Brasão da Vila de Mafra

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Brasão da Vila de Mafra

Félix Rodrigues e Isabel Neves Departamento de Ciências Agrárias Universidade dos Açores Nota- Este trabalho foi desenvolvido para as Comemorações do Ano Internacional da Astronomia, 2009, promovidas pela Sociedade Portuguesa de Astronomia. Agradece-se a colaboração da Câmara Municipal da Vila de Mafra.

Mafra é uma vila portuguesa do Distrito de Lisboa, região de Lisboa, com cerca de 11000 habitantes, de acordo com os sensos de 2001. Mafra é muito conhecida pelo seu palácio-convento, mandado construir por D. João V no século XVIII, inicialmente como um pequeno convento para 13 frades, cujo projeto foi sofrendo sucessivos alargamentos, acabando num enorme edifício que albergou cerca de 300 frades da Ordem de S. Francisco. O Palácio Nacional de Mafra constitui-se a mais grandiosa obra do barroco português. Formada por dois núcleos habitacionais, a Vila Velha, construída ao redor do antigo castelo, e a Vila Nova, desenvolvida em torno do Convento, faz de Mafra sede de concelho e de comarca. Conquistada aos Mouros em 1147 por D. Afonso Henriques, foi doada por D. Sancho I, e em 1189, ao Bispo de Silves, e no ano seguinte, foi-lhe atribuído o primeiro foral. Em 1513 o Rei D. Manuel concede novo foral a Mafra, o que se subentende, a importância da vila nessa altura. Nos finais do século XVIII, Mafra parece já não ter a importância que teve no passado, se atentarmos no que afirma, em Agosto de 1787, William Beckford: "É pouco interessante a perspetiva que se goza do adro da Basílica. O que se vê são os telhados de uma aldeia insignificante e uns cabeços de areia, destacando-se sobre uma estreita faixa de oceano. Da esquerda a vista é limitada pelos escarpados montes de Sintra e à direita, um pinhal, na quinta do Visconde de Ponte de Lima, é que dá aos olhos algum refrigério". Estudos arqueológicos sugerem que o território do Concelho de Mafra já era ocupado na segunda metade do 4º milénio e 3º milénio, especialmente o Penedo do Lexim, o que significa uma ocupação pelo menos desde o Neolítico. A origem do termo “Mafra” continua envolta em mistério, sabendo-se apenas que evoluiu de Mafara (1189), Malfora (1201) e Mafora (1288).

Alguns autores encontraram na sua origem o arquétipo turânico Mahara, a grande Ara, vestígio de um culto de fecundidade feminina outrora existente no adro da vila. Outros, radicaram o nome no árabe Mahfara, a cova, na presunção de que a povoação se encontrava implantada numa cova, facto desmentido pelo reconhecido arabista David Lopes. A vila está, isso sim, situada numa colina, cercada por dois vales onde correm as ribeiras conhecidas por Rio Gordo e Rio dos Couros. Certo também é que Mafra foi uma vila fortificada, podendo ainda hoje encontrar-se, na Rua das Tecedeiras, um pouco da muralha que a cercava. Ao longo do século XIX começou a povoação a crescer em direção ao Monumento, embora o seu aspeto rural só tenha sido perdido no século XX, como parece atestar a opinião de José Mangens, em 1936, ao descrever a antiga Rua dos Arcipestres, parte da actual 1º de Maio: “(….) nada oferece de interessante e mais parece uma vila de aldeia sertaneja, com os seus casebres arruinados e típicos portais de quintais, blindados com latas velhas (….)". A invasão das tropas francesas de Napoleão em 1807 e a fuga do Rei D. Manuel II para o exílio em 1910 foram episódios que agitaram a vida desta vila nos últimos séculos. O que é certo, é que desde a construção do Monumento, parte do ambiente humano da Vila de Mafra é militar. Guilherme José Ferreira de Assunção descreve esse aspeto em "À Sombra do Convento...", após as primeiras visitas de D. Maria II à vila de Mafra foi reconhecida a vantagem da instalação de um corpo militar no Convento, “o que não demorou a acontecer e o que conseguiu transformar a vida da população, até aí arrastada e em precárias condições de existência”. O Brasão da Vila de Mafra tenta incorporar elementos dessa sua história. É constituído por um escudo vermelho, com uma torre de ouro aberta na qual está inscrita uma cruz de Avis, a verde. A torre é ladeada por dois crescentes de prata. A coroa mural, também em prata, possui quatro torres. O listel branco contém inscrito a negro, a identificação da Vila-Vila de Mafra (ver figura 1).

