Caderno de Programação e Resumos da III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM. Dissidências e acusações político-religiosas: diálogos entre a Antiguidade e outras temporalidades

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Caderno de Programação e Resumos da III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM Santa Maria, junho de 2016. Publicação interna do Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico da UFSM - GEMAM/UFSM Capa: Luana da Silva de Souza Edição/Diagramação: Semíramis Corsi Silva

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Comissão organizadora da III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM: Coordenação geral: Profa. Dra. Semíramis Corsi Silva (UFSM) Colaboração: Prof. Alex Rogério Silva (PPGH-UNESP/Franca e GEMAM/UFSM) Comissão discente: Angélica Cicconet Anita Sifuentes Camila da Cruz Dandara Perlin Débora Faccin Fábio Pimentel Gabriel Freitas Reis Gabriela Schmitt Henrique Hamester Pause Jayme Krum João Vitor Sausen Jordana Pozzebon Luana da Silva de Souza Luíza Batú Rubin Pedro Vieira Marques Renan do Amarante Rodrigo dos Santos Oliveira Comitê científico: Prof. Dr. Anderson Martins Esteves (UFRJ) Prof. Me. Carlos Eduardo da Costa Campos (PPGH-UERJ e GEMAM/UFSM) Profa. Dra. Carolina Kesser Barcellos Dias (PPGH-UFPel e GEMAM/UFSM) Prof. Me. Daniel de Figueiredo (PPGH-UNESP/Franca e GEMAM/UFSM)

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APRESENTAÇÃO A III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM - Dissidências e acusações político-religiosas: diálogos entre a Antiguidade e outras temporalidades é promovida pelo Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico da UFSM GEMAM/UFSM, organizada pela coordenadora do grupo, Profa. Dra. Semíramis Corsi Silva (Departamento de História), e por alunos e alunas do curso de História da UFSM, com a colaboração do Prof. Alex Rogério Silva (PPGH-UNESP/Franca e GEMAM/UFSM). Nossa Jornada tem por objetivo debater um tema de fundamental importância aos estudantes de História: as dissidências e acusações políticoreligiosas em sociedades da chamada Antiguidade, mas também estabelecendo um diálogo com outras temporalidades, como o Medievo, a Época Moderna e o século XIX. Na atualidade, tem sido muito veiculado pela imprensa notícias que remetem aos conflitos que têm por base divergências religiosas que se refletem no campo político e vice-versa, como os que ocorrem na região da Síria, entre as fragmentações islâmicas xiitas e sunitas. Tais conflitos evidenciam, assim, que mesmo no século XXI, a religião continua atrelada aos aspectos políticos, sendo ainda mola propulsora de discordâncias até mesmo dentro de seu próprio seio. No entanto, tais conflitos não são algo apenas da contemporaneidade. Verificamos que em todos os períodos históricos há movimentos político-religiosos caracterizados como dissidentes daqueles que até então eram dominantes, e consequentemente seus desdobramentos se mostraram muitas vezes conflituosos. O próprio cristianismo, hoje em forma do catolicismo tido como religião oficial em muitos países, foi um dia uma dissidência religiosa no seio do judaísmo, um problema político-religioso para a ordem do Império Romano e motivo de Caderno de Programação e Resumos da III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM 20 a 23 de junho de 2016| 3

discórdias e dissidências em sua própria teologia e estrutura no contexto da Antiguidade Tardia. Quando se pensa acerca de conflitos em nome de uma fé e que abarca a ordem política, um dos temas mais recorrentes é a Inquisição, principalmente a da Época Moderna. Na teoria, um tribunal que tinha por escopo a manutenção da fé cristã extirpando as heresias1, mas ao mesmo tempo, faz parte de uma conjuntura em que os reis, dentro das possibilidades, agiam em prol de seus interesses e os do reino que governavam. Outro tema importante a se pensar quando tratamos de dissidências, são as práticas consideradas lícitas e as consideradas oficialmente pelos governantes e pelas leis como ilícitas, é a questão da magia, por exemplo. Mas, o que é magia? Como as práticas de magia estiveram e estão presentes em práticas consideradas lícitas e como, da mesma forma, foram consideradas ilícitas por sociedades como a do Império Romano, por exemplo? Quais eram as práticas lícitas no Império Romano? O que foi o culto imperial, elemento de identidade do Império, prática oficial do Estado e altamente importante para os romanos? E como os estereótipos da prática de magia estão ligados a questões de gênero e poder e, ainda, como se perpetuaram de sociedades como a grega clássica até o século XIX no sul do Brasil? Desse modo, estudar o que é magia, suas relações com a religião, as fragmentações de uma mesma concepção religiosa no decorrer do espaço/tempo e sua relação com o poder faz-se necessário a qualquer estudante de História, de modo a perceber como as religiões se portaram com relação à sociabilidade, mas Grayce Souza salienta, a partir da passagem de Luiz Mott em Sodomia não é heresia: dissidência moral e contra cultura, que Heresia, no “sentido eclesiástico entende-se por um erro fundamental em matéria de religião, no qual se persiste com pertinácia. Objetivamente, é uma proposição contra um artigo de fé. Subjetivamente é um erro pertinente de um cristão contra uma verdade de fé divina e católica. O erro se encontra na inteligência e a pertinácia da vontade.” Já Ronaldo Vainfas em Inquisição como Fábrica de Hereges: os sodomitas foram exceção? apresenta uma definição histórica de heresia, ensejando que tal conceito dentro do próprio domínio teológico conhece subdivisões e comportou mediações na qual estimulou o exame de seus significados no decorrer do tempo em um dado espaço, conforme a conveniência da ação inquisitorial. Segundo as palavras de Vainfas: “Não por acaso na história das Inquisições, quer as medievais, quer as modernas, foi possível com um forte amparo teológico, conforme a conveniência da instituição inquisitorial e o contexto histórico, priorizar este ou aquele delito, considerá-lo mais ou menos heretical, pois a orientação teológica era suficientemente larga para incluir ou excluir pecados da lista dos erros de fé.” SOUZA, Grayce Mayre Bonfim. Para remédio das almas: comissários, qualificadores e notários da Inquisição Portuguesa na Bahia Colonial. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2014, p. 41 (nota de rodapé). VAINFAS, Ronaldo. Inquisição como Fábrica de Hereges: os sodomitas foram exceção? In.: FEITLER, Bruno; LAGE, Lana; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). A Inquisição em Xeque: Temas, controvérsias, estudos de caso. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2006. 1

