Biogeografia das orquídeas da Chapada dos Guimarães - 2016

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Scientific Electronic Archives: Especial Edition Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste _____________________________________________________________________________

ANAIS

APOIO:

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Scientific Electronic Archives: Especial Edition Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste _____________________________________________________________________________

Organização Diretoria Regional Centro-Oeste Rafael Arruda (Presidente) Germano Guarim Neto (Vice-Presidente) Maria Antonia Carnielo (Secretário) Larissa Cavalheiro (Tesoureiro)

Diretoria Nacional Renata Maria Strozi Alves Meira (Presidente) Ariane Luna Peixoto (1ª Vice-Presidente) Marcus Alberto Nadruz Coelho (2º Vice-Presidente) Andréa Pereira Luizi Ponzo (1ª Secretária) Vânia Gonçalves Lourenço Esteves (2ª Secretária) João Augusto Alves Meira Neto (1º Tesoureiro) Luzimar Campos da Silva (2ª Tesoureira) Micheline Carvalho Silva (Secretária Geral) Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara (Secretário Adjunto)

Comissão Organizadora Local Rafael Arruda (Presidente) Catiane Micheli Alcantara Tiesen Germano Guarim Neto Josiane Fernandes Keffer Larissa Cavalheiro Maria Antonia Carnielo Milton Omar Córdova Neyra

Comissão Científica Beatriz Marimon (Presidente) Adilson Sinhorin Ben-Hur Marimon Carla Regina Andrighetti Célia Regina Araújo Soares Lopes Cláudia dos Reis Eliane Paixãoaix Flávia Rodrigues Barbosa Francielli Bao Francisco de Paula Athayde Filho Hélder Nagai Consolaro Larissa Cavalheiro Maria Antonia Carnielo Milton Omar Córdova Neyra Pedro V. Eisenlohr Rafael Arruda Rogerio Añez Silane Silva

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Biogeografia das orquídeas da Chapada dos Guimarães 1

Adarilda Petini-Benelli *, Fernando Zagury Vaz-de-Mello

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Doutoranda em História Natural, Ecologia e Sistemática de Organismos pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá – MT. 2 Departamento de Biologia e Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. *[email protected]

Resumo. A região da Chapada dos Guimarães abriga duas unidades de conservação importantes para a biodiversidade do Bioma Cerrado (o PARNA e a APA), sendo a realização de uma análise panbiogeográfica necessária para conhecer os componentes bióticos envolvidos. Foram registradas 80 espécies (três endêmicas, duas a serem descritas), com base em inventário realizado no período de 1997 a 2004, em 23 pontos no PNCG, na APA e no seu entorno. Dessas, 55 são epífitas, 19 terrícolas e duas espécies exclusivamente rupícolas. Situada na Província do Pantanal, subregião Amazônica da Região Neotropical, essa área funcionou como importante corredor para o fluxo de espécies, propiciando a ligação entre as regiões andina e subandina até a região atlântica, atuando como refúgio (abrigando espécies amazônicas, andinas e chaquenhas) e como centro de endemismos e especiações. Configura-se como um nó panbiogeográfico de relevância para a conservação da biodiversidade regional. Palavras-Chaves: Biodiversidade; Componentes Bióticos; Orchidaceae.

