Bandidos dizem que é fácil roubar

July 6, 2017 | Autor: Michelli Possmozer | Categoria: Reportagem Jornalística, Reportagem Policial
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ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2012

Reportagem Especial INSEGURANÇA NAS RUAS

Bandidos dizem que é fácil roubar Cada vez mais ousados, eles afirmam que é fácil cometer crimes na Grande Vitória porque falta policiamentio nas ruas Michelli Possmozer Nathalia Pompermaier lém de causarem sensação de insegurança e medo na população, os criminosos ainda são ousados, debochados e destemidos. “Eu roubo porque é muito fácil”, foi a resposta de Josemar de Jesus Santos, o Baiano, 26 anos, ao ser questionado sobre o que o motivou a roubar. Ele foi preso na noite da última terça-feira, na região de Vila Garrido, em Vila Velha, acusado de render um taxista com uma barra de ferro. Quando estava detido no Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vila Velha, o assaltante contou que a prática do crime é fácil no Estado em função da falta de militares nas ruas. “Nunca assaltei ninguém, mas percebi que é muito fácil roubar. Antes de assaltar, não vi nenhum policial por perto”, explicou Baiano. No momento do crime, o acusado e um comparsa ameaçaram o taxista com o pedaço de ferro nas mãos e exigiram os pertences dele. No entanto, a vítima reagiu ao assalto, parou o táxi e saiu do veículo. Apesar disso, os bandidos roubaram o aparelho de DVD do carro, o GPS e R$ 40 em dinheiro, mas foram presos por populares. Já em poder da polícia, o acusa-

A

do ainda contou que só chegou a ser preso porque testemunhas conseguiram segurá-lo e acionar a Polícia Militar. “Foi tudo tranquilo. Eu só fui preso porque as pessoas me renderam. Se não fosse por isso, a polícia nem teria ficado sabendo”. Um ajudante de estivador de 20 anos que foi pego pela polícia usando drogas no último dia 22, em Itapoã, Vila Velha, confessou que já cometeu vários assaltos e disse que é fácil roubar. Antes de ser liberado no DPJ de Vila Velha, ele contou que a ausência de policiais nas ruas facilita o crime. “Não tem segredo, não! É só olhar se tem polícia... Aí é só pegar uma arma e anunciar o assalto”, disse o ajudante. Apontando também para a falta de policiamento, bandidos de outros estados passaram a vir cometer crimes no Espírito Santo. Esse foi o caso de Altodely Moreno de Souza Augusto, 25, preso no último dia 15 de dezembro depois de roubar os celulares de três amigos, na Glória, em Vila Velha. Altodely é mineiro e admitiu que é muito mais fácil assaltar aqui no Estado do que na terra natal dele. “Eu roubava em Minas Gerais, mas aqui é muito mais tranquilo praticar esse tipo de crime. Para roubar, basta saber aproveitar uma oportunidade”, contou.

É muito fácil roubar. Antes de assaltar, não vi nenhum policial por perto





Josemar de Jesus Santos, de 26 anos

FÁBIO NUNES/AT

MESMO após ser preso, Baiano disse que é fácil cometer assaltos no Estado em função da falta de efetivo policial

“Policiamento já foi reforçado” O comandante do Policiamento Ostensivo Metropolitano (CPOM), coronel Edmilson dos Santos, afirmou que a Polícia Militar já reforçou o efetivo policial em toda a Grande Vitória e que o remanejamento dos militares é feito de acordo com o Mapa do Crime. “O trabalho que vem sendo feito pela polícia é satisfatório. É feito um estudo diário para verificar

onde há a maior necessidade de policiais para combater o crime”. Segundo o comandante, o problema maior está na legislação que prejudica o trabalho da polícia. “Já chegamos a efetuar a prisão de um mesmo criminoso 20 vezes. Ele é preso, mas solto no dia seguinte e volta a praticar o mesmo delito”. O coronel apontou que, ao redirecionar o policiamento para um

Secretário aposta em obra social

DEBOCHE DA POLÍCIA

O secretário de Estado da Segurança Pública, Henrique Herkenhoff, afirmou que, além do policiamento ostensivo, o Espírito Santo precisa de projetos sociais que ofereçam uma alternativa às pessoas que só veem o mundo do crime como opção. Segundo ele, o aumento no número de policiais nas ruas é im-

portante e está sendo feito pelo governo do Estado. Contudo, ele explicou que apenas a presença dos militares nas ruas não resolve o problema. “Temos aumentado o efetivo da polícia nas ruas. Tanto que o número de prisões cresceu 25% em relação ao ano passado”, lembrou o secretário. LEONARDO BICALHO - 03/04/12

“Foi mamão com açúcar” O jovem Felipe de Almeida Sepulchro, 20, foi preso na tarde da última quarta-feira, depois de ter sido acusado de assaltar uma mercearia em Novo Horizonte, na Serra. Quando foi preso, Felipe estava com uma moto roubada. Ele negou o assalto à loja e disse que pegou a moto a mando de um outro rapaz. Apesar de negar que tenha invadido o comércio, quando já estava

local de maior violência, os bandidos migram para outra região, o que dificulta o combate ao crime. Para o comandante, a população também pode contribuir para o trabalho da PM. “Algumas ocorrências não são comunicadas à polícia. É preciso que os moradores registrem o boletim de ocorrência para que possamos saber onde reforçar o policiamento”.

preso Felipe afirmou que foi fácil cometer o furto. “Eu queria a moto para andar e dar 'uns rolé'. Fui na porta da loja e peguei. Tava fácil, não tinha nenhuma viatura lá. Eu olhei e vi que não tinha ninguém e peguei. Foi mamão com açúcar”. Segundo a Sejus, Felipe foi solto ontem depois de conseguir um alvará de soltura.

