Avaliação da produção e resistência à geada de cultivares de cana- de-açúcar

June 4, 2017 | Autor: R. Rodríguez Padrón | Categoria: Produtividade, Saccharum Sp
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Revista Espacios, v.36, n.24, p.15, 2015. ISSN: 0790-1015

Avaliação da produção e resistência à geada de cultivares de canade-açúcar Evaluation of production and resistance to frost in sugarcane cultivars Helena Maria Camilo de Moraes NOGUEIRA1; Cicero Urbanetto NOGUEIRA2; Antonio Luiz FANTINEL³; Ivanor MÜLLER4; Ronaldo HOFFMANN5; Richard Alberto RODRÍGUEZ PADRÓN6 Colegio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria – Santa Maria, Brasil. [email protected] Colegio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria – Santa Maria, Brasil. [email protected] 3 Universidade Federal de Santa Maria – PPGEP- Brasil. [email protected] 4 Universidade Federal de Santa Maria – Brasil. [email protected] 5 Universidade Federal de Santa Maria – Brasil. [email protected] 6 Centro de Ciência Rural, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Santa Maria – Brasil. [email protected] 1 2

RESUMO O trabalho teve como objetivo avaliar a produtividade e a resistência a geadas de diferentes variedades de cana-de-açúcar. O ensaio foi conduzido na área experimental do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria, no período de 2007 a 2009. O delineamento experimental foi por blocos ao acaso, com onze variedade e três repetições. A variedades foram: Branca Mole, Tucumã, IAC 311, Napa 7696, SP 70 1143, Preta torta, RB 78 5750, RB 85 1011, Napa 5679, 3X e RB 76 5418. As características morfofisiológicas avaliadas foram: peso de canas, peso das pontas, peso das palhas, peso dos colmos, o número de colmos, a altura dos colmos, o diâmetro da base, o diâmetro da ponta, o brix, o índice de maturação, peso da amostra integral da massa verde, peso da massa pré-seca, o peso do bagaço, o volume do caldo e a produção total. As variáveis que mais influenciaram foram a produtividade total, o peso da cana, a maturação, o brix e o volume do caldo. O cultivo da cana de açúcar foi afetado pela geada, das onze variedades avaliadas, cinco resistiram. Das que sobreviveram, a de maior produtividade foi a Tucumã. É importante o planejamento para a colheita antes da primeira geada ou utilizar cultivares resistentes. Palavras-chave: Saccharum, produtividade, época de colheita, planejamento.

ABSTRACT The study aimed to evaluate the productivity and resistance to frost in different varieties of sugarcane. The experiment was conducted in the experimental area of the Polytechnic School of the Federal University of Santa Maria, from 2007 to 2009. The experimental design was a randomized blocks with eleven varieties and three replications. The varieties were: Branca Mole, Tucumã, IAC 311, Napa 7696, SP 70 1143, Preta torta, RB 78 5750, RB 85 1011, Napa 5679, 3X e RB 76 5418. The morphological characteristics evaluated were: cane weight, tip weight, straw weight, culms weight, number of culms, height of the culms, diameter of the base, diameter of the tip, brix, maturation index, weight of whole sample of green mass, weight of dry matter, weight of the residue, volume of broth and total production. The variables that were most influenced: total production, cane weight, maturity, brix and volume of broth. The cultivation of sugar cane was affected by frost, of eleven varieties evaluated five resisted. Those who survived, increased productivity was the Tucumã. It is important to plan for harvest before the first frost or use resistant cultivars. Keywords: Saccharum, production, harvest season, planning.

