AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E QUALIDADE DE PORTAENXERTOS E MUDAS DE CACAUEIROS

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Descrição do Produto

Agrotrópica 28(2): 141 - 150. 2016. Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E QUALIDADE DE PORTAENXERTOS E MUDAS DE CACAUEIROS George Andrade Sodré1,2, Amanda Oliveira de Macedo3, Guilherme Amorim Homem de Abreu Loureiro2,4 1

CEPLAC/ CEPEC/Seção de Solos. Km 22 Rod. Ilhéus/Itabuna, caixa postal 07, 45600-970, Ilh, Bahia; 2Universidade Estadual de Santa Cruz /DCAA. Km 16 Rod. Ilhéus/Itabuna, Salobrinho, 45662-900, Ilhéus, Bahia, [email protected]; 3 Consultora autônoma, [email protected]; 4Bolsista da Fapesb, Edital 19/2013, [email protected]

O trabalho avaliou o crescimento e qualidade de portaenxertos e mudas enxertadas de cacaueiros usando sementes de polinização natural do clone TSH-1188 e de polinização controlada (TSH-1188 x CCN-10). Foram realizados dois ensaios, sendo um para portaenxerto e outro para muda enxertada. O delineamento foi inteiramente casualizado com tratamentos correspondentes às origens da semente, uma planta por parcela e 30 repetições. Sementes pré-germinadas foram plantadas em tubetes de 800 cm3 preenchidos com substrato e passados 90 dias as plantas foram avaliadas em comprimento da planta (CP) e diâmetro do coleto (DC). Em seguida foram cortadas e avaliadas em: biomassa seca das raízes (BSR), caules (BSC), folhas (BSF), parte aérea (BSA), total (BST) e índice de qualidade de Dickson (IQD). Para enxertia, 30 plantas foram separadas por tipo de polinização e enxertadas por garfagem usando o clone BN-34. Aos 30, 45, 60, 75 e 90 dias após enxertia foram realizadas avaliações de comprimento da planta (CTP; garfo e portaenxerto) diâmetro do garfo (DMG) e número de folhas na haste enxertada (NFE). A avaliação final do segundo ensaio foi realizada 90 dias após a enxertia onde as plantas foram avaliadas em altura e diâmetro e em seguida cortadas na altura do coleto e obtidas a BST, BSR e IQD. Os resultados mostraram que mudas obtidas em plantas de polinização controlada apresentaram maior uniformidade biométrica expressa pelo IQD, tanto para portaenxertos como para plantas enxertadas com o clone BN-34. Palavras-chave: IQD, enxertia, polinização, Theobroma cacao L.

Growth rate and quality of rootstocks and cocoa seedlings. The experiment evaluated the growth and quality of rootstocks and grafted seedlings using cacao seeds of natural pollination, of the clone TSH-1188 and controlled pollination (TSH-1188 x CCN-10). Assays were carried to compare rootstock and grafted plants. The experimental design was completely randomized with the treatments formed by seed origin, one plant per plot and 30 replications. Pre-germinated seeds were planted in plastic tubes of 800 cm3 filled with substrate and after 90 days the plants were evaluated in plant length (CP) and stem diameter (DC). After 90 days were cut and evaluated: dry biomass of roots (BSR), stems (BSC), leaves (BSF), shoot (BSA), total (BST) and Dickson Quality Index (DQI). For grafting, 30 plants were separated by type of pollination and grafting with the clone BN-34. At 30, 45, 60, 75 and 90 days after grafting were evaluated for plant length (CPT; grafting and rootstock), trunk diameter (DMG) and number of leaves in the grafted stem (NFE). The evaluation of the second assay was performed 90 days after grafting where the plants were assessed for height and diameter, and then cut off to get BST, BSR and IQD. The results showed that seedlings from seeds of controlled pollination showed greater biometric uniformity expressed by IQD, in rootstocks as well as grafting plants with the BN-34 clone. Key words: IQD; grafting; pollination; Theobroma cacao L.

