Bertrand “Bénigne” de Bacilly e a “Arte de Bem Cantar” A ornamentação na música vocal francesa do século XVII segundo o tratado “Remarques curieuses sur l’art de bien chanter”, 1668.

July 1, 2017 | Autor: Fabio Peres | Categoria: Early Music, Historically Informed Performance (HIP), Música Antiga
Share Embed


Descrição do Produto

Bertrand “Bénigne” de Bacilly e a “Arte de Bem Cantar” A ornamentação na música vocal francesa do século XVII segundo o tratado “Remarques curieuses sur l’art de bien chanter”, 1668.

Por Fábio Vianna Peres Núcleo de Música Antiga - EMESP Trabalho apresentado para a disciplina Léxico da Música Antiga, Professor Luis Otávio Santos.

“L’Art de bien chanter” ou “Remarques curieuses sur l’art de bien chanter” foi publicado pela primeira vez no ano de 1668. A obra teve ainda duas reedições, em 1671 e 1679. Nesta última o autor acrescenta um “discurso que serve de resposta à crítica deste tratado”. O tratado traz uma descrição detalhada de aspectos fundamentais para a interpretação correta da música vocal francesa do período e é dividido em três partes. Na primeira, “do canto em geral”, o autor aborda questões mais genéricas como “em que consiste a arte do canto e sua diferença em relação à música”, “se podemos aprender o canto sem saber música”, “das qualidades necessárias para aprender o canto”, um longo capítulo sobre as “árias e os sentimentos envolvidos em sua composição” e, finalmente ao final desta primeira parte, traz dois capítulos sobre o que torna as árias “agradáveis para sua execução”: “os ornamentos do canto” e sobre “passagens e diminuições”. A segunda e terceira parte, tratam da pronúncia do francês no canto. Neste artigo, faremos algumas considerações gerais sobre o tratado, para em seguida tratar especificamente do capítulo 12, “Dos ornamentos do Canto”, por ser esta uma das questões que sempre traz muitas dúvidas ao pensarmos em uma execução historicamente informada deste repertório.

!2

Bertrand de Bacilly - ou Bénigne1 - (c.1625-90) foi compositor e professor de canto, tendo sido discípulo de Pierre de Nyert (1596-1682), considerado um dos fundadores da escola francesa de canto. Apesar de não ter ocupado nenhum posto na corte de Luis XIV, a maioria de suas obras foi publicada por Ballard, impressor oficial do Rei. Publicadas por Ballard, aparecem uma série de “Livre de chansons à danser et à boire”, editados entre 1663 e 68, onde todas as danças e canções de beber são de Bacilly. A primeira coleção de árias sérias aparece em 1661, publicadas por Richer com o título de “Nouveau livre d’Airs”. É dessa coleção (que não conseguimos localizar uma cópia) que Bacilly irá se referir na maioria de seus exemplos musicais no tratado. A produção de Bacilly é grande e era vendida em sua própria casa, na “Rue des petits champs”. Apesar da vasta produção, raramente Bacilly se atribuía a autoria de suas composições, chegando mesmo a dizer, no tratado, que algumas das obras citadas (de sua autoria) eram de Michel de Lambert. Na introdução ao tratado, Bertrand de Bacilly aborda a questão da dificuldade de se falar teoricamente sobre um assunto tão fortemente ligado ao campo da prática, como o canto. Esta dificuldade manifesta pelo próprio autor é talvez uma dos maiores desafios àqueles que pretendem utilizar o tratado como um manual para ornamentação e estilo desta música. Ao propor um tratado sobre a “Arte de Bem Cantar”, Bacilly produz uma obra de grandes proporções com descrições detalhadas - dos tipos de ornamentação, por exemplo - mas não apresenta sequer um único exemplo musical escrito. Para exemplifica-lo, refere-se à versos de algumas árias, dizendo vagamente onde estão publicadas. Encontramos indicações tais como “Par exemple, dans la cinquieme page du livre des Airs gravez in 4.” [Bacilly, 1679, p.140]. Isso se torna, evidentemente um desafio à compreensão do que o autor propõe.