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1. INTRODUÇÃO O Brasil é líder mundial na produção de cana-de-açúcar (Saccharum spp). A produção nacional de cana na safra 2014/2015 atingirá 642,10 milhões de toneladas, para uma área de 9.004,50 mil hectares, onde 56,28% da cana serão utilizadas na produção de álcool (28,66 bilhões de litros) e 43,72% na produção de açúcar (36,36 milhões de t de açúcar). São Paulo é o maior produtor com 52% (4.685,70 mil hectares) da área plantada, seguido por Goiás com 9,5% (854,20 mil), Minas Gerais com 8,9% (805,50 mil hectares), Mato Grosso do Sul com 7,4% (668,30 mil hectares), Paraná com 7,1% (635,00 mil hectares), Alagoas com 4,3% (385,30 mil hectares) e Pernambuco com 2,9% (260,10 mil hectares). Estes sete estados são responsáveis por 92,10% da produção nacional. Os demais estados produtores possuem áreas menores, com representações abaixo de 3,0% e a produtividade média brasileira está estimada em 71,31 t.ha-1 (Conab 2014/2015, p.16-20). Através da cana-de-açúcar, o Brasil produz caldo de cana, melado, açúcar, cachaça, álcool, etanol, bioplástico, biodiesel, querosene, energia elétrica entre muitos outros produtos. Além disso, gera inúmeros empregos, renda, desenvolvimento econômico, contribuindo com o meio ambiente, e com a sustentabilidade das cadeias produtivas (Anuário brasileiro da canade-açúcar, 2009). A produtividade no Estado do Rio grande do Sul era baixa, aproximadamente 50 toneladas por hectare. No entanto, o Brasil como um todo, produz em torno de 80 toneladas por hectare, devido à grande produtividade do estado de São Paulo. O principal gargalo da baixa produtividade no Estado é ocasionado pelo clima frio. Sendo assim, necessita-se de novos estudos, para encontrar novas variedades com maior tolerância a geadas, superando assim este gargalo. “Mesmo sem a tradição canavieira, o estado gaúcho parece despertar para a possibilidade de ampliação do cultivo nas suas pequenas e médias propriedades” (Soares, 2008, p.41). Em 2013, o Estado consumiu um bilhão de litros de etanol. O estado produz apenas 2% do álcool combustível utilizado (entre 6 e 8 milhões de litros por ano), beneficiado na única usina gaúcha, a Coopercana, em Porto Xavier, no noroeste do estado, fronteira com a Argentina, a 570 quilômetros da capital, Porto Alegre (Prestes, 2012). O valor do etanol nunca esteve tão alto, com preço equivalente e, inclusive superior ao da gasolina, nas extremidades do país, como o Rio Grande do Sul, os reflexos são mais evidentes em razão da distância das usinas de São Paulo que produzem 70% do total do etanol do país (Colussi, 2011). Sendo importante a construção de novas usinas de cana-de-açúcar no estado do Rio Grande do Sul, pois segundo Mello (2001), uma nova concepção de produção da 25

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cana-de-açúcar para a produção de álcool por meio de pequenos e médios produtores rurais representa importante inovação, tanto do ponto de vista tecnológico como dos resultados socais proporcionados pela criação de grande número de postos de trabalho no meio rural com agregação de renda ao pequeno produtor. O plantio de cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul ocupa cerca de 35 mil hectares, onde destacam-se as regiões das Missões e Médio Alto Uruguai (Roque Gonzales com 74.067 toneladas e Porto Xavier com 52.067 toneladas), que juntas contribuem com um terço da produção gaúcha. Cabe ressaltar a importância de manter as estruturas produtivas com seus produtos coloniais, consorciados com o potencial na produção de álcool combustível, pois, a cultura contribui para manutenção econômica da agricultura familiar no Estado, tanto como produto, quanto na alimentação animal” (Soares, 2008). Os principais desafios enfrentados pelos produtores são a irregularidade de produção e variedades não adaptadas ao clima da região. “Novas variedades estão em teste e os resultados preliminares revelam materiais muito promissores, tanto em produtividade por área como em teor de açúcares” (Anuário brasileiro da cana-de-açúcar, 2009 p.56). A escolha de variedades de cana-de-açúcar e suas características fisiológicas pelos produtores tornam-se um aspecto muito importante, visto que cada material apresenta características particulares quanto à adaptação às condições de clima e de solo, resistência a pragas e doenças, teores de fibra e sacarose. Sendo uma cultura estudada por muitos pesquisadores devido a sua importância a nível nacional (Oliveira et al., 2010; Costa et al., 2011; Batista, et al., 2013). Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar a produtividade e a resistência a geadas de diferentes variedades de cana-de-açúcar.

