CAMINHOS DA PESQUISA CIENTÍFICA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

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X EDICIC - 2016


Nome da Área Temática: (Epistemologia da Ciência da Informação e da
Documentação)


CAMINHOS DA PESQUISA CIENTÍFICA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO





Charlley Luz,


Mestre em Ciências da Informação ECA/USP


[email protected]


Marivalde Moacir Francelin


Professor Doutor ECA/USP


[email protected]



O principal objetivo do presente trabalho é apresentar uma análise sobre os
caminhos para a definições de uma metodologia de pesquisa na Ciência da
Informação. Como objetivo secundário procura levantar uma discussão sobre a
ideia de intradisciplinaridade. A situação problemática indica que a falta
de conhecimento dos trajetos de uma pesquisa dificulta a própria ação de
conhecer. Supõe, como principal hipótese, que o conhecimento desses
caminhos depende da atitude do pesquisador. Como segunda hipótese, defende
que existe a possibilidade de um autoconhecimento ou de uma linguagem comum
através da ação intradisciplinar. A pesquisa é exploratória, com base em
revisão de literatura. Na revisão discute a definição de metodologias, os
caminhos da pesquisa e suas variações, os paradigmas e seus objetos.
Conclui que a multiplicidade temática da Ciência da Informação é um
indicativo para aprofundar a hipótese da intradisciplinaridade.


Palavras-chave: Metodologia. Paradigmas Epistemológicos.
Intradisciplinaridade. Ciência da Informação.

The main objective of this paper is to present an analysis of the paths to
the definitions of a research methodology in Information Science. As a
secondary objective seeks a discussion on the idea of intradisciplinarity.
The problematic situation indicates that the lack of knowledge of the paths
of research hinders the action itself to know. It is supposed, as the main
hypothesis that the knowledge of these ways depends on the researcher's
attitude. As a second hypothesis argues that there is the possibility of a
self knowledge or a common language through intradisciplinary action. The
research is exploratory, based on literature review. In the review
discusses the definition of methodologies, research paths and its
variations, the paradigms and their objects. It concludes that the thematic
multiplicity of Information Science is indicative to deepen the
intradisciplinarity hypothesis.

Key words: Methodology. Epistemological Paradigms. Intradisciplinarity.
Information Science.






1 Introdução

Como um dos aspectos pragmáticos da ciência, solucionar um problema,
traz consigo algumas definições importantes. Para tanto, procura-se
apresentar os principais tópicos que são avaliados na escolha de uma
metodologia de pesquisa. De acordo com Vega-Almeida, Fernández-Molina e
Linares Colimbié (2009, p. 1) "O uso de propostas teóricos-metodológicas
extra e intradisciplinares para o estudo das transformações que se
manifestam em uma área do conhecimento constitui um aspecto essencial para
uma melhor interpretação de suas peculiaridades [...]". Estes tópicos podem
variar, mas de uma forma em geral não há pesquisa científica sem: o
problema, as hipóteses, qual metodologia escolher, o tipo de pesquisa a
realizar, qual o paradigma epistemológico que se associa, qual (ou quais)
objeto (s) de estudo, a definição do tema e qual a estrutura da pesquisa.
Parte-se do exemplo, dado por Solomon (2010, p. 3) sobre a história do
reino da Certilândia, que diz que "[...] só se pode de fato solucionar um
problema quando se tem consciência de sua natureza e é ele formulado com
precisão dentro de um contexto previamente estabelecido." O processo
científico em si, nesta visão, seria uma sequência de soluções de problemas
e esclarecimentos contendo uma linguagem comum. Seria algo parecido com o
"[...] movimento de pensamento cujo esforço e intenção direciona-se à
produção de um novo conhecimento" (GONZALÉZ DE GÓMEZ, 2000). Este é um
movimento que parte do indivíduo, mas, age dentro de um campo específico,
que busca solucionar o problema identificado pelo pesquisador.
Os problemas, suas hipóteses e soluções cabem dentro de uma linguagem
(ou vocabulário) comum, condicionados por uma metodologia da pesquisa. Para
Tálamo (2004, site) "[...] o método proporciona concentração de esforços e
segurança para a obtenção de um fim, o qual, no caso da investigação, é o
conhecimento que se propõe como interpretação adequada e pertinente ao
problema posto de início". Identifica-se o vínculo entre a solução de um
problema e a necessidade de definição metodológica, além de uma linguagem
comum com outros pesquisadores da área.

