Avaliação dos cuidados com a pele exposta à radiação solar em um grupo de mulheres tabagistas a partir de 35 anos no município de Balneário Camboriú - SC

July 6, 2017 | Autor: G. Medeiros | Categoria: Cancer, Skin Cancer, Fisioterapia, Ultraviolet Radiation, Tabagismo
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Avaliação dos cuidados com a pele exposta à radiação solar em um grupo de mulheres tabagistas a partir de 35 anos no município de Balneário Camboriú - SC Helena Berner1; Gabriella de Almeida Raschke Medeiros2 1

Orientador do Projeto; Especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional pelo CBES 2 Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional Metodologia da Pesquisa Científica / Fisioterapia Dermato-Funcional Instituição: Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES Curitiba

Resumo – A nicotina é o composto presente no cigarro que provoca isquemia crônica dos tecidos, lesando as fibras elásticas e diminuindo a síntese de colágeno. Sabendo-se da fragilidade da pele submetida aos efeitos desta substância e o hábito da exposição solar, tal condição acarreta maior risco para o desenvolvimento do melanoma - a mais agressiva das neoplasias cutâneas. Este estudo objetivou caracterizar os cuidados que mulheres tabagistas a partir de 35 anos apresentavam em relação à pele. A metodologia utilizada foi pesquisa de campo exploratória, descritiva desenvolvida através de questionário. A população estudada foi composta por 30 mulheres com idade a partir de 35 anos, tabagistas e que freqüentavam o Núcleo de Atenção à Mulher II em Balneário Camboriú – Santa Catarina, no período de março a junho de 2009. Para o levantamento dos dados utilizou-se questionário composto por dados de identificação (iniciais do nome, idade, gênero, grau de escolaridade e profissão) seguido de questões referentes aos cuidados com a pele e sua influência com o tabagismo, sendo estas em número de 15 fechadas e 1 aberta. O presente estudo resultou com o seguinte perfil de respondentes: mulheres na faixa etária dos 46-50 anos, donas de casa e com ensino fundamental incompleto em sua maioria. As mulheres se expõem ao sol de segunda à sexta-feira entre 2-6 horas por dia, e nos finais de semana se expõem ao sol por no máximo 2 horas diárias. Além disso, buscam o sol nos horários considerados mais amenos. Quanto ao uso de filtro solar, identificamos que 67% utilizam o produto, 57% fazem uso de protetor solar durante todas as estações do ano e 40% utilizam o filtro na prática de atividade física ao ar livre. Para 76% das entrevistadas há utilização de FPS acima de 15. Dentre os meios físicos de proteção, o mais utilizado foi óculos de sol com 37% da preferência, seguidos de chapéu/boné e guarda-sol respectivamente. Verificou-se que mais da metade destas mulheres iniciaram o hábito de fumar ainda na adolescência, entre 15-19 anos e apresentam um consumo médio de 6-10 cigarros/dia. A análise dos cuidados relativos à pele evidenciou que 70% das mulheres utilizam algum tipo de creme hidratante, estando 57% delas satisfeitas com a sua pele. No entanto, os resultados apontaram que 93% identificam a presença de linhas de expressão em seu rosto, com maior percepção para o canto dos olhos, seguido da região ao redor dos lábios. Por fim, os dados apontaram predomínio de ausência para história de câncer de pele e de pulmão na família. Os resultados obtidos sinalizam que, apesar das alterações teciduais da pele e de saúde causadas pelo tabagismo incluírem-se num assunto mundialmente estudado; a literatura a cerca desta temática apresenta-se em pequena extensão. Neste sentido, concluímos com a idéia de que o tabagismo exige uma abordagem interdisciplinar por parte dos profissionais da saúde. Seu enfrentamento depende, intrinsecamente, da vontade coletiva social e não exclusivamente do cuidado biomédico por meio da aplicação de vacinas, antibióticos e quimioterápicos. Palavras-chave: dermatologia, raios ultra-violeta, efeitos adversos, tabagismo. Abstract – Nicotine is the compound present in tobacco that causes chronic tissue ischemia, adversely affecting the elastic fibers and decreasing the synthesis of collagen. Knowing is the fragility of the skin subjected to the effects of this substance and the habit of sun exposure, this condition causes increased risk for the development of melanoma - the most aggressive skin cancers. This study aimed to characterize the care that women smokers from 35 years had on the skin. The methodology was exploratory field research, developed through descriptive questionnaire. The study population comprised 30 women aged from 35 years, and smokers who attended the Center for

Women Attention II in Balneário Camboriú - Santa Catarina, in the period March to June of 2009. For the survey data was used questionnaire consisting of identification data (name, age, gender, level of education and occupation), followed by issues related to caring for the skin and its influence with smoking, being in number of 15 closed and 1 open. This study led to the following profile of respondents: women in the age group of 46-50 years, housewives with primary school in most of them. Women are exposed to the sun from Monday to Friday between 2-6 hours per day and on weekends they exposed to sunlight for a maximum of 2 hours daily. In addition, seek the sun at times considered more mild. To use of solar filter, we identified that 67% use the product, 57% make use of sunscreen during all seasons of the year and 40% use the filter in physical activity outside. To 76% of respondents use the FPS is above 15. Among the means of physical protection, as was used sunglasses with 37% of preference, followed by hat / cap and umbrella. It was found that more than half of these women started the habit of smoking even in adolescence, between 15-19 years and have an average consumption of 6-10 cigarettes / day. The analysis of care for the skin showed that 70% of women use some type of moisturizing cream, and 57% were satisfied with their skin. However, the results showed that 93% identify the presence of lines of expression on his face, with greater awareness to the corner of the eyes, followed by the region around the lips. Finally, the data showed a predominance of absence for a history of skin cancer and lung in the family. The results indicate that, despite the tissue changes of skin and health caused by smoking include in a world subject studied, the literature about this issue comes in small extent. Accordingly we conclude with the idea that smoking requires an interdisciplinary approach by health professionals. His face is, intrinsically, the collective will of not only social and biomedical care through the application of vaccines, antibiotics and chemotherapy. Key-words: dermatology, ultraviolet rays, adverse effects, smoking.

