BRICS: A evolução do acrônimo a um Bloco Institucional Independente

June 14, 2017 | Autor: A. Magalhães Barata | Categoria: BRICS
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Dados disponíveis em: http://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2012/01/daily-chart-10
Memorandum of Understanding on Cooperation with the New Development Bank disponível em: http://brics.itamaraty.gov.br/images/NDB_memorandum_eng.pdf
Tradução minha. "Taking into consideration close economic cooperation between the Federative Republic of Brazil, the Republic of India, the People's Republic of China, the Russian Federation and the Republic of South Africa, as well as the Agreement on the New Development Bank signed by the BRICS governments on July 15, 2014 in Fortaleza, Brazil; Acknowledging the strategic relevance of such cooperation for sustainable development and inclusive economic growth; Given high aspiration towards future economic and investment cooperation within BRICS; Emphasizing the willingness of the Parties to form a dialogue and to explore areas of cooperation with the New Development Bank on matters of mutual interest." Disponível em: http://brics.itamaraty.gov.br/images/NDB_memorandum_eng.pdf

/swap/ substantivo masculino. ECON. Concessão de empréstimos recíprocos entre bancos, em moedas diferentes e com taxas de cambio idênticas, freq.us. para antecipar recebimentos em divisas estrangeiras.
Informação do Tratado para o Estabelecimento do Arranjo Contingente de Reservas dos BRICS disponível em: http://brics.itamaraty.gov.br/images/ACR%20portugues.pdf
Neologismo utilizado pelo economista e ex-funcionário do Banco Mundial Peter Koenig.
Tradução minha. "The need for other alternatives must be seen as a complementary to current structures and not as a parallel and competitive "block" against the global financial system.(…)BRICS Development Bank President Kundapur V. Kamath has been clear about this point: "There will be no competition at all. The market is big enough for all of us." "It will require a lot of cooperation and collaboration with other partners. These partners could be Asian Development Bank (ADB) and other multilateral institutions." (INTRONI, 2015)


Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Relações Internacionais
Mestrado em Relações Internacionais





