Avaliação dos espermatozóides em diferentes faixas etárias Assessment of spermatozoa in different age groups

June 4, 2017 | Autor: Marco Antonio | Categoria: Age effect, Sperm Count, SPERM MORPHOLOGY, Age Groups
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ARTIGO Original

Avaliação dos espermatozóides em diferentes faixas etárias Assessment of spermatozoa in different age groups Andy Petroianu1, Marco Antônio Barreto de Melo2, Luciana Magalhães de Almeida3, Luiz Ronaldo Alberti4, Denny Fabrício Magalhães Veloso5

RESUMO Objetivo: Verificar, por meio da análise do líquido seminal de diferentes faixas etárias, a ocorrência de alterações nos espermatozóides. Métodos: Foi estudado o líquido seminal de 80 homens adultos hígidos, com idade entre 21 e 60 anos, após um período de abstinência sexual de cinco dias. Os voluntários foram distribuídos em quatro grupos etários (n = 20): 21 a 30 anos, 31 a 40 anos, 41 a 50 anos e 51 a 60 anos. Resultados: Não foram encontradas diferenças entre os grupos quanto aos aspectos físico-químicos dos sêmens (odor, cor, volume, viscosidade e pH). Também não houve diferença entre as concentrações ou porcentagem de formas móveis nos grupos estudados. No entanto, embora não significativo, verificou-se um aumento da concentração de espermatozóides no líquido seminal a partir dos 41 anos. A morfologia dos espermatozóides mostrou maior percentual de formas ovais (p = 0,03) e menor de fusiformes entre 41 e 50 anos em relação aos demais grupos (p = 0,02). Conclusões: Percebeu-se não apenas que não ocorre uma redução na produção de espermatozóides até os 60 anos, mas também que há um aumento das melhores formas para fecundação. Descritores: Contagem de espermatozóides;  Espermatozóides/ anatomia & histologia; Sêmen; Infertilidade masculina; Efeito idade

ABSTRACT Objective: To verify sperm disorders in different age groups through analysis of seminal fluid. Methods: The semen of 80 healthy adult men, with age range of 21 to 60 years, was studied after a five-day sexual abstinence. Volunteers were distributed into four age-groups (n = 20): 21 to 30, 31 to 40, 41 to 50 and 51 to 60 years. Results: No differences regarding the physical and chemical aspects of semen were found (smell, color, volume, viscosity, and pH), nor were there differences related to sperm concentration and percentage of

mobile forms. Therefore, a non-significant increase in spermatozoa concentration in the semen of men aged over 41 years was observed. In the 41 to 50 years-old Group, the sperm morphology was predominantly oval (p = 0.03) and there were less tapered sperm as compared to other groups (p = 0.02). Conclusions: It was observed that there is no reduction in sperm production up to 60 years and that there is an increase in better shape for fertility, in the age of 41 to 50 years-old. Keywords: Sperm count; Spermatozoa/anatomy & histology; Semen; Infertility, male; Age effect

INTRODUÇÃO Conceitua-se infertilidade como a incapacidade de geração de filhos. Essa alteração ocorre em aproximadamente 15% dos casais com mais de um ano de vida sexual ativa e sem o uso de método contraceptivo. Ela envolve fatores femininos (40%), masculinos (40%) e de ambos os parceiros em 20% dos casos(1). Dentre os fatores masculinos, as deficiências espermatogênicas são responsáveis por 30% dos casos(2). Vários estudos afirmam que durante o processo de envelhecimento ocorre uma redução na produção diária de espermatozóides, apesar de haver uma elevação dos níveis séricos de gonadotropinas e uma diminuição dos níveis de testosterona(3-4). Biopsias testiculares e dosagens por radioimunoensaio dos hormônios gonadotrópicos evidenciaram diminuição das funções das células de Sertoli, redução da massa citoplasmática das células de Leydig e degeneração com espessamento da lâmina própria dos túbulos seminíferos(4-6).

Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizinte (MG), Brasil. Livre-docente; Professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

1 2

Médico da  Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

3

Médico da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

4

Doutor; Professor adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

5

Mestre; Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

Autor correspondente: Andy Petroianu – Avenida Afonso Pena, 1.626 – apto. 1.901 – Centro – CEP 30130-005 – Belo Horizonte (MG), Brasil –Tel.: 31 8884-9192 – e-mail: [email protected] Data de submissão: 14/1/2008 – Data de aceite: 17/9/2008

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Petroianu A, Melo MAB, Almeida LM, Alberti LR, Veloso DFM

Diante da escassa e controversa informação sobre o líquido seminal em homens de meia idade, neste trabalho avaliaram-se aspectos morfológicos dos espermatozóides em diferentes faixas etárias.

