Caderno de Resumos, III COLÓQUIO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS (III CEVE), UFPB, 2015

July 1, 2017 | Autor: N. NÚcleo De Estu... | Categoria: Old Norse Literature, Medieval Scandinavia, Viking Age Archaeology
Share Embed


Descrição do Produto

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES DA UFPB

III COLÓQUIO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS

COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE) (Coordenação) Profa. Ms. Luciana de Campos (PPGL-UFPB/NEVE/CEIA) (Coordenação) Prof. Ms. Pablo de Miranda (UFRN/NEVE) Ricardo Menezes (PPGCR-UFPB)

COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Hélio Pires (Universidade Nova de Lisboa/NEVE) Prof. Dr. André Muceniecks (STBNET/NEVE) Prof. Dr. Deyve Redyson Melo dos Santos (PPGCR-UFPB) Prof. Dr. Álvaro Bragança Júnior (UFRJ) Prof. Dr. João Lupi (UFSC) Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

MONITORIA Cintia Bueno (UNESP-ASSIS) Juliana Aparecida da Silva Babichak (UNESP-ASSIS) Nayara Camilo (UNESP-ASSIS)

Caderno de Resumos

Página 2

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Gunnlod e Odin, Carl Emil Doepler, 1910.

APRESENTAÇÃO Gúnnlod me deu em seu trono de ouro (...) O sublime hidromel. Hávamál 105

A Edda Maior nos apresenta no Hávamál a aventura de Odin em sua busca pelo precioso hidromel: da sua chegada à montanha até a sedução da giganta Gúnnlod e a sua fuga transformado em águia, somos envolvidos pelas palavras que, combinadas entre si nos mostram como as geladas terras da Escandinávia tiveram um produção poética de excelência. Hoje, na terra brasilis vivemos um momento especial no que diz respeito aos estudos nórdicos. São publicações físicas e virtuais, artigos em periódicos e eventos que divulgam e apresentam tanto para o público acadêmico como para os interessados em geral uma perspectiva de estudo nova e atraente. A terceira edição do Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos promovido pelo grupo NEVE traz à tona toda essa nova perspectiva não só de estudos, como também de uma nova geração de pesquisadores que pautados pelo rigor e excelência apresentam suas investigações realizadas em plena sintonia com as mais novas perspectivas teórico-metodológicas desenvolvidas tanto na Escandinávia como nos vários centros escandinavistas pelo mundo. Caderno de Resumos

Página 3

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

A Literatura, a Arqueologia, a Mitologia, a História, a Religiosidade e a Arte nórdicas estão representadas tanto pelas mesas-redondas como pelas comunicações apresentadas nesse III CEVE, mostrando assim que os estudos escandinavos são realizados não somente por pesquisadores conectados com as novas perspectivas, mas também que não permitem que barreiras simples como a língua, por exemplo, seja um entrave para se construir pesquisas da mais alta qualidade. Assim como Odin que, ao roubar o hidromel deixou que algumas gotas tenham caído sobre a cabeça de alguns escaldos, os pesquisadores brasileiros que dedicam-se aos estudos nórdicos ao receberem o “hidromel da poesia” o transformam em pesquisas competentes e comprometidas coma divulgação do que há de mais sério na área. As taças de hidromel estão cheias resta-nos agora bebê-lo e transformá-lo em conhecimento! Ms. Luciana de Campos (PPGL-UFPB/NEVE)

Caderno de Resumos

Página 4

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

MESAS-REDONDAS:

Mesa-redonda 1: Temas de Mitologia Nórdica Coordenação: Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

Revisitando a mitologia escandinava: outros olhares sobre a vida após a morte Leandro Vilar Oliveira (PPGH-UFPB) Entre os mundos da morte conhecidos na mitologia escandinava como Valhala, Hel, os Salões de Ran e Bilskirnir, o Palácio de Nastrond se encontra entre os mais emblemáticos pelo fato de suas características destoarem bastante dos demais. Enquanto os outros mundos são locais para onde as almas seguem, e passam a dispor de um pós-morte sem dores, em Nastrond, os mortos são punidos pelos seus pecados. Seria esse palácio o verdadeiro “inferno nórdico” e não o Reino de Hel? Seria Nastrond uma invenção cristã? Neste artigo procurei analisar essa problemática na tentativa de tentar entender a função de Nastrond como local da morte a partir da análise do que se conhece sobre Nastrond nas duas Eddas, guiando-se pelos estudos de Bellows, Davidson, Lindow, Abram, Langer, Nordal e Munch. Palavras-chaves: Nastrond, Mitologia Nórdica, Vida após a morte.

