Campos de refugiados, favelas e os intelectuais das margens

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« Campos de refugiados, favelas e os intelectuais das margens », in P. Birman & C. Machado (dirs.), Dispositivos Urbanos e Tramas dos Viventes: ordens e resistências, FGV/FAPERJ, Rio de Janeiro, 2015, p. 303-317.

Campos de refugiados, favelas e os intelectuais das margens Amanda S. A. Dias

No campo de refugiados de Beddawi, situado no norte do Líbano, um jovem pintor luta para manter a memória da terra natal viva no espírito das crianças que pertencem à terceira geração de palestinos nascidos no exílio. Ele mesmo conhece a Palestina apenas através dos relatos de seu avô, que ainda hoje carrega consigo a chave da casa deixada para trás em 19481. Na favela de Acari, situada na zona norte do Rio de Janeiro, um poeta se esforça para convencer seus jovens vizinhos de que eles têm o direito de almejar uma educação universitária, ou ainda para encourajar os pais de vítimas da violência policial a abrir um processo incriminando os responsáveis pela perda de seus filhos. O que o pintor palestino e o poeta carioca possuem em comum? Ambos são habitantes de espaços situados às margens da cidade e do Estado, lutando para levar aos seus pares uma certa consciência de sua própria realidade, instigando-lhes a mudar sua condição social e política. Tanto o pintor quanto o poeta podem ser considerados como “intelectuais das margens”. Essa noção, que desenvolveremos ao longo do texto, foi construída a partir da pesquisa etnográfica realizada em Beddawi e Acari durante a pesquisa de doutorado, na qual realizei um estudo comparativo entre o campo de refugiados palestinos e a favela carioca (DIAS, 2009)2. A noção de “intelectuais das margens” está em continuidade com as primeiras observações que efetuei em Beddawi quando, ainda no mestrado, pesquisava junto aos artistas plásticos do campo (DIAS, 2004)3. Foi a partir da experiência dos pintores palestinos – cujas 1

A história dos refugiados palestinos remonta à 1947, data do voto da separação da Palestina em dois Estados. Fugindo de suas terras em quatro vagas sucessivas, entre 1947 e 1949 numerosos palestinos partiram para o Líbano e outros países vizinhos. No Líbano, a quase-totalidade dos palestinos é originaria da Galiléia e das cidades litorâneas que se tornaram território israelense. Em 1948, em torno de 100 à 130 000 refugiados chegaram no país. Durante os dois primeiros anos, a Cruz Vermelha era a principal organização assistindo os refugiados palestinos. Em 1950, a UNRWA assume a função. 2 O estudo comparativo entre um campo de refugiados palestinos e uma favela carioca se desenvolve em torno de uma tripla perspectiva: a do Perceber, a do Habitar e a do Agir. Os trabalhos de campo para a tese, conduzidos no campo de Beddawi e na favela de Acari entre 2004 e 2008, foram financiados pela EHESS e pelo Institut Français du Proche Orient (IFPO). 3 A pesquisa etnográfica foi efetuada no campo de refugiados palestinos de Beddawi, financiada pela EHESS.

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motivações para pintar oscilam entre a criação artística e o engajamento político4 – que percebi a presença e importância desses atores no campo de refugiados. Observando a dinâmica das suas relações em Beddawi constatei que, à sua imagem, outras pessoas tentam contribuir com a causa nacional, de modo autônomo em relação às organizações políticas e militares palestinas presentes no campo. Chegando em Acari, observei que, ali também, artistas e militantes se destacavam do restante da população local, reivindicando notadamente a aplicação do conjunto dos direitos brasileiros sobre o território da favela. Motivada pela experiência de campo, ampliei o quadro da atenção etnográfica não somente do campo de refugiados à favela, mas também dos artistas plásticos para os demais atores que mais tarde identifiquei como “intelectuais das margens”. Apesar da distância e da distinção dos contextos do campo de Beddawi e da favela de Acari, a abordagem comparativa me permitiu constatar o dinamismo de pessoas como o pintor palestino e o poeta carioca. A noção de “intelectuais das margens” resulta da necessidade que encontrei durante a pesquisa em desenvolver uma categoria analítica capaz de abrir a reflexão sobre a presença desses atores no campo e na favela5. Abordarei, aqui, os principais elementos que surgiram desse esforço de construção de uma noção que fosse ampla o suficiente para abranger os dois campos e que ao mesmo tempo respeitasse as especificidades dos atores e dos territórios em questão. A noção de “intelectuais das margens” desenvolvida no presente artigo poderá apoiar outros pesquisadores que trabalham com a temática dos espaços em margens. Não raro, antropólogos e pesquisadores de campo se deparam com tais atores, que são em geral apreendidos como “mediadores”. Na antropologia, o “mediador” é comumente percebido como um indivíduo cuja principal função é a de estabelecer um vínculo inicial entre o pesquisador e os pesquisados, cabendo ao investigador a tarefa de afastar-se o quanto antes dos seus “discursos prontos”. No entanto, mais do que simples narrações destinadas à satisfazer jornalistas e visitantes de passagem, as palavras dos intelectuais das margens testemunham a criação de um discurso que atribui sentido às suas

