Canto de câmara em movimento: Pesquisando movimento expressivo para cantores com o Sistema Laban

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Descrição do Produto

Pós-graduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas

PAULA MARIZ

Canto de câmara em movimento: Pesquisando movimento expressivo para cantores com o Sistema Laban

Rio de Janeiro 2015

PAULA MARIZ

Canto de câmara em movimento: Pesquisando movimento expressivo para cantores com o Sistema Laban

Monografia apresentada ao curso de pósgraduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas da Faculdade Angel Vianna como requisito parcial à obtenção do grau de especialista.

Orientadora: Prof.ª MS. Ana Bevilaqua Penna Franca

Rio de Janeiro 2015

Mariz, Paula. Canto de câmara em movimento: Pesquisando movimento expressivo para cantores com o Sistema Laban. / Paula Mariz. — 2015. f.57; 30 cm. Monografia (Pós-graduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas)—Faculdade Angel Vianna, Rio de Janeiro, 2015.

1.Laban. 2.Escalas de Movimento. 3.Música de Câmara. 4.Canto. I. Franca, Ana Bevilaqua Penna (Orientadora) II. Faculdade Angel Vianna III. Título.

Dedico esse trabalho a mi muy querido Marcos Thadeu

AGRADECIMENTOS

À Marilia Velardi e todos os integrantes do Núcleo Universitário de Ópera que me receberam com amor, ótimas indicações de leitura e conversas estimulantes. Ao Menelick de Carvalho e sua equipe na Casa das Artes de Laranjeiras pela oportunidade de acompanhamento das aulas de teatro musical. Ao Eduardo Pessanha Cavalcanti pelo incentivo, apoio e companhia em todas as peças que assisti. Às minhas amigas queridas Ana Lúcia Gaborim, Joana Mariz e Regina Vendeiro pelos debates, passeios em Sampa, indicações bibliográficas e outros mimos. À minha irmã Flávia Mariz que cuidou da minha cachorrinha nas minhas viagens. À Andrea Brisson por dirigir meus movimentos in the Laban way e por permitir que eu dirigisse os dela em outras pesquisas Laban. À Ingrid Bertin Carneiro pela leitura dos rascunhos e pelos conselhos preciosos. Ao Yago Chamoun Ferreira Soares e a sua Nala, que trouxeram mais leveza ao nosso quadrado. À Tribo da Angel pelas indicações de palestras. À Ana Bevilaqua Penna Franca que corrigiu e esclareceu cada dúvida com muita paciência e delicadeza. E à equipe da Faculdade Angel Vianna por todas as experiências de movimento que me ofereceu.

RESUMO

Este trabalho apresenta o resultado de pesquisa de movimento para cantores em preparação para recitais de música de câmara utilizando as premissas do Sistema Laban, em especial o treinamento corporal relacionado com as Escalas de Movimento, desenvolvido por Rudolf Laban. O nível de exigência técnica em música de câmara é excessivo e a formação superior em música no Brasil ainda não proporciona vivências corporais de forma rotineira para cantores em formação. Essa lacuna advém de longa tradição filosófica de oposição entre corpo e pensamento. O Sistema Laban oferece oportunidade eficiente de criação de movimento expressivo para cantores por se tratar de proposta inclusiva sob todos os aspectos, (tanto de quem se movimenta, quanto de como se movimenta e onde) por conta do seu entendimento holístico do ser humano, da vida e do universo.

Palavras-chave: Laban. Escalas de Movimento. Música de Câmara. Canto.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1

Posicionamento dos cinco diafragmas

18

Figura 2

Relação entre os músculos diafragma e psoas

19

Figura 3

Influência da respiração no corpo segundo a visão constitutiva por tubos de Keleman

20

Figura 4

Extensões da respiração

21

Figura 5

Planos dimensionais (vertical, sagital e horizontal)

36

Figura 6

Organização geométrica do octaedro

37

Figura 7

Modelo de interseção entre os planos dimensionais e o octaedro

37

Figura 8

Centro do Corpo e sua expansão para o espaço

38

Figura 9

Escala dimensional do octaedro

38

Figura 10

Organização geométrica do hexaedro

39

Figura 11

Interseção dos centros espaciais do cubo e do Centro do Corpo

40

Figura 12

Escala diagonal do cubo

41

SUMÁRIO 1

Introdução……..................................................................................

1

2

Canto se aprende na escola?.............................................................

5

3

Como se faz….....................................................................................

15

4

Respirando e ouvindo……………………………………………….

35

5

Conclusão............................................................................................

50

6

Bibliografia…………………………………………………………..

52

Introdução O que me mobilizou para a escrita da minha dissertação de mestrado - Atitudes de intérpretes cantores durante recitais e sua relação com o texto musical no contexto das Bienais Brasileiras de Música Contemporâneas do Rio de Janeiro entre 1975 e 2001 - foi a contemporaneidade do movimento e a presença dos cantores que se apresentaram durante a VIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, primeira que tive oportunidade de assistir, em 1989. No entanto, por conta dos caminhos percorridos até então, não tive acesso às leituras e experiências de movimento que dessem conta de alcançar esta temática na ocasião da realização daquela pesquisa (terminei o mestrado em 2003). Quando realizei meus estudos de formação em canto, durante as décadas de 1990 e 2000, a orientação sobre movimento para cantores era divulgada informalmente, dependendo da experiência do professor. Havia, no entanto, preocupação com profilaxia para evitar a ocorrência de lesões, por conta disso, a Técnica de Alexander já era divulgada em festivais de música. Durante a minha graduação em canto na Universidade Estácio de Sá (UNESA), durante a década de 1990, tive oportunidade de estudar com dois professores, ambos já falecidos e nascidos durante a década de 1920, com trajetórias diferentes: Maria Helena Bezzi, que se dedicou exclusivamente ao magistério do canto e Alfredo Colosimo, cantor lírico com atuação importante no cenário operístico brasileiro, que foi inclusive primeiro tenor do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Bezzi costumava criticar de forma depreciativa performances no palco, se referindo a desenvoltura de muitos cantores como de “uma empada em cena”, apesar disso, restringia sua orientação a questões técnicas e estilísticas próprias do canto. Colosimo iniciou seus estudos a partir da década de 1940 e começou a lecionar apenas em 1968, após a morte do seu professor, Pasquale Gambardella. Sua orientação, durante as aulas que fiz na UNESA, se concentrava nos princípios técnicos e interpretativos do bell canto e em algumas dicas sobre como se posicionar no palco relacionadas com a sua experiência em atuação em óperas: como utilizar a respiração para se concentrar antes de apresentações; e o tipo de movimentação de braços que favoreceria a emissão de notas agudas capazes de “furar” orquestra1. 1

“furar” orquestra, que significa ser ouvido mesmo quando acompanhado por grande orquestra e coro, é uma qualidade determinante para a carreira de cantores líricos que se dedicam à ópera. 1

Em minhas aulas de aperfeiçoamento em música de câmara com Marcos Thadeu Miranda Gomes, tenor e regente mineiro de carreira internacional, atual preparador vocal do Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP)2, nascido durante a década de 1940, pude observar outro tipo de postura diante do canto. A atenção ao corpo esteve presente desde a primeira aula, sendo demonstrada desde o princípio com orientação para relaxar os músculos da cintura pélvica, caminhar, fazer uso de gestual durante exercícios vocais, conscientização do corpo a partir de observação visual de possíveis tensões no corpo inteiro ao cantar (utilizando espelho) e realização de movimentos que integravam o corpo inteiro aliados a respiração. Apesar de profundos conhecedores de técnicas de preparação vocal, apenas o último professor, cabe ressaltar, de outra geração, conhecedor dos movimentos contemporâneos de teatro e dança e que lecionava fora do circuito universitário na ocasião3, adicionava elementos de preparação corporal às suas aulas. Em 2008, tive oportunidade de frequentar as aulas de Thomas Casciero em evento prévio ao Encontro Laban realizado no Rio de Janeiro e conhecer o seu trabalho de preparação de atores utilizando o Sistema Laban-Bartenieff. As experiências e os resultados dos exercícios realizados durante as aulas me causaram uma impressão tão forte, que, a partir desta ocasião, comecei a adquirir livros, frequentar oficinas sobre o tema, fazer os exercícios desenvolvidos por Irmgard Barternieff com meus alunos de canto, até descobrir os cursos de pós-graduação da Faculdade Angel Vianna e optar por frequentar a pósgraduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas para aprofundar meus conhecimentos sobre o Sistema Laban. Metodologia de pesquisa A metodologia adotada nesta pesquisa compreendeu:  Observação de ensaios e apresentações de performances em ópera, teatro musical

e recitais ao vivo e gravadas (divulgadas em: );  Observação de aulas direcionadas a preparação corporal de atores e cantores na

Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e Núcleo Universitário de Ópera (NUO) respectivamente;

2 3

Esta monografia foi escrita entre 2013 e 2015. Atualmente Marcos Thadeu é professor da Faculdade Cantareira, em São Paulo. 2

 Análise de performances de duas cantoras (Malu Mestrinho e Manuelai

Camargo) disponíveis em vídeo no sítio eletrônico seguindo os princípios da Labanálise [LMA];  Laboratório individual de criação de movimento utilizando as Escalas Espaciais

de Movimento desenvolvidas por Rudolf Laban para interpretação de canções brasileiras eruditas contemporâneas;  Pesquisa de grades curriculares de cursos de bacharelado em canto em universidades federais e faculdades particulares brasileiras; e  Leitura de textos relacionados a: Sistema Laban; preparação corporal; presença; e

expressividade. A análise das performances das cantoras disponíveis em vídeo compreendeu as seguintes etapas: 1.

análise musical compreendendo forma, estruturação harmônica, elementos rítmicomelódicos (esta etapa não foi realizada com a canção “Desafio”, por falta de acesso à partitura);

2.

análise do texto compreendendo significado e contextualização;

3.

análise de movimento inspirada na

Folha Codificada Simplificada para LMA

divulgada por Ciane Fernandes (2006); e 4.

correlação das informações provenientes de cada uma das duas análises indicadas. O laboratório de criação de movimento compreendeu as seguintes etapas:

1.

Escolha do repertório;

2.

Análise textual (com foco em significado e contextualização da ocasião em que o texto foi escrito);

3.

Análise musical (esquemática, com indicações de forma, harmonia, ritmo, elementos melódicos);

4.

Estudo da canção e declamação do texto (individual);

5.

Ensaio da canção com pianista (gravação de base para ser utilizada durante etapa 7);

6.

Pesquisa de movimento utilizando a Escala Dimensional do Octaedro e a Escala Diagonal do Cubo desenvolvida por Laban; e

7.

Experimentação de movimento relacionada diretamente com a canção escolhida realizada em conjunto com sua interpretação acompanhada por gravação realizada durante etapa 5. 3

O resultado destas atividades foi organizado neste texto da seguinte maneira: Capítulo “Canto se aprende na escola?”, onde se relaciona as diretrizes curriculares propostas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para os cursos de graduação em música; treze grades curriculares (três de faculdades particulares e dez de universidades públicas);

os

conceitos

de

auto-imagem

de

Moshe

Feldenkrais,

produção

de

presença/produção de sentido de Hans Ulrich Gumbrecht, inteligência cega de Edgard Morin e redução racionalista de Carlos Alberto Plastino para contextualizar limitações em preparação corporal na formação universitária dos cantores no Brasil. Capítulo “Como se faz”, onde, a partir do entendimento segundo o qual a respiração é um sistema que envolve todo o corpo em função da manutenção da vida, é feita aproximação com as ideias de Rudolf Laban e análise de performances das canções “Amor em lágrimas”, de Claudio Santoro e “Desafio”, de Edino Krieger. Capítulo “Respirando e ouvindo”, onde se descreve a experiência da autora durante pesquisa de movimento utilizando duas Escalas Espaciais de Movimento desenvolvidas por Laban.

4

Canto se aprende na escola?

A natureza deve ser considerada como um todo, mas deve ser estudada em detalhe. Mario Bunge Durante a conferência magna que proferiu no evento “Educação 360”, realizado no Rio de Janeiro em setembro de 2014, Edgar Morin (2014) discorreu sobre autoconhecimento e afirmou a importância da transdisciplinaridade, criticando as instituições de ensino por não se dedicarem à diversidade do ser humano, ao contrário se especializam no fornecimento de conhecimentos fragmentados. Sua afirmação se voltava para a educação básica: Aprendemos na escola muitos conceitos, muitos conhecimentos, mas todos dispersos. Precisamos desenvolver um modelo educacional que ligue esses conhecimentos, que os coloque na perspectiva. As escolas acumularam saberes, mas não são capazes de organizá-los. (JORNAL O GLOBO, 2014, p. 35).

