Capitulo 2. Orbi: Desenvolvimento da cidade de São Paulo e a sucessão dos modos de acumulação

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Capitulo 2.

Orbi: Desenvolvimento da cidade de São Paulo e a sucessão dos modos de acumulação

Capitulo 2. Orbi: Desenvolvimento da cidade de São Paulo e a sucessão dos modos de acumulação 2.1 A sucessão dos meios-geográficos em São Paulo 2.1.1 Apresentação

“quando um documento papal é classificado como Urbi et Orbi (para a cidade e para o mundo), isso significa que ele se dirige não só a cidade (de Roma), mas a todo o mundo católico. Enquanto a maioria dos críticos se concentra no Urbi, negligencia as dimensões do Orbi dos atuais acontecimentos da Hungria” (Zizek, 2012:46).

No Presente capitulo claramente não falaremos da Hungria. Trataremos da cidade de São Paulo e no capitulo seguinte da Subprefeitura da Vila Prudente. Seguiremos a inversão dialética proposta desta máxima por Zizek, partiremos do Orbi et Urbi, ou seja, de todo o mundo para a cidade. Mas de qual ‘mundo’ estamos falando? Do “mundo do capitalismo global” (Zizek, 2012:46) e de São Paulo. E de qual cidade? Para a cidade, ou trecho da cidade da subprefeitura de Vila Prudente (presente no capitulo 3). É esta interação dialética que pretendemos irromper, porém como toda interação dialética por vezes observará as transformações imanentes da própria cidade para tentar compreender o processo geral. Este tomo compreende as ideias de praeteritum (pretérito) interagindo de forma processual para a compreensão e formação desta cidade, como vimos neste trabalho, as temporalidades se entrelaçam no espaço, praeteritum, tempore e future acontecem concomitantemente da mesma forma que se espalham

pelo

espaço

temporal.

Interpretaremos

dialeticamente

cada

temporalidade como: 

Praeterium- algo que ‘ainda-já’ aconteceu, ou seja, o processo praeterium já aconteceu ao passo que esta acontecendo, é um eterno fantasma, o peso dos mortos sobre nós, dos processos passados que ainda ocorrem. Neste sentido ele ainda esta acontecendo e já aconteceu.

Organizaremos esta passagem entre os sucessivos meios-técnicos, descritos por Milton Santos e Maria Laura Silveira (2008), pois é pelos meios técnicos que a transformação do espaço se realiza e o próprio espaço se realiza, o homem-técnico é a própria realidade em constante devir, paralelo a isso enquadramos o processo de transformação constante da metrópole dentro de dois parâmetros, o primeiro o parâmetro politico, lembrando-nos do alerta de Marx “o importante é a forma” (MARX apud ZIZEK, 2015:115), e atentando para a transformação politica do espaço, ou melhor, como a mudança dos modos de acumulação – concomitantes com uma crise politica- modificam os modelos políticos que mudam o modo jurídico, os modos de regulação sobre o espaço, abrindo novas formas para a sua transformação.

Utilizaremos

também as nomenclaturas de Fujita (2008), para a velocidade de metamorfose do espaço urbano- apresentadas em subtítulos de sua tese-, com exceção do ultimo meio técnico, que preferimos o termo ‘metrópole madura’ de Singer (2004), por demonstrar melhor o processo.

Da cidade construída resultante temos uma vibrante parte do Orbi, para nosso pequeno Urbi, o bairro da Vila Prudente, que participara das tendências apresentadas pela cidade a sua maneira, o Urbi será sempre a singularidade na generalidade, se observarmos o mundo todos os exemplos são exceções, e é justamente desta interação dialética que se forma a totalidade, milhares de exceções formam a regra, esta é a contradição da multiescalaridade aqui pretendida. 2.1.2 O Brasil arquipélago: a mecanização 1822:Fracas relações urbanas)

incompleta

(1500-

Temos no Brasil colônia um panorama interessante, a invasão portuguesa ocorre nos litorais brasileiros alterando o que a geografia francesa de Vidal de La Blach poderia inferir como gênero de vida, dos grupos indígenas que viviam na região, o intento constante pela expropriação de terra causada pelos portugueses tenta colocar o indígena de certa forma dentro da lógica do capital. Para tanto o Estado português, apoiado no tratado de Tordesilhas, tenta sobre suas novas terras, a Santa e Vera Cruz (que seria batizada de Brasil em

seguida) reproduzir um sistema de circulação de capital, colocando os indígenas dentro desta lógica de trabalho, seria o Brasil costeiro fadado ao local onde a produção do produto mor da metrópole- sistema inicial de extração do pau Brasil, seguida pela produção de cana de açúcar- iria ocorrer. Para tal, a terra precisaria ser ‘cercada’ não atoa em 1534 surge o sistema de terras sesmarias, junto consigo à lógica das capitanias hereditárias, que criam um sistema sobre a terra de propriedade Estatal, porém de uso privado. A lei de terras sesmarias foi criada em Portugal por D. Fernando em 1375, obrigava os senhorios a cultivar as terras, e entregar outra parte a agricultores, visando ampliar a produção rural. “A Lei de Sesmaria de Dom Fernando, promulgada em 1375, tentou enfrentar os dois problemas: o do latifúndio e o do êxodo de trabalhadores do campo para as cidades. Contra o latifúndio, pelo esbulho do proprietário que por incúria ou falta de meios deixasse inaproveitadas as terras aráveis”. (FREYRE, 1977:213)

No Brasil a lei de terras sesmaria foi implantada a partir de 1534, com o sistema de capitanias hereditárias, D. João III determinou que cada donatário recebesse como de sua exclusiva propriedade, enquanto concessão da coroa, uma faixa de dez léguas, contada a partir da linha litorânea, e distribuísse, a título de sesmarias, o restante do território ficaria sob seu comando, a sesmaria era uma subdivisão da capitania. Os donatários poderiam distribuir as sesmarias a qualquer pessoa, contanto que fossem cristãos e cultivassem a terra. Segundo Caio Prado Jr. entre cada sesmaria havia ainda um pedaço da terra sem produção para dividi-las. “Entre cada sesmaria ou fazenda mediava ainda uma légua de terras que se conservavam devolutas; nesta légua nenhum dos conflitantes podia levantar construções ou realizar quaisquer obras; ela funcionava apenas de divisa, providência necessária, onde não se usam cercas ou quaisquer outras tapagens, para evitar a incursão do gado em fazendas vizinhas e confusão do rebanho” (PRADO JR, 2007: 192).

O sistema de sesmaria não obteve resultados tão positivos no Brasil como em outras colônias portuguesas. Alguns fatores contribuíram para a decadência desse sistema, principalmente pelo fato de que a lei não foi adaptada à realidade da colônia e também porque não havia fiscalização das terras pela metrópole além do fato dos donatários das sesmarias ocuparem terras muito além da que lhe pertencia. Tais capitanias formaram este mosaico sobre o território da colônia:

(mapa 01)

O processo de ocupação a partir das sesmarias forma o que Milton Santos sugere de ‘arquipélago urbano’ e Sergio Buarque de Holanda denomina de ‘urbanização de fachada’.

Sergio Buarque de Holanda, um entusiasta da

modernidade, tendo em seus textos jornalísticos um exemplo claro disso, na obra “Raízes de Sergio Buarque de Holanda” – que é um apanhado de suas matérias- demonstra

claramente seu entusiasmo e propaganda da

modernidade com textos como” A primeira e a segunda viagem em zepelim ao Brasil” onde diz: “A chegada do Graf Zepelim, depois de sua viagem triunfal pelas duas Américas, foi um dia de festa na capital alemã [...]” (HOLANDA,1989:262); em outras passagens como “Originalidade literária” traz já sua preocupação com a formação da identidade do brasileiro, exaltando assim sua literatura, ao mesmo tempo cobrando-lhe identidade nacional : “A emancipação intelectual não é, nem podia ser, um corolário fatal da emancipação politica. Esta é um fator secundário, se tanto na evolução do espirito de um povo. Mistral, com sua obra admirável na literatura provençal, demonstrou, à sociedade, que a independência intelectual de um povo não requer a emancipação politica.” (HOLANDA, 1989:37). “O Brasil há de ter uma literatura nacional, há de atingir, mais cedo ou mais tarde, a originalidade literária. A inspiração em assuntos nacionais, o respeito as nossas tradições e a submissão as vozes profundas da raça acelerarão este processo esse resultado final.” (HOLANDA, 1989:42)

Tal ideário como jornalista também o acompanha como historiador, tendo em vista compreender a formação da identidade nacional, o autor debruça-se sobre a origem do Estado Brasileiro, “Raízes do Brasil” que data de 1936, assim também sobre a origem da ética nacional, fazendo por vezes comparações entre as demais colonizações feitas nas Américas, sendo a colonização portuguesa feita “com desleixo e certo abandono[...] sem racionalização”(HOLANDA,1995:43), para explicar tal característica Holanda elabora duas éticas, seguindo o arcabouço “werberiano”, ou seja, de ‘tipos ideais', a primeira seria a “ética da aventura” a outra a “ética do trabalho”, sendo os portugueses pertencentes a primeira categoria onde: “Seu ideal será colher o fruto sem plantar a arvore. Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e, onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes” (HOLANDA, 1995:44).

Em contraponto a ética do trabalho algo próximo da “ética protestante” descrita por Weber, onde: O trabalhador, ao contrario, e aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco

compensador e persistente, que, no entanto, mede todas as possibilidades. (HOLANDA,1995:44).

Sendo a característica aventureira preponderante para o urbanismo de fachada das cidades passagens para a exploração localizada no tempo, ou seja momentânea , não houve preocupação para a interiorização ou planejamento das mesmas , um exemplo desta característica são as próprias capitanias hereditárias e as sesmarias , onde ao português empreendedor cabia administrar toda a terra que lhe foi cedida pela coroa, este donatário seria um “aventureiro” que exploraria-entre outras culturas- a cana de açúcar. N’uma produção de índole semi-capitalista, orientada sobretudo para o consumo externo, teriam de prevalecer por forca critérios grosseiramente quantitativos. Em realidade, só com alguma reserva se pode aplicar a palavra “ agricultura” aos processos de exploração da terra que se introduziram amplamente no pais com os engenhos de cana. (HOLANDA,1995:50)

Ou, seja sua produção ao mercado externo, não tinha a racionalização de um futuro, de uma “construção” futura, uma nação ou uma extensão do reino, nem mesmo técnicas para além das indígenas eles traziam, era uma cultura rústica, sendo a mão de trabalho escrava seu motor principal, onde as próprias fazendas tinham uma característica “migratória” de exploração sem investimento na terra “A regra era irem buscar os lavradores novas terras em lugares de mato dentro, e assim raramente decorriam duas gerações sem que uma mesma fazenda mudasse de sitio, ou de dono”( HOLANDA,1995:51) A analise de Sergio Buarque também desloca do negro e da miscigenação os motivos de um atraso, ou melhor, dizendo da falta de uma identidade nacional que se impulsiona o país, o problema seria na base étnica europeia, portuguesa onde “a ausência completa, ou praticamente completa, entre eles, de qualquer orgulho de raça. Ao menos do orgulho obstinado e inimigo de compromissos, que caracteriza os povos do Norte” (HOLANDA, 1995:53). Partindo deste pressuposto seriamos um “país acidente” que em sua origem colonial não foi trabalhado para uma construção, mas foi acontecendo entre as aventuras destes colonizadores. Uma figura impar no cenário nacional seria o africano, para Holanda, fator preponderante na nossa sociedade, sendo o motor, a força de trabalho.

O escravo das plantações e das minas não era um simples manancial de energia, um carvão humano a espera de que a época industrial o substituísse pelo combustível. Com frequência as suas relações com os donos oscilavam da situação de dependente para a de protegido, e ate de solidário e afim (HOLANDA,1995:55)

Afirma também que: A influencia dos negros, não apenas como negros, mas ainda, e sobretudo, como escravos, essa população não tinha como oferecer obstáculos sérios. Uma suavidade dengosa e açucarada invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial. Nos próprios domínios da arte e da literatura ela encontra meios de exprimir-se, principalmente a partir do Setecentos e do rococó. O gosto do exótico, da sensualidade brejeira, do chichisbeismo, dos caprichos sentimentais, parece fornecer-lhe um providencial terreno de eleição, e permite que, atravessando o oceano, vá exibir-se em Lisboa, com os lundus e modinhas do mulato Caldas Barbosa (HOLANDA,1995:63)

Outra questão é a estrutura patrimonialista que criava mundos próprios e afins dos donatários o que propicia a falta de solidariedade que Buarque nos diz a “Incapacidade de livre e duradoura associação” (HOLANDA,1995:01), cada um era e seria dono de sua realidade, de sua prole e sua mão de obra, seria desta figura patriarcal que emanaria o poder e auto suficiência, de uma figura personalista

– já descrita por Freyre – traz a ineficiência e falta de

associações á um fim comum.

Estas características também influíram de forma direta na geografia do Brasil, as cidades em nosso país também foram frutos de acontecimentos, de momentos onde tal região (costeira) daria lucro, a própria estrutura das sesmarias onde “parece destinada a conter a povoação no litoral e a que estipulam as cartas de doação das capitanias, segundo as quais poderão os donatários edificar junto do mar e dos rios navegáveis quantas vilas quiserem” (HOLANDA,1995:100)

A cidade, a metrópole, não foi pensada como alicerce de poder, como uma nodosidade no espaço ou sobre o território, não utilizaram destes artifícios para a inserção no território , pelo contrario , mantiveram na costa, voltados para o mar e aos mercados externos. Ao contrario da América hispânica que neste momento refletia uma “ética do trabalho” ao construir cidades no interior

dos territórios, dominando cidades de grandes povos, para assim demonstrar sua preponderância sobre o espaço utilizado : “Mas não e preciso ir tão longe na historia e na geografia. Em nosso próprio continente a colonização espanhola caracterizou-se largamente pelo que faltou a portuguesa: por uma aplicação insistente em assegurar o predomínio militar, econômico e politico da metrópole sobre as terras conquistadas, mediante a criação de grandes núcleos de povoação estáveis e bem ordenados” (HOLANDA,1995:95)

A própria fisionomia das cidades , os espanhóis tinham uma cidade padrão , o que partiria do centro de uma praça, já no Brasil a própria arquitetura é de adaptação ao relevo e as condições “Já a primeira vista, o próprio traçado dos centros urbanos na América espanhola denuncia o esforço determinado de vencer

e

retificar

a

fantasia

caprichosa

da

paisagem

agreste”

(HOLANDA,1995:98). Assim Sergio cria também duas características para as próprias fundações das cidades , junto a ética da aventura viria a ordem do semeador , aquele que apenas planta as cidades, sem nelas trabalhar, já a ética do trabalho traria em si a ordem do ladrilhador , uma urbanização meticulosa e cuidadosa sobre o espaço.

No Brasil surge- como já dissemos- a urbanização de fachada que cobre somente o litoral brasileiro para o escoamento do pau Brasil e posteriormente da cana-de-açúcar para os mercados de Portugal. Criam ilhas urbanas com comunicação quase nula entre si, que formam a imagem do arquipélago de Milton Santos.

O local que se tornaria São Paulo se localizava na área da capitania hereditária de São Vicente, tal região por se localizar de certa forma, distante da faixa costeira não é aproveitada diretamente para a extração de pau-Brasil e posteriormente para a produção de cana-de–açúcar, porém mesmo fora do processo de produção colonial para o mercado externo a região do Alto do Piratininga acaba cumprindo papel importante na colônia.

O processo de ocupação passa pela separação dos indígenas dos meios de produção-da terra-, ou seja, sua expropriação continua é o contexto no qual irão surgir os aldeamentos, pois, o modo de produção familiar-indígena

torna muito difícil seu controle e o controle de seu trabalho, como Ladeira(2008) nos mostra, o espaço-geográfico dos indígenas(no caso ela se debruça sobre os guarani-mbya) é muito amplo, seu modo de produção passa por montagem de tribos, como ela diz, ‘semi-sedentarias’ que migram conforme os chamados materiais (esgotamento e descanso do solo a cada três anos) ou espirituais, seguindo os chamados de nhenderu para a terra da eternidade, que fazia parte de sua mitologia, como a mesma autora coloca, os indigenas brasileiros então colocavam-se em movimento - sempre cercados de uma área core no planalto paulista ou como era colocado o alto do Piratininga que lhes garantiria seu gênero de vida-.

Esta movimentação espacial dificultava o controle sobre o território na região do Piratininga, pensado pelos portugueses que tem nos aldeamentos este processo de controle e sedimentação dos indígenas, ela consistia em territórios que já foram ‘tribos-livres’ localizadas em locais estratégicos como margens de rios, várzeas e acrópoles na qual se faziam o aprisionamento e trabalho escravo – ou semi escravo- dos indígenas, a ideia central era concentra-los para administra-los.

