BREVE CURSO DE PREGAÇÃO BÍBLICA.pdf

May 26, 2017 | Autor: J. Ferreira de Fr... | Categoria: Biblical Interpretation, Teología, Pregão
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Curso De Pregação Bíblica Uma Breve Introdução à arte da exposição Bíblica

OUTUBRO DE 2016 CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO CONGREGAÇÃO PRESBITERIANA DE CONCEIÇÃO DE COITÉ – BA.

BREVE CURSO DE PREGAÇÃO BÍBLICA. Prof. Rev. João Ricardo Ferreira de França.* INTRODUÇÃO: A pregação da Palavra de Deus é uma das tarefas mais difíceis de ser realizada. Pregar não é fácil. Há quatro anos atrás escrevi uma breve apostila sobre a pregação como a vox Dei (A pregação como a voz de Deus) naquela ocasião focalizei sobre a história da pregação, seguindo por uma lacônica definição de pregação expositiva e suas características, e por fim, apresentei de forma resumida a quem é destinada a tarefa da Pregação. Neste curso apresentaremos o lado prático daquilo que foi abordado há quatro anos atrás. Nos focalizaremos especialmente na tarefa da apresentação e da entrega dos sermões bíblicos. I – O QUE É PREGAÇÃO? 1. Definições: Devemos ressaltar que a pregação apresentada aqui no curso é a que leva a exposição do texto sagrado comumente conhecida como pregação expositiva. As definições quanto a este tipo de pregação são variadas: A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e depois, através dele, a seus ouvintes1

Uma outra definição bastante elucidativa quanto a este tipo de pregação é aquela oferecida por Walter Kaiser jr. Que declara: “Um sermão explicativo [expositivo] toma um parágrafo inteiro no mínimo (uma cena em narrativa, ou uma estrofe em poesia) e permite que o texto bíblico forneça a força também o conteúdo da mensagem ou lição do

* O autor é Ministro da Palavra e dos Sacramentos pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife – PE. Foi professor de línguas bíblicas (Hebraico e Grego) no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (SPF) em Recife – PE. Atualmente está cursando mestrado no Instituto Bereano de Teologia – IBETEO – Brumado – BA. Hoje é pastor na Igreja Presbiteriana de Riachão do Jacuípe – BA. É casado com Géssica A. Sorares do Nascimento de França e pai de Lucas Luís Nascimento de França e Júlia Hadassa Nascimento de França. 1 ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica – O Desenvolvimento e a entrega de Sermões Expositivos. Tradução: Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p.22.

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próprio texto”2. Isto aponta para o fato de que a “pregação expositiva tenta apresentar e aplicar as verdades de uma passagem bíblica específica. ”3 2. O Uso de Quatro Vocábulos que falam sobre pregação. Dentro do espectro da definição deve-se lembrar que existem quatro palavras na língua grega que tem sido usada para descrever a arte e ofício da pregação neotestamentária. 2.1 – Kerysso [khrussw]: Este é o primeiro vocábulo bíblico que é usado para descrever o ofício da pregação bíblica no Novo Testamento. No grego temos a palavra “khrux” – keryx – o emprego desta palavra é "descrever o homem que é comissionado pelo seu soberano, ou pelo estado, para anunciar em voz alta alguma notícia, a fim de torná-la conhecida”.4 Apontando para alguém que prega com autoridade comissionada. As “palavras da família de Kerusso são usadas para descrever a pregação de Jonas (Mt.12.41), de João Batista (Mt. 3.1), de nosso Senhor Jesus Cristo (‘proclamar’ e ‘apregoar’ – Lc.4.18b-19) e de seus apóstolos (‘pregador’ – 1ª Tm 2.7; 2ª Tm 1.11). 2.2 – Euangelizo [εὐαγγελίζω] A atividade de partilhar o evangelho é incorporada na vida do pregador conforme vemos em Romanos 1.15. A palavra aqui demonstra que muitas vezes exercemos a evangelização ao da igreja. 2.3 - Martyreo [µαρτυρεw] O sentido desta palavra é “dá testemunho dos fatos” tem haver com falar sobre o evangelho ou apresentar os temas do evangelho (João 4.39; 1ª João 1.2) e envolve um elemento da pregação da igreja (Lucas 24.44-48). 2.4 – Didasko [διδάσκοw]

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KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando o Antigo Testamento - Um Guia para a igreja. Rio de Janeiro, CPAD, 2009, p.59-60. 3 CHAMPELL, Brayan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um Guia prático e teológico para a pregação Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p.22. 4 COHEN, Lothar, “khru,ssw”. In: Docionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Volume 2, Ed. Lothar Cohen e Colin Brown. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 741.

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A última palavra relacionada com pregação é esta aqui que o sentido básico é “ensinar”, a pregação do evangelho também carrega uma boa dose de ensino ou doutrina! O testemunhar de Cristo deve ser sempre regado com doutrina. Em Atos 5.42, lemos que os apóstolos não cessavam “de ensinar e de pregar” (didasko e euangelizo) a Jesus, o Cristo. Então, pregara a palavra envolve ensinar também doutrinas! E o uso destas palavras nos mostram que a tarefa da pregação é mais ampla. 3. Características da Pregação Neotestamentária.

Quais características práticas deve ter a pregação bíblica? O que caracteriza uma verdadeira pregação da palavra? Olhando para o Novo Testamento podemos identificar três características básicas de uma pregação. 3.1 – Compulsão: O pregador é chamado a tarefa de pregar. Ele é impulsionado ou mesmo constrangido para anunciar o evangelho (1ª Coríntios 9.16). Quando os homens querer que paremos a pregação devemos responder como fizeram os apóstolos (Atos 4.20) não podemos parar de falar e anunciar o evangelho! É essa compulsão que toma conta de cada um nós quando subimos no púlpito para pregar o evangelho. A igreja evangélica de nosso tempo está tão tomada pelo pecado que muitas vezes tenta silenciar a pregação pelos programas adicionais ao culto: coral, grupo de louvor, coreografia – mas a pregação precisa ser reduzida! 15 minutos, dizem alguns, já suficiente para a pregação; mas quem tem essa compulsão dirá não! Preciso pregar a palavra de Deus. 3.2 – Clareza: A segunda característica de uma pregação verdadeiramente bíblica é a sua “clareza”. Este termo poderia ser substituído por “popular em seu estilo”, podemos, dizer que o estilo puritano é o que se aproxima deste conceito. O próprio Richard Baxter, o puritano, falou sobre a pregação de seus pares como tendo por meta “As palavras mais simples são a oratória mais proveitosa, quanto às questões mais importantes”5. William Perkins, outro puritano, disse que o sermão “Deve estar claro, lúcido, e evidente .... É um

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PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus – Uma visão Puritana da Vida Cristã. São Paulo: Editora Fiel, 1996, p.306.

