Avaliação educacional em artes

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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL EM ARTES Lula Borges1 RESUMO Com os avanços dos estudos sobre avaliação, vários são os pesquisadores que estudam sobre o tema e neste artigo faremos não apenas formulações teóricas sobre avaliação, mas também usando-a de forma que possa ser útil de alguma forma para o leitor. O texto é direcionado para métodos avaliativos o qual foram selecionados os processos formativo e somativo refletindo sobre avaliação educacional, em nosso caso, avaliação na disciplina Artes, verificados em turmas das primeiras, segundas e terceiras séries do ensino médio em uma escola pública da região metropolitana norte de Natal, Rio Grande do Norte, além de fazer uma conexão entre o método somativo com ensino teórico e formativo com práticas em sala de aula. Foram elencados os trabalhos de Paulo Freire (1996) Milas e Solé (1996), além autores que discorrem sobre o assunto formação e artes, como norteadores para o desenvolvimento deste texto. PALAVRAS-CHAVE: Métodos de avaliação. Avaliação em Artes. Teoria e Prática.

ABSTRACT With the advances at studies on evaluation, a number of researchers who study about the subject and in this article we will not just theoretical formulations on valuation, but also using it so that it can be useful in some way to the reader. The text is focused for evaluation methods which the formative and summative process were selected, reflecting on educational evaluation, this case assessment in Arts discipline, checked in 9th, 10th and 11th grades of education (public high school) in the metropolitan area north of Natal, Rio Grande do Norte, in addition to a connection between the summative method

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Luiz Antonio Dias Borges, Formado em Educaçao Artística pela UFRN, Mestrando em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade pela FACNORTE – [email protected]

with theoretical training and teaching with practice in the classroom. Were listed the works of Paulo Freire (1996) Milas and Solé (1996), and authors who talk about the subject training and arts, as guidelines to the development of this text. KEYWORDS: Evaluation methods. Evaluation of Arts. Theory and Practice.

INTRODUÇÃO A avaliação está em todo processo de vivência social, desde a entrada de um novo produto por alguma empresa, pois esse produto deve ser avaliado, a um serviço feito por algum profissional, ou mesmo a ultrapassagem de um carro em uma rua deve ser avaliado. Existindo, assim, duas possibilidades de avaliação, uma com “um juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma situação ou um objeto, em função de distintos critérios” e “obtenção de informações úteis para tomar alguma decisão” (MIRAS e SOLÉ, 1996, p. 375). Deve-se levar em conta que avaliar é fazer ajuizamento, valorização ou apreciação e desses são necessárias verificações prévias. Para se haver avaliação, são necessários passos, cabendo neles, adquirir e processar evidências e só ai se poder avaliar. A avaliação é um processo que deve “pretender verificar, principalmente, a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, revelando dificuldades, carências e inquietações dos alunos e reorientando o trabalho do professor, na superação dos fatores limitativos da plenitude possível na aprendizagem” (OLIVEIRA, 2004, p.3). No entanto, apesar de todo o universo voltado para a avaliação, ao se falar sobre a mesma, destaca-se seu uso normalmente para os processos educacionais em suas várias etapas. E dentre elas duas se destacam: a somativa e a formativa. A primeira “permite outorgar uma qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade da aprendizagem realizada” (MIRAS e SOLÉ, 1996, p. 378). Essa forma de avaliação é utilizada para ser efetiva ao final de algum aprendizado, ou seja ao fim de um mês, bimestre, curso, semestre, ciclo, a partir de todo um conteúdo ministrado em um dado momento escolar. Como exemplo podemos destacar as provas de final de bimestre nas escolas brasileiras. A segunda é a formativa que visa informar o professor e o aluno sobre o rendimento do que é aprendido durante as atividades, localizando deficiências na organização do