Introdução O tabagismo é uma das dependências mais prevalentes em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) através de um levantamento realizado no ano de 2005 apontou que 10,1% da população brasileira entre 12 e 65 anos é dependente do tabaco (CARLINI et al., 2005). Esta droga por ser a mais utilizada e disseminada no mundo é responsável por aproximadamente cinqüenta por cento das cinco milhões de mortes registradas no ano 2000 nos países em desenvolvimento. Estimase que em 2015 as mortes relacionadas ao fumo superarão em 50% aquelas causadas pela epidemia de HIV/Aids e que, o tabaco será responsável por aproximadamente 10% de todas as mortes no mundo (AZEVEDO et al., 2008). Diante deste cenário, os prejuízos causados à saúde pelo hábito de fumar são amplamente conhecidos e seu controle é considerado pela OMS como um dos maiores desafios da Saúde Pública atualmente. Há fortes evidências de que o tabaco faça parte da cadeia de causalidade de quase 50 diferentes tipos de doenças, destacando-se o grupo das doenças cardiovasculares,

cânceres e doenças respiratórias (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999). De acordo com Suehara, Simone e Maia (2006), o tabagismo também provoca alterações na pele mediante mecanismos fisiopatológicos bastante complexos. Sabe-se que a fumaça do cigarro contém mais de 4.000 substâncias tóxicas, mas é a nicotina o composto mais nocivo. Ela é responsável pela vasoconstrição, que gera diminuição do fluxo sangüíneo. Para estes autores, o conjunto destes fatores gera hipóxia tissular significativa, ou seja, um único cigarro determina vasoconstrição cutânea por mais de 90 minutos. A isquemia crônica dos tecidos provoca lesão das fibras elásticas e diminuição da síntese do colágeno. No ano de 1985 Model definiu os critérios clínicos para análise do que ele chamou de “fácies de tabagismo”, sendo estes: rugas perilabiais proeminentes, proeminência dos contornos ósseos, pele atrófica e cinzenta. O autor considerou que apenas um critério seria suficiente para caracterizar tal fácies (SUEHARA, SIMONE e MAIA, 2009). Sabendo-se da fragilidade da pele submetida aos efeitos da nicotina, não é possível deixar de mencionar o hábito da exposição solar, de alto valor estético no

Brasil, com objetivo de bronzeamento da pele. Desta forma, a associação tabaco e exposição solar acarreta maior risco para o desenvolvimento do melanoma - a mais agressiva das neoplasias cutâneas (WEBER et al., 2007). Neste sentido, o câncer de pele é um grave problema de Saúde Pública devido ao aumento em sua incidência no século XX, provocado principalmente pelas mudanças de hábito da população mundial com relação à exposição solar (COSTA e WEBER, 2004). O uso adequado de filtro solar ainda é considerado baixo não apenas por questões econômicas, mas também por percepções equivocadas por parte da população que entende sua utilidade apenas quando há a intenção de bronzeamento durante o verão. Atividades como esporte ao ar livre e caminhada não são, em geral, consideradas exposições que mereçam proteção (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2006). Dada a importância desta temática para o planejamento de estratégias diferenciadas de proteção à radiação solar no país, assim como, estimular o desenvolvimento de estudos que aprofundem o conhecimento a cerca das alterações teciduais da pele causadas pelo tabagismo, o desenvolvimento desta pesquisa pretendeu responder a seguinte pergunta: quais são os cuidados que mulheres tabagistas acima de 35 anos de idade apresentam em relação à pele? Método O presente estudo caracterizou-se por uma pesquisa de campo do tipo exploratória, descritiva desenvolvida através da elaboração de um questionário. A população estudada foi composta por 30 mulheres que atendiam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 35 anos, tabagistas e que freqüentavam o Núcleo de Atenção à Mulher II – NAM II no município de Balneário Camboriú – Santa Catarina, mediante prévia autorização da Secretaria Municipal de Saúde, no período de março a junho de 2009. A amostra foi composta pelo conjunto de respondentes, ou seja, mulheres que freqüentavam o NAM II para consultas e atendimentos na área de Saúde da Mulher e que se dispuseram a participar do estudo preenchendo o instrumento devidamente no prazo estabelecido. Foram excluídas deste

estudo as mulheres que freqüentavam o NAM II e que, mesmo apresentando idade igual ou superior a 35 anos e sendo tabagistas, encontravam-se no período gestacional. Para o levantamento dos dados foi utilizado um questionário composto primeiramente pelos dados de identificação, sendo: iniciais do nome, idade, gênero, grau de escolaridade e profissão. Secundariamente, o instrumento de pesquisa abordou questões referentes aos cuidados com a pele e sua influência com o tabagismo, sendo estas em número de 15 fechadas e 1 aberta, focalizando os objetivos propostos pela pesquisa. Os dados foram organizados conforme distribuição de freqüência em números absolutos e percentuais e, analisadas as tendências identificadas segundo concentração ou dispersão dos mesmos. No que diz respeito aos sujeitos que compuseram a amostra estudada, o processo da pesquisa obedeceu a todos os procedimentos técnicos e éticos estabelecidos pelas Resoluções 196/96 e 251/97, do Conselho Nacional de Saúde, bem como normalizações emanadas da Comissão de Ética em Pesquisa do CBES. As informantes foram consultadas sobre o interesse em participar da pesquisa, sendo então esclarecidos os objetivos, justificativa, metodologia e importância de sua participação. A confirmação do interesse se deu através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisadora também informou que os dados seriam utilizados para fins acadêmicos de pesquisa e publicações; e que os resultados ficariam à disposição dos entrevistados e das instituições participantes da pesquisa. Aquelas que não se motivaram a responder ao instrumento, foi-lhes resguardado este direito. Resultados e Discussão O desenvolvimento deste estudo contou com a participação de 30 (trinta) mulheres tabagistas que atendiam uma faixa etária igual ou superior aos 35 anos de idade e que freqüentavam o Núcleo de Atenção à Mulher II – NAM II do município de Balneário Camboriú/SC. Os dados foram coletados no período de março a junho de 2009 por meio da utilização de um questionário aplicado individualmente com cada participante, contendo 19 perguntas relacionadas a dados pessoais, sociais e informações a respeito de