BRICS: A evolução do acrônimo a um Bloco Institucional Independente



Aluna: Ana Laura Magalhães Barata
Professor: Niemeyer Almeida Filho







Uberlândia
2015
Introdução:
Em 2001 o chefe economista do banco internacional Goldman Sachs, Jim O'Neil, criou um acrônimo para relacionar os países com maior potencial de crescimento econômico pautado em dados significativos de tamanho populacional, território, e produção nacional. Assim nascia o BRIC, Brasil, Rússia, Índia e China como as pupilas do cenário internacional de países emergentes. Dez anos depois, a África do Sul é inserida no conjunto de países, que passou da fase abstrata para um aparato concreto de relacionamento coordenado ao longo dos anos, tornando-se assim uma entidade política.
Originalmente marginalizados a uma reunião do G20 em 2008 em um cenário de crise financeira internacional, os países do acrônimo passaram a se encontrar anualmente para coordenar interesses não só relacionados a temas econômicos, mas de importância política, social, e cultural que contribuíssem para seu crescimento em conjunto. Embora exista certo foco no cunho econômico voltado para o desenvolvimento nacional de cada um deles, não há uma agenda única, e os assuntos giram em torno de governança global, paz, estabilidade e segurança, gerando projetos multilaterais de cooperação.
De um acrônimo a um ator internacional cada vez mais institucionalizado, os BRICS avançaram em importância e influência, desafiando antigas potências e seus interesses ao mesmo tempo em que combatem diferenças internas de seus componentes. Alinhados às mudanças no cenário internacional, viu-se a necessidade de entidades que regulassem o relacionamento entre eles, de modo a vir nascer instituições como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), e o Arranjo de Contingência de Reservas (ACR), por exemplo.
Atualmente, a problematização do acrônimo se dá com a disparidade de desenvolvimento dos países entre si, o que interfere, inclusive, na maneira como eles articulam seus interesses convergentes ou divergentes com a principal potência econômica, os Estados Unidos da América. Além disso, como são feitas as articulações interestatais, principalmente no âmbito de comercialização e troca de investimentos, na tentativa de demonstrar a concentração do fluxo de informações entre o Brasil e os outros países, e o nível de influência que eles têm gerado no Cenário Internacional quando agem em conjunto.
A institucionalização dos BRICS
Um conjunto de países formado por características discrepantes em fatores culturais, sociais, e econômicos tem maior propensão a se inclinar para divergências de interesses. Não é o que acontece com o BRICS. Ao perceberem que ao agirem juntos possuem maior relevância no cenário internacional, passaram a coordenar suas políticas de comportamento para atingir objetivos que isoladamente eram mais difíceis. Embora sejam países emergentes com marcas heterogêneas em termos de estrutura e desempenho econômicos, além de diferentes regimes políticos, cada qual com seus problemas domésticos (RIOS, 2012), na primeira cúpula em que se reuniram ainda na ausência da África do Sul, foi perceptível a quantidade de fatores coincidentes com que os países se depararam, como por exemplo, o interesse no fortalecimento da segurança internacional, a necessidade de asseguração de oportunidades para o desenvolvimento igualitário, a fortificação do multilateralismo com a ONU no papel central, a necessidade de uma modificação estrutural nas organizações internacionais para que melhorem a representatividade dos países menos desenvolvidos, o apoio à solução de conflitos por meios diplomáticos, o favorecimento ao desarmamento e condenação do terrorismo, além do reconhecimento da importância da cooperação internacional, entre outros. Enfim, percebe-se que a transição da posição de acrônimo para uma entidade político-diplomática se deu pelo próprio interesse dos países em coordenarem seus posicionamentos de maneira a se fazerem ouvidos. É interessante destacar a ênfase em assuntos fora da esfera econômica, o que legitima ainda mais a relevância dos integrantes do grupo em assuntos de cunho político.
Ademais, atualmente os países do BRICS representam 43,03% da população mundial, 18% do Produto Interno Bruto (PIB) nominal mundial (25% do PIB per capta), 25,91% da área terrestre do planeta e 46.3% do crescimento econômico global de 2000 a 2008. (REIS, 2012) . China, Brasil e Índia são os países mais populosos e, portanto, com amplos mercados internos, onde o primeiro se vê claramente distante dos outros dois em termos de desenvolvimento econômico, principalmente porque possui uma base de produção manufatureira hipercompetitiva em expansão, além de aderir a um modelo de desenvolvimento baseado em investimentos e exportações. O Brasil, por sua vez, é um país majoritariamente agrário exportador focado em commodities minerais e agrícolas, enquanto a Índia possui um enorme parque produtor de serviços, principalmente na área de Tecnologia de Informação. Bilateralmente, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil devido à sua demanda por commodities minerais e agrícolas em troca da comercialização de produtos manufaturados chineses. Com a Índia, o Brasil possui uma pauta de comercialização pouco diversificada, e a aproximação entre os países se dá em assuntos de cunho essencialmente político, principalmente por possuírem posturas semelhantes em relação à alocação dos países em desenvolvimento em foros multilaterais. Quanto ao relacionamento bilateral entre a China e Índia, fatores históricos cooperam para a hostilidade entre ambos, com foco em disputas territoriais e de mercado, o que faz com que a Índia adote medidas protecionistas no nível doméstico. Ainda assim, existe uma troca comercial onde a Índia exporta para a China produtos primários e semimanufaturados enquanto importa produtos industrializados com alto valor agregado. A concentração econômica nestes três países traz uma pauta adjacente de discussão denominada BIC. A Rússia e a África do Sul pouco se enquadram no grupo de economias emergentes e com crescente poder de influência na agenda econômica global (RIOS, 2012). O primeiro é dependente de exportações de petróleo e seus derivados, e tem enfrentado problemas com a queda do preço da commoditie, enquanto o segundo não tem projeção internacional suficiente pautada na comercialização dos minérios que formam a sua principal cadeira produtiva. Entretanto, a importância dos dois países no BRICS se dá de maneira a enfatizar o relacionamento comercial quando contabilizadas ao todo, afinal, há mercado para ser expandido que beneficie todos eles em suas particularidades quando atuam de maneira a se complementarem entre si. Isso faz co que o caráter estratégico do agrupamento apresente um volume de comércio significativo no Cenário Internacional.
Paralelamente aos BRICS existe o IBAS, um Fórum de Diálogo que engloba Índia, Brasil, e África do Sul, cujo intuito é estabelecer uma coordenação política em prol de redefinir suas posições no Sistema Internacional na tentativa de reconstruir uma nova ordem pautada em preceitos de igualdade, justiça e democracia. A principal característica desta coalizão é a convergência de parcerias na promulgação de projetos de cooperação Sul-Sul com trocas estratégicas de conhecimento na promoção do desenvolvimento de seus componentes em áreas como agricultura, defesa, energia, educação, entre outros. É importante destacar que BRICS e IBAS são agrupamentos que conectam interesses convergentes basicamente entre os mesmos países, mas representam finalidades distintas. Especificamente neste artigo não será aprofundada uma pauta de discussão sobre o IBAS, mas a problematização do BRICS por possuir a característica da institucionalização.
O termo institucionalização é utilizado em justificativa do nascimento de organismos reais que devem exercer o papel de coordenar o relacionamento entre os cinco países que formam o BRICS. Às margens de eventos multilaterais, os Ministros do Comércio de cada um destes países se relacionam entre si para debater estratégias que os beneficie em conjunto. Eles são assistidos pelo Grupo de Contato para Questões Econômicas e Comerciais (CGETI em inglês), que produz o Quadro de Cooperação sobre Comércio e Investimentos tratando de assuntos como inovação, direitos de propriedade e cooperação, além de temas recorrentes a pequenas e médias empresas. Não obstante, existe o Fórum Empresarial dos BRICS e o Conselho Empresarial dos BRICS que buscam por novas formas de negócios e investimentos na esfera produtiva privada. (LIMA, 2015). Dentre as diversas Cúpulas que reuniram os membros entre si, a VI que aconteceu em julho de 2014 na cidade de Fortaleza no Ceará, foi a que ratificou a criação dos dois instrumentos mais importantes do BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o Arranjo Contingente de Reservas (ACR).
O Novo Banco de Desenvolvimento teve o seu capital inicial autorizado em US$100 bilhões com contribuições iguais dos cinco países. O intuito do banco é financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável tanto no setor público quanto privado dos países do acrônimo e de demais economias emergentes. Além disso, está aberto à participação de outras nações, inclusive desenvolvidas, no papel de tomadores de empréstimos. O Novo Banco de Desenvolvimento surgiu através de uma iniciativa dos membros do BRICS e será a primeira instituição formal do grupo. Sua sede será em Xangai e o primeiro presidente será de nacionalidade indiana, a primeira presidência do Conselho de Governadores será da Rússia, e a primeira presidência do Conselho Diretor será brasileira. À África do Sul caberá ser a sede do primeiro escritório regional (Ibid, 2015).
De acordo com o Memorando de Entendimento de Cooperação pelo Novo Banco de Desenvolvimento:
"Levando em consideração a cooperação econômica entre a República Federativa do Brasil, a República da Índia, a República Popular da China, a Federação Russa e a República da África do Sul, o Acordo sobre o Novo Banco de Desenvolvimento é assinado pelos governantes dos BRICS no dia 15 de Julho, 2014 em Fortaleza, Brasil; com o conhecimento da relevância estratégica de cooperações deste tipo para o desenvolvimento sustentável e crescimento econômico; dadas as aspirações em busca de uma cooperação econômica e de investimentos entre os BRICS; enfatizando a vontade das partes de formar um diálogo e explorar áreas de cooperação com o Novo Banco de Desenvolvimento em assuntos de interesse mútuo (...)"

