Bicho-Preguiça Bradypus variegatus do Parque Natural da Prainha, Rio de Janeiro, RJ

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Jorge Antônio Lourenço Pontes ( Organizador )

ISBN 978-85-61368-48-7

segredos revelados

Jorge Antônio Lourenço Pontes ( Organizador )

A pesquisa científica aplicada na preservação do ambiente natural carioca e a maior divulgação das unidades de conservação da natureza de tutela municipal são passos para transformarmos, cada vez mais, o Rio de Janeiro em uma cidade realmente maravilhosa.

Biodiversidade Carioca

~ públicas e privadas que Agora, graças a um grupo de pesquisadores de instituições destinaram parte de suas vidas para desvendar os segredos desta biodiversidade, permitirá que muitos mais conheçam detalhes destes legítimos cariocas, muitas das vezes esquecidos no avanço e desenvolvimento da metrópole.

segredos revelados

E

xistem poucas áreas livres e com características ainda próximas dos ecossistemas naturais na cidade do Rio de Janeiro e estas eram, praticamente, desconhecidas. Esta metrópole tão conhecida internacionalmente por estar situada entre o mar e as montanhas, não sabia quase nada sobre sua biodiversidade, ainda preservada em unidades de conservação da natureza sob tutela municipal. Este atrativo científico, cultural e turístico esteve mergulhado em obscuridade, pois a maioria das pessoas, mesmo sendo do meio científico, quase nada ~ sabiam sobre esta variedade de organismos e suas relaçoes.

Biodiversidade Carioca

9 788561 36848 7

TECHNICAL BOOKS EDITORA EDITORA

Biodiversidade Carioca segredos revelados

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Expediente

Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes Secretário Municipal de Meio Ambiente Carlos Alberto Muniz Diretor-Presidente da Fundação Parques e Jardins Wellington Ribeiro da Silva Subsecretário Municipal de Meio Ambiente Altamirando de Moraes Coordenadora Geral de Áreas Verdes Elaine Barbosa Coordenadora de Proteção Ambiental Márcia Coutinho Coordenador de Recuperação Ambiental Marcelo Hudson de Souza Gerente de Gestão de Unidades de Conservação Maria Cecília Safady Guedes Gerente de Proteção Ambiental Luciane Valente Assessora Chefe de Imprensa Daniella Araujo Organizador e responsável técnico Jorge Antônio Lourenço Pontes, Biólogo DSc. em Ecologia e Evolução EDITORA

Technical Books, Rio de Janeiro Esta publicação foi financiada com recursos de medida compensatória ambiental, conforme as Resoluções SMAC nº 497-2011 e 502-2011; Portaria SMAC nº 01-2011 e nos processos administrativos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) 14/200.832/2012 e 14/000.882/2012.

Jorge Antônio Lourenço Pontes ( Organizador )

Biodiversidade Carioca segredos revelados 1 ª- edição

TECHNICAL BOOKS EDITORA

Rio de Janeiro 2015

biodiversidade carioca: S egredos R evelados 1ª edição Copyright © 2015 Jorge Antônio Lourenço Pontes

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a expressa autorização do Organizador e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.

R ealização: Technical Books Editora P rodução E ditorial: Marcio Meirelles C apa e P rojeto Gráfico: Marcio Meirelles

Os autores desta obra envidaram os seus melhores esforços no sentido de referenciar todas as fontes bibliográficas e virtuais consultadas e creditar todas as fotografias e ilustrações utilizadas e, antecipadamente, pedem desculpas por eventuais omissões, comprometendo-se, desde já, a sanar quaisquer falhas na próxima edição.

TECHNICAL BOOKS EDITORA Rua Gonçalves Dias, 89 – 2º andar – Sala 208 Centro – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20.050-030 (21) 2252-5318 / (21) 2224-3177 / (21) 2531-9027 [email protected] www.tbeditora.com.br

EPÍGRAFE

“In the end, we will conserve only what we love, we will love only what we understand, we will understand only what we are taught.” Baba Dioum (Conservacionista senegalês)

SUMÁRIO CARTA DO SECRETARIO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE ..................... XI APRESENTAÇÃO ........................................................................................ XIII AGRADECIMENTOS .................................................................................... XV

CAPÍTULO 1 AS PESQUISAS NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA MUNICIPAIS .............................................................................................. 18 O Estado Atual do Conhecimento Científico das Unidades de Conservação da Natureza Municipais da Cidade do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil ........................................................................................... 20 Jorge Antônio Lourenço Pontes, João Souza Rosas e Rafael Cunha Pontes

CAPÍTULO 2 USO RACIONAL DA BIODIVERSIDADE CARIOCA .................................... 28 Fitoquímica, Anatomia Foliar e Aspectos Fenológicos de Espécies das Restingas Fluminenses ........................................................................... 30 Alice Sato, Sandra Zorat Cordeiro, Anna Carina Antunes e Defaveri, Jaqueline Valverde Soares e Naomi Kato Simas Investigação do Potencial Terapêutico, Nutricional e da Produção de Metabólitos Bioativos das Cactáceas Nativas do Parque Natural Municipal do Grumari e de seus Fungos Endofíticos Associados ................................................................................ 48 Ligia M. M. Valente, Leia A. L. Scheinvar, Rodrigo V. Almeida, Marcos D. Pereira, Priscila F. P. Santos, Djavan da Paixão, Adriana C. Nascimento, Thiago Wolff, Isabela R. C. G. Ferreira, Rodolfo S. Barboza, Frederico A. V. Castro, Manping X. Liu e A. Leslie Gunatilaka

Perspectivas de Cultivo e Usos de Pau de Tamanco com Vistas à Sustentabilidade na Arborização e em Unidades de Conservação da Área de Planejamento 4 da Cidade do Rio de Janeiro ............................................................................................................................. 60 Flavio Pereira Telles e Janie Garcia da Silva

CAPÍTULO 3 A FLORA E A FAUNA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ............................................................................................................................ 78 Copacabana: Testemunhos Históricos e Atuais de uma Flora Rica e Ameaçada ................ 80 Leandro Jorge Telles Cardoso, Luana Paula Mauad, Regina Helena Potsch Andreata e João Marcelo Alvarenga Braga As Bromélias do Mendanha como Chave para a Conservação da Biodiversidade Local ..... 100 Thereza Christina Rocha-Pessôa e Carlos Frederico Duarte Rocha Araneofauna (Arthropoda: Arachnida: Araneae) do Parque Natural Municipal de Marapendi, Rio de Janeiro, Brasil, com Notas Sobre as Espécies Fluminenses ................. 110 Renner Luiz Cerqueira Baptista, André Queiroz, Diogo Tinoco Castro, André Hoffmann, Pedro de Souza Castanheira e Felipe Quintarelli A Ictiofauna da Bacia do Rio Guandu-Mirim, Rio de Janeiro, RJ ............................................. 134 Carla Christie D. Quijada e João Coimbra Pascoli Anfíbios e Lagartos da Restinga do Parque Natural Municipal de Grumari: Riqueza, Diversidade e Conservação ........................................................................................................ 146 Gisele R. Winck, Felipe Bottona da S. Telles, Vanderlaine A. Menezes e Carlos Frederico D. Rocha Jacarés Urbanos: O Jacaré de Papo Amarelo (Caiman latirostris Daudin, 1802) nos Parques Naturais Urbanos da Zona Oeste do Rio de Janeiro ............................................. 160 Ricardo Francisco Freitas Filho Unidades de Conservação da Cidade do Rio de Janeiro: Hotspots da Herpetofauna Carioca ............................................................................................................................................ 176 Jorge Antônio L. Pontes, Rafael C. Pontes, Rubevaldo F. Rocha, Patrícia M. Lindenberg, Karen P. Silva, Wagner A. Santos, Nelson A. Lemos, Paulo G. A. Hassan, Alex O. Alves, Luiz Flávio B. A. Lopes, Laiz C. T. Perro, Ana Paula Boldrini, Érica Cristina F. Nunes, Lilian Fialho Costa, Rafael Willi Kisling e Carlos Frederico D. Rocha