Estes

aldeamentos

se

multiplicaram

por

dois

mecanismos:

aprisionamento de indígenas e a catequização. Formulando dois tipos de aldeamento um aldeamento onde os indígenas ‘aceitam’ viver em comum com os portugueses e outro financiado com terras doados por sesmeiros da região administradas pelos jesuítas, inclusive com a mistificação das construções nos aldeamentos consideradas sagradas até a atualidade pelos guarani-mbya como nos diz Ladeira(2008), existiam nos aldeamentos uma ‘mistura étnica’, entre eles existiam os Guaianazes, Carijós e Tupis.

Em São Paulo a alta

disponibilidade de rios (Tietê, Tamanduateí, Pinheiros) colocaram a região ao derredor da atual capital paulista em destaque para os aldeamentos, no litoral são poucos os aldeamentos que acabam se tornando economicamente rentáveis – Vale o destaque de Itanhaém e Peruíbe- (Petrone,1965).

Tais aldeamentos acabam se fixando no espaço como polos ‘civilizacionais’ que se tornaram diversas cidades vale destaque para ‘aldeias

de convivência’ de Pinheiros e São Miguel, e as com doações de terras e recursos

de

sesmeiros

como

Bauru,

Embu,

Guarulhos,

Itapecerica,

Carapicuíba e Perus, como salienta Petrone(1965) .

De certa forma é este processo territorial que permite a valorização geográfica da região que se tornaria a região metropolitana paulista. Mas qual a função desta extensa região para o Brasil colônia?

Caio Prado Jr. (2012), debruça-se sobre a capital paulista. Ele afirma que a

região já era uma ‘área core’ para os indígenas e nelas já se

concentravam diversas tribos, especialmente seguindo os rios Paraíba, Tiete, Pinheiros e Tamanduateí (ele destaca também os afluentes menores destes rios para a estrutura citadina), soma-se à estes ‘caminhos naturais’ proporcionados pela geomorfologia local o caminho ‘‘Santos ⇌ São Paulo”. O caminho ‘‘Santos ⇌ São Paulo” ganha destaque no texto de Caio Prado (2012:101) por representar a via de acesso da região à colonização, a valorização e utilização desta via, segundo o autor, se da pela dificuldade portuguesa de vencer a Serra do Mar que encontra na região que atualmente é São Paulo, existe um duplo facilitador, um estreitamento acompanhado por um rebaixamento da altitude da barreira orográfica, o que permite a comunicação da região com a metrópole e a sua valorização. A procura portuguesa por adentrar o território encontra neste ponto um facilitador, a necessidade portuguesa de produzir sobre o território e a falta de mão de obra se tornam contraditórios, não atoa o processo de aldeamento surge e o apresamento de indígenas se torna necessário, os caminhos pelos principais rios, o Rio Paraíba ligava São Paulo à Minas Gerais, o Rio Tiete como facilitador para o atual Mato Grosso do Sul, Tamanduateí e Pinheiros como grandes facilitadores do transporte além de rios menores que fariam ligação com Paranapanema ou o Rio Ribeira para o sul do País e os caminhos que ligariam as futuras Jundiaí e Campinas a Goiás e Minas e seguiriam em continuo até o Nordeste.

(mapa 02)

Este continuo de caminhos ficou conhecido como a estrutura da “mão espalmada”(PRADO JR, 2012:32), valorizada até os dias de hoje pelas rodovias federais como se pode ver a seguir

(Mapa 03)

Esta estrutura coloca São Paulo como o ponto de travessia necessário para o incipiente mercado interno de abastecimento, tal característica leva a São Paulo algumas ‘ondas de capitais’ em investimentos justamente nestas vias, as vias de acesso dão lugar ao processo de aldeamentos (descritos acima) que salpicam o entorno de São Paulo ( alguns se tornando vilas e posteriormente cidades).

O processo de apresamento indígena na região cria uma característica diferenciada, em uma sociedade estamental onde ao europeu-português-

católico eram reservadas as sesmarias e ao indígena-de sua nação-pagão era reservado o trabalho, os filhos oriundos destes dois grupos não conquistavam posição social, e como homens livres participavam do apresamento de indígenas, formando uma espécie de força militar não constitucional fadada a caçar mais indígenas no interior, esta pratica sangrenta fica conhecida como o bandeirismo, (associa-se esta internalização no território também ao ciclo de ouro nas Minas) aos poucos a função do porto se impera e cidade ganha uma função de distribuidora nacional fora do arquipélago exportador.

É esta interiorização criada pelos caminhos típicos (da mão espalmada) que coloca São Paulo como um atravessador de mercadorias do mercado interno nacional , a acumulação se da pela circulação, o que cria uma cidade e um transeunte próprio desta cidade de cunho ‘acidental’ e colonial até o inicio do século XIX, com o “fracas relações urbanas”(FUJITA,2008:23)

2.1.3 O meio técnico da circulação mecanizada e dos inícios da industrialização(1822-1889: Primeiros estímulos).

O processo de independência brasileiro foi marcado pela vinda da família real ao Brasil, em 1808. “A transferência da Corte portuguesa para o Brasil em 1808 veio dar à nossa emancipação política um caráter que a singulariza no conjunto do processo histórico da independência das colônias americanas. Todas elas, mais ou menos pela mesma época, romperam os laços de subordinação que as prendiam às nações do Velho Mundo. Mas, enquanto nas decmais a separação é violenta e se resolve nos campos de batalha, no Brasil é o próprio governo metropolitano quem, premido pelas circunstâncias, embora ocasionais, que faziam da colônia a sede da monarquia (...)” ( PRADO JR 1933: 45)

A vinda da família real, foi motivada por uma serie de acontecimentos, como a Era Napoleônica que agitava a Europa visando tornar a França uma potencia industrial, para isso Bonaparte procurou retaliar o monopólio britânico, que era a atual potencia. No ano de 1806, o governo napoleônico impôs o Bloqueio Continental à Europa, o qual exigia que nenhuma nação europeia tivesse relações comerciais com a Inglaterra, o Príncipe regente de Portugal não acatou a ordem francesa e em reposta Napoleão ameaçou invadir o território português. A Inglaterra propôs ajudar Portugal, escoltando a família

real até o Brasil e ajuda militar para proteger os solos portugueses contra Napoleão. Em troca dessa ajuda, Portugal teria de mudar a capital para o Rio de Janeiro e estabelecer um conjunto de tratados que abrissem os portos brasileiros às nações do mundo e oferecessem taxas menores aos produtos ingleses. A abertura dos portos e a criação do Reino Unido do Brasil praticamente cortaram os vínculos coloniais e prepararam a independência brasileira. As revoltas do final do século XVIII, como a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e a Revolta Pernambucana1, mostra o enfraquecimento do sistema

colonial.

Com

a

decadência

desse

sistema,

surgiu

projeto

recolonizador, com ele o “partido Brasileiro”, “(...) o “partido brasileiro” como já era chamado e que representava as classes superiores da colônia, grandes proprietários rurais e seus aliados (...)” (PRADO JR 1933:50) tinha ideias da criação de uma monarquia dual, para preservar a autonomia administrativa e a liberdade de comércio. A revolução do porto em Portugal, em 1820, e a volta da Corte Portuguesa, deixando D. Pedro como regente do Brasil. Fez com que a burguesia portuguesa exigisse que o Brasil voltasse à situação de colônia. “Os meses que medeiam da partida de D. João à proclamação da Independência, período finam em que os acontecimentos se precipitaram, resultou num ambiente de manobras de bastidores, em que a luta se desenrolava exclusivamente em torno do príncipe regente, num trabalho intenso de o afastar da influência das cortes portuguesas (...).( PRADO JR 1933: 52)

No final do ano de 1821 a corte portuguesa exige a volta de D. Pedro, a obediência das províncias a Lisboa e fim dos tribunais e partidos brasileiros. Essas exigências começaram uma onda de inquietação por todo Brasil, o “partido brasileiro” passou a apoiar a independência e se estabeleceram uma serie de organizações contra a colonização. Com toda essa inquietação em solos brasileiros D. Pedro resolveu desacatar as ordens da Corte Portuguesa e ficar no Brasil. Então em 1822 com a possibilidade de tropas portuguesas serem enviadas ao Brasil D. Pedro rompe definitivamente os laços de união política com Portugal. “Resulta daí que a Independência se fez por uma simples transferência política de poderes da metrópole para o novo governo 1

Costuma-se pensar como um período no qual o Brasil ameaçava se dissolver e dividirse em vários pequenos Estados. Uma explicação para a não dissolução é a elite altamente interligada.

brasileiro. E na falta de movimentos populares, na falta de participação direta das massas neste processo, o poder é todo absorvido pelas classes superiores da ex-colônia, naturalmente as únicas em contato direto com o regente e sua política. Fez-se a Independência praticamente à revelia do povo; e se isto lhe poupou sacrifícios, também afastou por completo sua participação na nova ordem política. A Independência brasileira é fruto mais de uma classe que da nação tomada em conjunto.” (PRADO JR 1933: 52)

Como vimos, São Paulo surge como uma vila de dispersão de mercadorias, com algum valor para o abastecimento interno da colônia portuguesa (Brasil), porém com baixa inserção nas funções da mesma para a metrópole (exportação de produtos exóticos e cana-de-açucar) é somente durante o Império que a região ganha vultos de grandeza mostrando um crescimento econômico impressionante.

Acontece no séc. XIX ocorre a chamada

frente pioneira de café, a

primeira monocultura que vai ganhar força nas produtivas terras paulistas- ou seja, junto da transformação politica ocorre uma transformação produtiva-, o café foi um produto tão importante para a região que Suzigan(1986) afirma que o capital e talvez a propria industrialização de São Paulo tenham surgido impulsionados pela produção de café, por ter gerado em torno de si fatores importantissimos como capital ocioso, infraestrutura energética e de transporte e mão de obra que dara vasão à um mercado consumidor.

Abreu(1999) afirma que do periodo colonial até 1940 o Brasil exportou aproximadamento 3,4 bilhõe de libras, destas 2 bilhões vieram à partir do café , São Paulo produz neste periodo 90% do café do mundo, sendo que 2/3 da população mundial estava sendo condicionada ao costume de tomar café, com a independencia dos EUA em consilidada no ultimo quartel do séc. XVIII coloca-a como a principal importadora do Brasil, iniciando um novo ciclo geopolitico de dependencia de capital Norte-Americano, entre 1825 e 1929 aproximadamente 70% da exportação nacional se da a partir do café. Como nos Reforça W.Dean. “A procura dos Estados Unidos e na Europa crescia á medida que a indústria aumentava de produtividade; o café do Brasil, de qualidade inferior se

apropriava do consumo de massas” (Dean,1971:09). Isso se da pelo café ser um estimulante natural, o que auxiliava na extenuante jornada de trabalho de meados do sec. XIX . Tais dados colocam São Paulo como grande capitalizador de café, mas oque propicia o surgimento de tal cultura em solo paulista?

Em primeiro momento devemos levantar os fatores edaficos, o solo paulista ainda virgem e coberto de latossolos vermelhos associado ao clima são favoraveis, a cultura de café vem se alastrando des da baixada fluminence do Rio de Janeiro no primeiro quartel do séc XIX, o aumento do consumo faz o café ganhar em fronteira agricola tomando o Vale do Paraiba, proximo aos portos intermediarios, intermediado e transportando por mulas e tropeiros. São Paulo se destaca que por seu fator de “distribuidor”, pelo porto de Santos e certa acumulação interna concentra as atividades do café, quase as monopolizando em todo o séc XIX . “São Paulo conseguiu uma expansão máxima da produção de café numa fase em que havia mercado para este produto, por que o nível de vida estava em elevação na Europa e nos Estados Unidos. Os recursos obtidos permitiram uma realização econômica diversificada na área cafeeira. Como os preços eram favoráveis e no volume de produção crescia rapidamente, parte do salario podia ser liberada para um consumo mais amplo, ao mesmo tempo uma industrialização nascente se fez numa fase em que o progressos técnicos eram menos rápidos, de sorte que o tempo de vida de uma fabrica era maior e a cada necessidade de aumentar a produção uma fabrica era agregada.” (SANTOS & SILVEIRA,2008:37)

Dean ainda complementa, “por volta de 1850, a onda de cafezais penetra o lado paulista do Vale do Paraíba e estendera-se até a região de campinas, além da capital da província” (Dean,1971:09), como vemos no mapa abaixo:

(mapa 04) O café produzido nas terras de fronteira - a oeste do Vale do Paraíba e sentido a província -parece prevalecer e será central para a economia do Estado de São Paulo, determinados fatores irão contribuir para isso, segundo o próprio Dean (1971), a praga em Ceilão (no período colônia portuguesa no que hoje é o Siri Lanka) que devastou os cafezais, eliminando seu principal concorrente, a abolição da escravidão em 1888 que introduziu uma mão de obra livre e o inicio da republica, a partir do golpe dos militares no mesmo ano criou uma estrutura econômico e de Estado descentralizada que propiciou ao capital acumular-se na região sem maiores empecilhos e distribuição territorial, e os resultados são evidentes: “Os embarques de café de Santos, o porto de mar de São Paulo, mais do que dobraram a cada década que passou após 1870. Em 1892, Santos exportou 40 milhões de dólares de café; em 1912 suas exportações totalizaram 170 milhões. A população elevou-se

de

837.000 em 1872, para 2283000 em 1900 e quase 4000000 o irromper da primeira guerra mundial- aumento superior a 14% ao ano. Neste interim a capital crescia ainda mais depressa. Aldeia de 23000 habitantes em 1872, sua população totalizava 580000 em 1920.” (Dean,1971:10).

Para

tal

processo

de

produção

ocorrer

é

nescessario

um

‘destravamento’ das terras, ainda atreladas ao Estado pela lei de sesmarias, suspensa em 1822, tem de dar vasão à uma nova legitimação em 1850 , após

a independência do país, surge a nova lei de terras . A lei n° 601 de 1850, proclamada por D. Pedro II, e trazia uma série de normativas para uma nova abordagem sobre o território agrário do Brasil, que analisaremos a seguir: No primeiro parágrafo a lei já anuncia seu objetivo: ’’Dispõe sobre as terras devolutas no Império, e acerca das que são possuídas por titulo de sesmaria sem preenchimento das condições legais. bem como por simples titulo de posse mansa e pacifica; e determina que, medidas e demarcadas as primeiras, sejam elas cedidas a titulo oneroso, assim para empresas particulares, como para o estabelecimento de colônias de nacionais e de estrangeiros, autorizado o Governo a promover a colonização estrangeiro na forma que se declara.”

A lei dispõe que as terras já ocupadas sobre titulo das sesmarias, ou demais títulos pré- independência tornam-se propriedade de seus donatários, deste objetivo claro já surgem as primeiras problemáticas, a partir da mudança politica de 1822 o país fica até o período desta dada lei sem legislação vigente o que propiciou possessões de terras e ocupações cujo quais o Império teria de lidar, a origem das grilagens acontece para legitimar estas possessões. “Grilagem é um processo de falsificação de documentos das propriedades fundiárias. O termo nasceu do dito popular e foi descrito por pesquisadores e escritores. Segundo a explicação de Monteiro Lobato, grilagem é a técnica de se envelhecer papéis usando grilos: os papéis são colocados em gavetas com centenas de grilos, estas são trancadas e assim que os insetos morrem, apodrecem soltando toxinas que mancham os papéis, dando-lhes, assim, o aspecto de velho.” (F.FERNANDES APUD RAMALHO,2002:49).

Veja em seguida: “Art. 1º Ficam prohibidas as acquisições de terras devolutas por outro titulo que não seja o de compra.” Sobre o artigo 1°, fica claro o inicio da propriedade privada sobre a terra e a mercantilização da mesma criando assim uma estrutura e nova fonte para multiplicação e controle de capital tanto para o Estado como para a iniciativa privada. O Estado lançava novos lotes para venda das terras devolutas segundo previsto no décimo quarto Artigo: ” Art 14.Fica o Governo autorizado a vender as terras devolutas em hasta publica, ou fóra della, como e quando julgar mais conveniente, fazendo previamente medir, dividir, demarcar e descrever a porção das mesmas terras que houver de ser exposta á venda”

Exigia o pagamento a vista em moeda nacional, o que claramente restringe o acesso às camadas mais elevadas economicamente-aristocracias agrárias/urbanas –a aquisição de terras diretamente do Estado não deixou de ser um privilégio como nas sesmarias, apenas promovia uma movimentação de capital para acumulação do Império, além de vantagens de compra previstas no décimo quinto Artigo. “Art 15. Os possuidores de terra de cultura e criação, qualquer que seja o titulo de sua acquisição, terão preferencia na compra das terras devolutas que lhes forem contiguas, comtanto que mostrem pelo estado da sua lavoura ou criação, que tem os meios necessários para aproveita-las.”