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provérbio entre nós: Foi um sermão muito simples: E eu digo novamente, quanto mais simples, melhor.”6 A clareza na pregação é de fundamental importância. Stuart Olyott nos lembra que “A boa-nova apresentada com palavras e frases difíceis não é boa-nova. Se os fatos são mostrados sem clareza parecerão ficção. ”7 a pregação é a apresentação franca da verdade (2ª Coríntios 4.2) e que não se deve florir a palavra de Deus com vãs filosofias (1ª Coríntios 1.17). A clareza na exposição bíblica é importante na vida dos pregadores da palavra, pois, eles precisam falar à mente e ao coração dos seus ouvintes. (1ª Coríntios 2.1-5). 3.3 – Cristocêntrica: A outra característica da pregação é que ele se centraliza em Cristo. Todo alvo da pregação deve ser sempre apresentar e levar os homens a Cristo. O tema central de toda a escritura é cristo. Novamente devemos ressaltar que a pregação puritana tinha esta característica. O James I Packer mais uma vez nos lembra: “A chamada do pregador consiste em anunciar todo o conselho de Deus; e a cruz é o centro desse conselho. Os Puritanos sabiam que quem viaja através das paisagens da Bíblia perder-se-á no caminho assim que perder de vista a colina do Calvário”8. O próprio senhor Jesus nos ensina que a totalidade das Escrituras ensinam sobre ele (Lucas 24.25-27;44-48). Paulo ao orientar o jovem pastor Timóteo evoca que as sagradas letras podem tornar o homem sábio pela fé em Cristo (2 Timóteo 3.15) isto significa que a Palavra de Deus é saturada pelo ensino a respeito do redentor, então, toda a pregação deve ter uma orientação cristocêntrica.

II – A PREGAÇÃO EXPOSITIVA – SUA EXCELÊNCIA

2.1 – A Necessidade da Perícia Exegética: Antes de tudo cabe uma palavra aqui. Não se pretende neste estudo exigir dos alunos o conhecimento das línguas originais, ainda que seja importante conhecê-las, e

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BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. A Puritan Theology – Doctrine for Life, Grand Rapids, Michigan: Reformation Heritage Books, P.671 7 OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.22. 8 PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus – Uma visão Puritana da Vida Cristã. São Paulo: Editora Fiel, 1996, p.307.

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pessoalmente este autor recomende que cada aluno busque conhecer o Hebraico e o Grego, não é de fundamental importância sabê-las para este tópico. O curso pretende apresentar noções de exegese no uso de ferramentas importantes para a pesquisa e estudo da palavra de Deus que vise ajudar a pregação da palavra.

2.1.1 – O que é exegese? O termo deriva-se da palavra grega εξηγησιj (exegesis), que tanto pode significar apresentação, descrição ou narração como explicação e interpretação. Quando se fala de exegese bíblica, entende-se o termo sempre no segundo sentido aludido, ou seja, como explicação / interpretação. Exegese é, pois, o trabalho de explicação de um ou mais textos bíblicos.9

Walter C. Kaiser Jr nos oferece uma definição interessante do que seja a Exegese: O termo exegesis é derivada de uma transliteração da palavra grega εξηγησιj, significando uma “narração” ou “explanação” (esta forma do substantivo, entretanto, não ocorre no Novo Testamento, e somente uma vez no códex Vaticanus da Septuaginta [a tradução grega do Antigo Testamento] – Juízes 7.15. A forma verbal Grega é εξηγεοµαι,[exegeomai] o qual literalmente retém o significado “para levar para fora” (note o prefixo εξ).10

A exegese está ligada a tarefa daquele que prega a palavra. Se queremos ser bons pregadores precisamos conhecer com exatidão as palavras do texto que iremos pregar, ou ainda conhecer com precisão o texto da sagrada Palavra de Deus. Mais uma vez devo fazer menção em aos puritanos porque a “a forma de pregação expositiva puritana consistiu em introduzir um texto bíblico com exegese acurada, identificar suas principais doutrinas e provar essa doutrina com uma série de proposições subordinadas...”11 2.1.2 – Erro que revelam a ausência de exegese Neste momento apresentaremos os erros mais comum entre os pregadores que revelam que não fizeram um estudo cuidadoso da passagem que estão pregando ou analisando. a. Abordagem supersticiosa das Escrituras. Há muitos pregadores realizam a exposição supersticiosa também conhecida como “espiritualização” das Escrituras. Quando ela ocorre? A resposta que podemos 9

WEGNER, Une. Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia. São Leopoldo, 1998, p.11 – ênfase dele 10 KAISER JR, Walter C. Toward An Exegetical Theology – Biblical Exegesis for Preaching and Teaching. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981, p. 43-44 11 OLIVER, Robert. Raízes da Pregação Reformada. In: BEEKE, Joel R. Vivendo para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada. São Paulo: Editora Fiel, 2010, p. 269

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oferecer é que esta forma de abordar a mensagem do Antigo Testamento “ocorre quando o pregador rejeita a realidade histórica, terrena e física da qual o texto fala e cruza a lacuna com uma analogia espiritual daquela realidade histórica”.12 E eles vivem procurando um sentido espiritual em cada passagem das Escrituras, pois, as pessoas comuns não conseguem alcançar sozinhos tal sentido, e argumentam usando 2ª Coríntios 2.14 dizendo que estas coisas se discernem espiritualmente, Olyott nos lembra que isso por si só revela o quanto eles são péssimos exegetas!13 Um exemplo desta abordagem é aquela feita ao texto de Gênesis 37.24. Onde se deduz que a alma do homem é como uma cova. b. O Uso da Alegoria Outro tipo de abordagem muitos usam a alegoria como recurso de pregação. Vale salientar que há bons usos da alegoria, um exemplo é obra o Peregrino de John Bunyan. Os que fazem uso da alegoria se interessam pela gramática do texto, entretanto, para eles o que importa é o que precisa ser descoberto por trás das palavras usadas. Stuart Olyott oferece uma ilustração interessante do uso deste método: Certa vez, ouvi um sermão baseado em Gênesis 24. Fiquei assentado em meu banco por 75 minutos, sentindo-me totalmente encantado, enquanto o pregador contava a história de como Abraão mandara seu servo de confiança à Mesopotâmia, a fim de encontrar uma esposa para Isaque, seu filho. O propósito da mensagem era mostrar como Deus Pai traz uma noiva para seu Filho. No sermão, Abraão foi igualado a Deus Pai; Isaque, a Deus Filho; o servo de confiança, ao Espírito Santo; Rebeca, à igreja; e os camelos, às promessas divinas que levam a igreja, guiada pelo Espírito, em segurança ao céu! 14

