Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

June 4, 2017 | Autor: Mauricio Lyrio | Categoria: Public Administration, Performance Evaluation
Share Embed


Descrição do Produto

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública Performance evaluation of the communication area in a public organization

Maurício Vasconcellos Leão Lyrio1 Ademar Dutra2 Sandra Rolim Ensslin3 Leonardo Ensslin3 RESUMO: O presente artigo explora a interface entre dois campos disciplinares – Administração Pública e Pesquisa Operacional (PO), oferecendo a aplicação de uma ferramenta da PO em um estudo de caso ocorrido em um ambiente real. No caso, o Governo do Estado de Santa Catarina não dispunha de um instrumento formalizado e sistematizado para realizar uma avaliação de desempenho (AD) de suas Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs). Nesse contexto, o estudo, de caráter exploratório e descritivo, a partir de uma perspectiva construtivista do conhecimento, objetiva a construção de um modelo de AD para as SDRs do Governo do Estado de Santa Catarina, com ênfase na dimensão comunicação, com vistas a possibilitar aos dirigentes do Governo Estadual acompanhar a execução dos programas, projetos e ações para o alcance dos objetivos previstos nas Leis Complementares 243, de 30 de janeiro de 2003; 284, de 28 de fevereiro de 2005; e Lei Complementar 381 de 07 de maio de 2007. Propõe-se, como ferramenta de intervenção, a utilização da metodologia Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista. Como resultados destacam-se a disponibilização aos dirigentes do Governo de um modelo de AD; a visualização do desempenho de uma SDR; e a proposição de recomendações de melhoria. Palavras-chave: Administração Pública; Pesquisa Operacional; metodologia MCDA-C; Governo do Estado de Santa Catarina; Secretarias de Desenvolvimento Regional.

ABSTRACT: The present paper explores the interface between two disciplinary fields – Public Management and Operational Research (OP), proposing the application of an OP tool in a case studying in real environment. In this specific case, the Government of the State of Santa Catarina, Brazil, lacked forma and systematic tool to carry out Performance Evaluation (PE) of its “Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs)” [Regional Development Secretariats]. In this context, the study, of an exploratory nature, from a constructivist perspective of knowledge, aims at constructing a PE model for the SDRs, with emphasis on the communication dimension, with a view to making it possible for managers of the State Government to follow up the execution of programs, projects and actions to reach the objectives established in the laws “Leis Complementares 243, January, 30th,; 284, February, 28th, 2005”; and “Lei Complementar 381, May, 7th, 2007. To this end, an intervention tool is proposed, which makes use of the methodology MCDA-C [MultiCriteria Decision Aid - Constructivist methodology]. The results obtained include: Availability of a PE model for Government Managers; visualization of the performance of one specific SDR; and the proposal of improvement recommendations. Keywords: Public Management; Operational Research; methodology MCDA-C; Government of the State of Santa Catarina, Brazil; Secretariats of Regional Development.

1 Sociedade Educacional de Santa Catarina – SOCIESC 2 Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL 3 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

117

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho explora a interface entre dois campos disciplinares – Administração Pública e Pesquisa Operacional. No que tange ao primeiro campo – Administração Pública – busca oferecer uma proposta de Avaliação de Desempenho (AD) com base em uma metodologia cientificamente aceita. No que tange ao segundo campo – Pesquisa Operacional – busca oferecer uma aplicação da Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão – Construtivista (MCDA-C) em um estudo de caso ocorrido em um ambiente real. O construto teórico adotado no trabalho diz respeito às questões associadas à AD em organizações públicas – contexto no qual o estudo de caso se desenvolveu. Isto posto, salienta-se que o artigo é calcado em 02 (duas) Pergundas de Pesquisa (PP), a saber: (PP1) é possível construir um modelo de AD das SDRs, segundo a percepção dos representantes do Governo do Estado de Santa Catarina?; e (PP2) quais são os elementos a serem considerados no processo de AD das SDRs catarinenses, para que o modelo se configure como um instrumento de gestão, possibilitando, de forma transparente e estruturada, a implementação de ações contínuas de melhoria? Dentro desse entendimento, o objetivo é oferecer uma versão sintetizada da construção de um modelo de AD das SDRs do Governo do Estado de Santa Catarina, dando ênfase à dimensão “Comunicação” e tendo em vista possibilitar aos dirigentes do Governo Estadual acompanhar a execução dos programas, projetos e ações para o alcance dos objetivos previstos nas Leis Complementares 243, de 30 de janeiro de 2003; 284, de 28 de fevereiro de 2005; e Lei Complementar 381 de 07 de maio de 2007. Para alcançar o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos devem ser perseguidos: (i) caracterizar o entendimento, por parte dos representantes do Governo do Estado de Santa Catarina, do contexto decisional no qual estão inseridos; (ii) estruturar o contexto decisional e propor o modelo de avaliação de forma a permitir ênfase na geração de oportunidades de aperfeiçoamento da performance das SDRs; (iii) propor um modelo de critérios de avaliação do desempenho das SDR’s catarinenses. A relevância da pesquisa pode ser argumentada em termos da importância de uma eficaz atuação das SDRs para o alcance dos objetivos pretendidos com a Reforma Administrativa, face às competências atribuídas às mesmas e da necessidade de um processo sistemático e permanente de avaliação do desempenho e da atuação de tais instituições, com vistas a uma análise do real alcance dos objetivos pretendidos. Cumpre explicitar que, no contexto desta proposta, entende-se AD não como julgamento de valor da performance individual dos integrantes da organização, mas como a mensuração do desempenho do sistema como um todo, com vistas ao alcance de seus objetivos declarados. O presente trabalho é organizado da seguinte forma: após esta introdução, a seção 2 apresenta a plataforma teórica: breve revisão da literatura pertinente ao estudo, a saber, discussão do tema AD em organizações públicas; a seção 3 apresenta a metodologia da pesquisa: o enquadramento metodológico, os procedimentos utilizados no desenvolvimento do estudo e na construção do modelo; a seção 4 apresenta o estudo de caso, realizado por meio da aplicação das etapas da metodologia MCDA-C (ver seção 3); finalmente, a seção 5 apresenta as conclusões resultantes do estudo e recomendações para futuras pesquisas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A fundamentação teórica do presente estudo visa discutir AD no contexto das organizações públicas, uma vez que o estudo de caso desta pesquisa enfoca uma organização pública, no contexto do Estado de Santa Catarina, Brasil. O foco da discussão se limita à gestão de tais organizações, ou seja, a AD, nesse caso, se propõe a verificar se as organizaçoes estão atingindo seus objetivos, sejam eles estratégicos, táticos ou operacionais. Essa seção foi baseada em uma pesquisa (ver seção 3) que gerou como resultados 14 artigos, posteriormente organizados de acordo com o âmbito ao qual se remetiam, a saber: (i) municipal; (ii) Federal; ou (iii) organizações específicas. O Quadro 1 apresenta os artigos analisados. Dentro do entendimento de AD adotado no presente estudo, em se tratando dos artigos que abordam o tema em nível municipal:

