Avaliação da qualidade da água de pisciculturas: ferramentas de análises e impactos associado à atividade

May 29, 2017 | Autor: Neli Silva | Categoria: Congresso Brasileiro de Automática
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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

II-038 – AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE PISCICULTURAS: FERRAMENTAS DE ANÁLISES E IMPACTOS ASSOCIADO À ATIVIDADE Neli Assunção Silva (1) Engenheira Sanitarista pela Universidade Federal de Mato Grosso. Bolsista e aluna do Curso de Especialização em Saneamento Ambienta pela UFMT. Mestranda em Física e Meio Ambiente na UFMT. Eliana Beatriz Nunes Rondon Lima (2) Engenheira Sanitarista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Doutora em Engenharia Civil – Recursos Hídricos pela (COPPE), Universidade Federal do Rio de Janeiro; Prof. Assistente do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá – MT. Peter Zeilhofer (3) Geógrafo pela Ludwig Maxilians Universitaet Muenden, Doutor em Engenharia Florestal pela Maxilians Universitaet Muenden. Professor Adjunto de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá – MT. Márcio de Jesus Mecca (4) Químico Industrial pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Mestre em Engenharia Ambiental pela (COPPE) Rio de Janeiro. Endereço(1): Rua H, Lote 16, nº 222 – Bairro: Campo Verde - Cuiabá - MT - CEP: 78050-000 - Brasil - Tel: (65) 6531240 - e-mail: [email protected] RESUMO Estudos para analisar quali-quantitativamente a interferência causada pelos afluentes do rio Cuiabá é imprescindível, já que o manancial superficial, Rio Cuiabá, tem papel essencial para o desenvolvimento, pois, representa 96% do total das fontes de abastecimento para atender as cidades de Cuiabá e Várzea Grande, além de outros usos como balneabilidade, irrigação e pesca. O presente trabalho foi realizado com o objetivo conhecer as características físico-químicas e biológicas da água que abastece os sistemas produtivos e o efluente gerado. O estudo abrange duas etapas. A primeira etapa é sobre o levantamento de dados em órgãos públicos e privados e a segunda etapa no mapeamento das pisciculturas abrangendo a realização das análises físico-químicas e biológicas de três sistemas produtivos. As pisciculturas estudadas foram denominadas de A (grande porte), B (pequeno porte) e C (médio porte) nos anos de 2002, 2003 e 2004. As análises físicoquímicas e biológicas seguiram a recomendação do Standard Methods for Examination of Water and Wastewater. As variáveis analisadas foram: Temperatura da água, pH, alcalinidade, condutividade, turbidez, cor, OD, DQO, DBO, sólidos totais, coliformes totais, Escherichia coli, nitrogênio total e fósforo. As amostras foram coletadas na entrada e saída dos viveiros das pisciculturas. Através do mapeamento, verificando ainda a grande concentração dos sistemas produtivos nos municípios de Cuiabá e Várzea Grande, motivo pela escolha das pisciculturas. O resultado das análises da distribuição espacial dos pontos amostrados nos eixos da componente 1 e 2 mostra ainda que a piscicultura C (médio porte) encontra-se fortemente relacionada com as características físicas e biológicas da água com maior concentração de turbidez, cor, coliformes totais e sólidos totais; já as pisciculturas (pequeno porte) e A (grande porte) estão mais relacionadas às características químicas da água como alcalinidade, DBO e condutividade. Os principais impactos observados foram: Barramentos de cursos d’água e empreendimentos em área de preservação permanentes. Os resultados foram comparados com a Resolução nº 020 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA 020 para rio de classe 2. Neste sentido, é possível verificar a importância de se conhecer estas características locais, de forma que venha a colaborar para políticas, sobretudo no Saneamento Ambiental. Ressalta-se ainda a importância de acompanhamento e monitoramento contínuo das pisciculturas de forma a verificar os efeitos e os impactos decorrentes dessa atividade na bacia. PALAVRAS-CHAVE: Qualidade da água, Efluente de Piscicultura, Impactos Ambientais.

