Breve notícia de um colégio feminino na Invicta, \"O Colégio Luso-Italiano\"

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Breve notícia de um colégio feminino na Invicta

O Colégio Luso-Italiano Álvaro de Sousa Holstein e Albino Lopes da Cunha

"Non memorisée, la femme reste blanche comme l'oubli; son histoire n'a jamais été écrite qu'avec de l'encre incolore" ("L'Histoire ébruitée des femmes dans la societé pré-revolutionnaire") in Histoire sans qualités, Paris, Editions Galilée, 1979,p.17)

A razão desta nossa comunicação é, sobretudo, dar notícia e lançar algumas pistas sobre um estabelecimento de ensino e seus protagonistas nos finais do século XIX na cidade do Porto. Ao que sabemos não existe nenhum estudo que aborde em profundidade esta realidade. Assim esperamos com este trabalho lançar as sementes para que se torne possível, num futuro mais ao menos próximo, que tal se torne realizável. Vamos usar neste trabalho a criação do Colégio Luso-Italiano na Invicta, instalado na Rua do Bonjardim, aos números 503 a 513.

Rachel de Sousa Holstein

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Fundado na década de 80, mais propriamente em 1886, por Rachel de Sousa Holstein e por sua filha Ana de Sousa Holstein Mendonça, este colégio surge como uma das poucas instituições de ensino da cidade. De origem italiana, Rachel de seu nome completo Rachel Cecília Clothilde Librini,

nascida

na

paróquia

de

Sant’Alessandro em Milão, a 2 de Junho de 1830, filha de Girolano de Faustins Librini e de sua mulher Maria Francesca Taparelli, foi a segunda mulher de Frederico Fillipo de Sousa Holsteini, Frederico de Sousa Holstein

nascido na freguesia da Lapa em Lisboa, a 21 Dezembro de 1822, filho ilegítimo

de D. Pedro de Sousa Holsteinii, 1º Duque de Palmela (nascido também em Itália, em Turim, a 8 de Maio de 1781 e reconhecido tradutor de alguns cantos dos Lusíadas para francês) e de Maria Amália Sá e Gama, sendo também irmã da primeira mulher de Frederico Fillipo, Annunciata Librini. Casou aos 23 dias de Março de 1869, na Paróquia Prepositural de S. Carlos, em Milão, sendo o seu marido à época Cônsul de Portugal, na referida cidade. Deste matrimónio nasceu também em Milão a 22 de Novembro de 1863 sua filha Ana Maria Antónia de Sousa Holstein, Mendonça pelo casamento com Joaquim Augusto de Pinho Mendonça, em 1889, na cidade do Porto.Do ilustre António Nobre ficou-nos um poema, datado de 22 de Março de 1887, dedicado a Maria Antónia:

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Procuro-a, em vão! Debalde tento vê-la! Encontro sempre, aos olhos meus, cerrado O seu palácio místico, encantado, A sua casa hierática, amarela. Vejo corrido, ao longo da janela, Como nuvem que tapa o sol doirado, O transparente fino e rendilhado Que, assim, me oculta aos grandes olhos d’ela. Procuro-a em vagos, tímidos anseios, Nas ruas, no teatro, nos passeios, E embalde o olhar estendo, ansioso, em brasa. Havia um meio de eu a ver, no entanto: Um meio só: na missa, em dia santo Mas como? Se ela tem capela em casa.

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As duas gerações seguintes viram aparecer no seu seio mais oito mulheres dedicadas ao ensino, sendo uma delas licenciada pela Faculdade de Letras do Porto, nos anos 20. É de relembrar que o Porto foi sobretudo no século XIX, cidade de acolhimento de italianos, muitos ligados às mais diversas áreas da cultura, tendo alguns deles acompanhado certamente o Rei Carlos Alberto, no seu exílio, tendo este falecido na casa onde hoje se encontra instalado o Museu Romântico. Não é pois de estranhar que o colégio surja sobre a protecção da Rainha D. Maria Piaiii, de quem Rachel era conhecida, antes do seu casamento com D. Luís Iiv. Estavamos num país em que o ensino estava dominado por homens. Como justificação, sabemos que o corpo docente do liceu do Porto era composto por 14 professores, sendo seu reitor o Comissário dos Estudos, José Rodrigo Paços, irmão de Manuel da Silva Passos, o pai do Setembrismo, ministro do reino e chefe de governo. Na mesma época, no reinado de D. Maria IIv, existiam a nível nacional 20 liceus, onde leccionavam cerca de 160 professores, estabelecimentos dirigidos sobretudo para a educação masculina. É assim de dar relevância naquela data à existência de um estabelecimento de ensino dirigido por mulheres e vocacionado para o ensino femininovi. Mais importante ainda é o facto de nele serem leccionadas disciplinas que em muito ultrapassavam a tradicional educação ministrada às mulheres, sendo de realçar as línguas (portuguesa, francesa, inglesa, alemã e italiana), história, literatura, geografia, física, química, entre outras, para além de existir um ginásio.