ensino e assim possibilitar correção e recuperação. Um exemplo aqui correspondido são as aulas de informática, especialmente as de ensino a distância, onde o aluno vai desenvolvendo atividades e passando por etapas até chegar o fim do curso. Fazendo um paralelo entre os dois métodos podemos imaginar que avaliação somativa é mais voltado para a teoria (regras, interpretações literárias, cálculos divesos, etc) enquanto a formativa é mais voltada para a prática do dia a dia. Assim chegamos ao questionamento desse texto: o ensino da arte deve ser aferido como prática ou como teoria junto aos Alunos? Deve-se deixar definido que deve-se ignorar, nesse estudo específico, o tipo de abordagem pedagógica a ser utilizada; se tradicional, construtivista, interacionista, tecnicista. Todas elas sempre tendem para um dos lados; ou teórico ou prático. Aqui vamos tentar compreender necessariamente esses dois segmentos e tentar descobrir a importância dos mesmos, se existe a possibilidade dos mesmos poderem atuar juntos, além de possíveis desdobramentos que a inserção de aulas práticas podem desencadear tanto na vida pedagógica quanto social do aluno.

AVALIANDO ARTES: TEORIA, PRÁTICA E TEMPO No caso da disciplina Artes, Se se escolhe a teoria, as aulas não passarão de aulas de história, voltada para os acontecimentos, movimentos artísticos, nomes e datas de grandes artistas, resultando, ao final de um bimestre ou período, provas, que no fim das contas o conteúdo torna-se uma história da arte dentro de uma disciplina que, os alunos deveriam aprender a saber ser, fazer, conviver (DELORS, 1998) artes e suas várias facetas, como música, artes visuais, dança, teatro. No entanto, se houver a escolha de aulas práticas, existem dificuldades para um professor ensinar aos alunos em idade adolescente e em quantidade maior que 20 alunos, pois deve se dedicar (FREIRE, 1996) a observar o aprendizado dos mesmos dentro de sala de aula e isso imaginando que a escola possa ter a estrutura mínima de material e sala específica para essa disciplina. Por outro lado, as salas de aula, hoje tem média 40 a 45 alunos, ou seja, no mínimo o dobro necessário para se ter uma aula efetiva de ensino de técnicas artísticas, dificultando a inserção desses ensinamentos aos estudantes, seja por conversas paralelas dos próprios estudantes, ter-se no máximo cinquenta minutos de aula, perda de

tempo ao início e final de cada aula, reduzindo esses cinquenta minutos que o professor tanto necessita, incluindo ai a chamada da classe, onde, dependendo do que ocorra na sala, perde-se cerca de 5, 7, 10 minutos. Resta a aula então cerca de trinta minutos para efetivação didática em si. Conforme Luckesi (2012), em exposição didática para a Editora SM, sobre avaliação educacional, antes do século XVI, o que havia em termos de ensino-aprendizagem era um mestre e dois ou três aprendizes. A partir desse século, houve a necessidade de ampliação das turmas e consequentemente formas diversas de avaliação, com é visto hoje, não só na educação, como em outras instâncias da sociedade. Dessa forma, a necessidade de planejamento é imprescindível. Se não fica difícil ministrar as aulas de forma efetiva. Um exemplo simples que podemos aqui deixar é fazer um bloco de aulas sobre o pontilhismo. Falar sobre a tendência, os artistas e as técnicas fará os alunos terem conhecimento do que seja pontilhismo, mas os mesmos poderiam aprender muito mais, quando se contextualiza o conteúdo. Um uma aula prática, um professor pode fazer colagens de sementes de frutas ou vagens em contornos desenhados, criando composições com essas sementes, aulas essas que podem ser dadas em três ou quatro sessões. Sabendo a turma o que é trabalhar com pontos (as sementes), o professor pode passar um trabalho escrito sobre pontilhismo, com poucas linhas mesmo, onde, a pesquisa pode fazer o aluno querer melhorar a técnica de suas colagens, ou buscar novas possibilidades de trabalhar com pontos, não apenas com sementes, mas com pincel, canetas, lápis, etc, partir do que descobriu pesquisando. Dessa forma, é trabalhado ao mesmo tempo as metodologias de avaliação formativa e somativa. As primeiras aulas sendo os próprios alunos criando e se autoavaliando, assim como o professor pode mudar táticas de ensino, pois o mesmo também aprende durante a aula. Para Paulo Freire (1996) deve ser levado em consideração que não apenas ensina ao aluno, mas também aprender com o aluno, “quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”(p.12). Para um melhor rendimento da turma, o primeiro passo a fazer é ganhar sua confiança, “incitando a curiosidade dos alunos” (FREIRE, 1996, p.15), explicando o que a mesma desenvolverá e que todos os exercícios deveriam ser feitos por todos na mesma, devido, aos poucos, as práticas se tornarem mais complexas com o passar das aulas e se o aluno não faz um passo anterior, um primeiro exercício, mesmo de forma imperfeita ou

