AVALIAÇÃO DE PÓS-OCUPAÇÃO DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA AMAZÔNICA: ESTUDO DE CASO DA ESCOLA ESTADUAL GONÇALVES DIAS, EM BOA VISTA/RR, DE SEVERIANO MÁRIO PORTO

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I SAMA – Seminário de arquitetura moderna na 17, 18 e 19 de fevereiro de 2016.

Amazônia

AVALIAÇÃO DE PÓS-OCUPAÇÃO DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA AMAZÔNICA: ESTUDO DE CASO DA ESCOLA ESTADUAL GONÇALVES DIAS, EM BOA VISTA/RR, DE SEVERIANO MÁRIO PORTO

NASCIMENTO, CLAUDIA HELENA CAMPOS (1), BORGES, HELENA DA SILVA (2) Mestre em Arquiteta e Urbanismo, com ênfase em Patrimônio; Especialista em Semiótica e Artes Visuais; Bacharel em Arquitetura e Urbanismo; professora da linha de Teoria e História da Arte, Arquitetura e Urbanismo do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima /UFRR. Avenida Ene Garcêz, 2413, Bloco V, CCT, Arquitetura e Urbanismo-Bairro Aeroporto-Boa Vista/RR E-mail: [email protected]. 2. Graduanda do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima – UFRR; Assistente Administrativo da Pro-reitoria de Ensino de Graduação da UFRR. E-mail [email protected]

RESUMO A exigência por qualidade e eficiência das edificações tem se tornado cada vez mais frequente desde o processo de planejamento a execução. Um dos métodos de avaliação desses critérios e a Avaliação de Pós-Ocupação – APO, que se caracteriza como um processo de avaliação de edifícios na fase de uso, por meio da análise do desempenho físico dos edifícios e níveis de satisfação dos usuários. Estetrabalho, que apresenta dados preliminares, abordará como seráa aplicação deste método em uma unidade educacional de nível médio, Escola Estadual Gonçalves Dias, em Boa Vista/RR, edifício de autoria do arquiteto brasileiro Severiano Mario Vieira de Magalhães Porto, popularmente conhecido como o Arquiteto da Amazônia. Esta pesquisa segue o método de APO educacional do Programa de Tecnologia de Habitação (HABITARE), promovido conjuntamente pela Caixa Econômica Federal e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) desde 1994, que possui como principais itens de análise de qualidade e eficiência de um edifício; no estudo de caso em questão serão considerados os desempenhos físico e ambiental, a partir do nível de satisfação dos usuários e análise da estrutura física do edifício. Ao considerarmos para o estudo a obra de Severiano Mário Porto, objetiva-se contrapor a proposta da arquitetura bioclimática amazônica, em sua eficiência propositiva e o estudo diacrônico do bem em questão, apontando as intervenções que sofreu o imóvel que possam ter contribuído para seu estado atual.

Palavras chave: Boa Vista/RR; Arquitetura Bioclimática Amazônica; Avaliação de Pós-Ocupação APO.

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1.

Amazônia

INTRODUÇÃO Esta pesquisa abordará como será a aplicação do método de Avaliação de Pós-

Ocupação – APO em uma unidade educacional de nível médio, Escola Estadual Gonçalves Dias/RR. O estudo de caso em questão é feito sobre o objeto-projeto arquitetônico do arquiteto brasileiro Severiano Mário Vieira de Magalhães Porto, popularmente conhecido como o Arquiteto da Amazônia. O desenvolvimento desta pesquisa se justifica na busca pela melhoria da qualidade das edificações e auxílio no processo de concepção projetual, a partir do estudo e aplicação da APO, que avaliará o desempenho do edifício (estudo de caso) através de análises de seus aspectos funcionais, sistemas construtivos e de conforto ambiental. Pretende-se, portanto, analisar a situação atual do edifício com o objetivo de contrapor a proposta da arquitetura bioclimática amazônica, em sua eficiência propositiva e o estudo diacrônico do bem em questão, apontando as intervenções às quais sofreu o imóvel que possam ter contribuído para seu estado atual onde há a hipótese de que os princípios preconizados no projeto de Severiano Mário Porto tenham sido subvertidos através de intervenções alheias ao processo conceitual da arquitetura bioclimática. Para a realização desta pesquisa serão utilizados os métodos e procedimentos de avaliação aplicáveis à Unidade do APO Educacional (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003). O objeto principal deste trabalho consta de uma análise preliminar da Escola Estadual Gonçalves Dias, localizada no bairro São Pedro, cidade de Boa Vista/RR, as modificações ocorridas até o momento e que influências podem ter exercido sobre a proposta inicial do projeto arquitetônico de Severiano Mario Porto.

