CADERNOS DE REPERTÓRIO CORAL COMUNICANTUS: Produção de partituras musicais para performance

June 12, 2017 | Autor: F. Santos | Categoria: Canto Coral, Music engraving, Editoração Musical
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CADERNOS DE REPERTÓRIO CORAL COMUNICANTUS: Produção de partituras musicais para performance Filipe Daniel Fonseca dos Santos Susana Cecilia Igayara Universidade de São Paulo O projeto Cadernos de Repertório Coral Comunicantus foi desenvolvido por alunos bolsistas que integraram o Comunicantus: Laboratório Coral, sob orientação da professora Susana Cecilia Igayara, com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. Seu objetivo era definir padrões editoriais na produção de partituras musicais dentro do laboratório, tendo como produto final a editoração eletrônica de arranjos e composições de alunos do Departamento de Música da ECA que foram executadas por algum dos coros pertencentes ao laboratório coral, possibilitando, assim, o acesso a esse material para regentes de coros com o mesmo perfil dos coros do Comunicantus1. O projeto teve duração total de 5 anos, período em que vários alunos estiveram envolvidos. Este trabalho refere-se ao período de um ano e meio em que fui bolsista no projeto. Pode-se dividir minha atuação no projeto em duas fases. A primeira refere-se ao processo de seleção dos arranjos e composições, editoração eletrônica e definição de padrões editoriais. Na segunda fase insere-se o processo de revisão das obras já editoradas aplicando-se os padrões editoriais previamente definidos e a preparação das partituras para publicação. Para a seleção das músicas a serem editoradas no projeto, definimos alguns critérios. Elas deveriam ter sido executadas em algum dos coros do Comunicantus: Laboratório Coral, ou seja, terem sido ensaiadas e apresentadas em concerto. Elas também deveriam ser arranjos ou composições de alunos de graduação do Departamento de Música. Nesse processo foram selecionadas 17 músicas compostas ou arranjadas por 7 alunos distintos. Pelo fato das músicas terem sido feitas por diferentes alunos em diferentes estágios de sua formação, era necessário a normatização da notação das partituras, para isso utilizamos os livros Essential Dictionary of

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O Comunicantus: Laboratório Coral possui atualmente dois coros amadores e dois coros formados por alunos de graduação em música do Departamento de Música da ECA. O Coral Escola Comunicantus é formado por coralistas amadores da comunidade de dentro e fora da USP. O Coral da Terceira Idade da USP faz parte do Programa Universidade Aberta à Terceira Idade da USP, e assim como o Coral Escola é formado por coralistas amadores. Ambos os coros fazem parte de uma disciplina optativa oferecida no curso de música onde os alunos estagiam preparando os ensaios, escolhendo repertório, fazendo a preparação vocal, regendo, enfim, aprendendo todo o processo que envolve a criação e manutenção de coros amadores. O Coral da ECA é matéria obrigatória para os alunos do curso de música e é aberto para alunos de outros cursos que possuem leitura musical. O Coro de Câmara Comunicantus é formado por alunos bolsistas que passam por um processo de seleção. Outros coros já fizeram parte do laboratório, como o Coral Oficina Comunicantus e o Studio Coral – Vozes Femininas, que se encontram desativados atualmente.

Music Notation e Music Notation: A Manual of Modern Practice como referência. O software utilizado para a editoração das partituras foi o Finale 2011, um programa de notação musical profissional que tem a capacidade de produzir trabalhos de alta qualidade. Na definição dos padrões editoriais levamos em consideração aspectos específicos de notação musical, de formatação da partitura, ou layout, e aspectos que influenciam na leitura da partitura, mas que não fazem parte da notação ou do layout propriamente ditos. Uma das questões que precisaram ser decididas em relação à notação, por exemplo, foi definir se utilizaríamos a escrita tradicional da notação vocal ou a usada atualmente. Na escrita tradicional as bandeirolas que ligam colcheias, semicolcheias e fusas são utilizadas apenas quando uma sílaba é cantada com mais de uma nota (Figura 1), enquanto que na escrita moderna elas são utilizadas da mesma maneira que na escrita instrumental, onde ela é utilizada para agrupá-las de acordo com os tempos do compasso (Figura 2). Concluímos que ambas as opções podem ser utilizadas de acordo com a música a ser editada. Normalmente músicas populares possuem uma divisão rítmica um pouco mais complexa que torna necessário a utilização das colcheias ligadas para que a leitura musical seja mais fluida, enquanto que outras músicas, mais ligadas à tradição da escrita coral, tornam possível a utilização das colcheias desligadas, fazendo com que a compreensão de que sílaba é cantada em qual nota fique mais clara.