defeituosa, ao fazer um segundo exercício, “o aluno simplesmente não vai conseguir” (Pacheco, 2013). Freire (1996, p.15) também discorre sobre o aprofundamento do conhecimento que passa de ingênuo ao epistemológico, aprofundando-se no que diz respeito ao assunto estudado. Este trabalho foi criado a partir da experiência em sala de aula sobre o uso de técnicas de desenho para eventualidade de uma semana da cultura afro-brasileira em uma escola de ensino médio de Natal/RN e os questionamentos sobre teoria e prática quanto ao que os alunos fariam nesse evento. Pedir simplesmente para fazerem desenhos aleatórios seria improvável, levando em consideração a heterogeneidade das 6 (seis) turmas a quais estavam destinadas ao trabalho. Dessa forma, planejando antecipadamente, acabamos por pesquisar sobre Carybé, artista ítalo-argentino-baiano, onde as turmas fizeram resumos sobre o artista, suas técnicas, sua história. Foram verificados desenhos criados pelo artista e ao fazer o pedido para criarem uma cópia das telas do mesmo, veio a decepção com as turmas: ninguém, num universo de 240 alunos, desejou fazer as cópias para mostra na escola. Mesmo tendo alguns alunos que já desenhavam. O desafio estava posto: fazer criações artísticas copiando a arte de Carybé em um evento sobre a cultura afro-brasileira. As primeiras aulas sobre desenho foram apenas para estudos com tonalidade, a partir de lápis grafite em uma pequena explicação prática sobre como os alunos deveriam manejar o lápis ou o suporte (papel), onde ao terminar a aula, esses quarenta alunos deveriam fazer uma mesma produção junto ao professor. Ao término da exposição sobre a prática, muitos alunos nem conseguiam pegar o próprio lápis para desenhar, muitas vezes a própria explicação é parada por essa ou aquela dúvida, enfim, tempo mínimo para efetivação da aula em si. O que se pode fazer quando ocorrem esses atrasos é elaborar aulas com conteúdos menores, iniciando tudo de forma muito simples e sistemática, sequencial, onde um conteúdo não acabe atrapalhando o outro que venha à frente, tendo um resultado das aulas mais lento, porém mais sólido junto aos alunos. Terminadas essas explicações iniciais, iniciamos a aula com algo muito simples, o qual para alguns alunos é o mais complicado, desenhar um círculo. Eles sempre querem imediatamente fazer logo um rosto, algo que para desenhistas mais experientes, é algo difícil de ser feito e para um aluno em primeiros traços, sem se aprofundar, poderia até

