Avaliação da Incidência de Queixas Músculo Esqueléticas em Músicos Instrumentistas de Cordas Friccionadas

June 16, 2017 | Autor: Márcio Marçal | Categoria: Ergonomics, Ergonomía Aplicada
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AVALIAÇÃO DA INCIDÊNCIA DE QUEIXAS MÚSCULO-ESQUELÉTICAS EM MÚSICOS INSTRUMENTISTAS DE CORDAS FRICCIONADAS Cláudia Ferreira Mazzoni, Ph.D; Amanda Vieira; Camila Guthier; Denise Perdigão; Márcio Alves Marçal, Ph.D Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Belo Horizonte, MG Email: [email protected]

Palavras-chave: músculo-esquelético, músico, saúde ocupacional, cordas friccionadas, Dort

A partir de 1980 houve um aumento do desenvolvimento da clínica dos músicos, organização da medicina artística e surgimento de pesquisas visando a prevalência, tratamento e aspectos ergonômicos dos instrumentistas. O objetivo desse estudo foi avaliar a incidência de queixas músculo-esqueléticas em músicos instrumentistas de cordas friccionadas e identificar fatores de riscos para o surgimento destas queixas. Participaram 16 músicos acadêmicos da Universidade Estadual de Minas Gerais e 13 músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais com idade entre 18 e 60 anos, de ambos os sexos. Foi aplicado um questionário com os objetivos de traçar o perfil profissional e levantar a sintomatologia. Observou-se idade média de 37,96 anos e 79,20% com mais que 10 anos de experiência. A amostra dedicava-se ao seu instrumento uma média de 30 horas semanais. Noventa e três porcento da amostra relataram algum tipo de sintoma sendo que o de maior ocorrência foi dor. A região corpórea mais acometida foi o punho/mão, seguida dos ombros e da coluna lombar. Os sintomáticos associaram a ocorrência das queixas ao ato de tocar, ao período logo após tocar e ao ato de carregar o instrumento. No que diz respeito à freqüência da dor, 34,5% dos músicos relataram apresentá-la toda semana e 24,1% queixaram da presença de dor diariamente. Quanto à intensidade, 48,3% relataram dor moderada e 41,4% dor leve. Quando questionados sobre a impossibilidade de tocar em decorrência da presença de dor, 65,5% responderam não. A idade e o tempo que é músico/estudante apresentou correlação significativa com presença de sintomas em outras atividades. A idade correlacionou significativamente com sintoma ao carregar o instrumento. Medidas preventivas devem ser multifatoriais considerando mudanças de hábitos pessoais, alteração na organização do trabalho, técnicas ao tocar e ao manusear o instrumento e boas relações interpessoais.

1 INTRODUÇÃO A literatura demonstra estudos preocupantes relacionados à saúde física e mental dos músicos instrumentistas. Ainda que os problemas músculo-esqueléticos já tenham sido percebidos há muitos anos entre músicos e educadores musicais, a comunidade médica só demonstrou interesse significativo a poucos anos.5,6 A partir de 1980 houve um rápido aumento do desenvolvimento da clínica dos músicos, organização da medicina artística e surgimento de pesquisas visando a prevalência, tratamento e aspectos ergonômicos dos instrumentos usados. Este interesse dos músicos pelas desordens músculo-esqueléticas relacionadas a sua ocupação surgiu paralelo ao aumento da incidência das mesmas desordens músculo-esqueléticas relacionadas aos mais variados setores ocupacionais.4,6 Pesquisa feita no Brasil sobre o nível de estresse físico em instrumentistas de cordas mostrou ser a dor a variável predominante relacionada ao estresse físico seguida pelo cansaço e pela freqüência do tocar. (Andrade e Fonseca, citado por Costa1) Essa mesma pesquisa concluiu que os violinistas apresentavam o maior índice de afastamento por causa do seu instrumento. Porém, os violistas e contra baixistas foram os que apresentaram uma maior ocorrência de impedimentos para realização da atividade instrumental.13 O objetivo desse estudo foi avaliar a incidência de queixas musculoesqueleticas em músicos instrumentistas de cordas friccionadas e identificar os possíveis fatores de riscos para o surgimento destas queixas.

2 METODOLOGIA A amostra desse estudo foi composta por músicos instrumentistas de cordas friccionadas, acadêmicos e/ou profissionais com idade entre 12 e 65 anos, de ambos os sexos. Para efeito do estudo foi calculado o tamanho amostral, considerando um erro de 5%. De acordo com o cálculo amostral para proporções encontrou-se um tamanho amostral de 25 músicos. Nesse estudo foram entrevistados 29 músicos de cordas friccionadas, sendo 16 alunos da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e 13 músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Um questionário com os objetivos de traçar o perfil dos músicos de corda friccionadas e de subsidiar abordagens de prevenção de sintomas músculoesqueléticos foi aplicado nos músicos. A primeira parte do questionário referiuse ao músico e ao seu instrumento, abordando questões relativas a sua formação profissional, ao tempo dedicado a essa profissão, ao seu instrumento e o peso do mesmo. A segunda parte investigou a saúde, sintomatologia e tratamentos adotados pelos músicos. A terceira parte referiu-se ao lazer, aspectos psicossociais e a relação do músico com seu trabalho. A última questão era aberta e teve a finalidade de possibilitar aos músicos acrescentar informações que julgassem pertinentes e que não haviam sido contempladas no questionário. O questionário foi aplicado no intervalo das aulas e/ou ensaios demandando dos músicos um tempo médio de quinze minutos (15min) para respondê-lo.