As atividades do Novo Banco de Desenvolvimento são complementares às iniciativas do Banco Mundial em desenvolver as economias emergentes. Não obstante, o NBD se associará a outras iniciativas regionais semelhantes como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporación Andina de Fomento (CAF), o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Islâmico de Desenvolvimento, e ainda, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) (Ibid, 2015). Para ser legítimo, é necessário que o Novo Banco de Desenvolvimento se baseie em critérios democráticos sobre a utilização dos recursos públicos. (TAUTZ, 2014). Isto demonstra o caráter dinâmico da instituição, além da base difusa de captação de recursos para atingir seu objetivo de desenvolvimento em grande escala com credibilidade. Assim como o NBD complementará os interesses do Banco Mundial, o ACR terá papel de complementar as atividades do FMI. (LIMA, 2015).
O Arranjo Contingente de Reservas é um mecanismo cujo intuito é promover o apoio mútuo entre os países do BRICS em cenário de possíveis crises externas, onde os membros poderão requisitar empréstimos através de operações de swap. A China contribuirá com US$41 bilhões, Brasil, Rússia e China com US$ 18 bilhões cada, e África do Sul com US$ 5 bilhões, e a utilização dos recursos se limita aos membros do agrupamento. Cada país pode adquirir o recurso de acordo com o limite máximo de seu compromisso assumido multiplicado por valores distintos. O multiplicador da China é de 0,5, o do Brasil, da Rússia e da China de 1, e o da África do Sul de 2. Caso seja necessária a utilização deste Arranjo, o FMI deve estar de acordo, do contrário, apenas 30% do valor indicado poderá ser empregado. De acordo com o Tratado para o Estabelecimento do Arranjo Contingente de Reservas dos BRICS:
"Artigo 1 – Objetivo: O ACR consiste em uma plataforma de apoio, por intermédio de instrumentos preventivo e de liquidez, em resposta a pressões de curto prazo, reais ou potenciais, sobre o balanço de pagamentos."
Percebe-se a complexidade do relacionamento intra-BRICS na esfera financeira ao canalizarem recursos mútuos para um mesmo problema. Entretanto, é interessante destacar que este relacionamento não se dá somente através de agentes reguladores, mas bilateralmente entre si, principalmente na comercialização de algumas mercadorias.
O Fluxo de Comércio entre o Brasil e os demais países do arranjo:
O comércio internacional é caracterizado pela troca de mercadorias, bens e serviços entre os países. Especificamente entre os componentes do BRICS, este fator é extremamente enfatizado e floresce em função da complementaridade entre as economias (Ibid, 2015). Num espaço de tempo entre dez anos, são analisados dados referentes ao ano de 2000 e 2010 na prerrogativa de estabelecer um padrão de crescimento econômico entre os cinco países:
Quadro 1 – BRICS: Participação % no PIB Mundial:
 
