BIBLIOTECAS TEMÁTICAS MUNICIPAIS Criando novas demandas

May 28, 2017 | Autor: Olivia Pezzin | Categoria: Biblioteconomia, Ação Cultural Em Biblioteca
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

BIBLIOTECAS TEMÁTICAS MUNICIPAIS Criando novas demandas

São Paulo Novembro de 2007

OLIVIA CHIAVARETO PEZZIN

BIBLIOTECAS TEMÁTICAS MUNICIPAIS Criando novas demandas

Trabalho final para a disciplina Teoria da Ação Cultural, ministrada pelo Prof. Dr. Luis Milanesi.

São Paulo

Novembro de 2007

SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO................................................................................................. 3 1.1 Sociedade e biblioteca: demandas............................................................... . 3 2.O PROJETO DE UMA POLÍTICA PÚBLICA PARA BIBLIOTECAS: TEMAS .................................................................................................................. 3 3. USO PÚBLICO DO ESPAÇO PÚBLICO ..................................................... 5 4. CONCLUSÃO: POTENCIALIZANDO AÇÕES CULTURAIS.................. 7

1. INTRODUÇÃO 1.1 Sociedade e biblioteca: demandas Identificar quem usa as bibliotecas públicas nos dias de hoje é um desafio que os bibliotecários devem responder. Criar métodos de análise de perfis de usuários é fundamental para melhorar e racionalizar o atendimento, fidelizando os freqüentadores. Além dessa constante atualização de dados, a modernização e redefinição desses espaços públicos culturais é urgente para uma metrópole como São Paulo onde, cada vez mais, as pessoas procuram saciar suas necessidades culturais em ambientes quase sempre comerciais, como as livrarias, por exemplo. Segundo o livro Libraries in a world of cultural changes, todas as instituições culturais públicas (sejam elas bibliotecas, museus ou centro culturais) derivam do fato tautológico de que elas são verdadeiramente públicas e não exigem nada de ninguém, sendo aberta a todos: a idéia de “público” varia entre “interessa às pessoas como um todo”, “aberta à todos”, “mantida pelos recursos da comunidade” ou simplesmente “que serve à comunidade”, mas a idéia de “público” pode ser difundida como uma das mais importantes funções que uma biblioteca supre – sem saber – que é na verdade a de criar o seu público, como uma demanda reconhecível. (GREENHALGH,1995)

Esse princípio parece simples e claro, mas em face à crescente “privatização” dos centros de cultura e ao acesso à internet, podemos perguntar por que a inclusão é tão melhor que a exclusividade nesses centros ou por que o oferecimento público de cultura deve continuar, se a maioria prefere pagar? É mais pertinente, então, perguntar o que as bibliotecas públicas podem oferecer, além do acesso à educação, cultura e informação, como forma de lazer a uma população tão diversificada e com tantos desejos culturais diferentes, como a paulistana. 2.O projeto de uma política pública para bibliotecas: temas A segmentação de público ou audiência é utilizada em todos os meios de comunicação, em especial na televisão e nas revistas. A fragmentação é usada pelo mercado de acordo com “estilos de vida” pré-determinados ou até mesmo de acordo com o suporte tecnológico onde se dará a comunicação. O serviço público de bibliotecas, pelo contrário, tem a proposta de servir ao interesse generalizado, mas o que vemos é que elas são vistas pela sociedade como centros de informação para desprovidos, pobres ou desempregados, que