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A existência de uma estrutura que ia da instrução primária, passando pela secundária e pelas artes, demonstra que o espírito da lei de 25 de Abril de 1835, nascida da comissão para a reforma da instrução pública, onde surgiam nomes como o de Almeida Garrettvii, tinha sido tomado em conta. Esperamos que estes breves dados tenham de alguma forma despertado o interesse para uma investigação profunda sobre o ensino no Porto e desde já queremos deixar referido que no Arquivo do Governo Civil do Porto se encontra um conjunto de documentos que, de alguma forma, poderão ser um importante meio para a realização de tal trabalho, pois nele entre outros se encontra um maço com documentos relativos à criação de escolas, abrangendo o período que vai do ano de 1855 ao ano de 1880. Para terminar não queremos deixar passar o facto de muitos de nós termos algumas das suas raízes, ainda que remotas, aqui em Cabeceiras de Bastos, de novo através de uma mulher, Santa Senhorinha, da família de Sousa, sepultada nestas Terras, no dia de S. Jorge, em 23 de Abril do ano de 1020.

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Foi cônsul e representante de negócios em Turim e Milão e condecorado com a Ordem de Cristo, a Ordem de «des Saint Maurice et Lazare» (Italia), Ordem de Orange Nassau - Holanda e com a Ordem de Santo Olavo - Noruega. Frederico e sua mulher Rachel privaram com grandes vultos da política e cultura italiana como Cavour, Conde, Camillo Benso di (1810-1861), filho segundo de uma família da aristocracia piemontesa, (do Marquês Michele e de Adele di Sellon foi o pai da criação do Reino de Itália, sendo seu primeiro chefe de governo. Em 1820 ingressou na Academia Militar de Turin e logo em Julho de 1824, foi nomeado pagem de Carlos Alberto, Rei do Piemont (18311849. É um dos mentores do Il Risorgimento. Também mantiveram relações com Massimo d'Azeglio, Marquês d'Azeglio que nasceu também em Turin, a 24 de Outubro de 1798, filho do Marquês Tapparelli d'Azeglio e de Cristina Morozzo di Bianzè. Frequentou l'Università di Torino e foi tenente de cavalaria no regimento de cavalaria Real do Piemonte, tendo desde muito novo demonstrado uma forte apetência para a pintura, tendo ido para Roma estudar. Paralelamente o seu interesse pela literatura desenvolvia-se tendo escrito poemas épicos, tragédias e comédias. Liberal foi tal como Cavour um dos homens do Il Risorgimento. Em 7 de maio de 1849, aceitou finalmente o convite do rei Vittorio Emanuele e foi nimeado Presidente do Conselho.

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Conde de Sanfré no Piemonte, 1º conde, marquês e duque de Palmela, (por diplomas sucessivos de 11 de Abril de 1812, 3 de Julho de 1825 e 13 de Julho de 1833), senhor dos Morgados de Monfalim e Calhariz, capitão da Guarda Real de archeiros, alcaide-mór da Sertã, Grã-Cruz das ordens de Cristo, da Torre Espada e de Carlos III de Espanha, cavaleiro do Tosão de Ouro, da Legião de Honra, de Stº Alexandre e de S. João de Jerusalém; Par do Reino, Presidente da Câmara, Presidente da Câmara dos Senadores, Conselheiro de Estado, Encarregado dos Negócios em Roma, Embaixador em Londres, Ministro Plnipotenciário em Viena e Paris, por várias vezes Secretário de Estado na Côrte do Rio de Janeiro e em Lisboa e na regência da Ilha terceira, sócio da Academia Real das Ciências e Presidente da Sociedade Arqueológica de Setúbal. Filho de D. Alexandre de Sousa Holstein e de sua mulher D. Juliana de Sousa Coutinho Monteiro Paim, nasceu em Turim e faleceu em Lisboa em 12 de Outubro de 1850. Figura maior do liberalismo, foi um dos mentores da Carta Constitucional. São de realçar as suas fortes relações com Alcippe, Madame de Stäel, Alfiéri, Gay-Lussac, Humboldt, Beijamin Constant, Sismondi, entre muitos outros.