1

Baccilly é citado no Dictionnaire de Musique, de Sébastien de Brossard (1703) com o nome de Bénigne. Posteriormente foi verificado que o prenome correto seria Bertrand. Laurent Guillo et Frédéric Michel. « Nouveaux documents sur le maître de chant Bertrand de Bacilly (1621-1690) » in Revue de musicologie 97/2 (2011) p. 269-327. (fonte: http://fr.wikipedia.org/wiki/ Bertrand_de_Bacilly#cite_note-0)

!3

“DES ORNEMENS DU CHANT” Bacilly apresenta a questão da ornamentação como uma condição necessária para que o canto não seja simplesmente correto, mas sim, belo. Acrescenta ainda que normalmente os ornamentos não estão indicados em uma ária, seja por não existirem na notação musical símbolos adequados, ou porque os muitos símbolos indicando ornamentos iriam criar confusão no papel. “(...) une Piece de Musique peut estre belle, et ne plaira pas, faute d’estre executée avec les ornemens necessaires, desquels ornemens la pluspart ne se marquent point d’ordinaire sur le papier, soit parce qu’en effet ils ne se pussent marquer par le defaut des Caracteres propores pour cela, soit pour l’on ait jugé que la trop grande quantité de marques embarasseroit et osteroit la netteté d’un Air, et seroit quelque sort de confusion;” [Bacilly, 1679, p.135]2 Em seguida conclui que é inútil indicar a ornamentação no papel se o cantor não souber como e quando executa-los. “(...) outre que ce n’est rien de marquer les choses, si l’on ne les sçait former avec les circonstances necessaires, ce qui en fait toute la difficulté;” [Bacilly, 1679, p.135]3 Os ornamentos apresentados por Bacilly são os seguintes4:

2

“Uma peça de música pode ser bela, e não irá agradar, por falta de ser executada com os ornamentos necessários, do quais a maior parte não se marca normalmente no papel, seja porque eles não podem ser representados pelos caracteres apropriados para isso, seja porque julgamos que a grande quanitidade de marcas iria embaraçar e obstruir a clareza de uma ária e isso seria algo confuso”. 3

“outra que não é nada marcar as coisas, se não sabemos executa-las nas circunstâncias necessárias, o que é toda a dificuldade.” 4

Para exemplificar os vários ornamentos utilizamos os exemplo fornecidos em GORDON-SEIFERT, Catherine. Music and Language of Love - Seventeenth-Century French Airs. Indiana University Press, 2011.

!4

“PORT DE VOIX” E “DEMY-PORT DE VOIX” “Pour commencer par le Port de Voix, il y en a qui le confondent avec un certain soûtien, ou ‘anticipation’ (pour parler en leurs termes) qui se fait avant le Tremblement ou Cadence. Pour moy je nome Port de Voix (et asseurément le mot mesme porte sa signification) le transport qui se fait par un coup de gosier d’une Notte inferieure à une superieure;” [Bacilly, 1668. p.137]5 Bacilly especifica dois tipos de Port de Voix. O Port de Voix Ordinaire ou Plein; e o Demy Port de Voix. O Demy Port de Voix pode ainda ser executado de outras duas maneiras: o Port de Voix Perdu e o Port de Voix glissé ou Coulé. Bacilly diz que no

Port de Voix Ordinaire,

ou Plein, há três coisas a serem

consideradas: 1) A nota inferior que deve ser sustentada (entrando no compasso seguinte); 2) o “doublement du gosier”, que poderia ser traduzido como “golpe da glote”, feito sobre a nota superior; e 3) a sustentação da nota superior para finalizar o ornamento6.

& b 32 ˙

Exemplo 1. "Port de Voix Ordinaire"

& b 32 ˙ ? 3 œ b 2 !

& b 32 Ó

˙.

de

˙.

œ

j œ ˙

de

œ.



w.

la

mort.

j j nœ œ la

Exemplo 2. "Demy Port de Voix" / "Port de Voix Perdu"

5

Œ

œ

˙

Œ

œ

œ

œ

œ

œ

˙

mort.

w

œœ

w

w.

Ó

“Para começar pelo Port de Voix, é necessário não confundi-lo com uma certa ‘sustentação’ ou ‘antecipação’ que se faz antes do ‘tremblement’ ou ‘cadence’. O Port de Voix (e seguramente o próprio nome contém seu significado), cru -é oeltransporte - que sele.faz com um golpe da garganta de uma nota inferior a uma superior”. œœ 6 (...) de sorte qu’il y a trois choses à considerer dans le Port de Voix, a sçavoir, la Notte inferieure qu’il cru -qui else fait sur - la Notte le. superieure; et le soutien de la mesme faut soutenir; le doublement du gosier, Notte apres qu’on l’a doublée.” Bacilly, 1668, pp. 137-138.