2 Definir uma metodologia: isso é atitude

A metodologia é tão importante quanto o resultado de uma pesquisa
científica. Conforme Braga (2007. p. 18), "[...] além de garantir o correto
desenvolvimento da pesquisa, a metodologia adequada tem a função de atestar
o caráter científico". Ainda, segundo a autora, a metodologia indica a
forma de obtenção de dados, o cuidado que o cientista teve em analisar as
informações obtidas e sua relação com este todo, isto é, "[...] não estão
em jogo apenas os resultados, mas quais foram os meios e os procedimentos
adotados pelo pesquisador ou pela pesquisadora para alcançá-los". Quanto
mais clarificada e determinada esta metodologia, mais adequada ao campo
científico ficará a pesquisa.
O objetivo da definição da metodologia é para que a pesquisa
científica identifique a diferença entre objeto teórico e objeto empírico,
agregando neste movimento a temática, ou o domínio da linguagem comum
dentro do campo científico específico. Assim, numa analogia com os campos
de estudos da informação e seguindo a linha proposta por Barreto (1994), a
distribuição, o uso e a assimilação da informação são condicionados às
competências contextuais, semânticas e cognitivas dos usuários. Logo, o
objeto de análise deve ser comunicado a partir de um vocabulário próprio,
característica importante do fazer científico. Para Bufrem (2013), a
pesquisa científica "[...] é resultado de um contexto dinâmico de produção
e reprodução do conhecimento". Este conhecimento se dá em um "plano de meta-
informação" onde, segundo a perspectiva de Gonzaléz de Gómez (2000), se
"[...] definem os critérios, os contextos e as categorias que controlam as
relações de uma informação com outras informações e com os domínios de
produção social de conhecimentos".
Como contextos dinâmicos de produção de conhecimentos, onde as
relações de informação fazem-se cada vez mais complexas em domínios sociais
e institucionais do saber e da ciência, as soluções de problemas exigem
modelos rigorosos e criativos. Como escreveu Najmanovich (2004, p. 34),
"[...] estamos começando, ainda que timidamente, a sacudir-nos com o jugo
desse feitiço metódico, a navegar nos mares da incerteza e da
criatividade." Então, para solucionar problemas (e obter um resultado
científico sendo rigoroso e criativo ao mesmo tempo) é necessário criar
hipóteses e a consistência dessas hipóteses é verificada por meio dos
sistemas de crenças (os vocabulários e conhecimentos da área). Assim, de
acordo com Tálamo (2004), "O exercício investigativo supõe a associação
entre trajeto sistemático e criatividade: apenas o trajeto sistemático
redundará na repetição enquanto que o exercício criativo isolado poderá se
perder nas possibilidades infinitas de evolução, deixando ao largo o
objetivo especificado do processo."
Para atender estas características é necessário determinar formas de
pesquisa e o pesquisador utiliza-se dos métodos científicos para tanto.
Como afirma Braga (2007 p.17), "[...] um projeto deverá conter definições
sobre a linha, o tema, a pergunta, o problema, a fundamentação teórica e a
metodologia a ser adotada". Logo, para Tálamo (2004, grifo nosso), "[...] o
método é uma maneira de pensar e agir - é uma atitude - para a obtenção de
resultados que permitam a efetiva solução de problemas, isto é, a obtenção
de um fim." A primeira atitude importante é ter a certeza que a metodologia
é primordial para o processo científico, acompanhado de uma linguagem comum
do campo onde atua.

