Bases para a fundamentação de um Design Amazônico

July 23, 2017 | Autor: Heleno Almeida | Categoria: Design, Amazonia, Ecodesign, Desenvolvimento sustentavel
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Descrição do Produto

Bases para a fundamentação de um Design Amazônico  

LIMA, Heleno Almeida; Designer e Professor; Faculdade Martha Falcão [email protected] JORDÃO, Aderson Silva; Acadêmico; Faculdade Martha Falcão [email protected]       SENA, Edna Tamar dos Santos; Acadêmica; Faculdade Martha Falcão      

Resumo Manifestações têm sido observadas na mídia, estudiosos de design e revistas especializadas mostram produtos incorporando elementos culturais e temáticos da Amazônia em sua construção material. Comunicar a essência desses produtos e formular uma teoria que justifique o estilo destes produtos “made in Amazônia” - motivaram a elaboração deste artigo, sobre um novo de design que nasce da junção de elementos tecnológicos e culturais: o design amazônico. Palavras-chave: Cultura; Amazônia; Desenvolvimento Sustentável.    

Introdução     Amazônia, referências e design    

Para o INPA (2004) a Amazônia é uma vasta região ao norte do Brasil, situada na bacia amazônica, que abriga a maior floresta tropical úmida ainda existente no mundo. No aspecto cultural, a Amazônia tem forte presença e conhecimento internacional em função de seu artesanato, cultura material e indígena.   Afirma Guerreiro (2004) que sob o ponto de vista antropológico, os objetos produzidos nas sociedades indígenas adquirem valores que vão além de apenas objetos de uso. Objetos e o próprio corpo humano transformam-se em receptáculos e vias de comunicação de idéias por meio de configurações e padrões estéticos que lhes conferem sentido, próprio aos seus contextos sócio-culturais de origem. Desta forma, os objetos se convertem em símbolos – “coisas que querem dizer outras coisas” Ao estudo desses significados dá-se o nome de antropologia material, justamente por estudar a cultura material. Esse fenômeno cultural é codificado duas vezes: uma vez na mente do artesão, a outra na forma física do objeto. Ainda enfocando a produção artesanal Guerreiro (2004) diz que em virtude da crescente demanda por produtos de origem artesanal, e por seu caráter exclusivo, estético e processos rústicos mais atrativos, o design de produtos tem procurado se integrar e interagir com os artesões. Otimizando desta maneira a capacidade de produção, qualidade e agilidade dos processos de confecção destes novos produtos, a fim de abranger novos mercados consumidores, ávidos por produtos exclusivos.      

Princípios de Estilo em Design    

Para Baxter (2000) o estilo de um produto é a qualidade que provoca a sua atração visual. A forma visual pode ser feia, desequilibrada ou grosseira. Ou pode ser transformada em uma forma bela, que admirada por todos que a olhem. Baxter (2000) afirma que um produto deve ser atraente aos olhos. A atração nos consumidores, segundo Baxter (2000) se dá de quatro formas: 1.   Atração daquilo que já é conhecido. Muitos consumidores compram produtos de forma repetida. É importante que o consumidor se acostume a comprá-lo alguma regularidade, como no caso de produtos alimentícios. 2.   Atração Semântica. Para usuários de produtos que não tenham conhecimento anterior do produto, é importante transmitir a sensação de confiança através da imagem visual. Para produtos em que o aspecto funcional é importante, isso pode ser obtido fazendo com que ele pareça desempenhar bem as suas funções. Isso é diferente de fazer um produto funcionar bem. 3.   Atração Simbólica. Se a aparência do produto for o aspecto mais importante (ou único) para a compra do produto, é necessário adotar outra atitude no estilo. Aqui, o simbolismo do produto é importante. 4.   Atração Intrínseca da forma visual. A qualidade básica para a atração visual, para qualquer produto, é a sua elegância, beleza: um apelo estético implícito. Isso resulta da incorporação dos aspectos da percepção visual e determinantes sociais e culturais ao produto, como foi descrito nos outros itens acima.

Com as afirmações de Baxter (2000) é possível traçar um comparativo entre os conceitos expostos e a visão externa que alguns Países ou Estados nacionais têm da Amazônia, que em alguns casos, apesar de preconceituosa, é fortemente enraizada no imaginário que envolve nossa região. Suas lendas, seus mitos, sua fauna, sua flora, sua floresta são os elementos que compõe a própria iconografia da palavra “Amazônia” no entendimento da grande indústria cultural. O que vale citar Leite (2004) que afirmar que o design é reflexo dos dados culturais de seu povo.  