2. MATERIAL E MÉTODOS O estudo experimental foi conduzido no município de Santa Maria localizado na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul, em área pertencente ao Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), situado geograficamente nas coordenadas 29°41’25” S e 53º48’42" O e altitude de 110 m. O solo da área experimental caracteriza-se como Argissolos Amarelos Distrófico Típico, de textura franca, conforme Streck et al. (2008) é um tipo de solo predominante da região. O clima na região é temperado que apresenta característica subtropical com inverno marcante caracterizado pela classificação de Köppen-Geiger, no tipo Cfa (Clima subtropical úmido). Neste tipo de clima a temperatura é moderada com chuvas bem distribuídas e verão 26

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quente. Nos meses de inverno há ocorrência de geadas, sendo a média de temperatura neste período inferior a 16°C. No mês mais quente as máximas são superiores a 30°C (Brasil, 2007, p.58; Moreno, 1961). Na Figura 1, tem-se o mapa da localização da área de cana-de-açúcar no Colégio Politécnico da UFSM.

Figura 1 - Mapa da localização da área de cana-de-açúcar no Colégio Politécnico da UFSM.

Fonte: Google Earth, 2007 (modificado). Para a obtenção das características químicas e físicas do solo foram retiradas amostras e levadas para serem avaliadas no Laboratório de Solos do Centro de Ciências Rurais-UFSM, que podem ser visualizados na Tabela 1. Com o resultado da análise, efetuou-se as correções necessárias do solo em agosto de 2007, utilizando-se calcário dolomítico baseado no índice pHSMP, na quantidade de 3,5 t.ha-1, incorporado ao solo com o uso de grade e a aplicação de 120 kg.ha-1 de P2O5, 110 kg.ha-1 de K2O e 100 kg.ha-1 de N, assim distribuídos: 20 kg na base e 80 kg no fechamento das entre linhas, para uma expectativa de produção de 80 a 100 t.ha-1.

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Quadro 1 - Análise de Solo da área do plantio de cana-de-açúcar: Colégio Politécnico da UFSM. Centro de Ciências Rurais – Departamento de Solos Laudo de Análise de Solo Nome: Colégio Politécnico da UFSM Solicitante: Colégio Politécnico – UFSM Município: Santa Maria Entrada: 30/9/2008 Emissão: 22/10/2008 Registro Cx. Cel. Identificação da amostra Área (ha) Sistema de cultivo Prof. (cm) 19632 C27 39 Área 2 Superfície 19633 C27 39 Area 2 15 cm Diagnóstico para acidez do solo e calagem Ca Mg Al H+Al CTC efe Saturação Índice SMP pH água 1:1 cmol/dm³ Registro 19632 5,3 7,0 1,9 1,3 4,9 10,3 13 65 5,9 5,0 2,8 0,8 2,5 3,9 6,2 40 48 6,1 19633 Diagnóstico para macronutrientes e recomendações de adubação NPK-S % MO % Textura S P-Mehilch P- Resina K CTC ph7 K Argila --------m/v-------------------mg/dm³-----------------cmol/dm³------ m/gdm³ Registro 2,9 20 4 5,3 3,0 --X-0,12 13,9 48 19632 19633 1,6 19 4 3,5 1,5 --X-0,07 7,6 28 Diagnóstico para micronutrientes e relação molares Registro Cu Zn B Fe Mn Na Relações molares -----------------------mg/dm³--------------------------Ca/M (Ca+Mg)/K K/(Ca+Mg)¹/² g 19632 1,1 0,8 0,2 --X---X---X-3,7 72,5 0,041 19633 0,9 0,3 0,2 --X---X---X-3,5 50,3 0,038

Fonte: MEC, Departamento de Solos UFSM. Após a correção, efetuou-se o plantio no mês de setembro do mesmo ano, das onze variedades de cana-de-açúcar fornecidas pela EMATER-SM para serem testadas nessa região. A distribuição das mudas no sulco foi contínua, colocando-se toletes com 18 gemas por metro linear. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com três repetições e onze variedades. As parcelas foram constituídas por 5 linhas de 10 metros de comprimento e o espaçamento entre as linhas foi de 1,40 metros, a área de 56 m2 e área total de 1848 m2. Cada variedade foi identificada por um número, sendo de 1 a 11, respectivamente, nesta ordem: 1Branca Mole, 2- Tucumã, 3- IAC 311, 4- Napa 7696, 5- SP 70 1143, 6- Preta torta, 7- RB 78 5750, 8- RB 85 1011, 9- Napa 5679, 10- 3X e 11- RB 76 5418. As análises procederam-se mensalmente, no período de maio a setembro nos anos 2008 e 2009, colhendo-se cinco canas de cada variedade de forma aleatória, desprezando a bordadura para a determinação das seguintes variáveis: peso de cinco canas, peso das pontas, peso das palhas, peso dos colmos, o diâmetro da base, o diâmetro da ponta, o número de colmos, a altura dos colmos, o brix da base, o brix da ponta, o índice de maturação (IM), peso da amostra integral da massa verde (AI), peso da massa pré-seca (MPS), o peso total do bagaço, o volume do caldo e a produção total (t.ha-1). 28