& b 32 Ó

? b 32 w

w w

Ó Ó

& b 32 ˙

˙.

& b 32 ˙



w.

la

mort.

j j nœ œ

de

˙.

˙

œœ

w

!5

j ? 3 œPort de œ Voixœ é. formado ˙ œ apenas w . primeiras partes do Port de Já o Demy pelas duas b 2 de

la

mort.

Voix Ordinaire. A sustentação da nota inferior e o golpe da glote ao atingir a nota superior.

& b 32 Ó

Exemplo 2. "Demy Port de Voix" / "Port de Voix Perdu"

& b 32 Ó !

? b 32 w

Œ Œ

œ

cru

œ

cru

˙

-

-

el

Ó

w

-

œ

le.

Ó

el

-

le.

œ

œ

Ó

œ

œœ

w w

Enquanto o Port de Voix Ordinaire é usado no principais pontos cadenciais de uma Exemplo 3. "Port de Voix Glissé" ária, onde há tempo para sua execução, o Demy Port de Voix, é executado em

32 Ó de menor outros Ó importância. & bpontos #˙

w

Ó

As & duas doÓ Demy Port de Voix, perdu e glissé, apresentam as seguintes b 32variações Ó Ó œ #œ œ ˙. He

características:

? b 32 Ó

Ó

He

˙

-

-

las.

las.

w

Ó

Port de Voix Perdu: A nota inferior deve ser sustentada pelo maior tempo possível e o golpe da glote deve ser sutil, quase inexistente. Outra característica é que é executado antes da conclusão da cadência em si, ou seja, a nota inferior não invade o compasso seguinte, como também podemos observar no exemplo anterior. Port de Voix Glissé: O golpe da glote será substituído por um glissando ligando a nota inferior à superior, dando a esta última um valor mais longo.

? b 32 w

œ

Ó

w

œ

!6

Exemplo 3. "Port de Voix Glissé"

& b 32 Ó & b 32 Ó ? b 32 Ó !

Ó Ó Ó



He



He

˙

-

-

œ

las.

w

las.

˙. w

Ó

œ

Ó Ó

“CADENCES” E “TREMBLEMENS” “Je ne parle point icy des Cadences qui sont affectées au Traté de la Composition de Musique, mais seulemente des Tremblemens qui se font dans le Chant, et que chacun sçait estre un des ses plus considerables ornemens, et que sans lequels le Chant est fort imparfait;” [Bacilly, 1668. p.164]7 Bacilly inicia o segundo artigo de seus capítulo sobre os ornamentos do canto fazendo a distinção do termo “cadência” utilizado nas regras de composição, com a “cadência” - tremblement - considerada uma dos ornamentos mais importantes. O autor ainda ressalta que a qualidade deste ornamento é tão importante a um canto quanto a beleza de sua voz. A cadência seria portanto um “dom da natureza”, assim como a “boa voz”, mas que, ao contrário da última, pode ser aperfeiçoada pela Arte de bom exercício. “(...) communément on s’informe de la bonté de la Cadence de ceux qui aspirent à la Methode de Chanter, autant comme la beuaté de leur voix: cela fait comprendre que

7

Não falo aqui das cadências que são vistas no tratado de composição da música, mas somente dos “tremblemens” (trinados) que se fazem no canto e que sabemos ser um de seus mais consideráveis ormamentos, e sem os quais o canto é fortemente imperfeito”

!7

la Cadence est un don de Nature, et toutefois elle peut estre aquise, ou du moins corrigé et perfectionée para l’Art et par le bon exercice.” [Bacilly, 1668. p.164]8 A cadência, ou tremblement, é descrita como sendo formada por três partes: 1) a preparação, que é o grau acima da nota a ser ornamentada e pode ou não estar escrita na música, 2) o ornamento propriamente dito, um trilo, chamado “battement du gosier”, e 3) a “liaison” ou terminação, que consiste em cantar com leveza a nota seguinte a que acabou de ser ornamentada. “Il y a d’ordinaire trois choses à remarquer dans les Cadences, à sçavoir la Notte qui la preccede, Et qui souvent n’est point marquée, mais seulement supposée; le battement du gosier qui est proprement la Cadence; et la fin qui est une liaison qui se fait du Tremblement avec la Notte sur laquelle on veut tomber.” [Bacilly, 1668, p. 167]9 A Cadência em sua forma completa só deve ser executada em sílabas longas, geralmente na penúltima sílaba de uma palavra feminina - “flame” por exemplo - ou na última de uma palavra masculina - “plaisir” - de onde podemos extrair uma simplificação à regra de que a Cadência se executa somente sobre sílabas tônicas. Esta forma completa do ornamento deve também ser reservada para a finalização das frases mais importantes em uma ária.10