constituem a maioria dos seus freqüentadores. Com o tempo, esses espaços construíram uma imagem de lugar público abandonado e obsoleto, sendo, no máximo vistos como centro cultural assistencialista. A proposta de transformar algumas bibliotecas municipais em bibliotecas temáticas foi realizada pelo atual Secretário da Cultura, Carlos Augusto Calil e pela Coordenadora do Sistema Municipal de Bibliotecas, Maria Zenita Monteiro, dentro do projeto de requalificação das bibliotecas de São Paulo. Está no documento “Proposta de Política Cultural 2005-2008”, da Secretaria Municipal de Cultura. Apesar de se encontrar modelos como o das bibliotecas públicas da França, com acervo especializado em feminismo, por exemplo, este tipo de biblioteca não é muito comum e não houve nenhum paralelo brasileiro encontrado nesta pesquisa. O Sistema Municipal de Bibliotecas iniciou em 2006 o projeto de Bibliotecas Temáticas de São Paulo. Foram definidas oito bibliotecas de bairro que, além do acervo comum a todas as bibliotecas da rede, colocariam à disposição da população um acervo específico e uma ampla programação cultural sobre um determinado tema. O conceito chave é o de acomodar muito mais atividades extras do que simplesmente o empréstimo de livros, potencializando as ações culturais por meio da reformulação do layout e do escopo de atuação. Porém, é preciso enfatizar que essas bibliotecas não são inteiramente temáticas, ou sua natureza enciclopédica estaria perdida: ela adquire a capacidade de atingir demandas particulares e desenvolvê-las. A principal mudança foi a criação de espaços novos nesses edifícios, onde estarão o acervo especializado com aquisições novas (foram destinadas verbas “bastante razoáveis”, segundo representantes da prefeitura). Também foram construídos espaços planejados para exposições, teatros, salas de cinema e palcos para contação de histórias. É preciso lembrar que serviços multimídia (com acesso à internet), espaço para estudo, jogos de tabuleiro, brinquedoteca e programação de férias são benefícios intangíveis oferecidos pelas bibliotecas em todo o mundo. A escolha das bibliotecas e dos temas foi feita levando-se em consideração a história e a vocação de cada unidade. A biblioteca Belmonte, de Santo Amaro, por exemplo, abriga há anos um núcleo de Cultura Popular, assim como a Roberto Santos, do Ipiranga, já sediou inúmeros eventos voltados para cineclubistas. Atualmente existem quatro bibliotecas temáticas em São Paulo: a já citada Belmonte (inaugurada em agosto de 2007), de cultura popular; a Cassiano Ricardo, de música, no Tatuapé; a Hans Christian Andersen, também do Tatuapé, de contos de fadas (ambas

inauguradas em novembro de 2007);e a biblioteca de poesia Alceu Amoroso Lima, de Pinheiros, que foi a primeira a ser inaugurada, em setembro de 2006, e já é uma referência na cidade. As próximas a serem implantadas são Roberto Santos (cinema), Mário Schenberg (ciências), Raul Bopp (meio ambiente) e Prefeito Prestes Maia (arquitetura e urbanismo). A programação dessas bibliotecas está identificada com um projeto de formação intelectual dos usuários. Segundo Marlon Florian, responsável pela programação das bibliotecas temáticas municipais, “a programação, em geral, é feita pela equipe de programação juntamente com um curador, contratado especialmente para direcionar as atividades”. Além disso, os núcleos temáticos funcionam em horário diferente da biblioteca (mais estendido), evidenciando a divisão estrutural entre os acervos, que funcionam em espaços arquitetonicamente separados. As mudanças no layout tornaram os ambientes mais convidativos. “Estudos sobre a influência do design na biblioteca sobre o comportamento e satisfação do usuário mostram que este fator decidamente influencia o seu comportamento e, por outro lado, tem implicações para o planejamento das bibliotecas” (FIGUEIREDO,1991). Desse modo, tornam o ambiente mais adaptado para a realização de ações culturais em bibliotecas, sendo uma atividade que se concretiza no momento em que há uma participação afetiva de indivíduos, trocando experiências. Toda exposição poder ser enriquecida com programas culturais e educacionais com palestras, filmes, oficinas, etc., complementados por ações práticas em que o observador se torne também o autor. O público alvo do evento deverá ser incentivado a participar dos programas culturais, cujos objetivos serão previamente determinados, proporcionando um melhor entrosamento entre ação cultural e comunidade. Em outras palavras, deve ser estimulada toda relação visando a participação da comunidade em atividades paralelas programadas em conjunto com a exposição. (Guia de exposições itinerantes do Sistema de Bibliotecas Públicas do Estado de São Paulo)

3. Uso público do espaço público Há décadas, os serviços e as coleções das bibliotecas públicas são subutilizadas em São Paulo: “os usuários não fazem uso destes recursos por motivos variados, tais como: desconhecimento, falta de capacitação, de motivação e de orientação adequada (FIGUEIREDO,1991). Uma solução possível se apresenta na nova ambientação do edifício, na especialização do acervo e na dos profissionais envolvidos, principalmente. Nice Figueiredo também alerta que a ampliação do acervo deve ser feita de forma mais racional e menos intuitiva, para evitar que as coleções cresçam de forma indiscriminada e ilimitada, “é preciso saber o uso que é feito dos serviços e do acervo pelos usuário”.

