Capela de Nossa Senhora da Soledade - Congonhas/MG. Guia de Bens Tombados IEPHA/MG

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Descrição do Produto

INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS

GUIA DE BENS TOMBADOS IEPHA/MG

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CONGONHAS – DISTRITO DE LOBO LEITE

Acervo IEPHA/MG. 2010

Capela de Nossa Senhora da Soledade

Fig. 1 – Capela de Nossa Senhora da Soledade situada no distrito de Lobo Leite, município de Congonhas do Campo

OOtombamento bens que constituem Lobo Leite, Leite, município municípiode deCongonhas, Congonhas,foifoi tombamentode dos bens que constituemo oacervo acervoda daCapela Capelade deNossa NossaSenhora Senhora da da Soledade, Soledade, em Lobo aprovado pelo 19.113, 28-03-1978, sendosendo entãoentão determinada sua inscrição no Livro nº. II, II,do doTombo Tombode deBelas BelasArtes. Artes. aprovado peloDecreto Decretonº. Estadual nºde 19.113, de 28-3-1978, determinada sua inscrição no Livro

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evantamentos históricos apontam que o antigo povoado de Soledade tem suas origens no segundo quartel do século XVIII. No mapa dos “Padres Matemáticos”1, registro cartográfico confeccionado entre os anos de 1734 e 1735, esse local encontra-se assinalado indicando a existência de uma capela. Trata-se da primitiva Capela de Nossa Senhora da Soledade, cuja ancianidade é confirmada pelos documentos do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, na certidão de batismo do inconfidente Cônego Luís Vieira da Silva, datada de 21 de fevereiro de 1735, bem como no registro de casamento de seus pais realizado dois anos antes.2 O povoado de Soledade pertenceu ao município de Ouro Preto até 1836 quando seu território foi desmembrado e incorporado a Congonhas do Campo.3 A partir do século seguinte, em 1926, Soledade passou a ser conhecido pelo seu nome atual, Lobo Leite. A Capela está implantada no ponto central do adro que se desdobra em praça, em terreno ligeiramente inclinado, constituindo-se um marco na paisagem de Lobo Leite. A lateral direita do adro é um aterro contido por arrimo de alvenaria de pedra seca e, na lateral esquerda, observam-se cortes no terreno. A construção do ramal férreo tangencia o cunhal posterior da sacristia. A antiga estação ferroviária, logo à frente, era utilizada para o transporte de cargas e de passageiros.

1 Os chamados “Padres Matemáticos”, Diogo Soares e Domingos Capassi, ficaram assim conhecidos por seus conhecimentos em matemática, cartografia e astronomia, Cf. BORGES, Maria Eliza Linhares. Padres Matemáticos. In.: BOTELHO, Ângela Vianna; ROMEIRO, Adriana. Dicionário Histórico das Minas Gerais; período Colonial. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 227-229. 2 Waldemar de Almeida Barbosa atribuiu a ereção do povoado ao ano de 1740 e a existência de uma capela em 1756. 3 Lei 45 de 16/04/1836. COLEÇÃO DAS LEIS E DECRETOS DE MINAS GERAIS – 14/06/1836. p. 26 COL. 1.

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Fig. 2 - Conjunto urbano do distrito de Lobo Leite

Acervo IEPHA/MG. 2006

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA SOLEDADE

Acervo IEPHA/MG. 1994

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Fig. 3 - Estação Ferroviária e Capela da Soledade aos fundos