HENRIQUE HERKENHOFF diz que dos 4 mil detidos, só mil ficam presos

No entanto, Herkenhoff apontou para o fato de que, seguindo as indicações da legislação, grande parte das pessoas detidas não permanece presa. “Cerca de 4 mil pessoas são detidas por ano no Estado, sendo que apenas mil delas respondem ao crime em regime fechado”, disse. De acordo com o secretário, há uma intenção do Estado de não só investir na capacitação e na contratação de novos policias, mas na criação de projetos sociais com foco na capacitação de jovens. “O trabalho da polícia é necessário, mas ainda precisamos dar oportunidades e alternativas às pessoas. Porque caso contrário, elas vão cometer crimes independente da presença do militar. Necessitamos das duas coisas”. De acordo com Herkenhoff, já houve uma diminuição de casos de crimes contra o patrimônio nos municípios capixabas, apesar de ser difícil calcular o índice, já que grande parte das vítimas não registra ocorrências desse tipo.

VITÓRIA, ES, SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2012 ATRIBUNA

Reportagem Especial ANTONIO MOREIRA /AT

INSEGURANÇA NAS RUAS

REAÇÃO

Moradores fazem papel de policiais R evoltadas com a criminalidade no Estado e com a falta de segurança na ruas, vítimas assumem o papel de policiais e ajudam a prender bandidos. Em alguns casos, os assaltantes se dão mal, por que além de serem presos, chegam a apanhar de pessoas que dizem estar cansadas da facilidade com que os bandidos atuam no Estado. Na manhã do dia 9 de junho, por exemplo, o assaltante Jarbas Normin Junior, 27, levou uma surra de moradores do bairro Jardim Marilândia, em Vila Velha, depois de ser visto rendendo uma atendente de caixa de 25 anos. O ladrão fingiu que estava armado para tentar assaltar a vítima, mas ela conseguiu escapar. Os moradores correram atrás dele, amarraram-o e bateram no acusado. “Estamos tão cansados de vagabundos agindo no bairro que não temos mais paciência”, desabafou na época um vendedor de 27 anos que ajudou a prender o bandido. Também revoltado com a ação de bandidos, um segurança de 38 anos bateu em um estudante de 19 anos que arrombou a janela do segundo andar da casa dele para roubar, no bairro Santa Luiza, em Vitória.

O segurança estava dormindo, às 3h40 do último dia 19 de abril, quando foi acordado com a porta do quarto sendo aberta. Ele acendeu a luz e viu que um homem estava em pé e parecia estar com uma arma nas mãos. O acusado mandou o segurança ficar quieto e sentado na cama. Disse que se ele reagisse iria atirar. O estudante pegou o celular da vítima e disse que estava com um cúmplice e que iria pegar outros objetos. Só que, quando o ladrão se preparava para sair do quarto, foi surpreendido. “Enquanto estava sentado, fiquei observando. Então percebi que não estava armado e ‘voei’ para cima do bandido. Agarrei o pescoço dele e dei uma surra”, contou o segurança na época do assalto. Depois de ter sido assaltada por um bandido armado na noite do dia 22 de maio deste ano, uma adolescente de 17 anos voltou a encontrar com o acusado do crime horas depois de ter sido rendida no bairro da Glória, em Vila Velha. Nesse momento, um amigo da vítima, revoltado com a insegurança, perseguiu o bandido e o pegou. Ele chegou a agredir o estoquista Marcus Vinícius Nascimento, 26, que acabou preso.

Ladrões agem à luz do dia Não é novidade que os criminosos se aproveitam de vacilos para agir. No entanto, ser prudente não garante mais a segurança. Os bandidos estão cada vez mais destemidos e agem mesmo à luz do dia. O caso do comerciante Nilton de Freitas Marangoni Júnior, o Juninho Marangoni, 39, é um exemplo dessa ousadia. Ele foi morto durante um assalto às 8 horas no dia 15 de junho, em Jardim Asteca, Vila Velha. Juninho reduzia a velocidade em um cruzamento quando foi rendido por três bandidos. Ao se aproximarem do comerciante, ele teria se assustado a acelerado o veículo. Foi quando um dos ladrões disparou. Cinco dias depois, um taxista de 38 anos foi espancado e assaltado ao parar em um semáforo, às 6 horas, em Itapoã, Vila Velha. Quando o taxista parou em um

cruzamento, um dos bandidos abriu a porta do táxi e o tirou do veículo à força. Eles exigiram que o taxista lhes entregassem o dinheiro. Não satisfeitos, agrediramno com tapas, socos e chutes. Já em Vitória, em Jardim da Penha, uma pedagoga de 37 anos foi sequestrada quando saía da casa da mãe, às 9 horas. Ela foi obrigada a dirigir por seis horas nas mãos de um bandido armado no dia 31 do último mês.