No entanto, sua magnitude atinge o ensino superior, que, no Brasil, especializa e fortalece a fragmentação característica dos ensinos fundamental e médio. As grades curriculares dos cursos de graduação em canto em instituições de ensino superior brasileiras fazem uso da teoria dos sistemas4 para definir as disciplinas e os conteúdos a serem observados pelos alunos durante sua vida acadêmica. Essas definições sofrem variações5 influenciadas por questões que vão desde limitações na formação dos docentes a entendimento político da possibilidade de atuação futura dos alunos, passando por influência internacional, disponibilidade de recursos e restrições legais, e influenciarão posteriormente as possibilidades de atuação e de reflexão destes alunos por ocasião de sua vida profissional. De acordo com Moshe Feldenkrais (1977), cada indivíduo constrói sua auto-imagem ao longo de sua vida, influenciado por seu modo de agir. O modo de ação de cada um pode ser modificado com mudanças na natureza de suas motivações e na mobilização de todas as partes do corpo a elas relacionadas. Apesar da indicação de Feldenkrais em si já ser uma fragmentação – uma vez que seu conceito de auto-imagem é decomposto em quatro elementos (movimento, sensação, sentimento e pensamento) com propósito didático, – ela se configura como uma oportunidade de observação do detalhe para alcançar o todo, e, a opção pela sua indicação 4

Um sistema é uma coleção ou agregado de qualquer coisa que mantém entre si relações, das quais surjam propriedades coletivas ou partilhadas. 5 Em nossa realidade todos os sistemas são abertos, ou seja, têm propriedades que variam no tempo. 5

neste texto tem propósito de indicar que a insistência no pensamento é a fragmentação primordial que afasta os currículos dos cursos de graduação em canto da essência corpórea (movimento e sensação) daquele que estuda canto e do cantar (modo de ação em questão). O estado6 de cada curso de graduação em canto é diferente dos demais. Num levantamento das disciplinas obrigatórias de grades curriculares dos cursos de graduação em canto (bacharelado) de treze instituições de ensino superior brasileiras (três particulares e dez públicas em 2013 e 2014) foi possível encontrar apenas duas disciplinas comuns: canto (com variação de nomenclatura: canto e formação específica), marcado em amarelo nas tabelas a seguir, e percepção musical (com variação de nomenclatura: percepção, percepção musical, leitura à primeira vista, treinamento auditivo e teoria, linguagem e estruturação musical, morfologia musical – teoria e percepção musical e introdução à percepção musical), marcado em laranja nas tabelas abaixo. Cinco cursos de graduação em canto oferecem disciplinas obrigatórias diretamente relacionadas ao treinamento do corpo para cena (expressão corporal, interpretação cênica, laboratório de performance, fundamento das práticas corporais, consciência corporal em performance musical e prática de performance), marcado em verde escuro nas tabelas que indicam as disciplinas; e seis cursos oferecem disciplina obrigatória relacionada com o conhecimento do funcionamento do aparelho fonador (fisiologia da voz, fisiologia da voz e dicção vocal, fisiologia vocal prática e fisiologia da voz teoria), indicada em verde claro nas mesmas tabelas.

Grades curriculares de cursos de graduação em canto em instituições de ensino particulares: Conservatório Brasileiro de Música Faculdade Santa Marcelina – – CBM (RJ) FASM (SP)

Universidade Cruzeiro do Sul (SP)

Análise musical

Análise

Análise musical

Atividades complementares

Antropologia filosófica

Antropologia

Canto

Atividades complementares

Canto coral

Canto coral

Canto

Contraponto

Cultura popular brasileira

Canto coral

Diversidade étnico-cultural

Dicção

Contraponto Elementos da linguagem musical

Estética musical

Estética Fisiologia da voz e dicção vocal

Filosofia

Estética Expressão corporal Harmonia funcional 6

Estudos dirigidos

Formação específica

Estado de um sistema é a coleção das intensidades das suas qualidades em um momento. 6

Harmonia tradicional

Harmonia

Fundamentos de regência instrumental e coral

História da música

História da música

Harmonia

Iniciação científica

Informática

História da música brasileira

Interpretação cênica

Instrumento complementar

Introdução percepção musical

Laboratório de performance

História da música popular brasileira História da música: das origens ao barroco

Leitura a 1ª vista e solfejo Música de câmara Percepção musical Piano em grupo Prática vocal

Metodologia de pesquisa Monografia Música contemporânea Percepção Prática de grupo

História da música: do classicismo ao romantismo História das artes LEM - linguagem e estruturação musical Linguagem brasileira dos sinais Língua portuguesa

Repertório Seminários de interpretação | pesquisa de repertório Técnicas de redação

Produção musical Temas da cultura contemporânea

Teoria geral da música

Metodologia de pesquisa Música de câmara Música e contemporaneidade Música e tecnologia Orquestração Percepção musical Rítmica Sociologia

Grades curriculares de cursos de graduação em canto em instituições de ensino públicas: Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS (RS) Análise musical Canto

Canto coral Contraponto

Fisiologia da voz Fundamentos da música Harmonia História da música História da música brasileira

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO (RJ) História da música Análise musical Análise musical avançada Canto

Canto coral Dicção Expressão corporal Fisiologia voz Harmonia

Universidade Federal da Bahia - UFBA (BA)

Escola de Música e Belas Universidade do Estado Artes do Paraná de Minas Gerais EMBAP (PR) UEMG (MG)

Canto Estágio curricular

Acústica musical

Análise musical

Antropologia cultural

Antropologia cultural

História da música Introdução à pesquisa Literatura e estruturação musical

Dicção lírica Didática musical didática geral Didática musical técnicas de ensino do instrumento - canto

Canto coral

Literatura vocal

Estágio supervisionado

Monografia Percepção musical Piano suplementar

Filosofia da arte

Contraponto Elaboração de projeto de TCC

Fisiologia vocal prática

Estética musical

Fisiologia vocal teoria

Fisiologia da voz

Canto Consciência corporal em performance musical

7

Iniciação à pesquisa Laboratório de execução vocal

Interpretação Música de câmara

Percepção musical

Oficina canto

Recital de graduação Teclado complementar Técnica de interpretação de música de câmara

Oficina de ópera Percepção musical

Prática de conjunto: canto coral Prepração de recital Princípios práticos de informática

Recital Repertório vocal

Fundamento das práticas corporais Fundamentos das línguas estrangeiras

História música

Instrumento canto Leitura à 1 vista Literatura musical literatura geral da música Literatura musical literatura musical brasileira Literatura musical literatura musical do século XX e contemporânea Metodologia da pesquisa científica Música de câmara Núcleo de ópera Prática de repertório

Prática de performance Sintaxe musical harmonia TCC Morfologia musical teoria e percepção musical Sintaxe musical fundamentos de análise e apreciação musical

Universidade do Estado do Amazonas - UEA (AM) Canto coral: técnicas de expressão vocal Análise interpretativa de repertório

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (RN)

Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ (RJ)

Canto Apreciação musical

Canto Dicção e pronúncia

Contraponto

Fisiologia da voz História da Fisiologia da voz ópera

Estética e história da arte

Harmonia

Canto

Canto coral

História da música barroca História da música brasileira a História da música clássica e romântica História da música da antiguidade ao renascimento História da música dos séculos XX e XXI Leitura à primeira vista i Leitura e produção de textos acadêmicos

Literatura do canto Metodologia da pesquisa científica Música de câmara a Percepção musical Piano complementar Prática do canto com acompanhamento a Práticas em performance musical TCC

Universidade de São Universidade de Paulo - USP São Paulo - USP Ribeirão Preto (SP) São Paulo (SP) Canto

Análise musical

Canto coral Conceitos fundamentais da música

Canto

Canto coral

Contraponto Contraponto Estética e história da Estudos de Oficina de ópera arte repertório coral 8

Filosofia da arte MPB Folclore: etnomusicologia e música latino-americana Percepção Prática de Harmonia conjunto História e evolução da música

Recital

Percepção musical

Fundamentos da acústica musical

Piano b

Harmonia História e estilo da música Linguagem e estruturação musicais

Pratica vocal Recital de formatura

Língua inglesa instrumental

Linguagem e estruturação musical Metodologia do trabalho científico Música brasileira Organologia

Montagem de ópera

Música brasileira

Expressão corporal para cantores Fonética aplicada ao canto Fundamentos da acústica musical

História da música História da ópera História do repertório coral: criação, interpretação e recepção

Percepção musical

Instrumento Metodologia da Piano complementar pesquisa em música

Prática de conjunto para canto

Piano em grupo Prática de repertório de canto Seminário de introdução ao curso e à profissão

Prosódia musical

Seminário de projeto Piano complede pesquisa mentar

Piano complementar

Recital de formatura

Redação e expressão oral

Regência coral Trabalho de conclusão de curso

Montagem de ópera Música brasileira

Percepção musical

Seminário de projeto Prática de de pesquisa repertório de canto Repertório coral brasileiro: música e TCC literatura Técnicas da música contempoSeminário de rânea execução musical i Tecnologia musical

TCC

Essas propriedades se relacionam com as diretrizes curriculares propostas pelo Conselho Nacional da Educação (CNE) da Câmara Nacional da Educação Superior (CES) para cursos de graduação em música7, classificação em que os cursos de graduação em canto se enquadram. A Resolução CNE/CES n.º 2, de 8 de março de 2004, estabelece como grupos de conteúdo a serem seguidas por estes cursos:

7

Essas diretrizes são similares às diretrizes propostas para outras graduações brasileiras, claramente seguindo a tradição filosófica ocidental que, de acordo com Hans Ulrich Gumbrecht, “...o cogito cartesiano fez a ontologia da existência humana depender exclusivamente dos movimentos do pensamento humano.” (GUMBRECHT, 2013, p. 39). Apesar da indicação de que o currículo pleno da graduação em música deve abranger formas de realização da interdisciplinaridade, não há menção a habilidade para experimentação, nem de conteúdo ligado ao corpo 9

I - conteúdos Básicos: estudos relacionados com a Cultura e as Artes, envolvendo também as Ciências Humanas e Sociais, com ênfase em Antropologia e PsicoPedagogia; II - conteúdos Específicos: estudos que particularizam e dão consistência à área de Música, abrangendo os relacionados com o Conhecimento Instrumental, Composicional, Estético e de Regência; e III - conteúdos Teórico-Práticos: estudos que permitam a integração teoria/prática relacionada com o exercício da arte musical e do desempenho profissional, incluindo também Estágio Curricular Supervisionado, Prática de Ensino, Iniciação Científica e utilização de novas Tecnologias. (Conselho Nacional de Educação, 2004, p.2).

Os conteúdos indicados pelo CNE/CES se configuram como uma lista de propriedades a serem apreendidas pelos alunos dos cursos de graduação em canto. Ao mesmo tempo em que o CNE/CES pretende reconhecer a diversidade cultural brasileira,8 também propõe uniformização da formação superior e música no Brasil, indicando com rigor os grupos de conteúdos e como devem ser abordados para a obtenção de um arcabouço acadêmico imediatamente absorvível pelo exercício profissional. O CNE/CES indica inclusive qual seria o exercício profissional pretendido: educação, pesquisa e composição9. Cabe ressaltar que os grupos de conteúdo não são passíveis de variação. O inusitado da proposta do CNE/CES é a desvinculação dos três tipos de conteúdos da porção humano-corpórea do cantor que iria usufruir dos benefícios desta formação. Poderia ser argumentado que a indicação das propriedades se volta para a totalidade dos cursos de música e que esta opção afastaria a percepção desta especialidade corpórea do cantor. No entanto, à exceção dos cursos de composição, todas as habilidades possíveis de graduações em música, instrumento, aqui incluído o canto, e regência, são iminentemente corpóreos e, em grande medida, ainda exercidos diante de plateia. A iminência corpórea da atividade dos músicos, a relação obrigatória com o público e a relação possível entre os músicos quando em performance em todas as ocasiões diferentes de gravações não é cogitada nas diretrizes determinadas pela Resolução CNE/CES n.º 2/2004, que, ao contrário, prioriza o pensamento: Art. 3º O curso de graduação em Música deve ensejar, como perfil desejado do formando, capacitação para apropriação do pensamento reflexivo, da sensibilidade artística, da utilização de técnicas composicionais, do domínio dos conhecimentos relativos à manipulação composicional de meios acústicos, eletro-acústicos e de outros meios experimentais, e da sensibilidade estética através do conhecimento de estilos, repertórios, obras e outras criações musicais, revelando habilidades e aptidões indispensáveis à atuação profissional na sociedade, nas dimensões 8

De acordo com a teoria dos sistemas, cada sistema é aberto por premissa, ou seja, se modifica ao longo do tempo influenciado pelas condições a que estiver exposto. 9 A indicação de composição como exercício profissional pretendido pelo CNE/CES foi feita aqui em função do estabelecimento da obrigação de utilização de novas tecnologias, em música, tecnologia musical se é termo relacionado a música eletroacústica. 10

artísticas, culturais, sociais, científicas e tecnológicas, inerentes à área da Música. (Conselho Nacional de Educação, 2004, p.2).