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também no aspecto político e no ordenamento social. Da mesma forma, faz-se necessário refletir sobre como as sociedades classificam o que é lícito e ilícito dentro da mentalidade e ordenamento de cada época. Tais são os objetivos deste nosso evento. O presente Caderno de Programação e Resumos reúne a programação do evento, os resumos das cinco conferências, de uma videoconferência, de doze apresentações de comunicações e a ementa do minicurso de nossa III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM. A comissão organizadora deseja a tod@s uma profícua participação nas atividades do evento e uma boa jornada de trabalhos! Profa. Dra. Semíramis Corsi Silva Departamento de História da UFSM Coordenadora do GEMAM/UFSM Coordenadora Geral da Comissão Organizadora do evento Prof. Alex Rogério Silva Mestrando em História pela UNESP/Franca Bolsista FAPESP Membro do GEMAM/UFSM Membro da Comissão Organizadora do evento

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Programação: Dia 20/06 16:30: Inscrições 17:30: Abertura - Prof. Dr. José Remedi (UFSM), Profa. Dra. Semíramis Corsi (UFSM) e Henrique Hamester Pause (UFSM) 17:40: Mesa de conferências de abertura: Coordenador: Prof. Dr. José Remedi (UFSM) - Feiticeir@s imortais: o medo do desconhecido e a longevidade dos estereótipos da feitiçaria no século XIX - Profa. Dra. Nikelen Witter (UNIFRA) - Documentos Inquisitoriais como fontes para a História da Intolerância em Portugal no alvorecer da Época Moderna - Prof. Alex Rogério Silva (UNESP/Franca) - Crime e castigo aos praticantes de magia na República e no Principado Romano Profa. Dra. Semíramis Corsi (UFSM) 19:45: Coffee break 20:00 Mesa de comunicações I: Coordenadora: Profa. Dra. Nikelen Witter (UNIFRA) - Práticas religiosas lícitas e ilícitas em “O asno de ouro”, de Apuleio (século II d.C.) Henrique Hamester Pause (UFSM) - Convergências e divergências político-religiosas nas autobiografias funerárias egípcias do final do Reino Antigo (2345-2181 AEC) – Prof. Wellington Rafael Balém (UFRGs) - As dissidências político-religiosas no Egito faraônico durante o reinado de Amenófis IV - Jordana Pozzebon (UFSM) Dia 21/06 9:00 até 12:00: Minicurso A História dos Judeus na Península Ibérica: da Antiguidade à Inquisição Moderna Portuguesa, Prof. Alex Rogério Silva (UNESP/Franca) e Profa. Érica Viana Albarral (UNIFAL) 16:30: Credenciamento 17:30: Abertura - Henrique Hamester Pause (UFSM) e Apresentação do site do GEMAM/UFSM - Luana da Silva de Souza (UFSM) 17:40: Mesa de comunicações II: Coordenador: Prof. Alex Rogério Silva (UNESP/Franca) - Os motivos da Primeira Revolta Judaica contra Roma (66 e.C-70 e.C): a historiografia contemporânea e a obra As Guerras Judaicas, de Flávio Josefo - Anita Sifuentes (UFSM) - O profano e o feminino: repressão às bacantes e aos bacanais pelas autoridades romanas republicanas - Camila da Cruz (UFSM) - O Malleus Maleficarum e a demonização do feminino a partir de uma leitura das relações de gênero - Angélica Cicconet (UFSM) Caderno de Programação e Resumos da III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM 20 a 23 de junho de 2016| 6

