Brasil o país de plástico

May 29, 2017 | Autor: L. Branco | Categoria: História do Brasil, Brasil, Ciência Política brasileira
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Brasil o país de plástico por Luis Alexandre Ribeiro Branco

Copyright 2015 Luis Alexandre Ribeiro BrancoEste ebook é licenciado apenas para sua leitura pessoal. Não pode voltar a ser vendido ou doado à outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com alguém, por favor compre uma cópia adicional para cada destinatário. Se você está lendo este livro mas não o comprou ou se não foi adquirido para o seu uso pessoal, por favor, devolva-o ao seu revendedor e compre a sua própria cópia.  Obrigado por respeitar o trabalho duro deste autor.

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Dedicatória Dedico esta obra aos milhões de brasileiros, no Brasil e na diáspora, um povo que ao longo de seus quinhentos anos de história só conheceu a pobreza, a fome, a seca, a morte à mingua, a falta de casa, a falta de saneamento básico, a falta de saúde, a falta de educação, um povo sofrido que não conheceu o que é viver com segurança, qualidade de vida e dignidade, enquanto nossos governantes despojam os cofres públicos levando o país a uma miséria ainda mais profunda.

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Apresentação Um olhar para o Brasil que sonha em ser um país relevante no cenário mundial, enquanto ainda lhe resta uma grande tarefa em lidar com seus insolúveis problemas internos, o que inclui a árdua tarefa de despertar em seus cidadãos o sentimento e o dever de exercerem com responsabilidade seus direitos cívicos. O país de plástico é uma leitura da sociedade brasileira de dentro

para

fora,

reconhecendo

nossas

superficialidade,

fragilidades e defeitos com o sincero desejo de provocar no leitor uma indignação com os status quo impetrante na busca por construir um país novo para nós e nossos filhos.

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O país de plástico Houve um tempo em que falava-se muito das comidas de plástico, comida lixo (junk food) ou fast food1, quando existia toda uma campanha contra o consumo deste tipo de alimentos. Nesta mesma época muitos obesos moviam ações contra os restaurantes que comercializam este tipo de alimentos responsabilizando-os pelos quilos ganhos ao consumir seus produtos. Optei pelo uso da nomenclatura “país de plástico” por achar mais conveniente e menos agressivo ao nosso sentimento nacionalista. Na verdade soa-me um tanto quanto ridículo mover uma ação destas, aliás até acho uma injustiça, pois na verdade se consumimos

algum

tipo

de

comida

de

plástico

a

responsabilidade é inteiramente nossa e não podemos culpar os outros pela falta de cuidado que deixamos de ter com a nossa saúde. Aqui bem perto da minha casa há alguns destes restaurantes, e nenhum deles jamais me arrastou para dentro das suas lojas e me obrigou a comer qualquer coisa, as vezes em que 


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Junk food ("comida lixo", numa tradução literal do inglês), também coloquialmente, "porcaria" ou "besteira", é uma expressão pejorativa para "alimentos com alto teor calórico, mas com níveis reduzidos de nutrientes". Acredita-se que a expressão tenha sido criada por Michael Jacobson, diretor do Center for Science in the Public Interest, em 1972. Desde então, seu uso tornou-se disseminado. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Junk_food

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fiz foi por minha própria iniciativa, portanto, não posso culpálos pelos quilinhos a mais que eu possa vir a ganhar. O país de plástico surge em minha perspectiva como um país que possui muitas cores, que faz uma grande propaganda, um país que se apresenta com as mais mirabolantes receitas de uma sociedade progressista, próspera, desenvolvida, futurista, que busca atrair seus clientes; neste contexto o eleitor, com promessas de uma refeição equilibrada, enquanto na verdade o que ela tem para oferecer não passa daquilo que aqui estamos falando, comida de plástico. A relação país de plástico e comida de plástico está na superficialidade dos seus produtos, no excesso de propaganda, na glutonaria do consumidor (eleitor) e no hábito de culparmos os restaurantes (classe dirigente) quando as coisas não vão bem, mesmo tendo sido nós a elegê-los. A sociedade, irresponsável, se empanturra com as ofertas da classe dirigente e depois de ganhar peso, culpa aqueles a quem ela mesmo elegeu, mesmo conhecendo seu menu venenoso. O sentimento que tenho é que no país de plástico precisamos eleger corruptos numa tentativa de tirar alguma vantagem, ainda que seja somente a vantagem de poder dizer que há alguém que se preocupa menos com o país do que nós. No país de plástico 


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transferimos nossas responsabilidades cívicas para pessoas que sabemos que não irão fazer absolutamente nada para reverter o processo de obesidade e letargia que toma conta do país logo após cada eleição. No país de plástico nada é levado a sério, se alguma coisa vai mal, não é necessário alardear, pois no país de plástico há sempre a possibilidade do refill, e se for algo mais sério, podemos sempre dar um jeito, há sempre uma forma de desenrascar. O que aborrece as pessoas que se preocupam com a saúde da sociedade é que no país de plástico não há razão para alarme, toda sujeira, toda corrupção, toda canalhice acaba sempre por descer pelo ralo da ignorância antes mesmo que o povo compreenda o que se passou. O país de plástico é o país que adoece os seus cidadãos paulatinamente, de maneira que eles não percebem, mas quando dão por si estão com um serio problema de saúde. É lamentável viver num país de plástico, se sonhamos com dias melhores, com uma qualidade de vida melhor, com uma saúde melhor, com um futuro próximo e promissor, mas olhamos ao nosso redor e percebemos que estamos rodeados por uma sociedade viciada nas canalhices de sua classe dirigente.