Claramente as diretrizes curriculares propostas para os cursos de graduação em música ignoram a porção cênica da atuação dos músicos, que nem sempre tocam para realização de gravações. John Cage (1961) tratou dessa situação, sob outro ponto de vista, em seu livro Silence, quando afirmou “Elas [as obras mais recentes] são ocasião para experiência e esta experiência não é recebida apenas pelos ouvidos, mas pelos olhos também. Um ouvido sozinho não é um ser. Eu percebi ouvindo uma gravação.” 10 Nesta linha de pensamento, se uma apresentação musical oferece oportunidade de experiência além da audição para o intérprete e para o público, também oferece para o intérprete a necessidade de preparação em conteúdos que não são essencialmente musicais e nem essencialmente relacionados ao pensamento. Voltando o olhar para as diretrizes curriculares propostas pelo CNE11 para o curso de teatro, obtém-se informação que considera a necessidade de formação que revele competências e habilidades voltadas para o “domínio técnico e expressivo do corpo visando a interpretação teatral” (Conselho Nacional de Educação, 2003, p.6) e “domínio técnico construtivo na composição dos elementos visuais da cena teatral” (Conselho Nacional de Educação, 2003, p.6). Além disso, de acordo com o CNE, os conteúdos curriculares deste curso devem se relacionar com artes cênicas, música, cultura e literatura. Esta situação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação em música em contraposição

ao

de

teatro

reflete

a

dualidade

complementar

“produção

de

presença”/”produção de sentido” indicada por Gumbrecht (2013) como efeito da tangibilidade espacial advinda da comunicação que não parece ser objeto de discussão no CNE. De acordo com Gumbrecht: Ainda que possa defender-se que nenhum objeto do mundo pode estar, alguma vez, disponível de modo não mediado aos corpos e às mentes dos seres humanos, o conceito “coisas do mundo” inclui, nessa conotação uma referência ao desejo de imediatez [...] Se atribuirmos um sentido a alguma coisa presente, isto é, se formarmos uma ideia do que essa coisa pode ser em relação a nós mesmos, parece que atenuamos inevitavelmente o impacto dessa coisa sobre o nosso corpo e os nossos sentidos. [...] o que este livro defende é uma relação com as coisas do mundo que possa oscilar entre os efeitos da presença e efeitos de sentido. No 10

Versão da autora para “They are occasions for experience, and this experience is not only received by the ears but by the eyes too. An ear alone is not a being. I have noticed listening to a record.” (CAGE, s/d, 31). 11

O Parecer CNE/CES 0195/2003 trata dos cursos de graduação em música, dança, teatro e design. 11

entanto, só os efeitos de presença apelam aos sentidos.” (GUMBRECHT, 2013, p.13-5).

Os conteúdos curriculares indicados pelo CNE consideram a atribuição de sentidos e estimulam sua discussão indo além dos limites puramente musicais e artísticos, alcançando as ciências humanas. No entanto, a presença e seus efeitos sobre o corpo e seus sentidos foi ignorada. Ao se considerar que uma performance musical se relaciona com questões espaciais, que geram impacto nos corpos humanos dos performers e do público, que vão além do sentido, a presença se apresenta como elemento constitutivo fundamental da prática musical Sentido – texto

Presença - qualidade da performance que faz uso de Corpo do outro (público, outro intérprete)

Corpo do intérprete

MAS Seus efeitos apelam aos sentidos

No esquema acima, o texto12 foi indicado como passível de se relacionar tanto com o universo do sentido quanto com o da presença. Essa indicação foi proposital, posto que há elementos de sentido advindos de várias origens, inclusive, e exemplificando, do texto literário que também pode fazer parte da performance do cantor. Nesse contexto, o texto literário pode propor tanto elementos de sentido, quanto de presença, de acordo com Gadamer, citado por Gumbrecht: “Não cantamos o texto? Será que o processo pelo qual o poema fala só deve ser conduzido por uma intenção de sentido? Não existe ao mesmo tempo uma verdade na sua performance...?” (GUMBRECHT, 2013, p.89). O reducionismo proposto pelo CNE, que define a grade curricular por propriedades que relacionam cultura e artes com ciências humanas e sociais e conhecimentos específicos, 12

Além do proposto neste esquema, texto é toda informação que possa oferecer sentido aos intérpretes e ao público. Assim, texto pode ser texto literário, cenário, iluminação, vestuário, citações musicais, harmonia, encadeamentos harmônicos, gestos, tudo que possa ser entendido como oportunidade de sentido e por complementaridade, por conta da dimensão de tangibilidade da performance, de presença. 12

propondo integração com o universo profissional, já indicando obrigação pedagógica, provoca limitações de experiências de conhecimento e afasta o estudante do experimentalismo que poderia levar à modificação das próprias práticas artísticas. Como reflexo desta percepção pode-se constatar que, entre as treze instituições de ensino superior de canto pesquisadas há pequena oferta de disciplinas obrigatórias13 que tratam do universo do corpo humano, tanto em seu aspecto de presença, quanto de sentido: cinco oferecem disciplina expressão corporal (variações de nomenclatura foram consideradas: expressão corporal; expressão corporal para cantores; fundamentos das práticas corporais; e consciência corporal em performance musical) e sete instituições sequer mencionam fisiologia da voz. Induzindo ao entendimento de que, no Brasil, a expressividade do corpo e o conhecimento de seu funcionamento em detalhes não é objeto de estudo regular, mas resultado de talentos ou histórias pessoais, independente da grandiosidade do teor cênico/performático do trabalho do cantor e de sua essência corpórea. A situação descrita se configura como exemplo de “inteligência cega” termo adotado por Morin para indicar que especialização, neste caso, a formação acadêmica em canto, leva à

busca

pela

simplificação,

por

parte

do

regulador

(CNE/CES)

que

fixa

diretrizes/propriedades, que trazem em si o afastamento da visão global da realidade: uma lacuna na formação acadêmica dos cantores, que se configura justamente como o acirramento da indicação de importância do intelecto (sentido) em relação ao corpo (presença), seguindo a oposição cartesiana mente - corpo. Sem falar em direcionamento artístico que afasta a prática do cantor do experimentalismo/criatividade, aproximando-a da repetição/virtuosismo. Ou, no dizer de Plastino (1996), trata-se de um deslumbramento moderno com a possibilidade racionalista de revelar o mundo por meio da redução à simplicidade de leis constitutivas, ou máquinas matematicamente elaboradas, que exclui a complexidade do real. Real este que se aprofundaria na medida em que se acirrassem experiências, vivências e os desdobramentos de todos os cantares. No entanto, contrariando este reducionismo, a experiência artística que os cantores oferecem ao público é oportunidade de experimentação dos quatro elementos constitutivos da auto-imagem: movimento (do próprio corpo e dos corpos e objetos envolvidos na 13

Algumas instituições de ensino oferecem disciplinas eletivas ou optativas que se afastam do universo estritamente musical, sem se aproximar das ciências humanas e sociais, como: libras (FASM e UFRGS); e preparação para palco e performance (UFRN) 13

performance14); sensação (do próprio corpo e dos corpos do público), sentimento (do público em relação à obra de arte) e pensamento (dos intérpretes e do público).

14

Por performance entende-se aqui o momento único da realização da obra de arte, que conjuga tempo e espaço, interpretação e assistência. 14

Como se faz

Quem não se atira, é atirado antes Hermeto Pascoal

O conceito de música de câmara, independente da instrumentação, traz a ideia de performance em ambiente íntimo. Trata-se de um pressuposto espacial histórico que faz referência à sua realização em lugar alternativo aos usuais teatros e igrejas de alguns séculos atrás. Atualmente, esse tipo de música ocorre em teatros e igrejas, suas características mais fortes são o número limitado de intérpretes e a sofisticação da interpretação. Há várias possibilidades de instrumentação para recitais de música de câmara que incluam voz, no entanto, o mais comum ainda é a tradicional dupla canto e piano. A interpretação de qualquer instrumento musical requer conhecimentos técnicos que envolvem a relação do corpo com o instrumento e como essa relação influencia na sonoridade. Essa relação é construída diariamente, ao longo de anos, por meio da repetição de exercícios próprios. Existe uma série de regras que favorecem o desenvolver desta relação: postura ereta; posicionamento de braços, pulsos, mãos, dedos, lábios, pescoço; estar de pé ou sentado; posicionamento de pernas, pés; angulações, tensões e relaxamentos. Várias escolas de técnica determinando a melhor maneira de posicionamento de cada parte do corpo de forma muito sofisticada visando determinada sonoridade; agilidade; força; ou outra qualidade, de forma eficiente para diferentes estilos musicais. A performance de um corpo influenciado pelo encontro com um instrumento musical é interessante e expressiva pelos movimentos envolvidos durante o fazer musical. E o corpo do cantor na música de câmara? Não há como negar que a relação de um cantor com seu corpo expressivo difere da de um instrumentista, apesar de também estar sujeito aos limites impulsionadores técnicos próprios da música. Mas a questão da presença afeta o cantor de forma diferente do instrumentista. No palco, mesmo em recitais intimistas como é o caso da música de câmara, a demanda por interpretação do cantor é similar a de um ator. 15

O cantor precisa construir relação com o espaço e com o público que o assiste, que não se contentaria em observá-lo absorto em si, ou permitindo uma neutralidade funcional que previsse apenas movimentos estritamente relacionados com a respiração e com a emissão vocal. Afinal, mesmo a proposta de estar presente em um evento primordialmente relacionado com a audição, oferece ao público a oportunidade de experimentar a dualidade sentido-presença, não em oposição, mas em complemento, como sugerido por Cage (19--) quando afirmou que um ouvido sozinho não é um ser. No entanto, as pesquisas de Rudolf Laban sobre análise, pesquisa e notação de movimento, sua repercussão, possibilidades de utilização e benefícios são pouco discutidos pela comunidade musical, apesar de grande parte da sua atuação consistir em performances diante de público. A utilização do Sistema Laban na formação de cantores, tendo em vista a pesquisa de movimentos expressivos, se apresenta como alternativa à oposição mente-corpo / sentidopresença pela sua abrangência. De acordo com Ciane Fernandes (2006): As explorações propostas por Laban/Bartenieff nas categorias Corpo Expressividade – Forma – Espaço constituem uma estrutura que prepara e conecta o corpo, mente, as emoções para qualquer atividade, até mesmo para pegar um ônibus, ir a uma entrevista ou fazer uma pesquisa bibliográfica. (FERNADES, 2006, p.40-1).

Barbara Adrian (2008) vai além ao afirmar que as oportunidades que Laban teve de observar movimentos realizados durante rituais religiosos o levou a acreditar no potencial mágico do movimento e no espiritual como elemento extracorpóreo do movimento15. A produção da voz humana resulta dos movimentos inerentes à respiração, que apesar de involuntários, acontecem enquanto o corpo estiver vivo. De acordo com Adrian, Em alguns níveis, este processo é apenas funcional, o que significa que a “mecânica” da respiração, fala e movimento deve refletir uma relação harmoniosa entre os músculos responsáveis pela ação. Você não vai atingir o seu potencial criativo a não ser que as suas habilidades funcionais suportem os seus impulsos expressivos. No entanto, o caminho oposto também é possível. Enquanto você experimenta os poderes expressivos do som e do movimento, você vai desenvolver esta funcionalidade16. (ADRIAN, 2008, p.23). 15

“Sensitizing the body to be receptive to inner and outer forces of energy, which Laban believed could lead to psychic experiences, was prevalent throughout his work. But also present was an effort to balance the practical with the spiritual”. (ADRIAN, 2008, p.4). 16 Versão da autora para “To some degree, this process is purely functional, meaning that the mechanics of breathing, speaking, and moving must reflect a harmonious relationship among the muscles responsible for the task. You will not realize your creative potential unless your functional skills can support your expressive impulses. However, the reverse is also true. As you explore the expressive powers of sound and movement, you will also be improving your functionality”. (ADRIAN, 2008, p.23). 16

Stanley Keleman (1992) afirma que o corpo todo se envolve na respiração e, em concordância com Adrian, apesar de não se referir à criatividade ou expressividade, sustenta, citando atividades esportivas, que “...todos os exercícios são úteis, pois aumentam a sensibilidade geral e nos preparam para outras atividades.” (KELEMAN, 1992, p.63). Adrian lembra que, apesar da utilização eficiente dos músculos durante a respiração ser uma questão funcional, existe uma interdependência entre funcionalidade e expressividade, o que faz com que conhecimentos de anatomia sejam interessantes no treinamento para atuação. É possível abordar a respiração a partir de vários pontos de vista, mas não é possível se abster de entendê-la como um sistema que se relaciona com troca de gases no sangue (conectando o corpo com que lhe é exterior: o ar); ou ignorar a atividade do diafragma torácico/abdominal; e a solidariedade (ou conexão) entre este e outros músculos, tendões, nervos, órgãos e ossos, englobando a totalidade do corpo. Keleman, quando discorre sobre respiração, fala sobre cinco diafragmas: 1. Cerebral (camadas do crânio, duramáter e ossos), que “...estende-se pelo forame magno até o sacro, pelo revestimento crural da medula.”17 (KELEMAN, 1992, p.45); 2. O segundo, ainda no crânio (membrana de duramáter, expansão do tronco cerebral, revestimento da medula espinha e músculos occipitais) regulando a pressão interna da cabeça; 3. Assoalho do cérebro (língua, palato, céu da boca, músculos naso-faringeanos, glote, ossos hióide, esterno-hióide e omo-hióide e músculos da clavícula) que regula pressão na traqueia e ajuda na manutenção da postura ereta; 4. Diafragma torácico/abdominal que separa o tórax do abdômen; e 5. Diafragma abdominal/pélvico (teto do diafragma, coluna lombar, ligamento, psoas, ilíaco e assoalho pélvico) que opõe força descendente da pressão interabdominal que ocorre com a inspiração).