8

habitualmente nos informamos sobre a qualidade das cadências daqueles que aspiram ao “método de cantar”, tanto quanto da beleza de sua voz: isso nos faz compreender que a cadência é um dom da natureza e, no entanto, ela pode ser adquirida, ou pelo menos corrigida e aperfeiçoada pela arte e bom exercício. 9

Há ordinariamente três coisas a serem observadas nas Cadências; a saber: a nota que a precede e que frequentemente não é indicada, mas subentendida, o “batimento da garganta” que é propriamente a Cadência; e o final, que é a ligação que se faz do Tremblement com a nota sobre a qual queremos repousar. 10

GORDON-SEIFERT, 2011. p. 195.

2

[Title]

!8

Exemplo 4. "Cadence" ou "Tremblement"

& 32 ˙

œ

& 32 ˙

2

bien

pre

œ

œ

-

pre

-

˙

veü

œ

-

veü

-

˙

œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œj

[Title]

? 3 #˙ 2Exemplo 4. "Cadence" ou "Tremblement" ˙ bien

& 32 ˙

!

œ

œ

˙

-

-

-

-

-

-

w. e.

w. e.

w.

w.

Bacilly 3descreve ainda outros três tipos de Cadência: o “Tremblement étouffé”, a j bien

pre

-

veü

œ étouffé" œ ˙ 5. "Tremblement & 2 Exemplo

-

-

-

-

-

-

-

œœœœœœœœœœœœœ

“Flexion de voix” e a “Double Cadence”. bien C & ? 3 #Ó˙ 2

˙˙

?C

la

pre

-

veü

w ˙ -

˙

e.

w. e.

Ó

.

w O “Tremblement etouffé” consiste a nota preparação até o ultimo la fla em- sustentar - deme. ˙ .. rapidamente œem œ œdireção momento, & C Ófazendo o˙“Tremblement” ˙ à notaÓ final. !

-

Exemplo 5. "Tremblement étouffé"

&C Ó

˙

& CC ˙ ? &C ˙

w

la

˙ & C ÓExemplo 6. "Accent"

!

fla



la

&

œ

fla



ju



˙ ..

˙.

fla

-

stes

˙

!

-

-

-

-

-

!

-

me.

-

me.

-

me.

j œ ‰ #œ

soû

Ó

˙

œœœ ˙ #œ

!

-

#w

pirs,

#w

Ó !

& ju stes soû pirs, w j ? C de voix” seria um simples A “Flexion do apoio na nota ˙ trilo, sem œ . haver a œnecessidade w Exemplo 6. "Accent"

de preparação. Finalmente a “Double Cadence” consistiria, como o próprio nome sugere, & Cna˙ sequência œ de# œdois trilos ˙ . combinados.



j “ACCENT”, œ ‰ #œ & C ˙ “ASPIRATION” œ # œ OU “PLAINTE” ˙ &

w

ju

-

stes

soû

-

#w

pirs,

#w

j œ . que je nomme “Il ya?a Cdans le Chant un certain ˙ton particulier œ wAccent ou Aspiration, à &

ju

-

stes

soû

-

pirs,

qui d’autres donnent assez mal a propos le nom de Plainte. (...) Cet Accent, ou

Aspiration, se fait toujours sur une syllabe longue et jamais sur une breve et (...) il ne

Exemplo 4. "Cadence" ou "Tremblement"

& 32 ˙

œ

œ

˙

w.

!9

32 ˙ œ œ œœœœœœœœœœœœ j . & que se fait lors qu’une Notte tombe sur sa semblable, ouœ son winferieure, et sert bien

pre

-

veü

-

˙

? 3 #˙ 2

-

-

-

e.

pre - veü comme debien communication de l’une- a l’outre.” [Bacilly, 1668. p.e. 189].11

˙

w.

O Acento, ou Aspiração, deve ser executado somente sobre sílabas longas e quando estas são seguidas da mesma nota ou do grau conjunto inferior. O acento tem portanto uma função de comunicação entre uma nota e outra. Baccily explica que se Exemplo 5. "Tremblement étouffé"

a a nota em questão é um sol, seguido de um fá, o acento que que servirá de comunicação Ó ˙ duas seráw um lá cantado delicadamente e quase & C Ó entre as imperceptível.