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D. Maria Pia de Sabóia, filha de Vítor Manuel, rei do Piemonte e unificador da Itália.

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Subiu ao trono por seu irmão D. Pedro V ter falecido sem deixar descendência Mais intelectual do que político, fez primorosa tradução e riquissima edição de boa parte da obra de Shakespeare; D. Luís viveu um período de certo brilho literário — Júlio Dinis, João de Deus, Camilo e Eça — e artístico — Soares dos Reis, Teixeira Lopes, Malhoa, Columbano, Estação do Rossio e Palácio do Buçaco, estilo neogótico). Os antigos partidos políticos foram remodelados; surgiram dois novos agrupamentos o Partido Socialista e o Partido Republicano. Os outros, de ideologia monárquica, entraram na fase conhecida por rotativismo, sucedendose no governo o Partido Histórico e o Partido Regenerador. Foi publicado o primeiro Código Civil Português. Dilatou-se a rede ferroviária nacional. Aboliu-se definitivamente a pena de morte e a escravatura. Foi em África que mais modificações se fizeram sentir. Realizou-se a Conferência de Berlim e muitas as expedições científicas (Serpa Pinto, Brito Capelo, Roberto Ivens, Henrique de Carvalho), fundaram-se cidades novas, consolidou-se o domínio português. Fizeram-se tratados em que foram estabelecidas novas fronteiras africanas, tornando-se famoso o "mapa-cor-derosa", que previa a união territorial de Angola com Moçambique; que deu origem ao "ultimato inglês". Tendo sido elevado ao trono em 1861, veio a falecer em 1889, portanto com vinte e oito anos de reinado. Recebeu o cognome de Popular pela sua simplicidade, havendo autores que lhe deram o epíteto de Bom. v Nasceu no Rio de Janeiro em Abril de 1819, sendo filha da imperatriz do Brasil, D. Maria Leopoldina da Áustria, primeira esposa de D. Pedro; a segunda foi D. Amélia de Beauarnais, sendo a segunda rainha da nossa história. Foi elevada ao trono com sete anos no ano em que faleceu sua mãe e aos quinze anos assumiu o governo efectivo do País. Casou em primeiras núpcias com D. Augusto de Leuchtemberg e ficou viúva apenas dois meses após o casamento.Ao completar dezassete anos, consorciou-se com o rei D. Fernando II (D. Fernando Saxe-Coburgo-Gotha), de quem teve numerosa prole. Faleceu com trinta e quatro anos, em 1853. Todo o seu governo foi muito agitado por convulsões políticas, guerras e revoluções. A Carta Constitucional foi substituída por outra constituição e sucederam-se golpes e revoluções: a Revolução de Setembro de 1836 (que aboliu a Carta Constitucional), a Belenzada (a contrariar a anterior), a Revolta dos Marechais (Saldanha e Terceira, em favor da Carta), a Revolta de Costa Cabral (restaurando-a) e finalmente a Regeneração (revolta do marechal Saldanha), em 1851, que pôs fim a tão triste série. As incidências bélicas mais salientes foram a Revolução Popular da Maria da Fonte (por terem sido proibidos os enterramentos nas igrejas) e a Revolta da Patuleia (devido a uma mudança de governantes) que na prática estão em estreita sequência, em 1846 e 1847, tendo terminado pela intervenção estrangeira com a Convenção de Gramido. Foram criados o ensino primário obrigatório e gratuito, os liceus distritais, fundada a Escola Médico-Cirúrgica e a Escola Politécnica (em Lisboa e no Porto) e ainda o Conservatório Nacional de Música, Dança e Teatro, em Lisboa. Foi construído o Teatro Nacional de D. Maria II. vi