Introdução Os estudos biogeográficos visam estabelecer um modelo tipológico hierárquico do território (sistemas de eco regiões), com expressão espacial, baseando-se na análise da distribuição atual e/ou pretérita, de diferentes táxons vegetais nativos e da distribuição espacial, a diferentes escalas, das respectivas comunidades (Costa et al., 1998). A Análise de Traços ou Panbiogeografia enfoca a dimensão espacial ou geográfica da biodiversidade, permitindo melhor compreensão dos padrões e processos evolutivos (Liria, 2008; Silva, 2006), por comparar traços individuais de diferentes táxons para detectar traços generalizados ou componentes bióticos (Grehan, 1994; Morrone, 2000; 2009). Traços superpostos indicam um nó panbiogeográfico (Silva, 2006), que pode ser caracterizado como sítio de endemismo ou de alta diversidade biológica, fronteira de distribuição, ausências anômalas, populações disjuntas, incongruência taxonômica, paralelismo e anomalias altitudinais (Heads, 2004), assim como os traços generalizados são hipóteses de homologia biogeográfica primária e indicam a preexistência de componentes bióticos ancestrais que foram fragmentados por eventos geológicos ou tectônicos (Morrone, 2009). Os nós são, geralmente, interpretados como zonas de convergência tectônica ou biótica (Morrone, 2009), a área onde dois ou mais traços generalizados convergem ou se superpõem (Liria, 2008) e é interpretado como uma região complexa, formada por fragmentos de duas ou mais biotas ancestrais (Grehan, 1994), configurando-se uma área com alta biodiversidade que inclui elementos taxonômicos de diversas origens, indicando prioridade para a conservação (Silva, 2006). Apesar de alguns estudos florísticos terem sido desenvolvidos na região de Chapada dos Guimarães - CG, poucos trabalhos têm enfocado a família e suas relações com os componentes ambientais. O presente trabalho visa relacionar as espécies com outras localidades onde ocorrem no Brasil e países vizinhos, considerando os componentes bióticos envolvidos e determinando um padrão de distribuição para os cenocrons identificados. Métodos A região da CG está situada na Província do Pantanal, Sub-região Amazônica da Região Neotropical (Morrone, 2001) e apresenta relevo marcado pela formação de costas e pela presença de superfícies altas e planas que podem atingir entre 600 a 800 metros de altitude (Piaia, 1997), proporcionando uma grande variedade de paisagens marcadas por formas e cores exuberantes. Possui clima tropical alternadamente seco e úmido, predominando as altas temperaturas com médias de 26º C; com exceção das áreas mais elevadas, onde a média é 22º C. Esse clima caracteriza-se por apresentar invernos secos e verões chuvosos com pluviosidade média de 1.500 mm/ano. Os solos são arenosos e estão sujeitos a perdas de estoque de águas armazenadas, que são eliminadas através de um processo intensivo de evapotranspiração, isto é, o tipo de solo aliado ao fator climático pode favorecer o processo erosivo (Piaia, 1997). São várias as tipologias vegetais (Piaia, 1997), grande parte no PARNA (BRASIL, Decreto nº 97.656, de 12 de abril de 1989) e na APA (BRASIL, Lei Estadual nº 7.804, de 05 de dezembro de 2002). As riquezas da fauna e da flora, além da variabilidade microclimática, propiciam à região características muito particulares como presença de espécies raras, migratórias e algumas ameaçadas de extinção (Brown Jr, 1970).