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Para obter a produção total (TCH), utilizou-se a expressão matemática de Landell & Silva (2004). TCH =

D 2 xCxHx(0,007854) , onde: E

(1)

D = diâmetro de colmos medido na porção basal próximo ao solo (mm); C = número de colmos ou perfilho por 1 metro linear; H = altura média de colmos ou perfilhos (m); E = espaçamento entre sulcos ou entre linhas de cultivo (m) e 0,007854 é o fator de correção apropriado.

Para determinar o índice de maturação (IM), fez-se a relação existente entre o brix da ponta com o brix da base pelos seguintes valores: IM – menor que 0,60 – cana verde; IM – 0,60 a 0,70 – maturidade baixa; IM – maior que 0,85 – cana madura; IM – maior que 1,00 – declínio da maturação Para determinar o peso da amostra integral da massa verde (AI) e o peso da matéria pré-seca (MPS) foram utilizadas três amostras de cada variedade, com o auxílio de uma tesoura, a massa verde foi picada em pedaços pequenos e colocados em sacos pequenos de papel pardo com o peso desse indicado e novamente foi pesado em balança analítica com capacidade de 500 g. A diferença entre o peso final com o peso do saco é o (AI). As amostras de (AI) foram colocados em uma estufa para secar. Após a secagem, foi pesada novamente, desprezando o peso do saco, chegando ao peso da matéria pré-seca (MPS). As variáveis analisadas foram submetidas à análise de média.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Verifica-se na Tabela 1, segundo Landell e Silva (2004), as variedades que obtiveram melhor produtividade total (t.ha-1), no ano de 2008, foram às variedades: 4- Napa 7696, 3- IAC 311, 7- RB 78 5750, 6- Preta torta, respectivamente, apresentando produtividade média de 55,56 t.ha-1, entre as cinco variedades. Sendo as variedades 4- Napa 7696 e 3- IAC 311 com produtividade superior à média do estado do RS (57 t.ha-1) do ano de 2008 (Anuário brasileiro da cana-de-açúcar, 2009).

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Tabela 1 – Produção total (t.ha-1) de cana-de-açúcar no ano de 2008, em Santa Maria, RS. Variedades 1- Branca Mole

Diâmetro base (mm) 27,744

Altura colmo (cm) 92,80

Tonelada de cana/ha 40,073

2- Tucumã

30,230

71,60

36,707

3- IAC 311

30,074

130,20

66,063

4- Napa 7696

27,994

150,80

66,297

5- SP 701143

24,282

82,30

27,223

6- Preta torta

29,678

105,00

51,883

7- RB 78 5750

28,162

120,20

53,480

8- RB 85 1011

24,814

84,00

29,016

9- Napa 5679

24,034

102,20

33,118

10- 3X

23,598

111,40

34,802

11- RB 76 5418

21,416

144,20

37,103

No entanto, no ano de 2009, as variedades que apresentaram maior produtividade foram às variedades: 9- Napa 5679, 3- IAC 311, 2- Tucumã, 5- SP 70 1143 e 6- Preta torta, respectivamente, com média de 114,89 t.ha-1 entre as cinco (5) variedades. Sendo as variedades 2- Tucumã, 3- IAC 311, 5- SP 70 1143, 6- Preta torta, 9- Napa 5679, 10- 3X e 11- RB 76 5418 com produtividade maior que a média nacional (Tabela 2). Tabela 2 – Produção total (t.ha-1) de cana-de-açúcar no ano de 2009, em Santa Maria, RS. Variedades 1- Branca Mole