A Capela de Nossa Senhora da Soledade foi construída na primeira metade do século XVIII, primeiro como filial da Matriz de Ouro Branco, posteriormente, de Congonhas. Conforme registrou Cônego Trindade (1825), esta Capela foi autorizada por provisão em 9 de novembro de 1756. Trata-se, portanto, de uma construção posterior àquela anterior a 1735, como vimos, e edificada em local diferente da primitiva. Não existe referência histórica quanto à época de execução dos trabalhos de ornamentação e nem quanto à autoria do risco da edificação. Relatórios do IEPHA/MG informam que o templo mostra-se “no exterior e interior como o geral das capelas mineiras do final do século XVIII” e os “altares de princípio do século XIX, não apresentando pintura nos forros”. O entorno guarda “o caráter costumeiro dos arraiais de mineração do interior das Gerais: o casario ... se alimentando na simplicidade e integrado harmoniosamente no conjunto da praça”. A sineira da Capela, separada do corpo da edificação, solução típica das primitivas capelas mineiras, localiza-se na parte frontal do adro, na lateral esquerda, com estrutura simples de esteios de madeira e cobertura com telhas coloniais. (Figura 5) O partido arquitetônico, característico do século XVIII, apresenta-se com a clássica composição de um retângulo alongado em forma de “T” e abriga a nave, a capela mor, ladeada pela sacristia e consistório. As capelas, com essa concepção arquitetônica conforme descrição de Miranda, repetem esse tipo de composição e estão disseminadas por todo o território mineiro. Observam-se, entretanto, pequenas variações nas proporções, na composição do frontispício, no acabamento de beiradas e em outros detalhes. A nave e a capela-mor são separadas pelo arco cruzeiro. As circulações podem ser feitas externamente através da portada e das portas laterais da nave e das sacristias. Acima do átrio, que apresenta forro decorado com bela pintura, localiza-se o coro ao qual se tem acesso por uma escada de madeira localizada à direita de quem entra e com degraus de convite. O sistema construtivo utilizado na edificação foi o de alvenaria de pedra com embasamento corrido, cujo emprego amplia-se em Minas no terceiro quartel do século XVIII. A cobertura em telhas cerâmicas de capa e bica é estruturada no sistema de caibros armados, de adoção corrente por todo aquele século. A volumetria também se organiza segundo o padrão da arquitetura religiosa nas Minas, com os espaços da nave, o da capela-mor e os da sacristia e consistório configurando volumes diferenciados em altura, do mais alto para o mais baixo e com telhados independentes que expressam claramente a organização interior. A fachada da Capela, aparentemente maciça, movimenta-se com a “ondulação do frontão, o desenho do óculo e elementos esculpidos em pedra, que já empregam motivos do repertório rococó”, conforme consta no “Projeto de Obra Escola Conservação e Restauração da Matriz de Soledade/IEPHA/MG” (Figura 4). A composição dos frontispícios, a partir dos meados do setecentos, apresenta novidades com a duplicação das pilastras laterais, informa-nos novamente a autora Selma Miranda. A linha superior do frontão, com óculo ao centro e encimada por uma cruz, movimenta-se em curvas e contracurvas, com rica ornamentação e detalhes gerais de acabamento das fachadas. O coroamento da fachada faz-se por meio de entablamento em cantaria de pedra e com dois coruchéus nas extremidades. Miranda ressalta, ainda, que no decorrer do século XVIII, os frontões apresentavam-se mais ricos e com formas mais elegantes e graciosas. A fachada, decorada com belos ornatos, apresenta fenestração em “V”, esquema adotado nas primeiras décadas desse século, com vãos em número de três, sendo uma portada almofadada e duas janelas do coro que recebem sobrevergas. As guarnições dos três vãos centrais, das pilastras intermediárias e dos cunhais são em cantaria.4 4 Na tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo/FA/USP – São Paulo, 2002: “A arquitetura da capela mineira no século XVIII e XIX” Selma Miranda relata sobre as características arquitetônicas das capelas mineiras construídas nos séculos XVIII e XIX.

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GUIA DE BENS TOMBADOS IEPHA/MG