MÉTODOS Esta pesquisa foi realizada de acordo com as recomendações da Declaração de Helsinque e da Resolução no 196/96 do Ministério da Saúde, sobre pesquisas envolvendo seres humanos e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Todos os pacientes concordaram com a participação no estudo, por meio de consentimento livre e esclarecido(7). Foram estudados prospectivamente os sêmens de 80 homens sadios com idade variando entre 21 e 60 anos, após um período de abstinência sexual de cinco dias. Esse período foi estabelecido com base nas reservas de espermatozóides contidas na cauda do epidídimo que se renovam após quatro a seis dias(8). Os voluntários foram distribuídos em quatro grupos etários de dez anos: 21 a 30 anos (n = 20); 31 a 40 anos (n = 20); 41 a 50 anos (n = 20); 51 a 60 anos (n = 20). Os indivíduos foram selecionados por meio de anamnese dirigida referindo-se ao histórico sexual (freqüência de relações sexuais, presença de distúrbios eréteis ou ejaculatórios e paternidade anterior). Doenças urológicas prévias, diabetes mellitus e uso de drogas excluíram indivíduos deste estudo. Histórico familiar de infertilidade também foi investigado. O esperma foi colhido em recipiente estéril, hermeticamente fechado em seguida. As análises macro e microscópicas desse líquido foram realizadas na primeira hora após a coleta. A macroscopia consistiu na avaliação de suas características físicas e químicas (volume, aspecto, odor, viscosidade e pH). Na análise microscópica, observaram-se a motilidade e a morfologia dos espermatozóides. Após a diluição do sêmen na proporção de 1:20 (0,1 ml de esperma em 1,9 ml de solução salina a 0,9%), foi feita a contagem dos espermatozóides em câmara de Neubauer. Foram realizadas contagens nos cinco quadrantes da câmara, nos quatro laterais, utilizados habitualmente para contagem de leucócitos, e no central, destinado à contagem de eritrócitos. O número total foi multiplicado por um milhão para se obter a concentração exata dos espermatozóides por mililitro. Quanto à morfologia, os espermatozóides foram classificados como normais (ovais) ou anormais (fusiformes, redondos, amorfos, imaturos, bicéfalos, bicaudados, macrocéfalos e microcéfalos)(8).

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Para o estudo estatístico, foi utilizado o método descritivo de média e erro padrão da média. Os resultados foram comparados por meio de análise de variância (ANOVA), seguida do teste de Tukey-Kramer de comparação múltipla. As diferenças foram consideradas significativas para valores correspondentes a p < 0,05.

RESULTADOS Todos os pacientes concordaram em participar do presente estudo. Todos os voluntários tiveram história sexual e familiar negativas para disfunções eréteis e infertilidade, bem como para afecções de risco para o desenvolvimento de tais afecções, como diabetes mellitus e doença urológica prévia. Não encontramos diferenças nas características dos sêmens: odor característico, cor cinza-clara, viscosidade dentro dos limites da normalidade e pH de 7. O volume do líquido ejaculado variou entre 2,0 e 3,2 ml (média = 2,5 ± 0,2). Também não houve diferença entre as concentrações seminais nos quatro grupos etários, embora essa tenha sido maior nos voluntários acima de 41 anos. A porcentagem de espermatozóides móveis durante a primeira hora de observação não foi diferente nas diversas faixas etárias (Tabela 1). Tabela 1. Avaliação morfológica percentual de espermatozóides em homens entre 21 e 60 anos Faixa etária (anos) Morfologia

21 a 30

31 a 40

41 a 50

51 a 60

Oval Fusiforme Redondo Imaturo Amorfo Bicéfalo Bicaudado Macrocéfalo Microcéfalo

% 27,8 24,4 22,4 7,2 9,2 1,2 0,7 4,7 2,4

% 28,2 23,7 23,3 8,4 8,6 0,3 0,4 3,6 3,5

% 38,0* 16,1** 25,7 7,4 7,8 0,5 2,0 2,5

% 30,4 21,3 24,6 7,7 9,1 4,62,3

* porcentagem maior do que a das outras faixas etárias (p = 0,03; ANOVA seguida pelo teste de comparação múltipla de Tukey-Kramer); ** porcentagem menor do que a das outras faixas etárias (p = 0,02; ANOVA seguida pelo teste de comparação múltipla de Tukey-Kramer)

Após um período de abstinência sexual de cinco dias feito por todos os voluntários, a análise microscópica revelou que a forma normal (oval) dos espermatozóides predominou e foi mais freqüente no grupo de 41 a 50 anos em relação aos demais grupos etários (p = 0,03). Por outro lado, nessa faixa etária o número de formas anormais fusiformes foi menor do que o observado nos outros voluntários (p = 0,02). Quanto às demais formas de espermatozóides, não houve diferença entre os quatro grupos investigados (Tabela 2).