&C Ó

la

fla

˙

˙ ..

-

-

˙

-

me.

Ó

œœœ ˙

“si la Notte marquée sur le papier, est un sol, et qu’il y ait encore un sol, ou un fa, et que ? la syllabe soit longue, il est besoin d’un! Accent pour servir de communication, C ! ! la

fla

-

-

-

me.

lequel Accent est un la en ce rencontre, mais un la fort delicat et touché fort legerement et quasi imperceptible.” [Bacilly, 1668. p.189].12

Exemplo 6. "Accent"

&C ˙ &C ˙

?C w

œ



œ



&

&

ju

-

ju

-

˙.

stes

˙ ˙

stes



j œ ‰ #œ

soû

œ.

soû

-

j œ

-

#w

pirs,

#w

pirs,

w

! DOUBLEMENT DU GOSIER Bacilly descreve o “Doublement du gosier” como a “repetição que a garganta foz sobre uma mesma nota” [Bacilly, 1668. pp.196-197], ressaltando ainda que o 11

Há no canto um certo tom em particular que nomeio acento, ou aspiração, ao qual outros dão, muito equivocadamente, o nome de plainte (...). Este acento, ou aspiração se faz sempre sobre uma sílaba longa e jamais sobre uma breve et (...) não se faz a não ser que a nota caia sobre sua igual ou sua inferior, e serve como comunicação de uma a outra. 12

Se a nota marcada no papel é um sol e há em seguida um sol, ou um fá, e a sílaba é longa, há necessidade de um acento para servir de comunicação, o qual é um lá em sua ligação, mas um lá delicado e muito leve, quase imperceptível.

!10

ornamento se parece com o que é produzido pelo arco do violino e é conhecido vulgarmente como “animer”, que significaria “dar movimento” à nota. Este é mais um ornamento que somente deve ser utilizado em sílabas longas. O “doublement du gosier” é, na maioria das vezes, associado à outros ornamentos, como o “accent” e o “tremblement”, como no exemplo dado pelo autor em uma ária de Lambert, “Puisque cette ingrate Beauté”. O “doublement du gosier” aparece logo na primeira sílaba de Ingrate, seguido imediatamente por um “accent”. A passagem é completada por um rápido “tremblement” na segunda sílaba, ‘gra’.13

Exemplo 7. "Doublement du gosier"

&C w

15

&C w

15

Puis

?C w

15

Puis

˙.

œ ˙

œ

-

grat

-

-

gra

œ œ œ

œ œ œ œ œ œ œœœœ œœœœœ œ œ

-

que

cet - te'In

-

que

w

cet - te'In

˙.

˙

˙

˙

te Beau

˙

˙

-

te Beau

w w w

#w -

#w

-

té.

té.

w

! CONCLUSÃO 21

!

!

!

!

!

!

!

!

& rápida leitura (e consequentemente, superficial) do capítulo sobre as Nesta

21 ornamentações do canto contidas em “Remarques curieuses sur l’art de bien

! de Bacilly, ! podemos ! ! ! o bom !emprego!dos vários & !de Bertrand chanter”, perceber que ?

ornamentos está profundamente ligado não somente a estrutura melódica e 21

! mas à !qualidade! das palavras ! ! ! do texto.! harmônica, e significado

!

Bacilly dedica outros capítulos de seu tratado à correta pronúncia das vogais do francês, o que mostra a importância dada ao texto na música deste período. Por seu formato, exclusivamente literário e sem exemplos musicais sistematicamente

escritos, e ainda !por suas dimensões, o tratado sobre a Arte do Canto de Bacilly, ! ! 29

&

permanece uma obra difícil de ser explorada e usada como um manual para a 29

&

!

!

!

!

!

interpretação da música vocal francesa do século XVII.

?

!

13 GORDON-SEIFERT, 29

2011. pp. 199-200

!11

BIBLIOGRAFIA

BACCILY, Bertrand de. L’Art de Bien Chanter. 1679 (Facsimile) GORDON-SEIFERT, Catherine. Music and Language of Love - Seventeenth-Century French Airs. Indiana University Press, 2011. OUTRAS REFERÊNCIAS Wikipédia: http://fr.wikipedia.org/wiki/Bertrand_de_Bacilly

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.