Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros no Brasil

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Descrição do Produto

Universidade Metodista de Piracicaba Faculdade de Ciências Exatas e da Natureza

Willis Vieira dos Santos Oliveira

Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros no Brasil

Piracicaba 2014

Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros no Brasil

Projeto de Pesquisa apresentado na 12ª Mostra Acadêmica da Universidade Metodista de Piracicaba vinculado à disciplina Núcleo de Práticas Pedagógicas lll do Curso de Ciências Biológicas.

Orientador(a): Margarete de Fátima Costa

Piracicaba Outubro de 2014

RESUMO

Os anfíbios são vertebrados divididos em três ordens, Caudata ou Urodela (salamandras), Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs, pererecas e jias), sendo este último o mais popular e abundante na natureza, podendo ser encontrado em todos os biomas do país. Possuem ciclo de vida bifásico, onde a fase larval é aquática e a pós-metamórfica, terrestre. São, em sua maioria, predadores de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo tempo servem de alimento para vários grupos animais, como répteis, aves, mamíferos e até invertebrados. Ações como a poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se constituído ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até mesmo, em certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda não destruída pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer consequências graves para a natureza. Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo associados a perda do habitat, enquanto que em outras regiões do mundo as extinções por patógenos, efeito dos pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, são fatores investigados como possíveis causadores desse desaparecimento. O Brasil detém da quantia de 988 espécies de Anuros, entretanto esse número deve ser relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa compreender sua situação atual. A International Union for Conservation of Nature mostra que o país consta com 33 espécies ameaçadas de extinção, enquanto que o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, traz 17 espécies. Por isso devem receber atenção maior e haver o aumento de estudos relativos às melhores formas de manejo e estratégias de conservação. Assim sendo, o presente trabalho investiga a importância do conhecimento sobre a biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos utilizados para sua conservação referente ao recente declínio populacional percebido e registrado na literatura, abordando, de forma breve, os aspectos ecológicos, os agentes causadores dos declínios e propor, através do que já se conhece, remediações e prevenções aos declínios.

Palavras-chave: Biodiversidade; Declínio Populacional; Conservação; Anfíbios Anuros.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4 2. OBJETIVO......................................................................................................................... 6 2.1.

Objetivo Geral.................................................................................................... 6

2.2.

Objetivos Específicos ........................................................................................ 6

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 7 3.1.

Dados Gerais e Importância .............................................................................. 7

3.2.

Biodiversidade e Declínio Populacional ............................................................. 8

3.3.

Efeitos do declínio para a população humana brasileira e mundial ................. 10

3.4.

Conservação ................................................................................................... 12

4. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 13 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 14 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15

4

1. INTRODUÇÃO

Os anfíbios são divididos em três ordens, Caudata ou Urodela (salamandras), Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs, pererecas e jias), sendo este último o responsável pela popularidade dos anfíbios no Brasil, e possui alguns representantes famosos como o robusto sapo-cururu (Rhinella marina, R. schneideri e R. icterica), a delicada perereca-do-banheiro (Scinax fuscovarius e S. ruber) — com aparecimento comum em residências — e a rã-pimenta (Leptodactylus labyrinthicus), anfíbio conhecido por liberar uma substância em sua defesa quando incomodada, que causa irritação nos olhos e nariz, o que não impede que sua carne seja comercializada, apreciada e difundida em território nacional (BERNARDE, 2012). No Brasil, os anuros não são apenas os anfíbios mais conhecidos, mas também os mais abundantes na natureza, e podem ser encontrados em todos os biomas do país mais facilmente por sua característica vocalização — principalmente dos machos durante a atividade reprodutiva (chamado de canto de corte), seguido por outras motivações. Os cantos são classificados em: de anuncio, de encontro, de agonia, de interações

agonísticas,

de

reciprocidade,

agressivo

e

sexual

preventivo.

Predominantemente noturnos, exceto algumas espécies de hábitos diurnos, são, em sua maioria, predadores de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo tempo servem de alimento para vários grupos animais. Em relação à forma de vida, podem ser de natureza aquática, terrícolas, fossoriais e arborícolas (BERNARDE, 2012). Estes sapos, rãs e pererecas são animais de extrema importância para o equilíbrio da natureza, e são numerosos, uma vez que controlam as populações de insetos e de outros animais invertebrados e também servem de comida para muitas espécies de répteis, aves, mamíferos e até alguns invertebrados. Ações como a poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se constituído ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até mesmo, em certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda não destruída pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer consequências graves para a natureza, afetando os humanos de forma direta (JUNIOR; WOEHL, 2008; TOLEDO et al., 2010).

