Calvino e as Relíquias Falsas. Educação, arqueologia e a relevância moral do conhecimento do passado na formação do pensamento crítico.

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Calvino e as Relíquias Falsas. Educação, arqueologia e a relevância moral do conhecimento do passado na formação do pensamento crítico. por Andrés Alarcón-Jiménez, Gabriella Barbosa Rodrigues e Lucas Cordeiro Marchesini

Sobre o primeiro autor[1] Sobre o segundo autor[2] Sobre o terceiro autor[3] Introdução Este artigo é resultado de discussões promovidas durante o ano de 2009 e faz parte das atividades do Grupo de Estudos Interdisciplinares entre Teologia e História, desenvolvido conjuntamente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob a coordenação dos professores João Cesário Leonel Ferreira (Seminário Presbiteriano do Sul e Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Pedro Paulo A. Funari (Unicamp). “Arqueologia e geografia bíblica”, disciplina que se oferece aos seminaristas presbiterianos como parte do seu processo formativo, parece que é considerada pelos alunos como fornecedora de conhecimento

de pouca relevância para a prática ministerial. Mas, como veremos nas palavras de Calvino, qual seria o proveito de explorar o lado mais mundano, histórico, poético ou material das narrativas religiosas se não for para o proveito da própria atividade do ministro? Educação e pensamento crítico para defesa da Fé contra a idolatria Como vamos expor nos seguintes parágrafos, Calvino, treinado durante sua vida como advogado, proporciona um argumento claramente retórico no seu Tratado das Relíquias[4], onde discute tópico relevante para o debate da função epistemológica e moral daquelas temáticas ligadas ao núcleo dessa disciplina. O Tratado das Relíquias é um escrito teológico – escrito em tom irônico - de conotações analíticas, curiosamente arqueológicas, sobre as implicações dos diversos usos das relíquias nos recintos sagrados. Nesse tratado Calvino procura demonstrar como, sob um manto de hipocrisia e política, a estrutura administrativa e de poder do Catolicismo – a Igreja - salientava aos paroquianos que adoraram objetos que, além de serem falsos no critério do autor, constituíam um atentado contra as regras da prática religiosa, pois substituíam – disse Calvino - a Deus.

Com efeito, fazendo uso de um conhecimento erudito, que ecoa a epistemologia agostiniana e tomista, e concebendo um espaço analítico onde existe a possibilidade do conhecimento da obra material e espiritual de Deus[5], Calvino desenvolve um argumento crítico que, por meio da analise dum objeto ou da origem duma prática religiosa ligada a ele, fundamenta sua crítica moral e teológica contra a idolatria. Debatendo a questão em torno dessa noção que, no olhar dele, caracterizava as práticas populares do catolicismo ligadas ao ícone, Calvino afirma que: Se a idolatria não é mais do que a transferência da honra de Deus a outros lugares, negaremos que não é idolatria? E não adianta justificar esta prática dizendo que ela surgiu no zelo desordenado dos brutos e idiotas ou das mulheres simples. Porque esta é uma desordem geral, aprovada por aqueles que governam e administram a Igreja. Colocaram-nas ao mesmo nível, os ossos dos mortos e todas as outras relíquias sobre o grande altar, no lugar mais elevado e mais conspícuo para que elas fossem adoradas mais autenticamente. Observe-se, então, como a louca curiosidade que tivemos desde o início, fazendo tesouros das relíquias, deveio nessa abominação tão franca, que não somente afastou-se totalmente de

Deus para se entreter com coisas corruptas e vãs, mas que por um sacrilégio execrável adorou as criaturas mortas e insensíveis no lugar do único Deus vivo (Calvino.1921:90, tradução nossa) [6]. [...] e acrescenta: È obrigação dos cristãos deixarem os corpos dos santos nos seus sepulcros para obedecer a esta sentença universal, que todo homem é pó, e ao pó retornará; não para erigi-los, com pompa e suntuosidade, para praticar uma ressurreição antes dos tempos (Calvino. 1921:92-93. A tradução é nossa) [7]. Calvino entende que o culto às relíquias substituía o culto a Deus, por um lado, com a aprovação da Igreja, e, por outro, critica com ironia como essa forma de idolatria contradiz a própria lógica da moral da religião, mas, curiosamente, por meio dessa crítica que tentava demonstrar a futilidade das obras materiais e a fragilidade da vida humana, procurava exortar – tacitamente - seu leitor a tomar uma atitude humilde. A História do povo de Deus e as suas noções de história antiga, usadas na lógica racional dos patriarcas filósofos, permitirão que se