17

Keleman constrói sua aproximação do corpo humano abordando sua formação por tubos que se relacionam, a medula é indicada aqui por sua característica de tubo. 17

Figura 1: Posicionamento dos cinco diafragmas (Keleman, 1992, p.59).

Peggy Hackney (2002), quando trata de respiração, propõe outra aproximação, fortalecendo a ideia de conexão entre as partes alta e baixa do corpo, para evitar o entendimento de respiração atrelada apenas aos pulmões. De acordo com Hackney, a entrada do ar nos pulmões só é possível devido à atividade muscular integrada da parte baixa do tronco: o diafragma, músculo que por seu formato de abóboda e sua posição (abaixo dos pulmões e do coração, ao mesmo tempo acima da cavidade abdominal), divide o tronco; e o psoas, que conecta as pernas às costelas (funcionando como flexor do fêmur, elemento importante na manutenção da postura ereta e integrante do assoalho pélvico) entremeado ao diafragma. Estes dois músculos integrados funcionam como central core18.

18

Central Core é um conceito fundamental no Sistema Laban, este termo foi traduzido como Centro do Corpo por Lenira Rengel (2001) em “Dicionário Laban”. No sistema Laban, toda a conceituação espacial parte do Centro do Corpo, de acordo com Rengel, “A região do umbigo forma o centro de dois outros centros, também muito experienciados no método Laban: cintura pélvica e cintura escapular.” (RENGEL, 2001, p.36). Rengel se refere a essas duas cinturas como centro de gravidade e centro de leveza, Hackney fala em parte alta e parte baixa do corpo, aprofundando o assunto tratando das relações musculares. Lisa Billingham (2009) quando fala da importância da realização do movimento a partir do centro informa didaticamente que “...neurologicamente, as pessoas se movem a partir do centro em direção às extremidades do corpo. Existem seis extremidades: dois braços, duas pernas e duas terminações da coluna vertebral (cabeça e cauda). A ênfase neste padrão visa assegurar que todas as seis extremidades se movimentem em direção e partindo do centro”. Versão da autora para “...neurologically, humans move from their core to their distal edges. There are six distal edges: two arms, two legs, and the two ends of the spine (head and tail). The emphasis in this pattern is to be sure that all six limbs can move in toward and out of the core”. (BILLINGHAM, 2009, p.15). 18

Ainda mais interessante é o fato das fibras musculares desta abóboda irradiarem do seu ápice para se ligar às cartilagens costais, nas costelas flutuantes, no arco costal e mais para baixo ainda, na terceira e quarta vértebras lombares. Ou seja, o diafragma se conecta com a pelve. Neste processo, suas fibras se cruzam, como dedos, com as fibras do músculo psoas e outros músculos que formam a parede muscular interna do abdômen, como o quadrado lombar. Como o psoas maior conecta o trocanter menor do fêmur com a vértebra lombar atravessando todo o caminho até a 12ª vértebra torácica (na altura da última costela), ele não é apenas um músculo da parte baixa do tronco, mas também é (a exemplo do diafragma) um músculo do central core. O psoas é a ligação das pernas com a espinha e pode formar uma "cadeia cinética" com o diafragma para integrar as atividades das partes alta e baixa do corpo através da respiração. (HACKNEY, 2002, p.62-3)19.

Figura 2: Relação entre os músculos diafragma e psoas (HACKNEY, 2002, p.63).

Dennis Lewis (1997), quando discorre sobre a influência negativa do sistema nervoso simpático, em função do estresse e emoções negativas, sobre o diafragma (e por consequência sobre a respiração), faz questão de mencionar que a motilidade do diafragma “...é também adversamente influenciada pela tensão supérflua a que submetemos músculos, tendões e ligamentos, bem como pela configuração pouco favorável da estrutura do esqueleto” (LEWIS, 1997, p.39). Ressaltando que “...o diafragma sofre a influência da saúde e da motilidade da coluna, da pélvis e dos músculos a elas ligados, os quais, por sua 19

Tradução da autora para “Even more interesting is the fact that the muscle fibers of this dome radiate out from its apex to attach to the costal cartilages, the lower ribs (11 and 12), the costal arch, and even as far down as the 3rd and 4th lumbar vertebrae (by means of the crura). Thus, the diaphragm connects far down into the pelvic basin. in this process, its fibers interdigitate, like fingers crossing through one another, with fibers of the psoas muscle and other muscles which form the internal muscular wall of the abdomen such as the quadratus lumborum. Since the psoas major connects the lesser trochanter of the femur with the lumbar vertebrae traveling all the way up to the 12th thoracic vertebrae (level of the lowest rib), it is also not simply a "lower body" muscle, but is also (like the diaphragm) a muscle of the "central core". The psoas is a link from the legs to the spine and can form a 'kinetic chain" with the diaphragm to integrate upper and lower body activity through the breath”. (HACKNEY, 2002, p.62-3). 19

vez, sofrem a influência não só de nossa postura comum como também de nossas atitudes e emoções”. (LEWIS, 1997, p.40). Voltando à primeira indicação de Keleman, que faz referência ao fato do diafragma cerebral se estender pela medula até o sacro, as tentativas de controle voluntário da respiração (que é um sistema involuntário, ou semi voluntário) e seus reflexos de hiper ou hipoventilação influenciando cérebro, coração e intestinos; ou ainda de estados de consciência alterados (como na meditação ou em alguns rituais religiosos) confirmam a ideia de corpo todo envolvido com a respiração.

Sugerem também a ideia da respiração

funcionando como conexão do corpo com o universo fortalecendo a proposta de olhar holístico20 sobre o corpo.

Figura 3: Influência da respiração no corpo segundo a visão constitutiva por tubos de Keleman (KELEMAN, 1992, p.61).

Ou seja, no dizer de Keleman: “Para nos controlarmos, precisamos controlar nossa respiração. Os três centros cerebrais - o cortical-voluntário, o talâmico-emocional e o tronco cerebralcerebelo - correspondem a regulagem da respiração. Sem respiração, não há oxigenação. Sem oxigenação, não há calor. sem calor não há vida. Sem vida, não há força. Sem força, não há espírito. É por isso que o coração, o cérebro e a respiração estão tão intimamente ligados". (KELEMAN, 1992, p.62).

Quando se fala em canto, a respiração, apesar da sua grandiosidade, passa a ser vista como parte de um sistema que permite a emissão vocal, ou seja, “a expiração se torna

20

Holismo aparece aqui como entendimento do ser humano em sua totalidade, abarcando o corpo em sua totalidade, percebendo seus detalhes e articulações entre eles, evitando fragmentações: “Procura juntar para conhecer. Enfatiza o físico, mas intimamente inter-relacionado com a mente, a consciência, o espírito e com as energias do universo”. (TEIXEIRA, s/d, p.5). 20

sinônimo de fonação” (MARIZ, 2013, p.48). Em muitas aulas de canto, a referência que se faz à respiração é literalmente de apoio. Joana Mariz (2013) explica esta situação com clareza, quando discorre sobre o modelo fonte-filtro desenvolvido por James Flanagan: “a respiração desempenha o papel de geradora de energia para o sistema formado entre a fonte, isto é, a fonação, e o filtro, isto é, a articulação”. (MARIZ, 2013, p.42). Como toda esquematização, esta simplificação afasta o estudo do canto da possibilidade não só de construção da auto-imagem defendida por Feldenkrais, como da pesquisa entre as relações que se constroem no próprio corpo.

Figura 4: Extensões da respiração (KELEMAN, 1992, p.61).

Este texto não pretende tratar de técnica vocal para o canto, mas do corpo expressivo durante o canto como dimensão de presença em performances musicais e de como os estudos de Rudolf Laban podem ser utilizados por cantores de música de câmara21 com intuito de aprimorar suas performances na direção da oposição complementar sentido / presença. As teorias desenvolvidas por Laban agregam elementos de sentido e presença, seu sistema pode ser aplicado no treinamento de cantores para o palco da mesma forma como

21

Apenas por se tratar do foco desta pesquisa, certamente cantores que se dediquem a outras especialidades podem fazer uso das teorias de Laban, com esta aproximação, ou com outras, obtendo bons resultados. 21

vem sendo aplicado em outras áreas de conhecimento que reconhecem a importância do movimento e de sua análise. Este texto traz o resultado da pesquisa de movimento que envolveu apenas dois aspectos da proposta de Laban: a análise simplificada do movimento (aplicada às performances de duas canções brasileiras contemporâneas de câmara); e a pesquisa de movimento (para outras duas)22. A aproximação pretendida pela utilização destes dois aspectos foi a de complementaridade, para verificar o tipo de influência dos aspectos de produção de sentido na produção de presença. Labanálise [LMA]: Expressividade/Forma é um método sistemático de observação, registro e análise dos aspectos qualitativos do movimento corporal. A qualidade do movimento pode ser pensada em termos de “como” um movimento é realizado. Responde a questões do tipo: Como Jane saiu da cadeira? Ela foi rápida e forte em sua qualidade de movimento? Talvez ela tenha se jogado para fora da cadeira com uma qualidade pesada? Veio de um impulso central ou com contratensões espaciais nos membros? (...) O movimento começou no torso que é a área central do corpo? O movimento começou nas mãos que é uma área periférica do corpo? (COHEN, 1978 apud FERNANDES, 2006, p.35).

A principal característica da LMA é a possibilidade de registro das qualidades do movimento em diferentes níveis de aprofundamento.

Análise da canção “Amor em lágrimas” “Amor em lágrimas” é a segunda canção do ciclo de câmara “Três Canções Populares” de Cláudio Santoro (1919 – 1989) para voz média e piano.23 Com poesia de Vinícius de Moraes (1913 – 1980), esta canção foi composta em 1957, em Leningrado e editada por Edition Savart. De acordo com José Hue (2001), Cláudio Santoro e Vinícius de Moraes se encontraram em Paris em 1957/8, ocasião em que lá viviam e estavam apaixonados (Santoro por Lia, a quem dedicou algumas canções, e Moraes por Lucinha Proença, a quem dedicou o poema “Para viver um grande amor”). Santoro forneceu a Moraes uma procuração, por meio da qual autorizava Moraes a tratar de seus interesses junto à editora Ricordi de São Paulo relacionados a quatro canções, entre elas “Amor em lágrimas”, que na ocasião apresentava apenas linha melódica com indicação de acompanhamento. Ou seja, a melodia desta canção foi composta sem preocupação com as palavras que viriam a fazer parte dela. Outra qualidade importante deste processo composicional é a sua 22 23

No próximo capítulo: “Respirando e ouvindo”. A primeira versão da música foi para voz e violão. 22

aproximação do universo popular, não só pela estética “sofisticação coloquial” indicada por Wladimir Mattos (2006), como pela parceria experimentada por Santoro e Moraes naquela ocasião24. Ainda de acordo com Mattos, “Amor em lágrimas” e outras canções foram gravadas com voz acompanhada por violão “...à maneira popular, com maior liberdade interpretativa (…) com resolução improvisada” (MATTOS, 2006, p.86), o resultado, no entanto, não foi divulgado por não ter agradado os autores. Sobre o Texto Ouve o mar que soluça na solidão Ouve, Amor, o mar que soluça Na mais triste solidão. E ouve, Amor, os ventos que voltam Dos espaços que ninguém sabe Sobre as ondas se debruçam E soluçam de paixão. E ouve, amor, no fundo da noite, Como as árvores ao vento Num lamento se debruçam E soluçam para o chão. Deixa, Amor, que um corpo sedento, Como as árvores e o vento, No teu corpo se debruce E soluce de paixão.