conseguir fazer o rosto, mas, devido a sempre quererem fazer algo complicado e não conseguirem, acabam por ficarem frustrados e desistindo. Não era esse nosso propósito, haja vista que tínhamos um tema a ser desenvolvido. Deve-se haver por parte do professor cuidado com cada aluno, sem esquecer que a classe inteira são indivíduos que necessitam ser observados, a melhor forma encontrada para essa questão de fazer a arte na sala de aula é deixar o mais homogêneo possível o que é repassado aos mesmos. Falamos que vamos chegar ao rosto, mas primeiro o círculo, iniciamos ele, mas, muito pequeno. Aos poucos, a cada aula continuada, avaliando cada produção, os exercícios foram ficando mais sofisticados, passando por pontos e a partir desses a linha, a forma, os sólidos básicos, e, a partir da junção desses na formação das tonalidades, das luzes, sombras, volumes, perspectiva, cores e finalmente algo que mudou a forma dos alunos verem e fazerem seus desenhos: proporção, conforme exemplificaremos abaixo. Esse ensino necessita da Avaliação Formativa Alternativa (AFA), como defende Jane Barbosa (2008), nos estudos sobre avaliação, pois a aula seguinte precisa de dados da aula anterior e isso de classe em classe. As aulas devem ser lentas, pois a cada ensino, o professor necessita ver, ao menos meia sala, saber se os alunos estão ou não compreendendo o assunto do dia ou mesmo se estão aplicando aquela técnica explicada. Muitos alunos não se sentem bem com essa situação, simplesmente dizem que “não sei desenhar” e não o querem fazer. Isso é realmente uma barreira, pois estão no ensino médio, toda a tentativa é bem-vinda, mas nem sempre os mesmos conseguem. Cabe ao professor fazer um início, uma tentativa, segurar literalmente na mão do aluno e fazer esse ou aquele traço e, claro, se dedicar mais um pouco àquele aluno com dificuldade. Dessa forma, muitos que “não sabem desenhar”, acabam por fazer, muitas vezes, os trabalhos mais bem-acabados, com resultados surpreendentes dentro da sala. Como as aulas, nessa etapa do aprendizado, são práticas, esses resultados são a própria avaliação dos alunos junto a essas aulas práticas. Cabe também ao professor saber distinguir cada aluno separadamente, assim como cada turma em relação uma da outra e assim poder avaliar a cada aula ministrada. Um recorte deve ser inserido neste texto sobre o aprendizado de um dos adolescentes. Vamos chamá-lo de “A”, um típico aluno de ensino médio com todos os preconceitos e tabus ligados a essa idade, mas com uma vontade de aprender a desenhar. Esse recorte é criado sobre a que ponto pode chegar o desenvolvimento de

Figura 1: Desenho de rosto de "A" para aula sobre cultura negra.

Figura 3: Exercícios iniciais de controle de mãos junto ao papel. Figura 2: Desenho de anjo, imagem retirada da internet. Proporção criada por "A" o qual chamou atenção pela qualidade das linhas.

uma técnica e o quanto a leitura e a teoria pode melhorar a visão de um aprendente. Em um primeiro momento, “A” queria desenhar um rosto para fazer seu trabalho quanto a cultura negra. Pedi para desenhar e saiu um desenho que, estereotipado, com tendências aos quadrinhos japoneses (mangá) não convinha com o tema e esse rosto poderia ser de qualquer coisa, mas certamente não de um afrodescendente, conforme podemos ver na Figura 1 e que para o aluno, já seria suficiente para ele receber a nota da aula. Continuamos os exercícios artísticos. Alguns deles diziam respeito apenas a descoberta dos elementos básicos do desenho, como linhas, pontos círculos, conforme Figura 2, onde, a cada aula o aluno descobria novas formas de fazer traços formas, tonalidades, quando foi iniciado um trabalho mais voltado para os sólidos básicos, “A” já se demonstrava mais dedicado aos desenhos, passando mais tempo com o papel, e fazia questão de mostrar o desenho quando terminava. Para um aluno do ensino fundamental, pode-se achar normal, mas quando chegamos a um adolescente parece esquisito ficar observando esses desenhos. Mas não é, conforme veremos mais abaixo. Figura 4: Imagem original de “O compadre de Ogum”, criação de Carybé. Fonte: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-679796774carybe-serie-compadre-de-ogum-50x35cm-_JM