As Aves do Monumento Natural dos Morros da Urca e do Pão-de-Açúcar, Rio de Janeiro, RJ ............................................................................................................................ 196 Guilherme A. Serpa e Cecília Bueno Avifauna no Parque Natural Municipal Chico Mendes: Novos Registros e Considerações para Monitoramento ...................................................................................... 210 José Felipe Monteiro Pereira e Ildemar Ferreira Bicho Preguiça (Bradypus variegatus) do Parque Natural da Prainha, Rio de Janeiro, RJ ......... 224 Ana Carolina Maciel Boffy, Shery Duque Pinheiro e Helena de Godoy Bergallo Lista de Morcegos (Mammalia Chiroptera) do Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha, Município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil .......................................................... 238 Luis Fernando Menezes Jr, Ana Carolina Duarte da Costa Pinto, Maycon Diego Rodrigues Contildes e Adriano Lúcio Peracchi Os Mamíferos Terrestres do Parque Natural Municipal Bosque da Barra, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro .............................................................................................................. 246 Danielle Raro de Oliveira, Márcia Pessoa Paes-Pinto, Lyvia Martins R. da Silva, Rodrigo Peixoto Nunes e Jorge Antônio L. Pontes

CAPÍTULO 4 CONHECENDO AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS LOCAIS ......................................................... 258 Análises Ecológicas e Genéticas da Borboleta da Praia, Parides ascanius (Lepidoptera: Papilionidae), uma Espécie Ameaçada de Extinção ................................................................ 260 Gilberto de Souza Soares de Almeida Relações Ecológicas entre Bromélias, Anfíbios e Organismos Foréticos no Monumento Natural do Morro da Urca e Pão-de-Açúcar ................................................. 278 Leandro Talione Sabagh, Christina Wyss Castelo Branco e Carlos Frederico Duarte Rocha Morcegos do Parque Natural Municipal da Freguesia e do Parque Natural Municipal Chico Mendes: Riqueza, Hábitos Alimentares e a sua Importância na Manutenção da Cobertura Florestal Urbana ...................................................................... 292 Shirley Seixas Pereira da Silva, Patrícia Gonçalves Guedes e Alexandre Pinhão da Cruz

CAPÍTULO 5 UM PERIGO SILENCIOSO, A INVASÃO BIOLÓGICA .............................................................. 306 De Provedora a Invasora – Como a Jaqueira foi Transformada em um Grave Problema Ambiental para as Unidades de Conservação da Cidade do Rio de Janeiro .................... 308 Luís Mauro S. Magalhães, Welington Kiffer de Freitas, Alexander Silva de Resende, Marco Aurélio Pinheiro e Etiene Renata da Silva Gomes O Sagui Exótico Invasor (Callithrix spp.) no Parque Natural Municipal Bosque da Barra, Rio de Janeiro, Brasil ...................................................................................................... 328 Nathalia Detogne Nunes, Daniel Gomes Pereira, Thais Brainer e Helena de Godoy Bergallo

CAPÍTULO 6 O HOMEM E AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ................................................................. 342 Conflitos Sócio-Ambientais e Ameaças a Biodiversidade nos Parques Naturais Municipais da Prainha e Grumari – Maciço da Pedra Branca – RJ ...................................... 344 Thiago Ferreira Pinheiro Dias Pereira

XI

CARTA DO SECRETáRIO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE

O

s trabalhos científicos que aqui estamos apresentando foram desenvolvidos nas Unidades de Conservação (UC) existentes na

Cidade do Rio de Janeiro nos últimos anos. As linhas de pesquisas em cada Unidade de Conservação sob tutela desta Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) são definidas de forma a incrementar o conhecimento relativo aos patrimônios natural e sociocultural. A partir de pesquisas em campo são coletadas importantes informações para o conhecimento e manejo a curto, médio e longo prazo de nossas Unidades Conservação municipais. Disponibilizar as Unidades de Conservação ao meio científico é fato da maior importância e vem ao encontro das orientações dos Planos de Manejo de cada Unidade de Conservação. Criado pela Lei Federal nº 9.985 de 18/07/2000, o Plano de Manejo é a principal ferramenta de planejamento e gerenciamento das Unidades de Conservação, orientando seu espaço geográfico. A gestão compartilhada com representantes da população, através dos Conselhos Gestores, vem estabelecendo a relação do entorno com a Unidade de Conservação buscando ações de melhorias e de defesa do bioma Mata Atlântica e sua diversidade de espécies.

XII

Até 2009 apenas uma Unidade de Conservação possuía Plano de Manejo. Atualmente, através do esforço da equipe, temos dez planos elaborados e três em fase de execução. Assim vamos disponibilizar aos cariocas áreas onde o lazer pode conviver harmonicamente com nossos espaços preservados. Portanto, com grande orgulho, entregamos esta publicação, com a expectativa de dar a merecida divulgação aos trabalhos técnicos existentes, incentivar outros pesquisadores a contribuírem com novos estudos e ampliar o conhecimento dos cariocas acerca das unidades de conservação.

Carlos Alberto Muniz ( Secretário Municipal de Meio Ambiente )

XIII

APRESENTAÇÃO ‘

A

té cerca de três décadas atrás as poucas áreas livres e com características ainda próximas dos ecossistemas naturais na

segunda maior cidade brasileira, o Rio de Janeiro, eram praticamente desconhecidas. Esta metrópole, tão conhecida internacionalmente por estar situada entre o mar e as montanhas, não sabia quase nada sobre suas maiores joias, verdadeiras esmeraldas: a biodiversidade carioca preservada em unidades de conservação da natureza sob tutela municipal. Este atrativo científico, cultural e turístico esteve mergulhado em obscuridade, pois a maioria das pessoas, mesmo sendo do meio científico, quase nada sabia sobre esta variedade de organismos e suas relações, especialmente com o próprio meio urbano. Podemos citar os habitantes florestais, alguns tão pequenos e camuflados que eram desconhecidos da ciência até agora, que vivem em pequenos córregos e na serrapilheira sobre o solo. Agora, graças a um grupo determinado e incansável de pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas que destinaram parte de suas vidas para desvendar os segredos desta biodiversidade, os cidadãos do mundo, sejam também pesquisadores ou meros interessados em temas ambientais, poderão conhecer detalhes dos habitantes pouco conhecidos. Estes legítimos cariocas, muitas vezes esquecidos no avanço e desenvolvimento da metrópole, passarão a ser alvo da atenção de técnicos e tomadores de decisão sobre a cidade do Rio de Janeiro ao lerem os diferentes temas reunidos nesta obra. Estes vão desde os inventários de fauna e flora, aspectos ecológicos de espécies até os conflitos socioambientais.