Recebido para publicação em 23 de fevereiro de 2016. Aceito em 28 de julho de 2016. DOI: 10.21757/0103-3816.2016v28n2p101-122

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Sodré, Macedo e Loureiro

Introdução Os novos caminhos e oportunidades para o cultivo do cacaueiro (Theobroma cacao L) no Brasil indicam que existem tecnologias para cultivo intensivo que possibilitam produções acima de 3000 kg ha-1ano-1 (Leite et al., 2015). Esses autores citam que é necessário adotar tecnologias e destacam o uso de clones autocompatíveis, tolerantes a enfermidades, fertirrigação, plantio com sombra reduzida e quebra ventos e ainda que para formação dessas novas áreas as mudas de cacaueiro podem ser obtidas tanto por estaquia quanto por enxertia. Os portaenxertos são usados em muitas espécies para minimizar efeitos restritivos à produção das plantas em campo a exemplo de compactação do solo e infecção por patógenos de solo. Embora existam estudos gerais sobre o tema portaenxerto em cacaueiros (Sodré et al., 2012a; Sena Gomes & Sodré, 2015), existem ainda questões não bem compreendidas, a exemplo da origem do portaenxerto e mecanismos envolvidos na interação com o enxerto. De acordo com Hartmann et al. (2002) o portaenxerto pode afetar a qualidade da fruta e altura da planta. No cultivo do cacaueiro os portaenxertos podem ser propagados por sementes, alporques, estacas e cultura de tecidos (Westwood, 1993). Contudo, a maioria dos portaenxertos ainda é obtida a partir de sementes de polinização natural. Isto ocorre pela facilidade e baixo custo de obter sementes nas áreas de produção, bem como no preparo das mudas seminais. Em geral, o sistema de produção consiste em transplantar sementes de cacaueiro prégerminadas para sacos de polietileno preenchidos com solo ou substrato agrícola e a partir de 4 meses realizar a enxertia (Sodré, 2013). Os portaenxertos para produzir mudas de cacaueiro são selecionados para agregar vigor e produtividade às plantas além de resistência às doenças (Sena Gomes & Sodré, 2015). Por exemplo, no estado da Bahia os produtores de cacau geralmente usam como portaenxertos variedades de cacau comum e do clone Trinidad Selected Hybrid “TSH 1188” porque são resistentes ao fungo Ceratocystis cacaofunesta. Esses materiais, no entanto, diferem entre si pelo grupo genético e pela autocompatibilidade sendo o cacau comum pertencente ao grupo forasteiro e apresenta Agrotrópica 28(2) 2016

autocompatibilidade e o TSH 1188 ao grupo trinitário e autoincompatibilidade (Lopes et al., 2015). Aferir características qualitativas das mudas de cacaueiro é uma importante etapa do processo produtivo que objetiva elevar as taxas de sobrevivência em campo e produção uniforme. Segundo Binotto (2007), a “qualidade da muda” é um conjunto de atributos necessários para o desenvolvimento e sobrevivência após o plantio em campo. A qualidade de mudas de cacaueiros pode ser estimada a partir do Índice de Qualidade de Dickson IQD (Dickson et al., 1960; Sosa-Pérez & RodríguezTrejo, 2003). O IQD consiste no cálculo de variáveis de qualidade que são tomadas a partir da análise de crescimento, relacionando-o com altura, diâmetro e biomassa seca. É apontado como eficiente indicador de qualidade de mudas pelo fato de analisar o equilíbrio da distribuição da biomassa na planta (Fonseca, 2000). O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento e qualidade (IQD) de portaenxertos de cacaueiros produzidos com sementes de polinização natural do clone TSH-1188 e controlada (TSH-1188 x CCN-10) e de mudas usando esses portaenxertos enxertados com o clone BN-34. Material e Métodos O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), unidade de pesquisa da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) localizado no município de Ilhéus, BA. Foram realizados dois ensaios, o primeiro para avaliar o portaenxerto e o segundo a muda enxertada. Nos dois ensaios o delineamento experimental foi inteiramente casualizado com os tratamentos correspondentes às origens da semente para portaenxerto (polinização natural - TSH-1188 e polinização controlada - TSH-1188 x CCN-10), 30 repetições e uma planta por unidade experimental. Os frutos de onde se retirou as sementes para produzir os portaenxertos foram coletados na mesma planta do clone TSH 1188 e diferiram por polinização natural e controlada. Pela característica de autoincompatibilidade do clone TSH-1188 não foi necessário investigar a origem do pólen que resultou em frutos de polinização natural. O clone CCN-10 foi escolhido como doador de pólen por ser compatível