oponha à natureza falsa e idólatra daqueles objetos e práticas. Como se confere no Tratado, que ecoa a passagem da história bíblica das leis mosaicas[8], Calvino sugere que o exame físico das relíquias é um exercício que permite desmascarar a falsidade dessas peças expostas nos templos, ou que faziam turnê pelas igrejas da Europa: Mas se foram examinadas, vamos enganar os malandros [...] Isso é mais desejável do que ter certeza de todas as tonteiras que passam e podem se encontrar, aqui e ali, por relíquias, ou quiçá, pelo menos poderão se registrar e contar, para mostrar quantas dentre elas são falsas. Mas, como não é possível fazer isto, eu só espero ter o inventário de dez ou doze vilas, como o de Paris, Touluse, Reims e Poitiers [...] (Calvino. 1921:98, tradução nossa)[9] Conferimos no texto de Calvino a existência de um critério claro para distinguir o “verdadeiro” e o ”falso”. A falsidade - comenta Calvino - virá à luz a partir do inventário e exame das peças, e com esse intuito, ele desenvolve, por meio da leitura crítica de passagens bíblicas, como de trechos e citas de textos teológicos, históricos e filosóficos clássicos relevantes, um método comparativo e critérios analíticos de classificação e

observação de objetos que nos lembram claramente daquelas práticas de falseamento próprias da Arqueologia. Assim, Calvino leva sua análise ao campo da história, dos estudos de história antiga e clássica para afirmar que: Do tempo dos apóstolos, jamais ouvimos falar. Aproximadamente cinqüenta anos depois da morte de Jesus Cristo, Jerusalém foi saqueada e destruída. Muitos dos antigos doutores que escreveram posteriormente fazem menção a coisas que eram do seu tempo, tanto da cruz como dos cravos que Helena encontrara. De toda essa lista desordenada, eles não dizem nada. (Calvino 1921:104, tradução nossa) [10] Por outro lado, a cultura material, representada nesse caso na “relíquia”, lhe permite traçar o argumento que nós pensamos, representa uma forma de pensamento arqueológico. No seguinte exemplo ele debate sobre a natureza de uma relíquia que teria pertencido a Jesus Cristo: Ainda bem, até que ponto não escapou o corpo de Jesus Cristo de alguém ter pegado algum pedacinho dele. Porque, além dos dentes e cabelos, o abade de Charroux, na diocese de Poitiers, se orgulha de ter o prepúcio, ou seja, a pele que foi cortada

dele na circuncisão. Eu pergunto a você: de onde veio essa pele? Lucas, o evangelista, conta bem como nosso Senhor Jesus foi circuncidado, mas que aquela pele fosse cindida para se preservar como relíquia, ele não faz menção. Nenhum historiador da Antiguidade faz referência a ela. E no espaço de quinhentos anos, ninguém falou dela na Igreja Cristã. Então, onde ela esteve escondida para ter sido recuperada assim de maneira tão súbita? Aliás, como ela voou precisamente até Charroux? Mas para aprovála, dizem que ela deixou escapar algumas gotas de sangue. Ou seja, eles dizem que existem formas de certificá-la [como verdadeira]. Porque nós vemos que aquela pele não é mais do que uma burla. Não obstante, ainda que aceitemos que a pele que foi cortada de Jesus Cristo foi conservada, e que ela possa estar lá, ou em outro lugar, que diremos do prepúcio que se exibe em Roma, ou em Saint-Jean de Letran? É certo que só existe uma. Ela não pode estar em Roma e Charroux ao mesmo tempo. Eis uma falsidade evidente (Calvino. 1921:98, tradução nossa) [11]. Calvino foi um dos reformadores, não só do culto cristão, mas também das noções práticas da vida em comunidade. Para ele, a formação

escolar[12] era um item básico para a preparação tanto de pastores como de homens em geral. Com efeito, desde fins do século XVIII e começos do XIX, graças em parte à influência da Reforma – e no mundo ibero-americano, da Contrarreforma - no quesito da educação popular, tanto feminina como masculina, e graças ao poder produtivo da imprensa, a leitura tornou-se referência básica dos cursos de ensino elementar e secundário. De fato, o modelo de escola moderna que se espalharia pela América e, anos antes, na Europa Ocidental ligada a ela, fundou-se em modelos desenvolvidos sob a ótica calvinista de pedagogos suíços. Essa tradição europeia protestante seria retomada anos mais tarde no contexto da formação dos modernos e massivos sistemas de educação, estatal e, sobretudo, privada, e estabeleceriam a base do pensamento crítico como dos critérios morais absolutos - pois eram palavra de Deus e resultado do sacrifício de Jesus Cristo - que todos os cidadãos, num sentido agostiniano, deveriam assimilar com o intuito de viver vidas exemplares. Calvino, entre outros autores, destacava a importância da memória e da leitura como formas de levar ao mundo os conhecimentos