O método alegórico “busca sob o significado literal de uma passagem o significado real”15. Como coloca outro autor que a “interpretação alegórica vê em cada elemento de um relato um símbolo, como representação de um sentido oculto”16 Esta tem sido uma tendência da pregação contemporânea, por exemplo, o livro “Cânticos dos

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GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.198. 13 OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.30. 14 Ibid, p.32. 15 GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 197 16 ARENS, Eduard. A Bíblia sem Mitos. São Paulo: Paulus, 2007, p.337 – ênfase dele

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cânticos de Salomão pode ser entendido como expressando não o amor entre um homem e uma mulher, mas o amor entre Cristo e a Igreja”.17 Vale salientar que a verdadeira pregação insiste na intenção proposital que o autor tencionou transmitir no texto sagrado. Não pode haver lugar para esta abordagem alegórica, alguns tem apelado para a passagem de Gálatas 4.21-31 (onde Paulo usa uma alegoria sobre Hagar e Sara), entretanto, vemos o apóstolo usando a alegoria para argumentar fatos e não para criar ilusões que o texto não diz. Há outros que recorrem a textos como 1ª Coríntios 10.1-3 e Hebreus 7.1-3, mas estes textos não são alegoria, são ilustrações que são usadas a partir do Antigo Testamento e são tipologia (proto-tipo que aponta para o tipo no Novo Testamento, neste caso Cristo). c. A Abordagem Dogmática: A terceira forma de aproximação não-exegética do texto é aquela que aborda a Escritura como um compêndio da teologia dogmática. Muitos pregadores, que são bons teólogos sistemáticos abordam as Escrituras dentro de seu sistema de doutrina e teologia, e por vezes, confinam as Escrituras à interpretação do sistema dogmático. Um exemplo disso é a análise que feita de Hebreus 6.4-8. Os que possuem uma dogmática que ensina a perda da salvação fará este texto dizer que trata-se disto; outros que sua dogmática entendem que salvação não se perde fará o texto dizer que isso é uma mera hipótese. Mas, não houve um estudo exegético sério da passagem para determinar o verdadeiro sentido do texto. Devemos ressaltar que a Teologia Sistemática é importante para a vida da Igreja, mas não deve se sobrepor à exegese séria das Escrituras. d. O Racionalismo: Há pregadores que fazem a abordagem da Bíblia de forma racional, pois, rejeitam tudo o que ofende a razão. O tempo de nossa época é do homem moderno e seu desenvolvimento; então, pregar sobre milagres, ressurreição e intervenção sobrenatural de Deus na história não faz parte da pregação de muitos ditos pregadores. O racionalismo é o juízo da razão sobre as Escrituras. Este procedimento gerou o que conhecemos de liberalismo Teológico que nega todo o sobrenaturalismo que as Escrituras narram e apresentam, desde a encarnação de Cristo até sua segunda vinda.

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GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 197

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2.2 – Princípios Norteadores ao Exegeta-Expositor a. Evitar que os pressupostos dominem o sentido do texto: Não pretendemos sugerir que não existe pressupostos quando nos aproximamos do texto sagrado. Especialmente em sua leitura hermenêutica conforme nos lembra Paulo Anglada que “a interpretação reformada parte de pressupostos fundamentais e confessionais”.18O que queremos salientar é que estes pressupostos não interfiram na intenção original do texto. Deus quer que nós leiamos e ouçamos o texto sagrado tal como ele foi inspirado e outorgado pelo Espírito Santo, ou como nos coloca de forma precisa Olyott: Deus espera que eu me aproxime de sua Palavra sem quaisquer noções preconcebidas a respeito do que ela deveria dizer e que, em vez disso, descubra com humildade e obediência o que a Palavra realmente diz. Ele espera que haja a lembrança de que sou uma criatura cujo entendimento é bastante limitado. E não somente isso, mas também que sou um pecador cuja habilidade de entender foi severamente prejudicada. Deus espera que eu admita que jamais entenderei seu Livro sem a ajuda pessoal dEle mesmo, e que suplique essa ajuda. A Bíblia pode ser estudada por qualquer homem em seu escritório. Mas este não pode ser um verdadeiro exegeta, e um verdadeiro pregador, se não estudar com uma atitude íntima de submissão. A exegese é um trabalho árduo. É uma disciplina acadêmica que impomos sobre nós mesmos. Antes de tudo isso, a exegese é um ato de adoração.19

b. Seguir o sentido gramatical das palavras. O que isto quer dizer? O sentido como está escrito é o sentido que se pretende no texto. Há uma infinidade de palavras no livro de Deus. Temos “substantivos”, “verbos”, “pronomes”, “advérbios”, etc... Há uma necessidade de termos uma noção do que é um “substantivo” ou “pronome” sua função gramatical no texto pode ser de capital importância na hora da ministração da Palavra de Deus. Olyott mais uma vez nos traz um lampejo sobre esta questão dizendo: [..] cada sentença da Bíblia tem um significado. Se as palavras fossem diferentes, e a estrutura gramatical fosse modificada, teria um significado diferente. Portanto, quer gostemos, quer não, jamais poderemos ter exatidão exegética, se não tributarmos atenção cuidadosa às palavras e à maneira como elas estão dispostas na sentença. Este é o trabalho da exegese. Os pregadores têm de aprender a amar gramática! 20

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ANGLADA, Paulo R.B. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox Publicações,2006 ,p.107. 19 OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.37. 20 Ibid, p.38.