O artigo terceiro e quarto definem as terras devolutas, dividindo-as como aquelas que não estão fora de uso publico/nacional e as terras não caracterizadas como propriedade, além das legisladas pelas sesmarias no regime anterior: “Art. 3º São terras devolutas: § 1º As que não se acharem applicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal. § 2º As que não se acharem no dominio particular porqualquer titulo legitimo,nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial,não incursas em commissopor falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. § 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo,que, apezar de incursas em commisso, forem revalidadas por esta Lei. § 4º As que não se acharem occupadas por posses, que, apezar de não se fundarem em titulo legal, forem legitimadas por esta Lei. Art. 4º Serão revalidadas as sesmarias, ou outras concessões do Governo Geral ou Provincial, que se acharem cultivadas, ou com princípios de cultura, e morada habitual do respectivo sesmeiro ou concessionario, ou do quem os represente, embora não tenha sido cumprida qualquer das outras condições, com que foram concedidas.”

O Artigo 5° traz uma abertura na lei para posse de povos e famílias tradicionais sobre uma série de prerrogativas, uma delas no § 2 que traz no caso destas comunidades, famílias ou nos termos da lei “posseiros” estiverem sobre propriedade de sesmarias caberá apenas um pagamento de indenização o que compreende a uma nova problematizarão para o Império, sobre os títulos que surgiriam sobre fazendas e/ou comunidades já estabilizadas, quase

sempre realizadas a favor do titulo (real ou não) em detrimento destes coletivos. ”Art. 5º Serão legitimadas as posses mansas e pacificas, adquiridas por occupação primaria,ou havidas do primeiro occupante, que se acharem cultivadas,ou com principio de cultura,e morada, habitual do respectivo posseiro [...]§ 2º As posses em circumstanciasde serem legitimadas, que se acharem em sesmarias ou outras concessões do Governo, não incursas em commisso ou revalidadas por esta Lei, só darão direito á indemnização pelas bemfeitorias.”

Dos artigos 6 ao 13 tratam-se de medidas técnicas de medições, apossamento e possessões de terras no 16° encontramos uma medida curiosa já prevendo a importação de estrangeiros para terras nacionais, para fins de povoamento e cultura tentando assim conciliar e criar a mão de obra assalariada para consumo, tão cara ao país, prevendo e já legalizando o movimento de migração da década de oitenta do mesmo século oque viria a ser a força de trabalho necessária ao capital porém com toda uma roupagem de um patronado escravagista. “Em nossas terras, o interesse dos latifundiários,acostumados ao sistema escravagista, não caminhava para introdução de pequenos agricultores independentes, eis que aqueles queriam produzir em seus latifúndios –e em alguns casos até mesmo tentaram reproduzir em suas terras, com os imigrantes -formas de trabalho não muito diversa do que alcançavam com escravos, pagando baixíssimos salários e impondo que a compra de bens de consumo se fizesse em negócios administrados por eles” (CAVOLAN & GONZALES,2008:11).

Estas caracterizaram estão previstas no artigo abaixo: “Art. 17. Os estrangeiros que comprarem terras, e nellas se estabelecerem, ou vierem á sua custa exercer qualquer industria no paiz, serão naturalisados querendo, depois de dous annos de residencia pela fórma por que o foram os da colonia de S, Leopoldo, e ficarão isentos do serviço militar, menos do da Guarda Nacional dentro do municipio.” “Art. 18. O Governo fica autorizado a mandar vir annualmente á custa do Thesouro certo numero de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que for marcado, em estabelecimentos agricolas, ou nos trabalhos dirigidos pela Administração publica, ou na formação de colonias nos logares em que estas mais convierem; tomando anticipadamente as medidas necessarias para que taes colonos achem emprego logo que desembarcarem. Aos colonos assim importados são applicaveis as disposições do artigo.”

Ao analisarmos dada lei em relação a algumas outras da época encontraremos um panorama bem propicio para multiplicação de capital desta elite , como por exemplo a lei Euzébio de Queiroz proclamada no mesmo ano , que pela influencia Inglesa, suspende a compra brasileira de escravos pelo comercio transatlântico , oque fomenta e infla o valor do escravo no mercado interno em conjunto com a “lei hypotecaria”de 1864 que traz entre outras coisas em seu segundo artigo :“Art 2[...] § 1° só podem ser objecto de hypotheca:[...] Os escravos e animais pertencentes ás propriedades agrícolas, que forem especificados no contracto, sendo com as mesmas propriedades”, o que propicia uma transferência do valor, ou seja , de capital investido muitas vezes ancestralmente, do escravo para a aquisição de moeda, neste caso, em sua maioria, investido em novas terras, vale ressaltar também que naquele dado momento histórico já se sabia ou se esperava sua alforria pelas pressões dos mercados externos oque torna este artigo uma fuga histórica para manutenção de poderio destas elites.

Desta forma o grilo-registro de terras obtidas ilegalmente-, o sobre valor do escravo para crédito e o próprio capital agregado associado à mercantilização da terra e a propriedade privada da mesma criam o habitat perfeito para a multiplicação do capital e a concentração da terra.

A concentração de capitais na produção cafeeira traz consigo a necessidade de investimento em novas infraestruturas, para a circulação de novos capitais, surgem novas ferrovias, parte impulsionada pelos próprios fazendeiros, parte levada a cabo pelo Estado, elas seguem vales de rios e espigões pelos caminhos típicos e confluíam na cidade de São Paulo e seguiam para Santos, inaugurando uma nova urbanicidade na região, um novo polo e método de desenvolvimento e distribuição da população local.

O ciclo do café, como a lei de terras já insinuava é alimentado não só da mão de obra brasileira, mas de um grande fluxo de imigrantes ao Brasil.

Para que tal processo ocorra necessitasse de um grande investimento e catalisação de infraestrutura até mesmo para uma unificação nacional na

produção da nova mercadoria brasileira, não atoa Milton Santos nos fala de“Uma transição pode ser observada entre o período anterior, herança da época colonial pré-mecânica, e a verdadeira integração nacional”(SANTOS & SILVEIRA,2008:37) um dos pontos importantes desta ruptura é a comunicação que com “O desenvolvimento da comunicação interna reforça a presença do Estado nacionais, mas também dos governos provinciais, enquanto o cabo submarino facilita ainda as relações externas, localizando-as de maneira mais restrita. O telegrafo inovação técnica presente no Brasil dês de 1852[...]”(SANTOS & SILVEIRA,2008:39)

Tal transição passa pela mecanização do espaço a partir da instalação de próteses no espaço, ou seja, de sistemas e engenharia capazes de integrar do grande arquipélago urbano nacional, focados nos pontos de dispersão da mercadoria, o que pode ser percebido por alguns sintomas como “a área de produção e a distribuição de energia até o inicio do séc. XX circunscreveram-se aos centros urbanos e a essas áreas de maior espessura da divisão do trabalho” (SANTOS & SILVEIRA,2008:37) Tal processo é extenso se inicia “a partir 1850, convidavam a construção de cais nos portos do Rio de Janeiro, Bahia, São Luís do Maranhão, Recife, Cabedelo e as docas do Belém do Para, que até então operavam como precário ponto de desembarque. No Rio do Janeiro a novas infraestruturas portuárias nascem em solidariedade com as primeiras estradas de ferro de Pedro II” (SANTOS & SILVEIRA,2008:33) “Pode-se dizer que este é o momento da mecanização do território brasileiro e também da sua motorização, com a extensão, em sistema com os portos, de linhas ferroviárias. Até a década de 1940,a expansão da rede aumenta num ritmo importante, porém com profundas diferenças regionais.” (SANTOS & SILVEIRA,2008:38)

Estes trechos são importantes para compreender que a mecanização do espaço perpassa pela instalação de energia elétrica que é fundante para as futuras industrias e o nascente mercado do café , modificando profundamente o dia a dia das metrópoles, outro ponto para a integração do território são as linhas de ferro, que integram área antes “isoladas” ao mercado. Nesta fase a acumulação se da pela ‘agro-exportação’, e a cidade se transforma de forma permanente pelos capitais agregados e esta nova forma de entender e construir a cidade, podemos dizer que este urbano segue de

1850

até

1910,

do

polo

urbanístico

temos

“os

primeiros

estímulos”(FUJITA,2008:30).

2.1.4 A formação da Região Concentrada e a urbanização interior (1889-1945: primeira aceleração urbana) Porém a nova fase em 1910 não se mostra antes das transformações politicas e materiais – novamente- da nação. A década antes da virada do século traz consigo uma nova forma politica, a republica, levada a cabo por um golpe militar –contraditoriamentemarcava a transmissão do poder, de fato, para as oligarquia agrarias paulistas e mineiras em 1888 (republica que ficou apelidada de ‘café com leite’) que surgem no bojo do abolicionismo e no desejo de direção direta das oligarquias. Segundo Silva(2007) a transição do Império a republica não alterou os poderes previamente estabelecidos mas foi uma transição politica importante no sentido que expandiu o direito ao voto, mas que “ficou conhecida entre 1894 e 1930 como republica das oligarquias por que baseou toda sua ação politico-administrativa na existência de oligarquias estaduais. Estas eram definidas, como já vimos, por grupos bem fechados, constituídos por elementos das classes dominantes (latifundiários)e que exerciam o monopólio do poder politico em seus Estados[...] naturalmente as oligarquias mais poderosas (paulistas e mineiras) tinham uma influencia decisiva no cenário politico nacional”(SILVA,2007:14)

Soma-se à esta transformação a politica global e o abolicionismo que irão transformar profundamente o Brasil e São Paulo e estimula a sua modernização gradual e definitiva.

O café trouxe para São Paulo mais do que o insumo, trouxe consigo uma economia monetária, segundo Dean este é um passo importante, a circulação de moeda estimulou a “ instalação de umas poucas fabricas de tecidos na província na década de 1870” (Dean,1971:11), a renda monetária estimula a criação de um pequeno mercado interno – senhores vestiam seus escravos do produto bruto destas industrias, assim como a mão de obra que imigrante que começa a chegar pouco antes -.

É importante contextualizar, desde 1850 a Inglaterra fazia pressão para que os países do mundo deixassem o trabalho escravo, isso se dava principalmente por dois motivos, a base filosófica e econômica do “laissez faire” que primava pelo trabalho livre e a necessidade de incrementar o mercado consumidor interno das economias sobre sua influencia. O Brasil entra de forma relutante e com forte resistência neste processo a lei Eusébio de Queiroz já proibia o trafico negreiro para o país, inaugurando um árduo caminho para a abolição do trabalho escravo, uma saída desses senhores de terra vem na própria lei de terras do mesmo ano, a lei de terras tornou a terra uma mercadoria, monetizada por moeda nacional, ou seja uma mercadoria, como vimos a moeda apesar de começar a circular na economia de São Paulo, -não fazia o mesmo em outras regiões - o que restringiu o aceso a terra para as camadas mais empobrecidas e escravos que começavam a conquistar, ano a ano até 1888, a sua liberdade, porém a mesma lei traz em seu art. 17° e 18° a saída para esta elite agraria, como já demonstramos, o Estado brasileiro passaria a importar mão de obra estrangeira para trabalhar na terra, tal fluxo, principalmente advindo da Europa de países como Itália e Espanha- só veio com força á partir de 1870, porém teria – a contra gosto da elite local- um trabalho livre e assalariado – regrado a trabalho semiescravo por divida, mas que será superado em seguida- esta mão de obra livre segundo Dean(1971:11) “Com o advento da mão de obra livre, o uso do dinheiro difundiu-se pela massa da população. Nas áreas do Brasil em que não vigorava o sistema de produção e exportação, a Abolição não aumentou, substancialmente, a necessidade de dinheiro para o pagamento de salários, pois os homens que haviam sido libertados continuavam a trabalhar como meeiros não pagos.”

O autor ainda completa : “Em São Paulo, os plantadores descobriram ser impossível atrair trabalhadores da Europa sem lhes pagar salario em dinheiro. Descobriram além disso, que o salário lhes era vantajoso. O emprego mais econômico do esforço dos trabalhadores rendia na produção do café, não nas culturas de subsistência; portanto os colonos – trabalhadores imigrantes- foram proibido de plantar coisa alguma.” (Dean,1971:11)

Chegamos ao quadro de 1888, a abolição multiplicou esta qualidade de trabalho migrante, porém sua renda assalariada não foi incrementada de

imediato no mercado interno da província, eles têm a tendência à poupança – pagar a divida e ‘se libertar’, sonho de comprar a própria terra, sonho de voltar para a terra natal- as péssimas qualidades de empregos e condições o forçavam ao retorno ou a poupança- estes salários baixos criavam uma renda extraordinária ao café-. Como o autor nos lembra: “Limitavam a escala de consumo , nas áreas rurais os baixos salários oferecidos pelo fazendeiro, que conseguia guardar para si como lucro, uma parte considerável da renda de café; um relatório bem informado alude a um rendimento de 80% sobre o capital até nos anos maus de meados de 1890” (Dean,1971:11)

Mesmo assim o “operário agrícola exigia apenas os instrumentos mais simples: enxadas, sacos de algodão, café e pouco mais que isso.” (Dean,1971:14), mesmo assim esta demanda reprimida, ERA UMA DEMANDA, e no sentido mais clássico do termo, cria para si uma oferta, algumas industrias começam a surgir, além disso : “O comércio do café não gerou apenas a procura da produção industrial: custeou também grande parte das despesas gerais, econômicas e sociais, necessárias a tornar proveitosa a manufatura nacional. A construção de estradas de ferro proveio toda a expansão do café.[..]A construção das estradas foi feita os próprios plantadores com seus lucros e estrangeiros[...]”(Dean,1971:14).

Dean ainda descreve os processos de produção de energia advindas do mesmo processo, desta forma a indústria fortalecendo-se á partir de 1899 até o fortalecimento da Light and Power Company, fortalecendo a mecanização. Até a década de 20’ a indústria ira se enveredar para um setor de consumo local de baixo custo: “Os primeiros produtos que ali se fabricaram foram aqueles cuja relação entre o peso e o custo era tão alta que até com técnicas mais rudimentares custavam menos para comprar da Europa.[...] ao menos até 1920 os paulistas só estavam produzindo, com pouquíssimas exceções, artigos volumosos e de valor intrinsicamente baixos." (Dean,1971:14).

O desenvolvimento industrial segundo o Dean (1971) caminha para, a primeira fabrica propriamente dita da cidade seria uma siderurgia de 1810; 1811 surgiria a primeira fiação de algodão; em 1836, a primeira usina a vapor para refinar açúcar em Santos; 1852 apenas cinco fabricas; 1853 seriam seis; 1870 novas fiações e algumas poucas serrarias;1885 seriam treze fiações de algodão, uma de lã, pelo menos quatro fundições, uma fabrica de fósforos e um numero desconhecido de serrarias; 1895 seriam 121 firmas de energia mecânica , mas apenas 52 industriais somente na capital ; 1901 seriam 170 sendo 50 empregavam mais de 100 funcionários; em 1920 se imagina que 293 firmas sobreviventes que possuíam o período de fundação entre 1850 e 1900. – como resumido na tabela abaixo: Firmas industriais



Ano

N° de firmas

1810

01*

1811

02

1836

03

1852

05

1853

06

1885

19*

1895

52

1901

170

1920

293 *Dados aproximados apenas

Números próximos ao do texto de W.Dean

Fonte: W.Dean,1971:17

Tabela 01

Como os próprios dados mostram são imprecisos, mas demonstra algo crucial mesmo assim, a tendência do crescimento da importância das indústrias na região até 1920. É a inversão de capital do café que propicia o surgimento desta nova indústria marginal ao produto primário-exportador, e que tornaria São Paulo, com o fim da valorização do café e perda das vantagens competitivas do Brasil em relação a um polo dinamico industrial. “O primeiro levantamento geral da atividade industrial no Brasil foi efetuado em 1907[...] a maior parte do consumo aparente de vários produtos manufaturados de uso corrente no País já era atendida pela

produção nacional. [...] a industrialização de uma economia previamente especializada na produção de produtos primários para exportação não é um fenômeno trivial, mesmo ao nível da experiência histórica” :[...]“1907, foi de cerca de 150.000 operários” [...]1907, com o inquérito levado a efeito pelo Centro Industrial do Brasil.[...] A predominância do setor têxtil algodoeiro fica clara, no dados desse levantamento: 35% do capital investido, e 30% da mão-de-obra, correspondia a cotonifícios.[...]Em 1907, a produção interna de tecidos de algodão foi superior a 300 milhares de metros, e era duas vezes superior, em valor, às importações nesse item. Ou seja: dois terços do consumo aparente já eram supridos pela produção doméstica” .(Versiani & Suzigan,1990:04)

É surpreendente que em 1907 já existam uma industrialização para consumo nacional acrescentando uma mão de obra de 150.000 operários, sendo 35% do capital investido voltado a cotonifícios (algodão) e 30% da mão de obra (o dado já colocado), produzundo dois terços do que o Brasil consumia. 1885 punham a produção daquele ano ao nível de 38 milhões de metros, o que representava não mais do que um quinto das importações brasileiras de tecidos de algodão provenientes da Inglaterra.[...] nas duas décadas anteriores a 1907, um processo acentuado de substituição de importações na indústria têxtil; os números acima indicam um crescimento da produção na ordem 10 % a.a .(Versiani & Suzigan,1990:04)

Em 1885 a produção de algodão no Brasil era de pouco menos de um quinto do consumo nacional (38 milhões de metros de algodão), crescendo vertiginosamente até 1907 (ordem de 10% a.a).Esta evolução técnica também é descrita por Marson (2012), o autor descreve que até 1873 “as empresas de maquinas, oficinas mecânicas e fundições faziam parte de um núcleo urbano artesanal”(2012:78), porém já em 1891 estas mesmas empresas já tinham ligação com mercado exterior- produziam algumas maquinas e importavam o restante-, como o autor diz, “estas eram ‘casa-de-importação’ de propriedade de imigrantes comerciantes” (MARSON,2012:88), a primeira guerra diminui as importações forçando estas empresas a começarem a desenvolver tecnologias. Marson nos mostra o germe do amadurecimento da indústria, mesmo em seu primeiro momento enquanto indústria de volume.