2000
2010
Brasil
4,4
7,6
Russia
10
4,5
India
3,8
10,3
China
8,4
10,6
África do Sul
4,2
3
Mundo
4,3
4,1
Fonte: World Bank, World Development Indicators
Gráfico 1: BRICS: Participação no PIB Mundial:
Fonte: World Bank, World Development Indicators
Percebe-se que no intervalo de dez anos as cinco pupilas da economia mundial desempenharam um papel interessante. Com exceção da Rússia e da África do sul, o crescimento dos demais países foram positivos. Entretanto, os dados do próprio PIB mundial são decrescentes neste mesmo período de tempo, o que pode justificar a queda do índice do país russo e do país africano. Além disso, a conjuntura das economias individuais, afinal, a principal característica econômica da Rússia é pautada na exploração de petróleo e gás natural, e o preço do barril de petróleo sofreu significativa desvalorização no cenário internacional. Enquanto isso, na África do Sul, dentre os minérios que compõe a sua pauta de exportação, é o maior produtor de platina do planeta, um minério valioso, mas sem alta demanda internacional que justifique seu crescimento.
Esclarecendo os índices positivos do Brasil, Índia, e China, devem-se analisar fatores domésticos além de características comerciais. O Brasil é majoritariamente agro exportador e foi favorecido pela alta demanda internacional dos bens que exporta. Não obstante, o cenário doméstico destes dez anos foi caracterizado por políticas expansionistas fiscais do governo em questão, o que contribuiu para o mercado consumidor interno. Este fator é especialmente relevante também para a China e para Índia que possuem os maiores índices demográficos do planeta, e, além disso, a especialização da Índia em fornecer bens do terceiro setor e se especializar em tecnologia, enquanto a China se mantém o maior parceiro comercial da maioria dos países do mundo com a quantidade de produtos manufaturados que consegue ofertar. Ademais, o protagonismo comercial chinês acontece inclusive dentro do acrônimo, sendo o centro deste novo centro. (POCHMANN, 2012)
A comercialização entre os países acontece naturalmente, sem a necessidade de acordos comerciais, embora os governos tenham procurado facilitar o relacionamento mutuamente. É possível perceber com os quadros abaixo o comportamento de cada um dos cinco países em índices de importação e exportação. No primeiro, os números são majoritariamente positivos, com exceção do Brasil e da Rússia, o que significa que estes dois países diminuíram a quantidade de bens importados em comparação com seus respectivos índices de produção nacional, o PIB. É interessante analisar que estes dois países também sofreram quedas em seus índices de exportação, em conjunto com a África do Sul. Considerando os três países majoritariamente exportadores de commodities, pode-se concluir que neste intervalo de dez anos a demanda internacional pelos produtos produzidos por estes países teve comportamento decrescente.
Quadro 2 - BRICS: Importação de bens e serviços % do PIB:
 