INTRODUÇÃO A Bacia do Rio Cuiabá é uma das mais importantes, tanto sócio-econômica como ecologicamente para Mato Grosso e região do Pantanal. Está localizada na porção central da Bacia do Alto Paraguai, denominada

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Baixada Cuiabana, e sofreu, nas décadas de 70 e 80, um crescimento bastante acelerado. Apesar de apresentar um declínio a partir da década de 90 até os dias atuais, seus municípios não se estruturaram para acompanhar esse intenso processo de urbanização, que se caracterizou por uma ocupação desordenada e heterogênea, principalmente nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos como as cidades de Cuiabá e Várzea Grande. As águas do rio Cuiabá são usadas para abastecimento público dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande e dilui cerca de 80% de toda carga orgânica antrópicas (esgoto doméstico e industriais) que diretamente ou indiretamente são lançados no rio. O desenvolvimento da piscicultura no Brasil vem intensificando nas últimas décadas e no Estado de Mato Grosso esse crescimento se deve principalmente pela grande quantidade de água superficial disponível, solos areno-argilosos e temperaturas elevadas, que são condições básicas para o desenvolvimento da criação de peixes em ambientes artificiais. Segundo a FEMA (2003) 66,76% dos peixes comercializados somente no município de Cuiabá são de origem artificial e 33,34% de origem natural, justificando esse crescimento. A Bacia do rio Cuiabá, composta parcialmente por 13 municípios e abrangendo uma área de aproximadamente 29.000 km2 tem cadastrado junto a Fundação Estadual de Meio Ambiente, 362 pisciculturas, com um crescimento do número dos empreendimentos de 28,17% entre setembro de 2002 a setembro de 2004. O município de Cuiabá detém 24% do total das pisciculturas, ocupando o segundo lugar em espelho d’água, com 12,74% da área total dos empreendimentos na bacia. Várzea Grande representa 17% dos empreendimentos totais, e ocupa o primeiro lugar em espelho d’água, com 60,46%. Esse crescimento tem demonstrado certa preocupação em termos de analisar quais as variáveis que devem ser monitoradas para controle ambiental que visem ao desenvolvimento de técnicas de manejo dos sistemas produtivos, sem colocar em risco os recursos hídricos. Assim, este tipo de efluente gerado tende a somar com as outras contribuições de fontes adversas como: a contribuição de esgotos domésticos, resíduos sólidos e industriais que já fazem parte desse meio.

MATERIAIS E MÉTODOS A área de estudo corresponde aos municípios de Cuiabá e Várzea Grande localizados na bacia do rio Cuiabá, no estado de Mato Grosso. As pisciculturas foram denominadas de A, B e C, conforme Figura 1. A piscicultura A localizada entre as coordenadas 150 32’ 16“S e 560 15’65” W, na microbacia do córrego Imbirussú ocupando toda a calha do rio, com sua foz no rio Cuiabá, situada a 17 km do município de Várzea Grande com uma área de espelho d’água de 499,713 há. Essa piscicultura fica localizada a montante da captação de água do Porto (RC5), área central das cidades de Cuiabá e Várzea Grande em uma localidade denominada de Passagem da Conceição. As espécies cultivadas são pacu (Piaractus mesopotamicus) e piraputanga (Brycon microleps). É um sistema de manejo intensivo de cultivo com uma densidade de estocagem de 1peixe/2m2. A piscicultura B está localizada no município de Cuiabá, A piscicultura B situa-se no município de Cuiabá entre as coordenadas 15°19’58,5,9” S e 55°57’25,3” W as margens da BR 070 – Rodovia Emanuel Pinheiro com uma distância de 33 Km da região. Sua área de espelho d’água é de 0,3535 há. As espécies cultivadas são pacu (Piaractus mesopotamicus) e piraputanga (Brycon microleps) e híbrido tambacu. É um sistema de manejo intensivo de criação de peixes com uma densidade de estocagem de 1,31 peixe/m2. A piscicultura C está situada a 10 Km do município de Várzea Grande, situa-se nas coordenadas 15°33’35” S e 56°10’08” W com uma área de espelho d’água de 1,1 há. As espécies cultivadas são pacu (Piaractus mesopotamicus) e pintado (Pseudoplastystoma fasciatum) com densidade de estocagem de 0,35 peixe/m2. A primeira etapa consistiu de levantamento de informações existentes sobre a quantidade de pisciculturas, localização dos empreendimentos, área de Lâmina d’águas, espécies cultivadas e estimativas de produção, obtido junto a Fundação Estadual de Meio Ambiente. De posse desses dados foi realizado a plotagem de localização dos pontos com cartografia na escala de 1/100.000 com uma classificação supervisionada de uma imagem Land-Sat. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental

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Figura 1 – Localização das Pisciculturas na Bacia do Rio Cuiabá e identificação dos pontos de amostragem. Na segunda etapa foram definidas as pisciculturas e as variáveis a serem analisadas. Foram analisadas 14 variáveis físico-químicas e bacteriológicas,: temperatura da água, pH, alcalinidade, condutividade, turbidez, cor, oxigênio dissolvido, demanda química de oxigênio, demanda bioquímica de oxigênio, sólidos totais, , nitrogênio total, fósforo total, coliformes totais e Escherichia coli. As coletas foram realizadas nos anos de 2002, 2003 e 2004, num total de 5 campanhas por pisciculturas nos pontos denominado de P1 entrada da piscicultura e no ponto P2, saída da piscicultura. As análises seguiram as recomendações do Standard Methods for Examination of Water and Wasterwater 17.ª edição de 1992, conforme mostrados no Quadro 1. Quadro 2 - Métodos empregados para análise das Variáveis das Pisciculturas. VARIÁVEIS MÉTODOS Temperatura da água (°C) Termômetro de contato. pH Eletrométrico Alcal. Total (mg CaCO3/L) Potenciométrico c/ Titulação c/ H2SO4 – 0,02N Condutividade (µS/cm) Empregando eletrodo de platina Turbidez (uT) Nefelométrico Cor (mgPtCo/L) Comparação Visual Solução Padrão de Cobalto- Platina Oxigênio Dissolvido (mg/L) Winkler, por modificação de azida sódica. Demanda Química de Oxigênio (mg/L) Refluxo fechado dicromato de potássio. Demanda Biológica de Oxigênio – DBO (mg/L) Winkler-Azida Sólidos Totais (mg/L) Gravimétrico Coliformes Totais (NMP/100mL) Substrato definido (ONPG/MUG) Escherichia coli (NMP/100mL) Substrato definido (ONPG/MUG) Nitrogênio Total (mg/L) Persufato e leitura colorimétrica Fósforo (mg/L) Método Ácido Ascórbico Fotométrico Fonte: Standard Methods for Examination of Water Wasterwater 17ª edição, 1992. A classificação das pisciculturas foi feita segundo (SILVA, 2003) em pequeno porte, empreendimentos com área de espelho d’água menor que 1 há; médio porte com área entre 1 e 5 há e grande porte maior que 5 há. No tratamento dos dados foi utilizado o Pacote Estatístico SPSS versão 9.0 para realizar as análise descritivas, mediana, amplitude (mínimo e máximo) e ainda aplicar a técnica de identificação padrão análise de componentes principais (ACP). Essa técnica tem sido largamente utilizada sendo considerada uma das mais eficientes para reduzir a dimensionalidade de grandes conjuntos de dados sem perda da informação.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Para melhor visualização foram feitos os gráficos em Box-plot (somente em relação ao resultado de componentes) com amplitudes de valores mínimos, medianos e máximos, por ponto de coleta e a classificação da piscicultura. Os resultados foram comparados com a resolução CONAMA 020/ 86 para rios de Classe 2, devido ao rio Cuiabá encontrar-se nesta classificação.