Porém este fenômeno não é comum, geralmente os agrários latinoamericanos não fazem este processo e uma parte dos próprios cafeicultores faliram e não formariam esta futura burguesia, marcadamente os do vale do Paraiba. O que criara este processo? O autor(Dean,1971) nos lembra que a elite agrária paulista estava dividida em dois pontos o Vale do Paraíba e o Oeste Paulista em expansão, por que o Oeste reinvestiu em industrias e o Vale do Paraíba sucumbiu? Existem várias perspectivas a respeito, mas a que o autor destaca é a longa exploração do vale, e o empobrecimento do solo da região que impossibilitou a cultura de café e levou o investidor da região a investir altos valores na aquisição de novas terras – geralmente a Oeste- e a associação do Vale do Paraíba a um modo mais tradicional de produção ligado ao caro e pouco dinamizante trabalho escravo, enquanto o Oeste se beneficiava do trabalho livre, assalariado, com demandas de uma população livre, isso leva à cidades que já foram gigantes econômicos como Bananal à pararem no tempo enquanto a futura megalópole (São Paulo-Campinas) se desenvolvia a passos largos,por outro lado o autor associa o investimento no caso brasileiro em novas industrias ( ao contrario do que ocorria na América latina) pelos próprios agrários, pelo fato do café ter um custo de produção alto apenas em sazonalidades – períodos de cinco anos, para compra de novas terras, construção de novos sítios, etc- no restante do período o capital excedente ficava livre para diversos investimentos procuram esta nova atividade rentavel.

(mapa 05) Por fim o autor completa a falta de necessidade de troca de uma elite para a troca de meios de produção, ele elenca as reais variantes para este feito: “A mudança de meios de produção não requer, necessariamente, mudança na composição da elite que controla e desfruta de novas fonte de riqueza” (Dean,1971:54). E ainda completa com fatores realmente importantes: “(1) as vantagens de êxitos anteriores como acumulação de capital, posse de poder politico (2) os estímulos econômicos objetivo, que incluem lucros potencialmente elevados e o desafio das tarefas envolvidas, de tecnologia e organização; e (3) os fatores que desacorçoam a competição de outros grupos” (Dean,1971:54)

Durante este processo determinados tais fatores surgem a partir de 1890 até a década de 1930, se o poder agrário estava nas mãos das republicas o poder industrial da nascente FIESP surge nas mãos Varguistas2, as tecnologias estavam disponíveis pela melhora tecnológica no mercado mundial 2

* FIESP é criada em Junho de 1931 **Vale lembrar que a elite agraria paulista e parte da FIESP foram oposição constante do varguismo, apoiando o constitucionalismo em 1932, por exemplo.

que barateou maquinas manufatureiras, além do quase exclusivismo paulista nesta

industrialização

insipiente,

foram

estes

fatores

suficientemente

organizativos para esta virada na produção. É importante olhar também para a vida neste urbano, nas décadas anteriores na cidade de São Paulo até o marco de trinta, o fator moradia já imperava desde 1890 como um problema centralizado na cidade, “O cortiço é a modalidade da habitação precária mais antiga em São Paulo. Ao contrário da favela ou da assim chamada "casa própria de periferia", está ligado aos primórdios da industrialização que se iniciou nas últimas duas décadas do século XIX.[...]1890 tinha 65 mil habitantes, aumenta vertiginosamente em decorrência do grande fluxo de imigrantes”(Kowarick & Ant, 1982:59)

O cortiço torna-se desde 1890, e se mantém na década de 1910, como a principal moradia do proletariado, que na falta de um sistema de transporte desenvolvido teriam de morar ao derredor de seus locais de trabalho. Porém, na falta de salário suficiente para alocar uma casa unifamiliar optavam pelos cortiços que se multiplicavam pela cidade.

Neste processo de criação de uma indústria de volumes, criam-se os bairros operários também, aos pés da fabrica e construídos para os trabalhadores de cargos medianos era um bairro organizado, porem sobre o "autoritarismo privativista” (Kowarick & Ant, 1982:59),ou seja, o trabalhador estava totalmente nas mãos do patrão, recriando um fordismo moralizante advindo do exterior, vale lembrar que “Neste contexto inexistia qualquer mediação estatal que desse um mínimo de ordenamento à flagrante anarquia do capital em relação à exploração da força de trabalho.[...]Desta forma, o destino residencial da imensa maioria dos trabalhadores urbanos era o cortiço e mesmo aí, morando em péssimas condições de habitação, todos os membros da família precisavam trabalhar, não conseguindo, no mais das vezes, escapar de uma situação marcada por flagrante miséria que redundava em doenças e mortes prematuras. Isto porque o aluguel de habitações ”unifamiliares” e “hygienicas” correspondia, na melhor das hipóteses, a mais da metade do salário da classe trabalhadora que vivia em São Paulo”(Kowarick

& Ant, 1982:60)

Existiam os bairros de cortiço mesclados com os casarões das classes médias e abastadas e bairros operários eram paisagem comum na cidade ainda pouco segmentada na década de 10’ Mas isto não significava, por outro lado, que São Paulo das décadas iniciais da industrialização fosse uma cidade muito segregada. Sem dúvida, existiam bairros onde se concentrava a população trabalhadora — Brás, Mooca, Bom Retiro, Bexiga — ou, inversamente, aqueles onde residiam os grupos ricos — Campos Elísios, Higienópolis ou avenida Paulista. Mas, no seu conjunto, não só a cidade era bastante adensada, pois ela se expandiu através de uma forma de ocupação do espaço que não se estruturava no padrão periférico de crescimento, como também era freqüente a presença de cortiços em contigüidade a áreas onde residem as camadas mais abastadas.”(Kowarick & Ant, 1982:59)

Uma marca do surgimento da burguesia propriamente dita é a luta operária ter surgido de forma qualitativamente diferente das lutas agrárias anteriores, agora sobre a liderança dos imigrados, principalmente italianos, a luta de classes se acirra forjando o proletariado e também colocando o burguês industrial enquanto tal. A greve geral de 1917 3 (que inaugura um longo período de insurreição e transformação da cidade até a queda da republica em 1930), liderada por São Paulo, mostra a necessidade de transformação da cidade, ou melhor, como o meio urbano precisava se adequar a nova estrutura social/econômica. “os conflitos operários que eclodiram nos primórdios da industrialização, encarados enquanto "virulento" fator que "contamina" a "pax urbana". De fato, as greves são freqüentes e violentas, colocando constantemente em xeque os padrões de uma acumulação virtualmente calcados na superexploração do trabalho. O movimento operário durante a Primeira República atinge seu ápice durante a greve geral de 1917. Neste particular, convém mencionar que a luta dos trabalhadores naquele ano não se deu em torno de sindicatos, centrando-se em torno das ligas de bairro.” (Kowarick & Ant, 1982:59)

O que leva gradativamente a criação de um projeto de segregação espacial que ira se impulsionar na cidade enquanto a indústria se implementava sobre o consumo desta massa assalariada, como nos lembra Versianio e Suzigan “Os setores Têxtil e de Produtos Alimentares predominaram amplamente, na fase inicial do desenvolvimento da indústria: no 3

*Greve geral organizada principalmente pelos anarquistas, ideologia carregada por parte dos imigrantes Europeus. **1917 também marca o ano da revolução soviética na Rússia

Censo Industrial de 1920, esses dois gêneros eram responsáveis por quase 60%[...] acrescenta a produção de outros bens não-duráveis de consumo como Vestuário, Calçados e Bebidas, aquela proporção chega a 70%.[...] constituídas principalmente de estabelecimentos de pequena escala, utilizando métodos de produção semi-artesanais [...]primeiras fases da industrialização -- definida como o desenvolvimento da produção fabril, como formas mecanizadas de produção –[...] indústria de tecidos[...]fiação e tecelagem de algodão.”(Versiani & Suzigan,1990:03)

Na década de 20’ a indústria têxtil e de produtos alimentares ( associada as industrias colaterais com bens não-duráveis como vestuários, calçados e bebidas) chega a 70% do total da indústria, com uma base semi-artesanal e se coloca como um impulso técnico em direção a mecanização da produção e do espaço.

Chavantes(2004) nos mostra a reforma bancária de 1921 como um marco para a economia financeira do país. Segundo a autora acontece uma consolidação do setor Bancário em São Paulo na década de 1920,marcada por uma característica regulamentaria em 1921 que cria os bancos de alta reserva , o que ‘alivia’ o efeito da crise de 1929 no sistema bancário nacional e criando um sistema bancário bastante conservador que perdura por toda a história nacional: Referimo-nos às medidas implementadas pelas Reformas Bancárias de1921, em particular a Lei de Fiscalização e o Redesconto, que foram as grandes responsáveis pela consolidação do setor bancário brasileiro. As empresas bancárias ao longo da década de 1920 tornaram-se fortalecidas delineando um comércio financeiro de um razoável grau de solvência, capaz de absorver os impactos da Crise de 1929, sem que sofressem significativos abalos em suas estruturas (CHAVANTES,2004:137)

Tais leis criariam um sistema bancário maduro e demonstram a importância que o sistema bancário formal já havia atingido no estado de São Paulo, e mais especificamente na cidade.

Paralelo a isso, a autora ira nos levantar uma situação econômica de 1928, a qual o Brasil já passava por grave recessão, e que estimulou bancos, empresa e como veremos a seguir uma nova politica NEUHAUS assinala a presença de forte recessão interna a partir do ano de 1928, desencadeando uma avalancha de falências, que, por

sua vez, impeliu o Banco do Brasil a adotar critérios mais rigorosos para a concessão de crédito. Partindo da mesma idéia, MARQUES afirma que, mediante o grande número de falências de empresas do Rio de Janeiro ocorridas ao longo do ano de 1928, os bancos privados da Praça do Distrito Federal seguiram a mesma estratégia efetuada pelo Banco do Brasil, retraindo a oferta de novos empréstimos e saneando ao máximo seus portfólios do ativo. Em meio a essa espiral contra produtiva, agravou-se ainda mais a periclitante situação das empresas, que se viram à mercê de uma abrupta contração de crédito e imensa dificuldade em descontar títulos comerciais nos bancos (medidas adotadas pelos estabelecimentos financeiros com a finalidade de minimizar os riscos de insolvência). Portanto, segundo a pesquisadora os reduzidos casos de falências bancárias no Brasil, ocorridas após o Crash da Bolsa de Nova York, explicam-se pelas medidas preventivas que os bancos comerciais já vinham tomando desde a recessão que antecedeu ao impacto da crise mundial(CHAVANTES,2004:139)

Estamos diante de uma crise de liquidez em 1928, a queda na venda de café e traz uma retração bancária, que para de enxertar dinheiro na economia – e ele mesmo encolhe- causando uma desaceleração de toda a economia nacional. Esta queda de movimentação bancária (principalmente no Rio de Janeiro) bastante conservadora, protegeu parte dos bancos do crush de 1929. Porém, em São Paulo o volume bancário fez o caminho inverso “em 1924 estourou uma Revolução Militar em São Paulo. De 1926 a 1928, os empréstimos bancários no Estado saíram do nível de estagnação no ano de 1925, que registraram 1.199.908 contos de réis, para uma vigorosa expansão em torno de 2.441.974 contos de réis em 1928” (CHAVANTES,2004:138) desta forma não é a cautela bancária(individual de cada instituição) que evitou a barrocada bancária em São Paulo – que sai , mesmo em crise, fortalecida em relação em resto país em 1929- mas a própria reforma que criou bancos sólidos em 1921 e o controle de fluxos de capital. Esta dupla característica criou um ambiente de crédito seguro na cidade. Deste modo, sugerimos que a ação preventiva do Governo ao criar legislações referentes às operações bancárias e cambiais, estabelecendo a Inspetoria Geral de Bancos destinada à monitorar tais atividades; a implantação do Redesconto, que foi fator determinante para criar uma rede de proteção aos bancos interessados em ampliar suas operações de crédito; e mesmo a Câmara de Compensação, que ensejou maior agilidade e modernização às transações bancárias, mostraram-se fatores de extrema relevância para a consolidação da organização bancária no país ao final da década de 1920 , além de contribuírem decisivamente para que os impactos da Crise sobre o setor bancário no Brasil fossem amenizados. (CHAVANTES,2004:139)

Neste processo, como já dissemos, surge a burguesia nacional, do processo de monetarização da economia e de industrialização começa a surgir uma burguesia nacional de origem agraria, que possui durante todo este período o controle do Estado (1° republica é conhecida como republica café com leite por dividir o poder entre São Paulo e Minas Gerais), porém a burguesia propriamente dita imbuída de valores burgueses, ou melhor, o Estado propriamente burguês4 só surge na década de 30’ e o movimento de modernização trazido pela revolução Varguista, ira causar uma ampla industrialização desta ‘indústria de volume’ até florescer uma nova indústria na década de 50’. Fausto(2006) nos descreve este processo de transição – assim como a figura de Vargas- .Não existiram anos tranquilos na década de 19205. Em 1924 acontece o levante tenentista de São Paulo enquanto Luís Carlos Prestes e Siqueira Campos iniciam também um levante, ao se encontrarem estes movimentos ficam conhecidos como Coluna Prestes que se dispersa em 1927, porém com alguma capacidade de enfraquecer a republica. O autor nos lembra de que em 1929 as incertezas dentro da cúpula do poder da republica do café com leite (representada por São Paulo e Minas Gerais) abre alas para a formação de um novo movimento, a Aliança Liberal, que tem como candidato Getúlio Vargas em oposição a Júlio Prestes. Em 1930 as eleições acontecem, Prestes é eleito e iria tomar posse em 1931, -no mesmo ano Carlos Prestes rompe com os tenentes e se declara comunista-, ao mesmo tempo que João Pessoas (vice da oposição derrotada) é assassinado, movimento em falso pois do Rio Grande do Sul e do Nordeste os tenentes se levantam, conseguindo reunir forças em praticamente todos os Estados depondo Washington Luís e colocando a cúpula militar no poder que decide pelo nome de Getúlio Vargas, a dita ‘revolução’ acontece em 1930 . Em 1931 diversas marcas do governo ditatorial de Getúlio Vargas se mostram, o ministério de trabalho, é criado, a tomada pelo Estado (compra) dos 4 5

Usamos aqui o conceito de Estado burguês trabalhado no primeiro capitulo Vale destacar a fundação do Partido Comunista Brasileiro em Março de 1922

estoques de café invendáveis, com intervenção direta contra a expansão da produção oque abre espaço para a produção de algodão e para a industrialização, além de diversas medidas modernizantes como a reforma da educação (médio e superior), a centralização do poder (seguindo a tendência mundial) além de medidas polemicas como a suspensão do pagamento da divida publica até 1934.

É neste ensejo que introduzimos o texto de Sônia Draibe, a autora primeiramente descreve o processo que surge á partir de 1930 de uma revolução burguesa, pois, apesar da nova burguesia paulista participar do poder os interesses de classe não estavam ali representados, pois a própria estrutura do Estado não o permitia na medida em que não era meramente um Estado agrário exportador. Vale lembrar que o processo varguista de transição de uma economia agraria exportadora para um polo industrial em São Paulo não foi um processo livre de contradições. Vargas fez o Estado garantir o consumo e o preço do café por diversas politicas. - como o caso a queima de café após o crash da bolsa em 1929, que cortou o consumo de café, mercado que o Brasil já possuía 60% a nível mundial- ao mesmo tempo em que fomentou a industrialização pelas mãos do Estado com a criação das empresas estatais. Um exemplo deste processo industrializando é descrito por Marson(2012) ao falar do crescimento das industrias de maquinas e equipamentos (industrias de fazer industrias), ele divide em três períodos, O primeiro entre 1928 e 1930 marcado pela queda de produtividade, o segundo de 1930 a 1933, uma recuperação e superação na produtividade e no crescimento e de 1933 a 1937 6 foi o período de crescimento da indústria pelo crescimento do fator trabalho (mais trabalhadores, mais industrias mais demanda para equipamentos), este ensejo mostra como o processo de modernização Varguista foi veloz, ao mesmo tempo mostra a capacidade do Estado moderno.