éticos e científicos que, como ele experimentou, permitiam descobrir as falsificações e as manipulações que os seres humanos faziam da obra e palavras de Deus. Aliás, amalgamada com a vida familiar e social, e na escola com os estudos de cívica, geografia, história universal, educação física e ética, entre outras disciplinas básicas da escola moderna, a educação religiosa expressa em forma de lições de história sagrada, biografias dos santos, e de livros de catequese, e junto com as festas e diversas práticas litúrgicas no contexto das igrejas presentes na América Latina – algumas delas com maior presença no campo de poder do que outras, devido à herança colonial ibérica - torna a religião presente na vida de cada criança. Assim, a educação e, sobretudo, a prática da leitura, permitiriam desenvolver em cada futuro homem e mulher uma forma de conhecer, reconhecer e definir o papel da cultura material na formação das almas, pois tinham uma função vital ao estabelecer a estrutura das relações de poder – e os canais de comunicação entre as diversas partes – e as hierarquias sociais terrenas com o discurso bíblico e, portanto, a palavra de Deus. No seu conjunto total, a formação do olhar dos membros do rebanho tornou-se a forma de garantir que nenhuma delas escapasse e, ao mesmo tempo, a forma de controlar seu périplo individual pela terra. Essa bússola,

como pode conferir-se, marcava o norte de forma tal que qualquer um podia vê-lo claramente traçado sobre um mapa espaço-moral cujos pólos magnéticos eram o bom/verdadeiro e o mau/falso. A importância moral de reconhecer os marcadores territoriais e morais: a arqueologia e geografia bíblica Calvino demonstrou, então, com esse tratado, a importância teológica do conhecimento da história e da crítica da religião, bem como das tradições clássicas e até de costumes populares e da cultura material. O conhecimento da história da Igreja e dos povos, das línguas modernas como das mortas, como do pensamento clássico religioso e filosófico, lhe permitiram ler a realidade de forma particular, recolhendo a tradição da lógica tomista que salientava o desenvolvimento das faculdades críticas no serviço da Fé verdadeira. Em princípio, ainda que o protestantismo, como o Islã, rejeite certas representações ou espaços como idolatria, esta classe de narrativas religiosas precisa de alguma forma de presença material, de objetos tangíveis. No Tratado das Relíquias Calvino debate doutamente sobre costumes da época presente (Calvino 1921:109) - utilizados para questionar a

veracidade de uma peça concreta e os desenvolve como um argumento douto e analítico sobre a verdade (Calvino 1921:197), ou seja, que está enraizado num debate moral sobre a prática da fé. Porém, num determinado momento, Calvino leva a questão ao campo da devoção. Com efeito, mesmo sem aprovar decididamente a justificativa, ele menciona como muitas das peças falsas têm uma razão de ser: De fato, os hipócritas, tanto os sacerdotes como os monges, confessam que nesses casos eles as chamam de pias fraudes, ou seja, de enganos honestos para levar o povo à devoção. (Calvino 1921:105, tradução nossa) [13] Calvino reconhecia, dessa forma, as dificuldades pelas quais passa um pastor para levar as pessoas à igreja, mas aponta também a crítica da ignorância que leva às interpretações e práticas falsas das doutrinas verdadeiras. As pessoas reagem, nesse sentido, positivamente ao objeto como forma de mediação entre eles e o ser representado, pois na lógica aplicada a esse caso, diferente da lógica abstrata, educada e classicista de Calvino, o objeto partilha a essência – ou algumas características importantes- do ser representado.

