BENJAMIN, Walter. 2. A Paris do Segundo Império em Baudelaire: II. O flâneur. In: KOTHE, Flávio (org); FERNANDES, Florestan (coord.). Walter Benjamin: Sociologia. São Paulo: Ed. Ática, 1991. p. 65-92. (RESUMO)

May 31, 2017 | Autor: Jonatas Ferreira | Categoria: Walter Benjamin, Baudelaire, Charles Baudelaire, Paris, Flâneur, Resumo
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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Faculdade de Letras Disciplina: Teoria Literária IV (LEL210) Professor(a): Ricardo Pinto de Souza Estudante: Jônatas Ferreira de Lima Souza (DRE: 115044769)

RESUMO

BENJAMIN, Walter. 2. A Paris do Segundo Império em Baudelaire: II. O flâneur. In: KOTHE, Flávio (org); FERNANDES, Florestan (coord.). Walter Benjamin: Sociologia. São Paulo: Ed. Ática, 1991. p. 65-92. (Coleção grandes cientistas sociais, v. 50)

O flâneur. Trata da literatura panorâmica. Uma literatura muito popular nas ruas das principais cidades europeias do século XIX, sendo como uma leitura de bolso. Essa literatura inseria os novos elementos das modernas cidades, destacando de pequenos burgueses, como os camelôs, aos ricos que frequentavam óperas. No entanto esse gênero literário enfraqueceu após 1841. O interesse por tipos “fisiológicos”, dos homens, das cidades, dos povos, dos animais, foi decaindo nessa literatura, até sofrer de fato com medidas de censura em 1836. Tal literatura não era necessariamente caracterizada como suspeita, mas, cheia de boemia. O flâneur era esse boêmio, atuante fisiologista do cenário da nova cidade. A nova cidade, aqui, a nova Paris de Haussmann e Napoleão III, foi o elemento chave para a popularização e atuação do flâneur. Esse boêmio, esse caminhante das ruas, era o cronista da cidade, era seu filósofo. As ruas, as passagens, bulevares e suas lojas e vitrines, esses são os elementos do lar do flâneur. Esse tipo de literatura de fisiologias era vista inofensiva e sem malícia. Havia a ideia de convencer o leitor de certa cordialidade entre elementos de tradicional tensão social, como entre patrões e empregados, vendedores e clientes. Despertar nos leitores a suplantação da ideia de concorrentes, por parceiros, essa tentativa não obteve grandes sucessos. A literatura de fisiologias já vinha dos folhetins. Tentavam caracterizar ao leitor certas distinções sociais. Baudelaire era um dos que pensavam que a tensão crescente da cidade, tornaria o seu habitante um bom conhecedor dos homens, além de cada vez mais imperioso nos anseios. A literatura de fisiologia não conseguia acalmar o homem citadino. A massa era o empecilho maior dessa literatura, pois, para ela não importava os tipos humanos, mas sim a sua função na cidade grande. O flâneur entra, para essa sociedade, como um detetive natural. Isso legitima a sua vagabundagem e a sua ociosidade fica aparente. Nessas narrativas, o herói,

costumeiramente envolvido em aventuras peculiares, acaba conduzido a um crime. Como exemplo, tem-se a obra Mohicans de Paris de Dumas. Esse estilo de narrativa de detetive – novelas criminais –, aparece na França, primeiramente, com as traduções dos trabalhos de Poe. Baudelaire adotou tal gênero ao traduzi-los. Poe, segundo Valéry, foi o pioneiro em narrativas que conectam ciência, cosmogonia moderna e fenômenos patológicos. Seria uma literatura que pretendia ser universal. Baseado em Poe, Baudelaire lida com três elementos dessa literatura criminal de detetive: vítima e o local do crime, o assassino e a massa. No entanto, as histórias de Baudelaire não são de detetive, pois, não havia um detetive. Por exemplo, nos poemas em Fleurs du mal, a massa não é refúgio para criminosos, mas um abrigo do amor, do erótico, da paixão, de um amor a última vista, de uma paixão frustrada que torna-se chama no Poeta, também dessa figura feminina. Contudo, os tons em questão não são explícitos, são ocultados pelo Poeta. A burguesia tenta compensar a pouca privacidade na vida citadina, transformando seus quartos em casulos que cobrem e protegem seus objetos, suas preocupações e suas posses. Esse é um elemento sentimental crescente na vida civil desde a Revolução Francesa, uma vez que iniciou-se uma ampla rede de controle de moradia, como a obrigatoriedade das numerações das casas em 1805. Isso foi mais problemático em bairros proletários. O flâneur, como Baudelaire, foi prejudicado inicialmente com todas essas tensões; passou a fugir de credores, a refugiar-se em cafés, clubes, dormir em mais de um espaço alugado, em casas de amigos. O flâneur perambulava pelas ruas. Nesse período de mudanças também aparece, nessa questão do controle, a prática técnica de assinaturas e a mais impactante delas, a fotografia. A história de detetive ocorre paralela a esses acontecimentos. São avanços marcantes para a área de segurança civil e policiamento. A fotografia, por exemplo, grava por um longo período os rastros de um ser humano. Será diante desse novo cenário que, nas histórias de detetive, nas perseguições, na multidão, aparecerá um desconhecido, ou seja, o flâneur. A atuação desse flâneur pode variar, como variam em Poe e em Baudelaire. O flâneur de Poe se refugia na multidão, não se sentido seguro em sua sociedade. Também tem-se os pontos de observação narrativos, como o de um homem caseiro que observa perturbado a multidão, ou, a contempla através das vidraças de um café. Também tem-se o ponto de vista de um vendedor que ver sair da multidão nada nítida, desconhecida, pouco privada, um cliente, que logo vai, atraído a multidão, como um ímã. Como exemplo desse tipo de narrativa tem-se E.T.A. Hoffmann. Por sua vez, Dickens destaca a necessidade desse homem citadino ouvir os ruídos das ruas. Baudelaire, por exemplo, gostava da solidão, mas esta apreciada no