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Coincidentemente 1937 é o ano de fundação da União Nacional dos Estudantes (UNE), vale se pensar que uma nova classe de pessoas formadas e ‘criativas’ estava surgindo.

Com apoio de Florestam Fernandes , Draibe nos define a revolução burguesa que ocorre na década de 30’, como ela mesma diz : “na concepção em que tomamos o conceito, a revolução burguesa denota um conjunto de transformações econômicas, tecnológicas, sociais, psicoculturais e politicas que só se realizam quando o desenvolvimento capitalista encontra o clímax de sua evolução industrial”[...] este estado seria característico por possuir “ [...]interesses especificamente de classe (que) podem ser universalizados impostos por medidas do Estado a toda a comunidade nacional como se fosses ‘interesses da nação como um todo’” (Draibe,1985:14).

Este processo no Brasil seria um processo de transição entre a indústria e a revolução burguesa seria um processo que se completaria quando a indústria

se

completasse,

teríamos

no

Brasil

então

um

“Estado

compromisso”7(Draibe,1985:16) que seria fruto de uma incapacidade da burguesia local de prosseguir o processo industrializante, então este Estado , relativamente autônomo tomaria esta tarefa para si – vale lembrar que apesar do longo processo de industrialização que passa São Paulo, o Estado sempre foi oposição à Vargas-. Logo, o Estado tomaria para si o processo de modernização e de revolução burguesa, e criação de um capitalismo enquanto relação social no país, se até aqui a posição do empresário é preponderante , agora o Estado tomaria a frente. Draibe reforça esta longa revolução burguesa com a afirmação temporal, de que “ Em primeiro lugar a revolução burguesa esta ligada ao passado : a questão agraria. Trata-se, a partir da estrutura fundiária existente e de sua transformação, da questão da mercantilização da agricultura, possibilitando a produção de alimentos e matérias primas demandadas pela acumulação industrial urbana e a viabilização de um fluxo migratório supridor das necessidades de mão de obra do aparelho industrial em expansão. Mas as transformações em curso no processo de revolução burguesa envolvem distintas relações com seu próprio presente.[...] a questão industrial propriamente dita e a “questão nacional”[...], e ao futuro expressa a questão proletária e nos seus diferentes conteúdos das relações emergentes entre setores dominantes e classes subalternas”(Draibe,1985:16)

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A autonomia do Estado discutida primeiro capítulo é retomado aqui

Vale aqui comentar uma pequena discordância ao ponto de vista da autora. Faltou à revolução burguesa do Brasil uma questão fundamental, a reforma agrária, a reforma da forma que foi feita – fortalecimento da burguesia industrial e alimentação dos plantadores de café em decadência- não permitiu que a propriedade no campo se democratizasse, pelo contrario a propriedade teve uma tendência de concentração levando a população rural à migração para a cidade. Mesmo com a posição de uma revolução burguesa incompleta, vale salientar a mudança substancial deste novo Estado desta nova economia, neste ponto a autora foi altamente competente ao criar uma interessante periodização pensando a economia nacional:

a) exportadora: modelo exportador, que não permite uma economia forte “é dominada pelo capital mercantil” (Draibe,1985:1)

b) Industrialização restringida (1850-1950)- neste período existe uma indústria restringida por se tratar de produtos de consumo de massa , com baixa qualidade e é dividida em dois períodos até 1930 e á partir de 1930, onde a acumulação acontece pela expansão industrial , mas é restringida , pois “não produz industrias que produzem meios de produção” (Draibe,1985:13) c) Industrialização pesada (1950-60’) “implicou em um crescimento acelerado da capacidade produtividade de setor de bens de produção e do setor de bens duráveis antes de qualquer expansão previsível de seus mercados” (Draibe,1985:13)

Pensamos aqui então e década o período de industrialização restringida, ou seja, a transição entre a economia agrário exportadora para a economia de industrialização restringida, marcada por dois períodos, um até a década de 30’ de uma indústria de volume – pela demanda de uma classe assalariada- e posteriormente, como não podia deixar de ser, um projeto de surgimento da

indústria de base marcado pelo Estado Varguista, ou pela criação do Estado moderno (burguês industrial), o processo de mecanização se acentua, as próteses no espaço se multiplicam ao passo que a concentração sobre o polo paulista, sendo assim como a revolução burguesa uma mecanização incompleta. M. Santos também salienta o processo nos dizendo que: “A partir da década de 1930,encontrasse no sul uma indústria importante. São Paulo tornou-se uma grade metrópole industrial[...]o pais inteiro […] foi impregnado pela necessidade de concretizar a integração nacional[...]á partir da revolução de 1932,precisava ampliar mercado, a extinção das barreiras de circulação de mercadorias entre os Estados da União marcou um avanço fundamental no processo de integração econômica do espaço nacional[...]O Estado de São Paulo começa a atrair migrantes de todo o país” (SANTOS & SILVEIRA,2008::41)

Logo, é importante pensar o marco de 30' como um novo momento para a economia nacional, São Paulo capitania a economia brasileira, porém este governo nacional-desenvolvimentista procura um novo emprego para o território tentando finalizar a integração “território x mercado”, ou seja a terra enquanto mercadoria e a concentração regional para a formulação da cidade enquanto tal, é um processo gradual para completar mecanização e desigualdade total.

A questão da imigração é fundamental para o novo padrão de urbano que ira se sobrepor em São Paulo neste período, forma-se uma nova classe proletária advinda do campo e em fuga da Europa, É preciso também apontar que a partir de 1930 afluem para São Paulo levas de migrantes, quando a cidade passa a ter mais de 1 milhão de habitantes. Neste período, o aluguel ainda continua a ser a forma predominante, mas, já então, esboça-se o espraiamento da moradia das classes trabalhadoras. (Kowarick & Ant, 1982:61)

Devemos

pensar

uma

São

Paulo

se

modernizando

e

se

descentralizando, ao inicio da década de 40’ o espraiamento, que segundo Rodriguez (2013) é a desconcentração por m² de população – ou seja, a cidade cresce lateralmente espraiando-se , alargando-se, e tomando novos espaçossegundo a mesma autora devemos entender o processo de espraiamento de forma diferenciada da origem deste conceito no Estados Unidos da América, lá

o espraiamento urbano é levado a cabo pelas camadas da classe média que vão se abastecer de terras baratas ao derredor da cidade, aqui o processo é o avesso disto. As classes mais empobrecidas são expulsas das regiões centrais e valorizadas e enviadas para as regiões a derredor da cidade. A cidade radial já começava a dar sua face, Isabel Santos (2014) nos mostra isso à partir da Carta cadastral Sara Brasil, neste período o transporte por bonde elétrico começa a estagnar e a cidade a tomar uma característica de transporte publico radial, ainda segundo a autora o plano de Prestes Maia de inserir o transporte por ônibus se tornou uma necessidade pelo ônibus ser mais flexível e mais móvel que o bonde elétrico Abaixo temos o mapa das principais vias e vias secundárias da cidade em 1930, vale destaque , segundo a autora, as vias da Av. Paulista, que expandem a acrópole do centro velho e o inicio da Av. do Estado, importante eixo da cidade até hoje que já estavam em planos dos anos 30.

(Mapa 06)

Temos também o transporte por bonde elétrico, que ira estagnar sua expansão neste momento, porém ainda é um importante meio de transporte para a cidade e marca sua ocupação até então. O bonde marca a expansão desta nova urbanidade nascente a formação de um Centro expandido, o início deste processo já refletindo os radiais.

(Mapa 07) Inicia-se a formação da nova cidade pela nova forma de acumulação, aqui a acumulação se da pela industrialização de volume (indústria restringida) e o inicio e uma industrialização de base que inicia o seu processo de transformação do espaço e do ser urbano, começa a surgir o ser periférico e a cidade radial, observamos a “aceleração urbana”(FUJITA,2008:32). 2.1.5 A integração nacional (1945-1964:Crescimento urbano) Apos um longo período de transformações politicas da “modernização autoritária”(FAUSTO,2006) , além da entrada do Brasil na 2° guerra mundial, a queda do fascismo e do nazismo, inaugurasse a guerra fria a nível global e o alinhamento do Brasil com as politicas norte americanas, cessando definitivamente (apesar da tendência já vir desde o inicio da Era Vargas e o pagamento da divida) a influencia Inglesa no território brasileiro e firmando a posição norte americana que traz a abertura politica no Brasil.

Segundo Fausto(2006), a segunda republica se estabelece em 1945, com a saída de Vargas do poder e a posse de Dutra, que destituí Vargas em um golpe militar sofrido pelo líder nacional, após postergar a abertura democrática, inclusive com a forte repressão de movimentos estudantis pro democratização. A volta dos pracinhas da guerra e a indiferença dos programas governamentais cria um racha militar com o governante oque leva o exercito a destitui-lo e chamar eleições, -além da formação da União Democrática Nacional (UDN) berço da organização da extrema direita do Brasil em oposição aos acordos de comercio com a URSS ensaiados pelo Brasil-, nas eleições, como já dissemos, Dutra Vence até a “volta nos braços do povo”(FAUSTO,2006)em 1951, na qual Vargas vence as eleições e retoma o poder até seu suicídio em 1954. Um atentado à oposição – Fausto não deixa claro se Getúlio foi o mandante, mas o atentado foi realizado por membros de sua guarda pessoal- que matou um militar causou a oposição dos militares o que leva Vargas ao suicídio contra a segunda deposição. A sua saída do catete para entrar na história. A democracia só se reorganiza com a eleição de Juscelino Kubitschek que inaugura Brasília, abre o Brasil para o capital internacional e abre um novo período econômico marcado pela vinda das multinacionais ao Brasil, a adoção da produção do automóvel inaugura um novo Brasil de concentração regional na qual São Paulo é uma centralidade. M. Santos e Oliveira avaliam este período de transição: A partir de 1945 e 1950 a indústria brasileira ganha novo ímpeto e São Paulo se afirma como grande metrópole fabril do país[...] crescimento industrial proposital[...]A constante drenagem que o sistema bancário financeiro, situado sobretudo na áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo, fazia de zonas pobres e subdesenvolvidas em beneficio destas áreas metropolitanas[...]A modernização do país já iniciada sob o regime Getúlio Vargas, facilitara a concentração econômica espacial. A rápida expansão da indústria no “centro” passava a exigir mais mercados, não apenas fora mas também dentro do país.[...]Novas formas de relação entre metrópoles econômicas e centros regionais de estabelecem por intermédio do caminhão[...]Há por um lado uma mudança estrutural no esquema produtivo e de outro mais seletividade geográfica da produção industrial mediante a polarização mais clara e mais forte.[...]A construção de Brasília foi um passo importante pois a rede de estradas, indispensável a afirmação do Estado sobre o conjunto territorial[...]o Sudeste[...](região concentrada)” (SANTOS & SILVEIRA,2008:46)

Neste trecho interessante, o autor discute criação de novas a zonas, as nodosidades (RAFFESTIN,1993) ,do poder econômico- consequentemente politico- e a modernização mostrando sua marca de criar os expropriados que ficam mais aparentes neste período onde o consumo começa a ser a “bola da vez”. Outra questão é a criação das rodovias e o transporte de mercadorias por caminhões pelo território8 . Isto promove a integração nacional à sua própria economia e a economia global, consequentemente São Paulo ganha mercado e a migração nacional se acirra também inaugurando um novo processo de cidade. Sobre o processo econômico Suzigan e Versiani nos lembra que : “1939[...]o peso preponderante era de setores voltados à produção de bens de consumo não-duráveis[...] nas duas décadas seguintes[...]o rápido crescimento relativo das indústrias Metalúrgica, Mecânica, de Material de Transporte e de Material Elétrico[...]cria produção de bens de consumo durável.” (Versiani & Suzigan,1990:03)

Ou seja, entre 39’ e 59 ‘ acontece uma virada de eixo na produção para bens de consumo durável e para indústria de base, com foco na metalurgia que cria o insumo básico e o impulso se criar em seguida, a indústria de bens duráveis, principalmente automobilística e de “linha branca” – geladeiras, eletrodomésticos, etc -.Vale como exemplo os dados de Okano (2007) ao analisar a construção civil detecta uma crescente produção de aço, ferro e cimento a partir de 1945-46, subindo em cimento aproximadamente 38%, ferro a alta de produção foi de quase 240%, já o aço subiu a produção em média 250% até 1948 (se comparado com 1938 a alta é respectivamente 83%;600% e 500%). São sinais de uma indústria de base pulsante na cidade :

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Vale observar aqui a mudança de ênfase por fatores comerciais: trilho é abandonado pela estrada, pois a demanda por caminhões é mais interessante e flexível que a dispendiosa construção de trens.

A concentração regional, que ocorre antes de Juscelino, cria dois polos dinâmicos no Brasil, São Paulo e o Rio de Janeiro, que concentravam em si a indústria – ou seja, também se recriavam nesta nova lógica de acumulação- e a batalha concorrencial entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Estamos diante da industrialização pesada, que produz bens duráveis em larga escala, o surgimento da indústria automobilística e toda a cadeia produtiva que a permeia criam uma nova cidade de modelo industrial e aprofundam aquelas características que já estavam se mostrando na cidade, além da necessidade da criação de uma indústria de propaganda de massas para elevar a demanda destes produtos. A cidade de São Paulo se transforma qualitativamente, o espraiamento – principalmente para leste- se inicia, e a cidade da moradia de cortiço muda de face, temos um triplo movimento. O primeiro é a compra de terrenos por um proletariado com salários elevados ou com maior poupança, que constroem suas casas nestes terrenos, outro é a ocupação de lotes vazios e a construção sobre eles sem documentação – mais frequente- e um terceiro é a manutenção do cortiço enquanto moradia multifamiliar. Ainda “durante a década de 40, quando São Paulo ultrapassa 2 milhões de habitantes, existem sinais mais generalizados de autoconstrução de moradia, confeccionada pelas camadas pobres que começam a adquirir “lotes” nas “periferias” da cidade. "As classes mais necessitadas têm apenas dois

tipos de moradia a escolher: a casa feita com as próprias mãos e o cortiço." (Kowarick & Ant, 1982:61). Isso muda a fisionomia da cidade, o que antes era um cinturão verde, ou como apelidado cinturão caipira, sobre a cidade é rompido por moradias de lotes pequenos, geralmente com apenas um barracão construído, que foi se erguendo o restante da casa aos poucos. Neste processo a concentração diminui , ou seja , ocorre o processo de espraiamento, com a classe trabalhadora criando a sua própria forma de sobrevivência e reprodução nesta nova cidade periférica SEM O ESTADO, a partir da exploração do seu ‘sobretrabalho’(Kowarick & Ant, 1982:61), ou seja, de uma jornada de trabalho para sua própria propriedade. O ‘sobretrabalho’ é um mecanismo bastante curioso, pois o trabalho do dono da propriedade se materializa ali como a própria residência (o trabalho no emprego e depois do expediente construindo) agregando valor ao terreno, mas agregando valor também para toda a regiãoantes ‘vazia’ agora com uma casa- ou seja, parte deste trabalho se agrega ao capital de uma forma mais orgânica e o próprio trabalhador se explora, a cidade espolia o trabalhador do seu próprio trabalhado, para que ele solucione a questão da moradia. Criou-se uma nova proporção de cidade, a ‘cidade radial’. Um centro enriquecido, somado a uma indústria centralizada e a moradia nas periferias que se prolongam principalmente para leste. Isto implica em uma nova noção de mobilidade também. Para que se viabilizasse esta nova fórmula de reprodução da força de trabalho apoiada no padrão periférico de crescimento urbano através de autoconstrução, o transporte de massa já foi quantitativa e qualitativamente alterado. Trata-se de maior número de trabalhadores que deve chegar aos locais de emprego e cuja moradia espalha-se num espaço mais amplo e rarefeito. Se a "periferização" em massa da mão de- obra — como já apontado — é fenômeno recente, já nos anos 40 o patamar industrial começa a entrar em contradição com a modalidade de reprodução da força de trabalho baseada no padrão habitacional mais concentrado e próximo às empresas. Deste momento em diante, longe dos locais de emprego, a maioria dos trabalhadores gasta horas diárias de locomoção para viver em

habitações precárias, feitas com imenso sobretrabalho gratuito nas assim chamadas “horas de folga ” . A nova modalidade de abrigo passa a constituir a forma dominante de espoliação urbana. E numericamente mais importante do que aquela vigente nas épocas em que os cortiços eram, do ângulo da moradia. (Kowarick & Ant, 1982:61).

Isso forma um novo padrão para a cidade um novo urbano se edifica, a partir da acumulação da indústria pesada, abaixo veremos este processo de espraiamento mapeado por Rodriguez (2013:89) que afirma que estas distantes medidas de distancia obriga a cidade a se reinventar, a migração pendular e a ausência do Estado se intercalam em uma dinâmica que parece se impregnar na cidade.