2.

DESENVOLVIMENTO O presente artigo almeja apresentar a fundamentação do trabalho de pesquisa em

andamento de APO da Escola Gonçalves Dias. O presente artigo apresentará o processo metodológico que será empregado, assim como o resultado preliminar dessa pesquisa. Assim sendo, apresentaremos a metodologia para o desenvolvimento da pesquisas e os resultados iniciais da aplicação da mesma.

2.1.

Metodologia para o desenvolvimento da pesquisa Como metodologia para a pesquisa em andamento, haverá dois enfoques de

procedimentos: um de revisão bibliográfica e outro de campo. O diálogo entre dois

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tratamentos da pesquisa visará estabelecer fundamentação teórica que possa ser avaliada no campo prático, a partir do reconhecimento das questões que se apresentam na arquitetura presente da Escola Gonçalves Dias. Assim sendo, o desenvolvimento da pesquisa será realizado de forma teóricoprática. O levantamento teórico tem como foco os temas que envolvem a Avaliação de PósOcupação - APO, a arquitetura de Severiano Mário Porto e o planejamento do levantamento prático, isso é, construção de instrumentos para as técnicas de avaliação. Em outro momento, será realizada a análise da estrutura física do edifício, objeto de estudo, a partir de levantamentos in loco da Escola Estadual Gonçalves Dias e verificação do nível satisfação dos usuários por meio de aplicação de questionários.

2.2.

Revisão bibliográfica A revisão bibliográfica visa construir o referencial teórico sobre o tema a ser

desenvolvido, dessa forma, podemos identificar quatro enfoques temáticos sobre os quais será pautado o trabalho:  Avaliação de Pós-Ocupação: histórico, desenvolvimento e métodos de aplicação;  Arquiteto Severiano Mário Porto: biografia, principais obras, características arquitetônicas empregadas, importância nacional e internacional do arquiteto Severiano Mario Porto para o cenário arquitetônico e sua contribuição na conformação da Arquitetura Bioclimática Amazônica;  Escola Estadual Gonçalves Dias: histórico da edificação, incluindo-se o processo de

produção

projetual,

construção

e

modificações,

identificação

das

características arquitetônicas comumente empregadas pelo arquiteto Severiano Porto;  Metodologia de pesquisa de campo: escolha instrumentos e procedimentos de APO a serem aplicados, elaboração de instrumentos, procedimentos de levantamento de campo e aplicação dos questionários, vistorias técnicas e medições de conforto ambiental.

2.2.1. Avaliação de Pós-Ocupação A qualidade de edifícios construídos depende da avaliação e manutenção periódica realizada pelos usuários e profissionais.

É necessário o emprego de uma metodologia

capaz de diagnosticar os aspectos positivos e negativos do ambiente, considerando fatores técnico-construtivo, funcionais, comportamentais, econômicos, estéticos e ambientais. (CASTRO; LACERDA; PENNA, 2004). A Avaliação de Pós-Ocupação é considerada uma disciplina acadêmica das escolas de Arquitetura e ainda como uma metodologia de estudo para a fase de uso dos

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edifícios. Consiste basicamente em uma avaliação da edificação depois que começou a ser usada, com o emprego de técnicas e métodos específicos.