Profissão 12

Valores absolutos

10

10

9

8 6 4

2

3

2

2 2

2

Outras

Vendedora

Servente

Téc. Enfermagem

Dona de casa

Diarista

0

Enfermeira

exposição solar, uso de filtro solar, cuidados com a pele e história familiar de câncer de pele e de pulmão. A distribuição etária das participantes revelou que 40% estavam entre os 46-50 anos de idade. Quanto ao grau de escolaridade, os achados demonstraram homogeneidade perante os níveis de instrução escolar, sendo estes: 36% das mulheres entrevistadas apresentaram o ensino fundamental, 34% compreenderam o nível médio e 30% se enquadraram no nível superior. Verifica-se, portanto, maior contingente de entrevistadas tendo apenas o primeiro grau, e indo além: daquelas que apresentavam o nível fundamental, 23% tinham o primeiro grau incompleto. Estudo realizado por Hora et al. (2003) com o objetivo de avaliar o conhecimento de freqüentadores de academia de ginástica em Recife quanto à prevenção do câncer de pele, apontou que, somados os indivíduos que haviam cursado os ensinos fundamental, médio e superior, 99,4% dos entrevistados tinham algum nível de instrução - com insignificante percentual de indivíduos sem escolaridade. Ainda no que tange à escolaridade, Popim et al. (2008) apontam uma relação proporcional entre o nível de escolaridade e os cuidados relativos à pele: quanto maior a escolaridade maior também será a tendência da população em utilizar equipamentos de proteção ao sol, fazer uso adequado de filtro solar e inspecionar freqüentemente a pele. As respostas ao item profissão demonstraram que as donas de casa constituíram maioria da amostra em nosso estudo, representando 32% do total das 30 mulheres entrevistadas, seguidas pelas diaristas com 10% do total. Encontramos ainda 7% para cada uma das seguintes profissões: enfermeira, técnica de enfermagem, servente e vendedora – configurando 28% da amostra. Na categoria “Outras” se enquadraram apenas uma representante para cada uma das atividades de trabalho, que seguem: auxiliar operacional, artesã, repositora de mercadorias, educadora física, governanta, ajudante de cozinha, garçonete, professora a aposentada. A distribuição pode ser observada no gráfico 1:

Categorias profissionais

FONTE: dados da pesquisa. Ao analisar a prevalência de tabagismo e fatores associados ao consumo em uma área metropolitana do sul do Brasil, os autores Moreira et al. (1995, p.49) afirmam que a população latinoamericana em conjunto com suas características sociodemográficas, [...] concorrem para uma maior suscetibilidade ao tabagismo. Mudanças na estrutura da população, maior urbanização, ingresso da mulher na população economicamente ativa, maior acesso à educação e conseqüentemente à propaganda.

Tais fatores apontam maiores prevalências de tabagismo nas categorias inferiores. Inúmeras são as repercussões negativas do tabagismo sobre o organismo feminino, tal constatação é encontrada com recorrência na literatura (ALDRIGHI et al., 2005; BRASIL, 2001). Por exemplo, o fumo atua diretamente na matriz óssea, reduzindo a atividade osteoblástica e contribuindo para o desenvolvimento de osteoporose. Coronariopatia isquêmica e doença cerebrovascular são outras patologias desencadeadas pelo hábito de fumar, uma vez que o tabaco exerce expressivas ações que fragilizam as lipoproteínas e colocam em risco o sistema de coagulação e as paredes dos vasos sanguíneos (ALDRIGHI et al., 2005). Em publicação lançada pelo Instituto Nacional do Câncer – INCA no ano de 2001, os dados trazidos por esta instituição apontaram que as mulheres que usam contraceptivos orais apresentam um risco ligeiramente mais elevado de virem a ter doenças cardiovasculares, quando comparadas à mulheres que não fazem uso deste tipo de medicação. No entanto, o risco de desenvolverem doenças cardiovasculares passa a ser 20 a 40 vezes maior quando associam o uso de contraceptivos ao tabaco.

O documento vai além, trazendo que, estudos realizados demonstraram que mesmo fumando o mesmo número de cigarros que os homens, o grupo feminino apresenta taxas mais elevadas de câncer de pulmão. Ou seja, os efeitos carcinógenos do tabaco demonstraram ser mais suscetíveis às mulheres do que aos homens (BRASIL, 2001). Quando os indivíduos foram questionados sobre a exposição solar diária de segunda à sexta-feira, encontramos que 53% das mulheres permaneciam expostas ao sol entre 2 – 6 horas por dia, como pode ser verificado no gráfico 2:

Valores absolutos

Questão 1 - Exposição solar diária de segunda à sexta-feira: 20 15

53% 37%

10 10%

5 0 até 2 horas

entre 2 e 6 horas

mais de 6 horas

Quantidade de horas em exposição solar

FONTE: dados da pesquisa. Situação diversa foi encontrada quando questionamos sobre a exposição solar diária nos finais de semana (sábado e domingo). Apesar de tal exposição estar relacionada com atividades de lazer, 50% das entrevistadas afirmaram se expor ao sol por no máximo 2 horas diárias, conforme análise do gráfico 3:

Valores absolutos

Questão 2 - Exposição solar diária no final de semana (sábado e domingo): 20 50% 15

47%

10 3%

5 0 até 2 horas

entre 2 e 6 horas

mais de 6 horas

Quantidade de horas em exposição solar

FONTE: dados da pesquisa. Comparando a fotoexposição diária de segunda à sexta-feira com tal condição nos finais de semana, observamos que as entrevistadas tendem à exposição solar na primeira situação: durante a semana. Este fato nos leva a crer que, em função da idade e do perfil profissional identificado neste estudo, as atividades de trabalho e atribuições da rotina caseira (idas ao supermercado, buscar as crianças na escola, estender as roupas, fazer

a feira) são situações que colocam essas mulheres em maior número de horas expostas à radiação solar. Algumas entrevistadas colocaram que, nos finais de semana, preferem o descanso do lar e o contato íntimo com a família, mesmo afirmando morar em uma cidade balneária. No inquérito realizado por Hora et al. (2003), já mencionado anteriormente neste artigo, os autores encontraram que 87,3% da amostra estudada conhecia os danos ou conseqüências da exposição solar, sendo as mulheres o grupo que melhor demonstrou tais conhecimentos. Com relação à faixa etária, foi identificado um fator de inversão proporcional: à medida que a idade aumentava, o percentual de indivíduos susceptíveis à radiação solar diária diminuía. Os resultados encontrados em nosso estudo e no inquérito de Hora et al. (2003) levam à reflexão de que, embora o aparecimento clínico dos tumores da pele ocorra predominantemente em idades avançadas, é a fotoexposição a maior condição de risco ambiental para o desenvolvimento das neoplasias cutâneas. Tal condição se agrava em países com predomínio dos climas tropical e equatorial, como o Brasil, onde a população sofre intensa exposição solar (SORTINO-RACHOU, CURADO e LATORRE, 2006) Em nosso estudo observou-se que as entrevistadas se expunham ao sol nos horários considerados mais amenos, até às 10 horas da manhã (60%) e após às 15 horas (23%), compondo 83% da amostra. Já 17% das entrevistadas se expõem ao sol no período considerado crítico, entre 10 e 15 horas. Em contraponto aos resultados verificados em nosso estudo, encontramos na literatura de Hora et al. (2003) que 72,2% dos entrevistados se expunham ao sol no período considerado crítico - das 9 às 15 horas, 24% no início da manhã e 5,2% após às 15horas. A exposição excessiva ao sol é o principal fator de risco do câncer de pele. Pessoas que vivem em países tropicais, como o Brasil, estão mais expostas a esse tipo de doença (POPIM et al., 2008). O espectro da radiação ultravioleta é subdividido em três bandas, conforme seu comprimento de onda: UVA, UVB e UVC. Os raios UVA apresentam o comprimento de onda mais longo (315-400nm) e são indutores de processos oxidativos. Sua incidência não está relacionada à camada de ozônio, portanto, provoca câncer de pele em indivíduos que se

expõem ao sol nos horários impróprios, de maneira contínua e durante muitos anos. A radiação UVB, com comprimento de onda na ordem de 280-315nm, é responsável por danos diretos ao DNA, foto-imunossupressão, eritema, espessamento do extrato córneo e melanogênese. Por fim os raios UVC (100280nm) são bactericidas, carcinogênicos e contêm o pico de absorção pelo DNA puro. Estes dois últimos tipos de radiação, em conseqüência da destruição da camada de ozônio, encontram-se intimamente relacionados ao câncer de pele (MOTA e BARJA, 2006; POPIM et al., 2008). Quando as entrevistadas foram questionadas a respeito do uso de filtro solar, identificamos que 67% das mulheres afirmaram fazer uso do produto. Na seqüência apresentamos os resultados referentes ao fator de proteção solar (FPS) e, encontramos que 76% das entrevistadas faziam uso de FPS acima de 15. Os gráficos 4 e 5 demonstram os respectivos achados: Questão 4 - Faz uso de filtro solar?

3% 30%

Sim Não Ás vezes 67%

FONTE: dados da pesquisa.

Porcentagem

Questão 5 - Qual o fator de proteção solar (FPS) que faz uso? 76%

80% 60% 40% 20%

19%

5%

0%

O estudo realizado em Botucatu por Popim et al. (2008), com indivíduos considerados grupo de risco para o desenvolvimento de câncer de pele, demonstrou que, sobre o uso de filtro solar, 63,63% afirmaram usar, sendo que 52,38% o faziam diariamente e 28,57% o faziam entre duas a três vezes por semana. Houve um percentual de 36,37% que negou fazer uso do filtro solar, sendo que 75% deste total não fazia uso por falta de costume e 25% devido ao alto custo. Situados no interior da epiderme, os melanócitos são as células responsáveis pela produção de melanina, proteína que confere pigmentação à pele, olhos e cabelos além de ser responsável pela proteção da pele contra os raios ultravioleta (ORIÁ et al., 2003). A radiação atua na pele acumulandose em alguns receptores e gerando reações junto ao metabolismo tecidual, por exemplo: a radiação UVA promove a oxidação dos precursores incolores da melanina, gerando pigmentação direta e imediata sem eritema, enquanto que a radiação UVB gera pigmentação indireta pelo aumento do número de melanócitos ativos e estimulação da tirosinase, provocando eritema actínico. Para conferir tal proteção às agressões solares, os melanossomas se reagrupam em torno do núcleo para proteger o material genético da célula. Assim, além de promover coloração cutânea e capilar, a melanina age como filtro solar endógeno da pele (MOTA e BARJA, 2006). A respeito da utilização de filtro solar durante as estações do ano verão, primavera e verão e ano todo, 57% das entrevistadas afirmaram fazer uso de protetor solar durante todas as estações do ano, contra 38% que fazem uso do protetor solar apenas no verão. O gráfico 6 apresenta estes dados:

0% até FPS 8

entre FPS 8 e FPS 15

acima de FPS não soube dizer 15 qual FPS faz uso

Questão 6 - Faz uso de filtro solar nas estações do ano:

FONTE: dados da pesquisa. Para a discussão dos resultados referente aos gráficos acima, citamos novamente o trabalho de Hora et al. (2003) com freqüentadores de academia de ginástica em Recife. Neste trabalho, quanto à freqüência do uso do protetor solar, a maioria (56,8%) fazia uso durante a exposição ao sol, enquanto 29,9% utilizava o protetor solar diariamente.

Porcentagem

Categorias de FPS 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

57% 38%

5%

somente verão

primavera e verão

todas as estações do ano

Estações do ano

FONTE: dados da pesquisa. O estudo de Hora et al. (2003) no Nordeste do Brasil apresentou achados divergentes. Verificou-se que a maior

Questão 9 - Faz uso de cigarro desde que idade? 70%

60%

60%

Porcentagem

freqüência de utilização do filtro solar em Recife se deu apenas durante a exposição intencional ao sol com 56,8% dos respondentes. No entanto os autores lembram que, no Nordeste do Brasil o sol é prevalente o ano inteiro, e mesmo em dias nublados, as nuvens permitem a passagem de 80% da radiação solar, sendo prudente a utilização diária de proteção. Porém tal condição só foi identificada em 29,9% dos indivíduos entrevistados. O município de Balneário Camboriú é conhecido como a Capital Catarinense do Turismo e está localizado no privilegiado litoral catarinense. A sua Praia Central apresenta uma orla de aproximadamente 7 km de extensão dotada de amplo calçadão a beiramar que estimula moradores e turistas à prática de atividades junto à praia, como caminhadas, vôlei praia, futebol de areia e ciclismo (BALNEÁRIO CAMBORIÚ, 2009). Neste sentido, questionamos as mulheres a respeito do uso de filtro solar durante a prática de atividade física ao ar livre, em que obtemos 40% das mulheres utilizando o filtro solar, 20% não fazem uso e 10% utilizam o filtro solar às vezes. O restante da amostra afirmou não praticar esporte ao ar livre. Além do hábito da utilização de filtro solar, outros protetores físicos como chapéu, óculos de sol, camiseta e guarda-sol auxiliam na proteção da pele contra as agressões solares. Dentre os meios físicos apresentados, o mais utilizado pelas entrevistas foi óculos de sol com 37% da preferência, seguidos de chapéu/boné e guarda-sol – cada um destes com 21% de preferência. As demais entrevistadas não fazem uso de meios físicos de proteção (6%). Identificamos a mesma tendência dos resultados obtidos em nosso estudo ao realizado por Hora et al. (2003): os autores apontam que a principal medida de proteção utilizada pelos freqüentadores de academia do Recife foi o protetor solar com 92,7% da utilização, seguida de óculos escuros com 63% e abrigo em sombra com 50,5%. Para o estudo de Popim et al. (2008) realizado com um grupo de carteiros da cidade de Botucatu, ao tratar sobre o uso de equipamentos de proteção solar, 87,88% referiram recorrer à utilização de boné, chapéu, calça comprida, camiseta, camisa manga longa e filtro solar. O gráfico 7 demonstra os extratos etários de início do tabagismo pelas mulheres entrevistadas:

50% 40% 30% 20%

17%

13% 7%

10%

3% 0%

0% 10 aos 14 15 aos 19 20 aos 24 25 aos 29 30 aos 34 35 aos 40 Faixa etária

FONTE: dados da pesquisa. Verifica-se que mais da metade destas mulheres iniciaram o hábito de fumar ainda na adolescência, com maior concentração dos 15 aos 19 anos. Também é possível evidenciar que a partir dos 20 anos de idade, a freqüência de início deste hábito tendeu à redução considerável na amostra analisada Segundo Moreira et al. (1995), Brasil (2001) e Brasil (2004), apesar do fumo ser um importante fator da perda de saúde e estar relacionado ao desenvolvimento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neoplasias, a maciça publicidade das empresas tabagistas tem sido responsável pela relação direta do cigarro às imagens de beleza, padrão de vida elevado, liberdade, poder, inteligência e outros atributos desejados especialmente pelos jovens. Os dados da literatura mostraram que, no estudo realizado por Moreira et al. (1995) , a respeito da prevalência de tabagismo em região metropolitana do sul do Brasil, o início de tal hábito também ocorreu em média aos 16 (± 5,6) anos para os homens e 17,8 (± 6,7) anos para as mulheres. Outra correlação observada pelos autores diz respeito ao decréscimo observado após os 40 anos de idade. Tal condição pode decorrer de morte prematura e do abandono do fumo devido ao desenvolvimento de doenças associadas. O Consenso de 2001 realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para a abordagem e tratamento do fumante, trouxe dados preocupantes sobre a idade com a qual se inicia o hábito do fumo no Brasil: o tabagismo começa na infância e tem sido considerada uma doença pediátrica. Hoje, vários estudos corroboram que 90% dos fumantes iniciaram até os 19 anos e 50% dos que experimentaram um cigarro se tornaram fumantes na vida adulta (BRASIL, 2001, p.7).