- O encontro com o outro: a presença islâmica na Península Ibérica - Profa. Érica Viana Albarral (UNIFAL) - Histórias sobre os benandanti: os métodos, as técnicas e a análise de Carlo Ginzburg em Os Andarilhos do bem - Gabriela Schmitt (UFSM) 19:10: Coffee break 19:30: Videoconferência: - A Praticante de Magia na Grécia e sua relação com os Povos Antigos: da Cultura Matrifocal para a Patriarcal - Profa. Ma. Dolores Puga (UFMS) Dia 22/06 9:00 até 12:00: Minicurso A História dos Judeus na Península Ibérica: da Antiguidade à Inquisição Moderna Portuguesa - Prof. Alex Rogério Silva (UNESP/Franca) e Profa. Érica Viana Albarral (UNIFAL) 16:30: Credenciamento 17:30: Abertura - Henrique Hamester Pause (UFSM) 17:40: III Telecine Clio: Exibição e debate do filme O nome da rosa 19:00: Coffee Break 19:20: Segunda parte do filme 20:10 Debate Debatedor: Prof. Dr. Francisco Mendonça Junior (UFSM) Dia 23/06 10:00: II Trajetórias de pesquisa: entre café, mate e histórias – Prof. Dr. Rafael da Costa Campos (UNIPAMPA) 16:30: Credenciamento 17:30: Abertura - Henrique Hamester Pause (UFSM) 17:40: Mesa de comunicações III: Coordenadora: Profa. Érica Viana Albarral (UNIFAL) - Cristãos e pagãos no Império Romano: questões político-religiosas em torno das perseguições - Débora Faccin (UFSM) - Ações pastorais na Galécia sueva no século VI d.C.: Martinho de Braga e o De Correctione Rusticorum - Luiza Batú Rubin (UFSM) - O arianismo no Império Romano e nas cortes bárbaras: aspectos históricos sobre a crença e sua repercussão na corte visigoda de Tolosa segundo as Cartas de Sidônio Apolinário - Gabriel Freitas Reis (UFSM) - O donatismo como heresia na África romana da Antiguidade Tardia - Fábio Pimentel (UFSM) Caderno de Programação e Resumos da III Jornada de Estudos do GEMAM/UFSM 20 a 23 de junho de 2016| 7

19:00: Coffee Break 19:30: Mesa de conferências de encerramento: Coordenadora: Profa. Dra. Semíramis Corsi Silva (UFSM) - A configuração do culto imperial e construção do consenso durante o início do Principado: entre Augusto e Tibério - Prof. Dr. Rafael da Costa Campos (UNIPAMPA) - O Enigma da Esfinge na poesia do séc. XIX - Prof. Dr. Enéias Tavares (UFSM)

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Resumo Minicurso

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A História dos Judeus na Península Ibérica: Da Antiguidade à Inquisição Moderna Portuguesa Prof. Alex Rogério Silva Mestrando em História pela UNESP/Franca Bolsista da FAPESP Pesquisador do GEMAM/UFSM Profa. Érica Viana Albarral Mestranda em História Ibérica pela UNIFAL2 Ementa: É difícil precisar quando os judeus chegaram à Península Ibérica. Há indícios da presença judaica no território ibérico desde o século V d.C., com a descoberta de uma lápide funerária com uma imagem de um candelabro de sete braços, datado do ano de 482, na cidade de Mértola. Estes permaneceram em tal região durante todo período antigo e medieval, na qual, consolidaram um pacífico convívio com as outras duas culturas presentes na península: a cristã e a islâmica. Isto fica evidente no Scriptorium de D. Afonso X, o Sábio, na qual, contava com sábios e artistas de diferentes procedências e das três culturas então reinantes na Península: a judaica, cristã e islâmica, Mas podemos encontrar em fontes do período medieval os primeiros indícios da intolerância religiosa que tomaria grandes proporções no alvorecer da Época Moderna, a partir da atuação dos reis católicos em um movimento de centralização política, econômica, que culminaria com a tentativa de unificação religiosa. Este minicurso tem por propósito traçar um histórico dos Judeus na Península Ibérica durante a Antiguidade, Idade Média e Início da Modernidade, momento este que se desenvolve o tribunal da Inquisição no Mundo Ibérico e no Brasil, abordando a vida judaica na Península Ibérica e a posterior perseguição aos cristãos – novos acusados de judaizantes e estudar as principais características do Criptojudaísmo desenvolvido no mundo Ibérico.

Bibliografia Básica: BRENNER, Michael. Breve História Dos Judeus. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. DIAS ESTEBAN, F. “Lápidas judias em Portugal”. In: Estudos Orientais. O legado dos judeus e mouros. Instituto Oriental, UNL, 1991, p. 210-214. FERRO TAVARES, Maria José Pimenta. Judaísmo e Inquisição - Estudos. Lisboa: Editorial Presença, 1987. _____. Os Judeus em Portugal no Século XIV. 2a ed. Lisboa: Guimarães Editores, 2000. GOLDBERG, David J. e RAYNER, John D. Os judeus e o judaísmo: história e religião. Rio de Janeiro: Xenon Ed., 1989. 2

Apoio da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG para participação em evento científico.

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JOHNSON, Paul. História dos Judeus. Tradução de Carlos Alberto Pavanelli, Rio de Janeiro, Imago Ed., 1989. KAYSERLING, Meyer. História dos Judeus em Portugal. São Paulo: Pioneira, 1971. LEVI, Joseph Abraham. Identidades judaicas em terras alheias: o caso do Brasil. In.: Revista Lusófona de Ciência das Religiões – Ano III, nº 5/6, 2004. SCHAMA, Simon. A História dos Judeus - À procura das palavras 1000 a. C. - 1492 d.C. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Quem são os Judeus? Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2015. O povo judeu. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2015. Quem é Judeu? Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2015.