A poesia de Vinícius de Moraes faz uso de elementos da natureza para definir o ambiente de sofreguidão e desejo relacionado à paixão amorosa e para sugerir/propor o ato sexual, pela repetição dos termos que indicam movimento (debruçar) e som (soluçar). O texto se organiza em quatro estrofes todas terminadas com -ão-. Sobre a música25

24

Entre 1957 e 1960, Claudio Santoro e Vinícius de Moraes experimentaram parceria em três ciclos de canções: “Canções de amor, série 1”, “Três canções populares” e “Canções de amor, série 2”. A prática de parceria não é usual entre compositores de música erudita. 25 Foi possível localizar duas dissertações que incluíram a análise musical de “Amor em lágrimas” em seus trabalhos: “Processos de criação musical”, defendida por Michelle Botelho da Silva Salgado (2010); e “Análise rítmico-prosódica como ferramenta para a performance da canção: um estudo sobre as canções de Claudio Santoro e Vinícius de Moraes”, defendida por Wladimir Contesini de Mattos (2006), ambas na UNESP. 23

A canção é composta por 48 compassos divididos em ritmo quaternário, com indicação andante para o andamento em que a semínima é a unidade de tempo, a tonalidade é si menor com modulação para si bemol menor. A partitura se limita a indicações musicais, oferecendo liberdade de interpretação aos intérpretes, por se abster de indicações de expressividade (intensidade, fraseado para a voz, rubattos, acentuações), se limitando a um molto rallentando final e ao fraseado do piano.26 A organização da relação voz e piano transcorre sem novidade que vá além das já mencionadas: o piano faz na introdução (quatro primeiros compassos) a apresentação do tema a ser desenvolvido pela voz a partir do quinto compasso. Ao fim da terceira estrofe da poesia, há um interlúdio só para o piano no tom de si bemol menor. Quando a voz retorna, a tonalidade volta para si menor. A parte do piano se caracteriza por acordes arpejados na mão esquerda e ligeiro reforço da melodia realizada pela voz com terceiras batidas na mão direita. Ao final da canção, há uma coda para o piano, de textura diferente do que foi apresentado anteriormente.

Após a respiração indicada pela vírgula, a movimentação

diminui alterando a textura, este recurso antecipa a intenção do molto rallentando e diminuendo finais. Seções

Compassos

Estrofe

Instrumentação

Introdução

1a4

-

piano

A (antecedente)

5 ao 12.3

1a.

voz e piano

A' (consequente)

12.4 ao 20.3

2a.

voz e piano

A'

20.4 ao 28

3a.

voz e piano

Interlúdio

29 ao 36.3

-

piano

A'

36.4 ao 44.3

4a.

voz e piano

Coda

44.4 ao 48

-

piano

Na organização das frases musicais, a palavra “ouve” que inicia as três primeiras estrofes da poesia, surge em duas propostas rítmicas diferentes: 1. No início da parte da voz, em ritmo tético, afirmativo e, além disso, firmando a

tonalidade menor pela escolha da 3ª da escala (esta e a única utilização de início tético nas frases para voz); e 2. No início da segunda frase da primeira estrofe e no início das segunda e terceira

estrofes da poesia, a opção foi por início anacrústico acompanhado pela adoção da 26

Também não oferece qualquer orientação de movimentação expressiva para os intérpretes. 24

conjunção -e- em elisão ao verbo: “e ouve”, conduzindo, em elisão, à outra palavra, “amor”. Sobre a performance A

performance

analisada

neste

trabalho

está

disponível

em

. Há informação de que foi postada pela própria intérprete27 da obra no video, a cantora Malu Mestrinho, ao piano, Marcus Medeiros, e que a performance ocorreu em novembro de 2009 no Teatro Glauce Rocha, em Campo Grande (MS). Trata-se, portanto, de versão reconhecida e divulgada pela própria cantora. Malu Mestrinho é meio soprano, professora de canto da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com atuação tanto em ópera quanto em música de câmara (na ocasião da realização desta gravação, Malu Mestrinho e Marcus Medeiros eram professores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)). A gravação dura 2 minutos e 41 segundos, a câmera de vídeo foi posicionada a direita do palco, provavelmente italiano, sendo visíveis: as costas e as mãos do pianista, o teclado e a partitura na estante do piano de quarto de cauda. Não é possível ver o público, as costas do pianista que se veste de preto e o piano da mesma cor se confundem com o pano de fundo e as laterais do palco. A cantora usa vestido de alças, em tom terroso, longo, esconde seus pés. Não há qualquer comunicação verbal com o público, que permanece em absoluto silêncio durante toda a performance28. A iluminação única com foco nos intérpretes. Análise inspirada na “Folha codificada simplificada para LMA”29 A “Folha codificada simplificada para LMA” divulgada por Ciane Fernandes parte da impressão geral proporcionada pela situação observada para o observador, permitindo

Em 1/4/2013. Provavelmente todo o ciclo foi interpretado na ocasião, pois não há som de palmas. É habitual que as palmas aconteçam apenas ao final da interpretação de ciclos. 29 Modelo divulgado por Ciane Fernandes (2006). 25 27 28

aprofundamento na qualidade que mais lhe chamar atenção dentro da relação entre as categorias Corpo30-Expressividade31-Forma32-Espaço33. A divisão desta proposta de análise em categorias, a exemplo da fragmentação do conceito de auto-imagem em quatro elementos proposto por Feldenkrais, é uma oportunidade de detalhamento de natureza metodológica com propósito de alcançar o todo, “...as quatro categorias estão sempre presentes em todo movimento, porém com diferentes graus de importância ou destaque.” (FERNANDES, 2006, p.36). Os nomes das categorias do Sistema Laban são sempre escritos com letras maiúsculas para favorecer sua identificação e diferenciação, quando da utilização da mesma nomenclatura, porém relacionada a outros conceitos. A observação desta performance foi realizada exclusivamente por meio de vídeo divulgado pela internet e a sua análise foi iniciada em 10 de janeiro de 2015. Em se tratando de obra composta originariamente como de câmara, os intérpretes, tradicionalmente, devem restringir sua movimentação, a não ser que haja indicação contrária na partitura. Em se tratando de obra para voz e piano, é de praxe que o cantor se posicione próximo à curva da cauda do piano. A cantora segue a tradição e se posiciona, sem realizar deslocamentos, na curva da cauda do piano, esta opção faz com que seu corpo e seus movimentos tendam mais para a

30

A categoria Corpo indica “o que” se movimenta partindo, dentre outros conceitos, dos pressupostos desenvolvidos por Irmgard Bartenieff, sem se restringir a eles:  “Respiração e as Correntes de Movimento  O Suporte Muscular Interno  A Dinâmica Postural  As Organizações Corporais e os Padrões Neurológicos Básicos (PNB)  As Conexões Ósseas  A Transferência de Peso para a Locomoção  A Iniciação e o Sequenciamento de Movimentos  A Rotação Gradual  A Expressividade para a Conexão Corporal  A Intenção Espacial” (FERNANDES, 2006, p.52). 31 A categoria Expressividade trata da maneira “como” o movimento é realizado. “A categoria Expressividade refere-se à teoria e prática desenvolvidas por Laban, onde qualidades dinâmicas expressam a atitude interna do indivíduo com relação a quatro fatores (dispostos na ordem de seu desenvolvimento na infância):  fluxo  espaço  peso  tempo [...] Estas qualidades dinâmicas oscilam entre duas polaridades de cada fator...” (FERNANDES, 2006, p.120). 32 A categoria Forma se relaciona com “com quem” se movimenta. “...refere-se a mudanças no volume do corpo em movimento, em relação a si mesmo ou a outros corpos”. (FERNANDES, 2006, p.159). 33 A categoria Espaço faz referência a “onde” o movimento é realizado e envolve os conceitos de harmonia espacial, cinesfera, alcance do movimento, padrão axial, formas cristalinas, percurso espacial e tensão espacial. 26

direita34, onde o pianista se posiciona. A câmera de vídeo que registrou esta performance foi posicionada à direita do palco, parece razoável imaginar que não se trate de coincidência, mas de pretensão de registrar a movimentação das mãos do pianista sobre o teclado. É provável que a cantora seja canhota, pois, na primeira parte da música, ela realiza mais movimentos com o braço esquerdo do que com o direito35. Em se tratando das relações estabelecidas pelo corpo da intérprete, no âmbito da categoria Corpo, ele se constrói ereto, neutro, com solidez própria de enraizamento em relação ao chão. Os gestos se configuram como movimentos para cima e retorno a posição inicial realizados com braços e cabeça. O corpo se volta ligeiramente para a direita e retorna e para o centro, há também ligeiro avanço. Esta performance foi realizada em um teatro, a gravação, que não foi editada, foi realizada com apenas uma câmera, e corresponde à situação exata de um recital, ocasião em que cantores interpretam canções ao vivo para o público que, neste caso, imagina-se que esteja sentado na plateia em frente ao palco. Ou seja, esta gravação exerce função de registro de performance. Neste caso, a cantora se dirige ao público, traz decorada a sua parte, oferece visão total de seu corpo à plateia36, o que influencia diretamente o fator espaço da categoria Expressividade: a cantora se coloca em situação de multifoco, oferecendo sua atenção ao pianista, ao som, ao ambiente, inclusive à câmera que realiza a gravação e ao público presente. Seu corpo inteiro se compromete com a proposta multifoco, apesar da tendência para a direita37. O fator fluxo permanece controlado durante toda a interpretação da canção, não há deslocamento no espaço, devido à opção por seguir a tradição de posicionamento na curva do piano, os movimentos que se configuram como gestos são contidos, nenhuma tensão

34

Essa tendência para a direita pode se relacionar também à busca por comunicação com o pianista. Antes do início da música, a cantora se posiciona com o corpo inteiro voltado para a direção do pianista, a posição frontal em relação ao público só é alcançada durante a introdução interpretada pelo piano. 35 Alguns cantores tem o hábito de estudar direcionando o som da voz com movimentos do braço dominante. 36 Em muitas performances, cantores optam por cantar deixando a partitura disponível para consultas eventuais durante a performance, ou até mesmo cantam lendo sua parte. Nestas ocasiões fazem uso de estantes para partituras, que podem ser colocadas diretamente à frente do cantor, ou em diagonal. Nas duas situações, o cantor ocupa o seu olhar com a leitura, mesmo que eventualmente, e afasta possibilidade de aprofundamento do contato visual com o público. 37 Antes do início da música, quando a cantora se volta diretamente para o pianista, é possível observar um breve momento de foco direto, no entendimento tácito entre os dois para iniciar a performance. 27

pode ser percebida, mas as restrições da música e até da opção pelo multifoco influenciam na percepção do fluxo contido. Em se tratando do fator peso, o que se observa é o enraizamento delicado, o tronco forte e ativo, e, braços ativos e leves, seguindo a influência sonora da música. No que se refere ao fator tempo, a constância é a tônica, é inegável a influência do som sobre este fator e a canção segue do início ao fim sem alterações de andamento que pudessem sugerir situação diferente de tempo constante.

No entanto, na ocasião de

interpretação da última estrofe da música: “Deixa, Amor, que um corpo sedento, como as árvores e o vento”, uma urgência na voz e no corpo da cantora pode ser percebida. Parece que esta urgência foi influenciada pelo texto, pois se inicia em uma palavra que indica necessidade fisiológica extrema: “sedento” e termina logo a seguir em “árvore”. Esta urgência pode ser percebida como aceleração momentânea, pois já na próxima palavra (“vento”), a cantora retorna ao tempo anterior. É mais difícil falar sobre a categoria Forma nesta performance. No entanto, se considerarmos a relação espacial criada pelo posicionamento do conjunto piano/pianista38 e cantora, pode-se falar em Forma Básica (tridimensional) trazendo Pirâmide, cujo vértice seria reforçado pela altura da cantora. Sua tridimensionalidade é reforçada pela movimentação ascendente/descendente de braços e cabeça; pequenos avanços e recuos do tronco da cantora; e fechando/espalhando na movimentação dos braços do pianista. No que se refere à categoria Espaço, considerando exclusivamente a cantora, há que se pensar no conceito de Formas Cristalinas desenvolvido por Laban a partir da ideia de desenho do movimento, pela justaposição de dois elementos imateriais (o tempo e o movimento) na materialidade dos poliedros. Considerando as características da atuação da cantora (a opção pela frontalidade, manutenção da postura ereta, o multifoco e o não deslocamento no espaço) seus gestos trabalham dentro das possibilidades oferecidas pelas dimensões Vertical e Sagital, dentro da da Forma Cristalina do Octaedro. É interessante observar que o enraizamento do corpo e o tronco forte, ativo da cantora não são percebidos como opostos à fluidez do som advindo deste corpo, ao contrário, essas características favorecem o fraseado e a estabilidade da voz.

Sobre a confrontação entre sentido e movimento

38

A base da pirâmide se construiria no espaço ocupado por piano, pianista e cantora. 28

Não houve gestos descritivos das situações indicadas pelo texto. O que se pode perceber, no entanto, é uma relação entre a emissão vocal e a movimentação dos braços. A cantora movimenta os braços durante todo o seu cantar, com exceção do momento em que, no início de sua performance, apresenta o tema (compassos 5 a 8). Os gestos realizados e a própria música fluem leves e precisos, quase sem alterações de andamento. Análise da canção “Desafio” A canção “Desafio” foi composta por Edino Krieger durante a década de 1950 a partir de poema de Manuel Bandeira datado de 1938. O título da música, que repete o título do poema, remete a uma tradição folclórica brasileira, que se caracteriza pela improvisação acompanhada por instrumentos musicais.