118

Lyrio et al.

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

Andriollo, Vieira e Medeiros (2002) apresentam um modelo para analisar o desempenho de organizações da administração pública municipal. Os autores propuseram categorias analíticas para compor um modelo específico, considerando (i) a centralização/descentralização do poder; (ii) os objetivos de eficiência político-administrativa; (iii) os objetivos político-patrimoniais; e, (iv) a qualificação e identificação com a atividade.

Quadro 1 – Distribuição dos artigos por âmbito da discussão Autor / Ano de Publicação

Âmbito da Discussão

Andriollo, Vieira e Medeiros (2002)

Municipal

Galvão, Tristão e Matos (2002) Lins e Teixeira (2002)

Federal Organização Específica

Januzzi (2002)

Municipal

Rosemberg e Ohavon (2002)

Organização Específica

Da Costa e Castanhar (2003)

Organização Específica

Peixoto, Pinto e Dos Reis (2005)

Organização Específica

Bilancieri e Padoveze (2006)

Municipal

Cioffi e Menicucci (2006)

Organização Específica

Ensslin et. al. (2006)

Organização Específica

Neto, Gouvêa e Ferreira (2006A)

Federal

Neto, Gouvêa e Ferreira (2006B)

Federal

Moreira, Santos e Silveira (2006)

Organização Específica

Pereira et. al. (2006)

Organização Específica Fonte: Elaboração própria

Januzzi (2002) discute o tema apresentando um estudo sobre a utilização de indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas, no qual não utiliza qualquer tipo de modelo. O autor buscou oferecer subsídios conceituais e metodológicos para promover uma reflexão sobre a utilização dos indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas municipais, no contexto da democratização política, da descentralização administrativa e tributária e da institucionalização do processo de planejamento público em âmbito local. Bilancieri e Padoveze (2006) abordam questão da AD tratando da avaliação do Proger Urbano (PU), em um estudo de caso realizado no município de Pederneiras. Constatou-se a inexistência de modelos. Os autores realizaram uma coleta de dados via questionário fechado, para discutir a avaliação do PU e sua contribuição para a gestão empresarial, abordando a utilização dos recursos públicos em termos de (i) implementação do programa PU; (ii) mecanismos para avaliar a eficiência e eficácia do programa; (iii) avaliação do programa enquanto política de geração de emprego e renda; e, (iv) sua avaliação por meio da análise da melhoria da gestão organizacional. Já os artigos que tratam o tema em nível federal, Galvão, Tristão e Matos (2002) realizam um estudo em organizações públicas brasileiras, no qual se discute o balanceamento das medidas de desempenho para essas instituições, utilizando o Sistema de Medição de Desempenho Balanceado (SMD) em um estudo empírico. Em seu trabalho, os autores realizam uma discussão sobre (i) o Sistema de Medição de Desempenho organizacional (SMD); (ii) a natureza da organização quanto à sua influência no balanceamento do uso de medidas de desempenho; e, (iii) o tempo de adesão ao Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP). Netto, Gouvêa e Ferreira (2006a) utilizam-se da análise multivariada para avaliação de desempenho na administração pública brasileira. Os mesmos autores voltam a discutir o tema (NETTO, GOUVÊA e