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Ver « Peintres de Beddawi, entre création artistique et engagement politique au Proche-Orient » in Itinéraires Esthétiques et Scènes Culturelles au Proche-Orient sous la direction de N. Puig et F. Mermier, Beyrouth, IFPO, 2007, p. 249-270. 5 Enquanto elaborava a noção de “intelectuais das margens”, não hesitei em compartilhar meus pensamentos com meus principais interlocutores. De fato, foi durante um dos trabalhos de campo realizados na favela de Acari que o poeta e militante Deley me disse se identificar com a figura do « intelectual orgânico » de Gramsci. Tal atitude corresponde à uma concepção da pesquisa etnográfica que, para além de uma descrição densa do campo, privilegia as conversas engajadas e as trocas - não raro, debati durantes horas a fio sobre a condição dos palestinos e dos moradores de favela com os intelectuais de Beddawi e de Acari. Essa atitude se justifica pelas características das pessoas junto às quais pesquisei, assim como pelas relações de confiança que tecemos ao longo dos anos de pesquisa.

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existências. A propósito, como veremos, os intelectuais de Beddawi e de Acari não se limitam à reflexão: eles criam atividades destinadas aos habitantes locais, com o intuito de gerar certa consciência política, assim como de melhorar suas condições de vida. Eles exercem igualmente um papel de mediação entre o campo, a favela e o mundo exterior.

Espaços em margens Antes de abordamos a noção de “intelectuais das margens”, convém explicitarmos o que entendemos como “espaços em margens”, e de que maneira o campo de Beddawi e a favela de Acari constituem espaços situados às margens da cidade e do Estado. O termo “margens” se refere a uma marginalidade real e múltipla: ela é social, econômica, política, jurídica e espacial. Das favelas brasileiras aos campos de refugiados orientais, os territórios que estamos designando como “espaços em margens” se inserem no paradigma do “ban-lieu” tal qual descrito por Michel Agier: são mundos infra-urbanos, que geralmente não são descritos como cidade (AGIER, 1999)6. Eles se caracterizam por “fortes segregações sociais e raciais, por um acesso desigual aos recursos materiais disponíveis na cidade, pela ausência de um sistema formal de gestão do espaço, e por violências cotidianas”7. Criados há mais de cinquenta anos como consequência da criação do Estado de Israel, atualmente os campos de refugiados palestinos se aparentam às margens urbanas que encontramos em diversas partes do globo8. Eles são um reflexo da não integração e da precariedade da condição dos refugiados: ausência de infraestrutura apropriada, superpovoamento, pobreza, desemprego… Como nas favelas, seu espaço físico é caracterizado por ruelas sinuosas, fios elétricos emaranhados e lajes por terminar. O campo de Beddawi foi estabelecido pela agência onusiana UNRWA9 em 1955, seis anos após a criação

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Esses espaços se situam entre a vulnerabilidade absoluta da cidade nua - é o caso de certos campos de refugiados africanos onde a sobrevivência é inteiramente dependente do sistema humanitário - e a abundância da cidade genérica - “minoritária e privilegiada, ela é o lugar onde nascem as dominações, econômicas e políticas, sobre o resto do mundo”. (AGIER, 1999, p. 155), tradução nossa. 7 (AGIER, 1999, p. 7). 8 Atualmente, 53% dos aproximadamente 406.000 refugiados palestinos registrados junto à UNRWA no Líbano vive nos 12 campos oficiais estabelecidos pela UNRWA (a esse numero, devemos acrescentar entre 15.000 e 16.000 refugiados da guerra árabe-israelense de 1967). 9 Criada num primeiro momento a título provisório, essa agência da ONU dispensa, ainda hoje, serviços sociais, assim como serviços em matéria de educação, de saúde e de emergência aos 4,7 milhões de refugiados Palestinos registrados, vivendo na faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, no Líbano e na Síria. Os palestinos representam hoje o maior grupo de refugiados do mundo.

