Bakhtin e as primeiras cartas de \'Carlos & Mário\': fronteiras e diálogos (2012)

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BAKHTIN E AS PRIMEIRAS CARTAS DE “CARLOS & MÁRIO”: FRONTEIRAS E DIÁLOGOS PALAVRAS-CHAVE

Óleo s. tela, 72 x 58.

Carlos Drummond de Andrade. Mário de Andrade. Discurso epistolar. Esferas sociais. Dialogismo.

Cândido Portinari. Retrato de Carlos Drummond de Andrade 1936.

RESULTADOS E DISCUSSÃO ABRASILEIRAR-SE Em carta de nov.-dez./1924, Mário argumenta: E agora reflita bem no que eu cantei no final do “Noturno” e você compreenderá a grandeza desse nacionalismo universalista que eu prego. De que maneira nós podemos concorrer pra grandeza da humanidade? É sendo franceses ou alemães? [...] seremos universais, porque nacionais. [...] Você faça um esforcinho pra abrasileirar-se.

Mário não pede a Carlos mudança radical. Isso é empatia. É, na construção do enunciado, ser o outro. É a veia de professor em ação, espontânea e sutil, para ser eficaz. O FAZER POÉTICO A QUATRO MÃOS Em 30/dez./1924, Carlos escreve a Mário: E agora, peço-lhe catar as pulgas dos versos novos. Não achando bom, risque; não achando perfeito, corrija.

Em carta de 18/fev./1925, Mário aplica nos versos de Minas seu fazer poético, a crítica literária e sua pedagogia. Mostra que o ideário modernista e o abrasileirar-se materializam-se na escritura da obra literária: Gosto do coxeando, tão nosso, [...] talvez se um outro verso descritivo ou subjetivo encompridasse a frase o poema ficava com o fim mais final. Por exemplo: e lá vai toda curvada, coxeando, / coxeando pela rua Pará [...].

Em resposta, em março/1925, Carlos avalia: Fica assim o verso: “acha uma muleta aqui, outra mais adiante”, como você sugeriu. [...] acho melhor transformar essa rua Pará em rua Goiás; tem o mesmo efeito, é uma rua central de Belo Horizonte, [...] acompanho com interesse as suas pesquisas e tentativas no sentido de “estilizar o brasileiro vulgar”; [...].

EU–OUTRO Na carta de 06/fev./1925, Carlos manifesta gratidão a Mário, em linguagem literário-poética: Você, com duas ou três cartas valentes acabou o milagre. Converteu-me à terra. Creio agora que, sendo o mesmo, sou outro pela visão menos escura e mais amorosa das coisas que me rodeiam.

Em igual linguagem, Mário expressa em carta seguinte (s/d): “Sinto que o meu copo é grande demais e ainda bebo no copo dos outros”. [...] Sou o aluno Mário que também aprendo. [...] As almas são árvores. De vez em quando uma folha da minha vai avoando poisar nas raízes da de você. Que sirva de adubo generoso. Com as folhas da sua, lhe garanto que cresço também.

Milton Francisco da Silva Universidade Federal do Acre Pós-graduação em Filologia e Língua Portuguesa – USP Orientadora: Maria Lúcia da C. V. O. Andrade Bolsa Capes / Prodoutoral INTRODUÇÃO No Brasil, cresce o interesse acadêmico pelo discurso epistolar de intelectuais brasileiros. Os motivos são vários: exploração da biografia dos missivistas, compreensão maior de suas obras culturais, explicação de elementos da história brasileira sob novo olhar. Nosso objetivo é analisar parte das cartas trocadas entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade, a partir dos conceitos bakhtinianos de ideologia do cotidiano, esfera ideológica, diálogo entre enunciados e entre os sujeitos. METODOLOGIA Leitura minuciosa das 11 primeiras cartas da extensa epistolografia construída por Drummond e Mário de Andrade de 1924 a 1945, reunidas em Carlos & Mário (Frota, 2002). CONCLUSÕES Nas cartas, ocorrem a linguagem literário-poética, a crítica literária e a ação pedagógica. Assim, tais cartas: - vinculam-se à esfera literária, à acadêmica e à educacional; - situam-se sobre a fronteira da ideologia do cotidiano com tais esferas e sobre as fronteiras entre essas esferas. Há, na troca de cartas, construção de versos a quatro mãos (via pedagogia ou via crítica) em prol do ideário modernista defendido por Mário e compartilhado por Carlos. Nessa troca, a consciência (individualidade e intelectualidade) de Carlos e, em menor grau, a de Mário, modificam-se, ilustrando que o eu se constitui face ao outro, o outro é integrante da consciência do eu, dialogicamente. O olhar a partir dos estudos bakhtinianos: - indica, em parte, como ler hoje as cartas de Carlos & Mário; - fomenta o status atribuído atualmente ao discurso epistolar. REFERÊNCIAS ANGELIDES, S. (2001). Carta e literatura: correspondência entre Tchékhov e Górki. São Paulo: Edusp. BAKHTIN, M. M. (1993). O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. A. F. Bernardini et al. 5 .ed. São Paulo: Hucitec, p. 13-70. _____. (2010). Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Trad. P. Bezerra. 5. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, p. 261-306. FROTA, L. C. (Org.). (2002). Correspondência completa entre Carlos Drummond de Andrade (inédita) e Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi. MORAES, M. A. de. (2007.) Orgulho de jamais aconselhar: a epistolografia de Mário de Andrade. São Paulo: Edusp; Fapesp. VOLOCHINOV, V. N. / BAKHTIN, M. M. (1992). Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem. Trad. M. Lahud e Y. F. Vieira. 6. ed. São Paulo: Hucitec.

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