2000
2010
Brasil
12,4
11,8
Russia
24
21,1
India
13,7
26,3
China
18,7
23,2
África do Sul
24,3
27,4
Mundo
24,8
27,9
Fonte: World Bank, World Development Indicators
Quadro 3 - BRICS: Exportação de bens e serviços % do PIB:
 
2000
2010
Brasil
12,9
11,7
Russia
9,5
7
India
18,2
19,6
China
22,5
27,2
África do Sul
8,3
7,7
Mundo
12,3
13,4
Fonte: World Bank, World Development Indicators
Conforme pode ser observado no Quadro 2; entre Brasil, Rússia, e África do Sul, o índice de PIB brasileiro é o único crescente. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) trabalham em projetos de cooperação que beneficie os setores estratégicos da economia brasileira na relação intra-BRICS.
Bilateralmente, o Brasil se relaciona com cada um deles de maneira a complementar sua demanda e oferta de produtos na prerrogativa de contribuir também com o desenvolvimento dos demais países do agrupamento. Com a Rússia, os principais produtos da pauta de exportação brasileira são carne e açúcar, enquanto importam artigos de média tecnologia. Com a Índia, a comercialização é intensa, mas principalmente na importação dos bens ofertados pelo país asiático no setor de tecnologia e serviços, deixando o saldo comercial do Brasil deficitário nesta parceria. Sobre a África do Sul, a comercialização bilateral cresceu em termos absolutos, mas não o suficiente para ser significante na pauta comercial brasileira. As maiorias dos insumos exportados para o país africano são de média tecnologia, além de manufaturas intensivas e bens naturais, nesta ordem hierárquica de volume, enquanto as importações são mais homogêneas em quantidade e se resumam na mesma cesta de produtos. Com a China o cenário é diferente. O país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil e o maior destino das exportações concentradas em produtos básicos como minérios, oleaginosas e combustíveis minerais. Em contrapartida, o crescimento das importações é pautado em bens tecnológicos. (Ibid, 2012)
Além da comercialização bilateral, existe o fluxo de Investimento Direto Externo (IDE), que:
"(...) a participação dos fluxos oriundos dos BRICS sobre o total de cada país (fluxo intra-BRICS) é pouco significativo se observados pelos dados da metodologia do registro do Banco Central de cada país, apesar de o grupo ter receptado mais de 20% dos fluxos mundiais de IDE e contribuído com quase 14% dos fluxos, ambos em 2009. Essa baixa densidade de IDE intragrupo, no entanto, pode estar subestimada. Como muitos dos investimentos são feitos em praças externas às jurisdições dos países, em paraísos fiscais, parte importante desse fluxo deve ser considerada por dados extraoficiais.(...)" (Ibid, 2012)