Figura 1 – Brasão da Vila de Mafra. O vermelho do escudo está associado aos guerreiros, ou seja, aos militares bemsucedidos em guerras ou ao sangue desses guerreiros. A torre significa a generosidade de servir a Pátria e ao seu rei. A Cruz de Avis, ou seja, uma cruz florida, com braços a terminarem em florões, no Brasão da Vila de Mafra tem a particularidade heráldica dessas extremidades serem encurtadas, pelo facto das pétalas centrais dos florões se aproximarem das laterais dos braços, para representarem da letra “M”, inicial do nome de Maria, padroeira da ordem, como a da ordem de Calatrava. Essa cruz pode ser descrita como terminada por quatro letras «M», opostas duas a duas. À semelhança de outros municípios portugueses, Mafra tem dois crescentes no brasão e bandeira. Também se encontram dois crescentes, em forma de U, nos brasões de Alverca do Ribatejo e Vila de Borba, entre outros, e dois crescentes presentes no brasão da Cidade de Queluz, mas em forma de C. O Quarto Crescente da Lua aparenta-se à letra "U" quando a Lua se está a pôr, ou com um "U" invertido quando a Lua está a nascer. Issa forma é mais evidente quanto mais próximo da linha do equador estiver o observador. Na figura 2 apresenta-se um diagrama que explica a forma como se vê a lua, em função da latitude em que um observador se encontra.

Figura 2 – Esquema que exemplifica as formas como um observador vê as diferentes fases da lua, em função da posição do observador no globo terrestre. Se à latitude de Mafra e de Portugal, não se vê geralmente a lua com a forma de C rodado. para cima, de 90º ou em forma de U, os crescentes no brasão de Vila de Mafra terão significado astronómico? Haverá algum período em que, à latitude de Mafra se observe a lua em forma de U? A aparência da Lua em forma de U, à latitude de Mafra não tem nada de anómalo, essa forma é provocada pelo ângulo com que o Sol reflete a sua luz na Lua nalgumas épocas do ano. Ao mesmo tempo em que a Lua orbita a Terra, o nosso planeta também orbita o Sol, o que faz com que nosso satélite natural leve mais tempo a apresentar a mesma fase vista da Terra. Esse período é de 29,53 dias. Esse movimento orbital da Lua em relação à Terra, e não em relação às estrelas fixas, é conhecido como período sinódico. No caso da Lua, a diferença entre o período sinódico e o período sideral traduz-se, quando visto da Terra, como um aparente deslocamento sucessivo da Lua para leste, dia após dia, ao longo do ano. E é por essa dessincronia de movimentos que a forma de U aparece a latitudes mais elevadas. Tal forma resulta do Sol iluminar a Lua “por baixo” dela do ponto de vista do observador, criando assim o conhecido padrão em forma de U que pode ser visto durante alguns dias. Nas latitudes médias do hemisfério norte, esse efeito é percebido no Verão. Dependendo da latitude do observador, essa combinação de fatores pode ocorrer mais vezes durante o ano e também durar mais tempo. Na figura 3, apresenta-se a forma U da Lua para as latitudes médias do hemisfério norte.

Figura 3 – Evolução das formas de crescente lunar nas latitudes médias do hemisfério norte. Pelo que se acaba de expor, os crescentes no Brasão da Vila de Mafra podem ter um significado astronómico, e se assim o é, representarão a Lua no Verão. Haverá algum significado astronómico para as duas luas desenhadas no Brasão de Vila de Mafra? Provavelmente o seu significado será astrológico, em vez de astronómico, todavia, haverá que perceber qual o construto por detrás dessa simbologia.

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