Diâmetro base (mm) 27,218

Altura colmo (cm) 123,60

Tonelada de cana/ha 51,368

2- Tucumã

31,910

190,20

108,649

3- IAC 311

34,408

179,40

119,153

4- Napa 7696

25,456

211,00

76,705

5- SP 701143

31,004

189,60

102,244

6- Preta torta

24,786

276,20

95,192

7- RB 78 5750

29,372

163,80

79,276

8- RB 85 1011

21,434

137,00

35,309

9- Napa 5679

32,010

259,60

149,224

10- 3X

27,242

210,20

87,513

11- RB 76 5418

28,704

178,60

82,552

Um aspecto relevante em relação aos dados da produção total no ano de 2009 foi à produtividade superior de algumas variedades comparadas à média do Rio Grande do Sul (50 t.ha-1) e nacional (80 t.ha-1) (Anuário brasileiro da cana-de-açúcar, 2010). Esta maior produtividade, provavelmente por ter sido utilizado cana planta de dois anos, bem como ter sido utilizado um maior número de gemas por metro linear. Vindo a comprovar que as limitações técnicas, que impediam a expansão da cultura, foram superadas com a multiplicação de variedades adaptadas ao clima e solo do Rio Grande do Sul com alta 30

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produtividade já comprovada nos experimentos de campo da EMATER e da FEPAGRO, aonde algumas variedades chegaram a render 130 toneladas por hectare (Santos, 2009). Na Tabela 3 apresentam-se as variáveis morfofisiológicas, tais como: peso de 5 canas (kg), peso das pontas (kg), peso das palhas (kg), peso dos colmos (kg), o diâmetro da base (mm), o diâmetro da ponta (mm), o número de colmos, a altura dos colmos (cm), o índice de maturação (IM), peso da amostra integral (AI), peso da massa pré-seca (MPS), o peso do bagaço (kg) e o volume do caldo (ml). As variáveis foram submetidas a análise de maior média. Tabela 3 – Variáveis morfofisiológicas das variedades de cana-de-açúcar, nas safras de 2008 e 2009. Variedades 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Peso de 5 canas

7.607

8.272

7.604

6.273

7.056

6.930

7.281

4.095

7.478

6.064

7.627

Peso das pontas

2.022

1.965

1.363

1.176

1.818

1.527

1.582

0.933

1.340

1.078

1.643

Peso das palhas

0.587

0.559

0.555

0.408

0.545

0.417

0.648

0.382

0.525

0.468

0.465

Peso dos colmos

4.982

5.737

5.727

4.715

4.618

5.025

4.957

2.776

5.546

4.463

5.575

Diâmetro da base

31.679

32.831

30.440

27.762

28.222

28.335

28.596

24.211

29.391

26.748

28.863

Diâmetro da ponta

31.585

32.765

29.271

24.982

28.154

28.383

28.872

22.242

27.537

23.852

26.267

Número de colmos

17.45

17.58

17.53

16.20

14.20

18.48

16.03

20.10

17.85

17.15

14.28

Altura dos colmos

124.30

140.25

165.31

164.43

130.48

151.61

141.10

119.68

153.55

156.79

158.53

0.81

0.81

0.81

0.90

0.83

0.80

0.83

0.93

0.75

0.87

0.87

Amostra integral

112.56

127.86

99.86

105.37

127.22

97.86

122.90

81.38

126.61

94.50

102.40

Matéria pré-seca

41.697

47.270

34.967

37.461

47.214

33.663

46.243

29.714

45.699

36.322

37.803

Peso do bagaço

3.241

3.904

3.949

2.979

2.818

3.372

3.061

2.042

3.252

2.751

3.111

Volume de caldo

1367

1684

1233

1219

1552

1203

1114

510

1798

1337

1676

Índice de maturação

Verifica-se que a variedade que obteve melhor desempenho dentre todas nas variáveis analisadas, foi à variedade 2- Tucumã, obtendo médias superiores nas seguintes variáveis: peso de 5 canas; peso dos colmos; diâmetro da base; diâmetro da ponta; amostra integral (AI) e matéria pré-seca (MPS) (Tabela 3). Na variável volume de caldo extraído destacou-se a variedade 9- Napa 5679, seguida pela, 2- Tucumã e 11- RB 76 5418 (Tabela 3). Sendo esta variável muito importante na tomada de decisão para o plantio de variedades, pois influenciam diretamente na produção de derivados da cana-de-açúcar. Observa-se, que as cinco variedades com maiores médias de Brix obtidas com refratômetro das onze variedades analisadas no experimento, respectivamente, foram as seguintes: 8- RB 85 1011; 6- Preta torta; 11- RB 76 5418; 4-Napa 7696 e 7- RB 78 5750 e, também as variedades que não estavam prontas para a industrialização (brix  18) foram as seguintes: 1- Branca Mole; 2- Tucumã e a 5- SP 70 1143 (Figura 2). 31

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Figura 1 - Média do brix das onze variedades de cana-de-açúcar, nas safras de 2008 e 2009.