Entre Brasil e Rússia, Brasil e Índia, e Brasil e África do Sul, o fluxo de investimentos é insignificante. Entretanto, com o principal parceiro comercial, a China, os índices não só são relevantes como difusos. Os investimentos chineses são destinados para operações de petróleo e exploração do pré sal, além do setor siderúrgico, agrário, e mineral. No sentido inverso, os investimentos brasileiros são direcionados para setores empresariais estratégicos para o beneficiamento da exportação de seus próprios produtos, embora a burocracia chinesa seja bastante restrita e regulada pelo governo. (ACCIOLY, PINTO, CINTRA, 2011)
Seja comercialmente ou no setor de investimentos, as trocas de bens e serviços acontecem na busca do desenvolvimento econômico. Este, por sua vez, pode ser analisado numericamente através de índices quantitativos como os já citados anteriormente: Produto Interno Bruto, e Importação e Exportação de bens, por exemplo. O termo desenvolvimento, entretanto, é bastante controverso em ser caracterizado. Quando inserido na lógica capitalista, exige o crescimento das forças produtivas e se qualifica na idéia central de se extrair o progresso, este visto como melhoria da vida social. (FILHO, 2015)
A idéia de melhoria da vida social pode ser analisada também por meio de dados quantitativos quando considerada através das prerrogativas do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Conceitualmente, este índice é uma medida resumida do progresso ao longo prazo pautado nas dimensões de renda, educação e saúde, variando numa escala de 0 a 1 onde quanto mais próximo de 1 melhor sua qualificação.

Quadro 4: BRICS índice de Desenvolvimento Humano (IDH):
 
2000
2010
Brasil
0,757
0,699
Russia
0,781
0,719
India
0,577
0,519
China
0,888
0,862
Africa do Sul
0,695
0,597
Fonte: http://www.undp.org/hdro/indicators.html

Todos os índices de IDH dos países do acrônimo são negativos no espaço entre os dez anos de análise. Entretanto, de acordo com os dados do Quadro 1 percebe-se que somente a Rússia e a África do Sul possuem índices decrescentes de Produto Interno Bruto. Pode-se concluir, portanto, que o crescimento econômico não está exclusivamente conectado com a melhoria social, assim como desenvolvimento não é sinônimo de riqueza. (Arrighi et al., 2003) Em relação aos BRICS, deve-se haver uma coordenação de políticas diplomáticas caso os cinco países queiram se destacar não só na esfera econômica, mas também na esfera política ao poder demonstrar dados empíricos de melhorias no setor social.