5

Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo associados a perda do habitat, interação entre espécies, flutuações populacionais, ou amostragens insuficientes. Outros fatores, como extinção por patógenos, efeito dos pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, necessitam de investimentos para estudos de campo a curto e longo prazo, pois são fatores investigados em outras partes do mundo como possíveis causadores ou aceleradores do desaparecimento de anfíbios (ETEROVICK et al., 2005; KELLER; BORTOLINI; COPATTI, 2011; SILVANO; SEGALLA, 2005). Segundo a última lista de anfíbios da Sociedade Brasileira de Herpetologia (SEGALLA et al., 2014), o Brasil detém da quantia de 1026 espécies de anfíbios, sendo destas 33 do grupo dos Gymnophionas, 1 do grupo Caudata e 988 dos Anuros. Isso demonstra a enorme diversidade de anfíbios, principalmente de Anuros, encontrada nos biomas do país. Esse número, entretanto, deve ser relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa compreender a situação atual da fauna anfíbia. A International Union for Conservation of Nature apresentou um catálogo (IUCN, 2013) em que o Brasil consta com 33 espécies ameaçadas de extinção e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade disponibiliza um banco de dados1 onde são possíveis buscas diretas das espécies. Bancos como este que serviram como base para o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (HADDAD, 2008), cujo capítulo dedicado aos anfíbios, baseado na lista de 2005 da IUCN, traz 17 espécies categorizadas em “Quase Ameaçadas” (NT), “Vulneráveis” (VU), “Em Perigo” (EN), “Criticamente em Perigo” (CR), “Extintas” (EX). Essa lista revela ainda que todas as espécies de anfíbios classificados em NT, VU, EN, CR e EX pertenciam à Ordem Anura (op. cit.). Este trabalho visa levantar membros da Ordem Anura, por possuir grande diversidade,

ocupar

todos

os

biomas

em

território

nacional,

apresentar

comportamentos variados em relação ao modo de vida, interações, características morfológicas, aparente sensibilidade às mudanças ambientais, entre outros. Por tudo isso devem receber atenção maior, devendo ser colocado em prática métodos eficazes que possibilitem, posteriormente, melhores formas de manejo e estratégias de conservação.

1

ICMbio – Lista de espécies ameaçadas. Disponível em: [http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-de-especies.html]. Acesso em 27 Maio de 2014.

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2. OBJETIVO

2.1. Objetivo Geral

O presente trabalho busca investigar a importância do conhecimento sobre a biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos utilizados para sua conservação referente ao recente declínio populacional percebido e registrado na literatura.

2.2. Objetivos Específicos



Entender a importância da biodiversidade de anuros no Brasil para sua conservação;



Mostrar de maneira simples a importância da anurofauna para o meio ambiente e às populações humanas;



Apontar os principais agentes causadores de declínios populacionais;



Propor, através do que já se conhece, remediações e prevenções aos declínios.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Dados Gerais e Importância

Devido a certas características fisiológicas (como pele permeável) e ecológicas (ciclo de vida bifásico) os anfíbios se tornam organismos fortemente dependentes da água, sobretudo na fase larval. Apresentam forte sensibilidade às alterações nos parâmetros físico-químicos da água e na estrutura da vegetação nas vizinhanças dos corpos d’água, tendo como exemplos de intervenções humanas que causam danos às populações de anuros o uso de pesticidas em culturas próximas às cabeceiras dos rios ou na construção de pequenas barragens e açudes para a agricultura e pecuária. Quanto à fragmentação das florestas, ela também pode afetar indiretamente as populações de anfíbios devido às alterações na qualidade das bordas das matas, promovendo mudanças na exposição aos ventos e ao sol que por conseguinte podem levar a uma diminuição da umidade e maior exposição aos raios ultravioleta-B (UVB). Tal sensibilidade se deve principalmente por sua pele permeável e exposta, por ocuparem os habitats aquáticos e terrestres e por apresentarem ovos sem casca (podendo haver maior absorção de substâncias presentes no meio), tornando os anfíbios indicadores sensíveis a diversos estresses ambientais (BLAUSTEIN, 1994; SILVANO et al., 2003; TOLEDO, 2009). São considerados um grupo de grande importância ecológica, tanto por sua grande diversidade, quanto por corresponderem a um grupo de interface entre a água e a terra e por apresentarem ciclo de vida bifásico (Toledo (2009) refere-se como “trifásico” no caso de espécies que possuem também a fase dos ovos), na qual a fase larval é aquática e fase pós-metamórfica, é terrestre, cada uma com sua ecologia particular. Na fase larval, conhecidos como girinos, podem-se observar diferentes tipos de dietas dentro das várias espécies: herbívoras (algas), detritívoras, filtradoras, onívoras ou carnívoras. Na fase pós-metamórfica, os anfíbios se tornam excelentes predadores, capturando presas nos ambientes aquáticos e terrestres, principalmente invertebrados, mas havendo registros de predações de pequenos vertebrados como mamíferos, répteis, aves, outros anfíbios (DUELLMAN; TRUEB, 1994, pp. 229, 246) e até vegetais (ver Silva e Britto-Pereira (2006) sobre Xenohyla truncata, espécie reconhecida como frugívora). Também servem de alimento a uma imensa gama de