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do campo de refugiados vizinho de Nahr al-Bared10. Situado à 5km ao norte de Tripoli, ele abriga os refugiados da década de 1940 e seus descendentes, além das famílias que ali desembarcaram ao longo dos anos. A favela de Acari se situa na Zona Norte do Rio de Janeiro, à aproximadamente 20km do centro da cidade. É interessante observar que tanto o campo de Beddawi como a favela de Acari possuem o nome do vilarejo e do bairro próximos dos quais eles se desenvolveram. Da mesma forma, campos e favelas, em geral, não constam nos mapas oficiais do Líbano e o Rio de Janeiro. Atualmente, delimitar o espaço dos campos e das favelas com precisão não é tarefa simples. A maioria dos campos de refugiados foram criados pela UNRWA sobre terrenos alugados aos proprietários locais, com o aval dos governos dos países de acolhimento. Ao longo do tempo, os campos se expandiram, ultrapassando seus limites originais. Em Beddawi, uma grande rua comercial delimita a extensão do campo. Para além dessa rua, encontramos um espaço liminar, que nem se situa no espaço propriamente dito do campo, nem nas ruas claras do seu exterior. Quanto à favela de Acari, do ponto de vista de seus moradores, ela se compõe por quatro localidades: favela do Parque Proletário Acari; favela Vila Rica ou Coroado; favela Vila Esperança e Conjunto Habitacional Amarelinho. Segundo a administração municipal, a « favela de Acari » se encontra em três bairros distantes: O Amarelinho e a Vila Esperança se encontram em Irajá; o Coroado, em Coelho Neto; e o Parque Acari, no bairro de Acari. Quanto à policia, ela inclui a favela de Acari no que eles chamam de « Complexo de Acari »11. Da mesma maneira que não podemos definir com facilidade a expansão do campo e da favela, não há um consenso em relação ao numero de habitantes. Em dezembro de 2006, Beddawi possuía 15.947 refugiados de origem palestina registrados junto à UNRWA. Devemos acrescentar, a esse numero, cerca de 400 pessoas de origem palestina vivendo no campo sem registro. O campo também conta com aproximadamente 1.500 pessoas de outras nacionalidades - libaneses, curdos e sírios... que, motivados por razões econômicas, se instalam no campo. O numero de 18.000 habitantes não leva em consideração os 13.775 refugiados do campo vizinho de Nahr el-Bared que, em 2007, buscaram abrigo em Beddawi, em função dos combates entre os militantes do grupo islamista Fatah al-Islam e o exército libanês. Em meados de 2009, aproximadamente 10.000 pessoas deslocadas ainda viviam em 10

O campo de Nahr al-Bared foi criado pela Liga das Sociedades da Cruz-Vermelha em 1949 para habitar os refugiados originários da região do Lago Huleh situado ao norte da Palestina. A UNRWA começou a oferecer seus serviços aos refugiados em 1950. Fonte : www.unrwa.org (Consultado em 8/9/2009). 11 O termo « complexo », no linguajar policial, refere-se à um conjunto de favelas próximas, dominadas pela mesma facção criminosa. O « Complexo de Acari » é composto por quinze favelas.

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habitações alugadas no campo de Beddawi e arredores, assim como nas áreas adjacentes e arredores do campo de Nahr el-Bared. Não se sabe quantos deslocados do campo de Nahr elBared continuam em Beddawi. Quanto à favela de Acari, O IBGE de 1991 estima que sua população é de aproximadamente 11.000 habitantes. Marcos Alvito fala de 40.000 habitantes (ALVITO, 1998), dado que se aproxima mais daquele do IBGE de 2010, que indica em torno de 27.000 habitantes. O antropólogo italiano Giuseppe Marchi menciona 70.000 habitantes (MARCHI 1998), enquanto a associação local Centro Educacional Senhor do Bonfim estima que Acari possui 60.000 habitantes. A porosidade das fronteiras do campo e da favela e a imprecisão dos dados referentes aos seus habitantes não deixam duvidas quanto à informalidade desses espaços, que não podemos qualificar como « cidade ». Para além da marginalidade geográfica, os campos de refugiados e as favelas conhecem uma marginalidade no seio do Estado e da Nação12. A situação dos refugiados palestinos no Líbano é unanimente reconhecida como a mais difícil e precária em relação às outras comunidades da diáspora palestina. A legislação libanesa que rege os direitos dos refugiados palestinos limita seu acesso ao mundo do trabalho, à educação, aos serviços sociais, à propriedade e à mobilidade internacional. O sistema político libanês baseado na repartição confessional do poder constitui um problema fundamental na gestão dos refugiados13. A integração dos palestinos sempre representou uma ameaça ao frágil equilíbrio confessional do país. No Brasil, os moradores de favelas são, a priori, cidadãos completos. Porém, de facto, eles se situam às margens políticas, econômicas, sociais, jurídicas e urbanas da sociedade. Segundo a interpretação predominante no imaginário carioca, as favelas são o espaço por excelência da criminalidade e da droga. Essa interpretação produz um discurso estigmatizante que tem por resultado o distanciamento das populaçãoes faveladas da citadinidade, assim como a legitimação de um uso arbitrário da violência estatal nesses espaços. 12

Notemos que, ao utilizarmos o termo “margens” não estamos afirmando que campos e favelas são espaços fechados, isolados da sociedade e privados da presença do Estado. Ao contrário, nossa pesquisa deixa entrever as interações que se formam entre refugiados, moradores de favelas e as sociedades nas quais eles se inserem, assim como as diferentes maneiras através das quais o Estado se faz presente nesses espaços (Dias, 2009). Como Veena Das e Deborah Poole demonstram, o Estado não apenas se faz presente nos espaços em margens, como ele se reconfigura nesses territórios (DAS & POOLE, 2004). 13 O Líbano possui aproximadamente quatro milhões de habitantes que pertencem a dezoito seitas distintas reconhecidas pelo Estado e representadas na Assembleia Nacional. O poder político no Líbano é dividido entre as várias seitas: assim, o presidente da República é sempre um maronita (cristão), o Primeiro ministro um sunita (muçulmano) e o presidente da câmara dos deputados um xiita (muçulmano). Essa repartição corresponde, a princípio, à representatividade populacional de cada seita. No entanto, o último censo realizado no país data de 1932, de modo que a atual repartição do poder não considera as mudanças consideráveis que se operaram na população libanesa ao longo das décadas.