3 O caminho da pesquisa

O método é uma forma de se atingir um determinado fim, ou no sentido
etimológico do termo, é um caminho. De acordo com Tálamo (2004), "A palavra
método origina-se do grego metá (ao lado) e odós (caminho) e significa o
caminho ou procedimento para obtenção de um fim." Se, de um lado, no campo
das teorias contemporâneas busca-se não estabelecer métodos fechados, de
outro, na prática científica, busca-se deixar claro, além do resultado, os
meios e os procedimentos para levantamento de dados e sua análise.
Na visão de Gonzaléz de Gómez (2000), uma metodologia é um movimento
de pensamento cujo esforço e intenção direciona-se à produção de um novo
conhecimento e para isso cria a tematização das condições de produção do
objeto de conhecimento, representando-os por meio do domínio epistemológico
e político que legitima condições de produção do objeto de pesquisa.
Para definir a metodologia é realizado um planejamento que descreva o
processo de levantamento e processamento das informações da pesquisa
acadêmica. Afinal, de acordo com Braga (2007, p. 23), citando Bauer e
Gaskel, "[...] o pesquisador precisa ter noção mais clara das vantagens e
desvantagens das diferentes correntes de métodos e dos diferentes métodos
dentro de uma corrente para que possa fazer uma escolha adequada à sua
própria pesquisa [...]", assim, o processo de planejamento possibilita que
o pesquisador defina estes pontos que são tematizados no interior de uma
ciência.

4 Uma escolha: variações

Planejamento é função primordial na pesquisa científica. Dando início
ao projeto de pesquisa, ele permite criar familiaridade com o tema e define
a abordagem teórica, ou seja, a linha, o tema, a pergunta, o problema, a
justificativa, os objetivos e a fundamentação teórica e metodologia a serem
aplicadas (GIL, 2002, p. 19; SEVERINO, 2010, p. 129). Segundo Braga (2007,
p.24) "[...] o pano de fundo da seleção metodológica é o planejamento
embasado em alguns princípios norteadores e na reflexão do pesquisador,
pois não é defensável a ideia de que exista um método específico, correto e
único na pesquisa qualitativa." Esta é uma ponderação própria do
pesquisador em relação ao problema que busca resolver. Deve-se, ainda,
considerar o aspecto de ciência socialmente aplicada, ou seja, focando na
realidade social do uso e impactos da informação.
Sobre o processo de definição metodológica, Braga (2007, p.24) destaca
ainda outros aspectos relevantes para a seleção de uma metodologia para a
pesquisa: tipo da pesquisa, paradigma e pergunta de pesquisa. O Quadro 1
apresenta alguns tipos de pesquisa que são usados na Biblioteconomia e na
Ciência da Informação. Não se trata de consenso conceitual da área, mas
ajuda a categorizar pesquisas que já foram realizadas e que ainda estão em
andamento.

QUADRO 1. Tipos de pesquisa

"Tipo "Característ"Objetivos "Resultados "Técnicas "
" "icas " " " "
"Exploratóri"Pouco ou "Procurar "Indica "Entrevistas, "
"a "nenhum "padrões "Pesquisas "pesquisa-piloto, "
" "estudo " "Futuras "grupos focais, "
" "anterior " " "análise de "
" " " " "conteúdo "
"Descritiva "Identificar"Descrever "Indica "Questionários, "
" "característ"comportamento"característi"entrevistas, "
" "icas de "dos fatos ou "cas de "softwares de "
" "problema ou"fenômenos "problemas "análises "
" "questão " " " "
"Analítica, "Analisa e "Descreve "Descobrir "Técnica do "
"Exploratóri"explica o "característic"relação de "incidente crítico,"
"o ou Causal"motivo ou "as, fatos e "causa ou "diário, grupos "
" "razão de "fenômenos "efeito, "focais, "
" "fatos e " "entre fatos "entrevistas, "
" "fenômenos " "ou fenômenos"observação, "
" " " " "análise, "
" " " " "questionário, "
" " " " "software "
"Preditiva "Aplicada a "Analisar, "Situação "Mesma que "
" "situação "prever "futura "exploratória "
" "futura "fenômenos, " " "
" " "predizer " " "
" " "probabilidade" " "
" " "s de " " "
" " "ocorrência de" " "
" " "fatos " " "