Por outro lado, junto com o objeto, o lugar onde ele se encontra localizado é de suma importância. Sobre o tema da relevância vital e da construção dos espaços humanos, a territorialidade, no campo da religiosidade, um dos autores clássicos a esse respeito, o antropólogo romeno Mircea Eliade[14], apontava como a definição e instituição do espaço sagrado e dos objetos rituais balizava as práticas da Fé. A visão de Eliade considere-se, está imbricada na reflexão acadêmica sobre a religião, mesmo que expresse uma simpatia maior do que outros autores do campo: Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo, ele experimenta interrupções, fraturas nele. Algumas partes do espaço são qualitativamente diferentes de outras. “Não te chegues para cá” disse o Senhor a Moises, “tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa”. Existe então, um espaço sagrado e, portanto, um espaço forte e significativo. Há outros espaços que não são sagrados e, assim, sem estrutura ou consistência, espaços amorfos. (1968: 20, tradução é nossa)[15]. Seguindo a ideia de Eliade com respeito à noção e prática de sacralizar certos espaços e datas (são estruturas ligadas entre si), a nossa

leitura da importância da representação do universo na narrativa bíblica implica uma concepção da geografia e história do mundo, ligada estruturalmente ao ato verbal da criação (no mundo mitológico a palavra e o objeto não estão separados, mas são consubstanciais). Aliás, a narrativa bíblica suporta uma estrutura cronotrópica e lingüística complexa que dá suporte ao mapa mais popular e difundido da história – cristã - do Homem. A “Bíblia” contém as orientações para a vida do ser humano cuja origem, porém, está culturalmente ligada à história de múltiplas populações da Ásia, Europa e o norte da África. O Homem é o protagonista do périplo humano que começa no Gênesis, que marca o relato que ecoaria nas histórias dos próprios périplos daqueles povos que, eventualmente, adotaram as religiões hebraicas e, posteriormente, cristãs como a própria. Dois importantes componentes genéticos e narrativos fortalecem, ao mesmo tempo em que constituem o correlato religioso entre as representações cartográficas, as referências materiais – de natureza cronotrópica[16]- da experiência religiosa. No livro do Antigo Testamento, a criação do Homem; no Novo Testamento, a Crucifixão. A origem, natureza e destino do ser humano estão determinados por ambos os eventos e os ligam

de forma espiritual e material a pontos geográficos concretos. Eles marcam o caminho circular, e também constituem as referências morais e míticas que norteiam a vida de cada ovelha. Contudo, esse peregrinar que é a vida, precisava de certos rituais ligados às relíquias e pontos histórico-geográficos relevantes: em datas concretas, deviam-se percorrer caminhos que conduziam aos templos. Porém, mesmo que as peregrinações continuem sendo uma prática habitual, numa época na qual podem se comprar os artefatos religiosos numa loja, tanto o protestantismo como o catolicismo estabeleceram ambos uma relação diferente através dos séculos com esse espaço sagrado, adaptando às práticas às mudanças sociais e, ao mesmo tempo, mantendo um calendário de atividades rígido e cíclico, invariável como a própria narrativa bíblica, e, ligado a essa prática, um conjunto de rituais elementares. Ainda mais, a prática na Modernidade, mantendo o convite a lugares sagrados e quase imutáveis, os templos físicos, também conseguiu nesses dois últimos séculos institucionalizar a idéia de pensar o corpo como o nosso templo interior.

A visão de mundo de muitas pessoas, nesse sentido, está baseada numa cosmologia profundamente ligada à constituição de si. Assim, em segundo lugar, como já observamos no discurso do Calvino, o estudo da Antigüidade Clássica, Arte e Antropologia se tornam úteis ferramentas críticas para o raciocínio teológico. Nesse sentido, uma leitura mínima da produção da arqueologia e da geografia bíblica pode ajudar no fornecimento e explicação de referentes bíblicos para o público em geral. A Bíblia, por ter sido usada e naturalizada como a base da história da Humanidade e de seus valores eternos desde a origem mesma dela, essa visão de mundo, onde o universo já estava ordenado segundo uma ordem inquestionável, foi a inserida no processo de constituição da classificação moderna das raças como dos mapas dos territórios do passado do Homem e, por essa via, concretamente, forneceu o espaço privilegiado das pesquisas arqueológicas durante décadas. Quem revisar a história da Europa moderna, mas também da disciplina historiográfica e arqueológica[17], poderá conferir como a Terra Santa e outros sítios ligados à história do Cristianismo no Ocidente foram os locais privilegiados de guerras, empresas colonialistas, sítios de peregrinação