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

119

FERREIRA, 2006b), quando fazem uso do escalonamento multi-dimensional para diagnosticar o desempenho de processos de negócios. Em seu primeiro artigo (2006a), discutiram (i) Sistemas de Avaliação de Desempenho Organizacional (SMDO); (ii) Gerenciamento de Processos de Negócio (Business Process Analysis); (iii) Monitoramento das Atividades de Negócios (Business Activity Monitoring); e, (iv) Arquitetura River Fish e conceito de Plano Navegacional. Em seu segundo artigo (2006b), os autores expandiram o estudo anterior incluindo uma discussão a respeito dos conceitos de processos de negócios. No que tange à discussão do tema no âmbito de organizações específicas, o trabalho de Lins e Teixeira (2002) discute a gestão da qualidade em uma Instituição Pública de Ensino Superior (IPES), por meio de uma avaliação das ações estratégicas e operacionais pelo público interno da organização. Os autores não utilizaram nenhum instrumento de intervenção para avaliar desempenho, ao contrário, utilizaram algumas técnicas de coleta de dados para realizar um estudo empírico, a saber: (i) bibliografia; (ii) levantamentos e relatórios de atividades e de gestão da UFS; e, (iii) questionários e entrevistas pessoais (foram utilizados três questionários diferentes para cada grupo do estudo: alunos, docentes, chefes de depto. e coordenadores de colegiado). Rosemberg e Ohavon (2002) utilizam o modelo de excelência proposto pelo Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP), para realizar um diagnóstico da gestão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), considerando (i) as mudanças na gestão das organizações públicas de C & T; (ii) importância da avaliação na gestão pública; (iii) conceito de avaliação; e, (iv) o modelo de avaliação do PQSP. Da Costa e Castanhar (2003) realizam uma discussão teórica referente à avaliação de programas públicos, discutindo os desafios conceituais e metodológicos para avaliação de tais programas, utilizando-se de metodologia denominada Matriz Lógica. No estudo, os autores consideraram (i) o que avaliar, (ii) as metodologias usuais de avaliação (por metas, por impacto, por processos); e propõe (iii) a operacionalização da Matriz Lógica em um programa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social do Rio de Janeiro. Peixoto, Pinto e Dos Reis (2005) apresentam uma proposta de indicadores operacionais no âmbito da FAPEMIG, abordando (i) o controle interno nas instituições públicas de amparo à pesquisa; (ii) o conceito e a importância dos indicadores operacionais de C & T; (iii) a classificação dos indicadores operacionais de C & T (insumos, produtos, impacto social e inovação); e, (iv) os cuidados necessários para analisar indicadores de produto (ligados a diversidade, longevidade, tempo de maturação, natureza intangível). Cioffi e Menicucci (2006) utilizaram um conjunto de indicadores de eficiência e eficácia, proposto por Cioffi (2005) para avaliar a Fundação Hemominas na execução da política do sangue no estado de Minas Gerais. Ensslin et al. (2006) propõem um modelo para gerenciar o desempenho da Secretaria de Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis, por meio da utilização conjunta de duas metodologias, o Balanced Scorecard (BSC) e a Metodologia Multi-Critério em Apoio à Decisão – Construtivista (MCDA-C). Os autores trataram (i) da pesquisa bibliográfica pertinente às bases teóricas que informam a construção do modelo proposto; e, posteriormente, (ii) da aplicação desse conhecimento em um estudo de caso específico. Moreira, Santos e Silveira (2006) utilizam os indicadores de gestão resultantes da decisão nº 408/2002 do TCU e os indicadores de Eficácia e Eficiência desenvolvidos pela AUGE/MG através da Instrução de Serviço nº 08/2003, para analisar métodos de AD em uma IPES. Finalmente, Pereira et al. (2006) realizam um estudo empírico com vistas a verificar como era percebida a AD na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por meio de questionário fechado aplicado junto aos docentes da UFSM e análises feitas por meio de técnicas de estatística descritiva e inferencial. Nesse breve apanhado dos trabalhos que trataram da questão AD sob a perspectiva da gestão pública, fica evidenciado que, com exceção de um artigo (Ensslin et al., 2006), nenhum dos demais trabalhos se preocupou em considerar as especificidades das organizações avaliadas, em termos de um modelo ad hoc, suficientemente sistematizado e informado por um quadro teórico consistente. Tipicamente, os modelos que emergiram da revisão de literatura são calcados na noção de "melhor" medida de eficácia para "qualquer" tipo de entidade e na busca pelo "melhor" resultado a ser atingido, por meio de formas de "otimizar" os resultados das ações gerenciais. Nesse cenário e considerando as bases construtivistas do

120

Lyrio et al.

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

presente trabalho, a metodologia do artigo de Ensslin et al. (2006) foi selecionada como instrumento utilizado para a construção do modelo aqui proposto. 3. MÉTODO DE PESQUISA A metodologia do presente estudo está subdividida nos seguintes itens: enquadramento metodológico; procedimentos para a revisão da literatura; procedimentos para a construção do modelo de AD proposto. Com relação ao enquadramento metodológico, trata-se de uma pesquisa (i) informada por uma visão de conhecimento construtivista; (ii) afiliada ao paradigma científico fenomenológico; (iii) cuja natureza é aplicada, (iv) cuja estratégia é particular, não obstrusiva, com estudo de campo, (v) realizada a partir de uma abordagem quali-quantitativa, (vi) sendo, do ponto de vista de seus objetivos, uma pesquisa exploratória-descritiva, e (vii) utilizando-se de uma combinação de procedimentos técnicos - pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e estudo de caso. Com relação aos procedimentos para a revisão da literatura, estes estão vinculados a um mapeamento da pesquisa realizada no âmbito da AD em organizações públicas, envolvendo: (a) Seleção dos periódicos/anais de congresso a serem utilizados como fontes para coleta de dados (RAE, RAC, RAP, RAUSP, C&F-USP, O&S, anais do EnANPAD e anais do EnAPG); (b) determinação do período de tempo a ser coberto pela investigação (2002 a 2006); (c) determinação das palavras-chaves a serem usadas na busca bibliográfica (Avaliação de Desempenho; Avaliação de Gestão; Gestão do Desempenho); (d) realização da busca com base no período e nas palavras-chaves determinados em (b) e (c), nos sites dos congressos e dos periódicos; (e) dentro das amostras geradas, foram selecionados trabalhos ligados especificamente à AD na área pública (por meio de leitura dos resumos dos artigos que emergiram do levantamento). Com relação ao instrumento de intervenção utilizado para construção do modelo, apresenta-se a Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão – Construtivista (MCDA-C), de forma resumida. A metodologia se divide em três grandes fases, a saber: (i) fase de estruturação; (ii) fase de avaliação; e, (iii) fase de elaboração de recomendações. A fase de estruturação virá por contribuir para identificar as variáveis relevantes a partir do juízo de valor dos envolvidos, contribuindo, assim, para que o modelo construído não seja generalista e realmente atenda às especificidades da situação sob estudo. Principalmente, a estruturação permite gerar entendimento a respeito da situação com a qual os gestores se deparam. Essa possibilidade de gerar conhecimento pode ser considerada a grande contribuição da MCDA-C, justificando, de maneira central, sua utilização como ferramenta de intervenção no presente estudo: a preocupação central da MCDA-C é auxiliar a modelar o contexto decisório, a partir da consideração das convicções, percepções e valores dos decisores envolvidos no processo decisório, de tal forma a permitir a construção de um modelo no qual os decisores possam basear suas decisões, em favor do que eles acreditam ser o mais adequado no contexto decisório específico. Na fase de avaliação, são determinadas escalas cardinais para possibilitar a análise de desempenho de forma local de cada descritor; além disso, o modelo consegue agregar as avaliações locais em uma avaliação global, por meio da determinação de taxas de substituição para cada descritor, avaliando o potencial de contribuição de cada descritor para o desempenho global da organização. Por fim, na fase de elaboração de recomendações, são sugeridas as ações potenciais que visam melhorar o desempenho em relação ao status quo.

4. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA: O CASO DAS SDRS DO ESTADO DE SANTA CATARINA A presente seção se propõe a ilustrar uma aplicação da metodologia MCDA-C por meio de um estudo de caso realizado nas SDRs do Estado de Santa Catarina. Para tanto, irá se valer da atividade de apoio à decisão, conforme apresentada na seção 3. Como citado na introdução, será apresentada uma visão sintetizada do modelo construído, com ênfase na área de preocupação denominada “Comunicação”. A construção do modelo se inicia com a fase de Estruturação do Problema, na qual é definido o contexto decisório e os atores envolvidos. No caso do presente estudo, tem-se: Decisor (o responsável pela tomada de decisão): Governo do Estado de Santa Catarina, por meio de seus representantes em cada dimensão a ser avaliada (na ilustração proposta, o Secretário de Estado da Comunicação); Intervenientes (aqueles que podem influenciar o decisor, mas não possuem poder de decisão): Representantes das Secretarias de Desenvolvimento Regional; políticos; Facilitador (consultores envolvidos no processo de apoio à decisão): autores do trabalho; Agidos (aqueles que sofrerão as consequeências das decisões tomadas) - (i) diretos:

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

121

colaboradores das Secretarias de Desenvolvimento Regional; (ii) indiretos: a sociedade, que sofrerá os impactos relativos às decisões tomadas pelas SDRs. A seguir, apresenta-se a performance desejada, que, neste caso, é a construção de um instrumento, que permita, ao Governo do Estado de Santa Catarina, avaliar se o desempenho das Secretarias de Desenvolvimento Regional está adequado aos seus objetivos estratégicos e a performance atual: inexistência, conforme informação obtida junto aos representantes do Governo do Estado, de um instrumento formalizado e sistematizado para avaliar o desempenho das SDRs. Com a utilização do modelo proposto, espera-se conseguir trazer contribuições valiosas à compreensão da situação percebida como problemática, ao mesmo tempo em que o modelo construído poderá auxiliar os representantes do Governo do Estado a verificar o desempenho de cada uma das SDRs nas dimensões propostas. Cumpre, na sequência, definir o rótulo do problema que, segundo Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) é o enunciado do problema e deve conter o foco do trabalho, indicando o propósito a ser atingido, sem deixar margens de dúvida. No caso desse trabalho, o rótulo é definido como: Construção de um Modelo para Avaliar o Desempenho das Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs) do Governo do Estado de Santa Catarina. O próximo passo é determinar os Elementos Primários de Avaliação (EPAs) que se constituem em objetivos, valores e percepções que vem à mente de um decisor no momento em que este se depara com uma situação considerada problemática. Estes EPAs servirão de base para a construção do mapa cognitivo ou mapa de relações meios-fins (ENSSLIN, MONTIBELLER E NORONHA, 2001). Os EPAs foram identificados por meio de técnicas de brainstorming em reuniões realizadas com as equipes de cada uma das Secretarias Setoriais do Governo do Estado (no recorte apresentado nesse trabalho, especificamente a Secretaria de Estado da Comunicação) que se constituíram posteriormente em dimensões a serem avaliadas. Após a identificação dos EPAs, estes são orientados à ação construindo-se um conceito, ou, em outras palavras, busca-se alinhar o EPA à ação que ele sugere, por meio da utilização de um verbo no infinitivo, fornecendo um dos pólos do conceito, o pólo presente (ENSSLIN, MONTIBELLER E NORONHA, 2001). Após a construção do primeiro pólo (Pólo Presente), deve-se perguntar ao decisor pelo seu oposto psicológico, com a intenção de dar contraste entre os dois pólos (Ibid.). Na construção dos conceitos, no momento de definir o pólo presente, pergunta-se ao decisor o que seria a “melhor situação possível” em relação àquela preocupação, bem como uma “boa situação”. Ao contrário, no momento de definir o pólo oposto, pergunta-se ao decisor o que seria uma “situação ruim”, bem como a “pior situação aceita”. Com base nessas informações é possível definir o conceito a ser utilizado para um dado EPA. Como ilustração, citam-se alguns exemplos de EPAs levantados durante o processo, bem como seus respectivos conceitos. (i) Exemplo 1 - EPA 5: cumprir as diretrizes e instruções normativas da Secretaria de Estado da Comunicação – conceito originado: assegurar que as matérias jornalísticas e material publicitário produzidos pelas SDRs sigam os padrões estabelecidos no maior número possível de quesitos (pólo presente)...ao invés de...as matérias jornalísticas e material publicitário produzidos pelas SDRs não seguirem os padrões estabelecidos (pólo oposto). (ii) Exemplo 2 - EPA 6: transmitir aos veículos de comunicação da região informações de caráter jornalístico de interesse da Secretaria Setorial – conceito originado: publicar o maior percentual possível das matérias jornalísticas produzidas pela SDR no âmbito da região (pólo presente)...ao invés de...ter matérias jornalísticas produzidas pela SDR publicadas apenas esporadicamente (pólo oposto). A partir dos EPAs identificados e da construção dos conceitos, pode-se compreender melhor as preocupações do decisor, por meio de uma análise de cluster, técnica que visa agrupar os conceitos que possuem um maior grau de similaridade entre si, gerando uma maior homogeneidade intra-grupal e maior heterogeneidade inter-grupal (EDEN et al., 1992; HAIR et al., 1998). Após o agrupamento dos EPAs em clusters, estes são estruturados hierarquicamente – interligados com base em suas relações de influência – em Mapas cognitivos ou Mapas de Relações Meios-Fins (KEENEY, 1992). Cumpre esclarecer que os Mapas são fundamentais para que se possa agrupar e hierarquizar os conceitos que compõem um cluster e estes, posteriormenete, vão conduzir à seleção dos Pontos de Vista Fundamentais (PVFs) para o modelo a ser construído. Um mapa de relações meios-fins pode ser utilizado para desenvolver conhecimento a respeito de uma realidade, apresentando as variáveis que descrevem um fenômeno e representando as relações causais existentes entre elas, desta forma, pode ajudar os tomadores de decisão a identificar possíveis ações que gerem efeitos positivos no desempenho da organização (MONTIBELLER e