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Intelectuais das margens

Tendo examinado como o campo de Beddawi e a favela de Acari constituem “espaços em margens”, podemos na sequência nos dedicar à compreensão de alguns de seus atores como “intelectuais das margens”. Nossa compreensão dos intelectuais do campo e da favela é influenciada pelo trabalho do teórico italiano Antonio Gramsci (GRAMSCI, 1978). Segundo esse autor, o trabalho intelectual não se restringe às classes letradas produzindo escritos. Gramsci distingue aqueles que ele chama “intelectuais tradicionais”, dos “intelectuais orgânicos”14. Dois aspectos de seu trabalho nos interessam em particular, para a análise dos intelectuais de Beddawi e de Acari : a atenção dada ao “elemento ideológico” e o alargamento da categoria de “intelectual”. Se Gramsci atribui um papel essencial aos intelectuais na sua obra, é porque o autor acorda grande importância ao papel das ideias, dos modos de compreensão do mundo e de si mesmo no mundo, nas relações sociais, políticas e econômicas. O trabalho de Gramsci se aproxima das noções foucauldianas sobre o « discurso » e o « saber-poder ». Segundo Foucault, os domínios do saber e as relações de verdade que constituem o discurso têm por origem as diferentes condições políticas e econômicas. O « saber-poder » é um elemento inerente ao discurso. Contrariamente ao mito segundo o qual o saber não pertence ao poder político, existe uma correspondência profunda entre os dois : saber e poder mantém uma relação de interdependência, onde cada um é ao mesmo tempo criador e criação do outro. É nesse sentido que apreendemos os intelectuais de Beddawi e de Acari: preocupados em transmitir suas ideias sobre sua condição social e política às populações do campo e da favela, eles participam na formação e manutenção de certas ideologias e utopias, como o direito dos Palestinos de retornarem à sua terra natal, ou ainda o direito dos moradores de 14

Único marxista que tratou a questão dos intelectuais em profundidade, Gramsci articulou essa questão com o conjunto de sua estratégia revolucionária, através da ligação dialética entre infraestrutura e superestrutura. Enquanto os intelectuais tradicionais trabalham nos setores hegemônicos com o objetivo de mantê-los, esse novo intelectual, que Gramsci chama de “intelectual orgânico”, tem por objetivo derrubar o antigo modo de pensar e de conhecer, ou seja, de realizar o que o autor chama de uma “reforma intelectual e moral”. Uma de suas grandes contribuições é ter estudado o intelectual a partir de uma análise de classe. Devemos, entretanto, estar atentos à maneira com que usamos seus conceitos uma vez que, nem no campo, nem na favela, estamos na presença de um fenômeno de luta de classes. Enquanto os campos se caracterizam, de fato, por uma extrema precariedade, eles se inscrevem, antes de tudo, na historicidade do conflito Israel-Palestina. Quanto à favela, se é verdade que a maior parte de seus habitantes pertence à uma camada social desfavorecida, as reivindicações dos intelectuais de Acari se limitam a exigir que os direitos de jure dos habitantes de favelas, enquanto cidadãos da nação brasileira, sejam aplicados de facto.

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favelas de denunciarem agressões arbitrárias realizadas pela polícia. Se os intelectuais não participam diretamente do poder local, suas próprias reflexões - e as ações consequentes dessas reflexões – consistem, em uma certa medida, em fatos políticos. O segundo aspecto da análise gramsciana que nos interessa é o alargamento da noção de trabalho intelectual. Segundo Gramsci, o trabalho intelectual não é exclusividade dos intelectuais tradicionais e vai além da pesquisa acadêmica, da produção literária, etc. Gramsci privilegia os laços orgânicos estabelecidos pelo intelectual com seu grupo à uma concepção individualista da intelectualidade. Nesse sentido, nosso estudo não abarca os moradores de Beddawi e de Acari que receberam uma educação universitária mas não demonstram uma preocupação explícita em relação à questão palestina ou à situação das favelas, respectivamente15. Gramsci recusa a ideia de uma autonomia do intelectual, rejeitando toda tentativa de colocá-lo acima e fora de sua realidade social. De fato, para o autor, o intelectual nunca é autônomo em relação ao seu grupo – quer se trate da classe no poder ou da classe emergente. Gramsci desmistifica, desse modo, a imagem do intelectual herdada da tradição idealista e individualista. Para o autor, a noção de intelectual é menos centrada nos indivíduos do que nas relações entre os intelectuais e o grupo social em nome do qual eles falam. Em Beddawi, é evidente que os intelectuais não são autônomos em relação ao seu grupo social: eles falam sempre a partir de uma posição muito clara, a posição do “refugiado palestino”. Suas reflexões, assim como suas atividades, giram em torno da causa nacional e de sua condição de refugiados. Do mesmo modo, na favela, os intelectuais falam sempre à partir da posição de moradores desses enclaves urbanos. Não raro ouvi Deley, poeta e militante de Acari, dizer: “Eu me reconheço como um intelectual. Não como um intelectual da favela, mas como um intelectual”. No entanto, mais de uma vez, enquanto o acompanhava em debates universitários, constatei que grande parte dos intelectuais tradicionais consideravam suas intervenções como “um depoimento importante de um morador de favela” - para citar a frase usada por um sociólogo carioca. É nesse sentido que Deley se afirma como um intelectual : possuidor de uma reflexão real sobre a codição das favelas, e também crítico em relação aos vários aspectos da sociedade brasileira e da cena internacional, ele não deseja ter seu pensamento reduzido ao estatuto de testemunho, simplesmente. Conquanto, é importante notar que a reflexão de Deley parte sempre da sua experiência da favela, da sua vivência e do 15