A mancha urbana de São Paulo se transforma como podemos ver no Mapa de Rocha(2015) que mostra São Paulo como um urbano nascente ainda, mas já em expansão entre 1930 e 1945.A mancha urbana expande-se de forma considerável para Sul assim como para o leste. Vale observar também o futuro centro expandido como veremos abaixo :

(Mapa 08) O transporte na cidade já estava se tornando uma máxima, Santos(2014) nos mostra a estrutura viária e a série de transformações e intervenções que o Estado promove neste momento, somente de estruturas temos sete obras ao longo do Rio Tiête

e de diversas avenidas, as

intervenções se enquadram no novo plano de avenidas e na nova formatação que a cidade vinha ganhando, como nos mostra a autora em seu mapa de 1954 a carta VASP:

(Mapa 09) Tal processo se amplia no quadro mais amplo de espraiamento pelo ‘sobretrabalho’ e autoconstrução da cidade, arquitetonicamente caótica, porém dentro de uma lógica clara de reprodução da cidade que exige a participação do Estado em suas áreas mais valorizada. Como podemos ver no mapa abaixo também, a partir da década de 1950 a cidade tem uma expansão incrível até 1962 em todas as direções tomando uma proporção próxima da atual. A ocupação da cidade começa a se transformar qualitativamente, a leste na autoconstrução e sobre o ‘sobretrabalho’, para sul pela verticalização e a nova modalidade de cidade que se apresenta. Maricato (1982) nos demostra como a pratica de ‘auto-construção’ foi ‘folclorizada’, associada á uma ação arcaica, que a população da zona Sul estava praticando, elas nos cita como esta atividade pode ser desalienante, no sentido que o trabalhador observa e trabalha diretamente na realização deste produto urbano, mas é recriada principalmente pela forma como o capital se reproduz nesta nova cidade.

(Mapa 10) Irrompe a leste para zonas não habitadas e para sul para regiões de mananciais a ocupação. O caos da multiplicação de capital, cria a multiplicação de uma cidade pela/para a indústria pesada. Okano (2007) vai nos descrever a verticalização em São Paulo entre 1940 e 1957, ou seja , na transição entre a cidade de indústria de volume para a indústria pesada. A autora divide o primeiro período entre 1940 e 1945 como um período de problemas econômicos, mas que marcou uma verticalização no

centro da cidade, voltada às classes mais abastadas, com um novo padrão de moradia. Esta é a marca desta época industrial, o novo viver urbano em apartamentos começa a surgir aqui. Eram prédios verticalizados com térreos comerciais para aproveitar à estrutura do centro, tomando o total de altura e de terreno criando o compactamente do centro a autora não toca neste ponto, mas fica claro que ao mesmo tempo ocorre a exclusão deste espaço como um espaço proletário. O segundo período de verticalização seria entre “1946 e 1949 a modernização latente” (Okano,2007:57)mostra, segundo a autora, uma expansão da verticalidade para além do centro, como os dados que a autora apresenta:

(tabela 03) Enquanto no centro se criava um padrão comercial, nos bairros construía-se o prédio misto entre comercial no térreo e residencial nos demais andares, reproduzindo este padrão no restante da cidade, ou seja, o padrão residencial do centro começa a se expandir. Estre os bairros nos quais o Estado possui atuação é possível aferir dados, como a autora o fez, verificando

um ‘boom’ na verticalização em toda a cidade com foco no centro, mas já se alastrando por toda a cidade.

(tabela 04) Este ‘boom’ da verticalização participa na construção do novo urbano, e do novo ‘ser-urbano’, uma propaganda de massas tem de ser feita a partir deste período para tirar o ideal da pequena casa de classe-média para a construção do ideal do apartamento – ligado anteriormente em um imaginário de uma vida boêmia-este novo eixo. Um novo padrão de cidade se cria, recuos no arruamento, calçadas mais estreitas associadas á uma cidade menos colonial e mais ‘nova-iourquina’, da Europa à América do Norte, é este o deslocamento simbólico. Mostra-se com destaque o avanço em direção á consolação e o inicio do fortalecimento da região da paulista em seu padrão criando visivelmente um

eixo de ‘migração’ dos edifícios, criando um novo centro e um novo espaço de classe média de São Paulo. Como demonstra no mapa abaixo:

(mapa 11)

Para a autora acontece em seguida de “1950-1957 a consolidação da modernidade” (Okano,2007:60) que é o espraiamento da cidade, pela falta de cuidado com o migrante, acompanhado por um padrão de verticalização no centro e na criação de um novo centro , o plano do IV centenário de São Paulo é uma marca, segundo a autora, marcado pela criação do Pq. Do Ibirapuera que é o ícone de uma visão modernista para a cidade. Neste período o ideal do investimento em renda em imóveis se multiplica nesta nova cidade, as classes altas e médias adquirem imóveis e os loca, criando para a classe trabalhadora um novo padrão além da auto construção: A casa de aluguel constitui até os anos 50 a modalidade quantitativamente mais importante de alojamento para a classe trabalhadora, no mais das vezes na forma de cortiço. A partir dessa década, dá-se um deslocamento do cortiço enquanto modalidade

predominante da habitação dos trabalhadores. É o período em que se consolidam — junto a um novo patamar de acumulação — os componentes de um novo modelo de crescimento da cidade, o chamado padrão periférico. (Kowarick & Ant,,1982:62

Surge então na cidade um novo padrão de ocupação, além da moradia periférica de autoconstrução e de sobretrabalho, surge a classe trabalhadora sendo espoliada também pela classe média, os rendimentos imobiliários significam os alugueis retirados dos trabalhadores diretamente de sua renda salarial. Aqui o modo de acumulação pela indústria pesada e recria um nova cidade para tal e esta cidade já possui o padrão centro periferia, com altas jornadas de trabalho e de ‘migração pendular’ entre casa⇌trabalho, enquanto isso o padrão vertical começa a se impor no centro e derredores centrais, criando um novo eixo na consolação/paulista. Articulasse na cidade também uma nova necessidade de transporte e de serviços básicos. A cidade da escassez de Estado nos bordos e ação direta do mesmo no centro se configura, observamos o “crescimento urbano” (FUJITA,2008:38). 2.1.6 Meio técnico–cientifico-informacional (1964-1988: Explosão do Brasil Urbano) “O caráter conspiratório de 64 tem sido amplamente comprovado por vários estudiosos. Cartas arquivadas na Caixa 43 pertencente ao acervo “revolução de 64” localizada no arquivo histórico do exercito no Rio de Janeiro, por exemplo, enviadas ao Oficial Médico da Reserva do Corpo de Saúde de Exercito, Coronel Aurélio Ferreira Guimarães confirmam o ideário da revolução e seu potencial conspiratório. A O médico disponibilizava sua casa em Copacabana entre 1961 e 1964 a serviço dos conspiradores. Ali se estabeleceu o quartel general dos articuladores do golpe de 64 [...]”(OLIVEIRA,2007:73)

É sobre esta roupagem que acontece o golpe militar de 1964, o Brasil entra na década de 60’ assim como toda a América Latina em um período de efervescência cultural e politica, os partidos de esquerda e as guerrilhas surgem por toda a parte apoiada pela URSS, a revolução cubana levada a cabo pela liderança de Fidel Castro era uma demonstração do acirramento politico da época.

O Brasil já havia assistido a queda de Vargas, que teve como um dos fatores seu não alinhamento com os EUA na guerra fria, assistiria o filme e repetir em 1964 com a queda de João Goulart, conhecido popularmente como Jango. Sua ascensão ao poder não poderia ser mais conturbada, o sistema politico brasileiro na época fazia eleições separadas para presidente e vice presidente, Goulart foi eleito pelo PTB (ex braço politico de Vargas) em 1955 e reeleito em 1960, em 1961 Goulart realizava uma visita diplomática à Republica Popular da China, tentando fazer bom acordo de vendas para a indústria têxtil brasileira no país, durante esta missão Jânio Quadros renuncia em uma manobra politica que não teve sucesso, sua estratégia era – por não conseguir instaurar suas medidas moralizantes na politica- renunciar em protesto e que o povo o levaria –por protestos- novamente a presidência com maiores poderes e apoio. O feitiço se virou contra o feiticeiro, nenhuma comoção nacional foi ouvida em nome de Quadros, e a constituição dizia que quem assumiria era Jango, na China (comunista), o politico já era atacado pela oposição por, supostamente, ter ligações com o PCB. Logo, os militares tomaram partido. “Foi dentro deste espirito conspiratório anti-Goulart, desde o principio aproximaram-se dos Estado Unidos, procurando ter garantia de apoio ao “perigo interno”. Neste processo, exerceram papel importante o embaixador americano no Brasil entre 1961 e 66, professor Lincoln Gordon” (OLIVEIRA,2007:63)

Segundo a autora no mesmo ano montasse a “operação Brother Sam” (OLIVEIRA,2007:63), que garantiria o apoio incondicional americano contra a ‘comunização’ do país. A autora ainda continua lembrando que o imaginário da “proteção nacional ligada ao anti-comunismo” foi implementada no Brasil ainda na aproximação do esforço da 2° Guerra, que depois deste vinculo,“as elites militares

latino americanas eram convidadas a estudas na “Escola das

Américas”.Depois que se tornasem instrutres deveriam repassae esses ensinamentos aos militares de seus países” (OLIVEIRA,2007:62) tal escola, ela argumenta, foi fundada em 1949 e treinava os militares contra guerrilhas, mostrando ainda trechos selecionados de obras do Che Guevara e Mao-TsoTung para criar um espéctro de medo e ódio ao comunismo em toda a América.

O espéctro que não rondava mais somente a Europa agora asombrava o imaginário das elites militares do continente, que prontamente tomam o poder em boa parte dos países-Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina, Colombia- , entre eles o Brasil e, 64’, que como diz a autora, com medo das reformas de base ao contrário de

abrirem caminho para a saida da crise economica que se

enfrentava e da movimentação popular, abrisse o caminho realmente para o comunismo ao modelo cubano – medo que se comprova infundado ao se estudar a tragetória e projetos de Goulart- e que como diz a autora. “Conspiração Planejada, Ação Medida, Calculada, Amadurecida e... Inesperadamente a atitude precipitada: o General Olympio Mourão resolveu antecipar o golpe”9(Oliveira,2007:73), lançando o manifesto pela ‘defesa nacional e aglotinando as forças militares para a derrubana de Jango, que havia conseguido apoio popular em um plebicito e diversos comissios e paceatas, mas que logo perdeu a população pera o programa de propaganda militar durante seu regime o “IPES” (Oliveira,2007:74). Neste contexto de transformação dos anos 60, acompanha-se também um contexto economico complexo, “viveu-se no Brasil a Primeira grande crise economica em sua fase industrial” (Oliveira,2007:39), com a inflação galopante que chega ao apce de 90% com Goulart e algumas coisas se mostravam claras, a industria de substituição de importação (bens duraveis , que produzidos aqui não precisavam ser importaodos, mas que tinham sua produção protegida o que fazia sua qualidade e competitividade cair) mostra cançaso. Desda da “mudança do eixo dinâmico da economia, entre o setor agrario exportador e o industrial” (Oliveira,2007:40), esta mudança se mostrava incompleta, o estado fazia um politica de cambio na virada dos anos 40’ para os 50’, travando as mercadorias externas e fortalecendo a industria nacional que demonstra um folego de crescimento imprecionante como veremos na tabela abaixo:

9

Vale notar que mais de 7,5 mil militares e bombeiros foram perseguidos, expulsos, presos ou torturados por serem contra a ditadura.

(Tabela 05) Vale observar no gráfico o crescimento constante da industria, com foco nos setores de consumo –bebidas e fumo-, mas um dado importante é

o

crescimento zerado do material de transporte entre 1962 e 67, logo após a incursão de multinacionais, isso carregava a crise,ao passo, que também é sinal dela. O bloqueio de ‘intens fisicos’ vem com a conrapartida de apoio a compra de ‘intens de capital’ ou melhor bens de capital, resaltasse também o surgimento da petrobras em 1953 e o plano de metas de Juscelino

que

possibilita a entrada em massa de capital estrangeiro em 1957 com as montadoras. A integração nacional foi incentivada, assim como a mecanização

e a produção ciêntifica, o meio tecnico-ciêntifico inaugura-se. Os dados são impressionantes: “ a capacidade de geração de energia eletrica pula de 3.550.000 para 5.20.5000 kw, o transporte viario crescera vertiginosamente, as industrias intermediarias (especialmente cimento e aço) praticamente duplicou a produção, a industria automobilistica aumentará em 2500 para 321.200,enquanto a industria mecânica sofrera um incremento de quase 100% e a de material elétrico e pesado mais de 200%”(Oliveira,2007:48)

Versiani e Suzigan complementam a explicação nos dizendo que: “[...] anos sessenta se caracterizou pelo crescimento relativo da indústria "pesada", como a produção de bens de capital e o setor petroquímico[...] os três principais gêneros industriais em 1980 foram as Indústrias Química, Metalúrgica e Mecânica, responsáveis, em conjunto, por cerca de 40% do valor adicionado da indústria de transformação[...]”.(Versiani & Suzigan,1990:03)

Ou seja, anos 60’ surgem as indústrias voltadas ao petróleo, evoluindo para os anos 80’ para as áreas de química, metalurgia e mecânica sendo 40% do valor adicionado passando nestas indústrias. O autor ainda complementa: “Finalmente, no que se refere à participação no Produto Interno Bruto, o produto da indústria de transformação cresceu de um nível de 19% do PIB, em 1950, para 26%, em 1960 e 29%, em 1970, atingindo a proporção de 34%, em 1980. No período mais recente, devido à retração industrial, essa relação baixou para 30%-31% (IBGE, 1990)” .(Versiani & Suzigan,1990:03)

Esta industrialização se reflete em sua participação no PIB que cresceu de 19% nos anos 50’ para 34% nos anos 80’ retraindo nos anos 90’, ou seja, existe uma ligação direta entre a capacidade industrial do Brasil, até então, e sua capacidade de crescimento, esta transformação cria o complexo quadro abaixo, vale salientar a mudança estratégica a partir dos anos 60 com relação aos produtos químicos, mas também a importância quase perene da metalurgia neste processo empurrada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSNinaugurada na Era Vargas), destaque também do setor químico, vale também observar a incursão de indústrias não tradicionais, principalmente do grupo “B” abaixo, que carregam o germe do desenvolvimento posterior:

(Tabela 06) A crise econômica dos anos 60 se dá pela concentração das multinacionais no eixo rio São Paulo, associada à uma politica inflacionária levada a cabo pelo

Estado para incentivar a industrialização a mais de 30 anos além do enfraquecimento relativo deste mesmo Estado, estas características criam uma moeda fraca e o problema que Harvey(2006) explana algumas vezes como momentos que o ‘modo de acumulação’ é incompatível com o ‘modo de regulação’. O Estado estava alocando dinheiro demais em determinadas áreas e ‘de menos’ em outras. O sistema como um todo, ou forma como o dinheiro se reproduzia e passava por dentro do Estado, o transformava em um Estado deficitário e a inflação, somada a luta dos trabalhadores que conseguiram ampliar seu direito a salário são pressões inflacionárias, estava claro que reformas no ‘modo de regulação’ eram necessárias, mas o projeto popular de Goulart, de reformas de base, foi derrubado por uma opção tecnocrata dos militares. Vale lembrar que, Como já observamos, a FIESP, juntamente com outras entidades e segmentos representativos da burguesia brasileira, apoiaram incondicionalmente o fatídico Golpe de Estado que deu início ao mais recente – e longo – período em que o país esteve sob a “tutela e à mercê” dos militares. Essa é uma característica própria da burguesia brasileira, que traz consigo debilidades genético-estuturais. Todo o desenvolvimento histórico do país é marcado por governos que assumem a forma política bonapartista (DEO,2005:166)

A cidade se transforma e a mancha urbana paulista se multiplica , a expansão lateral da cidade é uma constante a periferização é um processo perene neste período, o mapa que apresentaremos abaixo demonstra como a mancha urbana paulista esta se ampliando, e a metrópole urbana esta surgindo como uma centralidade a medida que os municípios a sua volta se urbanizam e se entrelaçam com relação a São Paulo, neste período o surgimento das montadoras no ABC paulista reabre uma urbanização periférica para além das fronteiras da cidade, mas ela ainda é o centro do processo, como veremos no mapa abaixo:

(Mapa 12)

Singer (2004) tenta captar este processo ocorrendo na cidade de São Paulo. Singer da outra ênfase para o mesmo processo, ele indica que o crescimento industrial de São Paulo nos anos 60’ também esta associado a perda da concorrência carioca com a migração da capital para o Distrito Federal, o que tirou dinâmica da economia do Rio de Janeiro –como já dissemos- a ponto de São Paulo conquistar o mercado da nova capital como ele diz “isso esvaziou a economia carioca ,á medida que reduzia o mercado local para as atividades produtivas locais” (Singer,2004:219). Ele

associa

de

forma

inteligente

crescimento

populacional

ao

crescimento da indústria e nos traz dados interessantes, pois além de demonstrar o crescimento industrial vertiginoso entre 60-70 também mostra o desenrolar da metrópole:

A teoria de migração campo-cidade do mesmo autor demostra bem os processos envolvidos nesta crescente demográfica na cidade. Singer (1998) pensa sobre o processo das migrações internas e nos diz que a industrialização tem a tendência de se aglutinar no espaço, para tal se utiliza das redes de logística e comunicação presentes e maximizam o seu uso(como no caso de São Paulo), tal tendência parece se emaranhar com a tendência da industrialização ocorrer geralmente em cidades que já possuíam alguma rede comercial, e que se aproveita desta população inicial para seu processo que se readapta e se rearranja. É importante pensar a noção de aglutinação segundo Singer que lembra que o comercio de alguma expressão traz a indústria, que aumenta o comercio, que recria a infraestrutura, o que propicia novo investimento industrial e assim sucessivamente. Para o autor se pensarmos a industrialização como um ‘aumento técnico’ este processo de aprimoramento anda de mãos dadas com o acumulo e concentração de capitais. Já dissemos que a urbanização é um processo aglutinante de estruturas, esta aglutinação acontece por conta da tendência supra citada nas cidades, ou seja a urbanização aglutina capitais, técnicas e pessoas quem vem para este ponto , as camadas com capital ficam nas áreas abastadas da cidade e as sem capitais são jogadas as margem das cidades. A região concentrada então atrai para si capitais.

