V Seminário Ensino em Saúde Trabalho Prescrito-Trabalho Real: Formação Profissional em Saúde 20 e 21 de outubro de 2016 Diamantina - MG Cannabis sativa muito mais que uma droga ilícita, possíveis fármacos Lucas Paconio Silva(1,*), Fernanda Maria Rodrigues(1) e Igor Ribeiro Abreu (1) 1
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, Diamantina-MG.
E-mail:
[email protected] Palavras chave: canabidiol, Cannabis sativa; cannabinoids; therapeutic properties; envolvendo as 107 maiores cidades do país -
INTRODUÇÃO Este ensaio tem como objetivo discutir sobre a redução de danos a sociedade e aos seus usuários relacionado ao comércio ilegal de cannabis,
além
de
evidenciar
o
potencial
farmacêutico e a falta de pesquisas cientificas. Como será mostrado, a cannabis possui um grande potencial terapêutico sendo de grande relevância
para
a
comunidade
médica.
É
importante que pesquisas sobre este tema sejam realizadas para que em um futuro próximo possamos esclarecer melhor mitos e verdades sobre está planta. “Para alguns autores, é possível, até, admitir que, nos processos de elaborações de leis e políticas sobre o tema, vem havendo um desprezo às posições científicas, quando
não
uma
negligência
sistemática.”
2001, estima que 6,9% dos Brasileiros fizeram uso de maconha durante a vida. Estes mesmo estudos mostram que a maconha é a droga que é mais usada. Mesmo com a proibição e sua criminalização, o tráfico de maconha é muito intenso. Esta postura repressiva tanto quando ao uso quanto ao tráfico permaneceu durante décadas no Brasil, tendo para isso o apoio da Convenção
Única
de
Entorpecentes,
da
Organização das Nações Unidas (ONU), de 1961, da qual o Brasil é signatário. Como sabemos, essa convenção ainda considera a maconha uma droga extremamente prejudicial à saúde e à coletividade, colocando-a
comparando-a em
duas
listas
à
heroína
e
condenatórias.
(CARLINI, 2006, p. 316)
(VIDAL, 2009, p. 62-63). Foi também na década
Essa maldição sobre a maconha tem reflexos
de 1930 que a repressão ao uso da maconha
negativos em outras áreas como as de pesquisas
ganhou força no Brasil. Possivelmente essa
cientificas. Está sobejamente provado que o D9-
intensificação das medidas policiais surgiu, pelo
tetraidrocanabinol (D9-THC), o princípio ativo da
menos em parte, devido à postura do delegado
maconha, tem efeito antiemético em casos de
brasileiro na II Conferência Internacional do Ópio,
vômitos induzidos pela quimioterapia anticâncer e
realizada em 1924, (...). E, obviamente, os
é um orexígeno útil para os casos de caquexia
delegados dos mais de 40 países participantes
aidética e a produzida pelo câncer. (...) houve e
não estavam preparados para discutir a maconha.
há resistências, inclusive no Brasil, em aceitar
(CARLINI, 2006, p.316).
essa substância como medicamento.” (CARLINI, 2006, p. 316).
DISCUSSÕES Em pesquisa realizada no artigo Uso de drogas psicotrópicas
no
Brasil:
pesquisa
domiciliar
Após muitos anos de repressão e combates ineficazes contra o consumo de cannabis, surgem
linhas de pesquisa para o uso de componentes
tratamento
de
da planta, denominados canabinóides, para usos
mostrando
que
medicinais. “[...]O termo canabinóides foi atribuído
expoentes positivos em tratamentos de algumas
ao grupo de compostos com 21 átomos de
doenças em muitos casos principalmente onde
carbono presentes na Cannabis sativa, além dos
outras drogas não atingiram a expectativa no
respectivos
e
entanto devido ao baixo número de pesquisas
possíveis produtos de transformação.” (ARROIO;
ainda sim a indicação para o uso de canabinóides
SILVA, 2015, p. 319).
continua baixo mas devido a evidencias da
ácidos
carboxílicos,
análogos
dor
neuropática
canabinóides
e
cefaleia
podem
ser
eficácia da droga a autora mostra expectativas Como
no
artigo
Aspectos
terapêuticos
de
compostos da planta Cannabis sativa. Química Nova [online]. 2006, vol.29, n.2, pp. 318; mostra o grande potencial para aplicações em fármacos os canabinóides demonstram diversas aplicações mas os efeitos psicotrópicos ainda demonstram um empecilho. O artigo fomenta as pesquisas
em relação as pesquisas futuras sobre o assunto. “Os dados científicos até agora disponíveis permitem concluir que o canabidiol poderá desempenhar um papel importante no tratamento de
epilepsias
muito
difíceis,
em
casos
específicos, ainda não definidos cientificamente” (BRUCKI, et al., 372).