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Um país barato Ao dizer que o país de plástico é barato não faz-se disso um elogio ao seu custo de vida, pois na verdade este fica cada vez mais caro, por país barato quero dizer que é o país pelo qual poucos se importam, é como se não valêssemos lá muita coisa. Um exemplo disto está na forma como tratamos os recursos naturais e as empresas estatais do país. Há mais preocupação na Europa com a Amazônia brasileira do que há no Brasil. Discutese muito mais o futuro da Amazônia no exterior do que dentro do Brasil. E não se espante, há mais deputados na União Européia que sabem mais a realidade do que se passa com a Amazônia do que os deputados brasileiros. Aliás diga-se de passagem que a qualidade intelectual dos nossos deputados deixam a desejar. No país de plástico não nos assustamos mais com a dimensão dos desvios de dinheiro nem com a roubalheira descobertas a cada dia no país, nas empresas públicas e no governo. É impressionante, mas no país de plástico, saltamos de corrupção em corrupção, de desvio em desvio, de roubalheira em roubalheira sem chegar a conclusão alguma. A população inerte assiste a tudo, reclama, mas nada que vá além disto, e nas eleições seguintes serão eleitos os mesmos 


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corruptos com as mesmas velhas promessas e nada muda. E se não muda é porque não buscamos a mudança e não buscamos mudança pois não damos valor algum ao país. No fundo o que o cidadão brasileiro deseja saber é o que ele terá de vantagem, de lucro e nada mais. Obviamente que não estou generalizando, pois seria um equivoco, mas as últimas eleições no país de plástico revela que pelo menos cinquenta e três milhões de brasileiros possuem este tipo de pensamento. Como esperar mudança num país onde seu próprio povo não o valoriza? Como esperar mudança num país onde seu governo investe mais em infra-estrutura de outros países do que no seu próprio país? Como esperar mudança num país onde sua classe dirigente gasta mais recursos com coisas supérfluas do que com aquilo que é elementar. O país de plástico gastou 25,8 bilhões de reais com a Copa do Mundo de 2014, a mais onerosa do mundo, em estádios que se tornarão em pouco tempo um elefante branco esquecido. Quando denuncias são feitas pelos meios de comunicação sobre os gastos absurdos do governo, como por exemplo, gastos com o cartão corporativo da presidência da república que nem sequer apresenta a descrição das despesas, a sociedade toma conhecimento de tudo e aceita de forma passiva, pois no país de plástico não se dá valor a nada. 


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É preocupante um país que não se interessa pelos gastos do seu governo, nem com os orçamentos de estado, tudo isto passa a margem da sociedade sem que a mesma demonstre o mínimo de curiosidade. No país de plástico o dinheiro público não tem valor algum, no entanto, temos uma pesada carga tributaria a qual é paga com nada mais do que com uns poucos lamentos. A sociedade do país de plástico parece não demonstrar qualquer relação com os valores desviados ou mal empregados com as altas taxas pagas pelo povo. Não compreendem que é o nosso dinheiro a ser gasto de forma irresponsável. Como mudar a mentalidade de um povo que não valoriza seu trabalho, seus impostos pagos, a forma como seus governantes gastam o dinheiro arrecadado? Este é o caos de se viver num país barato.

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Uma classe dirigente privilegiada No país de plástico os seus dirigentes exercem seu dever público, para o qual foram eleitos como uma espécie de monarquia absolutista onde os vários níveis de governo se dividem como uma corte em que cada um utiliza-se dos recursos existentes como se fora seu. Numa monarquia absolutista a riqueza do monarca e a do país se misturam como se fossem uma só, e é assim também que funciona no país de plástico, a classe dirigente faz uso do dinheiro público como se fosse seu. Um exemplo clássico disto está no uso dos cartões de créditos corporativos emitidos pelo governo, o da presidência da república chega apresentar gastos de quase seis milhões de reais sem apresentar qualquer descrição dos gastos, um absurdo. Como se não bastasse, a classe dirigente no país de plástico é quem vota seus próprios salários. Os deputados decidem entre si o quanto devem ganhar, e o mesmo se repete no senado e nas supremas cortes. Como é possível num país onde não se respeita os tributos arrecadados do cidadão, permitir 


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que cada governante decida o quanto vai receber de salário? No país de plástico o salário de um deputado federal pode alcançar os valores astronômicos de US$157,6 por ano, ocupando a quinta categoria dos deputados mais bem pagos do mundo, segundo a revista The Economist. E para além dos privilégio financeiro, a classe dirigente no país de plástico desfruta de inúmeros privilégios, que inclui imunidade parlamentar. Há pouco tempo no país de plástico se fez um teatro chamado de “ficha limpa”, no qual qualquer politico envolvido em algum tipo de crime estaria supostamente vetado de participar de eleições, mas na prática nada mudou, os juízes não chegam a consenso algum e os mesmos políticos corruptos, continuam a concorrer as eleições e são eleitos pelo povo que tem como lema o seguinte moto: Ele rouba, mas faz! Há uma cumplicidade assustadora entre o povo e a classe dirigente. Uma cumplicidade que ultrapassa aos limites da política e penetra nos limites das afinidades sentimentais, nos limites da sensualidade e nos limites do escárnio, poucos são os que de fato votam de forma séria e consciente. Sendo assim, no país de plástico se elege politicos corruptos, personalidades famosas e até palhaços.

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No país de plástico é impossível se levar a serio os politicos eleitos por um povo irresponsável. No país de plástico fazemos política tal como fazemos carnaval, é um tipo de festa popular marcada pela imoralidade.