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c. Observar os gêneros literários da Bíblia Um dos grandes desafios do pregador é descobrir que tipo de texto estará pregando para a congregação no domingo à noite. A questão resume-se em uma pergunta: qual o gênero literário é o usado pelo autor sagrado? O que é um Gênero literário? O Gênero é “um tipo de composição literária que pode ser distinguido por aspectos como o conteúdo de uma forma específica”21 Uma leitura correta de qualquer texto bíblico levará, antes de mais nada, a fazer algumas distinções, por vezes, espontâneas: Estamos diante de um texto em prosa ou em poesia? Trata-se de um relato ou de um discurso? Com isso, estamos praticando um princípio de distinção entre Gêneros Literários. As respostas a tais perguntas nos oferecem a orientação elementar para classificarmos o texto.22

Encontramos na Escritura uma gama de Gêneros: Poesia, leis, história, discurso, relatos; tudo isso, precisa ser estudado e analisado antes de apresentar um sermão à comunidade do pacto.

E a melhor maneira de se estudar a Bíblia como literatura é analisando os gêneros literários que são de grande importância para o trabalho pastoral no púlpito da Igreja. “É de importância decisiva, na leitura de texto, a constante e rigorosa determinação do conjunto literário, os limites dentro dos quais se deve dar a interpretação do texto”23 Não podemos interpretar da mesma maneira todo tipo de literatura24, por isso, devemos sempre observar o gênero literário ao qual pertence a determinada passagem bíblica. Mas uma vez Stuart Olyott é perspicaz neste aspecto: Além da prosa usada na Lei e nos relatos históricos, conforme já mencionamos, existe abundância de poesia na Bíblia: uma parte dessa poesia se encontra no livros de Jó, Salmos e Cântico dos Cânticos; outra parte, nos livros proféticos; e outra parte, em seções longas ou curtas de outros livros das Escrituras. Encontramos também a literatura sapiencial, os evangelhos e as epístolas. E temos ainda a linguagem apocalíptica — uma maneira de argumentar usando linguagem exagerada, números, figuras de monstros e visões extraordinárias. Se lêssemos todos esses tipos de literatura da mesma maneira, ficaríamos realmente bastante confusos!25

21 SILVA, Moisés; KAISER JR, Walter C. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p.276. 22 SILVA, Cássio Murilo Dias. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 187-188 23 BRUGGEN, Jakob Van. Para Ler a Bíblia. Tradutor: Theodoro J. Havinga. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.23 24 OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.39 25 Idem.

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O estudo do gênero literário é importante para quem pretende pregar a Palavra. Podemos apresentar alguns exemplos que podem ilustrar a necessidade de se perceber o uso deste recurso na perseguição da intenção original daquilo que foi escrito na literatura Bíblica: OBSERVANDO OS TEXTOS PELA QUESTÃO DA INTENÇÃO AUTORAL – LITERÁRIA TEXTO BÍBLICO

QUAL A INTENÇÃO?

Isaías 55.12 pSalmos 92.12 Mateus 7.15

O QUE NÃO QUER DIZER? As árvores terão mãos! Os idosos serão como brotos Os pregadores não devem usar roupas de lã.

d. Observar os contextos da Passagem: O Imediato e o Amplo Para desenvolver uma perícia exegética acurada devemos também observar os devidos contextos de uma passagem Bíblica. No estudo para análise de uma passagem com vista à pregação é necessário estudar as frases, as sentenças, e muitas vezes o capítulo e por fim, o livro como o todo.26 Ou seja, para ser um bom expositor da palavra deve-se realizar os seguintes passos de interpretação textual: 1. Deve-se focalizar na passagem que se pretende pregar: realizando o estudo do vocabulário, observando a gramática e todos os procedimentos gramáticos necessário. 2. Olhar o contexto Imediato: Isto significa que se deve diagramar as frases do texto em segmentos 3. Olhar a seção principal: Ou seja, deve-se observar o fluxo da narrativa ou da passagem que está sendo analisada. 4. Também deve-se Estudar o Livro: Devemos identificar o propósito do livro e determinar o esboço do mesmo, isso facilitará na hora da exposição bíblica. 5. O autor do livro: Quem escreve o livro, a carta? O que autor pretende ao escrever tal texto? Qual é a intenção do autor?

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Ibid, p.40

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6. Devemos levar em consideração em qual testamento estamos pregando: A passagem encontra-se no Antigo ou Novo Testamento? Qual a relação desta passagem com todo o conteúdo deste testamento? 7. É necessário relacionar a mensagem da passagem com a totalidade da Bíblia: Qual é a relação deste texto com toda a mensagem da Bíblia sagrada? 8. E por fim, devemos considerar o Gênero literário: É uma narrativa? É uma novela? É uma poesia? É uma ironia? É um oráculo profético? Estes procedimentos podem ser diagramados da forma como nos apresenta o Dr. Grant Osborne em seu livro sobre hermenêutica27

a. Contexto histórico-Cultural: Um dos grandes problemas que os pregadores enfrentam é a análise do contexto histórico- cultural. Há diversas passagens na Bíblia que tratam de costumes específicos e

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OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica. Tradução: Daniel de Oliveira . São Paulo: Vida Nova, 2009, P.46

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que está inserido no texto sagrado. E por falta de conhecimento destes fatos muitos tem oferecido interpretações não legítimas ao texto bíblico. Por exemplo, considere o texto de Provérbios 22.28: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais. ”. Como devemos interpretar este texto? Que pergunta deve ser feita a este texto? Há aqueles que olham para o texto e perguntam: O que este texto significa para mim? Já ouvimos uma pregação nesta passagem onde o pregador declarou que o significado de “não remover os marcos” era “não remover a doutrina da igreja”! Henry Virkler oferece um breve teste para avaliarmos a nossa interpretação dessa passagem: a. Não efetuar mudanças na forma como sempre fizemos as cosias ( ) b. Não furtar . c. Não remover os marcos que orientam os viajantes de cidade para cidade ( ) d. Nenhum dos casos acima. ( ) e. Todos eles. ( )28 Que resposta você ofereceu a esta questão? Se você indagou: o que este texto significa para mim? Então, sua resposta está errada! A resposta deve levar em consideração o contexto histórico-cultural. Naquele tampo não havia demarcadores de propriedade, eram usados pedras e paus para delimitar a extensão de uma propriedade, aqui se proíbe uma espécie de furto, onde se removia as pedras ou os marcos do vizinho para se acrescentar uma propriedade por meio de uma apropriação indevida. Entender o contexto histórico-cultural nos ajuda a evitarmos desastres exegético. Stuart Olyott faz uma ponderação importante sobre este princípio: Em Números 15.32-36, o Senhor ordenou que fosse executado um homem encontrado apanhando lenha no sábado. Creio que precisamos estar bem certos de onde se encaixa este incidente na grande linha histórica. De outro modo, talvez nos veríamos aplicando esta ordem do Senhor ao seu povo hoje. E isso resultaria em uma drástica diminuição das pessoas em nossas igrejas! Precisamos dizer algo mais? O argumento é claro: ninguém pode ser um exegeta responsável e, por conseguinte, um verdadeiro pregador da Palavra, se não possui muita clareza a respeito do contexto histórico da passagem sobre a qual pregará.29