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Resumos Conferências

(Em ordem alfabética pelo nome do conferencista)

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Documentos Inquisitoriais como fontes para a História da Intolerância em Portugal no alvorecer da Época Moderna - Prof. Alex Rogério Silva (UNESP/Franca) Prof. Alex Rogério Silva Mestrando em História pela UNESP/Franca Bolsista FAPESP Pesquisador do GEMAM/UFSM Resumo: O objetivo da conferência reside em refletir acerca das causas do surgimento do Tribunal do Santo Ofício no mundo português, analisando seu processo de instauração, estruturação, objetivos e formas de atuação. Além disso, discutir sobre o papel dos cristãos novos, cuja presença parece ter sido o mais significativo pretexto para a instalação da Inquisição portuguesa, assim como suas principais vítimas ao longo dos quase três séculos de existência do Tribunal. Ademais, analisar como as fontes inquisitoriais podem ajudar a desvendar mazelas da própria instituição, como também para a história dos perseguidos, da sociedade portuguesa e luso-brasileira no período moderno. Palavras-chave: Inquisição; Documentos; Heresias; Cristãos-Novos; Modernidade.

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A Praticante de Magia na Grécia e sua relação com os Povos Antigos: da Cultura Matrifocal para a Patriarcal Profa. Ma. Dolores Puga Doutoranda em História pela UFRJ Docente do Departamento de História da UFMS/Coxim Resumo: Esta apresentação visa contribuir com estudos referentes à construção representacional da imagem da praticante de magia da antiguidade (ou pharmakis em grego ático). Para tanto, pretende levantar questionamentos acerca da transformação nos olhares acerca dessa personagem, de uma visão positiva das práticas mágicas vindas do antigo oriente próximo até a determinação de uma sociedade patriarcal na perspectiva cada vez mais negativa da mulher que, por conhecimentos específicos de ervas, poderia usá-las para curar ou para matar em uma vingança – perspectiva comum com o desenvolvimento da civilização helênica, sobretudo com o período clássico na Grécia. A pesquisa cruza, assim, uma fonte imagética de Creta Minóica (a estatueta da Deusa das Serpentes de 1.600 a.C.) – local de bastante influência religiosa para a Grécia e que sofreu interferências culturais dos anatólios com antigas invasões –, com fontes textuais gregas como os poemas Odisseia de Homero e Teogonia de Hesíodo (ambos por volta de meados do século VIII a. C.) e a peça trágica Medeia de Eurípides (século V a. C.). Palavras-chave: Grécia; Praticante de Magia; Cultura Patriarcal; Antiguidade.

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O Enigma da Esfinge na poesia do séc. XIX

Prof. Dr. Enéias Tavares Doutor em Letras pela UFSM Docente do Departamento de Letras Clássicas e Linguística da UFSM Resumo: Nesta palestra, refletirei sobre o modo como o imaginário do corpo feminino está associado ao encontro de Édipo e a Esfinge, monstro feminino que oferta enigmas e apresenta uma composição corporal tripartida. Como escopo, me concentrarei na poesia e na pintura do século XIX, estudando em especial os casos de Oscar Wilde, Baudelaire, Gustave Moreau e Franz Stuck. Palavras-chave: Corpo Feminino; Pintura; Literatura; Esfinge, Poéticas Interartes.

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Feiticeir@s imortais: o medo do desconhecido e a longevidade dos estereótipos da feitiçaria no século XIX Profa. Dra. Nikelen Witter Doutora em História pela UFF Docente do curso de História da UNIFRA Resumo: O auto proclamado século da racionalidade, do progresso e da máquina, não esteve livre das sombras ancestrais do medo do sobrenatural. Na sociedade brasileira do século XIX, marcada pela forte hierarquia e sustentada por uma violência estrutural, os estereótipos de feitiços e feiticeir@s ganharam conotações étnicas e racistas, sem perder seu forte apelo às questões de gênero. Os processoscrime são uma rica fonte para acessar esse passado, no qual religiosidades, curandeirismo e medo dos excluídos eram parte do cotidiano da população do país. Palavras-chave: Feitiçaria; medo; século XIX; estereótipos; violência.

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A configuração do culto imperial e construção do consenso durante o início do Principado: entre Augusto e Tibério Prof. Dr. Rafael da Costa Campos Doutor em História pela USP Docente do Departamento de História da UNIPAMPA/Jaguarão Resumo: Esta apresentação pretende discutir os principais aspectos que caracterizaram a configuração do culto imperial como mecanismo de difusão da legitimidade política do Princeps durante o estabelecimento do Principado, mediante uma comparação entre as ações empreendidas por Augusto e Tibério. Palavras-chave: Tibério César; Principado; culto imperial; religiosidade romana.