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A utopia No país de plástico vive-se a utopia de um amanhã que nunca chega. Uma espécie de sebastianismo à brasileira.2 Somos chamados de o país do futuro. Mas de qual futuro? Vivemos agonia do futuro incerto, um futuro que foi prometido aos meus avós, aos meus pais e agora o vejo ser oferecido aos meus filhos. O país do futuro é o mesmo país de plástico e o mesmo país do sonho utópico. A classe dirigente consegue se manter no poder justamente pela utopia do país do futuro que nunca chega. Se o futuro chegar, o 
 O Sebastianismo, também designado mito sebástico ou mito do «Encoberto», é um mito messiânico cuja origem radica no desaparecimento do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578. 2

D. Sebastião nasceu em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554 e era filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria. Faleceu a 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcácer Quibir, no Norte de África. Foi o 16.º rei de Portugal, ficando conhecido para a posteridade pelo cognome de «O Desejado» pelas circunstâncias que rodearam a sua ascensão ao trono, o seu desaparecimento e as consequências que daí advieram. D. Sebastião herdou o trono do avô, D. João III, em 1557, portanto com três anos de idade. Como era menor, sua avó, D. Catarina de Portugal, ficou no seu lugar enquanto regente do reino. Desde muito cedo, sentiu a necessidade de readquirir a glória recente do país e prosseguir a cruzada dos Descobrimentos e da expansão da fé cristã. Deste modo, quando atingiu os catorze anos, reorganizou o seu exército e preparou-se para a guerra no Norte de África. Com o seu desaparecimento e a posterior anexação de Portugal pela Espanha, em 1580, dado o rei não ter deixado descendência que assegurasse a ocupação do trono,o país entra num dos períodos mais negros da sua história à espera de um messias, de um heróico rei salvador. Da relutância em acreditar que a pátria tinha ficado órfã e que, com a morte de D. Sebastião, a velha pátria morria também, nasce o mito do sebastianismo. Assim, este mito sustenta a esperança messiânica e a crença de um povo no regresso do rei desaparecido, que viria vencer a opressão, a tirania, a humilhação, o sofrimento e a miséria em que vivia, devolvendo ao país a glória e a honra passadas e entretanto perdidas. Fonte: Filoctetes Melibeia, “O Mito Sebastianita,” Português, http://portugues-fcr.blogspot.pt/ 2011/02/o-mito-sebastianista.html (accessed February 9, 2015).

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que terão eles para oferecer? Portanto, a sociedade do país de plástico vive neste ciclo de espera e promessa infindável. No país de plástico vivemos a utopia da justiça como se ela realmente fosse uma realidade possível. O pais de plástico se viu envolvido num dos maiores escândalos de corrupção da sua história, envolvendo toda a cúpula do partido da presidência da república, os quais foram investigados por meses, julgados por meses, condenados e presos, mas meses depois uma boa parte deles, em especial os mentores do esquema já estavam em liberdade. Na ocasião da condenação fizeram do juiz relator do Supremo Tribunal Federal, Ministro Joaquim Barbosa, uma espécie de herói nacional, mas todo heroísmo do Supremo Tribunal Federal não passou de utopia. A verdade é que no país de plástico não existe justiça. Em cada eleição vivemos a ilusão da melhoria na qualidade de vida, da implementação da justiça, do fim da corrupção, mas tudo não passa de ilusão, após as tomadas de posse tudo continua exatamente como antes, apenas os escândalos surgem de tempo em tempo para manterem os meios de comunicação social ocupados.

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No país de plástico vivemos na velha filosofia romana de pão e circo3, enquanto estes existirem o povo está sob controle. E neste circo, já velho, já gasto, temos os mesmos protagonistas há décadas no exercício do poder, na realidade a única coisa que muda no país de plástico são as funções, ministérios e cargos políticos, mas mantém-se as mesmas caras. Quando o país afunda numa crise de intolerância, que dura pouco, pois diz-se que no país de plástico as pessoas possuem memórias curtas, e para além deste problema mental, temos ainda as festividades que ocorrem no país, um verdadeiro atraso de vida categorizado de cultura, mas que para nada serve se não levar o país a uma alegria passageira, e logo se volta àquilo que o cancioneiro chamou de “vida de gado”. 
 Panem et circenses [ludos] é a forma acusativa da expressão latina panis et circenses [ludi], que significa "pão e jogos circenses", mais popularmente citada como pão e circo. Esta foi uma política criada pelos antigos romanos, que previa o provimento de comida e diversão ao povo, com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes. 3

Em uma visão mais tradicional, a expressão serviu para mostrar que os romanos viviam em meio a espetáculos sangrentos, como os combates entre gladiadores, que eram promovidos nos anfiteatros para divertir a população; além disso, pão era distribuído gratuitamente para a população. A produção historiográfica mais recente tem relativizado esta visão tradicional . O custo desta política foi enorme, causando elevação de impostos e sufocando a economia do Império . A frase teria sua origem nas Sátiras de Juvenal, mais precisamente na décima (Sátira X, 77–81): … iam pridem, ex quo suffragia nulli uendimus, effudit curas; nam qui dabat olim imperium, fasces, legiones, omnia, nunc se continet atque duas tantum res anxius optat, panem et circenses.

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Estas festividades incluem a Copa do Mundo de Futebol que acontece a cada quatro anos, mobilizando toda a população para viver a euforia utópica de um novo título. Enquanto o povo permanece num estado anestesiado diante da televisão tudo no país para, enquanto a classe dirigente aproveita estas oportunidades para seus atos maquiavélicos contra a nação. Além do futebol o país tem também o carnaval, chamado de o maior espetáculo do mundo, que acontece em praticamente todo o país criando um gasto absurdo com segurança, saúde, e investimentos do governo na organização e infra-estrutura. O país para literalmente, em alguns estados alguns dias, noutros semanas, levando um país empobrecido a uma pobreza ainda maior, porém, a ilusão utópica de uma aparente alegria e cultura impede o povo de ver o que de fato acontece. Não estou aqui fazendo a proposta de que se acabe com essas festividades, no entanto tenho o desejo de informar os danos causados na sociedade pelos mesmos.

