Bichos, velhos e estátuas – a Lisboa carnavalizada: de Alexandre O’Neill a José Cardoso Pires

June 6, 2017 | Autor: Orlando Grossegesse | Categoria: Portuguese Literature, The City in Literature and Culture, José Cardoso Pires
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Orlando Grossegesse (Universidade do Minho, Braga)

Bichos, velhos e estátuas – a Lisboa carnavalizada: de Alexandre O’Neill a José Cardoso Pires Secção 6: Cidade e Modernidade na literatura VIII. Congresso DLV, Munique, 2 a 6 de setembro de 2009

No breve ensaio “Tabucchi e a navegação das Letras” (1994) José Cardoso Pires elogia a escrita do autor italiano aportuguesado, na qual “a paisagem conversa com os mitos e com os personagens maiores da arte e da escrita, aqueles que deram espírito aos lugares”. Tal poética dialógica, no sentido de Bakhtin, também está presente nas crónicas de Cardoso Pires que podem ser entendidas como laboratório da escrita de Lisboa. Livro de Bordo: vozes, olhares, memorações (1997). Para além de Pessoa, existem outros ‘padroeiros’ de Lisboa menos conhecidos pelos turistas: por exemplo, Alexandre O'Neill “que foi poeta que decifrou os versos e reversos das traquinices da Lisboa dos nossos dias” (Lisboa. Livro de Bordo, p. 19). É pelo olhar, o ouvido e a voz de O’Neill que Cardoso Pires reivindica a memória dialógica, não só na própria paisagem urbana mas também nos artefactos capazes de conferirem espírito ao lugar. O famoso cartaz A poesia está na rua (1974) de Vieira da Silva define o entre-lugar paradigmático do projecto de (re-)habitar Lisboa através de artefactos (por exemplo, azulejos), voz (fado) e da própria poesia, inscrita ou rememorada no meio da cidade. Aplicando o conceito de Bakhtin à teoria do urbano conforme Rob Shields (1996), o ensaio aborda a vertente da carnavalização da cidade no texto e nas imagens de Lisboa. Livro de Bordo, sobretudo partindo de estátuas, bichos e velhos. A poesia de Alexandre O'Neill, desde No Reino da Dinamarca (1958), dedicado ao próprio Cardoso Pires, até à Saca de Orelhas (1979), cumpre um papel fulcral na construção duma Lisboa carnavalizada, sem esquecer a relação intertextual com La frontière (1992) de Pascal Quignard. Em vez de cingirmos à tradição literária portuguesa, desde Nicolau Tolentino, Bocage e Cesário Verde até José Carlos Ary dos Santos e Alexandre O’Neill, procuraremos também uma abordagem comparativa com a poética moderna do urbano, de Charles Baudelaire a Walter Benjamin.

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