XIV

A pesquisa científica aplicada na preservação da biodiversidade carioca e a maior divulgação das unidades de conservação da natureza de tutela municipal são passos para transformarmos, cada vez mais, o Rio em uma cidade realmente maravilhosa. Boa leitura!

Jorge Antônio L. Pontes ( Organizador )

XV

AGRADECIMENTOS

A

gradecemos imensamente a todos os pesquisadores e colaboradores, que dedicaram muitas horas de seu precioso

tempo desvendando os segredos da biodiversidade carioca, abrigada nas unidades de conservação da natureza municipais. E também por prepararem e enviarem seus manuscritos ricamente ilustrados que compõem esta obra. Aos técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este livro fosse publicado na forma em que está. E à própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, que aprovou e financiou esta obra com verbas de medidas compensatórias ambientais.

Biodiversidade Carioca segredos revelados

A FLORA E A FAUNA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

78

■■ Copacabana: Testemunhos Históricos ■■ As Bromélias Local

do

Mendanha

como

e

Atuais

Chave

de uma

Flora Rica

Conservação

para a

da

e

Ameaçada

Biodiversidade

■■ Araneofauna (Arthropoda: Arachnida: Araneae) do Parque Natural Municipal de Marapendi, Rio de Janeiro, Brasil, com Notas Sobre as Espécies Fluminenses ■■ A Ictiofauna

da

Bacia

do

Rio Guandu-Mirim, Rio

de

Janeiro, RJ

■■ Anfíbios e L agartos da Restinga do Parque Natural Municipal Riqueza, Diversidade e Conservação

de

Grumari:

■■ Jacarés Urbanos: O Jacaré de Papo Amarelo (Caiman latirostris Daudin, 1802) nos Parques Naturais Urbanos da Zona Oeste do Rio de Janeiro ■■ Unidades de Conservação da Cidade do Rio de Janeiro: Hotspots da Herpetofauna Carioca ■■ As Aves do Monumento Natural de Janeiro, RJ

dos

Morros

da

Urca

e do

Pão-de-Açúcar, Rio

■■ Avifauna no Parque Natural Municipal Chico Mendes : Novos Registros Considerações para Monitoramento ■■ Bicho Preguiça (Bradypus Janeiro, RJ

variegatus) do

Parque Natural

da

Prainha, Rio

e

de

■■ Lista de Morcegos (Mammalia Chiroptera) do Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha, Município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil ■■ Os Mamíferos Terrestres do Parque Natural Municipal Bosque da Barra, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

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Bicho Preguiça (Bradypus variegatus) do Parque Natural da Prainha, Rio de Janeiro, RJ

Ana Carolina Maciel Boffy1*, Shery Duque Pinheiro2** e Helena de Godoy Bergallo3 1

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia. Rua São Francisco Xavier, nº 524, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, CEP: 20550-011.

2

Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça. Rua Professora Mariúcha, nº 729, Vila Verde, Resende, RJ, Brasil, CEP: 27512-210.

3

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Biologia, Departamento de Ecologia, Laboratório de Ecologia de Pequenos Mamíferos. Rua São Francisco Xavier, nº 524, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, CEP: 20550-011.



.

* Contato: [email protected] ** Contato: [email protected]



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m

t

RESUMO Preguiças servem de hospedeiros para uma grande variedade de artrópodes de pelo, destes destacam-se dois importantes grupos de macroparasitas, os hematófagos e os coprófagos. Dentre os hematófagos, encontram-se os carrapatos e as moscas picadoras, e no grupo coprófago, mariposas, besouros e ácaros, que utilizam a preguiça para forese. Embora os estudos sobre a distribuição de preguiças em vida livre tenham se concentrado na descrição das espécies vegetais e a área utilizada, quando comparadas a mamíferos de mesmo tamanho corpóreo, as preguiças possuem áreas de vida pequena, suportando modificações em escala de micro-hábitat, dependendo do local da copa a ser ocupado. Observações sobre a dieta e o comportamento alimentar para preguiças do gênero Bradypus demonstram adaptação da população às características de cada ambiente. Outro aspecto importante no estudo sobre área de uso dos indivíduos de B. variegatus é que a análise do volume das copas das árvores que são utilizadas, poderiam melhor representar o uso do espaço do que a área total que ocupada por tais árvores, incluindo dessa forma, a variável altura e o espaço ocupado de forma tridimensional. Este estudo pretende adicionar informações sobre aspectos da biologia de B. variegatus, tais como associações com artrópodes de pelo, comportamento alimentar e uso do hábitat, contribuindo para informação sobre as preguiças do Rio de Janeiro. A pesquisa foi realizada entre os meses de dezembro de 2007 e novembro de 2008, no Parque Natural Municipal da Prainha (PNMP) localizado no Recreio dos Bandeirantes, parte do Maciço da Pedra Branca (22°59 23°04 S e 43°30’ 43°34’ W). Os dados de campo foram obtidos de animais de vida livre, encontrados através de buscas ativas realizadas em trilhas da unidade de conservação (UC). Eventualmente, animais recebidos pelo corpo de bombeiros e/ou Patrulha Ambiental no Parque Natural Municipal Chico Mendes (PNMCM), oriundos da região, foram utilizados como amostras-piloto e complementares. Em cada ponto de avistamento foram registrados os dados da localidade, horário e espécie vegetal. Os pontos de avistamento foram marcados com GPS. Para a captura, foram utilizados técnicas e equipamentos de alpinismo. Uma vez capturado, o animal era trazido ao solo. Iniciando a triagem com a busca e coleta manual por artrópodes, o registro da biometria dos animais e a marcação com miçangas coloridas presas ao pelo. Cada morfotipo de artrópodes foi colocado em um pote de coleta com álcool 70%. Os artrópodes de pelo coletados foram descritos, e verificada sua prevalência, e intensidade. Foram registradas no PNMP 16 preguiças, 12 preguiças apenas avistadas e quatro capturadas. Foram coletados dois gêneros de artrópodes de pelo, representados pelas famílias Ixodidae e Pyralidae. Uma única espécie de ixodídeo foi encontrada para todas as preguiças do estudo. Durantes os

Ana Carolina Maciel Boffy, Shery Duque Pinheiro

e

Helena

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Godoy Bergallo

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avistamentos, as preguiças foram encontradas em quatro diferentes espécies vegetais: embaúba Cecropia sp., paineira, Ceiba speciosa; uma figueira Ficus sp. e uma espécie não identificada da família Myrtaceae. A embaúba (Cecropia sp.), foi a espécie mais abundante registrada na área do parque e de também com maior registro de ocorrência das preguiças. Os horários de observação foram entre 9h e 15h, e às 11h o avistamento foi mais frequente. A altura da preguiça na árvore variou de 5-20m, sendo que a 15m foram registrados mais avistamentos. Palavras-chave: Xenarthra; Bradypus; Artrópodes; Uso do hábitat; Comportamento alimentar.