A indústria sucroalcooleira, principalmente no estado de São Paulo, considera que para a cana ser industrializada deve ter, entre outras características, um caldo que contenha no mínimo 18° brix, ou seja, 18% de sólidos solúveis (Fernandes, 2000). Podendo considerar no momento da colheita tanto de cana-planta como de cana-soca, tendo como base estes índices, para indicar o ponto de maturação ideal para a industrialização (Franco, 2003). Na mesma ideia Oliveira et al. (2012) cita que o plantio de variedades de cana-de-açúcar ricas em sacarose contribuiu entre outros motivos para o bom desempenho da cultura da cana. O período útil de industrialização (PUI) é obtido por meio do Índice de Maturação (IM), que é gerado pela relação entre Grau Brix do topo com o da base da cana. Para tal, o Brix é determinado no segundo ou terceiro entrenó da base a partir do nível do terreno do solo, e no último entrenó maduro (Galdiano, 2008). O conhecimento do Índice de Maturação, das boas condições de industrialização e do PUI das variedades possibilita trabalhar com variedades com períodos de maturações diferentes, proporcionando maior flexibilidade no gerenciamento da colheita, um período maior da safra, matéria-prima de qualidade ao longo de toda a safra e obtendo maiores e melhores produções, tendo como resultado deste gerenciamento maior lucratividade produtiva. Observando as médias das mudanças nos IM das onze variedades analisadas no experimento nos anos 2008 e 2009, verifica-se que as variedades de ciclo precoce foram as seguintes: 4- Napa 7696; 8- RB 85 1011; 10- 3X e 11- RB 76 5418. As variedades de maturação

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média: 1- Branca Mole; 2- Tucumã; 3- IAC 311 e 5- SP 701143 e as variedades de ciclo tardio: 6- Preta torta, 7- RB 78 5750 e 9- Napa 5679. Através da Figura 3, observa-se que as variedades com maiores médias do peso das pontas, respectivamente, foram as seguintes: 1-Branca Mole; 2-Tucumã; 5-SP 70 1143; 11- RB 76 5418; 7- RB 78 5750 e 6- Preta torta. Portanto, foram as melhores variedades para serem utilizadas ainda verdes passado em ensiladeira ou colocadas diretamente nos cochos para a alimentação de animais ou com suplementação adequada com concentrados que contenha ureia e enxofre. Figura 2 – Peso médio da ponta das onze variedades de cana-de-açúcar, nas safras de 2008 e 2009.

Outro fato ocorrido durante o experimento foi à brusca redução de temperaturas nos meses de abril, maio, junho, agosto e setembro do ano de 2008 e nos meses de maio, junho e julho de 2009, com temperaturas abaixo de 3ºC.

De acordo com Wrege et al. (2005)

temperaturas mínimas no abrigo em torno de 3ºC representam na relva aproximadamente -1ºC sendo capazes de causar danos a cana-de-açúcar e a outras culturas. Caso que ocorreu com as variedades 3- IAC 311, 4- Napa 7696, 6- Preta torta, 7- RB 78 5750, 9- Napa 5679 e 10- 3X, não resistindo às quedas bruscas de temperaturas e as geadas. Segundo Grodzki et al., (1996) a caracterização do regime de geadas é de grande aplicabilidade para a orientação de extensionistas, agricultores e órgãos governamentais como subsídio a tomadas de decisões e ao planejamento agropecuário. Salienta que o conhecimento 33

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das datas de geadas permite definir o período livre das mesmas fornecendo importante parâmetro para o cronograma de plantio das culturas de verão, outono ou inverno.

4. CONCLUSÃO

O cultivo da cana de açúcar foi afetado pela geada, das onze variedades avaliadas, cinco resistiram. Das que sobreviveram, a de maior produtividade foi a Tucumã. É importante o planejamento para a colheita antes da primeira geada ou utilizar cultivares resistentes.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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