BRICS e a hegemonia americana
A complexidade dos níveis de desenvolvimento de cada país é refletida na natureza de cada política nacional, tornando complicado criar um padrão de decisões quando se tem tamanha diversidade entre as economias. (FILHO, 2015). Ao se tratar de BRICS este entendimento é compreensível, afinal, não é simples coordenar interesses entre países diferentes, mesmo que eles compartilhem do mesmo objetivo de crescimento econômico. A institucionalização do agrupamento, entretanto, vem com o intuito de tornar possível esta coordenação, principalmente para que os cinco países do acrônimo tenham mais voz ativa no cenário internacional de maneira a fazer exercer suas vontades. A criação dos arranjos econômicos NBD e ACR demonstra a capacidade crescente de posicionamento dos BRICS ao articularem suas demandas internas na agenda internacional, mais do que conseguem ao tentar agir individualmente, ou seja, eles aumentam o seu poder de barganha perante a atual ordem internacional.
Uma característica interessante dos BRICS é o seu poder de influência regional, isto é, cada um dos membros possui um peso relativamente importante em sua área geográfica de maneira a fazer valer os interesses também de seus vizinhos. Ao agir no intuito de se desenvolver, eles modificam a balança de poder pautada na Divisão Internacional do Trabalho entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O surgimento do NBD, por exemplo, facilita o relacionamento comercial entre Brasil e China excluindo os Estados Unidos da jogada, e inclusive o dólar. Esta atitude se dá para proteger estes intercâmbios de troca das flutuações da moeda estadunidense. (GUDARZI, 2013). Desde a criação do FMI e do Banco Mundial após a Conferência de Bretton Woods em 1944 e com a estipulação do lastro dólar-ouro (e ainda no lastro dólar-dólar) as principais comercializações internacionais são feitas através da moeda norte americana. O desafio proposto por dois países não desenvolvidos em fazer trocas comerciais de outra maneira, e ainda, através de uma instituição internacional de cunho financeiro, criada por eles, é um acontecimento relevante para a Comunidade Internacional. A atual conjuntura favoreceu o momento para o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento, mas dessa vez, criado pelos próprios países que buscam este objetivo. Este movimento contra-hegemônico na esfera financeira serve como instrumento de pressão para que mudanças ocorram nas grandes organizações financeiras internacionais. O Banco Mundial, por exemplo, que vê o NBD como complementar à suas atividades de cooperação para o desenvolvimento de países emergentes pode estar se deparando, na verdade, com um concorrente, e não um parceiro. Ainda é cedo para se chegar a conclusões sobre este acontecimento, mas sem dúvidas um movimento de desdolarização foi iniciado.
Em contrapartida a este ponto de vista:
"A necessidade de outras alternativas devem ser vistas como complementares às estruturas atuais e não como paralelas ou competitivas contra o sistema financeiro atual.(...) O presidente do Banco de Desenvolvimento dos BRICS Kundapur V. Kamath foi claro neste ponto: "Não vai haver competição. O mercado é grande o suficiente para todos nós. Será necessária muita cooperação e colaboração com outros parceiros. "Estes parceiros podem ser o Banco Asiático de Desenvolvimento e outras instituições multilaterais"."
Independente da afirmação se as novas instituições financeiras criadas pelos países do BRICS são fortes o suficiente para abalar as organizações financeiras internacionais que regem a atual ordem econômica, não se pode negar a relevância deste acontecimento. A criação de um Banco cujo objetivo é o mesmo do Banco Mundial e o surgimento de um Arranjo Contingente de Reservas que funciona como o FMI não são acontecimentos desconectados do restante do mundo. A hegemonia norte americana, entretanto, ainda é sustentada por outros pilares ainda distantes de serem abatidos pelos países emergentes, como por exemplo, sua forte base bélica, seu poder militar, seus índices econômicos e sua solidez política.
Considerações Finais
É fato que os BRICS estão cada vez mais próximos de se tornarem um bloco econômico no Sistema Internacional. Além de representarem os maiores países emergentes (em dados de PIB), se relacionam entre si de maneira a desafiar a atual ordem internacional. O surgimento do Novo Banco de Desenvolvimento e o do Arranjo Contingente de Reservas é um marco histórico na transição do acrônimo para uma institucionalização relevante. Percebe-se que mesmo sendo composta por países diferentes e em níveis econômicos diferentes, a complexidade com que os integrantes do agrupamento se relacionam possibilitou o surgimento de entidades coordenadoras de interesses. Dessa forma, eles conseguem interagir em conjunto e conquistam cada vez mais espaço para suas demandas. Este comportamento também torna possível a abertura de espaço para que outros países em desenvolvimento se relacionem com parceiros de interesses semelhantes para aumentarem a visibilidade de suas necessidades.
O Brasil, por exemplo, ao se aliar aos países de objetivos similares aumenta também o seu poder regional. Além disso, fazer parte do agrupamento possibilita a complementaridade de seus setores econômicos com os demais componentes do grupo, favorecendo ainda, seus índices financeiros. Analisando além desta esfera, o poder de barganha no núcleo político também é enfatizado, afinal, ao se tornar forte economicamente, aumenta-se a dissuasão no cenário internacional dando maior voz ativa aos seus interesses perante aos países desenvolvidos em Conferências Mundiais.
De qualquer forma, a coordenação política e econômica que se cria entre países ao longo da evolução da história torna possível a criação de mecanismos diferentes. Se aliar a parceiros de interesses semelhantes é uma estratégia antiga para se atingir objetivos, sejam estes na esfera política, econômica, ou social. É interessante demonstrar que o surgimento de novas coalizões se dá através da própria dinâmica da evolução da governança global. A trajetória dos BRICS como um ator unitário ainda está em estágio inicial, e cabe apenas ao tempo prever a consistência das atitudes deste agrupamento na solidificação do seu papel na história. Por enquanto não se pode concluir se sua existência terá sido efêmera ou se terá relevância suficiente para desbancar, inclusive, a atual hegemonia mundial.