ABSTRACT Sloths can be as hosts for many arthropods which lives on their fur, from these two important macroparasitas groups can be recognized, the hematophagous and the coprophagus. The ticks and biting flies belongs to the hematophagus group and the moths, beetles and mites to coprophagus which use the sloth for phoresis. Most of the studies on distribution of free-living sloths have focused on the plant species consumed and the home range. However when compared with the another mammals with the same body size, sloths have a smaller home range, suffering changes in the microhabitat scale, depending on their position on tree canopy. Research on feeding behavior and diet of Bradypus have showed some adaptability to the environment features. The home range for some individuals of B. variegatus can be better understood if the structure of tree, as the canopy volume, height, and three-dimensional shape was considered instead the total area occupied by such trees. The aims of this study was to add information about the biology of B. variegatus, such as association with fur arthropods, feeding behavior and habitat use, contributing the knowlegedment about sloths in Rio de Janeiro city. The study was carried out between December/2007 and November/2008, at Municipal Natural Park of Prainha (PNMP) located a part of the Pedra Branca Massive (22° 59’ 23”04 S and 43° 30‘ 43 34” W). Field data were collected from free-living animals, located by active searches walking throughout the park tracks. Eventually, animals captured by the firefighters and/or Environmental Patrol of the Municipal Natural Park Chico Mendes (PNMCM), were used as pilot or complementary samples. The sighting points were marked with GPS and to capture the animals were used mountaineering techniques and equipment. Once captured, the animal was brought to the ground and their four was brushed raided looking for arthropods, then we got the biometrics and the marking register was done, using colored beads attached to the hair. Each morphotype of arthropods was placed in a plastic recipient with alcohol 70%. The arthropods collected were described, and the prevalence and intensity were analyzed. In PNMP were recorded 16 sloths, 12 sloths were just sighted and four were captured. We collected two genera of hair arthropods, represented by the families Ixodidae and Pyralidae. A single species of Ixodidae was found for all sloths. The sloths were found in four different tree species: Embauba tree (Cecropia sp.), Ceiba tree (Ceiba speciosa), a fig tree (Ficus sp.) and none identified specie from Myrtaceae family. The embauba trees (Cecropia sp.) were the most recorded. The data collection sessions were conduced from 09 am to 3 pm, however at 11 am was the period with more sightings. The sloth’s positions ranged from 5 to 20 m, but the 15m was the most recorded height during the sightings. Keywords: Xenarthra; Sloth; Arthropods; Habitat; Feeding behavior.

INTRODUÇÃO Dentre os mamíferos, os Xenarthra constituem um dos quatro maiores ramos na árvore filogenética de placentários (DELSUC & DOUZERY, 2008). Esse clado ou ramo se originou na América do Sul (AGUIAR & FONSECA, 2008), após a separação da África e da América do Sul há aproximadamente 65-80 milhões de anos (VIZCAINO & LOUGHRY, 2008). Em sua convergência se desenvolveram-se dois diferentes grupos: (1) os Cingulata (tatus), cujas espécies atuais se caracterizam pela presença de uma carapaça que cobre o corpo, cabeça e cauda, e pelos pequenos dentes cilíndricos; (2) os Pilosa, subdivididos em: Vermilingua (tamanduás), caracterizados pelo seu crânio tubular, uma garra preênsil usada na captura de presas e a ausência de dentes; e Phyllophaga (preguiças), cujas espécies atuais, são exclusivamente arbóreas e herbívoras, embora as preguiças extintas, suas antecessoras, apresentassem um

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BICHO PREGUIÇA (Bradypus

variegatus)

DO PARQUE NATURAL DA PRAINHA, RIO DE JANEIRO, RJ

porte bem maior e hábitos terrestres, sendo conhecidas como preguiças terrestres gigantes (VIZCAINO & LOUGHRY, 2008). Apesar de todos os intrigantes fatores relacionados à biologia dos Xenarthras, e sua ampla distribuição ao longo do território nacional, eles ainda são um grupo pouco estudado quando comparados às demais ordens de mamíferos que ocorrem no Brasil (BRITO, et al., 2009). Embora as primeiras coletas e estudos com seus representantes tenham sido registradas desde as primeiras expedições europeias (VIZCAINO, & LOUGHRY, 2008). A maior parte dos dados científicos publicados sobre esses animais tem se concentrado nos aspectos fisiológicos e reprodutivos, principalmente placentação (VIZCAINO & LOUGHRY, 2008). A carência de estudos sobre esse grupo em particular, pode ser atribuída a diversos fatores, dos quais se destacam: (1) planos de ação para conservação baseados em espécies em cativeiro, (2) difícil visualização na natureza, (3) impactos causados pelas atividades de caça (4) a raridade das pesquisas de longo prazo limitando o conhecimento sobre sua ecologia e comportamento.

Figura 1 Cladograma explicitando a relação entre as três subordens de Xenarthras: Cingulata, Vermilingua e Phyllophaga (Folivora) (Fonte: LOUGHRY, 2008).

Subordem Phyllophaga Preguiças atuais estão distribuídas nas famílias Bradypodidae (três dedos) e Megalonichidae (dois dedos), cuja distribuição geográfica está restrita as florestas neotropicais da América Central e do Sul (WETZEL, 1982,1985; CHIARELLO, 2008). O gênero Bradypus descrito por Linnaeus (1758) inclui as quatro espécies da família Bradypodidae, (1) Bradypus variegatus (Schinz, 1825), conhecida como preguiça-de-garganta-marrom, distribui-se pela América Central em Honduras, na costa do Equador, Colômbia, Venezuela, Guianas, Andes, Peru, Bolívia, Norte da Argentina, e Brasil (exceto no Amapá e Norte do Pará); (2) Bradypus tridactylus (Linnaeus, 1758), a preguiça-de-gargantaamarela, ocorre apenas na Amazônia, abrangendo Venezuela, Bolívia, delta

Figura 2 Cladograma explicitando a relação Phyllophaga. Preguiças se dividiram em quatro grupos monofiléticos. O sobrevivente Bradypus é colocado como táxon irmão a todas as outras preguiças; que existiam e o gênero Choloepus é incorporado na família Megalonychidae (Fonte: VIZCAINO e LOUGHRY, 2008).

Ana Carolina Maciel Boffy, Shery Duque Pinheiro

do rio Orinoco, Guianas e Região Norte do Brasil, registradas nas regiões adjacentes aos rios Amazonas e Negro (EMMONS, 1990); (3) Bradypus torquatus (Illiger, 1811), preguiça-de-coleira, endêmica da mata atlântica, distribuída do Sul da Bahia ao Norte do Estado do Rio de Janeiro (LARA-RUIZ, 2008); (4) e a recém-descoberta Bradypus pygmaeus (ANDERSON & HANDLEY, 2001) na Ilha de Barro-Colorado, endêmica do Panamá, e por isso, a única espécie do gênero que não ocorre no Brasil (FONSECA et al., 1996; MEDRI et al., 2006). Conhecidos por sua lentidão, as preguiças possuem baixo metabolismo e baixa temperatura corpórea, essa característica está associada ao consumo de alimentos com baixo teor energético, como folhas (MACNAB, 1985; GILMORE et al., 2001); a lentidão metabólica reduz a absorção de substâncias tóxicas presentes nas plantas, e pode ser interpretada como uma adaptação ao hábito folívoro (FOLEY et al., 1995). Apresentam hábito diurno e noturno, passando grande parte do dia em inatividade (CONSENTINO, 2004). Alguns estudos sobre seu ritmo biológico apontam para um tipo de atividade policíclica, porém os autores enfatizam a necessidade de ampliar o período de observações, na tentativa de estabelecer de forma mais clara a existência de um ritmo circadiano para Bradypus (CHIARELLO 1998a; CONSENTINO, 2004). Os critérios para escolha das árvores tanto na alimentação como para descanso não estão claramente definidos, embora possuam uma tendência a ocupar árvores com copas expostas ao sol pela necessidade de termorregulação (GILMORE et al., 2001; MIRANDA & COSTA, 2006). Raramente descem das árvores, vindo ao solo geralmente para urinar e defecar a cada sete dias, ou se deslocar no chão para outra árvore

Bradypus variegatus

e

Helena

de

Godoy Bergallo

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quando a mesma se encontra distante (NOWAK, 1999; AURICCHIO & AURICCHIO, 2006; MIRANDA, & COSTA, 2006).