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Crime e Castigo aos Praticantes de Magia na República e no Principado Romano

Profa. Dra. Semíramis Corsi Silva Doutora em História pela UNESP/Franca Docente do Departamento de História da UFSM Coordenadora e Pesquisadora do GEMAM/UFSM Resumo: O objetivo desta conferência é apresentar aspectos históricos sobre as leis e o crime de magia (crimen magiae) no contexto da República e do Principado Romano, em um período que cobre desde a formulação da Lei das Doze Tábuas (século V a.C.) a meados do século III d.C. Além da Tábua Sétima, que pautava sobre o crime contra a propriedade e, neste caso, o uso da magia para atingir a propriedade de outrem, analisaremos a Lex Cornelia de sicariis et veneficiis, de 81 a.C., e o acirramento das penalidades imputadas aos praticantes de artes mágicas com as Sentenças de Paulo, jurisconsulto do período da dinastia severiana (século III d.C.). Interpretaremos algumas acusações de magia que chegaram até nós pela documentação textual, como as acusações contra os filósofos Apuleio e Apolônio de Tiana, mostrando o que os antigos romanos consideravam como magia e as relações desta arte com aspectos sociais e relações de poder naquele contexto, o que, consequentemente, levou à sua criminalização. Palavras-chave: Roma Antiga; Crime de Magia; Lei das Doze Tábuas; Lex Cornelia de sicariis et veneficiis; Sentenças de Paulo.

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Resumos Comunicações

(Em ordem alfabética pelo nome do apresentador)

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O Malleus Maleficarum e a demonização do feminino a partir de uma leitura das relações de gênero Angélica Cicconet Graduanda em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Bolsista PIBID Resumo: No contexto da Inquisição do Santo Ofício, focando-nos no contexto do século XV, podemos observar recomendações para a constante vigilância das mulheres consideradas, pela ação eclesiástica, como potenciais bruxas. O Malleus Maleficarum – Martelo das Feiticeiras, escrito pelos dominicanos Heinrich Kraemer e James Sprenger e publicado em 1486 na Alemanha, reforça enfaticamente o papel da mulher na prática do que consideram como bruxaria. O presente trabalho visa analisar a demonização do feminino a partir desse manual de inquisição, percebendo-o sob a ótica da Nova História Cultural que estuda as relações de poder em seus diversos âmbitos. Pensando o Malleus como um guia para os inquisidores na busca e punição de bruxaria, pretendemos analisar de que forma foi construído o discurso demonológico do feminino forjado por Kraemer e Sprenger, que se apoiaram tanto em leis canônicas, quanto seculares, para a elaboração de um discurso dotado de aversão à mulher. Também faremos considerações a partir do conceito de gênero enquanto categoria de análise histórica conforme a proposta da historiadora Joan Scott. Palavras-chave: Malleus Maleficarum; Bruxaria; Relações de gênero.

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Os motivos da Primeira Revolta Judaica contra Roma (66 e.C-70 e.C): a historiografia contemporânea e a obra As Guerras Judaicas, de Flávio Josefo Anita Sifuentes Graduanda em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Resumo: Flávio Josefo foi um importante historiador judaico-romano que viveu durante o século I da Era Comum. Foi um observador direto da Primeira Revolta Judaica contra Roma (66 e.C-70 e.C) e de seu resultado imediato: a destruição da cidade de Jerusalém pelas tropas de Tito, filho do imperador romano Vespasiano, em 70. Sobre isso Josefo escreveu, entre 75 e 79, uma importante obra literária, As Guerras Judaicas. A obra é dividida em sete livros que abarcam desde a conquista de Jerusalém pela dinastia persa selêucida, em 164 a.e.C, até o aniquilamento total dos redutos revoltosos na Judeia em 74 e.C, mostrando todo contexto histórico de dominação, principalmente a romana, que levou a eclosão da revolta. Esse texto é a única fonte escrita do próprio período sobre a revolta, se tornando, assim, uma importante fonte tanto do conflito, quanto da cultura e da sociedade judaica do momento. Diante do que foi exposto, o objetivo deste trabalho é analisar, juntamente com obras historiográficas contemporâneas, como Flavio Josefo, um indivíduo que se entende tanto romano, quanto judeu, compreendeu os motivos da revolta e o que a historiografia mais recente propõe sobre o tema. Palavras-chave: Império Romano; Primeira Revolta Judaica; As Guerras Judaicas; Flávio Josefo; imperador Tito.

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O profano e o feminino: repressão às bacantes e aos bacanais pelas autoridades romanas republicanas Camila da Cruz Graduanda em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Bolsista de Monitoria no Laboratório de Estudos de História - LEH Resumo: Esse trabalho objetiva analisar a difusão do culto do deus Baco na cidade de Roma no século II a.C, bem como suas consequências sociais e políticoreligiosas no contexto da República Romana. Também buscaremos levantar questões acerca da proibição dos festejos bacanais, ocorrida entre 186 e 187 a.C., e a subsequente perseguição das chamadas “bacantes”, devotas do culto de Baco. Partindo do Livro XXXIX da obra Histórias, de Tito Lívio, e dos trabalhos de Cecília Ames e Maria Luíza Corassin, bem como de conceitos advindos dos estudos de Gênero (Joan Scott) e de Imaginário (Jacques Le Goff), as imagens das Bacantes e das Bacanais serão revistas, a fim de melhor compreender o que tal proibição pode vir a dizer a respeito das imagens do feminino e do profano no contexto do fim do século II a. C. Palavras-chave: Bacantes; Bacanais; Tito Lívio; Gênero; Imaginário.