Fonte: Quadro resumo de tipos de pesquisa, adaptado de Braga (2007)
A definição do tipo de pesquisa deve condicionar o planejamento,
trazendo uma metodologia vinculada a esta definição, possibilitando a
contextualização em um paradigma epistemológico, num tema específico e
tendo um objeto reconhecido na comunidade científica da área. Para cada
objetivo de investigação há um modelo que pode ser definido. Por exemplo,
como a pergunta é muito importante, pode-se entender que ela está
diretamente ligada ao objetivo. Ou seja, a forma como a pergunta será feita
está ligada diretamente aos objetivos da pesquisa. Assim, de acordo com o
Quadro 1, se a pergunta está procurando indicar padrões do objeto a ser
analisado, o melhor tipo é uma pesquisa exploratória. A metodologia então
deverá englobar as técnicas empregadas neste tipo de pesquisa (entrevistas,
pesquisa-piloto, grupos focais, análise de conteúdo). O projeto, portanto,
já poderá prever a publicação de alguma obra ao final, já que este tipo de
pesquisa tem pouco ou nenhum estudo anterior.

5 Paradigma epistemológico: interdisciplinaridade a seu favor

Existem muitos pontos de vista e interpretações sobre os paradigmas
epistemológicos da Ciência da Informação. Em um sentido aplicado, conforme
demonstra o Quadro 2, no processo metodológico os paradigmas definem
posições teóricas e científicas do pesquisador, condicionando, inclusive,
métodos e técnicas de pesquisa.
QUADRO 2. Paradigmas Científicos
"Paradigma ou "Como é aplicada "Intenção "
"Abordagem " " "
"Positivista "Distante do contexto, "Desenvolvimento de "
" "fatos, causas ou "teorias, formula "
" "efeitos, sem "hipóteses, criação de "
" "subjetividade. "associações, mensuração"
"Fenomenológico "Realidade social está "Subjetiva, humana, pode"
" "dentro do pesquisador "criar novas teorias "


Quadro resumo de paradigmas e abordagem, adaptado de BRAGA (2007)
Dadas as características sociais de uso, geração e comunicação da
informação, cabe entender ambos paradigmas e utilizá-los da melhor forma
nos processos científicos. Já em relação à epistemologia da Ciência da
Informação, Carvalho e Crippa (2013, p. 242) confirmam o deslocamento entre
o caráter positivista e fenomenológico ao falarem que

É constante a afirmação de que ela [a Ciência da
Informação] pertence ao ramo das ciências pós-modernas,
devido ao seu caráter interdisciplinar. Mas, ao mesmo
tempo, existem vários estudos epistemológicos que buscam e
questionam o objeto da área, aproximando a mesma de uma
das características principais das ciências modernas.
A visão de que a interdisciplinaridade é utilizada como uma
justificativa para uma abordagem pós-moderna é recorrente. A Ciência da
Informação, dizem Smit e Tálamo (2007, p.56), "[...] não raro recorre à
'interdisciplinaridade' como álibi de cientificidade". Esse ponto fica mais
evidente quando se tratava de "tomar de empréstimo" termos, conceitos e
métodos sem a devida troca entre disciplinas.