Espécie Bradypus variegatus A preguiça comum possui ampla distribuição em relação às outras espécies, e estudos sobre dieta e outros aspectos biológicos de populações demonstraram que esses animais podem viver tanto em áreas com grande cobertura vegetal nativa e preservada, e.g. Floresta Amazônica (MONTGOMERY & SUNQUIST, 1985; QUEIROZ, 1995), como em ambientes de Mata Atlântica perturbada como a “cabruca” (BARRETO, 2007; CASSANO, 2006). No Brasil, inclui-se uma situação peculiar, de populações de preguiças que vivem em áreas totalmente urbanas, como praças e jardins públicos, sobrevivendo em ambientes com predominância de vegetação exótica, e alto grau de isolamento de outras populações naturais (CONSENTINO, 2004; PINHEIRO, 2008; JORGE, 2010).

Artrópodes de pelo Preguiças podem ser hospedeiras de uma grande variedade de artrópodes, que incluem mordedores e sugadores sanguíneos voadores como mosquitos e moscas de areia, insetos triatomíneos, piolhos, carrapatos e pulgas (OLIVEIRA et al., 2000; GILMORE et al., 2001). WAAGE e BEST (1985) investigaram em detalhes um número de diferentes artrópodes associados com Bradypus tridactylus, Bradypus variegatus e Choloepus didactylus nas proximidades de Manaus (GILMORE et al., 2001).

Bradypus torquatus

Figura 3 Espécies de preguiça de três dedos encontradas no Bioma Mata Atlântica e área de distribuição pelo Brasil (Fonte: Adaptado de HAYSSEN, 2010 e 2012).

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BICHO PREGUIÇA (Bradypus

variegatus)

DO PARQUE NATURAL DA PRAINHA, RIO DE JANEIRO, RJ

Figura 4 Indivíduo adulto da espécie B. variegatus no Parque Natural Municipal Chico Mendes.

Dos aspectos mais importantes da ecologia de parasitas destacam-se a sua capacidade reprodutiva e sua dispersão. Um único hospedeiro pode manter um número enorme de filhotes de parasitas. A dispersão para um novo hospedeiro é repleta de dificuldades e pode ser conseguida por meio de várias adaptações, como por exemplo, a infestação de um hospedeiro secundário (FUTUYMA, 2002). A infestação por carrapatos em preguiças pode ser extremamente alta (GILMORE et al., 2001). Seis espécies de carrapatos do gênero, Amblyomma tem sido encontradas tanto nas espécies de dois como três dedos na América Central e do Sul, as quais são acometidas mais frequentemente por “carrapatos gigantes”, da espécie Amblyomma varium (MIRANDA & COSTA, 2006). No Brasil, as espécies já descritas de carrapatos encontrados em preguiças são Amblyomma varium, Amblyomma aureolatum e Amblyomma geayi

(OLIVEIRA et al., 2000). De acordo com WAAGE e BEST (1985), apenas Amblyomma geayi e Amblyomma varium são verdadeiramente especializadas para viver em preguiças, pois raramente são encontrados em outros hospedeiros. Curiosamente os carrapatos machos representam a maior porcentagem em animais infectados (PINDER, 1993; GILMORE et al., 2001). Possivelmente em razão das fêmeas abandonarem os hospedeiros após a engorda para oviposição. Os machos adultos de Amblyomma geayi podem residir em outros hospedeiros por mais de três semanas, e ocorrem na região das coxas das preguiças (WAAGE & BEST, 1985; GILMORE et al., 2001). Em seu estudo WAAGE e BEST (1985) não encontraram correlação aparente entre o número de carrapatos (em qualquer estágio de vida) nas preguiças e a diferença sazonal de pluviosidade. Sobre

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Amblyomma geayi ou Ambylomma varium nada se sabe sobre o comportamento da procura por hospedeiro (GILMORE et al., 2001). Preguiças também podem desenvolver relações de comensalismo com besouros, pulgas e traças (GILMORE et al., 2001). WAAGE e BEST (1985) descobriram mais de 980 indivíduos de besouros sugadores (Trichilium adisi) no pelo de uma única preguiça (Bradypus variegatus) coletada nas Ilhas Curari na região da Amazônia Central. Outros besouros do gênero Uroxys foram encontrados em preguiças da Bolívia, do Brasil, da Colômbia e do Panamá, ocorrendo nas regiões perto do cotovelo, nas coxas e atrás dos joelhos presos bem dentro do pelo, (GILMORE et al., 2001). As larvas dos besouros se alimentam das fezes das preguiças, assim como os insetos adultos (GILMORE et al., 2001). As traças que vivem no pelo de preguiças podem receber proteção contra aves predadoras e possivelmente encontram nutrientes nas secreções da pele e/ou das algas presentes no pelo das preguiças (WOLDA, 1985; GILMORE et al., 2001).

Dieta Estudos de hábitos alimentares e dieta para o gênero Bradypus em diferentes biomas demonstram o grau de adaptação das populações ao ambiente. Os estudos sobre a dieta e a seletividade desenvolvidos na Floresta Amazônica por MONTGOMERY & SUNQUIST (1975) listou 28 espécies arbóreas e três lianas utilizadas para alimentação por nove preguiçascomum na Ilha Barro Colorado, Panamá. QUEIROZ (1995) listou 16 espécies vegetais em estudo realizado com 19 preguiças-comum na Reserva Extrativista do Mamirauá, AM, destacando as espécies de plantas mais consumidas pertencentes às famílias Moraceae, Euphorbiaceae e Bombacaceae. Na Mata Atlântica, CHIARELLO (1998) identificou 16 espécies de árvores e cinco de lianas compondo a dieta de três preguiças-de-coleira em Santa Teresa, ES, com destaque para as famílias Moraceae, Apocynaceae e Sapotaceae. Em ambientes de semicativeiro os estudos ressaltaram a importância da família Moraceae, com maior consumo de folhas jovens de Ficus microcarpa. Nesses ambientes também foram registrados o consumo de flores de Dypsis lutescens (palmeira bambu), Euterpes edulis (palmito) (CONSENTINO, 2004) e Ceiba speciosa (paineira), Pterocarpus rohrii (Aldrago) e Sterculia foetida (fedorenta) (PINHEIRO, 2008).