Avaliação dos espermatozóides em diferentes faixas etárias

Tabela 2. Concentração média e porcentagem de formas móveis encontradas em homens de 21 a 60 anos Faixa etária (anos)

Concentração (M ± EPM) (número x 106/ml)

% formas móveis

21 a 30

83 ± 49

70,0

31 a 40

76 ± 46

69,1

41 a 50

105 ± 49

76,7

51 a 60

173 ± 25

75,4

M = média; EPM = erro padrão da média

DISCUSSÃO Estudos comparativos realizados com indivíduos normais mostraram que a capacidade espermatogênica é maior após abstinência sexual de cinco dias. Períodos inferiores a esse evidenciam um número maior de formas imaturas, além de uma diminuição na concentração e motilidade dos espermatozóides. A literatura médica sobre a produção diária de espermatozóides em homens de meia idade é escassa(9). No presente trabalho, observou-se que, pelo menos em homens com idade abaixo de 60 anos, não há alterações na concentração dos espermatozóides no líquido seminal. Segundo Dakouane-Giudicelli et al., a degeneração vascular por aterosclerose pode levar à diminuição do suprimento sangüíneo testicular, com perda de seu parênquima e esclerose dos túbulos seminíferos. Essa seqüência de fenômenos seria a principal responsável pela redução da espermatogênese(4). Buwe et al. atribuíram à aterosclerose a responsabilidade pela diminuição da potência e da libido(10). Problemas prostáticos e urinários, bem como depressão e ansiedade, fazem parte da “síndrome do climatério masculino”, ou andropausa, e seriam outras complicações decorrentes da degeneração vascular(11). Johnson et al. descreveram uma possível etiologia auto-imune para explicar a atrofia do parênquima e a diminuição da função testicular. A presença de células inflamatórias mononucleares ao redor dos túbulos seminíferos de homens idosos e a existência de anticorpos contra os próprios espermatozóides contribuíram para essa hipótese(12). No presente trabalho, não foram encontradas anormalidades, tanto nas características fisico-químicas do líquido seminal quanto na concentração de espermatozóides, que sugerissem alterações ateroscleróticas, auto-imunes ou conseqüentes à redução do número de células de Sertoli e de Leydig.

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Considera-se a forma normal (oval) como a ideal para que ocorra a fecundação do óvulo. É comum encontrar formas fusiformes em grande quantidade nos casos em que há aumento da temperatura testicular ou infecções do trato genital masculino, enquanto o número de formas imaturas apresenta-se elevado nos líquidos seminais colhidos após um período de abstinência sexual inferior a cinco dias(4).

CONCLUSÕES De acordo com os dados do presente estudo, não houve redução na produção de espermatozóides nas idades de 21 a 60 anos. A forma normal (oval) foi encontrada em maior número entre os voluntários de 41 a 50 anos. Em amostras dessa faixa etária também ocorreu o menor índice de formas anômalas, sugerindo maior fertilidade nos indivíduos integrantes desse grupo. REFERÊNCIAS 1. Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. Definition of “infertility”. Fertil Steril. 2006;86(5 Suppl):S228. 2. Tesarik J, Mendoza C. Treatment of severe male infertility by micromanipulationassisted fertilization: an update. Front Biosci. 2007;12:105-14. 3. Schlosser J, Nakib I, Carre-Pigeon F, Staerman F. Male infertility: management strategies. Ann Urol. 2007;41(1):6-11. 4. Dakouane-Giudicelli M, Bergere M, Albert M, Serazin V, Rouillac-Le Sciellour C, Vialard F, et al. Late paternity: spermatogenetic aspects. Gynecol Obstet Fertil. 2006;34(9):855-9. 5. Gleicher N, Barad D. DHEA and testosterone in the elderly. N Engl J Med. 2007;356(6):636-7. 6. Lacombe A, Lelievre V, Roselli CE, Salameh W, Lue YH, Lawson G, et al. A neuropeptide at the origin of testicular aging? Med Sci (Paris). 2006;22(10): 809-11. 7. Petroianu A. Pesquisa em Medicina. In: Petroianu A, editor. Ética, moral e deontologia médicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 174-8. 8. World Health Organization. WHO laboratory manual for the examination of human semen and sperm-cervical mucus interaction. 4th ed. Cambridge: Press Syndicate of the University of Cambridge; 1999. 9. Richthoff J, Spano M, Giwercman YL, Frohm B, Jepson K, Malm J, et al. The impact of testicular and accessory sex gland function on sperm chromatin integrity as assessed by the sperm chromatin structure assay (SCSA). Hum Reprod. 2002;17(12):3162-9. 10. Buwe A, Guttenbach M, Schmid M. Effect of paternal age on the frequency of cytogenetic abnormalities in human spermatozoa. Cytogenet Genome Res. 2005;111(3-4):213-28. 11. Homonnai ZT, Fainman N, David MP, Paz G. Semen quality and sex hormone pattern of 29 middle aged men. Andrologia. 1982;14(2):164-70. 12. Johnson L, Abdo JG, Petty CS, Neaves WB. Effect of age on the composition of seminiferous tubular boundary tissue and on the volume of each component in humans. Fertil Steril. 1988;49(6):1045-50.

einstein. 2008; 6(3):293-5

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