Referências Bibliográficas:
ACCIOLY, L; PINTO, E; CINTRA, M. A. A. As relações bilaterais Brasil-China: a ascenção da china no sistema mundial e os desafios para o Brasil. Brasília: IPE, 2011. Disponivel em: HTTP://www.ipea.gov.br/ último acesso em 17/12/2015
ARRIGHI, Giovanni, SILVER, Beverly; BREWER, Benjamin. Industrial Convergence, Globalization, and the Persistence of the North-South Divide. Studies in Comparative International Development, Spring 2003. Vol 38, n. 1
FILHO, Niemeyer Almeida. Grau de desenvolvimento e políticas econômicas neoliberais, 2015
GUDARZI, Rasul. Banco do BRICS: duro golpe nos EUA, FMI, e Banco Mundial. FETRACONSPAR: Federação dos Trabalhadores nas Industrias da Construção e do Mobiliario do Estado do Paraná. Blog Resistência. Disponível em:
http://fetraconspar.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=22713:banco-do-brics-duro-golpe-nos-eua-fmi-e-banco-mundial&catid=223:internacional&Itemid=83 Último acesso em 19/12/2015
INTROINI, Mar. BRICS: counterbalance or Anti-Americanism? Academia.edu. Disponível em: https://www.academia.edu/19517231/BRICS_counterbalance_or_Anti-americanism Visto por último em 20/12/2015
REIS, Maria Edileuza Fontele. Brics: surgimento e evolução. BRICS. 2. Cooperação econômica internacional. 3. Artigos, I, Fundação Alexandre de Gusmão. Impresso no Brasil, 2012. P. 31. Disponível em:
http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/OBrasileosBrics.pdf#page=311
RIOS, Sandra Polónia. O que há em comum na agenda econômica dos BRICS? BRICS. 2. Cooperação econômica internacional. 3. Artigos, I, Fundação Alexandre de Gusmão. Impresso no Brasil, 2012. P. 235. Disponível em:
http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/OBrasileosBrics.pdf#page=311
LIMA, José Alfredo Graça. VI Cúpula dos BRICS: Perspectivas e Resultados. Cadernos de Política Exterior/ Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI), v.1, n. 1 (mar 2015) pg. 11 Brasília, FUNAG, 2015
Memorandum of Understanding on Cooperation with the New Development Bank disponível em: http://brics.itamaraty.gov.br/images/NDB_memorandum_eng.pdf Último acesso em 17/12/2015
POCHMANN, Marcio. Relações comerciais e de investimentos do Brasil com os demais países dos BRICS. Brasil, os BRICS, e a agenda internacional. Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. Disponível em:
http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/OBrasileosBrics.pdf#page=101 último acesso em 17/12/2015
Tratado para o Estabelecimento do Arranjo Contingente de Reservas dos BRICS disponível em: http://brics.itamaraty.gov.br/images/ACR%20portugues.pdf último acesso em 17/12/2015
TAUTZ, Carlos. Banco dos BRICS: aprofundamento do modelo economic e adesao ao sistema financeiro internacional. Tensões Mund. Fortaleza, v.10, n. 18, 19, p. 465-472, 2014. Disponível em: http://www.tensoesmundiais.net/index.php/tm/article/viewFile/360/399 Último acesso em 17/12/2015



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