O início prematuro do tabagismo, além de também ser observado no trabalho de Borges e Simões-Barbosa (2008), surpreende

quando as autoras constatam que a maioria das mulheres entrevistadas experimentou os primeiros cigarros em casa, acendendo-os para familiares próximos. Uma menor proporção iniciou na adolescência, com colegas de escola ou do trabalho. As palavras das autoras ilustram tal condição: A maioria delas (10), pela facilidade de acesso ao cigarro dentro da própria casa, começou a fumar entre 5 e 13 anos de idade, sendo este dado alarmante, já que, quanto mais precoce o início do fumar maior a probabilidade de se desenvolver determinadas doenças e transtornos psíquicos na vida adulta. [...] Até recentemente, as mulheres eram expostas como símbolos de pureza e ingenuidade, incompatíveis com o uso de bebida alcoólica e de cigarro, sendo estes hábitos restritos aos homens. Em uma leitura crítica de gênero, pode-se supor que as entrevistadas vivenciaram alguns conflitos que perpassam a feminilidade, traduzidos por mensagens contraditórias, tais como ser feminina, dependente e frágil, e poder adotar um hábito masculino, associado à força e independência (Borges e Barbosa, 2008, p. 2838).

No que diz respeito ao consumo médio de cigarros por dia, a amostra foi bastante distribuída, tendo 26% das mulheres entrevistadas o consumo de 6 a 10 cigarros por dia, não havendo, neste estudo, um predomínio marcante para um consumo diário de cigarros. O gráfico 8 apresenta a porcentagem do consumo de cigarros por dia:

Porcentagem

Questão 10 - Quanto ao consumo, quantos cigarros você fuma por dia? 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

26% 20%

17%

entre 1-5 entre 6-10 cigarros/dia cigarros/dia

20%

entre 11-15 entre 16-20 cigarros/dia cigarros/dia

17%

mais de 1 carteira/dia

Consumo de cigarros por dia

FONTE: dados da pesquisa. O estudo de Moreira et al. (1995) já apontou um perfil delineado para seus entrevistados: a maior proporção fumava 20 ou mais cigarros por dia. Os autores lembram que esforços mundiais têm sido realizados para combater a epidemia do fumo, a exemplo da 43ª Assembléia Mundial da Saúde realizada em 1990 que confirmou a eficácia das estratégias legais e políticas que visam proteger a população contra a exposição involuntária ao fumo em ambientes de trabalho, locais públicos e transportes coletivos. O aumento do valor do cigarro e o

maior rigor imposto nas campanhas de publicidade indicaram tendência à diminuição do número de indivíduos fumantes, principalmente em países desenvolvidos. No entanto, as ações de controle ao tabagismo têm sido observadas atentamente pelas grandes transacionais do tabaco, a Companhia Souza Cruz e a Philip Morris. No Brasil, estas duas empresas têm mantido fortes e contínuas estratégias de contraposição às ações de controle do tabagismo realizadas pelo Ministério da Saúde. Utilizam como recurso o impedimento à disseminação do conhecimento científico sobre os riscos causados pelo hábito de fumar e utilizam o marketing e publicidade para criar e aumentar a aceitação social dos seus produtos, tornando-os objeto de desejo coletivo (CAVALCANTE, 2005). Um exemplo que auxilia a argumentação anterior diz respeito ao desenvolvimento dos cigarros de “baixos teores” através da aplicação de filtros capazes de reduzir os níveis de alcatrão e nicotina, conforme análise desenvolvida por Brasil (2004, p. 17): O uso desses tipos de descritores oferece uma falsa garantia de proteção e pode induzir o consumidor a pensar erroneamente que as marcas classificadas como baixos teores são alternativas saudáveis, reduzindo assim sua motivação para a cessação de fumar. As propagandas dos baixos teores têm sugerido que não há necessidade de se deixar de fumar se o fumante fumar corretamente. Através da associação dessas marcas com status, com atividades saudáveis e com atividades intelectuais, é sugerido que a escolha por cigarros light e mild é feita por pessoas inteligentes (grifo do autor).

O cigarro “companheiro”, como descreve as autoras Borges e SimõesBarbosa (2008), é um artifício utilizado pelas mulheres para obter alívio de sentimentos relacionados à ansiedade, raiva, impotência, solidão ou rejeição. Ou ainda como uma fuga da rotina característica do gênero feminino, como a sobrecarga de trabalho, às cobranças e conflitos conjugais que geram grande estresse e desgaste, entre outras que induzem as mulheres a buscar o suporte do cigarro. A análise e interpretação dos a seguir tratam da percepção e avaliação individual das mulheres entrevistadas a respeito dos cuidados relativos à sua pele. Quando questionadas sobre a utilização de creme hidratante para a pele, observamos que 70% delas afirmaram utilizar algum tipo de creme

Questão 14 - Quais são os locais onde você identifica a presença de linhas de expressão? ao redor dos lábios

45%

41%

40%

canto dos olhos

35% Porcentagem

hidratante, 17% não fazem uso e 13% utilizam esporadicamente. Encontramos ainda em nosso estudo que, do total de mulheres entrevistadas para este estudo, 57% se dizem satisfeitas com a sua pele. No entanto, os resultados apontaram que 93% identificam a presença de linhas de expressão em seu rosto. O envelhecimento facial relacionado ao tabagismo no estudo desenvolvido por Suehara, Simone e Maia (2006), evidenciou que o grupo tabagista apresentou maior escore para as alterações de pele que o grupo não tabagista. Também foram observadas diferenças significativas de escore comparando as faixas etárias e a cor da pele, ou seja, quanto maior a idade e da cor branca, maiores as alterações da pele da face. Tais achados corroboram com o estudo de histo-morfometria e autofluorescência desenvolvido por Oriá et al. (2003). Na pele senil, em toda a extensão da derme, foi detectada fragmentação acentuada das fibras elásticas, assim como os feixes de colágeno apresentaram-se menos compactados e ondulados na região média da derme. Outra característica encontrada foi a dispersão do aparelho colágeno-elástico reticular. O comprometimento do colágeno superficial e intermediário, bem como da estrutura do tecido elástico poderia contribuir, segundo os autores, com os quadros de ptose e de enrugamento tão bem caracterizados no envelhecimento facial. Foi também identificado um arranjo desorganizado e o achatamento das células basais, com menor acúmulo de melanosomas e menor densidade de melanócitos no grupo senil quando comparado ao grupo jovem. Com relação à presença de linhas de expressão, o local de maior percepção apontado pelas entrevistadas foi o canto dos olhos com 41%, seguido de por 26% na região ao redor dos lábios, como demonstra o gráfico 9:

30%

linhas profundas nas bochechas

26%

25% numerosas linhas superficiais nas bochechas e região mandibular proeminência óssea a profundamento das bochechas

20% 15% 10% 5%

14% 10% 5%

2%

outra região (pescoço)

2%

0% Linhas de expressão

não identifica linhas de expressão

FONTE: dados da pesquisa. A fumaça do cigarro contém mais de 4.000 substâncias tóxicas, mas é a nicotina o composto mais nocivo (BRASIL, 2004). A isquemia crônica dos tecidos provocada pelo tabaco gera lesão das fibras elásticas e diminuição da síntese do colágeno, fatores que tornam a pele mais espessa e fragmentada. O tabagismo também é responsável pelo aumento da hidroxilação do estradiol na pele, determinando nas mulheres um estado de baixa estrogênica que pode estar associado com pele seca e atrófica e com piora do seu aspecto geral. (SUEHARA, SIMONE e MAIA, 2006). No estudo realizado por estes autores, os resultados demonstraram que 79% dos não fumantes apresentaram nenhuma ou uma das características da fácies de tabagismo, contra 56% dos fumantes. O termo fáceis do tabagismo diz respeito às linhas de expressão ao redor dos lábios, linhas nos cantos dos olhos, linhas profundas nas bochechas, numerosas linhas superficiais nas bochechas e região mandibular, proeminência óssea e aprofundamento da bochecha, atrofia e tonalidade cinzentada da pele. Os questionamentos finais do instrumento de pesquisa procuraram conhecer a história pregressa de câncer de pele e câncer de pulmão na família das entrevistadas. Os dados apontaram que, em nosso estudo, 87% das entrevistadas não apresentam história de câncer de pele na família. Esta mesma tendência é seguida pelo histórico de câncer de pulmão, onde 93% das entrevistadas não apresentaram histórico na família desta patologia. Dentre os dois tipos de cânceres questionados, pele e pulmão, o primeiro foi o que mais apresentou histórico de presença na família das entrevistadas. Esta mesma constatação foi evidenciada nos estudos de Hora et al. (2003) em que, quanto ao histórico

familiar, 83,9% da população analisada não apresentava antecedentes de câncer cutâneo. O mesmo foi observado no estudo de Popim et al. (2008) que ao se considerar o item história de câncer na família, 66,67% negaram esta situação. O câncer é uma patologia com etiologia multifatorial, resultante principalmente de alterações genéticas, fatores ambientais e do estilo de vida (POPIM et al., 2008). Com relação ao câncer de pele, esta condição não é diferente. A causa para esta patologia tem sido relacionada às mudanças do hábito de vida – como a exposição solar excessiva, rarefação da camada de ozônio, envelhecimento populacional e também, ao diagnóstico precoce de câncer. Já os fatores relacionados ao fenótipo que oferecem susceptibilidade ao câncer cutâneo são: tipo da pele, cor dos olhos e cabelos, presença de sardas e nevus, história pessoal ou familiar de câncer cutâneo (HORA et al., 2003). A radiação ultra-violeta tem sido apontada como importante contribuinte para o desenvolvimento das formas de câncer da pele: melanoma e não-melanoma. O câncer não-melanoma é o tipo mais freqüente de câncer de pele na população brasileira e está associado à ação solar cumulativa, já o câncer melanoma tem relação a episódios intensos de exposição solar aguda que resultam em queimadura e por esse motivo, apresentam maior tendência à metástase. Observa-se que, para o desenvolvimento do câncer de pele, primeiramente ocorre uma seqüência de manifestações cutâneas, que seguem a ordem: queimadura, espessamento da pele, manchas hipercrômicas, rugas finas, rugas profundas, ceratose actínica e o desenvolvimento de câncer da pele (HORA et al., 2003; POPIM et al., 2008). Quanto ao câncer de pulmão, Suehara, Simone e Maia (2006) e Aldrighi et al. (2005) concordam que, as mortes ocasionadas por câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica estão diretamente atribuídas ao tabagismo em mais de 75% dos casos. Além disso, o câncer de pulmão também tem relação com a etiologia de outros tipos de neoplasias, como estômago, esôfago e bexiga e de doenças cardiovasculares. A partir da década de 80 tem sido observado um decréscimo da taxa de mortalidade em conseqüência da diminuição da prevalência de tabagismo, com ênfase aos países desenvolvidos (SILVA et al., 2008). No entanto, o câncer de pulmão é o tipo de câncer que mais mata homens no Brasil, e a