Acervo IEPHA/MG. 2006

Acervo IEPHA/MG. 2006

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA SOLEDADE

Acervo IEPHA/MG. 2011

Fig. 5 – Sineira na lateral da Capela

Acervo IEPHA/MG. 2011

Fig. 4 – Detalhe da ornamentação da fachada

Fig. 6 – Retábulo-mor e colaterais da Capela

Fig. 7 – Altar-mor da Capela

As demais fachadas apresentam uma composição geral de aspecto mais severo, com predominância dos cheios sobre os vazios e os vãos simplificados, sem molduras em cantaria. A movimentação fica por conta dos beirais que são de alturas diferenciadas, arrematados por cimalhas de massa e por coruchéus em cada uma das extremidades. A Capela de Nossa Senhora da Soledade recebeu intervenções diversas ao longo dos anos com o objetivo claro de conservação e preservação do bem cultural. No ano de 1950, segundo relato de moradores, a edificação passou por alterações físicas descaracterizantes com a substituição dos pisos de campas por ladrilhos hidráulicos e dos forros com pintura artística por tábuas estreitas que receberam pintura lisa. Os Relatórios de Vistoria do IEPHA/ MG informam que esses forros eram de tábuas largas e com pintura artística, a exemplo do atual forro do átrio. Ao longo do século XX, a Capela sofreu diversas intervenções restaurativas, respectivamente, nos anos de 1976, 1982, 1983, 1988, 1989, 1994. No ano de 1991, houve um furto de sete valiosas imagens do século XVIII, inclusive a da padroeira. Posteriormente, já no século XXI, no ano de 2009, devido aos sérios problemas de conservação apresentados pela edificação, foi realizada uma obra de restauração arquitetônica e artística pela Fundação de Arte de Ouro Preto/FAOP, através de um projeto elaborado pelo IEPHA/ MG com o intuito de salvaguardá-la e de formar mão de obra na comunidade local. Essas obras recuperaram integralmente a Capela, restituindo à edificação a sua beleza e riqueza artística. No seu interior, a Capela apresenta capela-mor com retábulo rococó em variações de azul e branco, com detalhes em douramento. Acima da mesa, o sacrário é coroado por verga alteada. O retábulo estrutura-se em colunas e pilastras, mediadas por nichos. As colunas têm terço inferior torso e parte superior em caneluras e as pilastras têm forma de estípite. Entablamento com curvas e contra curvas encima as colunas, nichos e pilastras e sustenta arco pleno da boca rendilhada do camarim. Nas laterais existem dois anjos esculpidos. O coroamento é formado por tarja segura por outros dois anjos. O camarim tem trono escalonado em cinco níveis e suas paredes apresentam padrão reticulado losangular em elementos fitomorfos. Seu forro em abóbada de berço é decorado por estrelas douradas sobre azul cerúleo. O fundo plano apresenta cortinas em seu arco superior. (Figuras 6 e 7)

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Fig. 8 - Retábulo colateral lado do Evangelho

Acervo IEPHA/MG. 2011

Acervo IEPHA/MG. 2011

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Fig. 9 – Retábulo colateral lado da Epístola

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA SOLEDADE

Os retábulos colaterais, em estilo rococó, têm tons claros de azul, branco e dourado na policromia. São idênticos em suas estruturas, variando apenas em pequenos detalhes. Suas mesas, são decoradas por pinturas com elementos fitomorfos. Acima das mesas, postam-se duas mísulas com sacrário no centro, intercaladas por dois espelhos. Estruturam-se em duas colunas apoiadas nas mísulas, com caneluras nas laterais. Entre as colunas e as bocas dos camarins, decoradas com volutas e angras, encontram-se dois nichos. Entablamentos encimam as colunas e de suas extremidades partem duas mísulas suportando anjos esculpidos. No meio, faixa em arco pleno, arqueada, apresenta sulcos raionados e ovalados em relevo. Acima do arco, dois anjos alados sustentam uma tarja dourada e branca. O coroamento é por baldaquino arqueado na forma de verga alteada. O arco cruzeiro em cantaria tem tarja central ladeada por dois anjos. O púlpito do lado do Evangelho apoia-se sobre mísula em cantaria. Seus painéis são decorados por rocalhas douradas. O forro do nártex apresenta três caixotões emoldurados com pinturas rococó. (Figuras 8 e 9)

Autoria: Alessandra Deotti, Luís Gustavo Molinari, Yukie Noce Watanabe, Jader Barroso Neto Julho, 2011

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Atestado de batizado de Luís Vieira da Silva em: 21/02/1735. In: LIVRO de batismo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição das Congonhas do Campo 1731 – 1741. Estante H, livro 17, folhas 47. MIRANDA, Selma Melo. A arquitetura da capela mineira no século XVIII e XIX. 2002. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. TRINDADE, José da Santíssima, Dom Frei. Visitas pastorais de Dom Frei da Santíssima Trindade (1821-1825). Belo Horizonte: Centro de Estudos Históricos e Culturais. Fundação João Pinheiro, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 1998. 448 p.

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