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animais, desde invertebrados até peixes, répteis, aves, mamíferos e mesmo algumas espécies de anfíbios (BERNARDE, 2012; CALDWELL; VITT, 2009, p. 297; HADDAD, 2008, p. 287). Segundo Silvano et al. (2003), os anfibios são ainda organismos de baixa mobilidade, o que faz deles modelos ideais para estudo sobre os efeitos da fragmentação de florestas e, para Toledo (2009), características como alto grau de filopatria e facilidade de encontro, captura e recaptura fortalecem a indicação desse grupo de animais para obtenção de dados sobre áreas de interesse.

3.2. Biodiversidade e Declínio Populacional

De acordo com a última lista de anfíbios da Sociedade Brasileira de Herpetologia atualizada em 2014, pela quantia de 988 espécies de anfíbios, sendo destas 33 do grupo dos Gymnophionas, 1 do grupo Caudata e 913 dos Anuros (SEGALLA et al., 2014). Em relação a Classe Amphibia, o Brasil é campeão em número de espécies, apresentando enorme diversidade de anfíbios, principalmente de Anuros, encontrada em todos os biomas do país (IUCN, 2013; MACHADO, 2008; SILVANO; SEGALLA, 2005). A International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2013) também catalogou 33 espécies ameaçadas de extinção no Brasil, enquanto que o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (HADDAD, 2008), cujo capítulo dedicado aos anfíbios, baseado na lista de 2005 da IUCN, traz 17 espécies categorizadas em “Quase Ameaçadas” (NT), “Vulneráveis” (VU), “Em Perigo” (EN), “Criticamente em Perigo” (CR) e “Extintas” (EX). Todas pertencentes à ordem Anura. Estes números, entretanto, não representam o número total da biodiversidade e de espécies ameaçadas, e isso se deve principalmente pelo número insuficiente de profissionais atuantes no Brasil e, segundo Machado (2008), mesmo quando ocorrem trabalhos que chegam a ser apresentados em congressos nacionais, muitos destes não chegam a ser publicados e consequentemente não recebem a devida atenção (SABINO; PRADO, 2006). Segundo Stuart et al. (2004), em comparação aos mamíferos e as aves, os anfíbios são os mais ameaçados e estão declinando mais rapidamente. O Brasil

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também possui vários registros de declínios de anfíbios, com associação à perda do habitat, interação entre espécies, flutuações populacionais, ou amostragens insuficientes. Toda via, quando se trata de declínio por patógenos, efeito dos pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, existe a necessidade de investimentos para estudos de campo a curto e longo prazo, pois são fatores investigados em outras partes do mundo como possíveis causadores ou aceleradores do desaparecimento de anfíbios. É de consenso entre os pesquisadores que (obs. pess.), no Brasil, os declínios se devem principalmente pela destruição dos habitats, no qual o desmatamento é motivado pelo avanço da fronteira agrícola, pela mineração e pelos projetos de infraestrutura e urbanização (ETEROVICK et al., 2005; KELLER; BORTOLINI; COPATTI, 2011; SILVANO; SEGALLA, 2005). Apesar dos poucos estudos, para Silvano e Segalla (2005): No entanto, os pesticidas vêm sendo utilizados indiscriminadamente nas lavouras por todo o país; as mudanças climáticas são visíveis em algumas regiões; e, apesar do pouco que está publicado, existem registros de populações livres de espécies exóticas (p. ex., Rana catesbeiana), principalmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, que podem estar afetando as populações nativas de anfíbios (...). E, apesar de comprovado, não existem dados quantitativos sobre o comércio de espécies nativas de anfíbios no Brasil.