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Sensualidade A visão que o mundo tem do Brasil resume-se em um país florestal e de mulheres com a bunda de fora. Na verdade esta visão não está equivocada, uma vez que é isto que promovemos lá fora sobre o nosso país. Quando temos um evento importante no Brasil ou um visitante ilustre envia-se uma mulher e um homem com roupas estranhas, cobertas de penas e outras coisas e a mulher com um salto alto enorme praticamente nua a balançar aquela bunda enorme para agrado dos visitantes. O que esperamos ouvir do Brasil? A sensualidade é um estigma marcante do brasileiro, em especial da brasileira. Nossas mulheres são produtos de exportação para casas de prostituição em todo o mundo. Obviamente que estamos generalizando, mas basta um passeio pela Europa para você descobrir por si próprio como vivem milhares de brasileiras levadas para fora do país de forma enganosa muitas vezes, com promessas de bons empregos, mas ao chegarem lá vêem seus documentos confiscados por mafiosos e seus corpos vendidos. A maioria destas mulheres são vítimas de um sistema macabro, resultado de uma propaganda promovida pelo próprio governo. 


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Além do tráfico de mulheres temos ainda um terrível mal dentro do nosso próprio país que é a prostituição infantil que ocorre livremente de norte a sul do nosso país de plástico. Ao ler uma biografia de uma mulher levada para fora de seu país para a prostituição em determinado país da Europa fiquei completamente comovido e ao pensar sobre o drama vivido por estas mulheres escrevi a seguinte poesia: Mulheres por um preço Uma lágrima desceu pelo rosto, Contornou a face e acumulou-se no queixo. Ninguém ofereceu um lenço para reter as lágrimas, Nem um ombro amigo disposto a dar conforto. Quem chora? A rapariga roubada de seus entes queridos, Vendida, traficada, violada e espancada, Objetos sexual de homens que se desumanizaram pela luxúria e tornaram-se bestas vestidas de gente. Quem descobrira de onde vem o choro quase silencioso? Quem buscará pela vítima desta bestialidade? Quem acreditará em sua história? Quem lhe oferecerá socorro? Malditos sejam todos os homens que tocam numa mulher contra a sua vontade!


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Que suas almas possam arder no fogo do inferno e sua consciência nunca mais encontrar a paz! Que haja um fim glorioso para cada uma história dramática. Que haja um retorno para cada mulher arrancada da sua terra. Que haja justiça em todos os meios para reparar o tamanho da dor causada por esta brutalidade. Que haja esperança! Até lá choro com as mais de 800 mil mulheres vitimas desta crueldade!4 O combate a prostituição não é uma tarefa fácil no país de plástico onde as mulheres são vistas meramente como objetos sexuais, um brinquedo que se pode comprar numa esquina qualquer em boa parte de nossas cidades. O Brasil desenvolveu aquilo que podemos chamar de a cultura da sensualidade. As mulheres e as moças não querem apenas vestir-se bem, querem vestir-se sensualmente. A impressão que temos é que a mulher que não se sente desejada pelas ruas onde passa, se não mexer com a libido dos homens é uma mulher sem valor. E assim desde cedo os pais, mesmo que subjetivamente, vestem seus filhos como pequenos adultos provocando um amadurecimento precoce na mente de nossas crianças que com nove anos já falam em namorar. 


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Luis Alexandre Ribeiro Branco, Poemas: Coleção Completa 2014 (Portuguese Edition), Primeira ed. (Petrópolis: Verdade na Prática, 2014), 59.

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E ainda temos os meios de comunicação, em especial alguns programas de televisão, com seus shows de calouros exibindo mulheres vestindo-se sensualmente dançando ao som de cada música mostrando suas curvas desejáveis. Um dos programs mais antigos, do qual tenho lembrança, foi o antigo Chacrinha, onde várias meninas dançavam, entre elas uma conhecida como Rita Cadillac, após a morte do apresentador Chacrinha, Rita Cadillac desapareceu do cenário vindo ressurgir não muito tempo atrás como uma atriz em filmes pornográficos, e as demais moças, onde estão? No país de plástico a sociedade machista busca apresentar o homem brasileiro como um garanhão, embora na prática seu empenho não excede ao de qualquer mortal, contudo, este machismo faz com que toda mulher que surja nos meios de comunicação, seja cantora, modelo, atriz ou atletas sejam imediatamente convidados para posarem nuas para alguma revista masculina. E a maioria aceita estas propostas devido ao cachê oferecido. A sexualidade excedeu aos limites da vida privada e tomou formas políticas. É impressionante o tempo, dinheiro e energia gastos no país de plástico com a questão homossexual. É uma verdadeira guerra dos sexos no qual não há vencedor, apenas uma sociedade que se enfraquece em seus valores ainda mais. 


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A questão que envolve a homossexualidade não se resolve meramente impedindo ou garantindo os direitos civis de cada cidadão, mas principalmente garantido os direitos da sociedade como um todo. Acredito que a sociedade deve garantir os direitos civis dos homossexuais, no entanto não em detrimento da sociedade como um todo. O que são por exemplo as paradas gays,

se

não

uma

oportunidade

desperdiçada

pelos

homossexuais e usada para expor em público aquilo que fazem em privado, e muitas vezes o pior daquilo que possuem como um grupo que que busca merecer todo nosso respeito? A questão da sensualidade é um assunto que merece uma análise mais profunda e sérios debates que possam promover uma importante mudança nos dramas que envolvem as crianças, mulheres e homossexuais no país de plástico.