Notemos que os próprios intelectuais das margens se mostram extremamente críticos ao encontro dos jovens formados que não são engajados – sobretudo no caso das favelas, em que o acesso à universidade é percebido como um privilégio. Para uma análise dos estudantes universitarios originarios de favelas, ver (MARIS et al., 1998).

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seu testemunho da precariedade, da violência e da criminalização dos moradores desses espaços. Sua preocupação se refere, invariavelmente, aos diversos aspectos da injustiça social e política, incluso quando ele se interessa por problemáticas internacionais À imagem dos intelectuais de Gramsci, os intelectuais das margens não são autônomos em relação ao seu grupo de pertencimento social. Ao mesmo tempo, o autor aceita a existência do problema real da liberdade da produção artística e intelectual. O caso dos pintores de Beddawi fornece um exemplo claro dessa relativa autonomia : desejosos de realizar no interior do campo pinturas murais sobre o tema da Palestina, os artistas locais reivindicam a liberdade de expressá-la segundo seu ponto de vista individual, não aceitando que as organizações políticas imponham qualquer objeto que interfira na criação de suas pinturas (DIAS, 2007). Se assim o fosse, as pinturas do campo seriam da ordem de propaganda política, mais que criação artística Quando falam de si mesmos, os intelectuais de Beddawi gostam de dizer que são “independentes”, termo usado para indicar seu não pertencimento às organizações políticas e militares palestinas, os tanzimat. A narrativa de Rawandy, jovem intelectual de Beddawi de aproximadamente 20 anos, ilustra bem a questão da “independência” no campo. Através de suas atividades na área da música e educação, Rawandy conhece de perto a maior parte dos campos palestinos no Líbano. Quando ele fala de Beddawi, ele apresenta a “independência” de seus artistas e de algumas de suas associações como um dos pontos positivos do campo : O que eu amo em Beddawi, é que la tem muita gente independente. É isso que é bonito em Beddawi. […] Nizar é independente. O Clube Cultural Arabe, com o qual eu trabalho, é independente. Os escoteiros palestinos, eles são independentes. […] Tem um ator que se chama Shaher, ele é independente. Tem a MAFPA, independente. Enfim, tem muita gente que é independente.16

Os intelectuais de Beddawi são extremamente militantes, e se esforçam para militar fora do quadro institucionalizado das organizações politicas e militares palestinas, os tanzimat. No entanto, eles são, ao menos em parte, dependentes dos tanzimat. Retomemos o exemplo das pinturas murais : como os artistas não dispõe dos recursos materiais necessários à sua execução, eles se encontram às vezes forçados a aceitar a ajuda financeira de uma organização política. De certa maneira, eles são também ideologicamente dependentes dos tanzimat. Dado o predomínio do discurso veiculado pelas organizações palestinas, os intelectuais do campo são recapturados por uma certa lógica política. Eles se encontram, por assim dizer, na impossibilidade de refletir sobre sua condição fora das premissas estabelecidas pelos 16

Entrevista com Rawandy, Beirute, abril 2007.