Eu vivo, eu morro e eu vivo de novo: uma análise dos Einherjar e da Caçada Selvagem segundo a poesia escandinava dos séculos X a XIII Prof. Ms. Pablo Gomes de Miranda (UFRN/NEVE) A comunicação em questão busca explorar as diferentes formas de transmissão e apreciação da mitologia nórdica em seus diferentes suportes. A mitologia fascina o homem nos mais diversos recortes de sua existência, se modificando e se atualizando conforme as necessidades socioculturais desempenhadas por ela nos diferentes espaços e temporalidades. Estamos envolvidos pelo mito e isso pode ser facilmente constatado na popularidade de produções atuais na qual a mitologia desempenha um Caderno de Resumos

Página 5

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

papel central no enredo. Se por um lado sustentamos as figuras românticas dos bardos declamando poemas sobre homens e deuses guerreiros, por outro revisitamos esse bolso narrativo diariamente ressignificado em quadrinhos, música e filmes e prestamos pouca atenção em como, apesar das suas diferenças, somos participantes ativos na transmissão e recepção dessas representações que nos capturam tão espontaneamente. Usaremos os poemas “Os Feitos de Hákon” ( Hákonarmál) e “Os Feitos de Eirík” (Eiríksmál) para ilustrar o processo de transmissão no medievo e dos relatos sobre os mortos guerreiros, em paralelo a mitologia nórdica no mundo contemporâneo. Ambos os poemas foram compostos em torno do século X, apesar de termos acesso a eles pela cultura escrita nórdica a partir do século XIII através das compilações de sagas islandesas sobre a realeza norueguesa (em especial Heimskringla e Fagrskinna). Nosso interesse não está na mera comparação entre representações mitológicas do ontem ou do hoje, mas nos sentidos dessas representações e do nosso papel nela, enquanto produtores e consumidores dessas culturas. Palavras-Chave: Caçada Selvagem; Mitologia Nórdica; Poesia Escáldica;

Arte rupestre escandinava e mitologia nórdica: algumas reflexões comparativas Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE) Juntamente com os petróglifos (no caso de esculturas ou gravuras na rocha, em sueco moderno: hallristningar), as pinturas rupestres são fontes valiosas para o estudo da religiosidade dos grupos pré-históricos na Escandinávia e Europa Setentrional e são também utilizadas como contraponto e modelo comparativo para os estudos de Mitologia Nórdica. O grupo mais importante são as pinturas rupestres de Tanum, Bohuslän (sul da Suécia), datadas de 1.800 a 400 a. C. O objetivo desta comunicação é realizar um balanço dos modelos comparativos entre a arte rupestre escandinava realizada na Idade do Bronze e a Mitologia Nórdica, desenvolvida essencialmente na Era Viking e preservada literariamente na Idade Média Central: as teorias interpretativas, as conexões, os limites e as especulações envolvendo esse tipo de comparação. Para o mitólogo Régis Boyer, as pinturas de Bohuslän possuem três grandes motivos, do ponto de vista da coerência e da recorrência: cosmogonia solar; rituais mágicos; cultos da fertilidade-fecundidade. Rudolf Simek é mais reticente no uso comparativo entre as pinturas pré-históricas e as narrativas medievais, enquanto que Terry Gunnell parte do pressuposto que Bohuslän seria conectada historicamente às raízes da religiosidade indo-européia, destacando imagens simbólicas e mitológicas Caderno de Resumos

Página 6

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

especialmente conectadas à performances públicas com música e espetáculo – as dramatizações religiosas. Em recentes publicações, vários pesquisadores realizaram sistematizações das principais figurações da arte rupestre sueca dentro do referencial da Arqueoastronomia. Outro referencial muito utilizado para análise das pinturas rupestres é o xamanismo e suas conexões com a suposta religiosidade proto-indoeuropéia, na qual realizaremos uma sistematização dos principais pesquisadores. Palavras-chave: Arte rupestre – Mitologia Nórdica – Arqueologia das Religiões

Mesa-redonda 2: Ritual e memória na Escandinávia Medieval Coordenação: Prof. Dr. Fabricio Possebon (UFPB)

As representações rituais em monumentos nórdicos da Era Viking Ricardo Wagner Menezes de Oliveira (PPGCR-UFPB/NEVE) A Religiosidade Nórdica Pré-Cristã desperta o interesse de muitos estudiosos e entusiastas da cultura escandinava medieval. Por sua mitologia rica, deuses e heróis nórdicos são amplamente conhecidos por qualquer um que minimamente se aventurou em busca de conhecimento na área. Entretanto, alguns aspectos da religiosidade desse povo não possuem a mesma visibilidade que a mitologia e se tornam desconhecidos por iniciantes, como é o caso do ritual. Por serem um povo com raros indivíduos letrados em sua escrita rúnica e poucas destas inscrições terem sobrevivido, o pesquisador da cultura nórdica pré-cristã, ao buscar fontes contemporâneas ao paganismo nórdico, precisa se debruçar sobre os achados arqueológicos para compreender esta religiosidade. Uma destas alternativas de fontes são os monumentos de pedra escandinavos, que, dentre os diversos tipos de arranjos megalíticos, em alguns apresentam em suas faces esculturas de símbolos, deuses, animais, criaturas mitológicas e cenas do cotidiano, se revelando um rico material para análise. Este trabalho consiste em uma análise da cena sacrificial do monumento pétreo de Stora Hammars em Gotland, Suécia, dialogando com estudos de magia, Caderno de Resumos

Página 7

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

religião e cultura visual, objetivando desenvolver uma apresentação sobre rituais, bem como uma interpretação da gravura. Seguiremos a linha teórica-metodológica de renomados pesquisadores da sociedade nórdica antiga e medieval para as fontes arqueológicas, chamada de nova escandinavística, e dos referenciais de cultura visual de Jean-Claude Schmitt para a compreensão do papel das imagens no imaginário nórdico. Palavras-chave: Viking; Ritual; Estela.