Outra argumentação comum era a de que a Ciência da
Informação era interdisciplinar porque ela prestava, para
todas as demais áreas do conhecimento científico, serviços
de informação. Estudos mais rigorosos sobre a ideia de
interdisciplinaridade (da necessária existência de um
processo teórico e conceitual de 'mão dupla' entre as
disciplinas envolvidas) começaram a diagnosticar a
inexistência de práticas interdisciplinares entre a
Ciência da Informação e as demais ciências, na medida em
que apenas a Ciência da Informação 'tomava de empréstimo'
conceitos e métodos de outros campos, sem se fazer notar
por eles. Entendimentos mais recentes, contudo, têm dado
conta de que esse é o movimento interdisciplinar da
Ciência da Informação: fazer dialogar, dentro dela, as
contribuições das diferentes áreas de conhecimento.
(ARAÚJO, 2014, p. 14)
Conforme a citação já existe entendimento no campo que permite dizer
que a interdisciplinaridade é uma característica da Ciência da Informação e
pode-se utilizar esse recurso em nos processos científicos desde que
estejam evidenciados nas metodologias aplicadas.
A forma de fazer ciência, por meio de um método, e seu vínculo a um
paradigma epistemológico, também reflete a forma como as soluções de
problemas e teorias podem ser relacionadas ao campo de pesquisa da Ciência
da Informação. Assim, o objeto epistemológico também ancora as discussões e
elaborações da prática científica. É importante, portanto, declarar sempre
que possível em qual abordagem epistemológica se está trabalhando.

6 Objeto: mutatis mutandis

Pode-se afirmar que o objeto da Ciência da Informação é a informação
(ROBREDO, 2003, p. 103), mas também é possível afirmar que este objeto não
é algo único, pois representa várias visões sobre a informação.
Tomando como ponto de partida o princípio de que a informação
organizada é o objeto de estudo da Ciência da Informação e ampliando esta
visão do objeto, González de Gómez (2000) destaca a posição de que, frente
ao mundo,

A CI [Ciência da Informação] é sujeita as mudanças
sociais, econômicas e tecnológicas, em conformidade com as
quais se constituem, se controlam, se reproduzem e se
transformam as práticas, as atividades, as tecnologias, os
recursos, as instituições e os atores que intervêm na
geração, tratamento, transmissão e uso da informação.
(GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2000)
Sendo a informação o objeto em comum dentro da ciência, ela se mostra
sempre vinculada a alguma ação. Para Redón-Rojas (2012, p. 5),

A área estuda as ações intencionalmente realizadas com o
fim de promover o uso qualificado da informação. Pode-se
dizer que estas ações estão voltadas a aguçar ou
potencializar nas pessoas percepções sobre os objetos do
mundo. Trata-se de objetos transformados em documentos, de
tal modo que a função da área pode ser definida como a de
construir documentos, visando realizar a mediação entre
objetos potencialmente informativos e pessoas
potencialmente usuárias da informação.
Portanto, a relação que se dá entre a informação e seu uso social ou
individual também delineia o objeto, pois o paradigma já condiciona um
conjunto de objetos relativos à informação. Para a Ciência da Informação,
também são, em certa medida, os objetos que fundamentam seus paradigmas.
Posição que parece se fundir com a apresentada por Araújo (2014, p. 27)
sobre o conceito de "olhar informacional":

A história da Ciência da Informação tem sido, pois, a
história da diversidade. Modelos de compreensão distintos,
campos de estudo diversos, variados objetos empíricos têm
evidenciado a inexistência de um corpo teórico unificado e
acabado. Alguns veem nesta condição um sintoma de
imaturidade ou fragilidade. Mas, na verdade, tal
característica pode ser vista também como uma potência, um
aspecto intelectualmente estimulante.

Cabe, a cada pesquisador, no momento de planejar sua pesquisa, a
escolha do recorte no objeto e sua orientação paradigmática. Esse pode
parecer um problema, mas não é, pois, a orientação paradigmática durante a
prática científica é um indicativo de critério na produção científica.

7 Definir o tema como caminho metodológico: por que não a
intradisciplinaridade?

É importante ressaltar alguns pontos importantes em relação à
definição de temas de pesquisa. O tema é parte integrante da metodologia e
do projeto científico, desdobrando-se em objeto quando se discute o
processo de sua escolha no interior de uma disciplina.
O tema é um ponto importante, onde o pesquisador participa
interferindo no conhecimento existente, incluindo um avanço no que existe
em relação ao que é registrado no campo específico e no objeto de pesquisa.

