Campo Cultural e Gestão Cultural Profissional | introdução e conclusão

Share Embed


Descrição do Produto

Campo Cultural e Gestão Cultural Profissional Introdução e (uma) conclusão António Jorge Monteiro * “O progresso é a concretização de Utopias” Oscar Wilde

Introdução Este ensaio decorre da necessidade sentida de serem introduzidas, exploradas, reflectidas e discutidas um conjunto de questões sobre o que se entende por Campo Cultural e Gestão Cultural Profissional e qual o seu papel na sociedade contemporânea, que se julgam ainda não abordadas de forma correlacionada, quer na perspectiva académica, quer na perspectiva profissional ou da sociedade civil. Numa perspectiva académica este trabalho pode ser caracterizado como integrando aspectos de investigação e de compilação, ser de amplitude panorâmica, ter como objecto uma análise histórica e teórica, bem como procurar introduzir e contribuir para uma reflexão contemporânea. Pensa-se que esta reflexão deve passar por ter em conta a origem, natureza e importância específica da Cultura e do Campo Cultural, nomeadamente numa perspectiva da relação dos povos da Europa e dos países da União Europeia com a Cultura, nomeadamente Erudita, bem como das suas Políticas Culturais para os Sectores Culturais comunitário e nacionais e, ainda, qual o lugar desta recente actividade profissional a que se chamou de Gestão Cultural, consagrando estes cinco temas como centrais. No âmbito destes temas cartografaram-se um conjunto de questões diversificadas, consideradas como mais relevantes e significantes, que se estruturaram num primeiro grupo de conteúdos, em forma de artigos: - “Cultura: uma perspectiva histórico-geográfica”, “Cultura: algumas definições e conceitos” e “Campo Cultural”, abordando questões como: cultura versus civilização, erudito versus popular e fruição versus consumo. - “Europa, União Europeia e Cultura”, “União Europeia e Sector Cultural Comunitário” e “Programas Comunitários e Sector Cultural”, abordando questões como: Europa continental versus anglosaxónica, Sector Cultural comunitário e a sua organização, a “excepção cultural” europeia e o GATT e política versus “acção” cultural europeia. - “Políticas Culturais na Europa e no Mundo” e “Cultura e Tecnocracia”, abordando questões como: génese, objectivos e âmbito das Políticas Culturais, criação versus criatividade e modernidade versus pós-modernidade. - “Sector Cultural e “disputa de campo”” e “Sector Cultural em Portugal: uma perspectiva organizacional”, abordando questões como: Sector Cultural versus sector económico, as estatísticas e o Sector Cultural, Indústrias Culturais versus criativas. - “Gestão Cultural Profissional”, “Gestão Cultural e Formação Especializada” e “Gestão Cultural e Associativismo Profissional: a APGC” abordando questões como: caracterização da actividade, conduta profissional, modelo científico e pedagógico, actividade associativa. Todas estas questões estão, de uma forma geral, correlacionadas com a meta-questão de “disputa de campo” - no sentido do conceito consagrado por Pierre Bourdieu - que se entende ter vindo a manifestar-se, protagonizada pela tendência tecnocrática e pós-moderna de tentativa de captura do Sector Cultural pelo Sector Económico, como se poderá verificar, pela leitura deste breve ensaio.