Figura 1: EN LAS NOCHES CLARAS - Anselmmo Mancini

Figura 2: THE LION SLEEPS TONIGHT - Solomon Linda

Em relação ao layout, a definição do tamanho das margens das páginas, assim como o tamanho das fontes utilizadas nos textos e a posição de cada um deles foi o mesmo para todas as partituras. Porém, como as músicas possuem várias formações, ou seja, algumas são a quatro

vozes, outras a três, outras com piano, outras sem piano, foi necessário definir padrões distintos para cada formação em relação aos espaçamentos internos, entre os pentagramas e entre os sistemas. Da mesma maneira, a quantidade de versos no texto influencia na questão do espaçamento pois quanto mais versos, mais espaço é requerido entre os pentagramas para o texto não ficar muito condensado e atrapalhar a leitura. Por isso definimos um máximo de dois versos nas partituras editoradas e quando havia mais de dois procuramos adaptá-las, duplicando a música e reescrevendo os versos restantes, como foi o caso do arranjo de Conversa de botequim. Esse arranjo foi executado pelo Studio Coral – Vozes Femininas e em sua primeira versão, a partitura possuía vários retornos, tendo os versos sido escritos um em baixo do outro (Figura 3). Por esse motivo os ensaios iniciais da música foram muito prejudicados porque as coralistas precisavam, toda vez que tinha um retorno, parar para conferir onde elas deveriam voltar na partitura, isso quando não se confundiam com os retornos. Isso tomou um tempo precioso de ensaio. A solução foi refazer a partitura, sem os retornos, e colocando os versos um depois do outro em forma de seções. O resultado na leitura da música foi muito mais fluente e o benefício por não desperdiçar tempo de ensaio é muito grande.

Figura 3: CONVERSA DE BOTEQUIM - Noel Rosa

Elaine Gould, em seu livro sobre notação musical, comenta sobre a questão de layouts e notações mal feitas: Quando um intérprete comete erros em ensaio, frequentemente é porque há algo errado com o layout ou a notação. Gastar tempo de ensaio resolvendo dificuldades de leitura desnecessárias é injusto com os músicos, os quais esperam investir seu tempo e energia na música.2 (GOULD, 2011, tradução nossa)

Ainda sobre o layout, um último aspecto que gostaríamos de citar foi a escolha de fontes diferentes daquelas mais comuns para dar uma identidade única ao projeto, apesar de não serem essenciais para a produção das partituras nos padrões definidos. 2

When a performer stumbles in rehearsal this is frequently because there is something wrong with the layout or the notation. Spending rehearsal time ironing out needless reading difficulties is unfair on the musicians, who will be hoping to invest their time and energy in the music.

Entre os aspectos que não fazem parte da notação ou do layout que foram considerados está o nível de proficiência de leitura dos diferentes perfis de coralistas. Por exemplo, pelo fato do Comunicantus possuir coros com variados perfis, incluindo um Coral da Terceira Idade, consideramos o tamanho mínimo que os pentagramas deveriam ter para que a leitura por parte de um coralista com esse perfil não fosse prejudicada, assim como o tamanho mínimo da fonte utilizada nas letras das músicas. Esse processo de definição de padrões se deu durante a editoração das partituras, sendo necessário que fizéssemos vários testes, comparando-as com outras edições comerciais, até chegar a uma escolha definitiva. Por esse motivo na segunda fase da minha participação no projeto foi necessário revisar todas as partituras editoradas para deixá-las nos padrões definidos e também para corrigir eventuais erros que pudessem ter sido cometidos na fase anterior. O resultado é uma coletânea de 17 arranjos e composições de alunos pronta para ser publicada (tabela 1), faltando apenas a produção de textos explicativos e o interesse por parte de alguma instituição para a sua publicação impressa. Tabela 1

Música

Aluno

A Felicidade

Filipe Fonseca (arr.)

Anhelo Infantil

Anselmo Mancini (comp.)

Ato de Fé

Vitor Kisil (comp.)

Bandejão

Renato Spinosa (comp.)

Canto de Ossanha

Fred Teixeira (arr.)

Carinhoso

Thiago de Almeida Tavares (arr.)

Certeza

Vitor Kisil (comp.)

Conversa de Botequim

Filipe Fonseca (arr.)

En las noches claras

Anselmo Mancini (comp.)

Eu Canto

Filipe Fonseca (comp.)

Gente Humilde

Fred Teixeira (arr.)

Naquela Mesa

Fred Teixeira (arr.)

O Trenzinho do Caipira

Filipe Fonseca (arr.)

Por una cabeza

Thiago de Almeida Tavares (arr.)

The Lion Sleeps Tonight

Filipe Fonseca (arr.)

Tiro ao Álvaro

Fred Teixeira (arr.)

Trem das Onze

Carolina Andrade (arr.)

Bibliografia

GEROU, Tom; LUSK, Linda. Essential Dictionary of Music Notation: The most practical and concise source for music notation. Los Angeles: Alfred Publishing Co., 1996. GOULD, Elaine. Behind Bars: The Definitive Guide to Musical Notation. Londres: Faber Music, 2011. IGAYARA, Susana Cecilia. Repertório Coral: Alguns aspectos sobre a Edição de Música (preprint). In: Canção Coral Brasileira: Repertório e Educação, História e Práticas Culturais. Relatório final de atividades e de pesquisa referente ao período de estágio probatório em RDIDP (2004- 2010). São Paulo, Universidade de São Paulo, 2010. pp. 95-99. Versão eletrônica disponível em: palcosepaginas.blogspot.com. READ, Gardner. Music Notation: A Manual of Modern Practice. 2 ed. New York: Taplinger Publishing Company, 1979.

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