Manifestações do Design Amazônico  

1)   Projeto Design Tropical (1999) Este projeto foi idealizado e estruturado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e Fucapi, em 1999, e o mesmo tem funcionado como canal de expressão da criatividade de um grupo significativo de artesãos amazonenses, anônimos criadores que por falta de oportunidade, se dedicavam a outras atividades de subsistência, em detrimento do dom artístico de que são possuidores. Para Lopes (2004) designer do Projeto Design Tropical (Fucapi), os elementos que caracterizam o design amazônico se mostram através dos diversos tipos de madeira com naturezas que se diferenciam pela tonalidade das cores de seu tronco, bem como por texturas internas e externas. Um outro elemento conceitual buscado para compor os projetos, são os elementos da cultura indígena de algumas tribos próximas de nossa região foram trabalhados nesse processo de criação na parte estética, alguns grafismos, combinações de cores nas cestarias e artefatos indígenas (dentro dos padrões de cada tribo) utilizando no processo de fabricação de objetos criados por designers de nossa região e alguns de outros estados.

Figura 01 - Centro de mesa, bases em madeira coração-de-negro.

 

O estilo Amazônico se consolida a partir do momento que as características descritas por Lopes (2004) fazem parte do conceito e estética do produto. As madeiras amazônicas de pouco valor comercial sendo usadas em combinações cromáticas, através da marchetaria e elementos do grafismo indígena sendo empregados a dar contornos e significados aos produtos dos projetos Design Tropicais (1999) e Amazônia: Design & Madeira (2001) remetem ao publico leigo e especializado á procedência e origem daqueles produtos ali expostos. O significado do design amazônico está na Amazônia, nos produtos culturais e no desenvolvimento sustentável. Este ultimo é necessário para aumentar a oferta dos produtos aos consumidores sem agredir ao ecossistema e a própria floresta.  

  Figura 02 - Fruteira com cesto ianomâmi. Utilizando a fibra do cipó titica, se diferencia pelos tons claros.

2) Projeto Amazônia: Design e Madeira (2001) Este projeto foi fruto da junção integrada de quatro grandes instituições de pesquisa e desenvolvimento na Amazônia (Fucapi, Sebrae, Inpa e Ufam), sendo organizado pelos dois primeiros. Segundo Reston (2001) o projeto foi realizado através de um diagnóstico de empresas do setor moveleiro e um curso de três módulos nos quais alguns moveleiros tiveram contato direto com alguns conceitos de design, experimentando técnicas de criatividade, desenho, modelagem, entre outras. No projeto se buscou a valorização de madeiras, uma vez que o Estado faz parte da maior floresta tropical úmida do mundo e possui uma enorme quantidade de madeiras ainda pouco exploradas em projetos de artefatos de madeira. Segundo Deviá (2001) as peças desenvolvidas neste projeto são resultados da criatividade de artesãos de três cidades (Manaus, Itacoatiara e Presidente Figueiredo).

Figura 03 – Aparador Tucunaré. Cedro rosa e Violeta. O tema do design é o de um olho existente na cauda do tucunaré.

Ainda Devia (2001) diz que nos projetos foram trabalhados os diferentes aspectos de nossa cultura, que vai além da chamada cultura acadêmica, para explorar contextos e valores mais amplos, vinculados ao estilo do povo, assim como o lugar de origem, no caso, a Amazônia, com uma natureza exuberante e sua grande biodiversidade, as lendas populares, as expressões corporais da dança, a música, a miscigenação das raças, o carnaval, a generosidade, o afeto, o carinho, a alegria, a cor, os rituais indígenas e etc.

Figura 04 – Porta Disquete. Angelim Rajado, Marupá, Pau Rainha, Roxinho, Cedro Rosa, Sucupira Vermelha, Macucu de paca, Louro Aritu, Sucupira Preta e Macacaúba. Técnica de machetaria.

É possível se notar na produção das peças quem compõe o catalogo Amazônia (2001), a questão das cores relacionadas à tipos de madeiras, presença de elementos místicos (e culturais), elementos de fauna e flora compondo aspecto visual de grande maioria dos produtos apresentados como resultado deste projeto ás comunidades das três cidades envolvidas.  