segunda causa de morte por câncer entre as mulheres. Tem sido observado ainda que, as taxas de mortalidade por câncer de pulmão têm aumentado em maior velocidade entre as mulheres do que entre os homens (CAVALCANTE, 2005). Para esta autora, a poluição tabagística ambiental, que provoca irritação nasal e ocular, dor de cabeça, irritação na garganta, vertigem, náusea, tosse e problemas respiratórios, apresenta num segundo momento risco de câncer de pulmão entre a população de não-fumantes. Conclusões O desenvolvimento deste estudo teve por objetivo de caracterizar os cuidados que as mulheres tabagistas, com idade a partir de 35 anos, apresentavam em relação à pele. Buscamos para isso, correlacionar o nível de instrução escolar, atividade profissional, consumo de cigarros por dia, nível de exposição diária à radiação solar, hábito de uso do filtro solar e outros meios físicos de proteção, bem como, a história familiar de câncer de pele e pulmão. Para organizar esta pesquisa, buscamos 30 mulheres e selecionamos como campo de estudo o Núcleo de Atenção à Mulher – NAM do município de Balneário Camboriú (SC), por ser um espaço dedicado aos cuidados relativos à saúde da mulher, no âmbito da promoção, prevenção e tratamento. Os resultados obtidos sinalizam, no momento atual, que apesar das alterações teciduais da pele e de saúde causadas pelo tabagismo incluírem-se num assunto mundialmente estudado; a literatura a cerca desta temática apresenta-se em pequena extensão. Além na análise quantitativa deste estudo, pudemos identificar, mediante os materiais publicados sobre o tabagismo no campo da Saúde Coletiva, que o cigarro revela-se como um suporte para o enfrentamento dos obstáculos do cotidiano feminino, ao mesmo tempo em que cobra um elevado preço pela saúde das mulheres. Como sugestão de continuidade desta temática, seria interessante incluir o item etnia no instrumento de pesquisa, bem como, conhecer aquelas mulheres que entendem o uso de filtro solar isoladamente e aquelas que o fazem junto ao creme hidratante facial. Neste sentido, concluímos com a idéia de que o tabagismo exige uma abordagem interdisciplinar por parte dos

profissionais da saúde, tendo como norteador o princípio de que seu enfrentamento depende, intrinsecamente, da vontade coletiva social e não exclusivamente do cuidado biomédico por meio da aplicação de vacinas, antibióticos e quimioterápicos. Referências 1. ALDRIGHI, J. M. et al. Tabagismo e antecipação da idade da menopausa. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 51, n. 1, p. 5153, jan./fev. 2005. 2. AZEVEDO, R. C. S. et al (2008) . Atenção aos tabagistas pela capacitação de profissionais da rede pública. Rev. Saúde Pública. Avaiable: www.scielo.br/pdf/rsp/2008nahead/6862.p df. [22 ago. 2008]. 3. BALNEÁRIO CAMBORIÚ. Prefeitura Municipal. 4. BORGES, M. T. T.; SIMÕES-BARBOSA, R. H. Cigarro “companheiro”: o tabagismo feminino em uma abordagem crítica de gênero. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 12, p. 2834-2842, dez. 2008. 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Ação global para o controle do tabaco. 1º Tratado Internacional de Saúde Pública – 3ª edição. Rio de Janeiro: INCA, 2001. 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Ação global para o controle do tabaco. 1º Tratado Internacional de Saúde Pública – 3ª edição. Rio de Janeiro: INCA, 2004. 7. CARLINI, E.A. et al. II Levantamento Domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2005. 468 p. Relatório técnico 8. CAVALCANTE, T. M. O controle do tabagismo no Brasil: avanços e desafios. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 32, n. 5, p. 283-300, set./out. 2005. 9. COSTA, F. B.; WEBER, M. B. Avaliação dos hábitos de exposição ao sol de fotoproteção dos universitários da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v.79, n.2, p. 149-155, mar./abr. 2004.

10. HORA, C. et al. Avaliação do conhecimento quanto a prevenção do câncer de pele e sua relação com exposição solar em freqüentadores de academia de ginástica, em Recife. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 78, n. 6, p. 693-701, nov./dez. 2003. 11. MOREIRA, L. B. et al. Prevalência de tabagismo e fatores associados em área metropolitana da região Sul do Brasil. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 46-51, fev. 1995. 12. MOTA, J. P.; BARJA, P. R. Classificação de fototipos de pele: análise fotoacústica versus análise clínica. In: X ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E VI ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO, 2006, São José dos Campos. Revista Univap. São José dos Campos, 2006. p. 2561-2564. 13. ORIÁ, R. B. et al. Estudo das alterações relacionadas com a idade na pele humana, utilizando métodos de histomorfometria e autofluorescência. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 78, n. 4, p. 425-434, jul./ago. 2003. 14. POPIM, R. C. et al. Câncer de pele : uso de medidas preventivas e perfil demográfico de um grupo de risco na cidade de Botucatu. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 1331-1336, jul./ ago. 2008. 15. SILVA, G. A. et al. Diferenças de gênero na tendência de mortalidade por câncer de pulmão nas macrorregiões brasileiras. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 11. n. 3, p. 411-419, set. 2008. 16. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Análise dos dados das campanhas de prevenção ao câncer de pele promovidas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia de 1999 a 2005. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v.81, n.6, p. 533-539, nov./dez. 2006. 17. SORTINO-RACHOU, A. M.; CURADO, M. P.; LATORRE, M. R. D. O. Melanoma cutâneo: estudo de base populacional em Goiânia, Brasil, de 1998 a 2000. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 81, n. 5, p. 449-455, set./out. 2006. 18. SUEHARA, L.Y.; SIMONE, K.; MAIA, M. Avaliação do envelhecimento facial

relacionado ao tabagismo. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v.81, n.1, p. 34-39, jan./fev. 2006. 19. WEBER, A. L. et al. Avaliação de 496 laudos anatomopatológicos de melanoma diagnosticados no município de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v.82, n.3, p. 227-232, maio/jun. 2007. 20. WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health report 1999: making a difference. Geneva, 1999. Agradecimentos: A Equipe do Núcleo de Atenção à Mulher – NAM II que tão gentilmente cedeu seu espaço de trabalho, abrindo o caminho inicial no contato com as mulheres entrevistadas. As 30 participantes da pesquisa, que muito além de servir como número, se envolveram nas respostas e aguardam nosso feedback.

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