A APO, portanto, diz respeito a uma série de métodos e técnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso, a partir da análise de fatores

socioeconômicos,

superestrutura

urbanas

dos

de

infra-estrutura

sistemas

e

construtivos,

conforto ambiental, conservação de energia, fatores estéticos, funcionais e comportamentais, levando em consideração o ponto de vista dos próprios avaliadores, projetistas e clientes, e também dos usuários. (ORNSTEIN E ROMERO, 2003, p. 26)

A APO é uma importante ferramenta para determinação de aspectos positivos e negativos a serem evitados ou repetidos em projetos semelhantes, tendo como referência ambientes em fase de uso. Teve inicio nos anos 1960, na Europa e EUA no pós-guerra, a partir da avaliação dos conjuntos habitacionais e da arquitetura moderna de massa. Os estudos desenvolveram-se em diferentes áreas como desempenho físico das edificações, padrões culturais, privacidade, territorialidade, personalização, apropriação, segurança, apropriação, faixa etária com ênfase no usuário dos ambientes (ORNSTEIN; ROMERO, 1992). Em psicologia ambiental destaca-se a utilização dos métodos da APO, em especial por psicólogos norte-americanos, com estudos voltados para a interferência dos ambientes no comportamento humano e vice-versa. No Brasil os primeiros estudos datam de fins da década de 1970, estimativas de 30 pesquisadores nesse campo, com destaque para os centros de conhecimento sobre o tema: NUTAU – USP/FAUUSP, em São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; no Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco; no Grupo de Estudos Pessoa-Ambiente (GEPA), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e no Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília, além de algumas atividades nesse campo realizadas pela empresa particular Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).

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Observa-se que a APO desde os anos 1960 atua como auxílio no controle de qualidade e desenvolvimento de projetos complexos, como por exemplo aeroportos, shopping centers, ginásios de esportes, hospitais, asilos, estabelecimentos penais, parques, entre outros, ou aquelas tipologias passíveis de repetição, a exemplo de conjuntos habitacionais, escolas e postos de saúde (ORNSTEIN; ROMERO, 1992). A metodologia da APO é bastante diversificada, onde o pesquisador pode adequar a análise a partir dos seus objetivos propostos. APO é um conjunto de métodos e técnicas que são utilizados e combinados de acordo com os objetivos de cada pesquisa e também dos recursos humanos e financeiros envolvidos. Esse conjunto de abordagens é definido, via de regra, na etapa de programação do trabalho,

embora

em

alguns casos determinadas

inserções metodológicas possam ser feitas durante a etapa de desenvolvimento (ORNSTEIN E ROMERO, 2003, p. 264).

Para a elaboração desta pesquisa será dada ênfase a análise dos aspectos ambientais da edificação – considerando o objetivo da caracterização da arquitetura bioclimática – além dos demais a serem avaliados: técnico-construtivo e funcionais.

2.2.2. Arquitetura bioclimática amazônica de Severiano Mário Porto

O conceito de arquitetura bioclimática engloba uma série de valores relacionados à

redução

de

impactos

ambientais, conservação de energia e obtenção de conforto ambiental no projeto construído (NEVES, 2006, p. 17).

A arquitetura como um processo de planejamento do espaço, a fim de obter a qualidade essencial e desejada deve, portanto, se adequar ao ambiente a ser construindo, considerando o clima e características próprias da localidade. O estudo das soluções para a redução de impactos ambientais, conservação de energia e obtenção de conforto ambiental proporciona elementos a serem empregados em uma edificação que consequentemente apresentará melhor eficiência construtiva, uma vez que estará adequada ao seu entorno. Essa adequação existente entre uma edificação e o ambiente que deve ser realizada com o mínimo de impacto possível, define a arquitetura bioclimática, considerando ainda o aproveitamento dos materiais e recursos naturais disponíveis e conforto ambiental. O estudo da arquitetura bioclimática se intensificou a partir da década de 1970, com a