Próximo passo dado com as turmas: proporção. Nessas aulas foram dadas informações teóricas de como se chegar a proporção, a história da mesma, como foi descoberto a perspectiva e como ajudou os renascentistas a produzirem suas grandes obras na época e depois dela. A técnica utilizada nas aulas foi o da quadrícula, uma forma de chegar a proporção em qualquer tamanho, descoberta desde o renascimento, que se utiliza de pequenos quadros que acabam por formar um outro maior e assim, distribuindo partes do desenho em cada quadrícula, teremos, ao final um desenho na mesma proporção que o original.

Figura 5: Criação do aluno “A” após exercícios de proporção. Selecionado para a exposição com o tema cultura afro-brasileira.

Como os alunos precisavam fazer tudo muito rápido, foram criados alguns exercícios práticos e “A” demonstrou grande habilidade nessa fase, conforme Figura 3. Dai a fazer melhores trabalhos com o que ele queria foi um pulo. O trabalho final, de acordo com o que havia sido discutido foi finalmente iniciado. Cópias dos alunos sobre a arte de Carybé com o tema da cultura afro-brasileira. Todos os alunos escolheram alguma imagem da internet e, a partir da mesma, usando a técnica da quadrícula, criaram suas próprias artes. Conforme explanado antes, o aluno “A” demonstrou grande habilidade com essa técnica, escolhendo a Figura 4 em um site de vendas da internet, fazendo seu trabalho e sendo um dos mais visitados durante a exposição sobre a cultura afro-brasileira, ocorrida na escola (Figura 5). Acreditamos que se fosse deixado apenas o conhecimento inicial do aluno, discutir sobre elementos históricos e sociais, fazendo os alunos terem mais consciência de fatos da arte africana no Brasil, mas e artisticamente? Haveria alguma evolução nos trabalhos dos alunos? Dessa forma podemos afirmar que trabalhar com a teoria, processos históricos e

uma avaliação em fim de período pode ser importante para o desenvolvimento do estudante, mas avaliar a cada passo que o mesmo dá, dentro de alguma disciplina, também pode fazer a diferença quando ao seu conhecimento, pois ele também se autoavalia. Mas isso também deve vir do esforço do professor para que a classe possa ter seu desenvolvimento, não importando se de uma ou outra forma de ministrar as aulas. Não adianta passar conteúdos a esmo, sem contextualizar ou referendar assuntos pertinentes aos escolares. Para Barbosa (2008), é importante que "(...) o professor utilize seu compromisso, sua reserva ética para engajar e buscar alternativas(...)", e isso é possível a partir dessas práticas pedagógicas dentro da sala de aula; mas precisa do professor se aplicar, ter um mínimo de prática em artes visuais, coisa que em 5 anos de faculdade se adquire naturalmente, a não ser que não “queira saber desenhar”, coisa que vem, muitas vezes arraigados ao cerne de cada um.

UTILIDADE Estudiosos da educação e arte, como Ana Mae Barbosa (1984) ou Leda Guimarães (1996), falam, em suas defesas e conceitos, sobre a não motivação de se desenhar em sala de aula, começando-se no jardim de infância onde as crianças são até bem direcionadas aos desenhos, inclusive para aprenderem a “afinar”, sua coordenação motora e seu traço na busca pelo letramento, acontecendo o mesmo nos anos iniciais do ensino fundamental menor, mas aos poucos os desenhos vão sendo sublimados gradativamente, onde só se desenha o que existem nos livros para datas comemorativas, como o coelhinho da páscoa, Saci no Dia do Folclore, Dom Pedro no cavalo na Independência, etc. E só. Até chegar ao ponto que pais, assim como professores abordam os jovens com "por que você está desenhando? Vá fazer algo útil!". Útil nesse contexto seria a leitura, a escrita, a teoria sendo a fonte de conhecimento. Retirando da memória das crianças e adolescente o fato que eles gostavam de desenhar, atrofiando esse entendimento e cancelando a prática, tão necessária para se ir melhorando conforme a vida passa. Ao se escolher uma faculdade de artes visuais, o então aspirante a professor, ou artista, conforme fala Luiz Dantas (2007), tem que voltar ao aprendizado do desenho. E como ele volta a desenhar? Simples, como uma criança de 10 anos, tendo que reaprender tudo em muito pouco tempo, quando poderia ter dado continuidade às