Se a cidade é aglutinadora, a concentração de capitais é um fator de expulsão no campo tenta discutir como as desigualdades regionais causadas pela industrialização causam a migração. Sua argumentação parte da noção de

‘empobrecimento relativo’, ou seja, as regiões empobrecem em relação à aquela que enriquece/urbaniza, como já dissemos a urbanização se da por auxilio do Estado-logo o empobrecimento também- criando uma espécie de colonialismo local, de locais empobrecidos de fornecimento de material base e outros de indústria e revenda. Neste ponto amadurecem no primeiro ponto os fatores de expulsão, eles são opostos, o primeiro ligado à industrialização e mecanização da produção e o segundo à agricultura, estes fatores são os de mudança e de estagnação.

Os ‘fatores de mudança’ estão ligados ao processo de entrada capitalista no campo, a nova concentração de terras e relações de trabalho –o autor toma o clássico exemplo dos cercamentos ingleses- expulsam parte da população local que migra para a cidade, outro fator para a liberação desta mão de obra podem ser implementações técnicas que mecanizem a ´produção e expulse a população camponesa antes necessária oque diminui a concentração demográfica rural, fazendo a cidade sequestrar o crescimento vegetativo desta população para si também-migram aqueles desempregados e sem-terra, além dos jovens do campo. Este fator então expulsa a população rural para a cidade a partir de uma capitalização do espaço – cercando e comprando a terras ou melhoramento técnico - o que diminui a densidade demográfica e aumenta a produtividade da terra. Os ‘fatores da estagnação’ estão ligados à estagnação da vida e produtividade camponesa – empobrecida em relação a cidade- que decaem a produtividade – geralmente em minifúndios cercados por latifúndios- se tornam ‘viveiros de mão de obra’ ara estas grandes propriedades rurais em migrações sazonais, geralmente possuem alta taxa demográfica e poder de mobilização politica,

que

colocado

em

movimento

tira

do

Estado

‘projetos

de

desenvolvimento regional’ com os excedentes de capital que o capital adquire nas cidades, que as transformam em locais de mudança e alimentam a migração para as cidades. Abaixo temos um pequeno infográfico com a posição do autor :

(Imagem 2) Este processo se intensifica durante a ditadura militar, associasse ainda a questão da decisão do Estado pela tríplice região, seria a região ‘Sul’ responsável pela indústria e o ‘nordeste’ é o curral de gente, onde se cria e recria a mão de obra que vira para o eixo Sudeste atrás deste novo padrão de vida o padrão de vida urbano. O mais importante de notar segundo as observações de Singer(1998) é que a modernização é um processo sistêmico e em rede, que toma o campo e a cidade. Assim que o processo se inicia não há volta. O campo fica refém desta nova cidade, os locais mecanizados e com acesso a capitais, dispensam camponeses, aqueles locais estagnados exigem a ação do Estado para entrarem no mercado- que os mecaniza- tirando a necessidade de trabalhadores-que migram para cidade-. Temos abaixo um segundo infografo reforçando a posição totalizante do autor.

(Imagem 03) Esta situação ganha um folego ainda maior durante a ‘revolução verde’ (um aprimoramento técnico e tecnológico profundo na produção agrícola, inclui colhedoras e agrotóxicos, além de enriquecimento de solo e tratamento especializado em pecuária), que segundo Milton Santos& Maria Silveira “também um marco para modernização da agricultura[...]intensificação do movimento dos trabalhadores volante”(2008:49).A modernização só é possível pelo desenvolvimento da indústria química do II PND (plano nacional de desenvolvimento). Singer(2004) destaca que entre os anos 60’ e 70’ acontece o milagre brasileiro com o II PND. A industrialização se acelera em função do chamado "milagre brasileiro" - um período de excepcional aumento do produto nacional e de queda da inflação -, que começa em 1968 e se estende até 1973. A partir de 1974, o ritmo de crescimento declina algo e a inflação passa a aumentar. O "milagre" termina, mas até o fim dos anos 70 o ritmo de industrialização se mantém em nível bem mais elevado do que nas décadas seguintes. Entre 1961 e 1980, o valor da produção industrial do Brasil é multiplicado por 4,5 - e grande parte desta expansão se deu na capital de São Paulo. É o que explica o rápido crescimento da população da cidade, que neste mesmo período é multiplicada por 2,22. Este ritmo acelerado de expansão é particularmente notável porque se dá numa metrópole que já no início tinha grandes dimensões: 3.825.351 habitantes. Vinte anos depois, eles seriam 8.493.226. (Singer,2004:222)

Ou seja, existiu entre as décadas de 30’ e 70’ um crescimento industrial constante, a cidade se São Paulo e sua população aumentam de forma incrível assim como a nova forma de vida. O meio técnico se transformou em um nível mais profundo10 “O fim da segunda guerra marca também o inicio de uma nova era dentro do capitalismo pela revolução cientifico-técnica. Era o momento de lançar Aa semente de dominação

pelas

multinacionais”(SANTOS

&

SILVEIRA,2008:47),

este

processo que amadurece nos 60’, é descrito por Harvey(2005) como o “ajuste espacial”, é uma das saídas da crise de superprodução capitalista, o mercado e um modo de acumulação se transportam para um novo espaço e ali reproduzem-se para sobreviver, tornando a produção adequada e não ‘super’, isso ocorre no Brasil , as multinacionais que não competiam com as mercadorias locais vem para produzir aqui e ganhar o mercado de toda a América do Sul. Isso cria uma modernização, como já descrito e o exôdo rural causa o “aumento do exercito de reserva em São Paulo” (SANTOS & SILVEIRA,2008:48).

São Paulo é uma região concentrada- como já dissemos-, mas o motivo e meio desta concentração carregam em si o germe de sua transformação nos anos 80’, porém na década anterior, enquanto centralidade transformou o país “Uma nova divisão do trabalho esboça-se no Brasil a partir da necessidade de transformar os minérios, produzir derivados de petróleo[...]é o momento da implantação

de

complexos

polos

industriais[...]”(SANTOS

&

SILVEIRA,2008:48), para tal “Ampliam-se as redes de transporte[...]graças a modernização do território, uma fluidez potencial, representada pela presença das

duas

infraestruturas,

uma

fluidez

efetiva



(SANTOS

&

SILVEIRA,2008:48)A fluidez era contraditória com a estrutura econômica que criava “ uma especialização do espaço com tendência de concentração da produção de bens ‘nobres’ e escassos em alguns pontos do Sul e do Sudeste” (SANTOS & SILVEIRA,2008:50), isso demonstra que “Concomitantemente,

10

Em 1974 O Brasil inaugura o COBRA- computadores e sistemas brasileiros - com suporte da marinha, BNDES e a inglesa Ferranti, de início uma cópia da inglesa. Em 8 anos já exportava tecnologia própria e dominava três quartos do mercado nacional.

apesar da industrialização, o país conserva uma série e condições de subdesenvolvimento, muitas vezes agravadas pelo crescimento econômico sabre ,disparidades regionais” (SANTOS & SILVEIRA,2008:50).

Mesmo assim a rede produtiva, a integração pela tecnologia parece se sobrepor “Uma autonomia relativa entre lugares é substituída por uma interdependência crescente e sobretudo a interdependência ”local” entre sociedade regional e natureza, fundada nos círculos locais, é rompida para círculos mais amplos ,em mãos de poucos produtores.” (SANTOS & SILVEIRA,2008:51)

Deu-se assim a transformação do meio técnico cientifico, para o meio tecnico ciêntifico informacional que passa “De um tempo lento, diferenciado segundo as regiões, passamos a um tempo rápido, hegemônico, influenciado pelo dado internacional: os tempos do Estado e das multinacionais.”(SANTOS & SILVEIRA,2008:52), a integração total do mercado nacional e a entrada deste no mundo é a marca deste meio geográfico no qual a vida se reproduzira.

Logo, as guerras mundiais fundaram uma série de tecnologias que adaptadas a mercadorias e ao modo de produção se expandiram sobre as hegemonias

das

empresas

internacionalizantes,

uma

nova

forma

de

dominação se fundava, o território estava a serviço de um mercado externo, e as técnicas de prospecção a única forma de trabalho -assalariado- refundaram uma organização em âmbito nacional, sendo assim desmontando os níveis de vida local a favor de uma forma de vida comum e hegemônica , que valorizava o novo mercado, em detrimento do trabalhador, e o mercado externo em detrimento do interno. É este o processo que amadurece passo a passo durante esta década. Neste ponto podemos entrar com os dois pés nesta nova cidade. A cidade industrial aqui ganha força, assim como o trabalhador e o ritmo industrial adentram a cidade, os valores da classe capitalista já penetraram a mentalidade da classe, trabalhadora, como Engels(1979) argumentou ainda no

séc. XIX sobre a questão da habitação urbana, a única saída apresentada pela burguesia e pela pequena-burguesia é o ‘sonho da casa própria’, a ilusão de que seu trabalho lhe recompensara com uma casa em algum momento. Esta ilusão carrega o imaginário desta classe trabalhadora industrial, os poucos que progridem neste sentido locam também sua moradia, a ocupação estava se transformando em bairro. Contudo, a assim chamada "casa própria" só se transformará em habitação dominante dos trabalhadores na década de 60 quando, com o aceleramento da penetração do grande capital transnacional, ocorre intenso crescimento e diversificação industrial. A partir de então surge uma estrutura urbana de feições marcadamente metropolitanas, completando o padrão periférico de ocupação do espaço no qual multiplicam-se os "bairros populares". Em 1960, a cidade já teria 3,8 milhões de habitantes. (Kowarick & Ant, 1982:61)

Esta cidade gigantesca que surge nos anos 60, precisa ser construída a nível institucional por alguém, as incorporadoras tem grande papel nisso. Pereira Leite (2006), em seu estudo com cinco grandes incorporadoras da capital, tenta elucidar as estratégias pelas quais o mercado imobiliário apontava na década de 1960 em São Paulo, as incorporadoras tomam uma forma de ‘modus operandi’ bastante presente na construção da cidade, elas adotavam, segundo o autor, uma postura verticalizada de administração, encarregadas de construir e/ou vender os imóveis, isso dava uma dupla vantagem às empresas, a primeira é “suprir a necessidade psicológica de estar no

controle

do

negócio

a

segunda

seria

reduzir

custos”(PEREIRA-

LEITE,2006:99), segundo o autor esta estratégia teve de ser levada a cabo associada à uma série de inovações, algumas de engenharia e arquitetura, como por exemplo a padronização dos elevadores, que diminuiu o custo da obra consideravelmente e criou um sub-ramo especifico na economia da construção civil, o segundo tipo de inovação, aponta o autor, é a necessidade de adequação do valor com o publico, existiram casos que a inovação veio para agregar valor ao imóvel (com quadras esportivas e vantagens além da localização) e em outros casos ocorreu o esforço pelo barateamento pra o publico em uma dupla estratégia, tomar novos pontos da cidade desvalorizados e diminuir os apartamentos, a visão é sempre apresentar o melhor ao menor custo, a questão urbanística fica em segundo plano. O proletário proprietário apesar de aparecer como o ‘normal’ no período, ou melhor, como o trabalhador

que ‘deu certo’, e ter um numero expressivo talvez não demonstre a vida dos demais setores da economia, o mesmo autor nos lembra Em 1961, 18 por cento da população de São Paulo vivia nestas condições, localizando-se nas áreas mais centrais da cidade. Posteriormente, já nos meados da década seguinte, quando o processo de autoconstrução havia aumentado significativamente, outra pesquisa apontou que 9 por cento dos habitantes moravam em cortiços — casarões, porões ou meias-águas — , a uma média de 3,6 pessoas por cômodo, na quarta parte dos quais não havia janelas externas. (Kowarick& Ant, 1982:64)

Simplificando o tópico acima mostra que mesmo em meados dos anos 70’, 9% da população vivia em cortiços sem a menor

condição de vida privada

apropriada, tirando a população em situação de rua e favelamento, temos uma cidade divida, fragmentada, em polos de riqueza e manchas gigantescas de pobreza. Mesmo assim durante os anos 70 a atuação das incorporadoras é implacável na cidade, elas criam um eixo sul-oeste de ocupação, que fazem um eixo metroviário NORTE-SUL, da linha azul do metro, aproveitando-se principalmente das estações do sul, e sudeste, região nobre que se formatou na cidade, com uma rara atuação para leste, somente em 1980, no mapa abaixo podemos ver esta atuação e como o ‘proletário-proprietário’ neste período passava a margem da atuação das incorporadoras, além de sua ação bastante restrita as ar as do centro expandido.

(Mapa 13) Tal atuação se mostra demasiadamente lucrativa para as incorporadoras e um novo modo de acumulação próprio do urbano se multiplica a passos largos a partir de então. O espaço enquanto mercadoria ganha força e as incorporadoras ganham folego, o aquecido mercado de 1978 é uma mostra uma receita desproporcional que estas incorporadoras vem obtendo, ao mesmo tempo em que seu patrimônio não se multiplica, é um pressagio do que virá para toda a economia. Como veremos no gráfico abaixo:

(Tabela 08) A nova classe média que tem sua ascensão dentro das funções médias da fabrica, o comerciante, o profissional liberal, estas camadas da classe média irão fomentar e criar uma demanda incrível por moradia, pela primeira vez temos em São Paulo uma falta de moradias a venda para todos na década de 70, este acréscimo na procura da uma força incrível para as incorporadoras, com um pico de receita e demanda, os dados abaixo auxiliam na nossa leitura da cidade, mesmo ainda um ciclo locatário, mas mostrando avanço sentido.

(Tabela 09)

neste

O sonho da casa-própria se multiplica, junto com a alta de renda do proletariado durante a industrialização pesada, esta cidade otimista de 1978 ira mergulhar em um pessimismo após quatro anos, seria o fim da “era de ouro das incorporadoras”?(PEREIRA-LEITE,2006:100) Nos anos 70, como nos lembra Barone(2013), a periferia já estava consolidada, e começava a se organizar um novo movimento popular, os movimentos por moradia se aglutinaram na cidade, surge no debate publico o tema periferia, mais especificamente a periferia na zona leste, local onde se concentrava a precarização, o Estado como nos lembra toma a ação, como, incentivando e construindo os ‘conjuntos habitacionais’ grupos de prédios em escala padrão construídos nas décadas de 70’ e 80’ por toda a zona leste para tentar sanar o problema da habitação. Quem fica responsável pelo processo a partir de 65’ é a COHAB, que tem dificuldades de tocar o projeto até 1974, entregou menos de 3500 unidades neste período, Barone ainda nos lembra que o Banco Nacional de Habitação, responsável pelo financiamento de imóveis, reorientando a verba para camadas de classe média que gozaram de alto crédito para interiorizar a urbanização na cidade. Em 1973 surge um novo programa de habitação popular, O Plano Nacional de Habitação Popular, este ampliou crédito para camadas menos abastadas, regularizou o uso de FGTS para sanar a divida o que amplia nas camadas menos abastadas o impulso em direção da casa própria- sempre incompleto- vale salientar que Os conjuntos da Cohab são implantados em terrenos adquiridos pela Companhia, por meio de compra, doação ou troca. No caso de áreas de propriedade de órgãos públicos, as glebas são desafetadas para serem transferidas à Cohab. Tendo em vista que o componente que mais onera o custo da habitação é o preço do terreno, a maior parte das áreas localiza-se fora da malha urbana, devido ao alto custo do solo metropolitano. Tratava-se de glebas rurais, na grande maioria fazendas de ocupação agrícola, quando da aquisição pela Cohab. Ao longo da década de 1970, foram implantados pela Cohab, na Região Metropolitana de São Paulo, os conjuntos Mascarenhas de Moraes, Itaquera I, II e III, Prestes Maia/JK e Parque Ipê, na Zona Leste, além dos conjuntos Carapicuíba (Oeste), Cecap Zezinho Magalhães (Norte) e Bororé (Sul). Na década de 1980, foram ainda implantados, na Zona Leste, os conjuntos do Brás, Bresser, Sapopemba, Cintra Godinho, Jardim São Paulo, Pêssego/Carmo, Santa Etelvina (I a VI), Barro Branco, Inácio Monteiro e Sítio Conceição, além dos conjuntos Educandário, São Luís, Parque Fernanda, Adventista e Itapevi, na

Zona Oeste, Fernão Dias e Elísio Teixeira Leite, na Zona Norte, e Jabaquara, na Zona Sul (Zandonade APUD BARONE, 2013:63)

A COHAB é uma experiência importantíssima para entendermos as possibilidades da ação do Estado na urbanização e na alocação de pessoa no espaço urbano, os excedentes industriais e o fortalecimento bancário permitem ao mercado imobiliário florescer tanto na sua face mercantil, quanto na sua face populista a cidade segmentada esta sendo construída, vimos as incorporadoras construindo a cidade de luxo e a COHAB construindo a cidade de subsistência, a cidade dividiu-se em classes e a construção urbana também.