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tanzimat. Além do quadro político das organizações, o espaço ideológico de Beddawi é dominado pelo registro religioso. Se em nível pessoal, todos os intelectuais de Beddawi são muçulmanos praticantes, eles não refletem sobre sua condição a partir desse registro. Apesar de algumas redes islamistas se instalarem em certos campos palestinos (ROUGIER, 2004), em Beddawi, os intelectuais das margens dão continuidade à tradição laica defendida pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Os intelectuais do campo se esforçam, assim, em refletir e agir fora dos dois principais quadros de referência do campo: as organizações políticas palestinas e os movimentos religiosos. Em Acari, os intelectuais das margens também se esforçam para serem “independentes” em relação ao tráfico de drogas e aos políticos. Acari, no contexto carioca, é classificada como uma “favela de trafico pesado”. Nesse local, o tráfico dispõe de um poder de facto. Ali circulam membros dos bandos de tráfico locais, munidos de armas e rádios – símbolos de seu poder de matar e de controlar os movimento dos passantes. Contrariamente ao campo de refugiados, aqui, o esforço de independência dos intelectuais das margens em relação ao tráfico não é de ordem ideológica – porque os traficantes não proclamam nenhum discurso de ordem sociopolítica. Seu esforço consiste em se abster de toda ajuda financeira que o tráfico poderia lhers propiciar. Enquanto eles vivem na precariedade e se encontram, de modo permanente, na ausência de recursos para levar seus projetos a cabo, os intelectuais de Acari devem negar a ajuda financeira que os membros do tráfico poderiam eventualmente oferecer. Aceitá-la significaria, aos olhos do governo e da opinião pública brasileira, uma cumplicidade com essa atividade ilícita, que não somente tiraria todo o crédito de sua ação, mas também a criminalisaria. Tomemos o exemplo de um jovem cantor de hip hop e intelectual da favela de Acari de aproximadamente 30 anos. Mobilizando esforços consideráveis, o jovem em questão conseguiu executar seu projeto: durante todo um dia, ele organizou uma exposição de fotografias, com projeções de vídeo e shows em uma das principais ruas da favela. O projeto foi um sucesso tão grande junto aos moradores locais que o chefe do tráfico propôs financiar sua execução semanal. O jovem intelectual se viu forçado a recusar a oferta do traficante, apesar do desejo de executar o evento regularmente. Além da presença ostensiva do tráfico de drogas, Acari também está impregnada pelo discurso evangélico. Como em Beddawi, enquanto certos intelectuais das favelas são religiosos - sobretudo Pentecostais e neoPentecostais - eles evitam ler sua condição a partir de um registro religioso.

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O triplo papel dos intelectuais das margens No campo como na favela, os intelectuais das margens são conhecidos de todos. Eles constituem uma pequena rede de pessoas que se conhecem e que compartilham, grosso modo, as mesmas convicções e inquietudes. Eles são conscientes da distância ideológica que lhes separam do restante dos moradores. Tomemos o exemplo de Oumm Mahmoud, intelectual de Beddawi e militante do Fronte Popular de Liberação da Palestina (FPLP) de aproximadamente 60 anos. Ela é reconhecida pelas gerações mais jovens de Beddawi e do campo vizinho de Nahr el-Bared como “uma verdadeira combatente”. Quando a encontrei, eu disse a ela quem eram meus conhecidos no campo. Ao me escutar, Oumm Mahmoud declarou: “Allah te ama”. Nizar, pintor e intelectual de Beddawi de aproximadamente 30 anos, estava presente. Ele respondeu, por sua vez : “Não, Allah nos ama”. Essa pequena troca não é banal. Ela nos revela que tanto Oumm Mahmoud quanto Nizar são conscientes da distância existente entre eles e o restante da população de Beddawi. Enquanto, para Oumm Mahmoud, eu tinha sorte por ter tido a possibilidade de entrar em contato com esse grupo de pessoas em particular, para Nizar, a sorte era igualmente deles : o artista sabia que eu difundiria os propósitos que escutasse no campo e, à seus olhos, seria nefasto para os palestinos que eu estivesse em contato com pessoas que se desinteressam da causa nacional. Gramsci observa que “em todos os países existe, ainda que em graus diversos, uma grande distância entre as massas populares e os meios intelectuais, mesmo os mais numerosos e os mais próximos das camadas periféricas da nação, tais quais os professores e os padres” (MACCIOCCHI, 1974, p. 215)17. No entanto, a distância separando os intelectuais do conjunto dos moradores é consideravelmente maior na favela que no campo de refugiados. No campo, a causa palestina é, senão homogênea, extremamente presente. Mesmo os palestinos que, segundo a percepção dos intelectuais do campo, “se desinteressam da Palestina”, são conscientes do seu estatuto de refugiados e percebem seu exílio como uma injustiça infligida ao povo palestino. Na favela, ao contrário, a maior parte da população se desinteressa pela política e por discussões sobre os direitos civis e humanos. Tomemos o exemplo das festividades no campo e na favela. Em Beddawi, as celebrações da palestina organizadas pelos tanzimat são majoritariamente frequentadas pelos refugiados, até porque elas constituem

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A. Gramsci, Il materialismo storico e la filosofia di Benedetto Croce, 1949, citado por M. Macciocchi. Tradução nossa.

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uma das raras ocasiões que eles têm de se divertir no campo. Na favela, por outro lado, a maior parte dos moradores não se interessa pelos eventos que os intelectuais das margens organizam sobre os temas que eles consideram importantes. Os últimos constatam, não sem amargura, que a maior parte dos moradores prefere frequentar os churrascos ricos em carne e em bebidas oferecidos por membros tráfico aos pequenos eventos que eles organizam com seus escassos recursos. Consciente da distância entre os intellectuais de Beddawi e a maior parte dos habitantes do campo, Oumm Mahmoud explica como ela concebe o papel dos primeiros : Qualquer revolução no mundo é feita por um pequeno grupo de pessoas. É como um núcleo: é a parte principal que faz realmente a revolução. Então, para não importa qual revolução no mundo, poucas pessoas a fazem. São eles que começam essa revolução. Ao mesmo tempo, não importa qual revolução tem efeitos, positivos ou negativos, sobre a maioria das pessoas.