122

Lyrio et al.

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

BELTON, 2007; MONTIBELLER et al., 2007). No decorrer deste estudo, foram gerados sete mapas, sendo que nessa ilustração é apresentado, na Figura 1, o Mapa de Relações Meios-Fins referente à dimensão “Comunicação”. Observa-se que (i) em uma leitura de baixo para cima, o mapa se inicia com as preocupações meios, indo em direção às preocupações fins, de acordo com a importância atribuída a elas pelo decisor; e, (ii) como o processo de mapeamento é dinâmico, no decorrer de seu desenvolvimento novas preocupações que não foram elicitadas quando da identificação dos EPAs podem surgir (LYRIO, 2008). Neste caso, os conceitos numerados a partir de 101.

Figura 1 – Mapa de Relações Meios-fins da dimensão “Comunicação” Fonte: Elaboração própria

Com base nos mapas de relações meios-fins, é possível construir uma segunda estrutura, denominada estrutura hierárquica de valores ou estrutura arborescente (KEENEY, 1992). Esta etapa se constitui na transição do mapa para a o modelo multicritério propriamente dito, no qual os PVFs são identificados e desdobrados em Pontos de Vista Elementares (PVEs), até um nível passível de mensuração, com base nos conceitos apresentados no mapa. Conforme Ensslin, L., Montibeller e Noronha (2001, p. 125) “a estrutura arborescente utiliza a lógica de decomposição, em que um critério mais complexo de ser mensurado é decomposto em sub-critérios de mais fácil mensuração”. A Figura 2 apresenta a estrutura arborescente advinda do mapa apresentado na Figura 1, referente à dimensão “Comunicação”. A última etapa da fase de estruturação se constitui na construção dos descritores que vão permitir a avaliação da performance das ações potenciais. Para cada descritor, são definidos níveis de referência, também conhecidos como níveis âncora (BANA E COSTA e SILVA, 1994). Estes níveis determinam as faixas limítrofes, no interior das quais os níveis impactados são considerados como sendo nível de mercado. O nível acima do “Bom” é considerado benchmarking – o nível de excelência buscado; o nível abaixo do “Neutro” é considerado comprometedor e é penalizado no modelo.

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

123

Figura 2 – Estrutura Arborescente referente à dimensão “Comunicação” Fonte: Elaboração própria

O Quadro 2 apresenta um descritor (1.1.1 – Eficácia da mídia impressa), composto pelos níveis de impacto, os níveis de ancoragem estabelecidos (0 para neutro e 100 para bom) e a escala referente ao descritor. Salienta-se que a princípio o descritor é uma escala ordinal, que posteriormente, na fase de avaliação, é transformada em uma escala cardinal. Uma vez construídas as escalas ordinais dos descritores é finalizada a fase de estruturação e passa-se a próxima fase da construção do modelo, a saber, fase de avaliação.

Quadro 2 – Descritor 1.1.1: Eficácia da mídia impressa

Fonte: Elaboração própria

Com relação à fase de avaliação, conforme a afirmação de Bana e Costa, Stewart & Vansnick (1995, p.266), [...] em um arcabouço metodológico multicritério, o modelo de avaliação, basicamente, consiste de dois estágios, como se segue: (1) a construção de um critério para cada PV, ou seja um modelo de avaliação que represente, formalmente, as preferências parciais de um(s) decisor(es) sobre um único PV; (2) a aplicação e exploração de um procedimento de agregação multicritério que, considerando algumas informações de natureza inter-ponto de vista, agrega os vários critérios em um modelo de avaliação geral.” (tradução nossa). No que tange ao primeiro estágio, a representação matemática das preferências dos decisores, por meio de gráfico ou escalas numéricas, é oferecida por meio de uma função de valor (BEINAT, 1995). Assim, as escalas, representam, numericamente, quanto, para o decisor, um nível de impacto é preferível (ou mais atrativo) em relação a outro nível de impacto. Neste trabalho, foram utilizadas as escalas de intervalo. Neste tipo de escala, os números indicam a ordem de preferência do decisor e existe a possibilidade de quantificação da preferência de um nível em relação a outro nível, uma vez que o intervalo existente entre dois destes números pode ser comparado com outro intervalo, devido ao fato de que dois dos números da escala são arbitrados, o 100 (cem) e o 0 (zero). Tendo em vista que o decisor considerou que a perda de atratividade percebida na passagem de um nível para outro, imediatamente abaixo, é similar ou indiferente, a escala cardinal configura-se como uma escala linear (Figura 3). Ao se fazer uso de uma escala cardinal, os valores atribuídos às respostas passam a ser valores quantitativos.

124

Lyrio et al.