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Em ambos os estudos as autoras identificaram e descreveram as posturas relacionadas à alimentação. PINHEIRO (2008) relata que, embora tenha encontrado 11 posturas, classificadas de acordo o número de membros em sustentação, não foi possível atribuir uma postura típica relacionada ao momento da alimentação como ocorre para outros mamíferos como primatas, roedores e marsupiais que muitas vezes assumem uma postura bípede para manipulação do alimento. Em um estudo pioneiro sobre a existência de lateralidade em B. variegatus, foi revelado que preguiças podem apresentar preferencia manual durante a coleta de alimentos em nível individual, com existência de animais destros e canhotos fortemente lateralizados. Embora em nível populacional não tenha sido possível encontrar predominância de uma das condições como ocorre em humanos e outros animais (PINHEIRO & ANDRIOLO, 2010). Dados sobre a ocorrência e distribuição de preguiças em vida livre estão disponíveis nos estudos de CARMO (2001), que dentre outros aspectos, pesquisou a distribuição de B. tridactylus em Manaus (AM), assim como QUEIROZ (1995), que contribuiu com informações sobre as preguiças da Reserva de Mamirauá (AM), descrevendo as espécies vegetais e a área utilizada durante períodos chuvoso e de seca. De acordo com CASSANO (2006), as preguiças possuem áreas de vida pequena quando comparadas a mamíferos de mesmo tamanho corpóreo. No entanto, para MONTGOMERY e SUNQUIST (1975), no caso das preguiças, a área de vida de cada indivíduo poderia ser melhor representada se fosse considerado o volume das copas das árvores utilizadas em detrimento da área total ocupada por tais árvores. A altura seria uma variável importante bem como a observação do espaço ocupado de forma tridimensional conhecida como arquitetura das árvores. Assim foram encontrados por MONTGOMERY & SUNQUIST (1975), áreas de vida variando entre 0,5 e 3,7 hectares (média de 1,6 ha) e entre 0,15 e 1,4 ha (média de 0,9 ha) para B. variegatus. Na mata atlântica CHIARELLO (1998, 2001, 2005) avaliou padrões de atividade, dieta e área de uso de B. torquatus em remanescentes florestais no Espírito Santo, registrou o consumo de 16 especies de arvores e 5 lianas, destacando a familia Moraceae, como a mais consumida. Entretanto independente do bioma, de acordo com BARRETO (2007) é possível que estes animais estejam sujeitos a modificações em escala de microhábitat, e diversas variáveis ambientais, como radiação solar, temperatura e grau de umidade, entre outras, dependendo do local da copa a ser ocupado.

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As variações desses fatores nas copas das árvores são responsáveis pela modificação na comunidade de vários organismos, como epífitas (ALVES, 1997) e répteis (RAND, 1978). Dependendo ainda das adaptações para a vida arborícola, esses mamíferos podem utilizar, nos diferentes extratos florestais, diversos tipos de estrutura, como lianas, folhas de árvores, galhos e conexão entre estratos florestais (EMMONS, 1995). PINHEIRO e DE SOUZA (2006) descreveram as árvores utilizadas para repouso pelas preguiças, observando a escolha dos estratos arbóreos. Cientificamente é possível avaliar a composição de copa, empregando-se por meio de metodologias específicas como aquela proposta por JOHANSSON (1974) na qual a copa da árvore pode ser dividida em três partes: copa interna, mediana ou externa.

METODOLOGIA

Área de Estudo O presente estudo foi realizado entre os meses de dezembro de 2007 e novembro de 2008, na Unidade de Conservação (UC) do Município do Rio de Janeiro, consistindo do Parque Natural Municipal da Prainha (PNMP) localizado no perímetro urbano, no bairro conhecido como Recreio dos Bandeirantes, e parte do Maciço da Pedra Branca. Eventualmente animais recebidos pelo Corpo de Bombeiros e/ou Patrulha Ambiental no Parque Natural Municipal Chico Mendes (PNMCM), oriundos de diversas regiões do município, foram utilizados como amostras piloto e complementares. O Maciço da Pedra Branca possui mais de 500 espécies consideradas raras na fauna local, em todos os grupos desde aves, mamíferos, répteis, peixes e invertebrados, algumas em risco de extinção. A flora possui mais de 200 espécies vegetais. Nas regiões de baixada, a área é dominada por latossolos, enquanto nas maiores altitudes predominam solos podzólicos vermelho e litossolo amarelo. No interior da floresta a uma importante rede hidrográfica, a qual abastece, em parte, a população residente no entorno do remanescente. Similar à região do Maciço da Tijuca, em decorrência do continuo processo de degradação das áreas florestadas causado pela presença de várias fazendas de café, banana e laranja, que apresentavam risco continuo para toda a região, foi identificada como de relevância para preservação dos recursos hídricos da cidade (ROCHA et al., 2003; GOMES, 2006). O Parque Natural Municipal da Prainha (PNMP) está inserido no Maciço da Pedra Branca, abrangendo a vertente sul. Possui 126,30 ha e têm coordenadas

DO PARQUE NATURAL DA PRAINHA, RIO DE JANEIRO, RJ

geográficas 22°59 23°04 S e 43°30’ 43°34’ W. O relevo consiste em um maciço com aspecto semicircular, vertentes de forte inclinação, compõe o Morro da Pedra dos Cabritos, localizado à esquerda com 250 m de altitude, Morro Boa Vista, na parte Central com 456 m de altitude, e o Morro do Caeté com 404 m de altitude. Segundo o modelo Thornwaite, o clima é subúmido, com pouco ou nenhum déficit hídrico, megatérmico, com poucas variações durante o ano (PREFEITURA, 1998; ROCHA et al., 2003; GOSKES, 2004; GOMES, 2006). Dentre os ecossistemas encontrados, destacamse a restinga, a área alagada ou brejosa, e a Mata Atlântica caracterizada pela floresta ombrófila densa submontana. A área do parque não permaneceu ilesa de pressão antrópica, no final da década de 1970, a Companhia Litorânea Imobiliária abriu uma estrada interna onde construiu uma casa na vertente do morro do Caeté para os vigias, assim como atividades cinegéticas (caça), introdução de espécies exóticas, poluição de recursos hídricos, degradação do solo, despejo de lixo por visitantes nas trilhas e brejos contíguos a área de estacionamento (PREFEITURA, 1998; GOSKES, 2004). Muitas espécies vegetais nativas foram retiradas para comércio e subsistência, assim como outras foram introduzidas dentre elas: fruta-pão (Artocarpus integra), casuarina (Casuarina esquisetifolia), Bananeira-prata (Musa saplentrum), laranjeiras (Citrus spp.), amendoeira (Terminalia catappa), algodoeiro da praia (Hibiscus tiliaceus) (PREFEITURA, 1998; GOSKES, 2004). E grande área do parque que já sofreu queimada tem como principal vegetação, atualmente, o capim-colonião (Panicum maximum) (GOSKES, 2004). Das espécies da fauna extintas, destacam-se o macaco bugio (Alouatta fusca), a preguiça de coleira (Bradypus torquatus) e a onça parda (Puma concolor) (PREFEITURA, 1998; GOSKES, 2004). O PNMCM está localizado no bairro do Recreio dos Bandeirantes, coordenadas geográficas 23°01’22.77” S e 43°28’16.73” W, na cidade do Rio de Janeiro e compreende de áreas conservadas de restinga, dentro do bioma de Mata Atlântica (FREITAS-FILHO, 2008).