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A desonestidade e Imoralidade No país de plástico a questão da honestidade é algo serio, algo que pode ser notado no alto índice de pessoas encarceradas no Brasil: 711.463 presos. Sem contar os 147.937 pessoas em prisão domiciliar. No mesmo período nos Estados Unidos da América havia 721,654 pessoas encarceradas. Levando em consideração que os Estados Unidos da América possui uma população de 316,1 milhões e o Brasil 200,4 milhões temos um problema bem mais serio do que nossos vizinhos do norte. E havemos de convir que no Brasil o desonesto tem o privilégio de contar com uma justiça morosa, burocrática, um sistema de leis penais arcaicos que livra muitos destes indivíduos de estarem atrás das grades, em especial o rico e influente. No país de plástico conheci histórias interessantes, como a de um indivíduo que foi parado numa blitz policial com uma arma no carro e ficou quase três anos presos, enquanto por outro lado, José Dirceu, um dos mais influentes líderes do Partido dos Trabalhadores, que foi condenado pelo Superior Tribunal Federal pelos crimes de corrupção ativa no processo conhecido como Mensalão, condenado por formação de quadrilha a um total de 10 anos e 10 meses de prisão, no entanto foi preso no dia 15 de novembro de 2013 e no dia 28 de outubro de 2014, dois dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, foi liberado.


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O drama da desonestidade atinge todos os setores da sociedade, desde um flanelinha5 que fica nos estacionamentos públicos cobrando

para

“tomarem

conta”

do

seu

carro

num

estacionamento público e grátis até a mais alta corte da república e presidência da república. Viver num país assim, desonesto e injusto, cria no cidadão um sentimento insatisfação e impotência muito grande. Sentimento este que resulta em mais desonestidade, mais crime e mais injustiça. No país de plástico a desonestidade ganhou o nome de “a lei do gerson”, “a lei da esperteza” ou a “lei do jeitinho”6. O que no país de plástico se chama de esperteza noutros países chama-se crime. 
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Flanelinha (português brasileiro) ou arrumador (português europeu) é o apelido dado a um indivíduo geralmente não regulamentado, que por norma se utiliza de coação para conseguir remuneração pelos serviços prestados no estacionamento, na limpeza ou na proteção de um veículo automóvel. O nome "flanelinha" vem do uso em decadência de uma flanela para limpar os vidros dos automóveis. Na cidade de Belém, Pará, ainda é bastante comum o uso da flanela, mas em outras cidades ficou apenas o nome. O termo em Portugal deriva do verbo arrumar ou seja estacionar. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Flanelinha 6

"Jeitinho", expressão brasileira para um modo de agir informal amplamente aceito, que se vale de improvisação, flexibilidade, criatividade, intuição, etc., diante de situações inesperadas, difíceis ou complexas, não baseado em regras, procedimentos ou técnicas estipuladas previamente. "Dar um jeito" ou "Dar um jeitinho" significa encontrar alguma solução não ideal ou previsível. Por exemplo, para acomodar uma pessoa a mais inesperada em uma refeição, "dá-se um jeitinho". Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeitinho

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Na

verdade

poderíamos

explorar

os

vários

tipos

de

desonestidade praticados no país de plástico, mas seria uma extensa e nojenta lista. O ponto é que possamos entender como as coisas acontecem. Quando pensamos no assunto da imoralidade, não podemos ignorar o exemplo deixado por Pompeia e que hoje se repete de certa forma no país de plástico. Pompeia foi uma cidade do antigo Império Romano, localizada nas proximidades de Nápoles. O que torna Pompeia interessante em nossa análise sobre a decadência moral é o estilo de vida adotados pelos moradores da cidade. O filósofo Francis Schaeffer escreveu que: “À medida que o Império (romano) ficava em ruínas, os decadentes romanos se entregavam a sua sede pela violência e satisfação de seus sentidos. Isso fica especificamente evidente pela sua sexualidade exacerbada. Em Pompeia, por exemplo, aproximadamente um século depois de a República ter se tornado coisa do passado, o culto ao falo era prática comum. Estátuas e pinturas de exagerado conteúdo sexual decoravam as casas dos mais influentes. Nem toda arte de Pompeia era assim, mas as representações sexuais eram desavergonhadamente gritantes.” O Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles guarda obras eróticas capazes de envergonhar até mesmo os mais liberais dos nossos dias. A decadência moral de uma civilização é um dos últimos sinais que evidenciam que todos os demais valores daquela sociedade 


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já foram derrubados. Foi assim com praticamente todas as civilizações históricas e assim continua sendo em nossos dias. Quando a sociedade se entrega desenfreadamente às suas paixões carnais, e a busca pela satisfação dos sentidos, sua queda está próxima. Francis Schaeffer diz mais sobre a Roma antiga: “Roma não caiu devido a alguma força externa, tal como a invasão dos bárbaros. Roma não tinha suficiente base interna; os bárbaros só deram o empurrão final para o colapso – e gradualmente Roma tornou-se ruínas.” A desmoralização de uma sociedade é o sinal de que suas bases estruturais já foram derrubadas e que sua queda completa é apenas uma questão de tempo. O professor Pedro Tadeu Pedroso escreveu algo interessante: Este apêndice contém trechos de letras das principais músicas que marcaram diferentes épocas, e que influenciaram, de forma sutil e significativa, no comportamento do indivíduo e da sociedade contribuindo negativamente, para uma crescente degradação moral. Observemos, década a década, o crescimento da degradação moral do ser humano através das letras das músicas.