OS NÚMEROS

39 anos 8 horas

era a idade do comerciante

foi o horário do crime

FÁBIO NUNES- 15/06/12

COMERCIANTE acabou morto durante um assalto em Jardim Asteca

Loira imobiliza bandido com golpe Após mais um dia de trabalho, a vendedora Mônica Cristina da Conceição, 43 anos, se aproximar da sua residência, no balneário de Jacaraípe, na Serra, no último dia 11 de abril, quando percebeu que a casa havia sido arrombada. Cansada de ver a ação de criminosos que acabam impunes, ela resolveu reagir ao assalto e conseguiu pegar o bandido de surpresa, imobilizando ele com um golpe de jiu-jítsu. Mônica conseguiu prender Douglas Silva Lima, 30 anos, e chamar a polícia. FERNANDO RIBEIRO - 12/04/12

COM UM golpe, o lutador Fábio Casagrande ajudou a prender o assaltante

LUTADOR FÁBIO CASAGRANDE

“Quebrei o cotovelo dele” Fiquei com medo de morrer, O lutador faixa preta de jiu-jítsu e professor de Educação Física Fá- achei que ele fosse me golpear bio Casagrande Coelho Costa, 32 com a faca e bati nele. Não seria o anos, foi vítima de uma tentativa ideal reagir, mas entre a vida e a de assalto na avenida Carlos Lin- morte, preferi tentar viver. denberg, na Glória, em Vila Velha, > Nesse dia, havia policiamenquando estava indo para a acade- to na rua? mia, às 18 horas. Onde eu estava, não. E o bandido Mesmo sabendo que o ladrão es- aproveita justamente a ausência tava armado com uma faca, ele ba- do policiamento para cometer o teu no criminoso, quebrou o coto- crime. Ele não iria roubar se houvelo dele com um golpe e o imobi- vesse policiais por perto. Os crimilizou. Depois que o bandido já es- nosos sabem que o efetivo policial tava no chão, policiais militares não é tão grande como o número apareceram para efetuar a prisão de bandidos. do ladrão. > Havia moO professor vimento de Fiquei com medo p e s s o a s n a contou à reportagem de A Trirua? de morrer. Não buna que não A avenida esseria o ideal reagir, mas tava recomenda bem moviuma atitude de entre a vida e a morte, mentada e ainreação nos cada estava anoipreferi tentar viver sos em que o tecendo quando bandido está aro bandido me mado. Mas, como não havia poli- abordou. Até o Departamento de ciais por perto e porque teve medo Polícia Judiciária (DPJ) fica ali de que o ladrão o atacasse com a perto, mas isso não intimida mais faca, optou por tentar salvar a pró- os criminosos. Eles estão cada vez pria vida. mais ousados e mais corajosos paA TRIBUNA - Como foi a tenta- ra assaltar as pessoas. tiva de assalto? > Você recomenda aulas de arFÁBIO CASAGRANDE - Eu esta- tes marciais para se defender de va no ponto de ônibus quando bandidos? Com certeza! Mas só recomenum ladrão passou na calçada e tentou pegar meu relógio. Eu do utilizar as técnicas de defesa puxei a mão, ele ficou desespera- pessoal nos casos em que o ladrão do, gritando e mostrando a faca. não está armado. Comigo deu cerApliquei um golpe no bandido, to, mas eu tenho ciência de que poquebrei o cotovelo dele e o jo- deria ter morrido. Porém, numa tentativa de sequestro ou estupro, guei no chão. > E por que você reagiu se ele saber se defender pode ser fundamental. estava armado?





ANÁLISE Evandro Corá, instrutor do Centro Avançado em Técnicas de Imobilização (CATI)

“É tudo culpa da impunidade” “A morte e os crimes, de uma maneira geral, tornaram-se muito banais nos dias de hoje. E a impunidade está presente, não só no Estado como em todo o país, o que favorece o triste cenário de criminalidade vigente. O problema começa no Poder Legislativo. Enquanto houver lacunas nas nossas leis que permitam que bandidos não sejam punidos como deveriam, os criminosos vão continuar agindo sem nenhum medo. É uma necessidade que nós, como sociedade, cobremos dos políticos leis estaduais ou municipais mais efetivas, que busquem formas de contornar esses problemas dentro da realidade do Espírito Santo. O motivo de todo esse problema só tem um nome: impunidade. Enquanto houver impunidade, eles vão continuar agindo à luz do dia, mostrando a cara para câmeras de segurança, sem nenhum receio. A reação de cada pessoa diante de um assalto é individual e imprevisível. Mas é importante ressaltar que, apesar da revolta, nunca devemos reagir. Afinal, nunca sabemos qual será a atitude do criminoso e a vida é o nosso bem mais precioso e deve ser preservado.”

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