Coleta de dados Captura e marcação de Preguiças Os dados de campo foram obtidos de animais em vida livre que foram encontrados em buscas ativas feitas em trilhas na área das UC. E eventualmente animais coletados pelos órgãos de apreensão competentes. Quando um animal era avistado avaliavase a possibilidade de captura na árvore, considerando os riscos para o animal e pesquisador.

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Figura 5 Mapa da área de estudo, em detalhe foto de satélite com as cotas altimétricas.

Na c aptura foram utilizadas técnic as e equipamentos de alpinismo (corda e cadeirinha de escalada), e eventualmente uma escada de 20 m foi utilizada em embaúbas. Uma vez capturado, o animal era trazido ao solo. No método preconizado (LARA-RUIZ & CHIARELLO, 2005) a contenção deve ser feita pela extremidade dos braços e pelas costas, as garras fechadas com velcro, e o transporte em sacos de algodão reforçados. Contudo técnicas alternativas (CONSENTINO, 2004; OLIVEIRA, 2007) demonstraram que o animal pode ser transportado e mantido junto ao corpo do pesquisador como em “abraço” frontal e, dessa forma, as análises podem ser realizadas com segurança ao animal sem que ocorra contenção física, minimizando o estresse de captura e manipulação. Em uma planilha de campo, para cada ponto de coleta foram registrados os dados da localidade, horário de captura, e dados biométricos dos animais (Anexo I). A biometria foi feita com auxílio de duas

fitas métricas, uma mais rígida de 3 m, da marca Trammontina hobby, e uma fita métrica de costura maleável que se ajustava ao corpo do animal. O peso foi registrado, com dinamômetro de 20 kg, 5 kg e 1,5 kg da marca Pesola. Para divisão de categorias de tamanho-idade utilizou-se a medida proposta por PINDER (1993): infante HBL < 30 cm; jovem, 30 cm < HBL < 40 cm; subadulto, 40 cm < HBL < 60 cm; adulto, HBL > 60 cm. Para avaliação complementar, considerou-se o padrão proposto por outros autores (WETZEL & KOCH, 1973; WETZEL & AVILA-PIRES, 1980; CONSENTINO, 2004) para medidas do corpo e peso de um adulto dessa espécie que seriam: peso: 2,2-5,50 kg, comprimento total do corpo: 42-80 cm, comprimento da cauda: 3,8-9,0 cm, comprimento membro posterior esquerdo: 9,0-18,0 cm, comprimento da orelha: 0,8-2,2 cm. Depois de pesados e medidos, os animais eram soltos nas árvore de origem.

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Figura 6 Processo de busca, captura, coleta, contenção e marcação dos indivíduos de B. variegatus na base de apoio do PNMP.

Esta marcação permite identificar até 3.999 indivíduos. Desta forma, a metodologia não representa sobrepeso ao animal e não demanda mais de uma pessoa para colocação no animal contido. A leitura do código deve ser feita no sentido vertical, direção de cima para baixo, e as miçangas foram colocadas na parte superior da lateral esquerda do dorso do animal.

Coletas de Artrópodes de Pelo O animal foi caracterizado como macho ou fêmea pelo dimorfismo sexual presente na espécie. Apenas o macho apresenta uma mancha no meio do dorso (espéculo) de pelagem curta e de cor preta, envolvida por uma faixa de pelos amarelados ou alaranjados (WETZEL & KOCH, 1973; WETZEL & AVILA-PIRES, 1980; REDFORD, 1999). A marcação foi realizada seguindo a proposta de ESBERARD e DAEMON (1999), porém com adaptações. Utilizou-se o código numérico romano para caracterização individual, combinadas a miçangas coloridas, presas à pelagem do animal. Dessa forma, foram utilizadas sete cores distintas de miçangas, e um algarismo para cada cor: azul - I, verde - V, preto - X, amarelo - L, vermelho - C, branco - D, laranja - M.

As preguiças foram examinadas a procura de artrópodes, que foram coletados manualmente ou com auxílio de uma pinça. Para facilitar a triagem, cada espécie foi separada em recipientes por hospedeiro contendo álcool 70%, com etiquetas de identificação com a data de coleta, número do hospedeiro, e área de captura. Na determinação das espécies foram usadas chaves taxonômicas (ARAGÃO & FONSECA 1961; CAMICAS,1998), e os carrapatos foram levados ao Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

Resultados Durante o período de estudo, foram registradas no PNMP 16 preguiças, 12 preguiças apenas avistadas e

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quatro capturadas. E como amostras complementares, cinco preguiças que foram resgatas e levadas ao PNMCM. Totalizando o contato com 21 preguiças da espécie B. variegatus. Dos bichos-preguiça que puderam ter suas idades estimadas, 19% eram jovens (n = 4), 38% subadultos (n = 8), 33% adultos (n = 7). Dentre os animais observados e capturados, 88% eram machos (n = 7) e 45% eram fêmeas (n = 9). Além disso, 9,5% (n = 2) não puderam ter as idades estimadas e 25% não puderam ter seu sexo identificado com precisão (n = 5), pois não estavam em posição que permitisse a confirmação (Tabela 1).

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Hábitos alimentares e uso do espaço Durantes os avistamentos, as preguiças foram encontradas em quatro diferentes espécies vegetais: Embaúbas (Cecropia sp.), paineira (Ceiba speciosa), uma figueira (Ficus sp.) e uma espécie não identificada pertencente a família Myrtaceae. A embaúba (Cecropia sp.), foi a espécie mais registrada. O registro de dieta ou comportamento alimentar foi considerado apenas quando as preguiças manipulavam as folhas e posteriormente apresentavam um movimento mastigatório. Registrou-se o consumo de folhas de Paineira, Mirtaceae, Figueira e Embaúba.

Tabela 1 Número de campo (B.v.) dos animais observados e capturados durante o período de estudo, incluindo sexo, localidade e idade. B.v.

Sexo

Classes de idade

Procedência

Localidade

1*

F

Adulto

PNMCM

Biotério

2*

M

Adulto

PNMCM

Biotério

3*

F

Subadulto

Estr. Bandeirantes

Biotério

4

n.i.

Jovem

PNMP

Figueira c.f.

5

M

Jovem

PNMP

Myrtacea c.f.

6

F

Jovem

PNMCM

Figueira

7

F

n.i.

PNMP

Figueira

8

M

n.i.

PNMP

Embaúba

9*

F

Jovem

Grumari-Guaratiba

Embaúba

10

F

Subadulto

PNMP

Embaúba

11*

F

Adulto

PNMP

Figueira

12*

M

Subadulto

PNMP

Embaúba

13

F

Subadulto

PNMP

Embaúba

14

F

Adulto

PNMP

Embaúba

15

M

Adulto

PNMP

Embaúba

16

n.i.

Subadulto

PNMP

Myrtacea c.f.

17*

M

Adulto

PNMP

Paineira

18

n.i.

Subadulto

PNMP

Embaúba

19

n.i

Subadulto

PNMP

Embaúba

20

n.i

Subadulto

PNMP

Embaúba

21*

M

Adulto

PNMCM

Biotério

* Animais capturados e marcados com miçangas. n.i. = Animais que não tiveram o sexo e/ou a classe de idade identificada. c.f. = conferir.