Gonzaléz de Gómez (2000) afirma que

As escolhas temáticas e metodológicas da pesquisa geram
uma 'cascada' de ações, onde as perguntas iniciais geram
respostas e novas perguntas. O programa de pesquisa
trabalha assim na construção de famílias de perguntas que
não são nem totalmente contínuas nem totalmente
descontínuas: age, por tanto, pelo deslocamento
significativo do esforço do pensamento.

É uma progressão do conhecimento existente e, como afirma ainda
Gonzaléz de Gómez é necessário que "[...] o excedente de informação que
resulte da pesquisa tenha de fato um caráter interdiscursivo ou
transdisciplinar de cunho informacional". Este seria um preceito a se
buscar ao definir o tema da pesquisa planejada para o campo da Ciência da
Informação.
Na área há uma série de taxonomias ou listas com levantamentos de
temas tratados em eventos científicos, evidenciando assim o foco das
pesquisas e do desenvolvimento do "fazer científico". Por exemplo, Riecken
(2006) estabelece cinco eixos da Ciência da Informação. Eles são
apresentados no Quadro 3.

QUADRO 3. Levantamento de temas na Ciência da Informação
"Os 5 Eixos"O Fenômeno "Arquivologi"Operacional"Necessidad"Informação "
"ou Visões "da "a, "ização com "e Social "como "
"da CI => "Informação "Bibliotecon"o Uso da " "Recurso "
" " "omia e "TIC " "Estratégico "
" " "Documentaçã" " " "
" " "o " " " "
"Principais"Filosofia, "Arquivologi"Ciência da "Ciências "Administraçã"
"Ciências "Matemática,"a, "Computação,"Sociais, "o, "
"de Base=> "Lógicas "Bibliotecon"Informática"Educação, "Gerenciament"
" "(Clássicas "omia, ", TIC, "Psicologia"o dos "
" "e Não "Documentaçã"Administraç" "Sistemas de "
" "Clássicas) "o, CI "ão de Dados" "Informações "
" " "tradicional" " "e do Recurso"
" " " " " "Informação "
"Foco "Representaç"Controle de"Tecnologias"Necessidad"Uso "
" "ão, "Papéis/ "de "es Sociais"estratégico "
" "Organização"Documentos "Informação "de "da "
" "e Fluxos da"/Acervo / "e "Informação"Informação e"
" "Informação "Suporte "Comunicação" "Gestão da "
" "e do " "(TIC) " "Informação e"
" "Conheciment" " " "do "
" "o " " " "Conhecimento"
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"o "do "Relativos "Geral da "Sociedade "Administraçã"
"Teórico "conheciment"ao Ciclo "Informação;"em Rede; "o e "
" "o; "Informacion"b) "Sociedade "Planejamento"
" "Fenomenolog"al; "Cibernética"da "Estratégico "
" "ia "b) "; "Informação"e "
" "b) Teoria "Bibliometri"c) Teoria "; "Tático-Opera"
" "Geral da "a; "de Jogos; "Sociedade "cional; "
" "Informação;"c) "d) Teoria "do "b) "
" "c) "Cienciometr"Geral dos "Conhecimen"Gerenciament"
" "Filosofia e"ia; "Sistemas; "to; "o de "
" "Lógicas; "d) "e) Bancos "Governo "Sistemas de "
" "d) "Informetria"de Dados; "Eletrônico"Informação "
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" "Semiologia)"ade. "s " " "
" "; e " "tecnológica" " "
" "j) " "s. " " "
" "Ontologias." " " " "


Fonte: Riecken (2006, p. 59)

Outro exemplo é de Oddone e Gomes (2004) que apresentam uma taxonomia
com dez categorias temática, divididas em subcategorias, conforme pode ser
verificado no Quadro 4.