Oumm Mahmoud fala, como Gramsci, de « revolução ». De fato, a obra de Gramsci concerne o trabalho de transformação ideológica que deve ser realizado previamente à qualquer “revolução”. No campo, os intelectuais falam da thawra, a revolução palestina. Na favela, alguns intelectuais também falam de revolução. O uso do termo se aproxima do sentido dado por autores autores marxistas, e que corresponde a uma revolução das classes oprimidas. No campo como na favela, para levar a cabo suas respectivas “revoluções”, os intelectuais das margens se auto-atribuem um triplo papel: são agentes de reflexão, de construção e de mediação. Em outras palavras, eles se esforçam para desenvolver e transmitir uma certa consciência política e social, melhorar as condições de vida locais e exercer a mediação entre esses lugares semi-fechados e a sociedade exterior. Para abordar seu papel de reflexão, devemos considerar a distância que existe entre os intelectuais e o restante da população. Para Gramsci, esse fosso não coloca problema ao caráter « orgânico » do intelectual, uma vez que esse se inscreve no que ele chama de « filosofia da práxis » - o quer dizer que o intelectual parte do “senso comum” para em seguida ir além em um movimento crítico e, finalmente, elevar as “pessoas simples” até uma “concepção superior da existência”18. De fato, em Beddawi, os intelectuais partem do “senso comum” da causa palestina e da necessidade de mantê-la viva, para em seguida elaborar suas próprias ideias políticas e propagá-las ao resto do campo. Em Acari, o senso comum diz respeito à ineficiência das instituições governamentais em relação à favela e aos abusos da autoridade por parte da polícia. A partir dessas ideias, os intelectuais elaboram um 18

Essa dialética terminaria estabelecendo uma nova unidade entre os « intelectuais » e as massas.

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pensamento reivindicando o direito de serem cidadãos de forma integral. O papel do intelectual consiste, assim, em dotar o conjunto da população de um olhar crítico. Em Acari como em Beddawi, os intelectuais reivindicam seu papel como agente de reflexão para a conscientização do conjunto dos habitantes do campo e da favela. O segundo papel do intelectual das margens é o de construção. Grande parte do esforço teórico de Gramsci visa a elaboração de uma nova concepção do intelectual, onde o homo faber é inseparável do homo sapiens. Como o expressa Maria-Antonietta Macciocchi, o autor rejeita « a aberrante divisão do homem em dois seres distintos, um que trabalha com sua cabeça e outro com seus braços »19 (MACCIOCHI, 1974, p.239). No mesmo sentido, em Acari, Deley se opõe a essa visão dualista : « Eu me reconheço como líder comunitário. Eu faço as coisas na prática, eu estou na atividade. […] Eu também me reconheço como um intelectual […] Normamente, as duas coisas são separadas, as pessoas são muito maniqueístas ». Assim como Deley, na favela e no campo os intelectuais das margens não se limitam a refletir sobre sua condição. Seus pensamentos se acompanham de ações concretas. Eles criam múltiplas atividades destinadas aos habitantes dessas localidades, com o objetivo de levar a eles uma certa consciência política, mas também de melhorar as condições de vida locais. Em Acari e em Beddawi, observamos a co-existência desses dois eixos : tomada de consciência e melhoramento da existência cotidiana. Em Beddawi, o esforço dos intelectuais é, por um lado, manter o espírito da causa nacional vivo e, por outro, responder às necessidades dos refugiados do campo. Em Acari, as atividades dos intelectuais se focam, por um lado, em torno da tomada de consciência dos moradores da favela sobre seu lugar na sociedade brasileira e, por outro, nas mudanças que devem ser operadas para que eles gozem, de fato, dos mesmos direitos que o conjunto dos cidadãos brasileiros. Além de seu papel de reflexão e de construção, os intelectuais das margens exercem um papel de mediação entre o campo e o exterior. Eles se expressam mais facilmente que a maior parte da população local e, no caso de Beddawi, falam línguas estrangeiras. Assim, são eles que se dirigem à midia quando um evento acontece no campo ou na favela. Na favela de Acari, desde a morte do jornalista Tim Lopes20, Deley seria um dos únicos autorizado a trazer a imprensa para dentro da favela. Ele está igualmente em contato com o universo acadêmico carioca, em especial com a produção universitária sobre as favelas. De fato, são os intelectuais 19

Tradução nossa. O jornalista da Rede Globo foi assassinado na noite do 2 de junho de 2002, quando ele realizava uma reportagem sobre as praticas dos traficantes de droga na Vila do Cruzeiro, uma das doze favelas do Complexo do Alemão, no bairro Penha, periferia do Rio de Janeiro. Sua morte suscitou grande emoção nacional. 20