3 RESULTADOS Vinte e nove músicos participaram deste estudo, sendo 25 do sexo masculino e 4 do sexo feminino. A idade média da população estudada foi de 37,96 anos (± 11,01), sendo 18 e 60 as idades mínima e máxima respectivamente. Sessenta e noventa por cento dos pesquisados eram músicos instrumentistas de cordas friccionadas profissionais e 31% eram estudantes. O grupo de músicos estudados caracterizou-se por ser a maioria do sexo masculino (86,2%), solteiro (65,5%), nível superior completo (41,4%) e incompleto (37,9%). A amostra estudada dedica-se ao seu instrumento uma média de 6,13 dias por semana, com uma média de 4,44 horas por dia. Em relação ao tempo de experiência com a música observou-se que 79,20% tinham mais que 10 anos de experiência e que 75,9% tinham mais que 10 anos de experiência com um determinado instrumento. O instrumento mais tocado foi o violino (48,30%) seguido do violoncelo (27,60%). Além de se dedicarem a instrumentos específicos, 62,1% da amostra relatou tocar outros instrumentos como, por exemplo, o violão e a flauta doce. Quanto à percepção dos músicos em relação ao peso dos instrumentos tocados. Observou-se que 44,80% da amostra consideram o peso do seu instrumento leve, 11% consideram seu instrumento de peso moderado e 5% consideram o instrumento pesado. Houve um consenso geral de que o violino foi considerado um instrumento leve, a viola e o violoncelo instrumentos de peso moderado e o contrabaixo pesado.Foi observado que 100% dos músicos realizam intervalo durante estudo individual; 93,10% realizam durante ensaio e 75,90% durante show/apresentação. Os músicos foram perguntados quanto ao hábito de realizarem exercícios de alongamento em algum momento do dia. Verificou-se que 41,40% realizavam alongamentos antes de tocar o instrumento, enquanto 20,70% realizavam após tocar. Na população estudada, 93,1% dos músicos relataram apresentar algum tipo de sintoma músculo-esquelético como dor, formigamento, tensão muscular e dormência. O sintoma de maior ocorrência foi dor (59%), seguido de tensão muscular (22%), formigamento (11%) e dormência (8%). Em relação às regiões corpóreas mais acometidas, verificou-se que a região de punho/mão foi a mais acometida, seguida dos ombros direito e esquerdo e da coluna lombar. Os músicos que apresentavam sintomas associaram a ocorrência dos mesmos a determinados períodos de suas atividades. Sessenta e dois por cento dos sintomas foram associados com o ato de tocar, 48.3% foram associados ao período logo após tocar, 24.1% dos sintomas ocorriam com os músicos estando em repouso, 13.8% dos sintomas foram associados ao ato de carregar o instrumento e a mesma porcentagem foi associada com atividades variadas do dia a dia. No que diz respeito à freqüência da dor, 34,5% dos músicos relataram apresentá-la toda semana, 24,1% queixaram da presença de dor diariamente e 24,1% relataram sentir dor todos os meses do ano. Quanto à intensidade da dor, 48,3% dos músicos instrumentistas de cordas friccionadas relataram dor moderada, 41,4% dor leve e apenas 3,4% relataram dor intensa. Quando os músicos foram questionados quanto à impossibilidade de tocar em decorrência da presença de dor, 65,5% responderam não e 27,6% disseram sim. Dos músicos sintomáticos 41,4% relataram que já tiveram ou têm dificuldades ou já ficaram impedidos de realizar

atividades de vida diária (AVD´s) em virtude dos sintomas, enquanto 51,7% relataram que nunca tiveram dificuldades ou impedimentos em relação as AVD´s. Quanto à prática de atividade física percebe-se que a grande maioria é sedentária, visto que apenas 27,6% relataram praticar algum tipo de atividade como, por exemplo, caminhada, futebol, natação, musculação, entre outros. Entretanto, 86,2% da população estudada relataram reservar algum tempo para o lazer. Quando perguntado ao músico se o mesmo tem outra atividade remunerada 10,3% responderam sim como, por exemplo: professor (2 participantes) professor de música (1 participantes) e técnica química industrial (1 participante), mostrando que a grande maioria 89,7% tem como fonte de renda apenas a música. Um outro importante ponto a ser destacado diz respeito à satisfação com a profissão. Verifica-se que a maioria (79,3%) sente-se realizada. O relacionamento no ambiente de trabalho também foi investigado. Foi observado que a maioria (65,5%) consideram bom o seu ambiente de trabalho, enquanto 31% consideram ótimos. Em relação ao estresse, 62,1% dos músicos relataram que às vezes a profissão causam-lhes estresse, enquanto 20,7% relataram não causar. O ritmo de trabalho, foi apontado como sendo agitado por 55,2% da amostra e como estressante por 34,5%. Através da correlação de Spearman, muitas variáveis foram correlacionadas, entretanto, apenas as variáveis idade, tempo que é músico ou estudante de música e horas tocadas por dia apresentaram correlação significativa. (p
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