RESULTADOS Este estudo buscou identificar os empreendimentos de Pisciculturas como um fator de alteração da qualidade da água na bacia do rio e ainda analisar quais variáveis melhor representam essas alterações nos diferentes sistemas produtivos. Na bacia do rio Cuiabá predomina os empreendimentos de pequeno porte e concentramse nos municípios de Cuiabá e várzea grande. Com a técnica da ACP extraíram-se as principais variáveis que melhor representasse os sistemas produtivos estudados. As principais variáveis da componente 1 com explicação de 32,65% foram: turbidez, cor e sólidos totais e coliformes totais, e para a componente 2 com 25,84% foram alcalinidade, condutividade e demanda bioquímica de oxigênio (Figura 2). A distribuição espacial dos pontos amostrados nos eixos das componente 1 e 2 mostra que a piscicultura C encontra-se fortemente relacionada com as características físicas e biológicas da água e que apresentaram maior concentração de turbidez, cor, sólidos totais e coliformes totais; já as piscicultura B e A estão mais relacionadas às características químicas da água como alcalinidade, DBO e condutividade.

Comp. 2 (Alcalinidade, DB0 e Condutividade)

3

2

1

Ponto C2

0

C1 B2

-1

B1 A2

-2

A1

-1,5

-1,0

-,5

0,0

,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Componente 1 ( Turbidez, Cor, S.Totais e Coliformes Totais).

Figura 2 – Resultado de Componentes principais para as das Pisciculturas A, B e C nos Municípios de Cuiabá e Várzea Grande nos anos de 2002 a 2004. A figura 3 abaixo apresenta os resultados encontrados nos pontos de amostragem, seus resultados serão analisados em relação ao porte das pisciculturas. Médio Porte A componente 1, representada pela Piscicultura C (médio porte) apresenta alta concentração de turbidez, cor, sólidos totais e elevados valores de coliformes totais. De acordo com Cyrino (1996) a turbidez é função direta da quantidade de partículas em suspensão na água. Material orgânico particulado, como o plâncton, confere a turbidez de caráter desejável na água. Já a turbidez, causada por partículas de argila em suspensão é indesejável, porque limita a produção primária do sistema, que é proporcionada pela fotossíntese.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 400

300

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300 200

Tipo

Turbidez (uT)

100

A B C

0 N=

5

5

5

5

5

P1

Cor (mg PtCo/L)

200

Tipo 100

A 3

B 20

0

5

C

11

N=

5

5

P2

5

5

5

P1

Ponto

5

P2

Ponto

400

30000

Sólidos Totais (mg/L)

200

30

100

Tipo A

0

B C

-100 N=

5

5

5

5

5

P1

Coliformes Totais (NMP/100 mL)

300

20000

Tipo

10000

9

A B

15

8

5

N=

5

5

P2

30

C

5

5

P1

Ponto

20

23

0

5

5

P2

Ponto 200

140 4

120

80

5

60 40 30

Tipo

20

A 16

13

0

B

Condutividade (µS/cm)

Alcalinidade Total (mgCaCo3/L)

100

100

N=

5

5

5

5

P1

5

A 18

B C

0 N=

5

5

5

5

5

P1

5

5

P2

P2

Ponto

Ponto

14

7 7

6

12

5 10 4 8

6

Tipo 4 30

2

A B C

0 N=

5

5

P1

Ponto

5

5

5

5

Nitrogênio Total (mg/L)

Demanda Bioquímica de Oxigênio (mg/L)

Tipo

19

C

-20

30

1

3 29

2

Tipo

1

A

0

B C

-1 N=

P2

5

5

P1

5

5

5

5

P2

Ponto

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1,2

1,0

,8

Fósforo Total (mg/L)