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

200 150 100 50 0 -50 N1

N2

N3

N4

N5

Figura 3 – Função de valor para o descritor 1.1.1: Eficácia da mídia impressa Fonte: Elaboração própria

No que tange ao segundo estágio da fase de avaliação, este consiste na identificação das taxas de substituição que informam a importância relativa de cada critério no modelo. No presente estudo, foi utilizado o método swing weights (BODILY, 1985; VON WINTERDELDT, EDWARDS, 1986; GOODWIN e WRIGHT, 1991; KEENEY, 1992; BEINAT, 1995). Esse método consiste em solicitar ao decisor para, a partir de uma ação fictícia com desempenho no nível de impacto “Neutro” em todos os critérios, escolher um critério no qual o desempenho da ação melhore para um nível “Bom”. A esse salto, atribuí-se 100 pontos. Em seguida, é solicitado ao decisor que defina, entre os critérios restantes, aquele no qual ele gostaria que houvesse um salto do nível “Neutro” para o nível “Bom” e quanto valeria esse salto, em relação ao primeiro (ENSSLIN, MONTIBELLER-NETO e NORONHA, 2001). Exemplificando a determinação das taxas de substituição para os PVEs 1.1.1 – Eficácia da mídia impressa, 1.1.2 – Entrevistas em rádio e 1.1.3 – Downloads de notícias: o decisor julgou que o primeiro salto deveria ocorrer no PVE 1.1.1, sendo atribuídos 100 pontos; em seguida, foram atribuídos 66 pontos para o PVE 1.1.2; e, 34 pontos ao PVE 1.1.3; finalmente, foi necessário harmonizar esses valores, para que totalizem 1 (realizando uma divisão dos pontos relativos a cada critério pelo total de pontos). Tal procedimento gerou as seguintes taxas de substituição:

1.1.1 – Eficácia da mídia impressa

w¹ = 100/200 = 0,50 ou 50%

1.1.2 – Entrevistas em rádio

w² = 66/200 = 0,33 ou 33%

1.1.3 – Downloads de notícias

w³ = 34/200 = 0,17 ou 17%

Uma vez obtidas as taxas de substituição, o modelo de avaliação está concluído e já terá atingido seu objetivo maior – gerar entendimento a respeito do contexto decisório. Resta, agora, a operacionalização da avaliação do desempenho das SDRs. Por fim, cabe, agora, agregar as avaliações locais (avaliação nos PVs/critérios). A avaliação global é calculada por meio da seguinte equação matemática (Equação 1) de agregação aditiva: n V (a) =  wi  vi (a)

[1]

i=1 onde: V (a) = valor global do status quo da SDR em análise; v¹ (a), v² (a), ... vn (a) = valor parcial da SDR em análise nos critérios 1, 2, ... n; w¹, w², ... wn = taxas de substituição nos critérios 1, 2, ... n; n = nº de critérios do modelo. No presente estudo, optou-se por utilizar como exemplo uma SDR fictícia, doravante denominada “SDR-”. A Figura 4 apresenta o perfil de desempenho para a SDR- no que tange à dimensão “Comunicação”.

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

125

Figura 4 – Perfil de Desempenho da SDR- na dimensão “Comunicação” Fonte: Elaboração própria

No caso do presente estudo, a dimensão “Comunicação” obteve uma avaliação de 59 pontos, o que se configurou como um desempenho em nível de mercado, uma situação que, apesar dessa configuração, merece os esforços dos gestores com vistas à sua melhoria.

V (SDR- em “Comunicação”) = (67% * ((50% * 0) + (33% * 100) + (17% * 50))) + (33% * ((14% * 100) + (54% * 150) + (27% * 0) + (5% * 0))) = 59 pontos

Uma vez estabelecido o perfil de desempenho da SDR- em seu Status Quo, está terminada a fase de avaliação e passa-se, finalmente, à fase de elaboração de recomendações. Com relação à fase de elaboração de recomendações, esta se constitui em um processo de apresentação de ações de melhoria, ou seja, as ações potenciais que o decisor poderá tomar para que o desempenho da SDR- melhore em relação ao Status Quo. O processo de elaboração de recomendações é baseado em duas análises, a saber: (i) análise do perfil de desempenho no Status Quo – nessa análise busca-se verificar, com base no gráfico do perfil de desempenho, em quais descritores a SDR- se apresenta em nível comprometedor e/ou neutro e; (ii) análise da contribuição global dos descritores – nessa análise busca-se verificar quais são os descritores que possuem o maior potencial de contribuição para a melhoria do desempenho da SDR-. No que tange à segunda análise, é importante frisar que, para se chegar à contribuição global de um determinado descritor, é preciso multiplicar suas taxas de substituição até o PVF. Como exemplo, cita-se a taxa de contribuição do descritor 1.1.1 – Eficácia da mídia impressa. A contribuição global deste descritor se dá pela seguinte equação: 50% * 67% = 34%. Por fim, é importante realizar uma análise de sensibilidade, com vistas a verificar como o modelo responde a variações nas taxas de substituição. Quanto mais um modelo aceita variações nas taxas de substituição, para mais ou para menos, sem alterar a ordem das alternativas, mais robusto ele é considerado. No caso do presente estudo, esse procedimento foi realizado com o auxílio do software

126

Lyrio et al.

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

Highview (versão 2, 1995). No caso, alterações nas taxas de substituição não alteraram a ordem de preferência das alternativas, sendo assim, pode-se dizer que o modelo proposto se mostrou robusto.