Lãs, costelas e tilberi: a memória no folclore mágico islandês Andressa Furlan Ferreira (PPGCR-UFPB/NEVE) Localizada ao extremo leste islandês, Strandir é uma região tradicionalmente conhecida por ter sido o lar de feiticeiros e refúgio de criminosos (Young, 2008). Lá reside um museu — “Museum of Icelandic Sorcery and Witchcraft” — dedicado à exposição da cultura popular local em relação às crenças mágicas e folclóricas, onde é possível conferir o modelo de uma criatura que ilustra uma lenda folclórica regional, a qual foi preservada por séculos. Tal criatura se originaria por meio de um ritual mágico, cuja realização só seria possível se fosse executado por uma mulher. Com a intenção de roubar leite de terceiros, a interessada haveria de roubar a costela de um homem recentemente enterrado no período de Pentecostes e depois envolvê-la em lã, também roubada para esse propósito. Após uma série de outras práticas nos próximos três domingos, surgiria o “tilberi”, também conhecido como “snakkur”, uma criatura responsável por sugar leite e levá-lo à sua dona. Crédulos de sua existência, os habitantes da região contavam com algumas práticas preventivas, que os auxiliariam no combate a essa intempérie, como desenhar determinados símbolos mágicos ou cristãos nas tetas e nas costas do animal lactante, por exemplo. De acordo com Sveinsson (2003), reanimar os mortos e enviá-los para perturbar os vivos apresentam-se como dois temas recorrentes nos relatos mágicos da Islândia. Sveinsson acrescenta que a prática de usar o morto para transtornar a vida de alguém também pode se resumir a usar uma parte do cadáver, como um osso humano investido de poderes sobrenaturais. A lenda acerca do tilberi, portanto, denota uma das mais características histórias de feitiçaria islandesa, além de evidenciar aspectos que ainda carecem de investigação simbólica, como a memória do furto e a relevância da lã e do Caderno de Resumos

Página 8

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

leite naquela sociedade. A fim de cultivar tais análises, as obras de Craigie (1896), Simpson (1972), Propp (1997), Sveinsson (2003) e Mitchell (2011) auxiliarão na abordagem desse fenômeno folclórico, que encerra não somente práticas mágicas, mas também aspectos da memória coletiva do leste islandês. Palavras-chave: folclore; feitiçaria; Islândia.

Construindo a memória e forjando o futuro: a criação de identidade e legitimação dos poderes sociais no mundo escandinavo pré-cristão Ms. Munir Lutfe Ayoub (NEVE) O presente trabalho pretende analisar a construção da memória dos povos da atual região de Vestfold, na atual Noruega, buscando evidenciar nessa construção uma forma de legitimação do poder de reis e chefes locais e uma forma de construção de identidade. Teremos como norte para nossa pesquisa a análise dos antigos costumes e mitos nórdicos pré-cristãos tendo claro que são esses os responsáveis pela construção da memória deste povo. A baliza temporal de nossa pesquisa se encontra delimitada entre os séculos VIII e X período que as fontes arqueológicas dos sítios de Borre e de Kaupang, além do Thing de Pjódalyng demonstram uma constante relação ritualística destes homens com seu passado e desta forma com a construção de uma memória e do espaço de vivência deste povo. O nosso quadro teórico parte assim dos estudos da múltipla temporalidade iniciado por arqueólogos como Christopher Chippendale, Michael Shanks e Mats Burström que inauguraram uma nova construção de análise sobre as fontes arqueológicas e históricas. Estes arqueólogos foram responsáveis por revelar um novo foco cronológico da arqueologia que deixaria de buscar separar as coisas e fatos por períodos bem estabelecidos pensando apenas cada período por suas próprias construções e monumentos. Esse novo pensamento arqueológico buscou a compreensão da múltipla temporalidade do passado partindo do princípio de que se os resquícios do passado estão presentes até hoje estavam também no decorrer desta temporalidade e influenciaram e foram formados assim por esses múltiplos tempos históricos. Teremos assim por fim o objetivo de revelar a memória destes povos como originadas da construção do espaço habitado que geravam nestes homens uma sensação de pertencimento, não apenas pela vivência destas memórias por meio dos ritos, mas também pelas constantes reutilizações do espaço em momentos como os de Caderno de Resumos

Página 9

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

novos depósitos funerários, novas assembléias de leis e julgamentos e novos sacrifícios aos deuses momentos que aproximavam estes homens de seus ancestrais pela crença na reprodução de ritos pertencentes há tempos imemoráveis e característicos deste grupo social que ao fim legitimavam os reis e chefes locais como representantes dos antepassados e como responsáveis pela vivência e reprodução dos ritos e mitos que garantiam a identidade e a ordem nestas sociedades. Palavras-chave: Memória, legitimação, poder.