Materiais e Métodos A pesquisa realizada, aqui exposta foi realizada fundamentalmente com material coletado em livros, catálogos, revistas (nas quais se buscou informações primárias em textos sobre os produtos artesanais) e programas de revigoramento cultural, tais como o Design Tropical (1999) e a Amazônia: Madeira & Design (2001). Como forma de se obter dados secundários foi aplicada uma entrevista ao Designer da Fucapi, Jansen Mauro Lopes na qual se procurou obter definições e conceitos que identificassem o design amazônico, tais como materiais usados e a estética que compõe os produtos do selo Design Tropical e desta forma, gerando a fundamentação teórica necessária à caracterização de um estilo em design denominado, Amazônico.  

Resultados e Discussões      

Foi obtida a comprovação científica de que existem fortes indícios da comprovação do estilo de design denominado doravante, Amazônico. De acordo com a fundamentação sobre a forma e a percepção humana de produtos baseados no conhecimento prévio e associativo de formas (teoria da Gestalt) é possível associar o design elaborado nos projetos design tropical (1999) e Amazônia: Design & Madeira (2001) às teorias para construção da gestalt de um modelo de design ligado à cultura amazônica, quer seja por elementos materiais, construtivos ou iconográficos oriundos dos povos presentes em nossa região, que fomentam o processo

criativo e evolutivo desta nova tipologia de design, o que pôde ser observado nos dois projetos já citados neste artigo. E por fim, observamos que o Design Amazônico necessita de um planejamento com respeito ao desenvolvimento sustentável para seus produtos, especificamente com relação às matérias-primas usadas (madeira, sementes entre outras) a fim de aperfeiçoar o processo tanto de criação, ecodesign e produção de produtos pelos órgãos responsáveis pela disseminação do Design Amazônico, tais como a Fucapi, Sebrae, Ufam, Inpa e Faculdade Martha Falcão.  

Conclusões    

Amazônia, um vasto continente ainda por ser explorado e descoberto guarda incríveis elementos naturais, culturais e estéticos. O design amazônico não é somente a utilização de madeiras, tramas indígenas, ou elementos de fauna e flora amazônica – é o transporte da estética captada, difundida e utilizada por séculos pelos povos da Amazônia a fim de perpetuar suas crenças, sua história e a própria cultura de nossa vasta região amazônica. Os produtos desenvolvidos com este novo estilo, doravante amazônico. Será a autoimagem do habitante da floresta, de sua riqueza cultural e de seu próprio legado artesanal que por séculos se mantiveram através de sua cultura material e suas crenças que tanto maravilham e instigam outras civilizações.    

Referências

AMAZÔNIA: DESIGN & MADEIRA. Catalogo. Manaus, Sebrae, Fucapi, Inpa, 2001. BASTOS, Monique Guerreiro. Podari – Itens de Uso á Mesa a partir de Peças e Costumes Baniwa. Universidade Federal do Amazonas UFAM, Monografia e Conclusão de Curso, Faculdade de Tecnologia, 2004. BAXTER, Mike. Projeto de Produto: Guia Prático para o Desenvolvimento de Novos Produtos. 2 a Edição, Editora Edgard Blücher. São Paulo, Brasil, 2000. CROCCO, Heloisa. Artesanato e Design. Arcdesign. São Paulo, n. 13, p. 26-29, jan-fev. 2000. DESIGN TROPICAL. Manaus, Fucapi, 2000. CATALOGO. DEVIÁ, Luciano. Amazônia: Design & Madeira. Catálogo. Sebrae, Fucapi, Inpa, 2001. p. 16. Núcleo de Moveis. LEITE, Ricardo. Design Brasileiro: Imagem ou Reflexo? Design. Rio de Janeiro, n. 2, Ano 4, p. 33-39, Outubro 2002. LOPES, Jansen Mauro. Entrevista: Design Tropical. 03/05/2004.

MADE IN AMAZÔNIA. São Paulo. 2002. Disponível em: . Acesso em: 12/05/04 MOUCO, Iuçana de Moares. Jóia Amazônica - Valorizando o Habitante Natural da Região o Cabloco. Universidade Federal do Amazonas UFAM, Monografia e Conclusão de Curso, Faculdade de Tecnologia, 2004. O QUE É A AMAZÔNIA. São Paulo. 2002. Disponível em: . Acesso em: 10/06/04  

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