e objetos do desejo dos conversos ao longo do tempo. A história da humanidade, contada por meio das guerras pelos sítios sagrados, mas, nesse caso, esboçada por alguns dos clássicos da arqueologia, nasceu na Bíblia e na Fé de centenas de fieis que procuravam conferir os lugares onde tudo aconteceu. Esse mapa geográfico-moral está presente nas representações e visão de mundo de milhares de cristãos das diversas religiões ligadas à figura de Jesus Cristo. As experiências e concepções da Terra Santa têm variado ao longo dos séculos e das regiões geográficas, mas junto com o desenvolvimento de ciências como a Cartografia, a Geografia, a Filologia, a Historiografia e a Arqueologia, com o renascimento dos estudos em Filosofia, Física, Química, entre outras disciplinas, com as contínuas e sangrentas discussões entre as diversas Igrejas e Instituições religiosas e políticas, bem como a proliferação da vida nas urbes, a Terra Santa foi ganhando representações novas, porém, sem perder nunca seu caráter e importância sagrada e ritual. A dimensão material e histórica do texto bíblico, bem como a importância dos objetos, lugares de peregrinação e iconografia em geral

para o culto cristão, permitem que o trabalho do historiador e do arqueólogo, mesmo que, hoje em dia, ele esteja norteado por critérios e objetivos diversos daqueles próprios das instituições religiosas, se insira no processo educativo e formativo das estruturas eclesiásticas e seculares que conformam as igrejas contemporâneas cujo sistema de crença está ligado à figura de Jesus Cristo e à história do “povo de Deus”. Conclusão A inclusão da Arqueologia Bíblica, bem como de Geografia Bíblica no currículo dos cursos teológicos presbiterianos, apresenta-se como um aspecto relevante, porquanto ambas disciplinas poderiam apresentar, num começo, um conflito com os princípios da fé e com os avanços e debates acadêmicos e científicos atuais. Porém, a materialidade do mundo nunca tem sido um problema evidente para as religiões. Não por acaso, concebida inclusive como ídolo ou ícone, a materialidade do mundo tem um uso concreto na percepção do universo humano e, na lógica própria da fé e das expressões religiosas e culturais contemporâneas, ela proporciona, ao mesmo tempo, um objeto de pesquisa como elo sensível com o universo

espiritual, tanto no nível estético como moral e, no nosso caso de interesse, místico. Agradecimentos Agradecemos a João Cesário Leonel Ferreira e a Pedro Paulo A. Funari e mencionamos o apoio institucional da Unicamp, do Seminário Presbiteriano do Sul, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, da FAPESP e do CNPq. A responsabilidade pelas idéias limita-se aos autores.

[1] Antropólogo pela Universidade Nacional de Colômbia, 2003; Mestre em História Cultural, Unicamp, 2008; Doutorando em História Cultural, Unicamp, 2009. [2] Bacharel em História pela Unicamp, 2008; Mestranda em História Cultural, Unicamp, 2009, bolsista FAPESP. Estagiária do Laboratório de Arqueologia da UNICAMP. [3] Bacharelando em Teologia (3º. ano), Seminário Presbiteriano do Sul. Integrante do Grupo Scriptura Litteraria.

[4] Calvino, J. 1921 (1543). Traité des Reliques. Edição facsímile. Disponível em francês no site www.gallica.fr. Um completo e breve comentário, e uma notícia histórica sobre a obra, se encontram em: http://www.museeprotestant.org/Pages/Notices.php?cim=134&lev=2¬ic eid=872&scatid=5&Lget=FR [5] Cf. Robert A. Ayers. 1980. Language, Logic and Reason in Calvin's "Institutes". Religious Studies, Vol. 16, No. 3. Sep. Pp. 284. [6] Si l'idolâtrie n'est sinon que transférer l'honneur de Dieu ailleurs, nieronsnous que cela ne soit idolâtrie? Et ne faut excuser que ce a été un zèle désordonné de quelques rudes et idiots, ou de simples femmes. Car ce a été un désordre général, approuvé de ceux qui avaient le gouvernement et conduite de l'Église; et même on a colloque les os des morts et toutes autres reliques sur le grand autel, au lieu le plus haut et le plus éminent, pour les faire adorer plus authentiquement. Voilà donc comme la folle curiosité qu'on a eue du commencement. à faire trésor de reliques est venue en cette abomination toute ouverte, que non seulement on s'est détourné du tout de Dieu, pour s'amuser à choses corruptibles et vaines, mais que, par sacrilège exécrable, on a adoré les créatures mortes et insensibles, au lieu du seul Dieu vivant.