,6

Tipo

,4

A ,2 B

13 30

21

C

0,0 N=

5

5

P1

5

5

5

5

P2

Ponto

Figura 3 – Resultado das análises físico-químicas e biológicas das Pisciculturas A, B e C nos Municípios de Cuiabá e Várzea Grande nos anos de 202 a 2004. Nesse sistema a qualidade da água em relação a turbidez no ponto 1 foi de 89,1 e na saída do viveiro de 147,8 uT, interferindo na diminuição da fotossíntese através do resultado de oxigênio dissolvido na saída do viveiro de 4,16 mg/L. Portanto os teores de turbidez estão bem acima dos limites estabelecidos pela legislação do CONAMA 020 para rios de classe 2, que é de 100 uT; bem como o oxigênio dissolvido que o limite mínimo para lançamento é de 5 mg/L. A cor da água é função direta da quantidade e qualidade de substâncias húmicas (extrato de matéria orgânica vegetal em decomposição) na água confere a esta uma cor escura, que reduz a capacidade biogênica da água, pois limita a penetração da luz. Os valores medianos aqui encontrado no ponto C1 foi de 218 uH e para o ponto C2 foi de 280 uH. Para esse sistema o abastecimento da piscicultura deveria de passar por um pré – tratamento para redução da cor, porém fica claro que através da adição da ração e sua decomposição que ocorre essa alteração no sistema aquático, comprometendo o lançamento, que pela legislação do CONAMA é até 75 uH. A quantidade de sólidos totais existentes nos viveiros é ocasionada pela quantidade advinda da alimentação natural da água de suprimento, somada aos teores adicionados através da fertilização (adubação e calagem dos tanques), alimentação (ração) e produtividade primária (algas). Os sólidos totais constituem a fração resultante dos sólidos suspensos e sólidos dissolvidos. Podem ainda estar na forma orgânica ou inorgânica. Constatam-se os valores medianos de sólidos totais para o Ponto C1 de 118 e para o ponto C2 de 239 mg/l. Vale salientar que, a quantidade total de sólidos presentes está nas formas suspensos e dissolvidos e ambos podem conter material orgânico (volátil) e inorgânico (fixo). Portanto esses valores de sólidos totais não são considerados altos uma vez que o padrão para lançamentos para rios de classe 2 para apenas fração dissolvida é de 500 mg/l. A pesquisa de coliformes consiste em se constatar a presença e determinar o número provável de bactéria pertencente a um grupo denominado Grupo Coliformes, em cada 100 ml. Os índices de coliformes levantados nos viveiros podem estar relacionados a dejetos de animais domésticos e silvestres e não de esgotos domésticos, uma vez que não há lançamentos pontuais de águas residuárias.

Grande e Médio Porte A componente 2, representada pelas Pisciculturas A (grande porte) e B (pequeno porte) tem valores inversamente proporcional. Isto significa que a piscicultura A, atende as recomendações para criação de peixes em relação à alcalinidade e condutividade enquanto que a piscicultura B isso não ocorre, apresentando valores baixíssimos em relação a essas duas variáveis. Porém, em relação à concentração orgânica expressa em DBO é a que mais contribui para alteração da qualidade da água. A condutividade indica o nível de solubilização de sais ou outros compostos apresentados por um sistema aquoso contendo íons. Os valores obtidos para o ponto A1 foi de 97,5 apresentando valores característico de até 100 µS/cm, e para o Ponto A2 de 147,8 µS/cm. Para a piscicultura de pequeno porte, o ponto B1,

