 1811. Esta divisão (2ª) era uma dupla unidade com a Divisão Portuguesa, com cerca de 5.500 ingleses e 4.500 portugueses. Operava com frequência separada, sob o comando do General Hill, com a Divisão Portuguesa, grupo que era equivalente a um pequeno Corpo de exército Luso-Britânico As restantes divisões, com excepção da Divisão Ligeira (pela sua especificidade), eram compostas de 2 Brigadas Britânicas e uma Portuguesa. Em média cada Divisão era composta de cerca de 6.000 homens (3.000 ingleses e 2.000 ou um pouco mais, portugueses), com excepção da Divisão Ligeira com 4.000 homens. A Divisão Ligeira tinha uma organização própria, com duas Brigadas contendo: - Um batalhão de Infantaria Ligeira Inglesa. - Um batalhão de Caçadores. - 4 Companhias de atiradores do regimento 95th Foot. A Divisão Portuguesa era composta por duas brigadas, uma com dois regimentos de infantaria e um batalhão de caçadores e outra apenas com dois regimentos de infantaria, a qual ficaria conhecida como brigada do Algarve Até à Batalha de Vitória, Wellington exercia o comando directamente sobre as divisões, sem grau intermédio de comando, excepto no que diz respeito à 2ª Divisão, Divisão Portuguesa e duas Brigadas de Cavalaria, na Estremadura Espanhola e Alentejo (o pequeno corpo de exército do general Hill). Após a batalha de Vitória, vendo a enorme dificuldade em exercer todo o comando sobre as 8 divisões, mais a Divisão Portuguesa e Brigadas independentes, Wellington organizou o seu exército em 3 Corpos permanentes, ou mais precisamente um corpo central com dois flancos, denominadas de Colunas. À esquerda - Com Thomas Graham, que foi substituído por Hope quando adoeceu À direita - Hill. Ao centro - O próprio Wellington com Beresford, Beresford comandando metade da Coluna que mais não era que um Corpo. AS BRIGADAS PORTUGUESAS A infantaria portuguesa encontrava-se organizada em regimentos a dois batalhões, que em combate se dispunham em linha um ao lado do outro, (dai chamar - se Infantaria de Linha), a três fileiras de profundidade, oferecendo assim um poder de fogo máximo. Esta ordem táctica opunha-se à formação francesa predilecta, que preferia dispor os batalhões com uma frente menos extensa (menos poder de fogo), mas em múltiplas fileiras em profundidade (em colunas) o que dava maior força de impacto e acção de choque, pretendendo-

se atacar a moral do adversário com uma carga á baioneta a terminar. Os regimentos operavam a dois, constituindo a brigada uma unidade logística. Em cada brigada, integrava-se um batalhão de caçadores, (especialmente após a criação dos novos Batalhões de Caçadores em 1811 levantados com a extinção da LLL) que actuavam, regra geral, em ordem dispersa ou aberta à frente dos batalhões da infantaria de linha. As

brigadas

portuguesas

actuaram

tacticamente

integradas

nas

divisões,

ou

independentemente. As divisões, como se referiu, eram normalmente compostas de uma brigada portuguesa e de duas brigadas Britânicas. No entanto as brigadas britânicas apenas tinham 3 ou 4 batalhões cada, contra os 5 batalhões das brigadas portuguesas, resultando que nas Divisões onde foram integradas as brigadas portuguesas (com a excepção da referida 1ª Divisão) a força portuguesa detinha cerca de 40% dos efectivos da Divisão, ou seja 5 batalhões portugueses e cerca de 6 ou 7 batalhões britânicos. As Brigadas geralmente eram conhecidas pelos nomes dos seus comandantes, apenas sendo numeradas a partir de 13 de Agosto de 1813, sendo certo que a 2ª Brigada sempre foi conhecida por Brigada do Algarve, apesar de que no Exército Português, era prática corrente serem conhecidas pelo nome do oficial sénior das unidades que a integravam. É durante a guerra peninsular, na reconstituição do exército português, que a primeira brigada é conhecida pela Ordem do Dia de 25 de Março de 1809. Esta era formada pelos regimentos de Infantaria 4 e 19 sob o comando do Brigadeiro Richard Blunt, e a 11 de Abril formam-se a Brigada de Archibald Campbell, composta pelos regimentos de Infantaria 3 e 15 e a Brigada sob o comando do Brigadeiro António Marcelino da Vitória formada pelos regimentos de Infantaria 1 e 13. A partir desta data nasceriam algumas brigadas, mas sem qualquer lógica organizativa, sendo mais decisões isoladas e experiências que resultavam da necessidade das operações em curso. Designadamente em Maio 1809, em plena campanha do Douro as unidades portuguesas foram integradas ao nível das brigadas, com as unidades britânicas, chegando-se mesmo a dividir regimentos portugueses de modo a integrar os dois batalhões em brigadas distintas. Ex: 1º batalhão do regimento de infantaria 16 na brigada comandada pelo Brigadeiro Cameron e o 2º batalhão do regimento de infantaria 16 na brigada comandada pelo Brigadeiro John Sontag. Esta experiência não duraria para além de 1809, como se verá. Foram levantadas outras brigadas e formações de unidades temporárias, sendo difícil por vezes seguir a ordem dos seus comandantes, pelas inúmeras substituições por doença, ferimentos ou ausência destes. Porém, é possível identificar nove brigadas que tomaram parte nas operações de 1809 das quais pelo menos quatro sobreviveram na forma original delas, depois da adaptação ao exército britânico que Beresford levou a cabo no Outono daquele ano.