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preocupação da escassez dos recursos naturais e energéticos do planeta, atentando para a preservação ambiental, nas diversas áreas de produção: construção civil, indústrias e outros. As premissas básicas da arquitetura bioclimática são a adequação ao entorno, ao clima, aproveitamento dos recursos naturais, evitar a utilização de sistemas mecânicos de transmissão energética. Na década 1960, houve uma migração de arquitetos por todo território nacional brasileiro, incentivados pela política de gestão desenvolvimentista do período, de fundamento modernista. Estes arquitetos, ao se depararem com as características regionais diferenciadas, tiveram que buscar ou utilizar métodos tradicionais e materiais locais para se adaptarem às condições existentes, diferentemente do que se preconcebia no International Style do Modernismo. Como resultado houve o reconhecimento das especificidades da arquitetura e dos processos construtivos locais, com especial atenção à condição amazônica, fazendo surgir um grupo de profissionais que defendiam soluções que que consolidaram no que passou a ser conhecido como arquitetura bioclimática. Esta contribuição técnica tornou-se igualmente uma contribuição teórica, sendo seus estudos e pesquisas abarcados como linguagem arquitetônica e fundamento de estudo no meio universitário. Na região da Amazônia com o seu clima quente e úmido, sociedade e cultura local com características bem especificas essas adaptações ocorreram de forma distinta, dita Arquitetura Amazônica ou Arquitetura Bioclimática Amazônica. O arquiteto Severiano Mário Vieira de Magalhães Porto foi o um dos pioneiros a atuar na região, sendo o principal representante com obras de destaque: Campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Aldeias Infantis SOS Brasil, Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), entre outras. O diálogo técnico com arquitetos como Milton Monte e João Castro Filho, do Pará, sendo Severiano Mário Porto o representante amazonense, permitiu o fortalecimento do discurso da necessidade de implementar métodos e materiais regionais na rotina do planejamento arquitetônico amazônico. Reconhecido internacionalmente pela sua produção arquitetônica que apresenta adaptação ao clima quente e úmido da região amazônica, aspectos da arquitetura regional, adaptação da construção ao meio e aplicação de soluções de conforto ambiental, destacando-se o uso da ventilação natural como elemento principal de seus projetos. Os princípios bioclimáticos nos projetos de Porto estão presentes na procura por uma linguagem coerente,

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voltada para as características regionais, na busca em utilizar soluções simples e originais, através do maior uso de recursos materiais locais, na preocupação em elaborar soluções arquitetônicas condizentes ao clima, que preservem e integrem o edifício à paisagem. (NEVES, 2006, p.25)

As obras do arquiteto podem ser hipoteticamente classificadas como as de vertente regionalista com o emprego de madeira e materiais regionais, técnicas e práticas construtivas locais. E as de vertente brutalista, “a última trincheira do movimento moderno” (FUÃO, 2000) que se caracteriza pela utilização do concreto armado aparente, associado à simplicidade do partido arquitetônico, horizontalidade das coberturas e jogo de níveis que caracterizam uma resposta geométrica à solução da arquitetura, características do Modernismo. O projeto da Escola Gonçalves Dias apresenta características marcantes desta segunda vertente. A arquitetura de Severiano Porto é aquela que não se enquadra em estilos, o regionalismo configura-se como fator principal, onde o importante é a obra está adaptada as condições do meio.

2.3.2. Levantamento de campo Para o desenvolvimento desta fase serão utilizados os procedimentos indicados por Romero & Ornstein (2003) na Unidade do APO Educacional. O Programa de Tecnologia de Habitação – HABITARE (FINEP/MCT) foi desenvolvido com o objetivo de contribuir para o avanço do conhecimento no campo da tecnologia do ambiente construído, apoiando pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação, visando o atendimento das necessidades de modernização do setor de habitação e contribuir para o atendimento das necessidades habitacionais do país. O material de estudo está dividido em 03: Série Coleções, Coletânea Habitare, e a de Recomendações Técnicas. A coletânea HABITARE consiste em uma série de livros em 07(sete) volumes, sendo o primeiro referente à Avaliação Pós-Ocupação. Esse volume apresenta uma abordagem sobre a APO e sua aplicação, com exemplos de estudos em habitações sociais e unidades institucionais; no caso desta pesquisa utilizaremos os procedimentos, devidamente adaptados ao caso, aplicados à unidade educacional em estudo. O processo de avaliação será realizado seguindo o roteiro com as seguintes etapas:  Levantamento da memória do projeto e das possíveis modificações realizadas no edifício: leitura de projetos (arquitetônicos, estruturais, entre outros) e das especificações técnicas;

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 Levantamento do estado de conservação e manutenção do edifício, com levantamento fotográfico;  Vistorias técnicas para aferição dos aspectos construtivos: a partir da observação direta do edifício;  Medições in loco de aspectos referentes ao conforto ambiental, tais como predominância de ventos e medições;  Aplicação de questionário/entrevista preliminar para obtenção de dados de funcionamento da escola e das características de seus estudantes;  Aplicação de questionários aos professores, alunos, funcionários administrativos e serviços gerais;  Recepção da devolução dos questionários;  Tabulação e análise dos dados;  Diagnóstico final (satisfação dos usuários versus avaliação técnica);  Recomendação e diretrizes para projetos futuros.