Sobre este tema é de ler os textos retirados do livro "História do ensino em Portugal" da autoria de Rómulo de Carvalho. «No seu livro A Instrução Nacional, publicado no mesmo ano (1870), dedica D. Antônio da Costa um capítulo à educação da mulher, intitulado mesmo "A educação da mulher", em que lamenta que em Portugal andem nas escolas mais rapazes do que raparigas, mostrando-se até discordante do que então se exigia na Europa do seu tempo, que homens e mulheres fossem instruídos "em proporção igual". D. António da Costa entende que a educação do sexo feminino deve ser preferida à do sexo masculino. E argumenta: "Bastaria a razão de que um homem educado pode deixar os filhos por educar; uma mulher não os deixará decerto.»; «A reforma de Eduardo José Coelho mantém as disciplinas da reforma de 1895 e até lhe acrescenta mais uma, aliás 9

indispensável mas desvalorizada na ideologia de Jaime Moniz: a educação física. O número de horas semanais em cada disciplina é muito reduzido e o Latim só tem início no 4 ° ano. O Curso Geral, de cinco anos, divide-se em dois ciclos, de três e de dois anos, respectivamente, bifurcando-se em Letras e Ciências: as Letras sem qualquer disciplina científica e as Ciências sem qualquer disciplina literária, à excepção do Inglês ou Alemão. Passava-se assim de um extremo a outro extremo.»; «Os programas relativos à reforma liceal de Eduardo José Coelho, de 29 de Agosto de 1905, são datados de 3 de Novembro desse mesmo ano. Os Regulamentos do Colégio Militar e do ensino agrícola foram, na altura, modificados para os ajustar à reforma liceal de que estamos tratando, respectivamente em 17 de Outubro e 23 de Novembro de 1905. Serão registados todos os incidentes da vida académica do aluno, assiduidade, aproveitamento escolar, classificações, prémios e castigos.»; «Em 31 de Janeiro de 1906 Eduardo José Coelho assina um novo diploma que vem dar um passo, agora decisivo, no arranque do ensino liceal feminino. A «conveniência» de as raparigas prosseguirem estudos para além da instrução primária continuava a ser motivo de discussão. Em 1888, como dissemos, fora publicado um decreto, com assinatura de Luciano de Castro, de 9 de Agosto, que autorizava o Governo a criar escolas femininas do ensino secundário, o que só veio a ser regulamentado quase dois anos depois, em 6 de Março de 1890, por Serpa Pimentel. Tais escolas não tiveram futuro pela oposição que encontraram. «Houve quem supusesse» - lê-se agora no diploma de 1906 - «que a abertura de institutos para instrução secundária das mulheres era criação de viveiros de preciosas ridículas; houve quem fosse incomodar a anatomia e fisiologia comparada dos cérebros dos dois sexos para tirar ilações pró ou contra a capacidade e potência intelectual do sexo feminino e sua aptidão para atingir a alta concepção da ciência.» Considera, porém, o autor do decreto, que «ninguém hoje receia da instituição» e que «estão as sociedades, com afinco, reparando a injustiça de séculos que lhes negou» [às mulheres] «a robusta e sã educação da inteligência». Seria de louvar a abertura de espírito do legislador se, depois de se espraiar em considerações mais líricas do que realistas» não concluísse: «Por tudo isso se preconiza hoje a difusão da instrução secundária pelas mulheres sem o receio de as tentar amais largos empregos dos cursos superiores» [... ]. A «larga visão» do ministro era afinal simples aparência, o que está certo porque, quando as inteligências «mais esclarecidas» de então, como a dele, admitiam o acesso das raparigas ao ensino secundário, era exactamente para que ficassem, no seu natural futuro de esposas e mães, mais agarradas ao lar, pois poderiam ser, desse modo, melhores educadoras dos seus filhos. São estes exactamente os termos em que a questão é posta, no texto legislativo de 1906, com a tranquila convicção de quem sabe o que mais convém: «Sem dúvida que a principal missão do liceu é criar mulheres instruídas e ilustradas suficientemente para poderem sem humilhação do seu próprio espírito comparecer na sociedade culta, conviver com as pessoas ilustradas, ensinar os seus filhos, fazer a escrituração da sua casa ou a do comércio dos seus, compreender os livros e a conversação dos principais idiomas da Europa, sobre a posse de prendas próprias do sexo ou lavores delicados, que ou são recurso de modesta e honrada indústria para o granjeio da vida ou recreio agradável para horas feriadas e entretenimento de ócios.» Para criação do Liceu Feminino, a que se refere o decreto de 1906, foi aproveitada a' Escola Maria Pia, já existente. Foi esta escola fundada pelo Município de Lisboa, em 1885, como estabelecimento de educação geral e profissional destinado a raparigas de origem modesta, passando para a administração do Estado em 1892. Nesta fase a Escola dava também, às raparigas, habilitação para o magistério primário oficial e particular, para o secundário particular e até para o Curso Complementar dos Liceus. Agora, com o novo decreto, passava a Escola a Liceu, com a designação de Liceu Maria Pia, e iria servir de modelo aos futuros Liceus Femininos. Conseguido este passo da ascensão social feminina, poder-se-ia admitir que às raparigas fosse também permitido frequentar os Liceus de rapazes. O legislador já pensara nisso e apressou-se a cortar cerce tal suposição, acrescentando: A fim de evitar a promiscuidade de sexos na aprendizagem escolar e os inconvenientes que essa promiscuidade apresenta, agravada ultimamente com a introdução dos exercícios ginásticos no curso dos liceus», não é permitido que as alunas, até o 5 ° ano, se matriculem nos Liceus masculinos, mas somente no Liceu Maria Pia (35). A maior parte do corpo docente seria do sexo feminino, com exclusividade para determinadas disciplinas admitindose a presença de professores, o que de facto veio a verificar-se. As disciplinas do curso liceal feminino eram as mesmas das dos Liceus masculinos, incluindo Educação Física, mas todas, Dizer até o 5 " ano» não quererá significar que as alunas pudessem matricular-se nós Liceus masculinos, a partir daí, ou seja nos Cursos Complementares. Segundo a filosofia expressa nos textos transcritos nem sequer tal hipótese poderia ter sido considerada. ... .... ... elas com menos horas semanais e, portanto, com programas mais reduzidos. O Latim era facultativo. Aquelas disciplinas acrescentavam-se Moral, Economia, Higiene, Culinária, Pedagogia, Caligrafia, Música e Trabalhos Manuais(,,)» . De algum modo as directivas e programa do Colégio Luso-Italiano vinham de encontro com as propostas avançadas pelos que pretendiam uma aproximação aos padrões europeus e ao mesmo tempo acabava po antecipar algumas das medidas implantadas porteriormente. vii

