Biologia não define mais sexualidade

July 5, 2017 | Autor: Lourdes Feitosa | Categoria: Sexuality
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BAURU, domingo, 31 de agosto de 2014 13

Fotos: Quioshi Goto

GERAL

Historiadora e doutora da USC Lourdes Conde Feitosa afirmou durante evento em Bauru que não é mais a Biologia que define o homem e a mulher, porque as atividades sexuais são multifacetadas

‘Biologia não define mais sexualidade’ Pesquisadora em história dos costumes sexuais fala dos diversos gêneros existentes em aula de abertura de cursos sobre sexualidade humana

É

preciso olhar as opções sexuais, além do lado biológico, entender o contexto histórico e social e se informar cada vez sobre sexualidade humana. Também é necessário conhecer respeitando as preferências e assumindo as responsabilidades de cada uma das escolhas, sem juízo de valor. Essa é a lição que se tira da aula inaugural dos “Cursos de Atualização em Sexualidade Humana”, evento que vai até novembro. Os cursos estão sendo promovidos pela Clínica Integra – de Urologia e Saúde Integral e pela Fertility – Centro de Fertilização Assistida, com aulas semanais, aos sábados, e público-alvo de professores, profissionais e estudantes das áreas de saúde e educação A ideia é contribuir para a “formação inicial e continuada dos diferentes profissionais que atuam ou pretendem atuar nessa área” lembrou o médico urologista, Aguinaldo Nardi, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e diretor da Integra.

ANGELINA JOLIE Com aulas previstas para todos os sábados até o dia 08 de novembro vão ser conhecidas as novas abordagens sobre sexo nas diversas idades e grupos, desde os agravos sexuais na adolescência e prevenção contra a violência sexual até o envelhecimento, e ainda o direito ao sexo na sociedade inclusiva, entre as pessoas com deficiências. Uma das abordagens falará também sobre o câncer de mama, de próstata, os efeitos da doença e seus tratamentos na vida amorosa do casal até as controvérsias do momento como o tratamento radical a que se submeteu a atriz Angelina Jolie, com retirada total dos seios como forma de prevenção ao câncer de mama. Temas como vaginismo e próteses penianas, entre outras disfunções se xuais, também serão abordados. “Há a necessidade de estudar cada vez mais a sexualidade como um todo, não apenas nas vias reprodutivas, porque todas as doenças afetam de maneira específica a sexualidade”, destaca Aguinaldo Nardi.

Pesquisa

z

Lourdes Conde Feitosa teve sua tese de Doutorado publicada na renomada editora acadêmica British Archaeological Reports (B.A.R), vinculada à Universidade de Oxford, na Inglaterra. A tese abordou o tema “The Archaeology of Gender, Love and Sexuality in Pompeii” (Arqueologia de Gênero, Amor e Sexualidade em Pompeia) e investigou as relações entre o feminino e o masculino por meio de manifestações de amor, angústias, disputas e felicitações que foram expressas nas inúmeras inscrições registradas por escravos libertos e livres pobres nas paredes da Pompeia romana, antiga cidade soterrada pela erupção do vulcão Vesúvio no ano de 79 d.C. e redescoberta no século 18.

Urologista Aguinaldo Nardi disse na abertura de curso que há necessidade de estudar cada vez mais a sexualidade como um todo

Conhecer a história ajuda a entender sexualidade Coube à historiadora Lourdes Conte Feitosa a aula inaugural da série dos cursos. Líder do grupo de pesquisa Gênero, sexualidade e sociedades, da Universidade do Sagrado Coração (USC), e com tese publicada internacionalmente, Lourdes lembra: “conhecer a história nos ajuda a entender as questões de gênero e sexualidade que permeiam os dias de hoje – em que não há mais só o masculino e feminino” Conhecer a história é fundamental para chegar a movimentos como os da Parada da Diversidade, como a que Bauru sedia pelo sétimo ano. Lourdes destaca que não é mais a Biologia que define o homem e a mulher, porque as atividades sexuais são multifacetadas e existem, “além dos conhecidos gêneros masculino e feminino, diversas definições como bissexual, homossexual, heterossexual, transexual, intersexual, assexual dentre ou-

tros e evidencia que a partir de estudos profundos históricos, que a diversidade de comportamentos existia em sociedades do passado, mas a maneira de ver essas variações era completamente diferente”. POMPEIA E O SEXO Estudos sobre Pompeia – a segunda maior cidade do Império Romano, com um comércio vibrante e 10 mil moradores no seu age – e seus famosos grafites, mostram que não havia nada de pornográfico nem de perversão na representação dos atos sexuais. Grafitar era uma necessidade. Os muros e as paredes eram constantemente usados como forma de expressar sentimentos e vontades sexuais, da forma o mais natural possível. A imagem de coitos, órgãos sexuais, da figa como representação do ato sexual e até figuras na porta de entrada das casas estavam ligadas à virilidade,

e o falo, um pênis ereto, nada mais era do que a representação da vida. “Afinal, o pênis ereto está pronto para ejacular, a ejaculação traz a vida, então, ele estava pronto para gerar a vida”, ressalta a pesquisadora. Assim, era natural que a valorização da vida passasse pela valorização das imagens do falo. E não se pense que as relações eram uma bestialidade, orgias. Nada disso, haviam normas para as práticas sexuais, tanto que a relação de homem com homem, havia de respeitar a moral vigente, a hierarquia aristocrática, onde o aristocrata poderia ter relações com jovens, desde que estes fossem escravos ou libertos. “De maneira alguma isso colocava em questão a sua masculinidade, por isso não tem sentido falar em homossexualidade para aquele período”. As relações entre homens eram tão naturais que o literato Suetônio escreveu a respeito

do imperador Júlio César que este “era mulher de todo soldado e homem de toda mulher”. Segundo a estudiosa “também um aristocrático homossexual passivo era homem e poderia ocupar o mais alto cargo político. Isto porque, como soldado, simbolizava a virilidade revelada na força física, na coragem, na superioridade bélica, qualidades fundamentais da masculinidade romana. Isso é que os tornava homens e não a sua prática sexual”.

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DULCE KERNBEIS

DIVERSIDADE

de comportamento é retratada desde a Roma e a Grécia antiga, aponta pesquisadora Lourdes Conde.

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