experiências das artes visuais em sua vida até aquele ponto. Por que 10 anos? Essa é a idade média que as crianças começam a parar de desenhar o qual parafraseando Ostroer, “desenhar é um ato de ir desenhando”. Se você para aos dez anos, quando voltar, independente da sua idade, vai voltar conforme sua técnica até aquele ponto. Outro fator importante que destacamos do desenho quanto ao aprendizado e, consequentemente, as avaliações no ensino de artes visuais são as próprias disciplinas escolares, conforme a transversalidade da arte, todas as outras disciplinas necessitam de ter partes visuais em seu conteúdo. Isso é notório em cursos superiores como geografia, história ou matemática, mas matérias como física, química ou biologia também se aplicam esses ensinamentos voltados ao desenho, onde, ao cursar uma dessas faculdades, pode ser ajudada com o desenho nas elaborações visuais de várias dessas cadeiras. Falamos até aqui da vida pedagógica, educacional e até acadêmica de estudantes; no entanto, nem todos os alunos vão cursar uma faculdade. Hoje ainda, mesmo com tantos incentivos para se entrar em uma universidade, grande parte dos alunos acabam indo para o mercado profissional. Muitos deles, com alguma informação e formação artísticas, acabam por se diferenciar nas suas funções, mas, se tivessem mais formação em sua vida escolar, certamente outras oportunidades artísticas surgiriam para os mesmos. Sobre questões práticas, nesse contexto, é que se aluno “sabe desenhar” e tem a experiência e habilidade nas suas criações práticas, isso é suficiente, não é necessário teoria, pois o que o mesmo faz é uma prática, é desenhar. Mas será que se ter apenas técnica é suficiente para se tornar um bom profissional ou acadêmico? Na academia, em cursos de artes, por mais que existam disciplinas voltadas apenas para a prática, outras são totalmente teóricas, amalgamando o conhecimento e a experiência em cada aluno graduando. Na vida profissional, não adianta ser apenas um bom desenhista (e existem muitos), sem ter um mínimo de criatividade, opinião, formação e para isso leituras específicas sobre artes em geral são indispensáveis, não apenas livros, mas outros meios como TV, revistas, jornais e, hoje em dia, principalmente, a internet, onde existe um banco de dados, podemos dizer, infinito, livros digitais em quantidade gigantesca. A leitura e a busca por maiores informações quanto ao aprendizado é sempre importante para o desenvolvimento do artista. Dentro da escola, sabemos a dificuldade em ter aulas práticas com um tempo curto