pois ainda são baixos os números de estudos e
Com o advento das pesquisas sobre cannabis,
testes de canabinóides. “O uso medicinal da
surge um movimento social que prega o cultivo
Cannabis hoje é permitido em alguns estados
doméstico
americanos e em países como Holanda e Bélgica,
mercado criminalizado da planta.
para aliviar sintomas relacionados ao tratamento
“Somente com o nascimento de um movimento
de câncer, AIDS, esclerose múltipla e síndrome
social baseado na prática do cultivo de Cannabis
de Tourette.” (ARROIO; Silva, 2015, p.318). Na
para consumo pessoal ou para compartilhamento
planta cannabis sativa, segundo Agnaldo Arroido,
entre um circuito fechado de pessoas e da
2006, foram identificadas 421 dentre elas o
emergência de leituras mais abrangentes acerca
Canabigerol testado para aumentar o apetite e o
do conceito de Redução de Danos, tornou-se
canabidiol
obrigatória a inclusão de uma nova figura nas
usado
para
controle
de
certas
como
melhor
relacionadas com o uso de maconha: as pessoas
entendimento a cannabis sativa e seus possíveis
que plantam para consumo próprio.” (VIDAL,
benefícios.
2009, p. 69)
“Clínicas
metodologicamente
são
bem
conduzidas
limitadas,
pois
há
políticas
ao
estudos
um
e
alternativas
discussões
para
leis
das
epilepsias; substancias estas que necessitam de aprofundados
sobre
uma
públicas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
restrição legal ao uso de medicamentos derivados
A criminalização da maconha pode estar gerando
do cannabis, embora o canabidiol um dos
mais problemas do que o realmente deveria,
principais canabinóides pesquisados atualmente
como dito anterior mente, a maconha é a droga
e não possua propriedades psicoativas.” Sonia
mais utilizada e devido e sua falta de legalidade,
Brucki, 2015.
gera trafico desta droga no país. Uma distribuição
Segundo Sonia Brucki estudos realizados com
sem controle de qualidade aos usuários, assim
canabinóides para o tratamento de epilepsia,
como a agressividade policial aos usuários e as
esclerose
classes sociais desfavorecidas cujo são afetas
múltipla,
doença
de
Parkinson,
pelo comércio ilegal são problemas que podem
CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Formulário e
ser evitados com uma política melhor formulada
guia médico. Paris: Livraria de A. Roger & F.
para tratar da maconha no Brasil. Caso haja
Chernoviz. 1888 apud CARLINI, 2006, p. 315.
alguma regulamentação entorno da droga. A
GALDURÓZ, J.C.F; NOTO, A.R.; NAPPO, A.S;
regulamentação
da
CARLINI, E.A. Uso de drogas psicotrópicas no
maconha no Brasil, seria um grande passo para
Brasil: pesquisa domiciliar envolvendo as 107
um melhor combate ao tráfico, uma vez que é a
maiores cidades do país. 2001. Rev Latino-am
droga mais utilizada e também a comunidade
Enfermagem 2005 setembro-outubro; 13(número
academia poderia melhor estudas possíveis
especial):888-95.
princípios ativos relacionado a cannabis, uma vez
VIDAL, Sergio. A regulamentação do cultivo de
que esse devido a proibição do cultivo no território
maconha para consumo próprio: uma proposta de
Brasileiro e o processo para trabalhar com
Redução
substancias controladas é muito dificultado. Com
incidências clínicas e socioantropolicas. EDUFBA,
a facilitação do estudo da cannabis poderias
2009, p. 61-69.
do
uso
e
distribuição
melhor entender estes compostos canabinóides uma vez que foi mostrado que pode ser uma alternativa para tratamentos de muitas doenças, sintomas e síndromes. Porém, desde já, devemos considerar
o
estudo
de
cannabis
pela
comunidade científica do país, o que pode levar a um melhor entendimento sobre a cannabis para auxiliar
a
elaboração
melhores
leis
e
regulamentações no país. REFERÊNCIAS ARROIO,
Agnaldo;
SILVA,
Albérico
Borges
Ferreira da. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Química Nova [online]. 2006, vol.29, n.2, pp. 318-325. BESSA, Marco Antônio. Contribuição à discussão sobre a legalização de drogas. Ciênc. saúde coletiva [online]. vol.15, n.3, pp. 633-636, 2010; ISSN 1413-8123. BRUCKI, Sonia M. D. et al. Canabinoides e seu uso em neurologia – Academia Brasileira de Neurologia. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 73, n. 4, p. 371-374, abr. 2015. CARLINI, Elisaldo Araújo. A história da maconha no Brasil. J. bras. psiquiatr. 2006, [online]. vol.55, n.4, pp. 314-317.
de
Danos.
Livro:
Toxicomanias:
AGRADECIMENTOS Agradecemos aos nossos pais, a UFVJM e a república Sambarilove pelo apoio.