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BICHO PREGUIÇA (Bradypus

variegatus)

As figueiras e embaúbas foram as árvores usadas para descanso e passagem, a defecação foi observada apenas na base das Embaúbas. Esse conjunto de espécies de árvores utilizadas para diferentes atividades, possibilita a definição de regiões modais, ou seja, áreas preferidas pelos animais que contemplam suas necessidades, sem que seja necessário grandes deslocamentos e consequentemente gasto de energia. O grau de incidência solar sobre a copa também parece determinar seu horário de uso. Os horários registrados de observação das preguiças foram nas horas de maior intensidade solar sobre o relevo entre 9 h e 15 h, e o horário que mais preguiças foram avistadas foi às 11 h. A espécie vegetal com mais registros durante o período de maior intensidade solar foram as embaúbas (Cecropia sp.). De acordo com Montgommery e Sunquist (1985), preguiças de três dedos se atentam a escolher e maximizar três atributos não taxonômicos na seleção do hábitat, tais como: a exposição da copa ao sol, a massa de lianas na copa e o tamanho da copa da árvore. As embaúbas possuem copas uniestratificadas, promovendo maior exposição ao sol, nos diferentes ramos, e a sombra em determinados horários, promovida pelas copas adjacentes e pela morfologia de suas folhas. Nas regiões de encosta que possuem terreno acidentado e sem a presença embaúba e figueiras, as árvores da família Mirtaceae e as paineiras em floração foram aquelas nas quais as preguiças foram mais visualizadas. Há dois registros do consumo de flores de paineiras por preguiças feitos por CONSENTINO (2004) e PINHEIRO (2008), em condições de semicativeiro. O uso de mirtáceas não é relatado na literatura. Provavelmente, as preguiças usam as mirtáceas apenas como passagem, uma vez que estas se ligam a outras espécies por cipós e lianas, como sugerido por BARRETO (2007). Entretanto, por causa do relevo desta região do parque e pela escassez de embaúbas ou espécies vegetais comumente utilizadas por preguiças, as mirtáceas seriam aproveitadas como árvores temporárias para descanso e termorregulação. Não foi possível verificar um padrão ou preferência relacionados a faixa etária ou categoria sexual, no que se refere as áreas utilizadas entre as cotas altimétricas.

Ectoparasitismo Foram encontrados dois tipos de ectoparasitas associados ao pelo, o carrapato Amblyomma scalpturatum NEUMANN, 1906 (Ixodidae) e a mariposa Bradypophila sp. (Pyralidae).

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A ocorrência de A. scalpturatum tem sido associada a animais ungulados como bois e porcos, em manejo extensivo, e também em capivaras na região Norte e Nordeste do país (LABRUNA, 2002). O primeiro registro para a região Sul ocorreu em humanos na cidade de Londrina, PR (ARZUA, 2007). Embora A. scalpturatum, tenha sido encontrado em todos os indivíduos escovados, até onde se sabe não há relatos na literatura científica sobre a presença dessa espécie em preguiças e seu registro é inédito para o município do Rio de Janeiro. O aumento do fluxo comercial e o trânsito de animais para atividade pecuária, cujo destino final será qualquer parte do país, facilita a disseminação dos parasitos. A proximidade do PNMP a uma zona agrícola/rural possivelmente favorece a troca de parasitos entre vida silvestre e doméstica. Em algumas espécies de carrapatos que parasitam mamíferos silvestres são encontrados os hábitos de especificidade ao hospedeiro, ou seja, são generalistas, podendo ser encontrados em outros hospedeiros, porém, eles sempre possuem um animal preferencial para alimentar-se de seu sangue (SILVA, 2008). Outro fator associado que facilitaria essa associação seria o comportamento de deslocamento da preguiça, relatado para a maioria dos estudos que infere sobre sua área de vida (p. ex., MONTGOMERY & WETZEL, 1985), os quais sugerem que, quando a procura de alimento, as preguiças podem se expor a diferentes micro-hábitats, incluindo deslocamento pelo solo, sendo assim, mesmo que temporariamente, elas compartilhariam esse hábitats com animais silvestres e domésticos e parte com sua fauna parasitária (SILVA, 2008). Mariposas do gênero  Bradypophila  sp. são comumente descritas como ectoparasitas associados ao pelo de preguiças-comum do Bioma Amazônico. A maior infestação registrada foi de 64 lepidópteras em uma preguiça fêmea. Há relatos de que uma preguiça cativa da Fundação RioZoo, provavelmente proveniente das matas do Estado do Rio de Janeiro, estava infestada por Bradypophila garbei (SÁ-FREIRE, 1996). Esta mesma espécie foi descrita por WOLDA (1985) em preguiças da região amazônica. Estes registros sugerem que a espécie de lepidóptera capturada nas preguiças no PNMP possa ser Bradypophila garbei, necessitando, contudo, de confirmação taxonômica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da sua ampla distribuição geográfica, Bradypus variegatus está fadada a extinção local e regional, como afirmado por SIBAJA-MORALES et

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al. (2009). O desmatamento, a atividade agrícola, e o aumento de construções humanas estão entre os principais fatores que contribuem para a diminuição e extinção das populações de preguiças. Pouco se sabe a respeito do estado de conservação não apenas das populações de preguiças, mas da fauna de mamíferos que vivem em remanescentes de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. O conjunto formado pelo Parque Natural Municipal da Prainha e Unidades de conservação adjacentes como Chico Mendes, Grumari e Parque Estadual da Pedra Branca da cidade do Rio de Janeiro, representa uma importante área interligada que permite a manutenção das populações naturais. O fomento a atividades de pesquisa e o trabalho com as comunidades de entorno pode fornecer subsídios para sua preservação.

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BICHO PREGUIÇA (Bradypus

variegatus)

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de

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Jorge Antônio Lourenço Pontes ( Organizador )

ISBN 978-85-61368-48-7

segredos revelados

Jorge Antônio Lourenço Pontes ( Organizador )

A pesquisa científica aplicada na preservação do ambiente natural carioca e a maior divulgação das unidades de conservação da natureza de tutela municipal são passos para transformarmos, cada vez mais, o Rio de Janeiro em uma cidade realmente maravilhosa.

Biodiversidade Carioca

~ públicas e privadas que Agora, graças a um grupo de pesquisadores de instituições destinaram parte de suas vidas para desvendar os segredos desta biodiversidade, permitirá que muitos mais conheçam detalhes destes legítimos cariocas, muitas das vezes esquecidos no avanço e desenvolvimento da metrópole.

segredos revelados

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xistem poucas áreas livres e com características ainda próximas dos ecossistemas naturais na cidade do Rio de Janeiro e estas eram, praticamente, desconhecidas. Esta metrópole tão conhecida internacionalmente por estar situada entre o mar e as montanhas, não sabia quase nada sobre sua biodiversidade, ainda preservada em unidades de conservação da natureza sob tutela municipal. Este atrativo científico, cultural e turístico esteve mergulhado em obscuridade, pois a maioria das pessoas, mesmo sendo do meio científico, quase nada ~ sabiam sobre esta variedade de organismos e suas relaçoes.

Biodiversidade Carioca

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