Bíblia de Ferrara

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19. Bíblia de Ferrara Impressa por Yom Tov Atias, Jerónimo Vargas e Abraão Usque Ferrara, 1553. 400 ff. Papel. Caracteres góticos. 300x220mm; Caixa de escrita: 236x165mm. 2 col. Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, RES. 412A.

Bíblia de Ferrara é o nome pela qual é conhecida esta tradução castelhana editada em Ferrara em 1553, a primeira tradução espanhola integral da Bíblia Hebraica. A BNP possui vários exemplares desta obra fundamental no contexto da diáspora sefardita da primeira Idade Moderna, que apareceu nos prelos da tipografia de Abraão Usque. Ferrara era, na primeira metade de quinhentos, um dos pontos de chegada dos cristãos-novos e dos judeus ibéricos, refugiados das perseguições de finais do século XV em diante. Assim, desde a década de trinta do século XVI as políticas proteccionistas da casa de Este em relação aos migrantes ibéricos atraíram muitos indivíduos. Um dos casos mais notórios é o de Grácia Naci (alias Beatriz de Luna), conhecida como A Senhora, figura ímpar da história do judaísmo português. Após a morte do seu marido, o banqueiro Francisco Mendes, Grácia e a sua família fogem de Portugal nos alvores do estabelecimento da Inquisição. Efectuam um verdadeiro périplo pela Europa, com paragens em Antuérpia, Veneza e Ferrara, onde foi recebida com grandes privilégios pelo duque Ercole II. A importância da figura de Grácia relacionava-se com a protecção e o apoio aos cristãos-novos que fugiam da Península Ibérica e da perseguição inquisitorial, bem como com um amplo mecenato artístico e cultural. A edição de 1553 tinha algumas variantes, o que fez com que a historiografia tivesse considerado que se tratava de duas edições distintas. Contudo, os mais recentes trabalhos mostram que se tratou de uma só edição com algumas variações. As diferenças mais notórias apresentam-se na dedicatória, uma ao duque Ercole II e outra à já mencionada D. Grácia Naci. A BNP possui as duas variantes, sendo que o RES 4237 V apresenta a dedicatória a Grácia Naci. Numa contagem geral de exemplares da Bíblia de Ferrara na Península Ibérica, Rypins contabilizava cerca de uma dezena, todos eles apresentando a dedicatória ao duque e

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apenas o da BNP tem dedicatória a Grácia. As duas versões apresentam igualmente diferenças no cólofon, no qual surgem os impressores Yom Tov Atias e Abraão Usque, com a data judaica de 14 de Adar de 5313, enquanto a versão dedicada a Ercole II apresenta como impressores o português Duarte Pinel e o espanhol Jerónimo Vargas, e a data cristã. Alguns exemplares contêm uma Tabla de las Haftarot de todo el año. Sobre a iconografia da folha de rosto, Yerushalmi compara-a com os versos finais da Consolação às Tribulações de Israel de Samuel Usque, também impressa no mesmo local. Num dos mastros do barco representado encontra-se a esfera armilar que será a marca do impressor Abraão Usque. A identidade dos impressores tem intrigado a historiografia e as teses mais recentes, baseadas em registos notariais, mostram que foram na realidade três: Yom Tov Atias, Jerónimo Vargas (filho do anterior) e Abraão Usque (alias Duarte Pinel). Sobre os letrados que teriam efectuado a tradução, ainda muita investigação está por fazer, mas seriam certamente fruto do ambiente cultural ibérico de inícios do século XVI. Destinada às comunidades sefarditas da diáspora, esta tradução teve grande divulgação. O presente exemplar ostenta algumas marcas do seu percurso. Na folha de rosto, aqui ilustrada, aparece uma frase em latim de um antigo possuidor, o mercador e humanista Joahn Radermacher (1538-1617) e teria estado na posse de D. Francisco de Melo Manuel (1773-1851), uma vez que aparece no elenco de obras da sua livraria, datado de 1852 (BNP, Cod. 11590, fl. 49v). SUSANA MATEUS | JOÃO CASTELA OLIVEIRA Bibliografia Hassán, 1992; Leoni, 2011; Rypins, 1955; Yerushalmi, 1989.

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O LIVRO E A ILUMINURA JUDAICA EM PORTUGAL NO FINAL DA IDADE MÉDIA

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