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental apresentou valor de 2,5 e para o ponto B2 de 11,4 µS/cm. Esses resultado não atende as recomendações para criação de peixes que é de 20 a 70 µS/cm. A alcalinidade refere-se à concentração de bases na água e a capacidade da água em resistir às mudanças de pH para menos (poder tampão). As águas que apresentam uma alcalinidade menor que 20 mg/L apresentam baixo poder tampão, estando à faixa ideal entre 20 e 300 mg/L. Foram encontrados valores no ponto A1 de 38,5 e para o ponto A2 de 68 mg/L. Para a piscicultura de pequeno porte, o ponto B1 mostra valor de 1,41 e para o ponto B2 de 4,71 mg/L. Portanto somente a piscicultura A, atende o limite mínimo para criação de peixes e a piscicultura B evidencia baixa produtividade primária. O material orgânico presente nos viveiros é originado através de sobras de alimentação (ração), rico em proteínas e que oferece nutrientes para o crescimento e desenvolvimento das algas no processo da fotossíntese. O conteúdo orgânico avaliado através da DBO apresentou valores para o Ponto A1, de 8,83 e para o Ponto A2 de 9,63 mg/l. A piscicultura B obteve valor de 1,2 no ponto B1 e no ponto B2 de 2,6 mg/L. Em relação ao padrão estabelecido para um rio classe II, esse constituinte permaneceu fora do limite de até 5 mg/l.

Nutrientes BASTOS (2003), salienta que diferentes espécies de peixes, nos diversos estágios de vida apresentam tolerância variada em relação às diversas formas de nitrogênio As formas de nitrogênio analisadas neste estudo foram Nitrogênio Total Kjedhal (NTK). Os valores encontrados, para NTK para o Ponto A1 foram de 2,35 mg/l e para o ponto A2 de 2,12 mg/L. Para a piscicultura C, no ponto C1 o valor mediano foi de 0,23 e no ponto C2 de 1,51 mg/L. O resultado observado para a piscicultura B (pequeno porte) no ponto B1 foi de 1,31 e para o ponto B2 de 1,90 mg/L. De acordo com esses níveis acima, os valores encontrados neste estudo de NTK mostram-se que a grande parte do nitrogênio está na forma orgânica. Apesar de não se ter determinado as concentrações de nitrito e nitrato, percebe-se que as concentrações de nitrogênio, na forma de nitrogênio total, mesmo após a sua transformação para a sua forma mais oxidada, para nitrato, ainda atenderia ao padrão para nitrato que é de 5 mg/L. O fósforo é considerado o elemento limitante da produtividade de um viveiro por ser, de um lado, um nutriente essencial a toda a cadeia alimentar e de outro por, em geral, apresentar-se em baixas concentrações na água. A forma predominante do fósforo em águas de tanque de piscicultura é o ortofosfato, portanto prontamente assimilável pelo fitoplâncton, que é a fonte de nutriente para os peixes BASTOS (2003). Os valores obtidos neste estudo para a piscicultura C, no ponto C1 foram de 0,030 e na saída do sistema C2 de 0,060 mg/L. Já a piscicultura de médio porte apresentou valores medianos para o ponto C1 de 0,030 e na saída do viveiro C2 de 0,350mg/L. Para a piscicultura de pequeno porte esse resultado se mostrou bem acentuado, mostrando que o manejo empregado não atende as técnicas de cultivo e pode ser percebido que não se exerce um controle sobre a quantidade de ração fornecida aos peixes, bem como a correta limpeza do talude, que sempre apresentava matéria orgânica em decomposição nesse viveiro. GALLI & TORLONI (1992) relata que as rações extrusadas são ricas em NPK e que precisa de seu monitoramento constante. Esse monitoramento é necessário em relação ao padrão estabelecido pelo CONAMA, para evitar lançamentos de cargas elevadas de nutrientes nos corpos d´água com conseqüentes eutrofização. Observa-se que para todos os sistemas estudados, as concentrações de nutrientes não atende os valores estabelecidos pela Resolução CONAMA para rios de classe 2 de 0,025 mg/L. Essas concentrações de nutrientes possivelmente estão contribuindo na alteração da qualidade da água do rio Cuiabá. Os principais impactos observados foram à instalação do empreendimento em áreas de preservação permanente proibido pelo Código Ambiental do Estado de Mato Grosso (Capítulo V, Secão III, Art. 59, Parágrafo único e também o Art. 61, sobre o desmatamento ou alterações da cobertura vegetal em área de preservação permanente) e barramentos de cursos d’água. Esses barramentos podem provocar grandes