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VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. Tradução: Luiz Aparecido Caruso, São Paulo: Editora

Vida, 1987, p.59. 29

OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.43

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b. O princípio Escritura Interpreta Escritura. Dentro da perícia exegética o pregador nunca deve esquecer a regra áurea da interpretação bíblica. A Confissão de Fé de Westminster nos apresenta a regra fundamental de interpretação Bíblica. E todos aqueles que amam a Palavra de Deus deve buscar seguir este padrão reformado expresso na Confissão de Fé que é: “A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura”.30 O Dr. Paulo Anglada nos lembra: O assunto tratado neste parágrafo diz respeito à hermenêutica sagrada. Tratase do princípio reformado fundamental de interpretação bíblica, segundo o qual, a regra infalível de interpretação das Escrituras é que a Escritura se autointerpreta, elucidando, assim, suas passagens mais difíceis.31

A forma prática de usar este princípio é bem ilustrada por Olyott mais uma vez de forma bem clara: Se estivéssemos pregando todo o livro de Isaías, no devido tempo chegaríamos no capítulo 42. O capítulo começa com estas palavras: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho” (Is 42.1). Mas a respeito de quem o profeta falava? Nem preciso imaginar. Não preciso ser confundido pela grande variedade de teorias expostas por alguns comentários bíblicos. Mateus 12.15-21 nos diz que esta passagem se cumpriu no ministério terreno de nosso Senhor Jesus Cristo. O seu caráter foi tal, que não provocou conflito desnecessário com seus inimigos. Posso pregar uma mensagem clara com base em Isaías por causa da luz trazida por outra passagem bíblica.32

c. Abordagem Cristocêntrica: Como expositor precisamos apresentar Cristo. Há abordagens que sugerem que toda mensagem da Bíblia é teocêntrica. Mas, quando estudamos mais a fundo esta questão sabemos que toda a Palavra do Antigo ao Novo Testamento toda história da Salvação explora de modo significativo o evento Cristo! Gênesis 3.15 é um exemplo clássico desta abordagem, Longman nos lembra que os “autores do Novo Testamento, que estão lendo Gênesis depois de Cristo, entenderam que Gêneis 3.15 tem um sentido mais profundo e último” Jesus aqui é identificado com “ ‘a semente (isto é, descendente) da mulher”.33 Então o tema da mensagem Cristã e da pregação dominical será sempre Cristo a fonte e o tema de toda a pregação.

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Veja-se a Confissão de Fé de Westminster no Capítulo 1 seção IX. ANGLADA, Paulo R.B. Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p. 123. 32 OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.43 33 LOGMAN III, Tremper. Como ler Gênesis. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.200. 31

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2.3 – Como podemos nos torna melhores exegetas? De que forma podemos melhorar a nossa perícia exegética? Como podemos ser melhores exegeta para pregar melhor a Palavra de Deus? 2.3.1

– Aprimorando o Conhecimento Bíblico. O que isto significa? Bem significa que devemos ler com mais regularidade as

Sagradas Escrituras. Devemos buscar memorizar os textos da Bíblia, seguir o modelo dos antigos que meditavam na Lei de Deus (Salmos 1.3). A saturação das Escrituras em nossa mente é fundamental para que possamos pregar e executar os labores de exegese com maior clareza. Conheça a sua Bíblia, os pregadores devem ser doutores em Bíblia Sagrada! 2.3.2 – Aplicando-se a Leitura É indispensável que o pregador da Palavra goste de ler. No passado o acesso à livros era algo muito dificultoso, mas hoje com o advento da internet podemos ter acesso a mais vasta literatura. Os livros também estão mais fáceis de ser adquiridos por meio parcelamento. Como pregadores devemos ter uma biblioteca básica para os nossos labores dominicais. Não acredito em "um pregador que não ler” declarou certa vez meu professor de hermenêutica. Tomás de Aquino certa vez declarou: “Timeo hominem unius libri” (tema o homem de um livro só) aqui ele certamente referia-se de um homem que conhecia profundamente a Bíblia; entretanto, esta frase pode ser tomada no sentido negativo! Pois, um homem que se guia apenas por livro (ou que rejeita os livros) não pode ser pregador! Ele deve conhecer o livro supremo (A Bíblia Sagrada), mas não pode ignorar ler outros livros que ajudam a compreendê-la. Então, cada estudante de homilética / pregação deverá construir uma biblioteca particular e se aplicar a leitura (1ª Timóteo 4.13). Pois, é no estudo que podemos ser melhores exegetas e expositores da Palavra de Deus. 2.3.2

– Aprender as línguas originais34. Como já afirmamos não há uma necessidade do aluno deste curso em especializar-

se nas línguas originais; entretanto, se vamos ser pregadores devemos pensar em aprender as línguas originais.

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Veja-se o Apêndice onde indicamos uma breve literatura destinada ao aprendizado das línguas originais.