Mesa-redonda 3: Cristianismo no medievo nórdico Coordenação: Prof. Dr. Deyve Redyson Melo dos Santos (UFPB)

Uma análise da evangelização da Islândia sob a ótica da Jóns saga Helga (séc. XII) Ms. André de Oliveira (NEVE) A Islândia foi colonizada no século IX por noruegueses, que fugiram da opressão do rei Haroldo cabelos-belos. Eles vieram com as crenças de seus antepassados, uma fé que cultua deuses como Thor, Odin e Freyr. Essa forma de culto era a predominante até o avanço do cristianismo pela ilha. Devido à pressão do rei Olávo I da Noruega, a Islândia se converteu no ano de 999 a essa nova religião chamada cristianismo. A sua conversão pode ser colocada entre aspas, pois no mesmo momento que ocorre a conversão apresenta-se a possibilidade da continuidade com os antigos costumes, sendo assim, não foi um momento de ruptura, mas um marco na transição. Esse novo costume que ganhava maior aceitação com o decorrer das décadas, acabou sendo a forma de culto que prevaleceria, transformando a sociedade de tal forma que a cultura anterior moldou o cristianismo, para que o mesmo pudesse ser harmônico com a visão de mundo dos islandeses. Com a instauração da segunda sede episcopal da ilha em Hólar no início do século XII, o bispo Jón Ögmundarson ascende a posição e se torna responsável pela evangelização do seu rebanho e a sedimentação da nova sede episcopal. Nessa comunicação, buscaremos apresentar como se deu o processo de evangelização dessa comunidade ao norte da Islândia sobre a ótica da Saga do santo Caderno de Resumos

Página 10

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Jón, Jóns saga Helga. Doravante a apresentação inicial da problematização e da documentação será exposto como o santo conseguiu construir uma comunidade religiosa e a prática cristã onde antes não se tinha o hábito de tal. Concluindo que parte do sucesso de sua evangelização, foi devido a estratégia da mudança dos costumes pré-cristãos em paralelo com a adaptação do cristianismo a realidade islandesa por meio do sincretismo religioso. Os norteadores teóricos para essa comunicação será o conceito de Hibridização cultural de Peter Burke e a produção social da identidade de Tomás Tadeu da Silva. Palavras-chave: Islândia Medieval, Cristianização, Bispo

O frontal do altar de Nedstryn e o mito de Heráclio na Noruega medieval (séculos XIIXIV) Prof. Dr. Guilherme Queiroz de Souza (UEG/NEAM) Esta pesquisa aborda as manifestações do mito do imperador Heráclio (c. 575-641) na Noruega medieval (séculos XII-XIV). Alguns fatos marcam profundamente a trajetória desse governante bizantino e corroboram a relevância do tema: a vitória contra o rei sassânida Cósroes II e a recuperação da cidade sagrada de Jerusalém e da relíquia da Santa Cruz (630). Além do Ocidente medieval, a Noruega foi uma região que mitificou a história sobre os feitos de Heráclio, cuja representação alternou entre a soberba e a humildade – do soberano triunfante ao imitator Christi em busca da

Restitutio Crucis. Neste trabalho, cotejamos os indícios textuais da lenda com as imagens do frontal do altar da igreja de Nedstryn (início do século XIV), objeto que também será alvo de uma análise iconográfica. Elaborados nos séculos XII-XIII, os vestígios textuais são dois: a Historia de Antiquitate Regum Norwagiensium, de Theodoricus Monachus, e o Gammelnorsk homiliebok. Com isso, objetivamos compreender de que maneira o mito heracliano expressou-se em terras norueguesas. Palavras-chave: mito de Heráclio; Noruega medieval; frontal do altar de Nedstryn.

Caderno de Resumos

Página 11

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Mesa-redonda 4: Temas de literatura nórdica medieval Coordenação: Prof. Dr. Milton Marques (UFPB)

A fabricação da verdade: mecanismos de autenticação literária nas Islendíngasögur José Lucas Cordeiro Fernandes (PPGH-UECE/NEVE) Durante os séculos XII e XIV, surge na Islândia, por diversos motivos, um gênero literário ímpar em toda a Europa Medieval, as sagas. Estas contêm vários subgêneros, dentre eles o Íslendigasögur, as sagas islandesas ou sagas de família. Compreendendo a vasta produção desse gênero em seu ápice entre os anos de 1150 e 1350, nós intentamos observar a estética de construção desse texto literário, com base nos métodos estipulados pela cultura escrita medieval e seus autores. Compreendendo assim que as sagas islandesas foram produzidas em um momento de consolidação do cristianismo e de um crescimento da cultura escrita em detrimento a tradição oral, nós buscamos analisar como dentro dessas narrativas literárias, os autores constroem para o leitor elementos que tornam verídicos a “realidade da representação”, possibilitando uma aceitação do escrito e uma mudança na memória pelo escrito, assim como servir de instrumento de consolidação do cristianismo. Logo, vários elementos dentro desses textos podem nos revelar e apresentar elementos que trazem convencimento ao leitor, sendo estes os mecanismos de autenticação, dando comprovação do sentido de verdade para a construção literária. Nesse sentido nos baseamos nos apontamentos levantados sobre esse ponto por Robert Kellog (1997/2000) e análises de outros autores nacionais e internacionais sobre as sagas de família e sua construção. Esse enlaço temático e metodológico se funde a uma perspectiva teoria da História Cultural, focando nos conceitos de representação e imaginário, com base em Roger Chartier, Guglielmo Cavallo, Armando Petrucci e Lynn Hunt. Palavras-Chave: Sagas Islandesas; Cultura Escrita; Literatura

