Breves apontamentos sobre a trajetória da Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música da UFT - Tocantinópolis

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BREVES APONTAMENTOS SOBRE A TRAJETÓRIA DA LEDOC/ARTES E MÚSICA – UFT/TOCANTINÓPOLIS1. Maciel Cover2 Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a trajetória do curso de Licenciatura em Educação do Campo, Códigos e Linguagens, Artes e Música da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Tocantinópolis, e identificar no conjunto das atividades pedagógicas propostas os elementos que indicam o fortalecimento de uma proposta pedagógica que afirma o direito a educação por parte dos camponeses. A metodologia utilizada é de análise documental, observando o Projeto Pedagógico do Curso; análise de experiências pedagógicas desenvolvidas no decorrer do curso, à luz do materialismo histórico dialético, buscando elencar algumas potencialidades e desafios que se apontam no decorrer desta trajetória, como também de observação participante tanto em contato com os sujeitos que desenvolveram a proposta, como também enquanto executor da proposta, após ter chegado para trabalhar como professor no curso. Palavras Chaves: Educação do Campo; Formação de Professores; Movimentos Sociais.

Introdução Os cursos de Licenciatura em Educação do Campo surgem dentro no contexto de afirmação do direito a educação por parte dos povos do campo e são frutos de um processo de luta social e militância desenvolvido por grupos sociais do campo organizados em movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores rurais, organizações não-governamentais, que tem início na década de 1990 com a articulação “Por uma Educação do Campo”. (Molina e Sá, 2011). A partir das ações e demandas desenvolvidas pelo conjunto dos atores sociais do campo, o Ministério da Educação, criou o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO), edital com objetivo de “apoiar a implementação de cursos regulares de licenciatura em educação do campo nas instituições públicas de ensino superior de todo o país” (Ministério da Educação, 2010). Tal programa garantiu a presença desta modalidade de formação de professores em 42 universidades públicas brasileiras. Os cursos têm como objetivo a formação de professores e professoras para atuação em áreas rurais, e que tenham habilidade para a gestão de processos pedagógicos escolares, gestão de processos comunitários e também que tenham especialidade em uma área do conhecimento (Ciências da Natureza, Ciências Agrárias, Códigos e Linguagens e Ciências Humanas). Desde 2014, a Universidade Federal do Tocantins passou a oferecer o curso em dois campis: Tocantinópolis e Arraiais, na área de formação Códigos e Linguagens: Artes e Músicas.

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Trabalho apresentado no VIII Fórum Internacional de Pedagogia, no Grupo de Trabalho: Educação do Campo e Militância, realizado em Imperatriz/MA em 11 de novembro de 2016. Proposta revisada a partir da discussão no GT. 2 Doutor em Ciências Sociais. Professor do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Artes e Música, Universidade Federal do Tocantins – Campus de Tocantinópolis. E-mail: [email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar a trajetória do curso de Licenciatura em Educação do Campo, Códigos e Linguagens, Artes e Música da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Tocantinópolis, e identificar no conjunto das atividades pedagógicas propostas os elementos que indicam o fortalecimento de uma proposta pedagógica que afirma o direito a educação por parte da população dos povos do campo. A metodologia utilizada é de análise documental, observando o Projeto Pedagógico do Curso; análise de experiências pedagógicas desenvolvidas no decorrer do curso, à luz do materialismo histórico dialético, buscando elencar potencialidades e desafios que se apontam no decorrer desta trajetória, como também de observação participante tanto em contato com os sujeitos que desenvolveram a proposta, como também enquanto executor da proposta, após ter chegado para trabalhar como professor no curso. Desenvolvimento O Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Códigos e Linguagens - Artes e Música, da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Tocantinópolis, faz parte desse movimento de formação de profissionais voltados para a atuação no campo. Tem por finalidade formar educadores e educadoras para trabalhar na docência em artes nas escolas do campo para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio, como também para atuar na gestão de processos escolares e comunitários. Teve sua origem a partir de demandas sociais, através do contato de professores da UFT com as organizações sociais e sindicais do campo - principalmente o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura do Estado do Tocantins (FETAET), e do Fórum Estadual de Educação do Campo. – e objetivo desenvolver sua função social atendendo parte da demanda educacional dos povos do campo do Tocantins, auxiliando na formação de professores que atuarão nas escolas do campo e com os povos do campo - quilombolas, ribeirinhos, agricultores familiares, pescadores artesanais, extrativistas, acampados, assentados e reassentados da reforma agrária, entre outros. Desde sua criação, o curso já realizou três entradas através de vestibulares específicos, com a entrada de 96 estudantes em 2014, 103 em 2015 e 87 em 2016. A escolha pela área de Códigos e Linguagens se baseia na necessidade de suprir a oferta de curso de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em todas as áreas de conhecimentos para que as escolas do campo tenham educadores camponeses habilitados nas diversas áreas, e pela ausência de cursos nesta natureza no estado e na Região Norte. A matriz curricular do curso está organizado em três núcleos de conteúdos: Núcleo Comum, que aglutina elementos de ordem geral na formação do educador como desenvolver habilidades de docência, desenvolvimento de linguagem oral e escrita, pesquisa, compreensão da realidade agrária do Brasil e da Região Amazônica; Núcleo Específico, que aglutina conhecimentos referentes ao campo das artes, das artes visuais, artes cênicas e música; e Núcleo de Atividades Complementares, que contempla atividades de extensão, pesquisa, monitorias, estágios, viagens de campo e participação em eventos.