1

A Cultura assenta na necessidade do Homem desenvolver actividades de criação artística e intelectual o que tem acontecido ao longo de toda a Humanidade, sendo que para os povos da Europa ela tem como principal referência a cultura Greco-Romana. O desenvolvimento destas actividades, nomeadamente desde o século XVIII, na Europa, deu origem ao aparecimento de um “campo” com características e identidade próprias, o Campo Cultural, que determinou o seu enquadramento, em meados do século XX, no âmbito das políticas públicas, a que passou a chamar-se Políticas Culturais. Entretanto e naturalmente, foi-se estruturando e profissionalizando um sector de actividade com características específicas, o Sector Cultural, constituído pelos subsectores do Património Cultural, das Actividades Artísticas e das Indústrias Culturais. Com o processo de integração europeia as questões de política cultural, pela sua natureza e carácter nacional, foram sendo abordadas, não no quadro de uma Política Cultural Europeia pois formalmente a União Europeia não assume a sua existência mas, através de opções da sua “acção cultural” que intervém em vários domínios culturais. Tendo em conta as características específicas do Sector Cultural, nomeadamente dos seus subsectores do Património Cultural e das Actividades Artísticas, derivado do seu posicionamento na “Pirâmide Maslow” e pelas condicionantes evidenciadas pela “Lei de Baumol”, os apoios provenientes das Políticas Públicas da Administração do Estado ou da Sociedade Civil são e serão sempre necessários à sua sustentabilidade financeira. Com os actores sociais do “campo” mercantil/económico a entrarem no Sector Cultural, coloca-se claramente uma questão, também, política e ideológica relacionada com a criação de uma situação de “disputa de campo”, no sentido de Pierre Bourdieu, onde o Económico procura tentar disputar o poder e a autoridade do “Cultural”, com as respectivas consequências do “posicionamento estratégico” do “Cultural” nas estruturas político-administrativas dos países, nomeadamente da Europa Continental, através da sua menorização em Secretarias de Estado ou mesmo determinando o desaparecimento dos Ministérios da Cultura. A perspectiva tecnocrática de abastardar o conceito europeu de Cultura Erudita serve uma estratégia geral para justificar a não necessidade do Sector Cultural ser constituído como um dos pilares politico-administrativos dos Estado e a “demonstração” da sua “rentabilidade económica” reforça esta ideia e justifica a declinação de responsabilidade do Estado, em financiar as actividades culturais eruditas, deixando essa responsabilidade por conta dos humores discricionários do Mercado ou da consciência social da Sociedade Civil. Nas sociedades contemporâneas que adoptaram a abordagem da Europa Continental ao Sector Cultural, a Gestão Cultural é a actividade que integra de forma coerente todas as vertentes das organizações culturais, permitindo uma abordagem sistémica na procura sustentável da satisfação das necessidades e desejos de todos os Stakeholders, nomeadamente os Criadores e os Públicos Culturais. Para terminar, acontece que quer numa perspectiva antropológica e sociocultural, quer numa perspectiva tecnocrática e pós-moderna, naturalmente por razões de natureza complectamente distintas, o desenvolvimento de um domínio do conhecimento e de uma actividade profissional, orientada para a Gestão Cultural, poderá ser considerado como não fazendo sentido e sem grande utilidade para as sociedades futuras.

2

Conclusão Nas sociedades contemporâneas, europeias continentais, mediterrânicas e respectivos espaços de influência cultural, nomeadamente lusófonos, hispânicos e francófonos, na chamada Mundialização do início século XXI, importa reflectir e discutir os, tendencialmente, dois grandes caminhos que se apresentam como possíveis, para o desenvolvimento futuro do Campo Cultural: - o Humanista, no âmbito de um Sector Cultural, convenientemente mais estruturado politicamente, - o Tecnocrata, no âmbito do Sector Económico, deliberadamente mais desestruturado e diluído. Esta reflexão irá, implicitamente, contribuir para avaliar qual o papel da Gestão Cultural Profissional, quinze anos depois do seu aparecimento em Portugal e cujo projecto tem sido, desde sempre, orientado por uma visão: ”Portugal, a Europa e o Mundo, com um Sector Cultural Sustentável, gerido por profissionais competentes em Gestão Cultural”.

_________________________________________________________________________________ * António Jorge Monteiro Professor convidado, Orientador e Investigador na área de Gestão de Projectos Culturais. Coordenador de múltiplos Projectos e Programas de Pós-graduação e Mestrado em Gestão Cultural, em diversas Escolas Superiores e Universidades, nacionais e internacionais. Escreve em Português-padrão consuetudinário. _________________________________________________________________________________ Gestão Cultural Profissional / gestaoculturalpt.blogspot.com | Dezembro 2015 | v1.1

3

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.