Caderno de Resumos

Página 12

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

O Ragnarök nas fontes literárias nórdicas Angela Albuquerque (PPGCR-UFPB/NEVE) Nosso estudo tem como objetivo a investigação das principais fontes literárias a respeito do mito de Ragnarök, “consumação dos destinos dos poderes supremos”, do ciclo de crenças do paganismo nórdico, séculos VIII a XI. Como fontes primárias, buscaremos as informações contidas na Edda Maior ou Edda Poética e na Edda Menor ou Edda em Prosa, ambas do século XIII. Na Edda Poética recorreremos ao primeiro poema do manuscrito Codex Regius (1270), do ciclo mitológico Völuspá sobre a "Profecia da Sibila”, composto por 66 estrofes (o passado 3-27, o presente mítico 3043, o futuro até o Ragnarök 44-58 e após esse evento 59-65), iniciando-se por um relato cosmogônico seguido da destruição do mundo e do fim dos deuses. O terceiro poema Vafþrúðnismál (canção de Vafþrúðnr), descreve os diálogos entre o deus Odin, sua esposa Frigg e o gigante Vafþrúðnr, voltado para o passado 20-35, o presente 3643 e o Ragnarök 44-54. A Edda Menor ou Edda em Prosa, escrita por Snorri Sturluson, em 1220, versa sobre temas desde a criação do universo até o Ragnarök. A edição espanhola é composta por um prólogo, o "Gylfaggining" e o "Skáldskaparmál", discurso da formação de poetas. A ilusão ou a alucinação de Gylfi discorre sobre a narrativa da vinda de Gylfi, rei dos suecos, a Asgard, morada dos deuses. Utilizaremos a produção teórica dos pesquisadores como Álvarez e Antón (2002), Bernárdez (2010), Cardoso (2006), Davidson (2004) e Langer (2005, 2012 e 2013), constituindo um referencial de subsídios teóricos que conduzirão esse trabalho. A metodologia envolve a perspectiva da teoria do mito contextualizada nas fontes literárias nórdicas conjuntamente com a pesquisa bibliográfica e sistematizadora das informações do trabalho histórico-religioso do tema. Palavras-chave: Mitologia nórdica; fontes literárias nórdicas; Ragnarök.

Mulher, guerra e poder: as representações de Lagertha em Saxo Gramaticus Ms. Luciana de Campos (PPGL-UFPB/NEVE) Escrita no século XII por Saxo Gramaticus a Gesta Danorum apresenta um relato sobre a formação da atual Dinamarca, descrevendo lugares, personagens e situações que não podem ser interpretadas como uma “verdadeira” história da formação daquele Caderno de Resumos

Página 13

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

país. No decorrer do seu relato, Saxo Gramaticus apresenta aos seus ouvintes/leitores uma personagem intrigante: Laghertha. Essa mulher esposa em primeiras núpcias de Ragnar Lodbrok é descrita como uma “donzela de escudo”, como “valquíria” e como exímia guerreira. Apóia seu esposo em todas as suas incursões e, mesmo depois de divorciados ela ainda mantém seu apoio tanto militar como politicamente. Essas descrições foram importantes para a criação de personagens femininas guerreiras que estão presentes em outras narrativas literárias escandinavas medievais. A figura da mulher-guerreira provoca a fascinação e o temor de homens e mulheres que projetam fantasias e desejos nessa personagem. Ao realizarmos uma análise da personagem Laghertha – a da narrativa medieval – é possível realizarmos um contraponto com as mulheres da sociedade da Escandinávia durante a Era Viking e observarmos como as fontes literárias as representaram, tanto na esfera guerreira como na doméstica e como essas representações foram se modificando e fortalecendo o mito da mulher guerreira. Pautaremos a nossa análise da mulher guerreira majoritariamente na Gesta

Danorum, mas confrontaremos esse modelo criado por influências clássicas – Atalanta, Camila e Pentesiléia – com os modelos de mulheres descritas em narrativas literárias e como todos eles foram fundamentais para a construção do modelo da mulher guerreira tão divulgado atualmente, principalmente no que diz respeito à Laghertha personagem que ganhou visibilidade midiática tornando-se objeto de interesse de estudo sobre a relação mulher e guerra que fascina geração após geração. Palavras-chave: Mulher guerreira; Escandinávia Medieval; História e Literatura

Caderno de Resumos

Página 14

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

SESSÕES DE COMUNICAÇÕES Sessão 1: Estudos Nórdicos I: Coordenação: Ms. André de Oliveira (NEVE)

As representações de Loki: Do mito à mídia Carolina Silva de Almeida (UFU) Neste trabalho, trataremos da reaproriação da imagem do deus Loki como personagem da franquia de filmes Thor (2010 e 2013), da Marvel Studios, comparando-o com as representações do deus da mitologia nórdica existente no poema Lokasenna, presente na Edda poética, na tradução de Henry Adams Bellows (1936). Verificaremos as convergências e divergências das duas representações, analisando a construção do personagem de Loki. Para a análise da narrativa mitológica, utilizaremos a obra