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Cristãos e pagãos no Império Romano: questões político-religiosas em torno das perseguições Débora Faccin Graduanda em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Bolsista PIBID Resumo: Esse trabalho objetiva levantar questões a respeito da perseguição aos cristãos, abordar as relações diversas e conflitantes entre a expansão do cristianismo e o Império Romano e, por fim, fazer apontamentos acerca da perseguição aos pagãos sob o comando do imperador Constâncio II (337 - 361 d.C.), quando o cristianismo já habita o cerne das relações político-administrativas imperiais. Desta forma, serão utilizados obras historiográficas de pesquisadores como John Dominic Crossan e Gilvan Ventura da Silva e artigos que apresentam discussões recentes e novas análises a partir da Nova História Cultural e suas abordagens em torno das relações político-religiosas do Império Romano, as motivações e os desfechos das perseguições. Palavras-chave: Império Romano; Perseguições político-religiosas; cristianismo; paganismo; Constâncio II.

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O encontro com o outro: a presença islâmica na Península Ibérica Profa. Érica Viana Albarral Mestranda em História Ibérica pela UNIFAL3 Resumo: Após a queda do Império Romano e as invasões bárbaras na Península Ibérica, este mesmo território, viu-se novamente ocupado. Desta vez, com um inimigo distinto e que trazia consigo uma religião recentemente criada, e com seguidores intensamente dedicados a sua fé. A travessia do islamismo, pelo estreito de Gibraltar no século VIII, e o seu consequente contato com a cultura europeia até então existente, trouxe consequências. O constante enfrentamento de culturas, não necessariamente, representava a guerra. Porém, o Islã na região teve uma presença marcante no desenvolvimento do território. Através de sua cultura, construções, visões politicas e religiosas criou-se nos territórios ibéricos uma singularidade sobre o modo de agir e entender o outro. O presente trabalho visa a explanação sobre os principais momentos de ocupação do território (Valiado, Emirado, Califado), e a consequente conquista cristã do mesmo. Palavras-chave: Islamismo; Península Ibérica; Cristãos; Idade Média.

Trabalho apresentado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG. 3

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O donatismo como cisma na África romana da Antiguidade Tardia Fábio Pimentel Graduando em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Resumo: O donatismo foi um cisma dentro da Igreja Cristã em seu período de consolidação no seio do Império Romano, tendo sido transformado depois em um movimento herético. Temporalmente, o donatismo se localiza entre meados do século IV e V do tempo presente. O local onde o movimento donatista teve influência foi no norte da África na Antiguidade Tardia. Este local era na época denominado de África romana, constituindo-se do território conquistado pelos romanos ao fim da Terceira Guerra Púnica contra Cartago. No lado donatista são vários aqueles que podem ser citados como "pais fundadores" da Igreja. Mas para simplificar a situação, podemos colocar como expoente do movimento Donato, bispo da Numídia. Do outro lado, temos o opositor mais determinado do donatismo, Agostinho de Hipona, conhecido posteriormente como o importante Santo Agostinho. As fontes primárias sobre esse assunto foram produzidas por ambas as partes. Entretanto, por parte dos donatistas a quantidade que temos hoje é muito menor. O que se tem em maior quantidade é o que foi produzido para seu combate, principalmente por parte de Agostinho de Hipona. Diante disso, o objetivo deste trabalho é fazer uma análise bibliográfica do que se tem produzido referente a este tema. Serão analisados principalmente trabalhos acadêmicos, compreendendo artigos publicados em eventos e revistas, além de trabalhos de graduação, mestrado e doutorado. Apresentaremos também o que temos de documentação escrita por Santo Agostinho combatendo o donatismo. Palavras-chave: Antiguidade Tardia; África romana; Donatismo; Heresia; Santo Agostinho.

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O arianismo no Império Romano e nas cortes bárbaras: aspectos históricos sobre a crença e sua repercussão na corte visigoda de Tolosa segundo as Cartas de Sidônio Apolinário Gabriel Freitas Reis Graduando em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Bolsista FIPE Resumo: O arianismo foi uma crença cristã promulgada por Ário, por influência de seu mestre, Luciano de Antioquia. Ele dizia que Deus era incompreensível para o intelecto humano e que Cristo havia sido criado por Deus, e, embora tivesse características semidivinas, como os heróis da mitologia grega, era inferior a Deus e limitado, enquanto Deus era ilimitado. Essa crença começou a se propagar em 319, e Ário encontrou grande apoio de seu amigo Eusébio, o bispo de Nicomédia. As divergências religiosas chegaram a causar forte tumulto político no Império Romano, levando o imperador Constantino a promover um concílio em Nicéia em 325, no qual a maioria dos bispos apoiou o credo ortodoxo, que acreditava que Deus e Cristo eram formados da mesma substância. O Concílio, no entanto, não conseguiu resolver essas divergências. Assim, as Igrejas orientais se definirem a favor e Ário e as ocidentais a favor da decisão de Nicéia. O filho de Constantino, Constâncio II seria um grande apoiador da fé ariana no Oriente Romano. Mas, ainda que o arianismo não tenha conseguido se tornar a crença ortodoxa da época posterior, veremos um discípulo de Eusébio de Nicomédia, Ulfila, cristianizar os godos presentes no Oriente Romano no final do século IV, convertendo essa etnia germânica à fé ariana, que posteriormente também seduziria e promoveria a conversão de outros povos germânicos presentes no Ocidente do Império, como vândalos, burgúndios, suevos, alanos, francos, e até mesmo hunos, no momento em que os visigodos já se fixavam como reino no oeste do Império Romano. Uma das fontes que temos para estudar o arianismo entre visigodos e sua relação com a fé ortodoxa romana são as Cartas de Sidônio Apolinário, um aristocrata galo-romano com forte influência política sobre Roma e sobre a corte visigoda de Tolosa, e que se vale dessa influência para alavancar sua carreira política, e, dependendo da forma como se relaciona com os visigodos, enxerga de diferentes maneiras sua convicção na fé ariana, falando dela como algo inofensivo e fruto da inocência bárbara, ou como algo extremamente prejudicial à unidade imperial romana. Diante disso, o objetivo desta comunicação é fazer uma breve apresentação da historiografia sobre o arianismo e tratar da visão de Sidônio Apolinário sobre a fé ariana entre os visigodos de Tolosa. Palavras-chave: Arianismo; Concílio de Nicéia; Sidônio Apolinário; Reino Visigodo de Tolosa; Império Romano.