QUADRO 4. Categorias temáticas na Ciência da Informação

"01. Aspectos "Bibliometria, cienciometria, infometria; "
"teóricos e "Biblioteconomia comparada; Biblioterapia; Conceitos de "
"gerais da "biblioteca; Ética e ciência da informação; "
"ciência da "Fundamentação epistemológica; História da arquivologia,"
"informação "da biblioteconomia, da documentação e da ciência da "
" "informação; História do livro e das bibliotecas; "
" "Interdisciplinaridade; Leis bibliométrica; Metodologia "
" "da pesquisa; Origem e evolução da ciência da "
" "informação; Pesquisa científica; Teoria dos sistemas; "
" "Teorias e conceitos de informação; Outras questões "
" "teóricas "
"02. Formação "Avaliação de cursos; Currículo, metodologia e programa "
"profissional e "de ensino; Formação profissional; Profissional da "
"mercado de "informação; Profissões e mercado de trabalho. "
"trabalho " "
"03. Gerência de"Arquivos; Automação de unidades de informação; "
"serviços e "Avaliação de bases de dados; Avaliação e "
"unidades de "desenvolvimento de coleções; Avaliação de serviços e de"
"informação "unidades de informação; Balcão de informações; "
" "Consórcios; Compartilhamento de recursos; Comportamento"
" "gerencial; Custos; Estilos gerenciais; Gerência de "
" "recursos informacionais (GRI); Gerência organizacional;"
" "Gestão da qualidade; Inteligência competitiva; "
" "Marketing; Monitoramento ambiental; Motivação; Pesquisa"
" "de mercado; Planejamento, organização e gerência de "
" "serviços e de unidades de informação; Processo "
" "decisório; Recursos financeiros; Recursos humanos; "
" "Serviços de extensão bibliotecária; Sistemas de "
" "informação gerencial; Estudos sobre outros serviços e "
" "unidades de informação. "
"04. Estudos de "Caracterização e comportamento do usuário; Educação e "
"usuário, "treinamento de usuários; Hábitos de leitura; "
"demanda e uso "Necessidades de informação; Oferta, demanda e "
"da informação e"transferência de informação; Uso e impacto das novas "
"de unidades de "tecnologias de comunicação e informação; Usos da "
"informação "informação e de unidades de informação "
"05. Comunicação"Atividade editorial; Avaliação de periódicos; "
", divulgação e "Divulgação científica; Documentação científica; "
"produção "Editoração/publicação eletrônica; Estudos "
"editorial "bibliométricos, cienciométricos e infométricos; Estudos"
" "da produção e da produtividade científica; Estudos de "
" "autoria; Estudos de canais, veículos, ciclos e modelos "
" "de comunicação; Estudos de citação; Estudos sobre "
" "fontes de informação; Indicadores de produtividade "
" "científica; Jornalismo científico; Literatura cinzenta;"
" "Normalização; Produção editorial de impressos; Produção"
" "do texto científico; Publicações oficiais "
"06. Informação,"Alfabetização digital; Biblioteca, cultura e sociedade;"
"cultura e "Centros populares de documentação e comunicação; "
"sociedade "Democratização da informação; Inclusão/exclusão "
" "informacional; Informação, ação cultural e cidadania; "
" "Sociedade da informação. "
"07. Legislação,"Depósito legal; Direitos de propriedade intelectual; "
"políticas "Economia da informação; Indústria e mercado cultural; "
"públicas de "Indústria e mercado da informação; Informação "
"informação e de"ambiental; Informação científica e tecnológica; "
"cultura "Informação para indústria e negócios; Informação "
" "tecnológica; Política científica e tecnológica; "
" "Política cultural; Política de informação; Política de "
" "informação científica e tecnológica; Política "
" "editorial; Transferência de tecnologia "
"08. Tecnologias"Bases de dados; Bibliotecas virtual, digital e "
"da informação "eletrônica; CD-ROM; Hipertexto e hipermídia; Mecanismos"
" "de busca (search engines); Redes eletrônicas de "
" "informação; Sistemas de gerenciamento eletrônico de "
" "documentos (GED); Sistemas especialistas; Sistemas para"
" "automação de unidades de informação; Tecnologias de "
" "inteligência competitiva; Outros sistemas e tecnologias"
" "de comunicação e informação. "
"09. Processamen"Análise documentária; Catalogação/catalogação "
"to, recuperação"cooperativa; Classificação; Controle bibliográfico; "
"e disseminação "Desenvolvimento de coleções; Elaboração de resumos; "
"da informação "Indexação (manual e automática); Linguagens "
" "documentárias; Normalização; Metadados; Preservação e "
" "conservação; Retirada e descarte; Recuperação da "
" "informação; Seleção e aquisição; Tesauros; Videotexto "
"10. Outros "Análise do discurso; Arquitetura da informação; "
"assuntos "Comunicação social; Design da informação; Informática; "
"correlatos e "Linguística; Telecomunicações. "
"outros " "