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III – A PREGAÇÃO E O CONTEÚDO DOUTRINÁRIO: 3.1 – Toda Pregação deve ser doutrinária: Nós temos visto que em nossos dias pessoas dizem que não precisamos de doutrinas, os sermões devem ser mais evangelísticos e menos doutrinários; há aqueles que acham que a pregação nunca deve conter doutrina. Stuart Olyott nos mostra a importância de se pregar doutrinariamente para a Igreja de Cristo em nossos dias: O que pretendemos dizer quando usamos esse termo? Queremos dizer que todo sermão deveria estar repleto de doutrina. Deve ser rico em teologia. Afinal de contas, a Bíblia é uma revelação divina. Revela a mente de Deus. Ela nos mostra o que devemos crer a respeito dEle e o que Ele espera de nós em nossa curta existência. Toda vez que a Bíblia é pregada, aqueles que a ouvem devem crescer no entendimento da doutrina e do dever.35

O teólogo Puritano William Perkins nos lembra que a doutrina é “a ciência de viver para sempre numa bem-aventurança”.36 Esta sempre foi a convicção puritana a respeito da pregação da Palavra de Deus. James I. Packer nos apresenta um perfil puritano para este tipo de pregação: Diante da pergunta: "Devemos pregar doutrina?" Os Puritanos respondiam: "Ora, e existe alguma outra coisa a ser pregada?" Os pregadores Puritanos não receavam apresentar em seus púlpitos as verdades teológicas mais profundas, se disso dependesse a salvação de seus ouvintes; nem hesitavam em exortar que homens e mulheres aplicassem suas mentes para dominarem a teologia, e sempre diagnosticavam a má vontade para fazê-lo como um sinal de insinceridade. A pregação doutrinária sem dúvida deixa os hipócritas enfadados; mas somente a pregação doutrinária é capaz de salvar as ovelhas de Cristo. A tarefa do pregador consiste em pregar a fé, e não em prover entretenimento para os incrédulos — em outras palavras, alimentar as ovelhas, e não divertir os bodes.37

Então na tradição reformada a pregação doutrinária tem sua importância e seu valor. O que promovemos quando nós pregamos doutrinas em nossos sermões? O que isto significa para cada um de nós? O Beeke, ainda tratando da pregação dos puritanos sumariza para nós o que promovemos quando nossa pregação é doutrinária: 1. As Escrituras precisam ditar a ênfase de cada sermão 2. A pregação precisa instilar uma apreciação por cada doutrina bíblica. 3. A pregação precisa cobrir uma ampla variedade de tópicos homiléticos.38

35

OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.49. Apud, BEEKE, Joel R. B; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida Tradução: Márcio Louvreiro. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016. p. 977 37 PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus. São Paulo: Editora fiel,1996, p.306. 38 BEEKE, Joel R. B; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida Tradução: Márcio Louvreiro. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016. p. 978 36

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Estas três características também devem estar presentes em nossa pregação dominical na Igreja. 3.2 – Problemas decorrente da ausência de doutrina nos sermões. Quais são os problemas que ocorrem na vida de uma igreja quando doutrinas não são expostas na exposição bíblica dominical? 3.2.1 – Deus é Negligenciado no culto e no coração. Quando as pessoas ignoram ou não assimilam a doutrina da Palavra de Deus; o verdadeiro Deus é negligenciado e não se presta um verdadeiro culto ao Deus Trino. Nosso coração pode abraçar outros ídolos ou cria-los para si mesmo. 3.2.2 – A Natureza Trinitariana da salvação não é admirada: A pregação quando ela não se vale de doutrinas é marcada pela ausência de que a redenção outorgada por Deus é negligenciada, textos como Efésios 1.3-14 não mostrado e apresentado com clareza; pois tal trecho das Escrituras fala da salvação como uma ação da Trindade. 3.2.3 – A vida Cristã fica sem sentido: Quando nossa pregação ignora deliberadamente o ensino de doutrina a vida Cristã ela perde o sentido de ser. Pois, na ausência de instrução bíblica no púlpito os crentes ignoram seus privilégios diante de Deus e da comunidade pactual, pois, não sabem que são justificados e não conhecem esta doutrina; o ensino sobre a adoção não lhes peculiar pois não conhecem que passam a pertencer a família de Deus; quando não pregamos doutrinas em nosso púlpito os crentes ficam sem saber como devem viver a vida cristã isto porque falta-lhe orientação necessária no púlpito da Igreja. Também quando a pregação não eivada de doutrinas sólidas, oriundas da Palavra de Deus, o testemunho cristão fica empobrecido isto porque não conhecem todo o conselho de Deus ficam incapacitados de verdadeiramente discipular e evangelizar pecadores para a glória de Deus. Há outro aspecto importante é que na ausência de sermões doutrinários na vida da Igreja gera ausência de santidade prática. O lema “sede santos porque sou santo” não é praticado porque não se tem ensinado a respeito disto na vida igreja. A pregação visa ensinar aos crentes sobre uma vida de piedade.

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Também na ausência de doutrina a vida eclesiástica é negligenciada. A importância da igreja para o crescimento espiritual do povo de Deus é algo claro na Palavra de Deus, os crentes são exortados não abandonarem a vida eclesiástica (Hebreus 10.25) por isso, é de capital importância que o púlpito, fortalecido pela doutrina, revele a necessidade da igreja na vida cristã. E por fim, a vida de oração é abandonada quando não ouvimos exposições bíblicas que tratam da doutrina da oração na vida cristã. Uma igreja que não ora ou não é motivada a orar está fadada a fechar as portas porque ignora o alimento necessário à comunhão com Deus - uma vida prática de oração! IV – A FORMA DO SERMÃO: SUA ESTRUTURA. 4.1 – Clareza na Estrutura. Já temos visto que há uma necessidade de que a pregação seja clara. Então, quando nós formos elaborar o nosso sermão precisamos que a estrutura seja clara. Precisamos expor a Palavra de Deus com a maior clareza possível. Neste processo o nosso sermão deve conter Unidade, Ordem e Proporção: Os pregadores que amam seus ouvintes são meticulosos quanto à estrutura de seus sermões. Sabem que as pessoas compreenderão os sermões, se eles tiverem unidade, ordem e proporção. Unidade significa que todas as partes da mensagem se mantêm unidas; a mensagem não é formada de vários sermonetes desconexos. Ordem significa que o sermão é formado de idéias distintas que seguem umas às outras, em uma cadeia lógica que conduz a um clímax. Proporção significa que cada idéia tem o seu devido lugar; as coisas insignificantes não são magnificadas, e as importantes não são menosprezadas.39

Consideremos as partes que deve conter um sermão que segue esta estrutura primando pela clareza de estrutura homilética: 1. Introdução: É um convite que se faz ao ouvinte concentrar-se em tudo no que será dito, é a porta de acesso a todos cômodos da casa. Qual é o propósito da Introdução no sermão? É deixar as pessoas interessadas no assunto que estaremos abordando. E conseguimos isso quando ganhamos a atenção dos ouvintes. Devemos lembrar que a introdução não deve ser longa, precisa ser concisa e clara objetiva e direta. Onde encontrar fontes para melhorar as minhas introduções? A resposta é simples, livros de pregações e também conhecer bem os meus ouvintes.

