Capitalismo como religião

June 13, 2017 | Autor: Marlon Antonio | Categoria: Capitalismo
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CAPITALISMO COMO RELIGIÃO, SEM SONHO, SEM PERDÃO
Capitalism as a religion, no dream, no regret.
ROSA, Marlon Antônio (1)
1 - Graduando em Direito pelo Centro Universitário do Planalto de Araxá -
Uniaraxá ([email protected])

"É preciso ver no capitalismo uma religião" Esta é a frase inicial do
fragmento de kapitalismus als religion (1921), obra de Walter Benjamin. O
fragmento remonta a época da Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão,
onde havia um desconforto no sistema capitalista, desconforto esse que
ascende novamente nos dias atuais. O interesse de Benjamin se deve a sua
leitura de Weber e a seu entusiasmo por Nietzsche, assimilando e discutindo
por duas noções fundamentais: o desencantamento do mundo de Max Weber e a
morte de Deus de Friedrich Nietzsche, duas noções que, a princípio, negam o
valor dos paradigmas religiosos. Principalmente no Ocidente, o Capitalismo
tornou-se o parasita do cristianismo de tal modo que, a história deste é
essencialmente a história daquele, ou seja, o cristianismo se converteu em
capitalismo. Um exemplo é a substituição da adoração dos santos da igreja
católica pelo culto dos astros do esporte ou estrelas de cinema. O
Capitalismo se tornou fundamental para satisfazer as preocupações,
angustias e inquietações que envolvem o ser humano. Estes sentimentos se
tornaram fermento para o novo grande produto do Capitalismo Contemporâneo:
"a segurança", que em nova roupagem, vende a redenção como mercadoria.
Ressalta-se que o Capitalismo não possui somente origens religiosas. Ele
possui um culto incessante e impiedosa, que conduz os seres humanos à Casa
do Desespero. Nas palavras de Agamben: "O capitalismo é uma religião, e a
mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não
conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja
liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro". (entrevista concedida a
Peppe Salva e publicada por Ragusa News, 16-08-2012.). O Capitalismo é
baseado no principio da mudança permanente, acabando com o que é
"encantado", dissolvendo tudo em prol da mercadoria, um fenômeno que Max
Weber designa como "desencantamento do mundo". Segundo Benjamin, o
capitalismo como religião da modernidade é definido por três
características que integram sua estrutura, quais sejam: CULTO PURO: O
Capitalismo é puramente cultual, talvez a mais extrema que se tenha
conhecimento. Entretanto não possui qualquer dogma ou teologia. Um culto
puro de trabalhar e ganhar, uma adoração ao trabalho a fim de aumentar os
lucros. Os comércios são as catedrais e as feiras do mundo são os locais de
peregrinação. PERMANÊNCIA: O Capitalismo, enquanto culto, não conhece
pausas, ele é onipresente no tempo, pois todos os dias há consumo, todos os
dias são de festa para celebrá-lo. É a celebração de um culto sans revê et
sans merci. As práticas capitalistas dominam a vida dos indivíduos
integralmente, torna-se um sistema dinâmico, em expansão global, sendo
impossível de se deter e do qual não se pode escapar. CULPABILIZAÇÃO:
Diferente de outras religiões o Capitalismo não proporciona expiação, ou
seja, sem redenção, ele evoca uma sensação crescente de culpa. Essa culpa é
o que se agarra ao culto, mas não para expiá-la, mas sim para torná-la
universal. Segundo Burkhard Lindner, a perspectiva histórica do fragmento
baseia-se na premissa de que não podemos separar, no sistema da religião
capitalista, a "culpa mítica" da dívida econômica. A culpa se baseia no
endividamento para com o capital, perpétua e crescente, onde nenhuma
esperança de expiação é permitida. Essa não é uma "dívida moral" do
conceito bíblico ou cristão e sim uma "dívida natural", segundo o qual a
vida é em si, sobrecarregada de culpa. E Deus esta envolto nessa culpa,
pois se os pobres estão condenados à exclusão social é porque "é a vontade
de Deus", ou seja, vontade dos mercados. A única salvação reside em
intensificar o sistema na expansão capitalista, no acumulo de mercadorias,
agravando ainda mais o desespero. O resultado do processo "monstruoso" de
culpabilização capitalista é a generalização do desespero. O Dinheiro em
forma de papel, seria objeto do culto, análogo ao dos santos das religiões
cristãs, o deus Mammon[1], ou segundo Benjamin, "Plutão, o Deus da
Riqueza". No fragmento é mencionada uma passagem contra o poder religioso
do dinheiro: está no livro Aufruf zum Sozialismus, do pensador anarquista
judeu-alemão Gustav Landauer, publicado em 1919. O dinheiro se torna um
Deus totalmente diferente do anterior, pois incita o aumento do desejo
humano ao infinito, retira as barreiras deixando uma imensidão
concretamente destrutiva da natureza. Aumentando os possíveis objetos de
discórdia entre as pessoas por meio de estratégias expansionistas, como a
produção em massa, retornando sacrifícios em seu nome. O Capitalismo é
criado como uma construção metafísica, pressupondo a fé em suas obras ou na
onipotência do dinheiro como chave final para a salvação e a liberdade. A
crença é uma liberdade religiosa tão típica como a esperança de ser capaz
de comprar a salvação, através do acumulo de dinheiro. Como visto, no
fragmento de 1921 de Benjamin, o Capitalismo pode ser considerado uma
religião puramente cultual e completamente impiedosa. Por sua vez,
diferente das outras religiões não possui cunho expiatório, e sim um
caráter culpabilizador. O fim deste processo é a generalização do
desespero, pois essa religião não tem como objetivo a reforma do ser, mas
sim a sua ruína. Deste modo, levando em consideração a religião do
capital, a única salvação reside na intensificação do sistema, na expansão
capitalista, no acúmulo de mercadorias o que só serve para aprofundar a
angústia desesperadora. É o que parece sugerir Benjamin com a fórmula que
faz do desespero um estado religioso do mundo "do qual se deveria esperar a
salvação". Por fim nas palavras de Benjamin: precisamos de uma revolução,
isso é, puxar os freios desse trem louco.


Referência:
AGAMBEN, Giorgio. Benjamin e o Capitalismo. Traduzido por Selvino J.
Assmann. Fonte?
AGAMBEN, Giorgio. Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro. Entrevista
concedida a Peppe Salvà e publicada por Ragusa News, 16-08-2012. Disponível
em: ?
AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.




OBSERVAÇÃO: Poderia ter citado algo de BENJAMIN por BENJAMIN.



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[1] - Mammon é dinheiro elevado à categoria de Deus [Jung Mo Sung] Poucas
coisas têm o potencial de substituir Deus como o dinheiro. O dinheiro é o
maior ídolo potencial. Quando o dinheiro é seu escravo, ele se chama
dinheiro. Mas quando o dinheiro é seu senhor, ele se chama Mammon. Retirado
de: GUIAME, disponível em: acesso em: 01/09/2015
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