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Scientific Electronic Archives: Especial Edition Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste _____________________________________________________________________________ Os dados foram obtidos em 23 áreas localizadas na porção centro-sul do PNCG, na APA e no seu entorno. Extensa consulta em herbários e na bibliografia foi realizada para levantar a distribuição dos táxons. A nomenclatura foi atualizada pelo International Plant Names Index (IPNI, 2016). Resultados e discussão Foram registradas 80 espécies de Orchidaceae (de 48 gêneros) na área estudada e comparados com acervos dos herbários CNMT, RB, UPCB e UFMT (acrônimos segundo Thiers, 2015). Os gêneros mais representados em número de espécies são Catasetum (6), Encyclia (5), Epidendrum (5), Galeandra (4) e Vanilla (3). Esses gêneros exibem distribuição ampla em todo o Brasil, ocupando diferentes tipos de vegetação (Petini-Benelli, 2012; Petini-Benelli; Vaz-de-Mello, 2013). Do total, três espécies são pantropicais, enquanto a maioria (52 spp., 64,95%), apresenta distribuição ampla, ocorrendo em combinações de ambientes nos diversos biomas brasileiros, em condições ambientais distintas, sendo referidas também para países das América Central e do Sul. Das 77 espécies americanas, 51 são registradas apenas para a América do Sul, principalmente para a grande porção tropical ao norte, envolvendo áreas de Floresta Amazônica e de Cerrado. Ao todo, 25 espécies (31,25%) foram reportadas apenas para o território brasileiro, nos biomas que o compõem, principalmente, na Amazônia e no Cerrado do Planalto Central, onde uma nova espécie foi descrita: Epidendrum strobilicaule (Hágsater & PetiniBenelli, 2008). Exclusivas para o estado de Mato Grosso, apenas quatro espécies (Amblostoma sp., Chysis sp., Epidendrum strobilicaule e Lycaste rossiana var. mattogrossensis), das quais duas são prováveis espécies novas, ainda em análise. Dentre as espécies da região da CG, Chysis sp. destaca-se por caracterizar um cenocron de história biogeográfica bem distinta das outras espécies. Provavelmente, a espécie observada em CG tenha forte relação filogenética com Chysis aurea Lindley, cuja distribuição vai desde o México até a Venezuela e Peru, pois apresenta características morfológicas muito próximas. Conclusão As orquídeas têm, em geral, uma distribuição fitogeográfica bem definida, mostrando que uma adaptação limitada climática e ecologicamente impede, em parte, sua livre disseminação (Barros, 1990). Com tão largo espectro de distribuição, as espécies de orquídeas registradas para a CG são forte indicação de que essa região se configura um centro de biodiversidade com importância para a conservação, sobre a qual deve-se estabelecer planos de manejo que visem a manutenção dos habitats e dos componentes bióticos da fauna e da flora nativas. Referências BARROS, F. Diversidade taxonômica e distribuição geográfica das Orchidaceae brasileiras. Acta Botanica Brasilica 4 (1):177-187, 1990. BROWN Jr, KS. Proposta: Uma Reserva Biológica na Chapada de Guimarães, Mato Grosso. Brasil Florestal 1 (4): 17-29, 1970. COSTA, J.C., AGUIAR, C., CAPELO, J.H., LOUSÃ, M., NETO, C. Biogeografia de Portugal Continental. Quercetea 5-56, 1998. GREHAN, J.R. The Beginning and End of Dispersal: The Representation of ‘Panbiogeography’. Journal of Biogeography 21 (5): 451-462, 1994. HÁGSATER, E., PETINI-BENELLI, A. Epidendrum strobilicaule Hágsater & Benelli. In: Hágsater E. Ícones Orchidacearum 11: 1184, 2008. HEADS, M. What’s is a node? Journal of Biogeography 31: 1883-1891, 2004. LIRIA, J. Sistemas de información geográfica y análisis espaciales: um método combinado para realizar estúdios panbiogeográficos. Revista Mexicana de Biodiversidad 79: 281-284, 2008. MORRONE, J.J. La importancia de los Atlas Biogeográficos para la conservación de la biodiversidad. Monografias Tercer Milenio 1: 69-78, 2000. MORRONE, J.J. Biogeografía de América Latina y el Caribe. M&T–Manuales & Tesis SEA, vol. 3. Zaragoza. 2001.

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Scientific Electronic Archives: Especial Edition Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste _____________________________________________________________________________ MORRONE, J.J. Evolutionary biogeography: an integrative approach with case studies. New York: Columbia University Press. 2009. PETINI-BENELLI, A. Orquídeas de Mato Grosso, genus Catasetum L.C.Rich. ex Kunth. Rio de Janeiro: PoD Editora. 2012. PETINI-BENELLI, A., VAZ-DE-MELLO, F.Z. Biogeografia das Orquídeas da Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, Brasil. Orquidário 26 (3): 77-85, 2012. PETINI-BENELLI, A., VAZ-DE-MELLO, F.Z. Orquídeas da Chapada dos Guimarães. Guia Field Museum 398. 2013. http://fieldmuseum.org/IDtools. PIAIA, I.I. Geografia de Mato Grosso. Cuiabá: Editora Unic. 1997. SILVA, V.M. Análise biogeográfica da distribuição de primatas neotropicais (Primates, Platyrrhini). (Dissertação de Mestrado em Zoologia) – Pontifícia Universidade Católica, RS, 2006. THIERS, B.M. Index Herbariorum: A global directory of public herbaria and associated staff. New York Botanical Garden's Virtual Herbarium. 2016. http://sweetgum.nybg.org/ih/.

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