para o professor ministrar uma aula de artes e ter que se desdobrar para seu horário de cinquenta minutos no ensino médio ou as duas aulas para o fundamental maior por semana. O planejamento é sempre necessário e trabalhar devagar, mas efetivamente vai, por fim, ter bons resultados para com os alunos não apenas no final de um bimestre, mas também em parte da sua vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Acreditamos que essa é uma visão que poderá ser melhorada com o passar do tempo, nossa sociedade investe cada dia mais nas mentes dos alunos, esquecem o corpo e também as possibilidades práticas que cada pessoa pode fazer. Não somos máquinas que apenas consomem e produzem em escala e pronto. Temos dentro de nossas vivências formas distintas de aprender e também de mostrar o que aprendemos. As avaliações formativa e somativa trabalhando juntas podem fazer do aprendizado uma forma de criar um cidadão mais consciente do seu contexto, pois pratica o que existe na teoria e se aprofunda teoricamente para poder fazer suas criações. O professor é parte importante nesse caminho que está sendo trilhado pelo aluno, mas para isso deve se dedicar tanto para uma avaliação de final de ciclo quanto para as que estão sendo colocadas em sala a cada aula, além de saber que ele pode, além de ensinar, também aprender com as turmas, da mesma forma que, com seu olhar brilhando a cada descoberta nos cursos universitários, pode também o fazer quando percebe que o aluno descobriu algo que não sabia e que pode criar com sua descoberta. Quanto a assuntos teóricos voltados para a arte, releituras de obras de artistas também são importantes para que o aluno possa ter melhores referências para suas criações, fazendo-o ter consciência do que já existe com outros artistas, especialmente os não tão conhecidos historicamente, mas que tem importância fundamental para o aprendizado mesmo. Obstáculos como turmas grandes, cansaço do professor por tantas horas de aulas semanais, com turmas barulhentas de alunos que desprezam o conhecimento, além de outros professores que não acreditam que a educação pode modificar o estudante, além de outros, devem ser perpassados, pois a garantia de sucesso social do aluno não está garantido, mas se o mesmo tem um senso crítico da sua realidade, está meio caminho andado para ser o que cada professor se propõe a ensinar ao mesmo: ser um cidadão.

Terminamos este texto sabendo que muito ainda poderia ser explorado, tivemos algumas dúvidas esclarecidas, muitas outras poderiam ser levantadas, mas acreditamos que por hora muito também foi esclarecido para o leitor. Dessa forma, simplificando, podemos explanar que estudos da arte, tanto práticos quanto teórico, são, na verdade, emaranhados entre si. Só a teoria não informa todos os fatos aos alunos, só a prática esconde o porquê daquela atividade produzida. Os dois sistemas de avaliação também, se tornam, no lugar de distantes e sem conexão; complementares, tanto na questão aluno/professor, quanto aluno/vida, aluno/academia, profissional/trabalho, pois quando se pratica, se procura mais informação, quanto mais informação, mais se procura fazer, criar, produzir mais e melhor.

REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae T. B. Arte Educação: conflitos e acertos. São Paulo: Max Limonad, 1984. (ARTE/Max Limonad) BARBOSA, Jane. A avaliação da Aprendizagem como Processo Interativo: Um Desafio para o Educador, Rio de Janeiro: FAETEC, 2008. Artigo publicado no periódico Democratizar, do Instituto Superior de Educação da Zona Oeste/RJ. DANTAS, Luiz Elson. Desenho na sala de aula: Método Cacimba. Natal/RN, 2007. DELORS, J. (org.). Educação um tesouro a descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Jandira/SP : Editora Cortez, 7ª edição, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo : Paz e Terra. Coleção Saberes. 1996. GUIMARÃES, Leda Maria de Barros. Desenho, desígnio, desejo: sobre o ensino de desenho. Teresina: EDUFPI, 1996; Tese-mestrado-UFPI. Orientador: Dr. Luiz Botelho Albuquerque. LUCKESI, Cipriano. Avaliação da aprendizagem (06/12/2012), disponível em http://www.youtube.com/watch?v=JqSRs9Hqgtc. Acesso em 12/06/2013. MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. OLIVEIRA, Gerson. Avaliação formativa nos cursos superiores: verificações qualitativas no processo de ensino-aprendizagem e a autonomia dos educandos. Revista Iberoamericana de Educación (Online) , Espanha, v. 1, p. 2, 2002. PACHECO, José. “A crise é, também, da educação!”. Entrevista a Andreia Lobo para o site Educare em 2013-01-14. Acesso 08/07/2013. Disponível em http://www.educare.pt

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