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Histórias sobre os benandanti: os métodos, as técnicas e a análise de Carlo Ginzburg em Os Andarilhos do bem Gabriela Schmitt Graduanda em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Bolsista PIBID Resumo: Na obra Os Andarilhos do bem, o historiador italiano e um dos pioneiros no estudo da micro-história, Carlo Ginzburg, investiga a mentalidade camponesa friulana de finais do século XVI e meados do XVII por meio da documentação proveniente do Arquivo da Cúria Arquiepiscopal de Udine. Um núcleo de tradições é contemplado em sua pesquisa histórica, apresentada como tese na primavera de 1964 e posteriormente publicada em 1966 com o título original I benandanti: stregoneria e culti agrari tra Cinquecento e Seicento. A trajetória do estudo foi guiada pelo método comparativo propriamente historiográfico, delineando de forma inovadora a figura dos benandanti, antes parcialmente associados aos cultos diabólicos e agora trazidos como defensores das colheitas e da fertilidade que saem, geralmente, nas noites de quinta-feira, armados com ramos de erva-doce para combater contra os feiticeiros, bem como para desfazer seus maus agouros. Ressalta-se, que tradições como eslavas e germânicas mostram-se na formação de um imaginário passível de se identificar no decorrer da apresentação dos testemunhos e que as intenções científicas de retomar esses estudos, trazem perspectivas sobre difusões geográficas dessas crenças. Portanto, Ginzburg é pontual em suas instigantes formulações e reflexões sobre como é indispensável resgatar esses componentes, partes intrínsecas das grandes estruturas e indispensáveis instrumentos da pesquisa histórica. Diante disso, nesta apresentação objetivamos tratar sobre micro-história e sobre antropologia histórica, utilizando como referência a obra de Ginzburg, construindo a partir de suas constatações um panorama sobre seus métodos e suas técnicas historiográficas. Palavras-chave: Carlo Ginzburg; Micro-história; benandanti; Os Andarilhos do bem.

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Práticas religiosas lícitas e ilícitas em O asno de ouro, de Apuleio (século II d.C.)

Henrique Hamester Pause Graduando em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Resumo: Este trabalho visa apresentar a diferença entre praticas religiosas lícitas e ilícitas a partir da obra O asno de ouro, de Apuleio. Apuleio e considerado um expoente da literatura, da retorica e da filosofia platonica do seculo II d.C. Nasceu por volta de 114 e 125 d.C. na Africa romana, provavelmente na cidade de Madura. Conforme indicaçoes do proprio Apuleio, ele foi filosofo, orador, romancista, advogado, pesquisador e dedicou-se a diversos generos artísticos, tomando uma vida de viagens em busca dos mais diversos saberes, o que o configurou como um sofista. No Oriente, iniciou-se em varios cultos mistericos proprios da filosofia platonica que seguia. Foi acusado de praticar magia na cidade Oea (atual Trípoli) pela família do ex-marido de sua esposa, como se tivesse usado feitiços para conquista-la. Anos apos o processo, Apuleio escreveu sua autodefesa, que chegou ate nos com o nome de Apologia. Porem, acreditamos que na sua obra Metamorfoses (ou O Asno de Ouro) tambem escreve sobre seu processo, mas na forma de uma metafora em estilo satírico. Nesta obra, Apuleio conta a historia de Lucio, um viajante em busca de conhecimento que se depara com inumeras situaçoes que envolvem feiticeiras e magias. A historia do envolvimento do protagonista com a magia começa quando Lucio se apaixona pela escrava Fotis, que lhe conta os misterios e praticas de sua senhora e que fazem Lucio, movido pela curiosidade, adentrar-se nas praticas da feiticeira Panfília. Ao experimentar unguentos magicos para virar uma ave, desafortunadamente, acaba se transformando em um asno (Livro III). E aqui que começa a aventura do personagem que, apos ser roubado como asno da casa onde estava repousando, ouve inumeras historias em suas viagens. A volta de Lucio a forma humana ocorre no Livro XI, quando o asno participa de uma procissao da deusa Isis e se converte em sacerdote da “religiao” da deusa. Nesta satira vemos claramente o uso da magia como instrumentos de relaçoes de poder e sua representaçao como algo feminino e ilícito. Vemos tambem as concepçoes do que era magia e do que eram os cultos mistericos oficiais e o como essa diferença significava o “certo” e o “errado” para a moral e para as tradiçoes dos romanos. Basicamente essa diferenciaçao do que seria a magia ilícita e a religiao lícita, nos deixa claro como eram assimilados estes saberes. A magia respondia a um processo individual e humano, enquanto a religiao rendia culto ao superior (deuses) e se portava de forma coletiva. Por isto, a magia tornava-se ilegal, ja que nao se ligava a nenhum culto obrigatorio a alguma divindade e, na maioria dos casos, era feita secretamente. A partir disto, percebemos uma separaçao entre costumes e cultos “corretos” de serem praticados e aqueles que nao eram bem vistos pelo que a lei e a tradiçao romana determinavam. Palavras-chave: Império Romano; Apuleio; O asno de Ouro; Magia; Religiões mistericas.