2.4

Análise preliminar da Escola Gonçalves Dias A Escola estadual de Ensino Médio Gonçalves Dias /RR, esta localizada na Av.

Getúlio Vargas, nº 4333, bairro Canarinho, no município de Boa Vista, estado de Roraima. A proposta de criação foi aprovada em 12 de março de 1977, a partir do Decreto n° 12, assinado pelo governador no respectivo período do ex-território federal, Fernando Ramos Pereira. A escola funciona com uma estrutura em blocos que apresenta divisões em área administrativa e de salas de aula. Possui 22 salas de aula, das quais 18 estão sendo utilizadas, e conta com aproximadamente 1300 alunos1. Possui 87 funcionários entre professores, da área administrativo-pedagógica e serviços gerais. A modalidade de ensino atende ao Ensino Médio e Ensino Médio - Profissionalizante. No entorno da edificação, na parte frontal têm uma praça e complexo esportivo do Estádio Canarinho com quadra de esporte e piscinas olímpicas. Na parte posterior encontrase a Faculdade de Ensino Superior (FARES) e na lateral direita o Colégio Militar da Polícia Militar de Roraima. As edificações e espaços próximos são todos de níveis instrucionais e/ou privados, com destaque às edificações que abrigam a Universidade Estadual de Roraima (UERR), Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE/RR), secretarias estaduais entre outros. Destaca-se a proximidade do rio Branco na parte posterior da edificação, que influência na climatização do ambiente. 1

Por se tratar de dado coletado anteriormente à greve dos professores estaduais ocorrida em 2015, informações ainda não comprovadas e carentes de revisão para a pesquisa, indicam ter havido considerável evasão de matriculados.

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2.4.1. O projeto arquitetônico A edificação não segue uma plástica arquitetônica definida da linguagem do estilo Modernista paradigmático, contudo esse é um fator predominantemente presente nos projetos do arquiteto Severiano Porto. Observa-se, como abordado anteriormente, uma breve vinculação ao Brutalismo, como tendência que consolida o valor plástico da matéria do concreto aparente em sua dupla função – estrutural e estética – e caracteriza a concepção de caráter vinculado ao modernismo (Figura 1). Essa afirmação encontra na planta baixa baseada em formas regulares, modulares e retangulares, a opção pelo uso de concreto armado como principal substância do bem, além da opção pelos amplos vãos livres, o diálogo com a fachada sem ornamentação, sendo a arquitetura em sua verdade estrutural (FONSECA; PONTES & SANCHÉZ, 2013).

Figura 1 - Detalhe da cobertura e esquadrias Fonte: Mattos et all., 2014

O projeto arquitetônico do arquiteto Severiano Mario Porto, possui como característica a divisão em blocos, sendo em número de 05 (cinco): o principal compõe-se dos setores administrativos, de uso comum e serviços gerais e os demais blocos são de salas de aula e laboratórios (Tabela 1).

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           

Bloco Principal Sala de diretoria Sala de professores Sala de secretaria Salas administrativas Refeitório Cozinha Despensa Biblioteca Sala de leitura Auditório Pátio coberto Banheiros

PROJETO BÁSICO Blocos secundários

   

Laboratório de informática Laboratório de ciências Salas de aula Banheiros

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Anexos

 

Quadra de esportes coberta Quadra de esportes descoberta

Tabela 1 – Programa da Escola Gonçalves Dias, projeto original.

As dependências possuem, em sua maioria, forma retangulares, com exceção da sala dos professores que possui formato hexagonal, em destaque no bloco principal. A edificação incorpora áreas de grandes vãos (pátio coberto e circulações) e amplos corredores, que tiram proveito da iluminação e ventilação naturais (Figuras 2 e 3), com profuso uso de elementos vazados.

Figura 2 – Corredor. Fonte: Helena Borges, 2015.

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Figura 3 – Pátio coberto Fonte: Helena Borges, 2015.