Até o momento o curso desenvolveu três edições da Jornada Educação do Campo e Questões Agrárias; duas edições da Jornada Universitária da Reforma Agrária e uma edição do Congresso Internacional de Educação do Campo da UFT. Tais atividades tem caráter de formação científica e pedagógica e contam com a participação de militantes de movimentos sociais do campo. Conclusão O desenvolvimento das Licenciaturas em Educação do Campo inaugura um novo capítulo na história da educação no Brasil. A recente expansão no ensino superior, que também alcançou o campo é um fértil campo de estudos que oferece temáticas e exige da academia uma agenda de pesquisa específica para compreender este fenômeno e observar os possíveis desdobramentos. A partir desta pesquisa, de observar o PPC do Curso, e de manter contato com os criadores do curso através de observação participante em eventos desenvolvidos e na observação cotidiana das atividades do curso, pude elaborar as seguintes considerações a respeito da trajetória desta Licenciatura. O contato anterior, entre professores do Campus Universitário de Tocantinópolis, com os Movimentos Sociais, através da atuação em projetos de pesquisa e extensão, se apresenta como um ponto positivo que possibilitou a criação de uma ação que fosse voltada para atender uma demanda social. Observando a matriz curricular do curso, nota-se a preocupação de que os estudantes tenham discussões que vão além da questão puramente técnica, mas que envolva-se temas que ampliem o quadro de análise social, cultural e político dos egressos, para que isso subsidie a atuação educativa no meio rural e agrário. Uma parte das atividades pedagógicas se baseia na promoção da interdisciplinaridade, com atividades que perpassam a discussão particular em cada disciplina e com tarefas específicas de criação de produtos textuais e artísticos que congreguem as discussões dos diferentes componentes curriculares que compõem o quadro de cada semestre. Este tipo de atividade é organizado a partir do Seminário Integrador, conforme desenvolvemos em texto anterior (Miranda e Cover, 2016). O curso é oferecido a partir da Pedagogia da Alternância, em que os estudantes realizam etapas de formação intensiva no Campus Universitário, em tempo integral, e posteriormente voltam para suas comunidades, para desenvolver tarefas de pesquisa e observação, buscando integrar o conhecimento que é produzido nas comunidades, com o conhecimento que é produzido na universidade. A proposta pedagógica do curso tem aspectos que apresentam inovações no sentido de garantir o acesso e a permanência dos estudantes de áreas rurais no âmbito universitário. O fato do curso ser organizado na Pedagogia da Alternância, possibilita a participação de trabalhadores rurais e da educação da Região do Bico do Papagaio. Um dos desafios que se apresenta é o acesso ao mercado formal de trabalho nas escolas do campo da região. A primeira questão é referente ao fechamento das escolas do campo, que entre os efeitos negativos diretos está a eliminação de postos de trabalho. A segunda questão, é referente a abertura de concursos públicos, algo que por hora não

tem sido feito no estado do Tocantins. No entanto, prefeituras do estado do Pará e do Maranhão tem realizado concursos públicos e processos de contratação de estudantes do curso de Educação do Campo. Articular a integração destas pautas com a autoorganização dos estudantes se apresenta como um desafio, que depende mais uma vez da militância, para efetivar o direito a educação para os povos do campo.

Referências. Ministério da Educação Procampo http://portal.mec.gov.br/tv-mec. 2010

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Apresentação.

Recuparado

de

Miranda, C. & Cover, M. Universalização de saberes: abordagens interdisciplinares na Licenciatura em Educação do Campo. Congreso Universidad 2016, Havana, Cuba. 2016. Molina, M.C & Sá, L.M. A Licenciatura em Educação do Campo na Universidade de Brasília: Estratégias Político-Pedagógicas na Formação de Educadores do Campo.En.Molina, M.C & Sá L.M. Licenciaturas em Educação do Campo - Registros e reflexões a partir das experiências-piloto (UFMG; UnB; UFBA e UFS) (pp.35-62). Belo Horizonte. Autêntica. 2011. Universidade Federal do Tocantins. Projeto Político Pedagógico do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Códigos e Linguagens - Artes e Música. 2014.

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