Sobre o Texto Não sou barqueiro de vela, Mas sou um bom remador: No lago de São Lourenço Dei prova do meu valor! Remando contra a corrente, Ligeiro como a favor, Contra a neblina enganosa, Contra o vento zumbidor! Sou nortista destemido, Não gaúcho roncador: No lago de São Lourenço Dei prova do meu valor! Uma só coisa faltava No meu barco remador: Ver assentado na popa O vulto do meu amor... Mas isso era bom demais - Sorriso claro dos anjos, Graça de Nosso Senhor!

Manuel Bandeira, autor desta poesia, foi um dos poetas brasileiros mais importantes do século XX, suas poesias foram musicadas por diversos compositores. E, este poeta, assim como o já citado Vinícius de Moraes, teve oportunidade de oferecer palavras a 29

melodia composta previamente em algumas ocasiões. De acordo com Luciano Marcos Dias Cavalcanti (2009), Manuel Bandeira estudou música, se dedicando ao piano e violão: Esta aproximação com a música pode ser vista também como um meio de aproximação da tradição popular. A música, para o Bandeira, é um objeto usado para construção de seus poemas, para isso o poeta fez uso de técnicas musicais na estrutura dos poemas, buscando efeitos semelhantes aos da música. Unindo, assim, as duas artes irmãs. (CAVALCANTI, 2009, p.37).

O texto da poesia remete a uma fase da vida do poeta, quando portador de tuberculose, frequentou estações de cura, neste caso em São Lourenço e se dedicava às atividades prescritas pelos médicos. A poesia se organiza em cinco estrofes, as quatro primeiras com quatro versos e a última com três. Sobre a performance A

performance

analisada

desta

canção

está

disponível

em

. Trata-se de vídeo editado com os intérpretes se apresentando fora do formato de recital. O vídeo foi postado pelo violonista, divulgando seu trabalho no Duo Cancionâncias. O Duo Cancionâncias iniciou a sua trajetória em 2007, com proposta de interpretar músicas brasileiras e latino-americanas. Seus integrantes são Manuelai Camargo, soprano dramático, e Cyro Delvisio, violão. A gravação dura 2 minutos e 46 segundos e alterna vários planos, inclusive com movimentação de câmera, a locação é a frente do prédio da Academia Brasileira de Letras (ABL) no Rio de Janeiro, onde se localiza, desde 2007, a estátua de Manuel Bandeira. A cantora veste blusa sem mangas na cor creme e saia longa verde, não é possível ver os seus pés; o violonista usa camisa de botão de manga longa, cuja padronagem permite entender o cinza como cor principal, calça social preta e sapatos da mesma cor, seus pés só são vistos enquanto caminha no início do vídeo. Não há indicação de público para esta performance, mas é possível ver transeuntes que não se interessam em acompanhar as atividades dos artistas.

30

Análise inspirada na “Folha codificada simplificada para LMA” Diferente da gravação de “Amor em lágrimas”, a gravação de “Desafio” não é registro de recital, mas um videoclipe39. Este formato pressupõe edição de imagens e de som, alternância de planos de gravação, o que indica a realização de roteirização e planejamento que implica em elementos que estão além de questões relacionadas exclusivamente à performance dos intérpretes. Não há indicação de direção, direção de movimento, ou similar. Estão indicados nos créditos do vídeo: Duo Cancionâncias, composto por Cyro Delvizio (violão) e Manuelai Camargo (voz); e Andrés Patiño Casasfranco (gravação, edição e mixagem de áudio) e Laura Patiño Casasfranco (gravação, montagem e edição de vídeo). A característica que primeiro chama a atenção nesta proposta do Duo Cancionâncias é o nome do projeto que justifica a realização do videoclipe: “Música nas estátuas”. Este nome, a princípio, serviria como justificativa para a escolha da canção – a existência de estátua do autor da poesia da música em logradouro público, - traz uma oportunidade extra de sentido/presença para a apreciação da performance40: a oposição complementar traduzida pela imobilidade da estátua e o som e seu movimento. Não só o movimento que provoca a produção do som, como também o movimento que o som inspira nos corpos dos intérpretes, sendo percebido com mais facilidade no corpo da cantora do que no do violonista41. A análise do videoclipe foi iniciada em 22 de janeiro de 2015 e seu objeto é a movimentação da cantora Manuelai Camargo, é preciso salientar que há diferenças em sua movimentação entre os momentos em que ela canta ou permanece em pausa e, que esta análise observa o seu corpo ao cantar. Considerando a categoria Corpo, há que se falar em corpo forte e cotidiano, como é cotidiano o andar das pessoas que se deslocam pelas calçadas do entorno do local onde está localizada a estátua de Manuel Bandeira. Há poucas oportunidades de observação do corpo inteiro da cantora, no entanto, pode-se afirmar que sua ênfase expressiva acontece na cintura escapular e no seu rosto.

39

De acordo com o Dicionário Michaelis, videoclipe é “Vídeo para apresentação de música, com imagens visualmente interessantes, embora frequentemente não se relacionem diretamente à execução da música em si”. (http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=videoclipe). 40 E justifica a opção pela realização de um videoclipe. 41 Por se tratar de vídeo editado, nem sempre é possível observar os corpos dos intérpretes. Há diferença de atitude entre os dois, uma proposta de urgência no corpo da cantora, que não repercute no corpo do violonista. 31

A cantora traz sua parte decorada, no entanto, certamente, por conta da opção pelo videoclipe, a voz que se ouve neste vídeo foi gravada em ocasião diversa da de captação da imagem. Considerando a categoria Expressividade no que se relaciona ao fator fluxo, há que se falar em contenção, esta contenção se opõe à urgência perceptível em seu corpo quando se considera o fator tempo, que se traduz por um balanço na cintura escapular (a gravação não permite visão de todo o corpo da intérprete quando ela canta), atingindo, em seu ápice, os ombros. Este balanço parece se relacionar com a alternância entre a grande quantidade de sílabas pronunciadas em divisões de tempo e a inspiração da cantora nas estrofes “quem nadou contra corrente...” e “no Largo de São Lourenço dei prova de meu amor, uma coisa só faltava...”. Uma vez que a urgência se extingue durante a nota longa emitida (-mor- em amor). Com relação ao fator espaço, há alternância entre o foco direto e ausência de foco, sendo especialmente interessante o ‘olhar para dentro’ propondo ausência daquele espaço por sugestão de reflexão ou imaginação, em oposição ao olhar direcionado ao violonista. Cabe ressaltar que o 'olhar para dentro' ocorre em momento de desaceleração. Já o fator peso se traduz por ser ativo e forte de uma forma refinada que permite que a aceleração (urgência) se traduza em um balanço. É importante frisar que esse refinamento permite que a força seja mais visível, se traduzindo claramente por movimento costal superior do tronco relacionado à inspiração na estrofe do "gaúcho roncador". O corpo da cantora adota Forma Fluida, relacionada com os ajustes de seu próprio corpo. Em se tratando da categoria Espaço, a despeito da oportunidade de expansão oferecida pelo espaço da rua, o alcance do movimento é restrito a uma cinesfera42 pequena, própria da música de câmara e ao mesmo tempo da oportunidade de registro oferecida pelo uso da câmera de vídeo.

Impressão geral

Oposições complementares: a estátua em sua imobilidade eternamente sem vida e o movimento do som trazendo movimento aos corpos dos intérpretes. Sentido e presença 42

Cinesfera é o termo utilizado para designar o espaço que circunda o corpo e que é utilizado durante o movimento, sendo entendida como pessoal, seu centro se confunde com o Centro do Corpo. 32

representados, o primeiro pelo peso da referência literária e o segundo pela irreverência de cantar a referência diante dela mesma.

Sobre a confrontação entre sentido e movimento Não houve gestos descritivos das situações indicadas pelo texto. Como se trata de performance roteirizada, há movimento durante toda a gravação, apreendido em detalhes pela câmera. É interessante notar, no entanto, que os músicos interagem além de questões musicais (entradas ou cortes de som) pelo olhar e que o som do violão sugere um balanço que se reflete no movimento do corpo da cantora, mas não parece refletir no corpo do violonista.

Considerações sobre o que significa ser forte e leve para um cantor

À primeira vista, observar que os corpos das cantoras durante suas performances são fortes e oferecem oportunidade de leveza pode parecer incoerente. No entanto, este tipo de cantar definitivamente requer condições especiais de preparo físico para que bons resultados sejam alcançados durante performances. Claudia Friedlander (2005) compara cantores eruditos a atletas de elite, Thomas Casciero fez a mesma observação durante seu workshop em 2008. Sua arte requer coordenação excepcional, resistência e graciosidade, controle motor extremamente refinado, integração total de corpo/mente e a habilidade para interpretar trechos musicais extremamente sofisticados ao vivo. Você precisa estar calmo e com energia durante performances grandiosas, muitas vezes em concursos. Você deve estar sempre são fisicamente 43. (FRIEDLANDER, 2005, s.n.)

No entanto, como foi observado no capítulo “Canto se aprende na escola?”, a orientação em preparação corporal do cantor ainda é tímida, dependendo da trajetória de vida do cantor. Friedlander observa que a recomendação de exercícios para cantores, na maioria das vezes se relaciona com profilaxia, redução de estresse, objetivos estéticos e bem estar geral.

43

Versão da autora para “Your art requires exceptional coordination, endurance and grace, exquisitely fine

motor control, total mind/body integration, and the ability to perform highly skilled maneuvers in real time. You must remain calm but energized while delivering peak performances, often in competitive situations. You must maintain optimum physical health”. (FRIEDLANDER, 2005, s.n.º). 33

Ter consciência da respiração e saber tirar proveito dela é fundamental para o canto. Neste ponto o corpo há que ser forte, com músculos condicionados, irradiando movimento advindo da respiração para extremidades livremente, com todas as relações neurológicas fluentes, assim como o fluxo de ar sonorizado. No entanto, neste corpo forte não pode haver imobilidade e tensões, aqui surge a necessidade de leveza associada ao movimento. O conceito de Centro do Corpo, considerando conexão do corpo inteiro com propósito de movimento irradiando deste Centro do Corpo, é muito eficiente para entender a necessidade de força e leveza integrados. A força no corpo pode ser entendida como vigor, energia, disposição de um centro bem cuidado. E a leveza como outro tipo de disposição, do corpo que mantém todas as condições necessárias para a fonação e permite a articulação, não só de palavras, mas de movimentos, que expressivos, se aliam ao sentido para oferecer oportunidade da experiência sentido/presença ao público.

34

Respirando e Ouvindo

Man muss wirklich lauschen was sagt die Musik44 Dietrich Fischer-Dieskau No desenrolar de seus estudos sobre movimento, Laban desenvolveu conceitos inspirados em arquitetura e filosofia, observando a tridimensionalidade do corpo humano e a relação entre suas partes. O conceito que vai ser utilizado neste capítulo é o das Escalas Espaciais, recurso eficiente para mover o corpo expressivamente no espaço (sem qualquer preocupação com sentido ou conhecimento) a partir da exploração de possibilidades de percursos, gestos, andamentos e intensidades. As Escalas Espaciais advém do conceito de Formas Cristalinas desenvolvido por Laban a partir da percepção de que a justaposição dos vestígios de movimento do corpo humano no espaço a formas geométricas seria capaz de fortalecer experiências criativas: “Até mesmo em movimentos simples e mínimos como caminhar ou fazer um pequeno gesto, o corpo cria formas no espaço ao seu redor...” (FERNANDES, 2006, p.179). Laban escolheu os cinco poliedros regulares para desenvolver as suas escalas: o tetraedro; o octaedro; o hexaedro (cubo); o icosaedro; e o dodecaedro. Todas as escalas ...servem como uma estrutura básica para desenvolver a consciência e discernimento de cada ponto no espaço, clareando a Intenção Espacial do gesto e da postura. As sequências constituem um exercício de expansão do corpo no espaço, percebendo pontos pouco ativos ou que recebem pouca atenção. Aos poucos, o ator-dançarino começa a visualizar esses pontos de forma nítida, organizando-os nas Formas Cristalinas ao redor de seu corpo, mesmo que em aparente repouso. Os pontos no espaço podem ser usados em outras combinações além das desenvolvidas por Laban, até mesmo misturando os pontos de diferentes formas cristalinas. (FERNANDES, 2006, p.191).

(Ciane Fernandes fala em ator-dançarino por conta de sua trajetória de vida, qualquer pessoa que tenha oportunidade de experimentar as Escalas Espaciais desenvolvidas por Laban, terá possibilidade de organizar seu corpo em relação às Formas Cristalinas). As pesquisas para este trabalho se limitaram a utilizar as escalas de movimento elaboradas a partir do octaedro e do hexaedro (cubo).