Caracteriza-se, em especial, pela horizontalidade de sua cobertura com grandes beirais e vigas de concreto aparente. Apresenta elementos vazados em grande parte da edificação, o que proporciona iluminação e ventilação natural. Ambos, cobertura e elementos vazados, definem a unidade arquitetônica do projeto.

Figura 4 – Detalhe da cobertura, com a presença de telhamento visível. Fonte: Helena Borges, 2015.

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Apresenta sistema estrutural em concreto armado de vigas e pilares e vedação em blocos de alvenaria, laje de forro e cobertura em telhas, estas inseridas a posteriori da finalização do projeto original (Figura 4). Destaca-se ainda pela a integração da edificação com a paisagem, adaptação ao clima, a economia de espaços, ventilação e iluminação natural. A área externa (Figura 5) e composta de pátio de convivência arborizado, estacionamento privativo para carros e bicicletas.

Figura 5 – Pátio externo arborizado Fonte: Helena Borges, 2015.

Figura 6 – Diferença de níveis da edificação. Fonte: Helena Borges, 2015.

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Outros detalhes importantes do projeto são:  painel artístico em desenho geométrico presente no pátio coberto;  esquadrias de madeira, venezianas e vidro da área interna;  adaptação da edificação à topografia (Figura 6), desenvolvendo-se em três níveis diferentes.

2.4.2. Avaliação técnico-construtiva O edifício apresenta, de maneira geral, boa manutenção em sua estrutura, apesar da demora no conserto dos equipamentos que precisam de melhorias, como no caso das salas de aula em desuso, devido a problemas de manutenção na central de ar condicionado. O terreno está bem conservado sem mato ou lixo, possui boa drenagem das águas pluviais. Os detalhes construtivos possuem boa execução nos acabamentos de pisos, paredes e lajes necessitando, contudo de revisão na rede de instalações elétricas, visto que foi observada a presença de eletrodutos aparentes que denotam intervenções e acréscimos recentes e sem a devida atenção à segurança, especialmente se tratando de um espaço de multiusuários, no caso, escolar. Em relação às patologias nota-se a presença de pequenas áreas com infiltrações na estrutura da cobertura (biblioteca) e lajes (corredores). Esta análise é importante, pois em uma das reformas realizadas no ano de 2010, foi devido ao desmoronamento da laje do pátio coberto. Em um questionamento inicial com os funcionários da escola sobre as reformas realizadas, os mesmos relataram que o desmoronamento foi apenas do revestimento e pintura da laje, não havendo qualquer dano a estrutura. As transformações significativas ocorrida na estrutura física foram à ampliação de um bloco de sala de aula (que formou um grande corredor) e modificação na cobertura, inserindo telhas. Observam-se ainda outras alterações em detalhes de acabamento e adaptações realizadas após alteração do projeto inicial. As esquadrias do projeto inicial eram de venezianas de madeira e vidro, atualmente apenas as esquadrias da área interna foram mantidas e as da área externa, como as janelas das salas de aula foram substituídas por vidraças, o que conseqüentemente provocou a necessidade da utilização de central de ar condicionado em todas as salas de aula e setores administrativos, visto terem se tornado barreiras à proposta arquitetônica original de ventilação cruzada. No período de 2010 a 2012 a edificação passou por uma significativa reforma nas instalações elétricas e hidrossanitárias, cobertura, muro, recuperação de portas e janelas, quadra de esportes e pintura geral.

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As alterações realizadas na cobertura foi a mais significativa, pois aumentou a inclinação das telhas deixando o telhado aparente, o que descaracterizou a forma arquitetônica do edifício, que era fortemente marcada pela horizontalidade da cobertura presente na exposição das vigas e amplos beirais. A modificação justificou-se devido à necessidade de melhorar o escoamento das águas pluviais, pois o formato antigo com pouca inclinação, não escoava as águas de forma adequada, acumulava sujava a estrutura e consequentemente gerando as já citadas infiltrações que danificavam a estrutura e a pintura.

3.