O Brasil, em toda sua extensão geográfica, abriga seis biomas (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal), no qual a Mata Atlântica é o campeão em relatos de declínio de anfíbios (ETEROVICK et al., 2005) devido principalmente

ao

desmatamento,

que

reduziu

a

floresta

original

para

aproximadamente 27%, que se encontra ainda dividida em milhares de fragmentos — essa porcentagem chega a 8% quando sua conservação é colocada à prova e comparada com a mata original (CAMPANILI; SCHÄFFER, 2010). Ainda assim é importante notar que a Mata Atlântica é um hotspot2 e detêm da maioria das espécies de anfíbios — e com alto endemismo — entre os biomas brasileiros, como pode ser visto na Tabela 1 (MAFFEI; UBAID, 2014; TOLEDO; BATISTA, 2012). Como comparativo, a Amazônia, maior bioma brasileiro, o Ministério do Meio Ambiente (ROMA, 2007) compartilha a informação de que ainda restam cerca de 87,54% de sua cobertura original, enquanto que a World Wide Fund for Nature – Brasil (WWF2

Termo cunhado em 1988 pelo ambientalista britânico Norman Myers. Hoje o termo é usado para definir uma área que: “1) Deve conter, pelo menos, 1.500 espécies de plantas vasculares (> 0,5% do total do planeta) como endêmicas; 2) Deve ter perdido pelo menos 70% do seu habitat original.”.

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BRASIL, 2013) atenta para uma perda de 17% de sua cobertura apenas no último meio século. Estes dois exemplos demonstram não somente a preocupação em relação a anurofauna, como também evidenciam o risco de declínio capaz de acometer diferentes organismos presentes nos biomas do país. Tabela 1. Biomas brasileiros, área projetada, número de espécies anuros que ocorre no bioma, e ordem de classificação da riqueza (considerando o número total de espécies por bioma ou estado). Número de

Classificação de

espécies

riqueza

4,196,943

318

2

1,110,182

518

1

Caatinga

844,453

124

4

Cerrado

2,036,448

271

3

Pampas

176,496

75

5

Pantanal

150,355

68

6

Bioma

Área (km²)

Amazônia Mata Atlântica

Fonte: Adaptado e traduzido de Toledo e Batista (2012).

Além da diversidade de espécies, a biomassa da anurofauna numa área ainda não destruída pelo homem é, muitas vezes, superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer consequências graves para a natureza, afetando os humanos de forma direta (JUNIOR; WOEHL, 2008; TOLEDO et al., 2010).

3.3. Efeitos do declínio para a população humana brasileira e mundial

De forma massiva, os insetos correspondem ao principal alimento dos anfíbios e a remoção desses animais de um ambiente ocasionará desequilíbrio ecológico, causando surtos de pragas agrícolas que trará, como reflexo, prejuízos quantitativos e qualitativos na agricultura. Também acarretará um aumento da poluição ambiental, devido a necessidade de intensificar o uso de inseticidas (LEWINSOHN, 2006; TOLEDO et al., 2010). Inúmeros fármacos potenciais para benefício da humanidade

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que poderiam ser obtidos através das substancias que compõe as glândulas cutâneas (que servem para defesa contra predadores, contra microrganismos e doenças, ou mesmo para permitir trocas gasosas eficientes), podem ser perdidos (exemplo: A dermorfina, potente analgésico extraído da perereca Phyllomedusa bicolor e utilizado para tratamento de doenças como Mal de Parkinson, AIDS, câncer, depressão e outras doenças (AMAZONLINK.ORG, 2003; LEWINSOHN, 2006)) (CAMARGO, 2005; PUKALA et al., 2006; TOLEDO et al., 2010). Em 2006, Pukala et al. reuniram em seu extenso trabalho as investigações e descobertas de vários pesquisadores sobre as toxinas presentes nas secreções dos anfíbios, apresentando, por exemplo, peptídeos com ações biológicas diversas: antibacterianas, antivirais, antifúngicas, além de peptídeos anticancerígenos e neuropeptídios. Já Dornelles, Marques e Renner (2011) dedicaram sua revisão à catalogar diferentes toxinas presentes nos anuros e a aplicabilidade farmacológica e biotecnológica de suas substâncias (Tabela 2). Tabela 2. Anuros de interesse farmacológico e ações biológicas de suas toxinas. Família

Dendrobatidae

Bufonidae

Hylidae

Pipidae

Ranidae

Chanus

Phyllomedusa

Xenopus

Rana

Epipedobates Gênero

Dendrobates Phyllobates

Toxinas: Ação biológica

Analgésico Cardiotóxico Miotóxico Neurotóxico

Alucinógeno Antimicrobiano

Analgésico

Cardiotóxico

Antibiótico

Hemolítico

Cicatrizante

Antibiótico Hemolítico

Antimicrobiano

Neurotóxico

Fonte: Adaptado de Dornelles, Marques e Renner (2011).