meio da multidão. O flâneur de Poe caminhava a noite com ruas iluminadas a gás. A instalação em massa de lampiões a gás nas cidades, possibilitou o aumento da segurança. O número de pessoas durante a noite, nas ruas e lojas, aumentou. A luz da rua ofuscava o céu estrelado. A lua e as estrelas perdem espaço nas narrativas. Na Paris do Second Empire, as lojas não fechavam antes das 10 horas da noite. Dickens gostava de perambular a noite em Gênova. Stevenson, contudo, menciona em tom de lamento o desaparecimento do lampião a gás, e com isso, a flânerie caiu fora de moda. O rito cotidiano e lento do acendedor de lampiões foi sendo substituído pela presteza da automática luz elétrica. A luz a gás, agora, fazia mal para a vista. Poe, observando a multidão londrina, fala das gentalhas que saem à noite, além de caracterizar funcionários públicos e pequenos burgueses dentre a multidão. Poe também descrevia o comportamento da multidão em si, destacando seu caminhar, franzir de sobrancelhas, olhares, esbarrões e empurrões, passos corridos, transeuntes falando sozinhos, como se estivessem de fato sozinhos. Nessa multidão estavam pessoas de categorias respeitadas como advogados e operadores da bolsa. Para Poe, tratava-se mais de uma psicologia de classes. O homem da multidão caminha desesperado em seu isolamento e em seus interesses particulares. O homem da multidão comporta-se como um servil, para Poe; esse homem sofre um esbarrão e ele mesmo pede desculpas. Uma multidão aglomerada por outra, seria o pior cenário para o flâneur. Para Baudelaire isso foi menos intenso, pois, Paris ainda não havia chegado a isso. O flâneur destacava-se nas ruas. Como uma personalidade passando, andava ocioso, ao seu tempo, protestava contra a divisão do trabalho que favorecia as especializações. Havia a multidão, mas também havia o flâneur que aparecia em algum espaço pouco aglomerado. Por volta de 1840, o flâneur caminhava com tartarugas, deixando elas ditarem o ritmo de seus passos. Isso muda após esse ano. As pessoas passam mais tempo em cafés, sentadas, conversando. As pessoas iam às lojas apenas para ficar contemplando mercadorias, sem comprá-las. O flâneur, abandonado na multidão, observa as vitrines e esse prazer passa a agir como um narcótico. O flâneur se embriaga com o movimento dos fregueses e das mercadorias. Os fregueses também ficam viciados e embriagados por esse olhar as mercadorias. Baudelaire chama esse efeito de prostituição da alma, pois haviam provado dos segredos do mercado aberto. A massa é a maior transmissora desse efeito pela cidade. Muitos, na multidão, já se tornaram também mercadorias. Baudelaire tentava se manter consciente mesmo estando embriagado por esse espetáculo da multidão.

A massa é um véu para o flâneur que pretende ver a cidade. A massa faz o horrível parecer encantador. A massa distorce a visão da cidade. Mas Hugo torna a multidão um objeto a ser apreciado na poesia, ser contemplado. Baudelaire não se sentiu atraído por essa questão da multidão. Hugo e Baudelaire são contrários quanto a multidão. Na poesia, a multidão é comparada com ondas no mar, trazendo para o ambiente das cidades elementos da natureza, assim como matas ou animais. Hugo naturaliza a multidão; ela é como o mar, mas também é uma criatura sobre-humana. Aglomerações são formadas pelos mais diversos motivos. Elas existem, basicamente, para se coletarem estatísticas. Estados totalitários tornam obrigatória a massificação, obscurecendo os interesses privados. Hugo compreendia a multidão como uma representação do mundo dos espíritos. Isso tinha carga positiva para ele. Caminhar com uma multidão de ancestrais mortos, fazia Hugo sentir-se em casa – isso, para ele, era mais importante que a civilização. Isso era o que faltava ao Poeta no exílio. Pode ser que nessa multidão de Victor Hugo houvesse uma carga revolucionária. Tais questões podem ser notadas em sua obra Les misérables. A multidão de Hugo, era uma multidão de clientes, de leitores, de eleitores. Hugo não era um flâneur. Baudelaire reconheceria essa multidão que acompanhava Hugo, mas não iria junto com eles. Para Baudelaire a massa existia, e ela carregava bandeiras políticas de laicismo, progresso e democracia. O herói é a imagem modelar. Hugo celebra a massa, ela é o herói da epopeia moderna; Baudelaire é o flâneur que se refugia na massa da cidade grande. Hugo é cidadão inserido na multidão e Baudelaire, enquanto herói, se afasta dela.

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