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das margens que promovem a entrada dos “intelectuais tradicionais” e dos artistas nesses espaços21. Eles são, de certa forma, os embaixadores locais. Assim, quando cheguei em Beddawi pela primeira vez, me dirigi ao escritório local da UNRWA. Sem saber o que fazer, o diretor da Agência no campo chamou Burhan, pintor e escritor de Beddawi de aproximadamente 60 anos, no seu escritório. Não somente Burhân falava francês fluentemente, mas ele estava igualmente qualificado para me informar sobre o campo e a condição dos refugiados no Líbano. Burhân também conhecia diversas famílias no campo. Ele pôde assim me ajudar a encontrar uma família que aceitou hospedar-me. De fato, os intelectuais das margens constituem uma referência para os moradores do campo e da favela, que buscam seu conselho em relação à questões políticas, sociais, securitárias, jurídicas ou culturais... Sem se inserir no contexto dos poderes locais ou dos movimentos religiosos, eles se tornam referências tangíveis para as populações do campo e da favela e também para os atores externos, assumindo um papel, ainda que limitado, de liderança local.

Considerações finais Meus trabalhos de campo em Beddawi e em Acari devem muito ao encontro com os intelectuais das margens. Durante a pesquisa de doutorado, segui a proposição de Geertz, me esforçando para “ler sobre os ombros” dos meus interlocutores com a finalidade de apreender a realidade do campo e da favela. Os intelectuais das margens constituíram, assim, as principais entradas micro-sociológicas da minha análise. De fato, quando o pesquisador se dispõe a escutá-los como mais que simples mediadores ou testemunhos, os intelectuais das margens se constituem como atores chaves para o entendimento desses espaços marcados pela precariedade e estigmatização. No caso de um estudo comparativo, permanecer próximo ao material empírico, notadamente à vivência dos interlocutores, impede que o estudo derrape em uma “comparação à todo custo”. Quando se trata de uma pesquisa que se interessa às dimensões subjetivas da existência nos espaços em margens, considerar a presença dos intelectuais das margens revela-se ainda mais importante; afinal de contas, são eles em grande parte os responsáveis pela criação e pela difusão dos imaginários locais. Mais concretamente, os intelectuais das 21

Quanto às ONGs e associações, sua porta de entrada é, na maior parte do tempo, a associação de moradores, no campo de refugiados como na favela. Notemos que, nos dois casos, os intelectuais das margens se mostram extremamente críticos em relação à essas instituições. Segundo eles, seus dirigentes aproveitam pessoalmente dos projetos que as diversas ONGs e associações destinam às populações locais.

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margens possuem um vasto conhecimento do campo e de seus numerosos atores. Além de introduzir o pesquisador ao universo social do espaço analisado, eles podem eventualmente legitimar sua presença e seu estudo aos olhos dos habitantes locais. Sua mediação prova-se ainda mais preciosa quando se trata de campos que podem ser qualificados como “sensíveis” ou “de risco”. Enfim, se os intelectuais das margens podem ajudar na compreensão de espaços como favelas e campos de refugiados, percebê-los além do estatuto de mediadores ou testemunhos revela-se um exercício de humildade para os intelectuais tradicionais. Pois, ao reconhecê-los como atores capazes de desenvolver reflexões autônomas, pesquisadores do universo acadêmico deverão, mais do que nunca, estar atentos para não incorporar automaticamente em suas pesquisas as informações e reflexões emanadas pelos intelectuais das margens, sem no entanto negar sua contribuição.

Bibliografia AGIER Michel (1999) L’invention de la ville. Banlieueus, townships, invasions et favelas. Paris, Editions des archives contemporaines. ALVITO Marcos (1998) As cores de Acari. Uma favela carioca. Rio de Janeiro, Editora FGV. DAS Veena, POOLE Deborah éds. (2004), Anthropology in the Margins of the State. New Delhi, Oxford University Press. DIAS Amanda S. A. (2009) Du moukhayyam à la favela. Une étude comparative entre un camp de réfugiés palestiniens au Liban et une favela carioca. Tese de doutorado em sociologia, Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), Paris, e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro. ---------- (2007) « Peintres de Beddawi, entre création artistique et engagement politique » p. 249-270 in N. Puig et F. Mermier (dirs.), Itinéraires Esthétiques e Scènes Culturelles au Proche-Orient. Beirute, IFPO. ---------- (2004) Peintres de Beddawi. Création artistique et imaginaire politique dans un camp de réfugiés palestiniens au Liban. Mestrado em sociologia (DEA) Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), Paris. FOUCAULT Michel (2001) « La vérité et les formes juridiques » p. 538-646 in Dits et Ecrits - t. 2. Paris, Gallimard, 2001. GRAMSCI Antônio (1978) Carnets de prison. Paris, Gallimard.

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MACCIOCCHI Maria-Antonietta, Pour Gramsci. Paris, Seuil. MARCHI Giuseppe (1998) La città emarginata, tra violenza e speranza nelle favelas di Rio de Janeiro. Verona, Gabrielli Editori. MARIZ Cecília L., ALVES FERNANDES Sílvia Regina, BATISTA Roberto (1998) « Os universitários da favela » p. 323-337 in A. Zaluar et Marcos Alvito (éds.), Um século de favela. Rio de Janeiro, Editora FGV. ROUGIER Bernard Rougier (2004) Le jihad au quotidien, Paris, PUF.

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