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O artigo buscou explorar a interface entre dois campos disciplinares – Administração Pública e Pesquisa Operacional, oferecendo uma aplicação da Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão – Construtivista (MCDA-C) em um estudo de caso ocorrido em um ambiente real. No caso, o Governo do Estado de Santa Catarina não dispunha de um instrumento formalizado e sistematizado para realizar uma avaliação de desempenho de suas Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs). O presente estudo buscou preencher esta lacuna - por meio da proposta de um modelo de avaliação de desempenho – de tal forma a contemplar as diretrizes e planejamento estratégico decorrentes da Reforma Administrativa e possibilitando a mensuração dos objetivos e a verificação e alcance das metas e resultados estabelecidos. Como ilustração, foi apresentado um recorte referente à dimensão “Comunicação”. A proposta foi informada por duas Perguntas de Pesquisa (PP’s), que, neste momento, são transcritas abaixo e devidamente respondidas: PP1 - É possível construir um modelo de AD das Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs), segundo a percepção dos representantes do Governo do Estado de Santa Catarina? A partir dos resultados da pesquisa aqui realizada, a resposta a esta PP é afirmativa: a Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista - MCDA-C, mostrou-se capaz de capturar e encapsular as preocupações, crenças e valores do Governo do Estado, conforme representados por seus dirigentes e utilizar tais informações para a construção de um modelo de avaliação representativo e adequado à situação específica da AD das SDRs. O arcabouço teórico-metodológico utilizado tem bases construtivistas que contribuíram, de maneira central, para apoiar a construção do entendimento sobre a situação percebida como problemática. A implementação do modelo conseguiu realizar diagnóstico da estrutura e funcionamento das Secretarias de Desenvolvimento Regional, por meio de pesquisa documental e entrevistas semi-estruturadas com as equipes de trabalho das secretarias setoriais que possuíam alguma relação com as regionais; caracterizar o entendimento, por parte dos representantes do Governo, do contexto decisional no qual estão inseridos; estruturar o contexto decisional; gerar oportunidades de aperfeiçoamento da performance das SDRs; e, finalmente, propor critérios de avaliação do desempenho das SDRs catarinenses. PP2 - Quais são os elementos a serem considerados no processo de AD das SDRs catarinenses, para que o modelo se configure como um instrumento de gestão, possibilitando, de forma transparente e estruturada, a implementação de ações contínuas de melhoria? Esta pergunta de pesquisa pode ser respondida por meio da explicitação fornecida pelo modelo de avaliação construído, especificamente no que tange à dimensão “Comunicação”. Tais elementos, em conjunto, geraram informações úteis para a melhoria do desempenho da gestão da SDR-, que, neste trabalho, constitui-se numa ilustração. O modelo possibilitou a indicação de suas fragilidades e potencialidades. As fragilidades foram evidenciadas pelos descritores nos quais a SDR- se encontrava em nível comprometedor (abaixo do nível neutro). As potencialidades, por sua vez, foram evidenciadas pelos descritores nos quais a SDR- se encontrava em nível de excelência (acima do nível bom). Tendo em vista o exposto é possível afirmar que os elementos que emergiram da Fase de Estruturação do Modelo de Avaliação de Desempenho das SDRs como descritores, mostraram-se capazes de apoiar a tarefa do Governo do Estado de Santa Catarina de acompanhar e avaliar o desempenho das referidas regionais, considerando as diretrizes gerais e planejamento estratégico da reforma administrativa, na percepção dos representantes do Governo do Estado. Cumpre, agora, apresentar as limitações da presente pesquisa, na perspectiva do autor: (i) o levantamento de dados do estudo de caso foi feito junto à Secretaria de Estado da Comunicação, levando-se em conta apenas os processos e atividades que já estavam descentralizados; (ii) a abrangência da base de dados selecionada para a revisão da literatura em AD – periódicos classificados como “A-Nacional” no sistema QUALIS-CAPES, triênio 2004-2006 e Anais do ENANPAD e EnAPG (anos entre 2002-2006) e; (iii) o paradigma científico-filosófico que informa a metodologia MCDA-C não foi explorado de forma mais profunda e detalhada no presente estudo.

Avaliação de desempenho da área de comunicação em organização pública

127

As limitações listadas acima se constituem como possibilidades de novos rumos de pesquisa, por permitir ou uma maior exploração de aspectos do trabalho, ou uma inclusão de perspectivas não discutidas. Nesses termos, citam-se, como recomendações para futuras pesquisas: (i) replicar o estudo de caso em termos de um processo bottom-up, tomando como base as percepções dos gestores das SDRs; (ii) ampliar a base de dados da revisão de literatura ligada a AD, envolvendo publicações internacionais, com vistas a uma análise mais abrangente do tema em estudo; (iii) explorar, teoricamente, as bases cientifico-filosóficas do estudo, dando ênfase em dois eixos: os paradigmas científicos que subjazem as investigações em Pesquisa Operacional e os conceitos ligados às abordagens top-down e bottom-up que informam as possíveis maneiras de conduzir uma pesquisa.