História das Crenças e Ideias Religiosas II, de Mircea Eliade. A apropriação da narrativa mítica para a mídia de massa será fundamentada em Mito e Realidade, também de Eliade. As considerações sobre o mito de Loki serão baseada no artigo Loki como representação do caos e da ordem na mitologia Viking de Flávio Guadagnucci Palamin. A análise dos elementos da narrativa fílmica será feita segundo Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété em Ensaio Sobre a Narrativa Fílmica, e a adaptação literária será trabalhada sob Brian McFarlane em Novel to film: an introduction to the

theory of adaptation. Eliade, em Mito e Realidade, apresenta a mass media como veículo das narrativas míticas na contemporaneidade, destacando os personagens de quadrinhos e sua relação com a sociedade da época. Hoje, muitos quadrinhos foram adaptados para o cinema, seus personagens e (mesmo a própria narrativa) tiveram que sofrer alterações para a mídia cinematográfica, para facilitar a identificação com o público alvo. O estudo da Edda e das adaptações para o cinema será feito de maneira comparativa, sem a intenção de criticar as características adaptadas. Entretanto, é importante considerar como a adaptação cinematográfica influenciou a composição de um repertório imagético atual sobre o deus Loki. Palavras-Chave: Loki. Mitologia nórdica. Cinema.

Caderno de Resumos

Página 15

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Reminiscências do sagrado e as origens vikings do Black Metal norueguês Ms. Lauro Ericksen (UFRN) A pesquisa borda a reminiscência do sagrado na poesia de um dos grupos de Black Metal norueguês (Inner Circle). Metodologicamente, utiliza-se como fundamento de análise filosófica a terceira fase do pensamento de Heidegger sobre a linguagem e os elementos da teoria do conhecimento platônica acerca da reminiscência. Objetiva de modo abrangente fazer uma conexão entre o que o poeta contemporâneo nomeia como sagrado e aquilo que é sua reminiscência étnico-histórica (viking). Especificamente, objetiva analisar trechos da obra musical “The Olden Domain” do grupo Borknagar (integrante do Inner Circle), em comparação com os tratados filosóficos “O que é Metafísica” de Martin Heidegger e trechos da obra “A República” de Platão, utilizadas como fontes primárias de pesquisa, para compreender a relação entre o sagrado para os antigos Vikings a sua expressão contemporânea no Black Metal norueguês, tendo como ícone uma das principais bandas da cena dos anos 90, originária de Bergen. Palavras-chave: Sagrado; Vikings; Black Metal.

Sessão 2: Estudos Nórdicos II: Coordenação: Ms. Munir Ayoub (NEVE)

Arqueologia da religiosidade nórdica na Era Viking Francileide Veríssimo da Silva (UFPB) Nosso objetivo é sintetizar as pesquisas sobre a Arqueologia da religiosidade nórdica, especialmente as relacionadas com dos artefatos e monumentos simbólicas inserido na cultura nórdica da era Viking. Tomamos como base as publicações do historiador Johnnir langer, ao qual estuda a religiosidade nórdica relacionando principalmente a cultura material com a literatura medieval. Assim, a Arqueologia, tendo as mais diversas metodologias Caderno de Resumos

de

investigação,

capaz de

desvendar

as

principais Página 16

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

características do passado, ou mesmo de terminada cultura, também envolve o estudo das crenças religiosas de uma determinada época. Utilizaremos uma metodologia histórica, buscando compreender as modificações ocorridas nas mais diversas práticas culturais e sociais, ao qual possibilitam-nos uma compreensão a um período marcado pelos rituais os diversos mitos na época do período viking na Escandinávia. Assim, não podemos deixar de enfatiza o estudo das sepulturas que constitui as principais fontes de evidências sobre religiosidade investigada pelos arqueólogos desde o século XIX. Verificarmos também, que segundo Colin Renfrew, a iconografia, o simbolismo e a arquitetura convergem como métodos auxiliares ao estudo arqueológico da religião. Palavras chaves: Arqueologia, rituais, matérias, arquitetura.

Acorde Groa, acorde boa mulher: a prática necromântica na Edda Poética pela Grógaldr Bárbara Rebecca Baumgartem França (UFES) Esta comunicação que será apresentada é fruto de sondagens iniciais, catalogação da documentação e análises primárias. A etimologia da palavra necromancia, é proveniente do grego antigo definido νεκρός (Nekros), como "corpo morto", e μαντεία (Mantéia), "profecia” ou de “adivinhação”. Foi no medievo com a ascensão da Igreja, que o cristianismo estigmatizou a prática, tornando-a maléfica. A partir deste momento é que a necromancia deixa de ter o imaginário vinculado a adivinhação, mas passa a ser considerada também como uma prática mágica que envolve os mortos. O recorte espacial selecionado se concentra na Escandinávia. Na sua cultura, a magia nessa sociedade se mostra muito presente sob a forma de Galdr, seu conceito é proveniente do idioma nórdico antigo que se traduz por feitiço ou encantamento. Alguns dos relatos sobre a prática necromântica encontra-se nas Eddas, sejam elas poéticas ou prosaicas. Conjunto documental que possui temas mitológicos, relatos sobre deuses, gigantes e outras criaturas, porém, sofreram influência do cristianismo, pois só foram produzidos a partir da conversão em 999, resultando em documentos provenientes de um imaginário coletivo híbrido. O documento analisado na comunicação será primariamente a Grógaldr, presente na Edda Poética. A Grógaldr ou o Feitiço de Groa, é o primeiro de dois poemas, juntamente com a Fjölsvinnsmál, publicados sob o título de Svipdagsmál, poemas encontrados no século XVII. Sendo Caderno de Resumos

Página 17

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

assim, o objetivo da comunicação, é evidenciar na Edda poética de que forma a prática necromântica aparece em evidência, focando-se na Grógaldr. Palavras-chave: Edda Poética, Gáldr, Necromancia.