CONCLUSÃO A arquitetura de Severiano Mário Porto, que se manifesta na Escola Estadual

Gonçalves Dias, em Boa Vista, estado de Roraima, em seu estado atual, apresenta-se sob a forma de importante objeto de estudo para a compreensão da eficiência dos projetos de proposição bioclimática para a região amazônica. Não deixando de atentar ao detalhe, extremamente relevante, de que o bioma Amazônia insere várias condições climáticas diferenciadas e não somente a condição das chamadas florestas úmidas, que serviu de referência para o desenvolvimento propositivo da Arquitetura Bioclimática Amazônica, a Escola Gonçalves Dias é um dos edifícios e projetos de Severiano Mário Porto em Boa Vista, devendo induzir a necessidade de estudos mais profundos e posteriores sobre a forma da concepção nesses moldes para o ambiente de savana, em que Boa Vista se insere. Desta forma, a Avaliação de Pós-Ocupação se torna uma metodologia importante para o estudo analítico da eficiência dos projetos da Arquitetura Bioclimática Amazônica, e dos processos de adaptação que estes edifícios sofreram ao longo dos anos, incorporando tecnologias de climatização e iluminação, especialmente, e outras intervenções, buscando entender a relação de causa e efeito dessas intervenções. No estudo de caso em tela, da Escola Estadual Gonçalves Dias, é possível observar alterações que, além de comprometer esteticamente a composição arquitetônica, também indicam terem sido indutoras do comprometimento da eficiência do projeto original. Em uma análise preliminar, temos que as alterações realizadas na cobertura foram as mais significativas. O aumento da inclinação do ângulo da cobertura e sua projeção, configurando um beiral, fez com que a leitura, marcadamente horizontal, e os elementos estruturais do sistema de vigas superiores, fosse comprometida. A partir da informação das entrevistas preliminares desta pesquisa, a modificação justificou-se devido à necessidade de melhorar o escoamento das águas pluviais, pois o formato antigo com pouca inclinação, não escoava

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as águas de forma adequada, acumulava sujava a estrutura e consequentemente gerando as já citadas infiltrações que danificavam a estrutura e a pintura. Pode-se supor, a partir de iconografia de época, como hipótese, que o inicialmente proposto consistia de sistema telhado e calha, oculta pelas vigas e que, na verdade, o problema da drenagem da água pluvial pudesse estar associado à falta de devida manutenção de calhas e tubos de queda. Da mesma forma temos que a substituição de esquadrias de venezianas por vidros, de forma clara e evidente, compromete a ventilação cruzada nos ambientes, gerando a necessidade de incorporação de sistemas mecânicos de climatização ambiental e, por conseguinte, a presença de redes elétricas aparentes. A construção de anexos também pode ter sido fator para o comprometimento do fluxo eólico, contudo, esses elementos entram sob a forma de hipóteses a ser consideradas na análise. Entretanto, a partir da análise preliminar destas duas modificações realizadas na edificação – cobertura e alteração das esquadrias – é possível verificar que as mesmas influenciarão na avaliação geral, no estado atual de uso da edificação, a ser realizada por meio da aplicação dos instrumentos da APO, especialmente os questionários e entrevistas, o que comprometerá a verificação da eficiência da proposta de arquitetura bioclimática. Assim sendo, há de ser relevante a avaliação técnica e os aspectos históricos da edificação, a fim de permitir a proposição de indicativos para futuras intervenções que venham ao encontro da maturidade propositiva inicial. Discutir a obra de Severiano Mário Porto, Milton Monte e demais arquitetos dessa cepa é importante e atual, mesmo que nos remeta a proposições de décadas passadas, visto que preocupações vem sendo incorporadas à agenda de estudos no campo da Arquitetura e Urbanismo, como a eficiência energética e questões de inserção ecoeficientes dos espaços construídos.

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4.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, Jorge; LACERDA, Leonardo; PENNA, Ana Cláudia (Org.). Avaliação Pós Ocupação: APO: Saúde nas Edificações da FIOCRUZ. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004. FONSECA, Roger Pamponet da; PONTES, Daniel Lins Falcone; SANCHÉZ, José Emanuel Morales. Brutalismo Amazônico: a obra de Severiano Mario Porto. In: X SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL, ARQUITETURA MODERNA E INTERNACIONAL: CONEXÕES BRUTALISTICAS 1955-75, Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2013. Disponível em: www.docomomo.org.br/seminario%2010%20pdfs/CON_31.pdf. Acesso em jan.2016. FUÃO, Fernando Freitas. Brutalismo: A última trincheira do movimento moderno. Arquitextos,

São

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