Brasil: uma explicação necessária.

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BRASIL: UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA




Iraci del Nero da Costa *


No Brasil não há grupos ou partidos de direita organizados e operando de
maneira coordenada, esta é uma propaganda falaciosa desencadeada pela
presidente da República e amplamente difundida pelo Partido dos
Trabalhadores (PT) visando a caracterizar a repulsa pelo atual governo
federal como ação de golpistas de extrema direita.

Já os partidos de oposição ao governo central, que não é de esquerda diga-
se desde logo, estão divididos internamente e não conseguem elaborar um
programa capaz de mobilizar o povo e os políticos em torno de uma
plataforma política apta a resolver os problemas defrontados pela nação.

O governo federal foi empolgado por elementos do PT que abandonaram seus
antigos postulados de esquerda e não aplicaram um projeto consistente de
mudanças estruturais com as quais haviam se comprometido quando da
formulação de suas propostas iniciais. O primeiro mandato presidencial de
Luiz Inácio da Silva saiu-se relativamente bem impulsionado pelas
exportações de bens primários, sobretudo para a China. Calcado em tal
comportamento, que se mostrou efêmero, o presidente da República
proporcionou, efetivamente, a melhora das condições de vida da população
mais pobre, mas não dedicou atenção ao necessário processo de interação
industrial com o restante do mundo; em face disso, já no governo de Luiz
Inácio da Silva, a indústria brasileira passou a retrair-se.

O governo da presidente Dilma Rousseff tentou enfrentar a queda das
exportações efetuadas pelo Brasil com base no financiamento fácil,
chamando o povo a endividar-se sem qualquer atenção para nosso
desenvolvimento sustentado; a indústria retraiu-se ainda mais e as
exportações, afetadas pelo declínio das compras chinesas e pela queda dos
preços dos bens primários, também passou a comportar-se de maneira a não
propiciar os ganhos fiscais necessários à continuidade da política
assistencialista de seu antecessor. O desemprego acelerou-se e agora já
atinge o setor de serviços; enfim, nenhum plano de recuperação econômica e
ampliação industrial viu-se implementado. O governo federal pretendeu
aumentar impostos impopulares, mas, como não conseguiu convencer os
deputados federais e senadores, sua única ação foi a de distribuir cargos e
empregos para tentar manter uma maioria parlamentar que não lhe é de todo
favorável e não aprovou o desejado aumento de impostos. A parcela da
população menos privilegiada que havia sido beneficiada pelo governo de
Luiz Inácio da Silva passou a perder ganhos e empregos.

Por outro lado, o governo federal, desde o primeiro período de governança
do PT, distribuiu cargos para seus militantes e permitiu que a corrupção
aumentasse em grau alarmante. O episódio conhecido como "mensalão" levou à
prisão expressivo número de dirigentes petistas; a Petrobras – uma das
maiores companhias petrolíferas do mundo – foi apoucada e ali instalou-se
um núcleo de corruptos que a fizeram perder bilhões de reais. Enfim, não há
governo nem oposição de qualidade. A presidente choca-se com seu próprio
partido (PT) e sofreu duras críticas do próprio ex-presidente Luiz Inácio
da Silva que ainda pretende voltar à presidência da República em 2018; no
entanto, como anunciam as pesquisas efetuadas junto ao eleitorado, ele
perderia as eleições caso elas fossem realizadas no momento presente.

A inflação viu-se aumentada e fugiu do controle do governo, a meta anual é
de 4,5% (admitido um máximo de 6,5%), pois bem, no ano de 2015, a inflação
atingiu 10,67% tendo alcançado nestes últimos doze meses um grau ainda
maior. É este o quadro básico no qual nos vemos engolfados no momento; como
avançado acima, contamos com um governo inoperante e com uma oposição
fracionada e incapaz de apresentar propostas que possam nos deslocar da
posição crítica na qual nos encontramos.

Seria necessário cortar os gastos do governo, efetuar reforma tarifária,
fiscal e previdenciária bem como sanear as empresas públicas e efetuar
aplicações infraestruturais sobretudo nas rodovias, ferrovias (praticamente
destruídas), hidrovias e nos portos de sorte a baratear nossas exportações
tornando-as mais competitivas. Os bens industrializados precisariam
conhecer a aplicação de novas tecnologias e um rebaixamento de impostos de
sorte a tornarem-se igualmente competitivos. Enfim, impõem-se reformas de
base indispensáveis a recuperar a indústria e o comércio, impulsionar a
educação, as atividades trabalhistas e favorecer a exportação de bens
primários e secundários. Nada disso está sendo encaminhado e, pior ainda,
nenhuma das reformas e dos empreendimentos necessários está sendo
planejado.

Ademais, da perspectiva política, vivemos um período absolutamente
conturbado uma vez que estamos em meio aos procedimentos legais que podem
culminar com o impeachment da presidente da República o qual vê-se apoiado
pela maioria da população; assim, de acordo com a última pesquisa realizada
– divulgada neste 20 de março – 68% dos eleitores mostraram-se favoráveis
ao afastamento da presidente, sendo que tão somente 27% são contrários ao
seu impedimento; quanto à avaliação da gestão de Dilma Rousseff, 69% a
consideram ruim ou péssima enquanto apenas 10% a tem como ótima ou boa.
Reforçando tal situação crítica, o Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), o maior apoiador do governo federal, resolveu, aos 29 de
março, abandonar a base aliada da presidência da República.

 

* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.
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