REFERÊNCIAS ANDRIOLLO, L. J.; VIEIRA, M. M. F.; MEDEIROS, J. J. Um Modelo para Análise de Desempenho de Organizações da Administração Pública Municipal. Organizações & Sociedade. Ed. 20 Jan/Mar 2002. BANA e COSTA, C. A.; SILVA, F. N. Concepção de uma “Boa” Alternativa de Ligação Ferroviária ao Porto de Lisboa: uma aplicação da metodologia multicritério de apoio à decisão e à negociação. Investigação Operacional, vol. 14, p. 115-131, 1994. BANA e COSTA, C. A.; STEWART, T. J.; VANSNICK, J. C. Multicriteria decision analysis: some troughts based on the tutorial and discussion sessions of the ESIGMA meetings. In: Euro Conference, 14. Anais… Jerusalem, Julho 3-6, 1995. BEINAT, E. Multiattribute Value Functions For Enviromental Management. Amsterdam: Timbergen Institute Research Series, 1995. BILANCIERI, M. V.; PADOVEZE, C. L. Políticas Públicas para Geração de Emprego e Renda: Avaliação do Proger Urbano e sua Contribuição para a Gestão Empresarial através de um Estudo de Caso no Município de Pederneiras. In.: Encontro Nacional de Administração Pública e Governança – EnAPG. Anais... São Paulo, Novembro 22-24, 2006. BODILY, S. E. Modern Decision Making: A Guide to Modeling with Decision Support Systems. New York: McGraw-Hill, 1985. CIOFFI, J. G. M.; MENICUCCI, T. M. G. Avaliação da Eficácia e da Eficiência da Fundação Hemominas na Execução da Política do Sangue no Estado de Minas Gerais. In.: 30º Encontro da ANPAD – EnANPAD. Anais... Salvador, Setembro 23-27, 2006. DA COSTA, F. L.; CASTANHAR, J. C. Avaliação de Programas Públicos: Desafios Conceituais e Metodológicos. Revista de Administração Pública - FGV. Ed. 5 2003. EDEN, C. Cognitive mapping. European Journal of Operational Research, v.36, p. 01-13, 1988. ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S. R.; BORGERT, A.; DUTRA, A.; LYRIO, M. V. L. Gerenciamento do Desempenho da Secretaria de Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis: Uma Proposta advinda da Combinação do Balanced Scorecard e da Metodologia Multi Critério de Apoio à Decisão Construtivista. In.: Encontro Nacional de Administração Pública e Governança – EnAPG. Anais... São Paulo, Novembro 22-24, 2006. ENSSLIN, L.; MONTIBELLER, G. N.; NORONHA, S. M. Apoio à Decisão: Metodologias para Estruturação de Problemas e Avaliação Multicritério de Alternativas – Ed. Insular, 2001. GALVÃO, L. de L.; TRISTÃO, G.; MATOS, B. T. P. de M. Medidas de Desempenho Balanceadas: Um Estudo em Organizações Públicas Brasileiras. In.: 26º Encontro da ANPAD – EnANPAD. Anais... Salvador, Setembro 22-25, 2002. GOODWIN, P.; WRIGHT, G. Decision analysis for Management Judgement. Chichester: John Wiley & Sons, 1991. HAIR JR., J. F.; R. E. ANDERSON; R. L. TATHAM; W. C. BLACK. Multivariate Data Analysis. 5th ed. Upper Saddle River: Prentice Hall, 1998, 730p. JANUZZI, P. de M. Considerações Sobre o Uso, Mau Uso e Abuso dos Indicadores Sociais na Formulação e Avaliação de Políticas Públicas Municipais. Revista de Administração Pública - FGV. Ed. 1 2002.

128

Lyrio et al.

P&D em Engenharia de Produção, Itajubá, v. 8, n. 3, p. 116-128, 2010

KEENEY, R.L. Value focused-thinking: a path to creative decision-making. Cabridge: Harvard Univ. Press, 1992. LINS, M. T. G.; TEIEIRA, R. M. Gestão da Qualidade em Instituição de Ensino Superior Pública: Avaliação de Ações Estratégicas e Operacionais pelo Público Interno. In.: 26º Encontro da ANPAD – EnANPAD. Anais... Salvador, Setembro 22-25, 2002. LYRIO, M. V. L. Modelo para avaliação de desempenho das secretarias de desenvolvimento regional (SDR’S) do governo do Estado de Santa Catarina: a perspectiva da MCDA-C. 201 f. Dissertação (Mestrado em Contabilidade) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. MONTIBELLER, G.; BELTON, V. Qualitative operators for reasoning maps: evaluating multi-criteria options with networks of reasons. European Journal of Operational Research. V. In Press, Corrected Proof, 2007. MONTIBELLER, G.; BELTON, V.; ACKERMANN, F.; ENSSLIN, L. Reasoning maps for decision aid: an integrated approach for problem-structuring and multi-criteria evaluation. Journal of the Operational Research Society, v. 59, p. 575-589, Jan. 2007 MOREIRA, N. P.; SANTOS, N. de A.; SILVEIRA, S. de F. R. Análise Crítica da Aplicação de Métodos de Avaliação de Desempenho em uma Instituição Pública de Ensino Superior. In.: Encontro Nacional de Administração Pública e Governança – EnAPG. Anais... São Paulo, Novembro 22-24, 2006. NETTO, F. S.; GOUVEA, M. A.; FERREIRA, J. E. Avaliação de Desempenho de BPM na Administração Pública Brasileira com o Uso de Análise Multivariada. In.: 30º Encontro da ANPAD – EnANPAD. Anais... Salvador, Setembro 23-27, 2006. ______. O Uso do Escalonamento Multidimensional Aplicado no Diagnóstico do Desempenho de Processos de Negócio na Administração Pública Brasileira. In.: Encontro Nacional de Administração Pública e Governança – EnAPG. Anais... São Paulo, Novembro 22-24, 2006. PEIOTO, F. M.; PINTO, K. C. R.; DOS REIS, E. A. Controle Interno e Avaliação de Desempenho Através de Indicadores Operacionais em uma Instituição Pública: Uma Proposta para a FAPEMIG. In.: 29º Encontro da ANPAD – EnANPAD. Anais... Brasília, Setembro 17-21, 2005. PEREIRA, B. A. D.; MORALES, R.; VENTURINI, J. C.; GROHMANN, M. Z.; WEIBLEN, B. Percepção da Avaliação: Um Retrato da Gestão Pública em uma IES. In.: Encontro Nacional de Administração Pública e Governança – EnAPG. Anais... São Paulo, Novembro 22-24, 2006. ROSENBERG, G.; OHAVON, P. Auto-Avaliação da Gestão em Organizações Públicas de Ciência e Tecnologia: Um Instrumento Aplicado à Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz. In.: 26º Encontro da ANPAD – EnANPAD. Anais... Salvador, Setembro 22-25, 2002. SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 243, de 30 de Janeiro de 2003. Estabelece nova Estrutura Administrativa do Poder Executivo. SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 284, de 29 de Fevereiro de 2005. Estabelece o modelo de gestão para a Administração Pública Estadual e dispõe sobre a estrutura organizacional do Poder Executivo. SANTA CATARINA. Lei Complementar nº 381, de 7 de Maio de 2007. Dispõe sobre o modelo de gestão e estrutura organizacional da Administração Pública Estadual. VON WINTERFELDT, D.; EDWARDS, W. Decision Analysis and Behavioral Research. Cambridge: Cambridge Universtity Press, 1986.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.