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental modificações na velocidade, profundidade e composição físico-química na água dos rios, alterações essas que afetam a fauna e a flora aquática e semi-aquática. CONCLUSÕES O estudo da Avaliação da Qualidade da água dos sistemas produtivos de pequeno, médio e grande porte existentes na bacia do rio Cuiabá permite tecer as seguintes considerações: O crescimento da atividade de Piscicultura na bacia tem se intensificado e há predominância dos sistemas de pequeno porte em relação aos de médio e grande porte e a sua concentração nos municípios de Cuiabá e Várzea Grande. Os sistemas utilizam as rações como insumo principal para alimentação dos peixes, cujos efluentes desses viveiros são lançados diretamente no rio Cuiabá ou nos seus principais afluentes sem nenhum controle ambiental. Sendo assim, essa atividade tem demonstrado ser uma fonte de contribuição importante a ser considerada na avaliação da qualidade da água no trecho do perímetro urbano de Cuiabá. A técnica utilizada, de Analise de Componentes Principais, mostrou-se eficiente para identificar as variáveis que melhor representam essas alterações e ainda possibilitou comparar sistemas de diferentes portes em relação ao impacto causado. Salientou ainda que as características da água afluente ao sistema podem ser correlacionadas com a produtividade. Isto pode ser evidenciado principalmente em relação à piscicultura B, onde valores baixos de pH, condutividade e alcalinidade, características do rio coxipó, que alimentam esse viveiro pode estar associado a alguns indicadores verificados nesta piscicultura como: produtividade, peso e densidade. Em relação aos impactos causados devido à contribuição de carga orgânica para o corpo receptor a piscicultura A, de grande porte, mostrou-se mais fortemente através da variável DBO. No que se refere aos nutrientes gerados não foram salientados pela técnica por não apresentarem diferenciações, porém quando se analisa a concentração gerada verifica-se que os valores nos três sistemas apresentam contribuições de altas cargas de nutrientes, devido às rações, que deverão ser absorvidas pelo corpo receptor. Portanto, para que haja desenvolvimento sustentável, medidas de controle devem ser tomadas, uma vez que as alterações nos recursos hídricos, refletem de imediato na qualidade da água do rio Cuiabá e sobre o Pantanal Mato-grossense.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.

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APHA. American Public Health Association. American Water Works Association & Water Pollution Control Federation. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. ed. 17. Díaz de Santos S.A., 1992. BASTOS, R.K.X.Utilização de Esgotos Tratados em Fertirrigação, Hidroponia e Piscicultura.PROSAB. Rio de Janeiro/RJ, 267p., 2003. CYRINO, J. E. P. & KUBTZA F. Piscicultura. Ed. SEBRAE (Coleção Agro Indústria: v.8). Cuiabá, MT. 1996. CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiental. Resolução n.020 de 18 de junho de 1986. Definição critérios para classificação das águas, doces, salobras e salinas do território Nacional. Relator: Deni Lineu Schwartz. Diário Oficial da União, Brasília, 30 jul.1986. FEMA - Fundação Estadual do Meio Ambiente de Mato Grosso, Workshop de Ordenamento da Piscicultura no Estado de Mato Grosso. Diretoria de Recursos Hídricos. Coordenação de Desenvolvimento de Recursos Hídricos. Cuiabá, MT. 2003. GALLI, F. L. & TORLONI C. E. C. Criação de Peixes. Ed. Nobel. São Paulo – SP. 1992. SILVA, N. A. Avaliação da Qualidade da Água do Efluente de Piscicultura na Bacia do Rio Cuiabá (Estudo de Caso). Monografia. Dep. Engenharia Sanitária e Ambiental. UFMT – Cuiabá, MT. 2003.

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