Ainda, o desaparecimento dos girinos em ambientes aquáticos, pode acarretar na eutrofização3 dos rios e reservatórios de água, já que grande parte dessas larvas alimentam-se de algas, podendo prejudicar o abastecimento de água potável, encarecendo o valor do seu tratamento para o consumo das populações brasileiras (TOLEDO et al., 2010).

3

Aumento excessivo de algas devido ao excesso de nutrientes.

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3.4. Conservação

Nota-se que tanto mamíferos como aves recebem maior atenção e, consequentemente, vêm-se em um número bastante superior de artigos quando postos em comparação aos anfíbios. Não é difícil entender a atenção por esses animais, quando os mesmos são tão carismáticos e, portanto, mais estudados e protegidos. Portanto, segundo Brito (2008), é necessário abordagens criativas que mostrem o valor de populações de anfíbios saudáveis para a sociedade, além de transformar algumas espécies em carismáticas. Brito ainda conclui que ao transformar anfíbios em animais carismáticos, através da mídia, financiamentos poderiam vir através de várias fontes e, em suas palavras: “Talvez isso ajudaria a diminuir essa lacuna entre estudos sobre anfíbios, pássaros e mamíferos”4 (2008, tradução minha). Devido ao declínio acelerado de várias espécies de anfíbios, faz-se necessário expandir os programas de pesquisa e desenvolvimento de políticas efetivas capazes de aumentar os esforços para a conservação desses animais, sobre tudo em regiões onde os dados sobre diversidade, abundância e distribuição das espécies são deficientes e entre as espécies classificadas como Deficientes em Dados (DD), além de propostas de novas unidades de conservação ou corredores de biodiversidade (HADDAD, 2008, p. 288; YOUNG et al., 2001). Young et al. (2004, pp. 41–45) também destacam a importância da proteção integral de habitats, da necessidade de políticas públicas e proteção legal, incluindo outras medidas como a criação em cativeiro, educação ambiental, pesquisas sobre doenças infecciosas e inventários.

4

“Maybe this would help diminish this gap between amphibians and birds and mammals studies.”.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

O desenvolver da pesquisa ocorreu com o auxílio de livros, artigos e sites, os quais se demonstraram fundamentais para o enriquecimento da compreensão dos temas e palavras chave “declínio populacional”, “biodiversidade” e “conservação” em relação aos anfíbios anuros do Brasil. Esse levantamento bibliográfico ocorreu com o auxílio do Portal CAPES (http://www.capes.gov.br/), Scielo (http://scielo.br/), AmphibiaWeb (http://www.amphibiaweb.org/index.html) e do Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br/) e em seu site de busca. Referente aos dados que determinam a quantidade estimada de espécies existentes e ameaçadas, foram obtidos através dos endereços digitais de órgãos nacionais

como

o

ICMbio

(http://www.icmbio.gov.br/portal/)

e

IBAMA

(http://www.ibama.gov.br) — ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente — e da

SBH

(http://www.sbherpetologia.org.br).

Também

a

internacional

IUCN

(http://www.iucn.org). A pesquisa teve o critério de selecionar artigos e livros publicados entre 2000 e 2014, ano atual desta revisão. As exceções (publicações e livros anteriores a 2000) se devem à importância dos mesmos. Artigos em língua inglesa são a maioria, embora publicações nacionais tenham sido inquestionavelmente importantes para a elaboração do trabalho.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da revisão bibliográfica, é notável que a biodiversidade dos anfíbios anuros é rica, sobre tudo em território brasileiro e nos seus vários biomas. Em contrapartida, sobre aspectos de desenvolvimento humano que não age sobre parâmetros de conscientização ambiental, evidencia-se também um preocupante declínio das populações anfíbias. Essas duas informações — rica biodiversidade e declínio populacional — revelam a necessidade de um maior número de pesquisas e publicações que se refiram tanto a descoberta de possíveis novas espécies, como a condição atual das já conhecidas, levando-se em conta sua ecologia e fisiologia. Essa é, como se nota, a essência que possibilita trabalhar com a conservação dos biomas, tendo em vista a ligação estrita que estes animais possuem com o meio onde vivem, que se refere tanto ao seu lugar na cadeia trófica, como também à sua capacidade natural como bioindicadores. O declínio destes animais pode causar sérios desequilíbrios ecológicos e poderá afetar diretamente a população humana brasileira, sobretudo no que diz respeito à agricultura e produção de fármacos. Por isso as pesquisas e implementação de políticas conservacionistas se fazem essenciais para a manutenção da anurofauna.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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