Década de 30 Ele, de terno cinza e chapéu panamá, em frente à vila onde ela 


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mora canta: Rosa (Pixinguinha/Otávio de Souza) Tú és divina e graciosa, estátua majestosa Do amor, por Deus esculturada E formada com ardor Da alma da mais linda flor de mais ativo olor Que na vida é preferida pelo beija-flor Se Deus me fora tão clemente aqui neste ambiente De luz, formada numa tela deslumbrante e belaTeu coração. junto ao Meu lanceado Pregado e cruscificado sobre a rósea cruz do arfante eito teu…

Década de 40 Ele escreve para a Rádio Nacional e manda a ela uma linda música: A deusa da minha rua


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(Newton Teixeira/Jorge Faraj) A deusa da minha rua Tem os olhos onde a lua costuma se embriagar Nos seus olhos, eu suponho Que o sol, num dourado sonho, vai claridade buscar Minha rua é sem graça Mas quando ela passa Seu vulto que me seduzA ruazinha modesta é uma paisagem de festa É uma cascata de luz…

Década de 50 Ele pede ao cantor da boate que ofereça a ela uma canção Bossa Nova: Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) Olha que coisa mais linda


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Mais cheia de graça É ela menina Que vem e que passaNum doce balanço A caminho do mar Moça do corpo dourado Do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema É a coisa mais linda que eu já vi passar Ah, por que estou tão sozinho? Ah, por que tudo é tão triste?Ah, a beleza que existe A beleza que não é só minha Que também passa sozinha Ah, se ela soubesse Que quando ela passa O mundo inteirinho se enche de graça E fica mais lindo Por causa do amor


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Década de 60 Ele aparece na casa dela com um compacto simples embaixo do braço e coloca na vitrola uma música papo-firme: Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos/Erasmo Carlos)Eu tenho tanto pra lhe falar Mas com palavras não sei dizer Como é grande o meu amor por você…

Década de 70 Ele chega em seu fusca, abre a porta pra mina entrar e bota uma melo jóia no toca-fitas: Azul do mar (Flávio Venturini/Ronaldo Bastos) Foi assim, como ver o mar A primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar Não tive a intenção de me apaixonar Mera distração e já era momento de se gostar Quando eu dei por mim nem tentei fugir


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Do visgo que me prendeu dentro do seu olhar Quando eu mergulhei no azul do mar Sabia que era amor e vinha pra ficar…

Década de 80 Ele telefona pra ela e deixa rolar um: Você é linda (Caetano Veloso) Fonte de mel Nos olhos de gueixa Kabuki, máscara Choque entre o azul E o cacho de acácias Luz das acácias Você é mãe do sol A sua coisa é toda tão certa Beleza esperta


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Você me deixa a rua deserta Quando atravessa E não olha pra trás Linda E sabe viver Você me faz feliz Esta canção é só pra dizer E diz Você é linda Mais que demais Vocé é linda sim Onda do mar do amor Que bateu em mim Você é forte Dentes e músculos Peitos e lábios Você é forte


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Letras e músicas Todas as músicas Que ainda hei de ouvir…

Década de 90 Ele liga pra ela e deixa gravada uma música na secretária eletrônica: Bem que se quis (Pino Daniele/versão: Nelson Motta) Bem que se quis depois de tudo ainda ser feliz mas já não há caminhos pra voltar e o que é que a vida fez da nosa vida o que é que a gente não faz por amor
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mas tanto faz já me esqueci de te esquecer porque o teu desejo é meu melhor prazer e o meu destino é querer sempre mais a minha estrada corre pro seu mar agora vem pra perto, vem vem depressa, vem sem fim dentro de mim que eu quero sentir o teu corpo pesando sobre o meu vem, meu amor, vem pra mim me abraça devagar me beija e me faz esquecer

Em 2000 Ele captura na Internet um batido legal e manda pra ela, por email:
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Tchutchuca (Bonde do Tigrão) Vem tchutchuca linda Senta aqui com seu pretinho Vou te pegar no colo E fazer muito carinho Eu quero um rala quente Para te satisfazer Escute o refrão É do jeitinho q eu vou fazer Vem, vem Tchutchuca Vem aqui pro seu Tigrão Vou te jogar na cama E te da muita pressão! Festa no apê (Latino/versão: Gessé Filho)


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Hoje é festa lá no meu apê Pode aparecer Vai rolar bundalelê Hoje é festa lá no meu apê Tem birita Até amanhecer Chega aí Pode entrar Quem tá aqui tá em casa Chega aí Pode entrar Quem tá aqui tá em casa Olá, prazer! A noite (hum) é nossa Garçom, por favor, venha aqui E sirva bem a visita Tá bom


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Tá é bom Aqui ninguém fica só Entra aí e toma um drinque Porque a noite é uma criança Hoje é festa lá no meu apê Pode aparecer Vai rolar bundalelê Hoje é festa lá no meu apê Tem birita Até amanhecer Tesão, sedução, libido no ar No meu quarto tem gente até fazendo orgia…

Esta curta viagem através do tempo e dos estilos musicais de cada época nos deixa perceber como que no país de plástico há uma degradação moral naquilo que um dia já foi arte. A questão artística inclusive tem sido um dos temas discutido nos meios filosóficos, pois como chegar a um consenso sobre o que é arte e o que não é arte. Sou apologista da ideia de que a arte deve 


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conter

alguns

elementos

fundamentais:

“lógica,

beleza,

harmonia e contribuir para o avanço da humanidade”. Quando estes elementos estão em falta, nos resta apenas barulho.