Literatura e Cristianismo: aspectos da cristianização da Escandinávia medieval e seus reflexos na Saga de Eirik, o vermelho Letícia Raiane dos Santos (UFPE) A cristianização dos reinos escandinavos e da Islândia, segundo Quintana e Bragança Jr. (2010), foi um processo lento, gradual e que se deu de modo heterogêneo. Com o advento do Cristianismo, há, como afirma Moosburger (2011, p. 20), “o florescimento da escrita na Islândia”. A partir desse momento, tomando como instrumento de base as letras latinas e o pergaminho, narrativas orais mitológicas e heróicas islandesas puderam, por fim, ser registradas. Remontando as primeiras linhagens que povoaram e constituíram a Islândia antiga, a Saga de Eirik, o vermelho relata eventos relacionados à vida de um homem chamado Eirik, sua linhagem e homens que o eram do seu convívio. Dentre os eventos narrados, destacam-se sobremaneira as conquistas bélicas e territoriais, a expansão e disseminação do Cristianismo. Nessa obra, há personagens cristãos que apresentam posturas distintas em relação à religião escandinava: de total rejeição ou de respeito, embora com ressalvas. Além disso, as ações dos personagens não raramente são vistos pelo narrador e personagens sob a lente da religião cristã. Sendo assim, pretende-se discutir um pouco a temática da cristianização dos povos escandinavos, tomando como ponto de partida a análise crítica da Saga de Eirik, o vermelho, observando aspectos no seu enredo e discurso que suscitam essa questão, cotejando aspectos históricos e ficcionais e também tendo como aparato teórico as reflexões de alguns autores como Borges (1965), Antón & Córdoba (1986), & Alvarez (2003), Langer (2009; 2010), Moosburger (2009), Quintana & Bragança Jr. (2010), Barthélemy (2010), Schmitt (1999) e Velasco (2005). Palavras-chave: cristianização; saga islandesa; saga de Eirik, o vermelho.

Caderno de Resumos

Página 18

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Sob a lei nossa terra há de ser erguida: a atividade jurisdicional das Assembléias regionais norueguesas na Era Viking Iago Morais de Oliveira (UFPB) Muitos são os estereótipos em relação aos vikings. Nos tempos modernos, a idéia de um povo eminentemente guerreiro e rude remete ao romantismo oitocentista, que construiu uma identidade glorificada dos bárbaros europeus (Langer, 2009). Na esteira de tais estereótipos assenta-se o imaginário de que o povo nórdico constituía uma sociedade desprovida de leis e corpos institucionais, na qual a resolução de conflitos ficava a cargo exclusivo da violência. Sabe-se, todavia, da existência das

Things (em nórdico antigo þing), que figuravam como um protótipo de assembléia parlamentar e órgão judicial, no âmbito do qual se procedia sobretudo à tomada de decisões políticas, se decidia casos e se desenvolviam as atividades legiferante e arbitral. Conhecidas como o berço da democracia na Era Viking, tais assembléias reuniam-se regularmente, tendo sido em larga medida difundidas no norte europeu como uma tentativa inaugural de um sistema de representação. Na sociedade norueguesa medieval, particularmente, as Things eram divididas regionalmente em

Frostating, Gulating, Eidsivating e Borgating — instituídas entre os séculos 11 e 13 — compreendendo, assim, quatro comarcas distintas, com aplicação independente do direito vigente à época. Com apoio nos escritos do professor Laurence M. Larson (2011), propõe-se abordar, no presente trabalho, o aspecto judicial da Frostating e da

Gulating, que foram as assembléias mais influentes do período. A partir da análise da aplicação dos códigos que se desenvolveram nas regiões de Frosta e Gula, pretende-se de evidenciar a característica normativa da organização social nórdica medieval, de modo a desmistificar o estereótipo dos vikings como pertencendo essencialmente a uma sociedade à parte da lei. Palavras-chave: vikings; direito; Noruega.

Caderno de Resumos

Página 19

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Sessão 3: Estudos Nórdicos III Coordenação: Prof. Ms. Pablo Miranda (UFRN/NEVE)