44

Devemos ouvir de verdade o que a música diz (tradução da autora). 35

Todos os poliedros regulares escolhidos por Laban para desenvolver suas escalas de movimento são Poliedros ou Sólidos de Platão, ou seja, além de terem o mesmo número de lados, de suas faces serem polígonos planos, da existência de simetria que transforma cada face, aresta e vértice em outra face, aresta e vértice, foram utilizados por Platão no desenvolvimento de suas teorias a respeito da origem do universo e por ele associados aos elementos da natureza, na seguinte relação: tetraedro - fogo; octaedro - ar; hexaedro (cubo) terra; icosaedro - água; e o dodecaedro - cosmos (que seria a alma do mundo). As escalas de movimento pretendem oferecer oportunidade para experiência de movimento, a indicação das etapas que as constituem não informam formas a serem alcançadas, apenas os caminhos que favorecem a experimentação proposta. A aproximação feita por Laban aos sólidos de Platão, pressupõe o corpo humano no centro da figura, para realizar pesquisa de movimento a partir das limitações impostas pela utilização de cada figura. O conhecimento dos planos dimensionais ajuda no entendimento da proposta: vertical (partindo do centro, se movimentando para cima e para baixo); sagital (partindo do centro, se movimentando para frente e para trás); e horizontal (partindo do centro, se movimentando para direita e para esquerda), conforme desenho a seguir:

Figura

5:

Planos

dimensionais

(vertical,

sagital

e

horizontal)

(http://www.laban-

analyses.org/laban_analysis_reviews/laban_analysis_notation/space_harmony_choreutics/planes/laban_dimens ional_planes.htm

O Octaedro remete visualmente à ideia de duas pirâmides unidas pela base e, geometricamente, pode ser representado desta maneira:

36

Figura 6: Organização geométrica do octaedro (http://mediateca.educa.madrid.org/imagen/miniatura.php?id_imag en=7iounw6a6bgf4wcp&t=3&ra=1&na=350)

A proposta de Laban para interseção entre os planos dimensionais e o octaedro leva a um tipo de modelo (numa perspectiva estática), onde a forma cristalina compartilha o seu centro com o Centro do Corpo na posição inicial (de acordo com Ciane Fernandes, este aspecto é determinante para expansão das habilidades físicas, emocionais, intelectuais e espirituais daquele que experimenta pesquisa de movimento seguindo as teorias de Laban).

Figura 7: Modelo de interseção entre os planos dimensionais e o octaedro (http://www.labananalyses.org/laban_analysis_reviews/laban_analysis_notation/space_harmony_choreutics/ planes/in_octahedron.htm) É nessa posição que este Centro do Corpo coincide com o Centro do Espaço, ou o centro imaginário de todas as figuras geométricas. É a partir desse ponto que irradiam todos os outros, de todas as figuras geométricas. Assim, quando o corpo desloca-se ao longo dos diversos pontos no espaço, carrega o seu Centro consigo, o que nem sempre coincide nem passa pelo Centro do Espaço! No caso do Octaedro, o Centro do Corpo desliza ao longo das dimensões, passando pelo Centro do Espaço. Mas em outras figuras, como o Icosaedro, o Centro do Corpo desloca-se pela periferia e o Centro do Espaço, sem passar por este. (FERNANDES, 2006, p.195).

37

Figura 8: Centro do Corpo e sua expansão para o espaço (HACKNEY, 2002, p.40).

Para a realização dos movimentos da Escala Dimensional do Octaedro criada por Laban, é importante manter o entendimento de que o corpo se prolonga no espaço além de si a partir do Centro do Corpo. É importante que haja também empenho pela manutenção da frontalidade do quadril durante o exercício. A Escala Dimensional do Octaedro tem como posição inicial o corpo ereto, de pé. O movimento é iniciado pela direita, com o braço direito, mas parte do quadril, os braços indicam o plano (dimensão) que está sendo objeto de experimentação naquele momento, mas o movimento parte do Centro do Corpo e, como não poderia deixar de ser, por se tratar do local principal de sua realização física, é influenciado pela respiração.

Figura 9: Escala Dimensional do Octaedro (FERNANDES, 2006, p.198).

Poderia parecer, pela ideia de início de movimento pela esquerda ou direita, que o lado do corpo que não orienta o movimento deveria pretender algum tipo de neutralidade, mas não é esta a proposta. Ao contrário, o lado esquerdo do corpo complementa toda a movimentação, quando o braço direito estiver na liderança do movimento e vice-versa, não 38

liderar movimento não significa passividade. Esta oposição pretende oferecer experiência espacial relacionada com o conceito de Centro do Corpo relacionado com partes do corpo que se prolongam no espaço. A seguir, descrição de Ciane Fernandes para a Escala Dimensional do Octaedro iniciada pelo braço esquerdo, com indicação exata da participação do outro braço:      

Enquanto o braço esquerdo leva o corpo para o Alto, o braço direito está alongado para Baixo. Enquanto o braço esquerdo leva o corpo para Baixo, moderadamente curvado para a esquerda à frente do torso, o braço direito encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo para a esquerda, por detrás do braço esquerdo. Enquanto o braço esquerdo fecha para a Direita, o braço direito atravessa o Centro do Espaço em direção a Esquerda. Enquanto o braço esquerdo abre para a Esquerda, o braço direito abre moderadamente para a Direita. Enquanto o braço esquerdo avança para a Frente, o direito alonga-se para Baixo e moderadamente para Atrás. Enquanto o braço esquerdo recua para Atrás, o direito alonga-se para Baixo e moderadamente pra Frente. (FERNANDES, 2006. p.198-9.).

O Hexaedro ou Cubo pode ser geometricamente representado assim:

Figura 9: Organização geométrica do hexaedro (cubo) (http://mediateca.educa.madrid.org/imagen/miniatura.php?i d_imagen=stn7sycp6ann5n2d&t=3&ra=1&na=350)

A exemplo do octaedro, o cubo compartilha seu centro espacial com o Centro do Corpo no momento inicial (é possível, inclusive, colocar o octaedro dentro do cubo por causa desta característica), além disso, a posição inicial para experimentação da Escala Diagonal do Cubo e os princípios do movimento iniciando a partir do Centro do Corpo; a frontalidade do quadril; e movimento integrado à respiração são mantidos :

39

Figura 10: Interseção dos centros espaciais do cubo e do Centro do Corpo (http://edmusical2010.wikispaces.com/Expresión+Corp oral)

Na Escala Diagonal do Cubo, criada a partir da interseção entre o centro espacial do cubo e o Centro do Corpo, existem diferenças que trazem notável complexidade para os movimentos desta escala em relação à Escala Dimensional do Octaedro: a impossibilidade de não estar no Alto ou no Baixo, Frente ou Atrás, Direita ou Esquerda, porque assim que inicia o movimento, o centro do corpo já toma a direção de uma diagonal45, “o cubo não possui pontos na altura da cintura” (FERNANDES, 2006, p.201); e a realização de movimentos de torsão, alongamento e curvatura do tronco com manutenção da frontalidade do quadril, apesar das diagonais. As quatro diagonais do Cubo criam os oito pontos de direção do movimento da Escala Diagonal do Cubo. Ao contrário da Escala Dimensional do Octaedro, a opção por início com um braço ou outro, interfere em sua realização por levar a adoção de sentidos diferentes: horário e anti-horário.

45

Uma diagonal se caracteriza por conjugar as três tensões dimensionais simultaneamente. 40

Figura 12: Escala Diagonal do Cubo (FERNANDES, 2006, p.205).

A seguir, descrição de Ciane Fernandes para a Escala Diagonal do Cubo iniciada pelo braço direito: 











DIAGONAL 1, VÉRTICE A - Alto-Direita-Frente: braços e pernas abrem. Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para o Alto-Direita-Frente, o braço esquerdo está alongado para Baixo-Esquerda-Atrás (os braços abrem). Com o peso do corpo na perna direita, as pernas se afastam com uma abertura moderada, os pés em semiponta enfatizando o Alto. DIAGONAL 1, VÉRTICE B - Baixo-Esquerda-Atrás: braços e pernas fecham. Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Baixo-Esquerda-Atrás, o braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo. A perna direita cruza por detrás da esquerda, e o pé direito toca o ponto BaixoEsquerda-Atrás, enquanto o esquerdo sustenta o corpo mais à frente. DIAGONAL 2, VÉRTICE C - Alto-Esquerda-Frente: braços e pernas fecham. Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Alto-Esquerda-Frente, o braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo para Baixo-Direita-Atrás, abaixo do braço direito. Com o peso do corpo principalmente na perna direita, as pernas se cruzam com a direita à frente, os pés em semiponta enfatizando o Alto. DIAGONAL 2, VÉRTICE D - Baixo-Direita-Atrás: braços e pernas abrem. Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para Baixo-Direita-Atrás, o braço esquerdo alonga-se moderadamente em direção a Baixo-EsquerdaFrente. A perna direita abre, e o pé direito toca o ponto Baixo-Direita-Atrás, enquanto o esquerdo sustenta o corpo mais a frente. DIAGONAL 3, VÉRTICE E - Alto-Esquerda-Atrás: braços e pernas fecham. Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Alto-Esquerda-Atrás, o braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo para Baixo-Direita-Frente, abaixo do braço direito. Com o peso do corpo principalmente na perna direita, as pernas se cruzam com a esquerda à frente, os pés em semiponta enfatizando o Alto. DIAGONAL 3, VÉRTICE F - Baixo-Direita-Frente: braços e pernas abrem. Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para Baixo-Direita-Frente, o braço esquerdo alonga-se moderadamente em direção a Baixo-Esquerda-Atrás. A perna direita abre, e o pé direito toca o ponto Baixo-Direita-Frente, enquanto o esquerdo sustenta o corpo mais atrás. 41





DIAGONAL 4 - VÉRTICE G - Alto-Direita-Atrás: braços e pernas abrem. Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para Alto-Direita-Atrás, o braço esquerdo alonga-se em direção a Baixo-Esquerda-Frente, com o peso do corpo na perna direita, as pernas se abrem com a esquerda a frente, os pés em semiponta enfatizando o Alto. DIAGONAL 4, VÉRTICE H - Baixo-Esquerda-Frente: braços e pernas fecham. Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para BaixoEsquerda-Frente, o braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo. A perna direita cruza pela frente da esquerda, e o pé direito toca o ponto Baixo-Esquerda-Frente, sustentando a maior parte do peso corporal". (FERNANDES, 2006, p.206-7).

Essas propostas de experimentação de movimento foram utilizadas quando a autora pesquisou movimento para a interpretação das canções “A Bonequinha de seda” de Francisco Mignone e “Rua Aurora” de Edmundo Villani-Côrtes. A escolha das canções, ora analisadas, e objeto de pesquisa de movimento indicadas neste capítulo, foi influenciada pelo gosto pessoal da autora, tessitura compatível com seu timbre de meio-soprano, curta duração, para evitar questões relacionadas a memorização que não são objeto deste estudo, e pelo fato de serem composições brasileiras contemporâneas para câmara com acompanhamento de piano, evitando instrumentações que impedissem sua interpretação plena. A organização do estudo seguiu as etapas:  escolha de duas canções brasileiras de câmara;  realização de estudos musicais pertinentes (interpretação de texto; pesquisa sobre contexto de composição; leitura da partitura; estudos práticos, incluindo vocalizes);  realização de dois ensaios com a pianista Katia Ballousier. Ocasião em que a pianista conheceu as músicas e a proposta interpretativa da autora e em que foram gravadas duas versões para cada música: uma só com piano e a outra completa;  experimentação da Escala Dimensional do Octaedro sob as seguintes condições: sem preocupação com a sonoridade das músicas, declamando o texto, cantando as frases a capella46 e influenciada pela sua audição durante o movimento;  experimentação da Escala Diagonal do Cubo sob duas condições: sem preocupação com sonoridades e emitindo som de vogais, de forma improvisada, em diferentes alturas e intensidades, junto a movimentos de expansão e recolhimento do corpo relacionado aos braços;

46

a capella e um termo que indica canto sem acompanhamento de instrumentos. 42

Análise da canção “A Bonequinha de Seda - canção das mães pretas” A canção "A Bonequinha de Seda" foi composta por Francisco Mignone (1897 – 1986), com letra de Narbal Fontes (1899 – 1960), em 1936, como parte da trilha sonora de filme de mesmo nome47, dirigido por Oduvaldo Vianna (1892 – 1972), produzido pela Companhia Cinédia do Rio de Janeiro, a partitura foi editada pela E.S. Mangione. Sobre o texto Drume, drume, Bonequinha, Calunguinha de sinhá. Drume, fais favô, Drume, pra sonhá com seu amô. Quem nasceu pra padecê, Inda pode remediá Fecha os óio pra esquecê, Sonha inté a dô passá. Drume, drume, Bonequinha, Calunguinha de sinhá. Drume, fais favô, Drume, pra falá com seu amô.