Crescimento e qualidade de portaenxertos e mudas de cacaueiros

como TSH-1188 e por não haver plantas desse clone nas imediações da área onde se coletou os frutos. A polinização controlada foi manual e realizada seis meses antes da colheita dos frutos. Para produção dos portaenxertos as sementes foram retiradas dos frutos, limpas em mistura de serragem e areia 1:1 (v:v) e colocadas para germinar na mesma mistura, previamente umedecida, durante cinco dias. Foi semeada uma semente pré-germinada por tubete compondo a unidade experimental. Foram usados tubetes estriados, com capacidade para 800 cm³, totalmente preenchidos com mistura de substratos e fertilizantes (Tabela 1). Também foi determinada a densidade úmida, pH em água na proporção substrato:água de 1:2,5 e condutividade elétrica (CE) com auxílio de condutivímetro digital (Tabela 2). Os resultados da análise do substrato mostraram que não havia limitações para produção de mudas de cacaueiro e estavam de acordo com recomendações de Sodré e Marrocos (2009). Após a semeadura a irrigação foi realizada diariamente com água deionizada para manter a umidade do substrato em 60% da máxima capacidade de retenção de água. A cada 15 dias foi aplicado, para controle de doenças, 10 mL por planta do fungicida Carbendazim (Derosal® 1 mL L-1) e 15 mL do adubo foliar Albatroz® 10-52-10 (N, P, K) + micronutrientes (1 g L-1). Passados 90 dias da enxertia, foi mensurado o diâmetro do coleto (DC) e comprimento de cada planta (CP). Em seguida foram cortadas na altura do coleto, armazenadas em sacos de papel e colocadas para secar em estufa de circulação forçada de ar a 65 ºC até massa constante. Obteve-se a biomassa seca das raízes (BSR), caules (BSC) e folhas (BSF). Foram estimadas a biomassa seca da parte aérea (BSA = BSC + BSF) e biomassa seca total (BST = BSA + BSR) e a relação entre biomassas da parte aérea e das raízes RAR: BSA RAR = BSR e entre comprimento total da planta e diâmetro do coleto RAD: RAD = CP DC

O segundo ensaio foi instalado aos 90 dias onde trinta plantas (unidades experimentais) de cada portaenxerto, foram enxertadas por garfagem de fenda

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Tabela 1 - Componentes do substrato utilizado no experimento Produto

Quantidade

Substrato Carolina Padrão® Substrato Tropstrato Florestal® Superfosfato Simples Fertilizante PGMIX® N, P, K (14-16-18 + micros) Fertilizante Osmocote ® N, P, K (19-06-10)

12,5 kg 25 kg 109 g 41,5 g 45,5 g

Tabela 2 – Caracterização granulométrica, condutividade elétrica (CE), pH, densidade úmida (Ds) e umidade gravimétrica (U) do substrato usado no experimento (n = 4) Peneiras (mm) < 0,5

1,0

35,5 ± 0,63

4,0

41,7 ± 7,24 18,2 ± 2,36 4,5 ± 1,73

CE Média ± DP

2,0 %

Média ± DP

pH µS cm-1

600 ± 0,06

5,6 ± 0,6

Ds

U g dm-3

0,44 ± 0,01

51,9 ± 0,9

cheia usando o clone BN-34 segundo metodologia recomendada por Sodré (2013). Aos 30, 45, 60, 75 e 90 dias após enxertia foram realizadas avaliações de comprimento total da planta (garfo e portaenxerto) (CTP), diâmetro médio do garfo (DMG) e número de folhas crescidas na haste enxertada (NFE). A avaliação final do segundo ensaio foi realizada 90 dias após a enxertia. As mudas enxertadas foram avaliadas em CTP e DMG e imediatamente cortadas na altura do coleto. O material vegetal foi seco em estufa de circulação forçada de ar a 65 ºC até massa constante para obtenção da BST e BSR. O índice de qualidade de Dickson (IQD) Dickson et al. (1960), foi usado para avaliar a qualidade do portaenxerto e da muda enxertada. O IQD foi determinado por meio da expressão: IQD = BST / (RAR + RAD). Os dados foram submetidos à análise de variância e comparações de médias dos tratamentos pelo teste F (p
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