Fonte: Oddone e Gomes(2004)

Nesses dois exemplos dos Quadros 3 e 4, é possível verificar a
diversidade temática da área da Ciência da Informação, mostrando ainda mais
necessária a abordagem metodológica aplicada na pesquisa científica.
A amplitude temática é uma característica da Ciência da Informação e
deve ser utilizada a favor de todo pesquisador da área. Essa riqueza de
assuntos deveria possibilitar, inclusive, a prática da
intradisciplinaridade, onde temas diversos do campo podem ser recombinados,
gerando novos conhecimentos com assuntos tratados dentro da própria Ciência
da Informação.
Por exemplo, como a arquitetura da informação pode ser utilizada na
gestão arquivística de documentos digitais? Ou como fazer o estudo da
mediação em arquivos que tradicionalmente não se preocupam com esta relação
com o usuário? De que forma a linguagem documentária pode ser utilizada
como ontologia em sistemas de gestão informacional?
São temas gerados dentro da Ciência da Informação, em suas variantes,
e que podem sinalizar novos caminhos de pesquisa e questionamentos. Isso
não representa um abster-se da interdisciplinaridade, já que esta faz parte
das principais características da Ciência da Informação, mas seria uma
maneira de reutilizar, de forma inovadora, o conhecimento gerado dentro da
própria área.

8 Considerações finais: mais caminhos a explorar

Tentou-se abordar alguns pontos basilares e que demandam atenção na
definição de metodologia para a pesquisa científica na Ciência da
Informação. Foram apresentadas algumas decisões a serem tomadas num
planejamento, desde a identificação de um paradigma epistemológico até a
definição de um objeto e um tema.
Com isso, fica claro que a prática científica embasada em metodologia
faz sentido numa realidade de pesquisa e de práxis acadêmica, sendo
necessário seu domínio para o desenvolvimento da área. Características
importantes da própria Ciência da Informação, como a interdisciplinaridade,
não são restritivas e fixas, pelo contrário, possibilitam movimentos e
novos arranjos, dos quais foi destacou-se a intradisciplinaridade.
Deve-se afirmar que não se está dizendo que há um esgotamento da
extradisciplinaridade na Ciência da Informação. Pelo contrário, esse parece
ser um movimento que não se esgota e que pode ser que esteja se ampliando e
se sofisticando cada vez mais. O que se procurou fazer neste trabalho é
levantar uma questão sobre os conhecimentos já desenvolvidos na Ciência da
Informação e relacioná-los numa ideia de tema. Na hipótese aqui defendida,
ainda que em fase de aprofundamento, essas relações temáticas podem
apresentar paradigmas de pontos de vista intradisciplinares. Um recurso
para observar esses paradigmas seria analisar as inter-relações da
Biblioteconomia, da Arquivologia e da Museologia no contexto da Ciência da
Informação.

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