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A religião No país de plástico a religião mistura-se com a política, com a vida privada, com a vida pública e tornou-se uma poderosa maquina financeira e de poder. O verdadeiro mal por trás desta influência exercida pela religião é que ela que deveria ser um centro neutro e atrativo de piedade e compaixão, passa a exercer tal como nos dias de Jesus, através dos escribas, saduceus e fariseus, uma influência tão cega e negativa, capaz de mandarem crucificar o próprio Cristo. Não há político que se eleja no pais de plástico sem que antes tenha beijado o anel de algum líder religioso, e ser um bom político, no sentido de saber fazer uso destas mais valia, fará como Geraldo Alckmin, Governador de São Paulo, eleito em 2014 logo no primeiro turno, depois de beijar as mãos de todos. Algo que me impressionou nas eleições passadas foi o número de horas gastas por tele evangelistas a falarem de política. Será este o o propósito destas pessoas estarem na televisão? Será que é para este fim que as pessoas enviam suas ofertas? Obviamente que não, mas o problema tomou proporções tão grandes que nenhum religioso comum ousa questionar estas coisas. É salutar quando líderes políticos se aproximam de líderes religiosos em busca de conhecer a realidade deste seguimento 


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social, bem como conhecer da mesma forma a realidade dos grupos minoritários do país, como imigrantes, mulheres e crianças em situações de risco e homossexuais. No país de plástico a igreja (católica e protestante) se coloca como as sola negotiator dos votos de seus fiéis em troca do perjúrio de outrem. Existe uma guerra acirrada entre cristãos e homossexuais, entre cristãos e demais grupos religiosos e por fim entre cristãos católicos e cristãos protestantes. Além da orgia política, não podemos negar que a religião tornou-se uma forma de enriquecimento. No meio católico este apego pelo dinheiro é um pouco mais disfarçado e faz-se menos pressão para se conseguir para a “igreja” aquilo que os padres e bispos precisam, mas todos nós sabemos como eles vivem. Já no meio protestante a coisas é escandalosa mesmo, basta assistir por cinco minutos um destes programas de TV ou sentar-se no auditório

de

determinadas

igrejas

para

constatar

a

mercantilização da fé. Claramente isso acontece muito, pois tanto do lado católico como do lado protestante há ovelhas e bodes e um Judas pronto para vender Jesus a qualquer instante. No país de plástico esta mescla politico-religiosa, com o enriquecimento ilícito passou a ser uma vergonha para além da religião, mas para a sociedade como um todo, pois é esta a guardiã dos bons costumes.


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A civilização do espetáculo O país de plástico é orientado por aquilo que Mario Vargas Llosa chama de a civilização do espetáculo7, que segundo Llosa significa um mundo onde em primeiro lugar na escala de valores vigentes estão o entretenimento, a diversão e o escape de toda sorte d aborrecimento. Está é a paixão universal. E no país de plástico

conhecemos

bem

a

busca

desesperada

pelo

entretenimento de toda sorte. O entretenimento per si não é de todo um mal, na verdade o que é mal é quando todas as coisas na sociedade têm que terminar em divertimento. Isto significa que no país de plástico as coisas não são levadas a serio, pois tudo o que for sério pode gerar insatisfação, cansaço, e desprazer. Esta mentalidade faz com que as instituições de ensino sofram grandemente para manter seus alunos interessados na aula, o que é praticamente impossível sem que o docente faça-se de comediante na sala de aula. O melhor professor deixou de ser o que ensina e passou a ser o que faz rir. O mesmo acontece com outros ramos da sociedade, inclusive a igreja, onde o padre ou pastor faz-se de um verdadeiro comediante, em detrimento da solenidade da pregação do evangelho, para manter seus párocos presentes e interessados. 
 7

Mario Vargas Llosa, La Civilización Del Espectáculo (Madrid: Alfaguara, 2012).

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A civilização do espetáculo tem forçado com que muitos professores, sacerdotes e outros desenvolvam talentos para alem da boa magistratura e fidelidade a Escritura e passe a ser também cantor, contador de piadas, mágico, etc. Será este um dos motivos, para além da vida austera, da falta de vocações nestas áreas da sociedade? No país de plástico o gasto com entretenimento se aproxima dos 65 bilhões de dólares americanos, um valor astronômico diante das necessidades mais importantes das famílias brasileiras. O problema não está na diversão e sim no fato de que tudo na sociedade tenha que necessariamente terminar em diversão. No pais de plástico toda solenidade termina em samba e toda investigação criminal contra políticos corruptos termina em pizza. Se não nos levamos a serio, país nenhum nos levará a serio. No exterior o protótipo mais comum do povo brasileiro é aquela figura da Carmem Miranda com a cabeça enfeitada com frutas. Será este o verdadeiro protótipo de todos nós?

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Conclusão No país de plástico nosso sistema político encontra-se fragilizado e nossa tão querida democracia parece não produzir mais os benefícios esperados em uma sociedade igualitária. E para piorar a situação, os políticos cristãos que se elegem à custas da igreja, numa proposta de redimirem com sua conduta e fé o sistema político, mostram-se tão corrompidos como os demais políticos, e lamentavelmente, em alguns casos até piores. Os escândalos envolvendo políticos vão além da corrupção do poder e financeira, mas até mesmo da imoralidade sexual, basta conferir nos jornais. O sistema social encontra-se num estado deplorável, onde o rico continua cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. É impressionante que em pleno o século XXI a escravidão volte a ser tema de preocupação em praticamente todo o mundo. Desejo concluir com uma breve avaliação sobre a igreja nestes dias de decadência. Nunca vivemos tão aquém do ideal de Deus para a sua igreja, onde substituímos nossa missão de ser luz através da pregação das Escrituras Sagradas, de uma ação prática que demonstra o amor de Deus para com povos do mundo e uma vida santa que se afasta e denuncia toda sorte de pecado moral, social e injustiças contra os mais fracos. A igreja substituiu este ideal de Deus por uma postura megalomaníaca de construção de templos cada vez maiores, de ajuntamento de 