A poesia se organiza em três estrofes e está escrita com indicação clara da pronúncia pretendida para a voz, fazendo alusão à simplicidade e desconhecimento das normas de língua culta das “mães pretas”, escravas que cuidavam dos bebês de suas senhoras no período em que houve escravidão no Brasil. Sobre a música Trata-se de canção composta para voz e piano composta por 40 compassos em ritmo binário, onde a semínima ocupa um tempo, no tom de fá maior, com indicação andantino para o andamento. A partitura, a exemplo do texto, indica com precisão a interpretação musical pretendida: marcatto, intensidades, crescendo e diminuendo, legatto, ritardando, a tempo e acentuações. Em se tratando de uma canção de ninar, é interessante observar o desenho pendular iniciado no piano (que permanece durante toda a música, mesmo quando há adição de 47

O filme “Bonequinha de Seda” foi um grande sucesso cinematográfico brasileiro da década de 1930. 43

indicação de fraseado mais longo) e levado para a voz, que se afasta deste desenho durante a segunda estrofe. Seções Introdução A B A'

Compassos 1e2 3 a 16 17 a 26 27 a 40

Estrofe 1a 2a 3a

Instrumentação piano piano e voz piano e voz piano e voz

Sobre a pesquisa de movimento A pesquisa de movimento foi realizada a partir da Escala Dimensional do Octaedro. A experimentação da Escala Dimensional do Octaedro sofreu variações neste estudo, no entanto, a realização de todos os movimentos considerou o octaedro como uma figura geométrica formada por três eixos (vertical, horizontal e sagital), cujo ponto de interseção e expansão corresponde ao Centro do Corpo. Durante a realização deste exercício, independente da variação experimentada, houve cuidado para que a frontalidade do quadril fosse mantida e que a respiração se relacionasse com o movimento. Após realizar diversas vezes a Escala Dimensional do Octaedro, iniciando movimento tanto com o braço direito quanto com o esquerdo, foi feita opção por observar expansões de tronco provocadas pela inspiração/expiração quando da realização dos movimentos. Organização da pesquisa de criação de movimento expressivo para interpretação desta canção:  inspiração antes de começar cada movimento - alto/baixo; esquerda/direita; frente/trás (ou no retorno a posição inicial) - ou seja, o movimento só ocorria na expiração (os movimentos foram decupados nesta ocasião);  inspiração no início de cada sequência, retornando à posição inicial apenas ao fim da sequência: inspiração – alto / expiração - baixo; inspiração – esquerda / expiração - direita; inspiração – frente / expiração - atrás. repetição

de

cada

oposição

e

como

sequência

Realizada com de

planos

vertical/horizontal/sagital;  inversão da proposta anterior, iniciando cada sequência com a expiração aliada à primeira parte do movimento;  declamação da poesia durante realização dos movimentos da Escala Dimensional do Octaedro; 44

 declamação da poesia sem realização dos movimentos da Escala Dimensional do Octaedro;  interpretação a capella da canção;  realização da Escala Dimensional do Octaedro ao som da gravação completa (piano e voz);  interpretação da canção ao som da gravação da parte do piano, improvisando movimentação sem preocupação com a Escala Dimensional do Octaedro; e  repetição dos movimentos resultantes da improvisação indicada no item anterior. Foram observadas no decorrer desta atividade mudanças positivas na qualidade da voz falada48 da autora e de sua disponibilidade corporal49. Da mesma forma que o movimento influenciou a organização vocal e corporal da autora, a escuta da gravação da canção durante a realização da Escala Dimensional do Octaedro influenciou a qualidade dos movimentos realizados, que passaram a primar pela leveza, foram realizados em andamento mais contido e com gestos arredondados. Este arredondamento do gestual se manteve quando da interpretação da canção junto com o acompanhamento gravado, tendo sido possível estabelecer uma pequena sequência de movimentos de cabeça, inclusive faciais, braços, tronco, ombros e mãos após algumas repetições. Análise da canção “Rua Aurora” A canção “Rua Aurora” foi composta por Edmundo Villani-Côrtes (1930) sobre poesia de Mário de Andrade. Mário de Andrade (1893 – 1945), poeta, famoso por sua participação na Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo, foi também músico, tendo atuado como professor de piano e outras disciplinas no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e escrito diversos textos sobre composição de música brasileira, estética, folclore, pronúncia da voz cantada, além de uma coletânea de modinhas imperiais. Mário de Andrade defendia a pesquisa de pronúncia brasileira cantada para canções em português mais próxima do que se ouvia no cotidiano, que ele entendia como afeita a questões étnicas: “...nós, os semicultos, não sabemos cantar em nossa língua. É invejável a

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A voz ficou mais encorpada e intensa. O corpo ficou mais disposto para o movimento, inclusive os pequenos e com alteração de atitude pra uma postura com mais energia. 49

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naturalidade com que o povo ignorante fixou sua dicção cantada [...] é preciso que tenhamos definitivamente a coragem da nossa naturalidade”.

(ANDRADE, 1980, p.12 apud

PEREIRA, 2002, p.105). Pela trajetória histórica deste poeta, que inclusive participou do Primeiro Congresso Nacional da Língua Nacional Cantada realizado em 1937, a escolha de poesias de Mário de Andrade para composição de canções eruditas traz inegavelmente uma sugestão de escolha de pronúncia e postura/atitude mais próxima da utilizada em música popular, que por sua vez se aproxima da fala cotidiana.

Sobre o texto Na Rua Aurora eu nasci Na Aurora da minha vida E numa Aurora cresci No Largo do Paissandu Sonhei, foi luta renhida, Fiquei pobre me vi nu Nesta Rua Lopes Chaves Envelheço, e envergonhado Nem sei quem foi Lopes Chaves Mamãe, me dá essa lua Ser esquecido ignorado Como esses nomes da rua.

Texto confessional de Mário de Andrade, que realmente residiu nos locais e nas circunstâncias e emoções indicadas. Sobre a música: Esta canção é composta por 32 compassos, cuja divisão rítmica principal é quaternária, no entanto, há dois trechos binários: compasso 11 e outro entre os compassos 14 e 27. A indicação inicial de andamento é “Lento com liberdade, recitando para voz” e “Lento, saudoso” para o piano. E o tom principal é o de lá menor, com modulação para si menor e ré menor. A partitura indica detalhadamente a interpretação musical, se abstendo de indicação de movimentação para os intérpretes, mas indicando estado psicológico para o piano, buscando uma relação de sentido com o texto da poesia.

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Esta canção remete ao universo da Música Popular Brasileira (MPB), não só pela sonoridade relacionada com a utilização de acordes de 7ª e 9ª menores, mas também pela orientação de liberdade para a voz (em termos rítmicos) e, como já foi dito antes, pela escolha do texto de Mário de Andrade, que foi um teórico que defendeu a aproximação da composição e interpretação musicais brasileiras da cultura e sonoridade nacionais. Para fortalecer a proposta de recitativo, a parte do piano apresenta basicamente acordes batidos quando junto à voz e encaminhamentos (acordes/trechos de escala) entre frases realizadas pela voz. Seções Introdução A B C D E

Compassos 1e2 3a7 8 a 13 14.2 a 22.2.1 22.2.4 a 27 27 a 32

Estrofe 1 2 3 1 verso da 4 estrofe 2 e 3 versos da 4 estrofe

Instrumentação piano piano e voz piano e voz piano e voz piano e voz piano e voz

As indicações expressivas para a voz presentes na partitura são as seguintes:  legattos precisos em quase todas as frases, as exceções são: a. stacatto em “fiquei pobre me vi nu”, que inclusive contém uma indicação de respiração separando sonoramente a palavra “nu” do resto da frase e um glissando entre as colcheias “me vi”. Essa proposta e muito inusitada por trazer leveza justamente onde o texto fala de um revés da vida do poeta; e b. “Mamãe, mamãe, me dá essa lua”, este outro trecho sem indicação de legatto acontece em momento do texto que remete a desespero, ou desilusão: as indicações F (forte) e p (piano) para a repetição “Mamãe, mamãe” e o marcatto em “me dá essa lua” oferecem dramaticidade a este momento da música.  a tempo e rallentando nos finais das duas frases das primeiras seções; e  menos e a tempo nas duas ultimas seções. Com exceção da última frase “como esses nomes da rua”, nenhuma das frases para voz tem início tético50.

50

Em música o termo tético indica tempo, ou parte, forte. 47

Sobre a pesquisa de movimento A pesquisa de movimento foi realizada inicialmente a partir da Escala Diagonal do Cubo, como os resultados não foram favoráveis, a autora passou a utilizar a Escala Dimensional do Octaedro. Assim como na pesquisa de movimento realizada com a Escala Dimensional do Octaedro, houve cuidado para manutenção da frontalidade do quadril, o que foi difícil devido a sequência das diagonais sempre oporem níveis alto e baixo em relação a frente e atrás, com torções, e com a relação entre respiração e movimento. Organização da pesquisa de criação de movimento expressivo para interpretação desta canção:  inspiração relacionada aos movimentos diagonais para o alto, seguida imediatamente de expiração relacionada aos movimentos diagonais para baixo;  emissão improvisada de vogais quando da realização dos movimentos nas diagonais, ou seja, uma expiração sonorizada abarcando uma diagonal inteira (parte superior e inferior);  declamação da poesia sem a realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo;  declamação da poesia com a realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo;  interpretação a capella da canção, durante realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo;  interpretação a capella da canção, após realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo;  Escala Dimensional do Octaedro;  interpretação a capella da canção sem realização de Escala Dimensional. Cantar durante a realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo trouxe perda de controle da respiração no canto, impossibilidade de realização de elementos musicais expressivos (crescendo e diminuendo), devido à influência dos movimentos do tronco na respiração. Esta atividade deixou a autora cansada, sem energia para cantar em sequência. Imaginando que o cansaço decorresse de exigência demasiada em um único momento, a pesquisa foi suspensa na ocasião, sendo recomeçada em outro dia, evitando 48

emissão de voz falada ou cantada junto à realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo. O resultado, no entanto, foi o mesmo. Somente após a mudança de Escala de Movimento para a Escala Dimensional do Octaedro, a autora conseguiu pesquisar e desenvolver movimentação para a canção com facilidade. Como a pesquisa foi individual, não é possível afirmar que a Escala Dimensional do Octaedro favoreça pesquisa de movimento para canto de câmara, em detrimento da Escala Diagonal do Cubo. No entanto, vale a pena ressaltar que a Escala Diagonal do Cubo é muito mais “móvel” que a Escala Dimensional do Octaedro. Além disso, é importante frisar a sabedoria das palavras de Friedrich Fisher-Diskau na epígrafe deste capítulo, mesmo com todo preparo técnico, estudos e ensaios, é fundamental OUVIR o que a música estiver propondo ao corpo. A música interfere no corpo e no seu movimento.

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Conclusão

Um recital de música de câmara é um evento performático que pode variar em muitos aspectos, mas sempre envolve um encontro de pessoas que experimentam sensações (presença) e sentidos (conhecimentos). Todos os que se propõem a este encontro, se dispõem a se preparar para ele previamente, a passar alguns momentos juntos trocando estímulos energéticos, a ter recordações dele, permitindo que essa experiência passe a fazer parte do seu universo de auto conhecimento. Esta pesquisa tratou de um aspecto preparatório para a realização da performance (o movimento), devido à limitação naturalmente imposta por se tratar de um trabalho de fim de curso e por se relacionar à trajetória e questões da autora, que como muitas outras pessoas foi educada segundo diretrizes tecnicistas e se viu atuando influenciada por questões que o tecnicismo (desdobramento cartesiano na educação) não alcança. No entanto, a preparação para um encontro camerístico, apesar de requerer planejamento e controle, não é um processo produtivo, o momento de realização de um recital de música de câmara não é um produto, é uma experiência, sendo portanto, momento de vida. A este momento, a esta experiência deve ser oferecida outra oportunidade de visão, a do holismo: Leonardo Boff esclarece que “holismo não significa a soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una e diversa em suas partes, mas sempre articuladas entre si dentro da totalidade e constituindo esta totalidade.” A percepção do ser humano em sua totalidade adota este sistema de síntese ou agregação dos componentes do ser, ao contrário do método cartesiano analítico, reducionista, fragmentário ou dissociativo. Procura juntar para conhecer. Enfatiza o físico, mas intimamente inter-relacionado com a mente, a consciência, o espírito e com as energias do universo. (TEIXEIRA, s/d, p.5).

Neste sentido, a opção pela utilização do Sistema Laban quando da preparação para o momento do recital por cantores de câmara é inquestionável por oferecer oportunidade de conexão de corpos, espaço, emoções, conhecimento e espírito; de seguir intuições; de ser influenciado pelo momento presente que o influencia também. Em se tratando de estudo que faz referência à música, a influência do som se mostrou inexorável, pesquisar movimento sem som é completamente diferente das ocasiões em que o som se faz presente. A afirmação de Jiddu Krishnamurti resume por oposição a oportunidade oferecida pela pesquisa de movimento utilizando o Sistema Laban: “...Um coração vazio mais uma 50

mente técnica não fazem um ente humano criador”. (KRISHNAMURTI apud TEIXEIRA, s/d, p.2). Um cantor virtuose que não “ouça” a música, o seu corpo, o seu espaço, as suas sensações, a vibração do público e dos outros intérpretes durante suas performances, não consegue presença que afete o que puder alcançar do universo.

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