39

OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.67.

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2. O Discurso: É a verdade a ser ensinada a estas pessoas logo após a introdução. É constituída do

material

que o

pregador se

dispõe

a

comunicar

naquele determinado

sermão.40deveremos seguir uma sequência lógica naquilo que pretendemos abordar, por isso, anunciamos prontamente o esboço daquilo que será abordado durante todo o sermão. As subdivisões devem ser claras e agrupem um pensamento único que se integrem ao todo, lembrem-se seus ouvintes devem lembrar do sermão como um todo. As divisões devem ser naturais e não forçadas e devem ser excessivamente poucas. Poucas divisões ajudam na memorização do conteúdo exposto. Vale salientar também que a divisão deve ser proporcional uma a outro em relação ao seu tempo de transmissão. Deve-se evitar gastar mais tempo em um do que em outro. Também o pregador deve persuadir os seus ouvintes a crerem na verdade que está sendo apresentada diante deles. Buscar falar à mente e ao coração. 3. Conclusão: A conclusão é formada por observações que encerram o sermão. O seu alvo é concluir a mensagem de um modo que seja digno das verdades que foram pregadas. Também procura assegurar que nada importante seja perdido e que o ensino seja enfatizado na mente e consciência das pessoas presentes.41

A conclusão é uma das partes mais importantes do sermão que pode ter consequências eternas na vida das pessoas! Por isso, ela precisa ser pensada e bem escrita. Escrava exatamente tudo o que você deseja que seu ouvinte receba e guarde no coração e na mente. A conclusão deve ser curta! Longa quando a necessidade convier, mas lembremos estamos concluindo o sermão e não fazendo outro! 4.2 – O uso das Ilustrações O uso de ilustrações no sermão é muito importante porque é como se fossem uma janela para a clareza da mensagem. A mensagem dos profetas no Antigo Testamento era eivada de ilustrações vívidas como por exemplo a ilustração do prumo sobre a parede que Amós usa no capítulo 8.7-8. As ilustrações explicam a verdade a ser ensinada por exemplo vemos no Novo Testamento utilizar-se deste recurso (Mt 13.24, 31, 33, 44-45, 47). Devemos lembrar que ela não é um elemento essencial na pregação, mas quando houver necessidade devemos

40 41

Ibid, p.71 Ibid, 77

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usá-las de formar mais prudente possível com o objetivo de comunicar a verdade de Deus aos ouvintes. 4.3 – O Uso da Aplicação. A aplicação é um dos recursos fundamentais para incutir a Palavra de Deus na mente e no coração dos homens e mulheres que escutam a pregação dominicalmente na igreja. Todo trabalho de exposição só encontra findo quando se há nele aplicação penetrante, mais uma vez Stuart Olyott nos apresenta uma ilustração interessante sobre este ponto: Imagine um alfaiate que tece suas próprias roupas. Não há falhas na textura (exatidão exegética). O material (conteúdo doutrinário) é de alta qualidade. O tecido tem um padrão atraente (estrutura clara). Até uma pessoa simples pode sentir e ver quão bom é o tecido (ilustração vívida). Portanto, não há nada a reclamar, há? Contudo, todos sabemos que o alfaiate ainda não terminou o seu trabalho.42

Por que a aplicação é tão escassa em muitas pregações nos dias de hoje? Devemos ressaltar que sem ela a pregação não tem sentido de ser. Pensamos que a falta de aplicação está na ausência de considerar o que ela não é: Primeiro, a aplicação não é uma informação adicional— simplesmente acrescentar mais fatos. Quer no trabalho de detetive quer no estudo da Bíblia, reunir fatos é o início do processo, mas não o completa. Os fatos precisam ser usados. Por exemplo, é bom saber que Mateus era um coletor de impostos e que coletores de impostos conspiravam com Roma para se tornar ricos, explorando seus contribuintes. Tais informações contextualizam Mateus e nos ajudam a entender a Bíblia. Mas para que se torne útil, a informação precisa ser combinada com a ação que o ouvinte possa realizar. Segundo, a aplicação não é mera compreensão. Entender a verdade de Deus, o passo que precisa seguir a coleta dos fatos, é vital. Precisamos saber o que a Bíblia significa, não apenas o que ela diz. Novamente, entretanto, um sermão deixado aqui é incompleto. Muitas pessoas entendem verdades bíblicas, mas as verdades não fazem nenhum impacto na sua vida. Posso entender que Jesus citou as Escrituras para conter os ataques de Satanás no deserto e que a Palavra de Deus é poderosa. Terceiro, aplicar o texto não é apenas ser relevante. A relevância explica como o que aconteceu nos tempos bíblicos pode acontecer hoje. Por exemplo, podemos descrever Corinto como semelhante a muitas cidades de hoje — selvagens e repletas de ídolos, violência e imoralidade sexual. Uma descrição relevante pode nos deixar mais abertos à aplicação. Mas esse passo é insuficiente, visto que ele não nos diz o que podemos fazer em relação à situação que reconhecemos. Finalmente, a ilustração — explicar como outra pessoa lidou com uma situação similar—não se qualifica como aplicação. Ilustrações emitem luz sobre uma passagem e nos mostram como outra pessoa aplicou a verdade a sua

42

Ibid, p.101.