[7] C'était l'office des chrétiens de laisser les corps des saints en leur sépulcre, pour obéir à cette sentence universelle que tout homme est poudre et retournera en poudre: non pas de les élever en pompe et somptuosité pour faire une résurrection devant les temps. [8] Êxodo 20, 23. [9][ ...] Mais si on en faisait l'examen, on tromperait clairement la fourbe... Ce serait donc une chose à désirer que d'avoir certitude de toutes les fariboles qu'on tient çà et là pour reliques, ou bien au moins d'en avoir registre serait donc une chose à désirer que d'avoir certitude de toutes les fariboles qu'on tient çà et là pour reliques, ou bien au moins d'en avoir registre et dénombrement, pour montrer combien il y en a de fausses. Mais puisqu'il n'est possible de ce faire, je souhaiterais seulement d'avoir l'inventaire de dix ou de douze villes, comme de Paris, Toulouse, Reims et Poitiers. [10] Du temps des apôtres, jamais on n'en ouit parler. Environ cinquante ans après la mort de Jésus-Christ, Jérusalem fut saccagée et détruite. Tant de docteurs anciens ont écrit depuis, faisant mention des choses qui étaient de leur temps, même de la croix et des clous qu'Hélène trouva. De tout ce menu fatras, ils n'en sonnent mot.

[11] Combien encore qu'on n'a point laissé échapper le corps de Jésus-Christ sans en retenir quelque lopin. Car, outre les dents et les cheveux,l'abbaye de Charroux, au diocèse de Poitiers, se vante d'avoir le prépuce, c'est-à-dire la peau qui lui fut coupée à la circoncision. Je vous prie, dont est-ce que leur est venue cette peau ? L'évangéliste saint Luc récite bien que notre Seigneur Jésus a été circoncis, mais que La peau ait été serrée pour la réserver en relique, il n'en fait point de mention. Toutes les histoires anciennes n'en disent mot. Et par l'espace de cinq cents ans il n'en a jamais été parlé en l'Église chrétienne. Où est-ce donc quelle était cachée, pour la retrouver si soudainement ? Davantage, comment eût-elle volé jusqu'à Charroux ? Mais pour l'approuver, ils disent qu'il en est tombé quelques gouttes de sang. Cela est leur dire, qui aurait métier de probation. Par quoi on voit bien que ce n'est qu'une moquerie. Toutefois, encore que nous leur concédions que la peau qui fut coupée à Jésus-Christ ait été gardée et qu'elle puisse être ou là ou ailleurs, que dirons-nous du prépuce qui se montre à Rome, à Saint-Jean de Latran ? Il est certain que jamais il n'y en a eu qu'un. Il ne peut donc être à Rome et à Charroux tout ensemble. Ainsi voilà une fausseté toute manifeste. [12] Cf. Calvin. J. (2008(1552)). Catéchisme : c'est à dire, le formulaire d'instruire les enfants en la chrestienté, fait en la manière de dialogue, où le

ministre interrogue et l'enfant respond. Edição facsímile digitalizada disponível em: www.gallica.fr. [13] Et de fait, les cafards tant prêtres que moines, confessent bien que ainsi est, en les appelant pias fraudes, c'est-àdire des tromperies honnêtes, pour émouvoir le peuple à dévotion. [14] Mircea Eliade. 1968. The Sacred and the Profane: the nature of religion. Harvest, Ny. [15] For religious man, space is not homogeneous; he experiences interruptions, breaks in it; some parts of space are qualitatively different from others. "Draw not nigh hither," says the Lord to Moses; "put off thy shoes from off thy feet, for the place where on thou standest is holy ground" (Exodus, 3, 5). There is, then, a sacred space, and hence a strong, significant space; there are other spaces that are not sacred and so are without structure or consistency, amorphous. Em: Mircea Eliade 1968:20 [16]Conceito que Bakhtin (1981. The Dialogic Imagination: Four Essays by M.M. Bakhtin. Tr. Caryl Emerson e Michael Holquist. University of Texas Press) desenvolveu para caracterizar, concorde com os preceitos da ciência

do século XX e a crítica a certas proposições epistemológicas kantianas, o espaço-tempo segundo representado no discurso. [17] Cabe anotar que devido a que historicamente os muçulmanos tinham ocupado a maior parte da Terra Santa, limitando eventualmente o fluxo de peregrinos europeus aos lugares santos. Ligada a essa problemática, e devido à forma em que se desenvolveram as empresas colonialistas na região ao longo dos séculos, muitas das relíquias e templos da região, eventualmente, foram trasladadas aos museus na Europa.

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