Quatro destas brigadas tomaram parte na Campanha de Douro na coluna sob o comando de Beresford, que cruzou o Douro na Régua e se dirigiu para norte em direcção ao vale do Tâmega. Eram estas as brigadas de Lopes de Sousa, Manuel Bacelar, Silveira e Wilson. Em Abril, o Major-general William Beresford no comando do Exército Português organizou parte do mesmo para operar sob o comando de Wellesley. Dois Regimentos, o 10º e o 16 Regimentos de Infantaria com uma unidade conhecida como o 1º de Granadeiros compostas de companhias do 1º e 2º batalhões do Regimento de Infantaria 6 e o 2º Batalhão do Regimento de Infantaria 18, foram integrados nas Brigadas inglesas de Wellesley. Os Regimentos de Infantaria 10 e 16, como já se referiu, formaram parte integrante do Exército de Wellington, sendo distribuídas pelas cinco Brigadas britânicas durante essas cinco semanas. O 2º batalhão do Regimento de Infantaria 16 pelo Brigadeiro A. Campbell e os 2 batalhões do Regimento de Infantaria 10 pelos Brigadeiros John Sontag e Allan Cameron. Na campanha de Talavera quatro brigadas, as de Carlos Lecor, William Howe Campbell, Richard Blunt e Hugh McLeroth, formaram parte do grosso da força de Beresford, concentrada em Almeida, e que marchou em direcção a sul pelo Puerto Perales até Moraleja, quando o Exército de Wellington retirava de Talavera. As únicas tropas portuguesas a tomar parte nas operações de Talavera foram os dois batalhões da Leal Legião Lusitana e o Batalhão de Caçadores 5, que sob o comando de Sir Robert Wilson, tendo um comando quase independente, avançaram em Espanha, protegendo o flanco esquerdo de Wellington até Escalona e, após a batalha de Talavera foram forçados a retirar para Portugal pelas montanhas. No caminho enfrentaram os franceses no combate de Baños tendo sido obrigados a dispersar. * *

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Quando as brigadas portuguesas foram constituídas, eram apenas compostas por dois Regimentos de infantaria. Os batalhões de Caçadores só reforçariam as Brigadas muito tempo depois. Inicialmente nem sequer não havia qualquer intenção de as integrar nas divisões britânicas. Até mesmo as 2 Brigadas que compunham a Divisão Portuguesa sob o comando do Marechal-de-Campo Hamilton, só marchariam da retaguarda para se unir o Corpo de exército de Hill em Portalegre em Fevereiro de 1810. A primeira Brigada a ser incorporada numa formação britânica seria a 8ª Brigada de Champalimaud, a qual se uniu, em Pinhel, nos primeiros dias de Abril de 1810 à 3ª Divisão de Picton, enquanto as restantes permaneciam na retaguarda em Coimbra ou seus arredores. Os batalhões de Caçadores estavam, pelo menos desde 16 Dezembro, nominalmente organizados em três brigadas:

Nominalmente, os batalhões de caçadores 1 e 2 encontravam-se sob o comando do Barão Eben; os 3 e 5; e os 4 e 6 sob o comando de Lecor. Na realidade os Batalhão de Caçadores 1 e 2 encontravam-se em Março de 1810 actuando em conjunto com a Divisão Ligeira e sem Eben; o 5 encontrava-se no Alentejo sob o comando de Hill; e os 3, 4 e 6 perto de Coimbra aí permanecendo. Em Maio o Batalhão de Caçadores 2 foi substituído pelo Batalhão de Caçadores 3 na Divisão Ligeira, que conjuntamente com o Batalhão de Caçadores 1 faria parte integrante desta Divisão. Os Batalhão de Caçadores 4 e 6 seriam adidos respectivamente à 1ª e 5ª Brigadas em Agosto de 1810. O 2º batalhão foi recolocado em Coimbra, sendo adido à 6ª brigada (Colman) pouco antes da batalha do Bussaco, a 21 Setembro de 1810. A organização das brigadas ainda seria mais aprofundada, enquanto o exército AngloPortuguês permaneceu nas Linhas de Torres Vedras, pois é nesta época que se levantam parte das divisões como modelo organizativo definitivo, incorporando assim as brigadas às mesmas. A 5ª Divisão foi levantada por Ordem de 6 Outubro do Corpo de exército de Leith o qual tinha ocupado uma posição de reserva no verão, próximo de Tomar, até ao movimento em direcção ao Bussaco. A 6ª Divisão foi formada por Ordem da mesma data. A 7ª Divisão, formada por Ordem de 5 de Março 1811, começando a sua formação durante a perseguição de Masséna, sendo composta por 2/3 de forças portuguesas, quando pela primeira vez entrou em combate em Fuentes Oñoro. Era a época do ajustar a organização do Exército Anglo-Português. * * * Esta organização inicial, fruto de improvisação, motivada por uma sucessão de situações críticas a que a que o exército teve que acorrer, deu lugar a uma reorganização completamente nova pelo Outono, quando foram formadas as doze Brigadas na Ordem de 29 de Setembro 1809. Oito destas permaneceram em existência até as 1814; outras quatro desfrutaram de vida curta ou meramente formal. As brigadas propriamente ditas datam de uma Ordem de 29 de Setembro 1809, sendo quase impossível tentar encontrar uma lógica no período anterior. Assim, as unidades portuguesas foram organizadas em Brigadas em Setembro de 1809 organização que manterão até ao fim da guerra em Abril de 1814. Muitas das brigadas foram destacadas para as Divisões Britânicas sob o Comando Inglês, actuando sempre como parte integrante da própria Divisão Duas Brigadas foram destacadas para a Divisão Portuguesa,

composta por duas brigadas, uma com 2 regimentos de infantaria que foi a única que foi conhecida com um nome que não o do seu comandante (a Brigada Algarvia) e a segunda com 2 regimentos de Infantaria e um batalhão de caçadores. Outras actuaram como brigadas independentes, recebendo ordens para actuar consoante a táctica adoptada no terreno, actuando como reserva, apoio, defesa de retaguarda, brigada de choque, livre ou integrada em qualquer Divisão. Os Regimentos de Infantaria 5 e 22 nunca foram destacados para as Brigadas nem acompanharam o exército Anglo-Português na marcha por Espanha e França, permanecendo no país. O Batalhão de Caçadores 12 integrou uma brigada no período de 8 de Abril de 1812 a Abril de 1813. Ao todo, acompanharam o exército Anglo-Português durante a guerra 21 Regimentos de Infantaria e 11 batalhões de Caçadores, representando nove décimos da infantaria de linha Portuguesa. A 1ª Divisão nunca teve uma brigada portuguesa; a 2ª Brigada nunca teve um Batalhão de Caçadores; Os Regimento de Infantaria 17, Caçadores 1 e 3 foram destacados para a Divisão Ligeira. O Regimento de Infantaria 20, após serviço na defesa de Cádis, integraria a Divisão Ligeira alguns meses. As unidades portuguesas juntas à Divisão Ligeira fizeram parte integral da mesma, não sendo apenas anexadas como aconteceu com as brigadas. Significa isto que as unidades integradas e não meramente anexadas eram providas pelo Comissariado do Exército britânico, enquanto as anexadas eram providas pelo Comissariado-geral português. Após o fim da guerra, as três brigadas de infantaria no Corpo de exército sob o comando de Sir John Hope que bloquearam Bayonne (as 10, 1 e 3), deixaram Biarritz em direcção a Oyarzún respectivamente em 20, 22 e 23 de Junho de 1814. As Brigadas adidas às divisões que tinham combatido na batalha de Toulouse marcharam com as respectivas divisões em direcção a Bordéus a fim de serem embarcadas, separando-se das unidades inglesas, com enormes demonstrações de amizade na hora da despedida, o que aconteceu entre o 2 e 14 Junho. A Divisão Ligeira separou-se também das unidades portuguesas em Bazas, no dia 11 Junho. Assim terminavam os feitos de um dos melhores exércitos da história da Europa, o qual nunca perdeu uma única batalha.

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