Jorge Luis Borges e a literatura nórdica: ressignificações do medievo escandinavo na literatura hispano-americana contemporânea Profa. Ms. Fernanda Cardoso Nunes (UECE) A literatura nórdica foi para o escritor argentino Jorge Luis Borges uma fonte inesgotável de fascínio e influência. A mitologia nórdica, a leitura das sagas, principalmente da Völsunga Saga, e dos Eddas, em traduções inglesas, marcaram profundamente seu fazer literário. Este trabalho objetiva analisar sua obra observando as marcas da literatura nórdica em seus poemas “Snori Sturlson (1179-1241)”, “À Islândia”, “Islândia”, “Einar Tambarskelver”, “Midgarthormr” (BORGES, 1999; 1999 a; 2001), dos livros O outro, o mesmo (1964), O ouro dos tigres (1972), A moeda de

ferro (1976), História da Noite (1977), e Os Conjurados (1985). Como observa Martín Hadis (2011), Borges chegou ao escandinavo antigo através de seus estudos acerca do anglo-saxão, das leituras realizadas na biblioteca do pai e pelo interesse acerca dos seus antepassados de origem inglesa. Não apenas em seus poemas, mas em sua produção crítica literária e em seus contos, podemos perceber uma preocupação crescente em resgatar e analisar essa literatura, ressignificando-a na literatura hispano-americana contemporânea. Na obra de Borges, os temas escandinavos muitas vezes aparecem mesclados em versos que fundem elementos urbanos, oníricos e labirínticos ao passado medieval. Tendo como base teórica o estudo do acima mencionado Hadis (2011), acerca das influências anglo-saxãs e escandinavas na obra de Borges, os estudos de Margrét Jónsdóttir (1995) e Pineyro (1999) acerca de Borges e a literatura nórdica medieval, além de Langer (2009; 2015), acerca da mitologia nórdica, pretendemos investigar como a poesia borgiana se reapropria da literatura nórdica e a insere dentro do contexto contemporâneo da literatura hispanoamericana. Palavras-chave: Literatura nórdica medieval. Literatura hispano-americana. Jorge Luis Borges.

Caderno de Resumos

Página 20

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Imaginando um passado, justificando uma nação: uma possibilidade de interpretação do mito da Kalevala Marcos Saulo de Assis Nóbrega (UFCG) Dentro da formação histórica do mundo ocidental, em especial a Europa setentrional, a Finlândia foi palco de ventos socioculturais bastante singulares e de relevantes. Possuindo uma raiz étnico linguística que difere do ramo indo-europeu, desde a sua gênesis, os povos que habitaram a antiga Finlândia desenvolveram língua, comportamento e obviamente um mito originário próprio, a epopéia Kalevala, um conjunto de contos orais populares que foi compilado e editado em meados da metade do século XIX por Elias Lonnrot. Nota-se na Kalevala, uma distância considerável por exemplo dos mitos germano-escandinavos odinísticos, apesar da proximidade geográfica, a presença cultural escandinava antiga e medieval “pagã” não construiu bases fortes naquela região. Sendo um território historicamente ocupado por nações vizinhas como a Suécia e a Rússia, foi no século XIX iniciado um movimento de “despertar” popular para o sentido de nação, porém qual seria um símbolo de unidade popular? A partir disso, o presente artigo tem como objetivo trazer uma interpretação da epopéia Kalevala, sob o ponto de vista proposto por Benedict Anderson (2008) de uma “comunidade imaginada”, onde tal estrutura identificação sociocultural seria baseada na idéia de um mito de fundação, na qual a nação tem origem - dando margem ao nacionalismo finlandês nascente - analisando assim a ressignificação de Lonnrot da Kalevala, por fim, propor um debate comparativo do nacionalismo finlandês oriundo da publicação da Kalevala com o sentido de cultura popular reapropriada na Era Moderna delineada por Peter Burke (2010), permitindo a possibilidade interpretativa da obra da Kalevala com o seu meio real sociocultural e imaginário. Palavras-chave: Kalevala; Finlândia; Escandinávia.

Lapponia: Johannes Schefferus e a imagem do lapão no século XVII Caderno de Resumos

Página 21

III Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos (III CEVE), UFPB, 2015

Vítor Bianconi Menini (UNICAMP) Esta comunicação é produto de um projeto de monografia que será apresentada ao departamento de História da Unicamp. O principal objetivo do trabalho é investigar a produção da imagem do povo Sámi e a tônica do discurso durante a Era do grande poder, ou stormaktstiden, nos trabalhos de etnografia suecos. Preferiu-se a utilização deste termo em detrimento do complexo e extenso conceito “imperialismo”. Pela limitação temporal e espacial de uma monografia, resolvemos trabalhar com a obra de Johannes Schefferus Lapponia id est, Regionis Lapponum et Gentis Nova et Verissima

Descriptioe. Graças aos costumes, estilo de vida e outras práticas cotidianas, os Sámi chamaram a atenção de viajantes desde o início da era Cristã. Os Sámi já estavam englobados no reino sueco desde o século XIV, porém, eram vistos como “outros” dentro daquele limite geopolítico. O trabalho de Schefferus é um marco interessante e um dos trabalhos mais citados, uma vez que foi o primeiro que abordou exclusivamente o povo Sámi. Além disso, a obra foi encomendada pela coroa sueca, já que – após a guerra dos 30 anos – foram acusados de utilizar magia proveniente da Lapônia para vencer no campo de batalha. Há uma série de autores que tratam da Lapônia antes de Schefferus como Tácito e Olaus Magnus; após Schefferus, Carlos Lineu (século XVIII) e Lars Levi Læstadius (século XIX). Estudar a motivação de um dos autores ou o conjunto de suas ideias é importante, mas pouco explorado. Há uma clara agenda política e intelectual nos escritos sobre os Sámi desse período e pretendemos trazer alguma clareza na maneira como são representados na documentação apontada. Palavras-chave: Lapônia; Suécia; Etnografia moderna.

Caderno de Resumos

Página 22

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.