Para efeito comparativo, os dados da biblioteca Alceu Amoroso Lima, temática de poesia, inaugurada a mais de um ano, oferece uma visão satisfatória da inclusão do acervo especializado. DADOS Segundo o site da prefeitura (www.bibliotecas.sp.gov.br), hoje ela conta com cerca de 27 mil volumes em seu acervo. Inicialmente, o número de títulos da temática em poesia recebeu 600 livros, nacionais e internacionais, disponíveis no mercado editorial. Posteriormente, ensaios, críticas e biografias de escritores serão incorporados ao acervo. O responsável pela escolha do acervo de Poesia e pela programação inicial foi o poeta Frederico Barbosa, curador do Núcleo, que visa a transformação da biblioteca em um centro cultural ativo e ponto de referência para os interessados neste campo. A biblioteca também estará aberta para os poetas que desejarem apresentar seus trabalhos. Há expectativas de que o espaço se torne, gradualmente, um pólo de poesia na cidade. No caso da biblioteca temática de cultura popular Belmonte, o acervo que já existia de seu núcleo de literatura popular e de cordel foi enriquecido com a aquisição de 400 títulos selecionados pela professora e curadora do projeto, Marina de Mello e Souza, professora da USP, abrangendo temas como folclore, tradições populares brasileiras e história das culturas africana e afro-brasileira constituindo-se no novo acervo da biblioteca temática. É importante saber que o aumento no número de usuários do acervo tradicional não aumentou significativamente, mas o acesso ao edifício da biblioteca sim. Ou seja, criou-se uma demanda paralela ao uso do acervo tradicional, dando outros usos ao espaço público que ali existia. Para a prefeitura, a segmentação de público, torna possível pensar os usuários não como uma massa global com necessidades e desejos similares, mas como um conjunto de subgrupos cada um dos quais podendo ser abordado com uma estratégia diferente e mais conveniente, “centralizando os esforços da biblioteca para servir particularmente bem um segmento especifico da população”. (FIGUEIREDO,1991) 4. Conclusão: potencializando ações culturais A tentativa da prefeitura de criar centros de referência em São Paulo, através da tematização das bibliotecas, dá novo fôlego a este espaço cultural. Além disso, incentiva a reflexão sobre a utilização desses lugares. As bibliotecas temáticas se destacam das demais,

tanto pelo acervo como pela programação, atraindo um outro público além dos freqüentadores habituais. Num primeiro momento, pode-se julgar que esse é um esforço que não atingirá a maioria da população e que o espaço do acervo tradicional se manterá em ambiente sacralizado, sendo que a demanda popular pelas ações culturais não se transporta para a fidelização dos usuários. Esse projeto criou um público diferente do usual da biblioteca, mas que passa a intervir e a ocupar culturalmente o espaço. Isso pode ser explicado pela forma como fazemos e vemos os projetos de ação cultural: processos claros, com início e ponto de chegada, como os realizados nas bibliotecas temáticas. O mais importante é que entre ver TV, passear no shopping ou ir a um barzinho, alguém escolheu ir a uma biblioteca e experienciar intensamente uma programação específica, planejada para INFORMAR, DISCUTIR e CRIAR. Vale lembrar que a sociedade de hoje se liga por pontos de interesse, e é em uma biblioteca que se está criando uma demanda paralela, de pessoas com interesses comuns, vivenciando um espaço de saber, de educação e cultura. Bibliografia FIGUEIREDO, Nice Menezes. Metodologias para a promoção do uso da informação. Nobel: São Paulo, 1991. GREENHALGH, Liz. WORPOLE, Ken. LANDRY, Charles. Libraries in a world of cultural change. UCL Press: London, 1995. KERR, George D. Fidelizar clientes en la biblioteca pública. Fundación Bertelsmann: Barcelona, 2000. Artigo de periódico LARA, Marilda Lopes Ginez de and CONTI, Vivaldo Luiz. Disseminação da informação e usuários. São Paulo Perspec. July/Dec. 2003, vol.17, no.3-4, p.26-34. Website pesquisado Guia de exposições itinerantes do Sistema de Bibliotecas Públicas do Estado de São Paulo

http://www.divbibliotecas.sp.gov.br/fresq_arq/pro_da_leitura/exp_itinerantes/sobproj_ exp.htm

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