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massas, de shows, de busca por riqueza e bens terrenos e por uma vida cada vez mais luxuosa. Veja o que escreveu o filósofo francês Gilles Lipovetsky sobre a espiritualidade destes dias: Já nem a religião constitui um contrapoder face ao avanço do poder do consumo-mundo. Ao contrário do que se verificava no passado, a Igreja já não privilegia as noções de pecado mortal, já não exalta o sacrifício ou a renúncia. [...] De uma religião centrada na salvação no Além, o cristianismo passou a ser uma religião ao serviço da felicidade terrena, colocando a ênfase nos valores da solidariedade e do amor, na harmonia, na paz interior, na realização total da pessoa.8

É lamentável que em nossos dias tenhamos que presenciar dentro das igrejas ditas evangélicas aqueles pecados duramente combatidos pelo reformadores. A decadência moral atingiu não apenas os crentes comuns, mas a sua liderança, e até mesmo a sua liturgia. Lipovetsky escreveu ainda: “A espiritualidade tornou-se mercado de massas, produto a comercializar, sector a gerir e promover.”9 O que define a bênção de um culto, nesta espiritualidade doentia, é a presença de figuras de renome e a centralização das necessidades materiais, sociais e emocionais dos indivíduos 


LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal: Ensaio Sobre a Sociedade do Hiperconsumo. Lisboa: Edições 70, pág. 111-112. 8

9

Ibid., 112.

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presentes. Não é incomum os cânticos humanistas que só falam do homem e daquilo que espera como favor divino. Deus deixou de ser o centro do culto cristão e passou a ser um servo ao serviço das realizações dos caprichos dos seus adoradores. As músicas também tomaram uma vertente erotizada, onde a beleza do divino já não é algo a ser apreciado, adorado e temido, mas algo cada vez mais vulgarizado, através das palavras como beijar, abraçar, sentar no colo, tocar a face, entre outras. Numa adoração não só extra-bíblica mais anti-bíblica. Observamos, por exemplo, que quando Isaías viu a glória de Deus, ele a disse que viu o “[...] Senhor assentado sobre um alto e sublime trono [...]” (Is 6:1). Não consigo imaginar Isaías querendo tocar a Deus ou sentar-se no seu colo, ou qualquer coisa semelhante. Sua atitude foi uma atitude de alguém que reconheceu que precisava da misericórdia do Senhor, pois disse: “[...] Ai de mim! Pois estou perdido [...]” (Is 6:5). Já em Apocalipse vemos João, o discípulo do amor, aquele que havia deitado sua cabeça sobre o peito de Jesus (Jo 13:23), agora, ao vê-lo glorificado exclamou: “E eu, quando vi, caí a seus pés como morto [...]” (Ap 1:17). E ainda poderíamos recorrer a todos os Salmos e cânticos do Apocalipse e compará-los com o que se canta hoje, para concluirmos que estamos de fato experimentando a erotização da hinologia cristã. O que observamos na hinologia cristã é o mesmo fenômeno que observamos nas músicas seculares, cada vez mais sensuais. 


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Observe que em Pompeia as artes plásticas eram as mais expressivas formas de arte daqueles dias, e por isto foi profundamente afetada pela imoralidade. Nos dias atuais, a música é sem dúvida a arte mais expressiva, e por isto tão carregada de sensualidade. O ponto importante a observar é que damos sinais sérios de decadência artística dentro e fora da igreja. É importante observar também que Jesus nos alertou sobre a gravidade dos últimos dias, veja o que disse: “[...] Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18:8). Os pregadores da fé e da prosperidade, que são justamente aqueles que engordam as custas da igreja, pregam o contrário de Jesus, no entanto a realidade é esta, os últimos dias serão marcados por escassez de fé. O mesmo disse Paulo: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2 Tm 4:3-4). O tempo da escassez da fé genuína e dos ouvidos voltados às fabulas já chegou, veja o que disse Lipovetsky: “Hoje, até a espiritualidade funciona em livre-serviço, na expressão das emoções e dos sentimentos, na procura resultante da preocupação com o melhor-estar pessoal […]”.10 
 10

Ibid., 113.

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Acredito que se desejamos que algo mude, precisamos nos voltar para Deus com um coração sincero, e dizer como disse Calvino: Cor meum tibi offero domine prompte et sincere. (O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero). É preciso a semelhança dos reformadores restaurar os valores cristãos, e os Cinco Solas (Sola Fide/Somente a Fé; Sola Scriptura/Somente a Escritura; Solus Christus/Somente Cristo; Sola Gratia/Somente a Graça; Soli Deo Glória/Glória Somente a Deus), que são sem dúvida um bom início para a reforma que tanto precisamos hoje na igreja, e da igreja para a sociedade.

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Autor

 Casado há 13 anos e pai de duas lindas meninas, nasci na cidade de Petrópolis, RJ, Brasil, em Janeiro de 1974. Sou licenciado em Estudos Bíblicos e Teologia (BA), Mestre em Administração de Eclesiástica e Liderança (MA), possuo o Grau de Doutor em Ministério (D.Min.) e actualmente sou doutorando em filosofia. Meus trabalhos inclui servir como um pastor local e professor no Seminário Teológico Baptista, em Queluz, Portugal. Sou membro da Society of Christian Philosophers, membro da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas, membro do Movimiento Poetas Del Mundo, membro da União Brasileira de Escritores, membro da Academia de Letras e Artes de Portugal, membro da Academia de Letras e Artes Lusófonas e filiados com a Junta Administrativa de Missões Convenção Batista Nacional. Tendo trabalhado em vários países, deu-me uma importante experiência transcultural. Minha teologia é 


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reformado e como poeta, tenho um estilo melancólico seguindo o padrão dos ultra-românticos do século XIX, sou humanista caracterizado pela idéia de que o homem so consegue a sua verdadeira essência do conhecimento de Deus. Vivo em Lisboa, com a minha família e possuo obras publicadas nas áreas de espiritualidade, teologia, filosofia e antologia.

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