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, (o introdutor do Romantismo em Portugal), nasceu no Porto, em 1799. A sua família, que oriunda burguesia portuense culta, pelo lado paterno, e da burguesia “brasileira”, pelo lado materno, foi para a Ilha Terceira em 1809, acossado pelas invasões francesas. Foi nessa estada que Garrett - apelido que foi buscar a uma avó paterna e que lhe proporcionava um “estrangeirismo aristocrático” - foi educado na disciplina clássica para uma carreira eclesiástica, pelo tio, bispo de Angra, que o iniciou nas letras e lhe deu uma formação clássica. Escreveu ainda jovem odes e até escreveu um sermão. A sua vocação era, no entanto a de orador e de homem do teatro e não de padre. Volta mais tarde para o continente e, em 1816, inscreve-se na Faculdade de Direito, em Coimbra. Aí adere às ideias liberais e é também aí que demonstra as suas grandes ambições culturais, sobretudo oratórias e literárias, chegando mesmo a provocar escândalo com a publicação, em 1821, do Retrato de Vénus, uma espécie de história da pintura em verso que o levou a tribunal por ser

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considerada ímpia e libertina. Aderiu à Revolução de 1820 e, por isso, foi obrigado a exilar-se no estrangeiro por duas vezes durante as vicissitudes por que atravessou o liberalismo português, de 1823 a 1826, em Inglaterra e França, e de 1828 a 1832, de novo em Inglaterra donde tornaria a Portugal integrado no grupo dos “bravos do Mindelo”. Foi durante o primeiro exílio que se familiarizou com os clássicos ingleses e com as tendências românticas e folclóricas, que despontavam quer em Inglaterra, quer em França. Em 1825 escreve, em França, o poema Camões, que é considerado o marco introdutório da corrente romântica em Portugal. Depois da consolidação do regime liberal, é encarregado do plano de reforma da educação, que não veio a efectivar-se, e da restruturação do teatro português. No seu curriculum, Almeida Garrett tem de tudo um pouco, desde deputado e cronista-mor, poeta e prosador, estudioso e compilador da literatura popular tradicional, par do Reino, diplomata, ministro dos negócios estrangeiros, visconde e até fazedor de moda, na altura em que o governo liberal o faz encarregado de negócios em Bruxelas (1834-36) e começa a dar largas à sua vocação de dandy no convívio dos salões. Faleceu com 55 anos, em Dezembro de 1854.

Cabeceiras de Basto, 2002

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