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As dissidências político-religiosas no Egito faraônico durante o reinado de Amenófis IV Jordana Guidetti Pozzebon Graduanda em História pela UFSM Membro estudante do GEMAM/UFSM Bolsista PIBID Resumo: Amenófis IV foi o último Faraó egípcio da XVIII dinastia, tendo reinado, aproximadamente, de 1353 a.C. à 1335 a.C. Filho de Amenófis III com Tiy, o seu reinado foi marcado por uma forte dissidência religiosa: ele tentou instituir o fim do politeísmo, consagrando o seu Deus – Aton – como o único a ser seguido. Segundo o historiador estadunidense Lionel Casson, a reforma de Amenófis IV foi tão social quanto religiosa, e não se referia apenas ao espírito religioso do povo, mas principalmente à forma como ele era visto por seus súditos. No decorrer do seu reinado, modificou seu nome para Akhenaton (aquele que agrada à Aton) e também transferiu a capital egípcia para uma cidade que ele mesmo mandara construir: Akhetaton (o horizonte de Aton). Dessa forma, nas palavras do arqueólogo Federico A. Arborio Mella, Akhenaton proclamou-se o único sacerdote de seu Deus único. No presente trabalho, partindo de uma revisão bibliográfica, irei apontar as causas que levaram o faraó a tomar essa atitude de trazer uma experiência próxima ao monoteísmo no antigo Egito, destacando os aspectos político-religiosos importantes dessa mudança. Palavras-chave: Amenófis IV; Akhenaton; Aton; Antigo Egito; Religião.

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Ações pastorais na Galécia sueva no século VI d.C: Martinho de Braga e o De Correctione Rusticorum Luiza Batú Rubin Graduanda em História pela UFSM Estudante membro do GEMAM/UFSM Resumo: Este trabalho possui o objetivo de analisar a evangelização almejada pelo clero cristão na região da Galécia sueva no século VI d.C., utilizando como fonte documental o sermão De Correctione Rusticorum, ou A correção dos rústicos, escrito por Martinho de Braga. Considerando a transformação de um ocidente pagão em cristão, realçaremos o aspecto lento e gradual desse processo. Neste período de afirmação, o cristianismo e sua inserção no período da Antiguidade Tardia encontraram elementos de obstrução, como a permanência do paganismo oficial de Roma e de vivas religiosidades indígenas pré-romanas nas regiões das antigas províncias romanas, agora convertidas em reinos romano-germânicos. Martinho de Braga e seu importante papel evangelizador inserem-se em um contexto político maior do noroeste peninsular, de unificação e fortalecimento do Reino suevo convertido recentemente do arianismo, considerado heresia, para o catolicismo. Contando com a tradução do documento em questão feita pelo linguista Aires Nascimento e com estudos filológicos somados a bibliografias historiográficas, este estudo justifica-se para a compreensão das continuidades de elementos da Antiguidade na chamada Antiguidade Tardia ou primeira Idade Média, contrariando a ideia de "queda" do Império Romano apoiada pela historiografia tradicional. Palavras-chave: Antiguidade Tardia; Galécia; Reino Suevo; Martinho de Braga; De Correctione Rusticorum.

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Convergências e divergências político-religiosas nas autobiografias funerárias egípcias do final do Reino Antigo (2345-2181 AEC) Prof. Wellington Rafael Balém Mestrando em História pela UFRGS Bolsista CAPES Resumo: Este trabalho busca analisar as relações político-religiosas entre o poder central, sediado em Mênfis, e a elite do VIII Nomo do Alto Egito, durante o contexto de tensão política e social da VI Dinastia (2345-2181 AEC). Neste período, os reis egípcios realizaram uma série de reformas administrativas que favoreceram o crescimento do poder das elites locais tanto em termos políticos, quanto religiosos e econômicos. Uma das principais evidências desse processo é o aumento do número de tumbas de oficiais nos cemitérios das províncias onde serviram, longe das necrópoles reais da capital. São de algumas tumbas das necrópoles de Abidos de onde vêm os textos (auto)biográficos que são as principais fontes que nos servem de base. Eles são uma mescla de elementos ritualísticos com a narrativa de grandes feitos do habitante da tumba, idealizando-o e enaltecendo-o diante de deuses e homens. Mesmo assim, vistas sob um viés menos essencialista e mais materialista, a análise das autobiografias nos permite compreender melhor as relações políticas e religiosas, nem sempre amistosas, entre a Corte os oficiais que serviram em Abidos durante o final do Reino Antigo. Palavras-chave: Egito-Reino Antigo; Autobiografias Funerárias; Oficiais de Abidos; Política e Religião.

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REALIZAÇÃO

APOIO Departamento de História da UFSM Curso de História da UFSM DaLeo Modas - Faxinal do Soturno

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