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vida. Mas isso permanece afastado do individual — de nós. Mas e daí? Como eu farei isso na minha vida?43

O que é aplicação? Um escritor do século XIX nos oferece uma definição pertinente a respeito da aplicação: “A aplicação é, no sentido restrito, aquela parte, ou aquelas partes, do discurso nas quais mostramos como o assunto se aplica aos ouvintes; mostramos que instruções práticas o sermão lhes oferece e que exigências práticas o sermão lhes faz”44 A aplicação é uma parte integrante da verdadeira pregação expositiva, pois, sem ela o discurso dominical não tem sentido algum, a pregação sem aplicação assemelha-se a um corpo sem alma - não há vida! Onde não há aplicação penetrante, não há pregação verdadeira. Temos muito a aprender dos apóstolos. Suas epístolas estão repletas de doutrina, mas eles não disseram: “Bem, é isso. Expliquei a doutrina. Agora deixarei que o Espírito Santo lhes mostre como essas verdades devem ser colocadas em prática”. Não! Não! Não! Eles deixaram isso bem claro. Rogaram que seus leitores tivessem uma vida digna da vocação a que haviam sido chamados (Ef 4.1). Mostraram-lhes com detalhes o que isso significava, falando a respeito de sua vida pessoal e seu comportamento na igreja, na família e na sociedade. Lidaram com pecados, deveres, problemas, oportunidade e alegrias específicas. E, deste modo, nos dão um modelo que devemos imitar.45

4.4 – A Eficiência da Pregação. Uma pregação é de fato pregação quando ela é proferida. A eficácia de um sermão será mostrada se o ouvinte conseguir levá-lo para casa. E para que a pregação seja eficiente devemos fazê-la com humildade e clareza na apresentação da mesma. Usar uma linguagem simples e direta. Também devemos depender da ação do Espírito Santo para tornar a pregação eficaz (Ezequiel 37), pois, Palavra é a espada do Espírito (Hebreus 4.12) 4.5 – A autoridade da Pregação O último aspecto da pregação é sua autoridade. De onde deriva a autoridade da pregação? Certamente deriva da Palavra! A autoridade não está na oratória do pregador, não está nas técnicas, mas unicamente na Palavra de Deus. Então, não esqueçamos, se queremos que o nosso sermão seja cheio de Autoridade ele deve ser cheio da Escritura, ele deve está saturado com a Palavra de Deus.

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VEERMAN, David. APLICAÇÃO INTERNA Um método para se chegar à reação prática requerida no texto IN: ROBISON, Haddon; LARSON, Graig Brain Org.. O Ofício da Pregação Bíblica. São Paulo: Shedd Publicações, 2009 ,p.348-349 44 Apud, OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.102. 45 OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, p.103

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. ANGLADA, Paulo R.B. Introdução à Hermenêutica Reformada. Ananindeua: Knox Publicações,2006 ,p.107. 2. _________________, Sola Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p. 123. 3. ARENS, Eduard. A Bíblia sem Mitos. São Paulo: Paulus, 2007. 4. BEEKE, Joel R. Vivendo para a Glória de Deus – Uma Introdução à Fé Reformada. São Paulo: Editora Fiel, 2010. 5. BEEKE, Joel R. B; JONES, Mark. Teologia Puritana – Doutrina para a Vida Tradução: Márcio Louvreiro. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016. 6. ______________________________. A Puritan Theology – Doctrine for Life, Grand Rapids, Michigan: Reformation Heritage Books, 2012. 7. BRUGGEN, Jakob Van. Para Ler a Bíblia. Tradutor: Theodoro J. Havinga. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. 8. CHAMPELL, Brayan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um Guia prático e teológico para a pregação Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 9. COHEN, Lothar, “khru,ssw”. In: Docionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Volume 2, Ed. Lothar Cohen e Colin Brown. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1993. 10. GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.198. 11. KAISER JR, Walter C. Pregando e Ensinando o Antigo Testamento - Um Guia para a igreja. Rio de Janeiro, CPAD, 2009. 12. ___________________. Toward An Exegetical Theology – Biblical Exegesis for Preaching and Teaching. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981. 13. LOGMAN III, Tremper. Como ler Gênesis. São Paulo: Vida Nova, 2009. 14. OLYOTT, Stuart. Pregação Pura e Simples. São Paulo: Editora Fiel, 2008. 15. OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica. Tradução: Daniel de Oliveira . São Paulo: Vida Nova, 2009. 16. PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus – Uma visão Puritana da Vida Cristã. São Paulo: Editora Fiel, 1996. 21

17. ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica – O Desenvolvimento e a entrega de Sermões Expositivos. Tradução: Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2003. 18. SILVA, Cássio Murilo Dias. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas, 2000. 19. SILVA, Moisés; KAISER JR, Walter C. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 20. VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. Tradução: Luiz Aparecido Caruso, São Paulo: Editora Vida, 1987. 21.

WEGNER, Une. Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia. São Leopoldo, 1998.

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APÊNDICE Como posso aprender essas línguas? Há várias formas. Uma delas é a busca por literaturas específicas. Deixem-me oferecer alguma informação sobre isso: A) PARA O ANTIGO TESTAMENTO: O aluno deverá adquirir uma gramática de Hebraico para ter uma noção fundamental, deixo aqui algumas que podem ser autodidatas (que você pode aprender sozinho): Gramáticas: 1. Noções do Hebraico Bíblico – Paulo Mendes pela editora Vida Nova. 2. Curso completo de Hebraico sem Moré (hebraico sem professor) – Valter Alexandrino pela editora Pão da vida (dois volumes). 3. Hebraico Bíblico – Uma abordagem Pragmática – Humberto G. Freitas – Pela editora Vozes 4. Noções Básicas do Hebraico Bíblico – Rosemary Vita e Tereza Akil – pela editora Hagnos. Dicionários e Léxicos: 1. Dicionário Hebraico-Português e Aramaico-Português – vários autores – pela editoras Sinodal e Vozes. 2. ANALYTICAL HEBREW AND CHALDEE – Lexicon. Benjamin Davidson – material em inglês muito bom! Vídeos: O Centro de Estudos Presbiteriano – www.centrodeestudospresbiterino.blogspot.com.br em sua sala estudos tem o curso de hebraico gratuito para o acesso como visitante. O aluno pode entrar e ter as primeiras aulas grátis. B) PARA O NOVO TESTAMENTO: Para o Novo Testamento há uma vasta literatura que pode nos ajudar. Também apresentaremos livros na linha autodidata: Gramáticas: 1. Aprenda o Grego do Novo Testamento – John Dobson – pela editora CPAD

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2. Noções do Grego Bíblico – Lourenço Stelio Rega & Johannes Bergmann pela editora vida Nova. 3. Gramática Koiné - Francisco Leonardo – pela editora ceibel. Dicionários: 1. Léxico do NT Grego Português - F. Wilbur Gingrich – Pela editora Vida Nova] 2. Léxico analítico do Novo Testamento – William Mounce – pela editora vida Nova. 3. Chave Linguística do Novo Testamento Grego – Fritz Rieneeker, Cleon Rogen– pela editora vida nova. Edições da Bíblia: Também devem os estudantes da Palavra conseguir uma edição do Antigo Testamento Hebraico; bem como uma edição do Novo Testamento Grego.

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