Vale pensar também o sistema viário e sua transformação como dado importante Santos(2014) nos traz a carta EMPLASA, carta importantíssima para entendermos o espraiamento- desta vez- do sistema viário para as localidades onde já existiam as moradias e a ação profunda do Estado neste processo, a fluidez e os mercados são a marca desta cidade que se configura, a cidade informacional.

(Mapa 14)

São mais de 50 obras realizadas entre 1955 e 1980, inaugurando uma nova cidade, como nos lembra de Santos, “junto com a subida de arrecadação da cidade”(2014:104), acontecem diversas obras viárias e de reestruturação da cidade, vale como destaque , segundo o autor , a atuação no eixo Norte-Sul- as incorporadoras de imóveis também tiveram predileção por esta região- , para ‘dasafogar’ o transito n o centro inaugurando o ‘sistema Y’ de avenidas, como nos mestra o autor na lista de vias abertas ou ampliadas, que também nos exemplifica o ‘Y’(9 de Junho;Prestes Maia e 23 de Maio), que esporemos abaixo:

(Tabela 10)

Vale como destaque também o eixo Av. Luiz Inácio do Anhaia Mello e Av. Salim Farah Maluf que mostram uma entrada de capital do Estado na zona leste, na era de grande alavancagem da prefeitura e a importância que estas regiões vinham ganhando, porém a cidade de São Paulo continuava uma cidade muito estratificada, em um rígido modelo de centro e periferia e de concentração das classes altas (e empregos) em um único ponto na cidade, assim formando o complexo mostrado abaixo por Seabra para os anos 80’:

(Mapa 15) Fatores exógenos, ou melhor, que a cidade de São Paulo apenas fez parte influenciaram neste poderio do Estado, na virada ocorrida nos anos 1980.

Se de 30’ até 70’ o crescimento industrial havia sido constante somente no inicio da chamada ‘década perdida’ uma desaceleração na indústria, sua causa esta associada a fuga de capitais da ‘crise do México ‘.O mundo havia se transformado em um mundo de

investidores em ações a nível global, a

economia havia se desprendido dos aspectos físicos da troca, no mundo- não totalmente em São Paulo- o capital financeiro havia tomado a dianteira, a crise do México(país não paga suas dividas, levando diversos investidores que financiavam o país comprando a divida ao prejuízo) que causa uma crise de confiança dos investidores em toda a América central e Sul. Os investidores retiram seu investimento dos países periféricos acreditando que ali eclodiria uma crise e este fato realmente causou a crise financeira dos anos 80’, associada a isso em 1979

P. Volker sobe a taxa de juros nos EUA

aumentando vertiginosamente a divida das Américas, o aumento do desemprego e diminuição de consumo que ataca a base da indústria paulista, cria uma crise que era preponderante urbana. A crise de 1981/1983 atingiu obviamente todo o país, mas cada região com intensidade diferente. Quanto mais industrializada, maior era a perda de renda, produção e emprego. Como o consumo alimentar não pode ser muito contraído, a perda de renda afetou principalmente a compra de produtos relativamente supérfluos ou cuja aquisição pode ser adiada. Estes são sobretudo produtos industriais, de casas a automóveis, de mobília a roupa, etc. Por isso, a crise foi muito maior nos centros industriais do que nas regiões agrícolas. São Paulo e seu cordão industrial foram as maiores vitimas da crise, que se tornou quase permanente em razão da exacerbação inflacionária, devida ao fracasso do Plano Cruzado, em 1986. O desemprego começou a se avolumar e a se tornar de longa duração, uma experiência inédita para uma geração acostumada com o "milagre econômico". No fim da década de 1980, o saldo migratório para São Paulo havia diminuído tanto que se tornou negativo, ou seja! o número dos que abandonavam a capital passou a superar o dos que chegavam a ela. (Singer,2004:223)

O influxo migratório e a crise financeira/urbana, adicionados as transformações urbanas sofridas na cidade durante as décadas de 60 e 70 e a transformação dos 80 mostra a ascensão e a queda de um modelo urbano que em seu caminho de maturação acabou sendo abortado pela economia, aqui o a acumulação se da pela indústria madura, a indústria madura nacional é uma mistura de nacionais, estatais e multinacionais que produziam excedentes em relação ao mercado nacional, eram capazes de reproduzir-se entre si (a metalurgia trabalhava para a automobilística, a reciclagem pra a metalurgia,

etc) , mas que tinham o processo de mundialização econômica feita de forma incompleta. Isso gerou uma metrópole, nas uma metrópole estratificada entre centro e periferia, (curiosamente na periferia, 75% das residências eram próprias(Maricato,1982:85)) entre a moradia do proletariado e a da classe média, que se concentraria definitivamente no novo eixo Norte-Sul ( com preferencias a região da paulista novo centro tecnológico e de negócios),e se tornaria uma metrópole com a explosão do meio urbano, porém a economia informacional parecia incompleta assim como a cidade, altamente industrial, mas que tinha a paulista – símbolo de negócios- como representante de si mesma; esta incompletude dentro do sistema capitalista acontece a solavancos nas décadas seguintes como veremos. 2.1.7 O meio técnico-cientifico-informacional com globalização (19882015: as metrópoles maduras) “A união entre a ciência e a técnica partir dos anos 70, havia transformado o território brasileiro revigora-se com novos portentosos recursos de informação, a partir do período da globalização sobre a égide do mercado. E o mercado, graças a ciência, a técnica e a informação torna-se global.” (SANTOS & SILVEIRA,2008:53)

Para entendermos como o Brasil entra no processo de globalização e completa o meio-técnico-cientifico-informacional, temos de voltar a toda uma ciranda politica no Brasil e no mundo.

Dentro do quadro do golpe militar, existiu aquilo que é conhecido como o “golpe” dentro do “golpe”(OLIVEIRA,2007:146) o Ato Institucional numero 5 (AI5), era, segundo Oliveira(2007), uma vitória dos ‘linha dura’ do exercito que viam sobre si a oposição surgindo em 1968. Um “espetacular sistema repressivo” (OLIVEIRA,2007:147), que perdurará até meados dos anos 80. A repressão estrema gera seu oposto, duas coisas que apesar de isoladas entre si tem uma ligação intrínseca na cidade de São Paulo e no meio urbano em geral, gerou-se o ‘urbano-subversivo’, um subgrupo de oposição que se escondia na penumbra do urbano corporificado pela figura do Maringhella e seu “Mini-manual do guerrilheiro urbano”, do outro lado desta mesma corrente a esquerda se aglutina11, organizando greves e manifestações, até o 11

A campanha "diretas já” que tomou as ruas é um exemplo disso.

enfraquecimento do regime e o surgimento do Partido dos trabalhadores, marca do agrupamento da esquerda – que ira tomar outro caminho quando eleito quase vinte anos depois-. O AI-5 foi o inicio do fim a repressão gerou a ação e o sistema politico internacional também colaboraram com o fim da ditadura.

Além da oposição externa tem a queda da URSS e sua desintegração que desagrega o bloco socialista, desarmando assim a guerra fria e sua ideologia. O que fica claro é que 1973, com a crise do petróleo, muda de forma fundamental a guerra fria. A crise da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a alta do petróleo – que auxiliou o Brasil- funda uma crise capitalista a nível global, que afeta diretamente a URSS também com a escassez de petróleo. Isso funda de uma corrida paralela,a corrida armamentista na guerra fria, a guerra em direção a falência. EUA e URSS estavam em seus limites econômicos. A fundação da acumulação flexível de capitais é uma saída aos EUA que a URSS não possuía e ela se desintegra em 1991, porém em 1988 os diversos acordos já mostravam o fim da guerra fria. Sua desintegração na mão dos diversos movimentos nacionalistas, como aponta Rodrigues(2006), “são múltiplos os fatores que levavam ao fim de 1991”(Rodrigues,2006:280) mas a mudanças fora da URSS, argumenta o autor, além da maquina do Estado, que pesava para além das necessidades econômicas, na nova necessidade de superação do modelo capitalista levam ao colapso da URSS. Apesar que o colapso jurídico, segundo o autor, não era necessário, a dissolução das relações de propriedade por exemplo, que esta ação foi politica e não econômica. Mesmo assim, o fim da URSS abriu espaço para a mundialização do capitalismo e as TIC’s (tecnologia da informação e comunicação) ganham a ponta da acumulação flexível.

A acumulação flexível é pautada em alguns aspectos, Estado mínimo mas que socorra as instituições bancárias se necessária, flexibilidade nas leis trabalhistas e flexibilidade nos empregos que se concentrarão no setor de

serviços12. Grosso modo, é a privatização dos lucros e socialização dos prejuízos e o retorno da mentalidade liberal em algo conhecido como ‘neoliberalismo’ que invade a ideologia econômica dos anos 90.

Isso traz uma transformação impressionante para a cidade industrial, solapando suas bases e a base da produção centralizada. As industrias começam a migrar para as cidades médias, a ponto de se pensar que poderia se dissolver o modelo de metrópole e gerar o modelo de ‘heterarquias urbanas’ (Castelan,2012)– que ainda não ocorreu. A década de 80’ ficou conhecida como a ‘década perdida’, por ser a década que o Brasil aterrissa economicamente e inicia o seu processo de desindustrialização levada a cabo nos anos 90, durante a atual democracia.

Como dissemos a integração das redes no território eram os meios necessários para a concentração regional, que transformou São Paulo nesta gigante, ao mesmo tempo em que continha ali o germe de sua dissolução, o país interligado não necessita mais da concentração da produção, mas, sim, da produção a menor custo. A guerra fiscal,(menor impostos entre lugares para atrair empresas), subsídios e vantagens logísticas levaram as industrias para as cidades médias, outro fator, não menos importante, é o fato dos trabalhadores destas localidades estarem desorganizados, o que propicia a estadia das industrias lá. Observamos então no final dos anos 80’ a desindustrialização

de

São

Paulo

(

que

será

acompanhada

pela

desindustrialização do país).

Vemos que entre 1975 e 1985 a mancha urbana paulista para de se expandir, estamos diante de uma metrópole madura, já em sua extensão e forma, que possui uma indústria diversificada e um produto industrial que carregava a produção nacional, abastecia o mercado interno e externo dentro de sua parte na divisão internacional do trabalho ( grosso modo como distribuidor e produtor d bens duráveis para o Brasil e países fronteiriços como argentina), mas a sua freada no crescimento lateral, a parada do espraiamento 12

Alguns autores falam que o proletariado tornou-se aqui o precariado para saber mais leio o livro “O precariado- a nova classe perigosa” de G. Standing

da metrópole era sinal que algo estava se transformando na produção capitalista do espaço urbano. Podemos ver no mapa abaixo a mancha urbana paulista e sua pouca transformação em uma década:

( Mapa16 ) Na cidade de São Paulo, assistimos a partir de 1988 o espraiamento das vias em direção as periferias, a crise dificultou os projetos mais onerosos como o metro e as vias expressas, mesmo assim o Plano diretos de 1985 e 88’ são, como nos lembra Santos (2014:65) “otimistas para uma cidade mais equilibrada”. E este seria o resultado, uma plano urbano organizado mas que não absorveu de todo o processo que solapava o Brasil e São Paulo, o plano de cidade industrial teria de ser modificado mais cedo ou mais tarde. Vejamos o que se planejava em 88’.

(Mapa 17) Como podemos ver e preocupação dos pensadores ainda eram as zonas industriais da cidade, quais zonas deveriam ser incentivadas, quais deveriam ser. Este foco industrial se transformara junto das necessidades materiais que a cidade ira apresentar. Durante a década de 80, ainda sobre a indústria madura se esvanecendo as transformações nas suas feições continuaram ocorrendo , este urbano da indústria madura ( se não dizer senil) era o urbano da restruturação do leste paulista, além da diminuição do incentivo para a ocupação do eixo norte-sul, mas a transformação viria depressa.

Como diz Singer (2004:224) “Antes de São Paulo, mudou o mundo e depois o Brasil.”, o fim da guerra fria, que redinamizou a divisão internacional do trabalho também mundializou o capitalismo, o processo conhecido como globalização, ou por outros autores como surgimento de uma nova forma de acumulação capitalista, a acumulação flexível de capitais, marcada pela descentralização industrial propiciada pelas TIC ( Tecnologias da Informação e Comunicação), a migração industrial para as cidades médias e para outros países transforma os anos 90’ no marco da desindustrialização, mas longe de ser um projeto inexorável a globalização toma forma no Brasil á partir de

politicas publicas e da adoção politica do modelo neoliberal, isso tem reflexo claro como nos mostra: “Na década seguinte, a crise industrial foi aprofundada pela abertura do mercado interno às importações, iniciada por Fernando Collor e continuada depois por Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Este último, escancarou as portas de nosso mercado com o intuito de conter a inflação por meio de uma avalanche de produtos industriais importados de baixo preço. O Plano Real atingiu o seu objetivo, em 1994, ao provocar drástica queda da inflação, que no caso dos preços dos produtos industriais se transformou em deflação. A perda da margem de lucro obrigou muitas indústrias a fechar as portas e as restantes a cortar custos sem piedade, o que significava principalmente demitir mão-de-obra.Na última década do século XX, o que era crise industrial de conjuntura se transformou em desindustrialização e desassalariamento. A indústria, enquanto setor econômico, perdeu vigor e elã competitivo. Para sobreviver, despediu grande parte ou mesmo a totalidade de dos empregados subcontratou os serviços que eles prestavam a autônomos, microempresas, mão-de-obra temporária ou falsas cooperativas. Desta forma, muitas empresas se eximiram de pagar os encargos trabalhistas, substituindo emprego formalpor trabalho pseudo formal ou informal.Isso aconteceu um pouco por toda parte, mas de forma muito mais concentrada na Grande São Paulo, sobretudo em seu cordão industrial. A capital já havia perdido boa parte de sua indústria, mas sua economia foi atingida pela amplitude do desemprego, que estreitou o mercado loca: com prejuízo para os que tiravam seu sustento da prestação de serviços neste mercado. Nos anos 90, a população paulistana cresceu apenas 1,13% por ano, bem menos que seu crescimento vegetativo(nascimentos menos óbitos).” (Singer,2004:226)

A cidade de São Paulo esta perdendo seu crescimento demográfico, as cidades médias ganham importância, - como já dissemos- a desindustrialização é um processo profundo sobre a cidade, as industrias já sofriam estagnação dede meados dos anos 70’ e durante os anos 80’ mas é a bala de prata do inicio dos 90’ que facha as portas delas.

Negri nos traz um panorama importante sobre a desindustrialização, ele aponta que “também em decorrência da explicitação da política econômica federal de crescimento industrial fora de São Paulo (principalmente em relação à área petroquímica, siderúrgica, papel e celulose e demais insumos básicos) evidencia-se nos anos 70, uma Inflexão da concentração no Estado de São Paulo. De fato, nesta década tem início um processo de desconcentração da indústria paulista, uma vez que ela reduziu seu peso relativo em 16 dos 21 ramos da indústria de transformação brasileira (NEGRI,1994:155)

Ou seja, já nos 70’ se apontava uma tendência de desenvolvimento industrial para fora de São Paulo, mas não é só isso junto da indústria para o crescimento da mancha urbana, o autor salienta também a manutenção desta

tendência na década seguinte, terminamos os anos 80’ com menos operários e uma taxa de ociosidade de um quinto de toda a indústria, elas ainda estavam lá, porém inoperantes diante da crise . Em 1989, a indústria de transformação do estado de São Paulo operou com um taxa de ociosidade de 20%, com o nível do pessoal ocupado aba1xo do verificado em 1980, conforme dados da F IBGE, ao mesmo tempo que o índice de crescimento industrial foi de apenas 1,59% em todo o período 1980/89. (NEGRI,1994:167)

Como Singer salientou acima, as politicas entre Collor13, Itamar e FHC competem uma abertura do Brasil ao mundo, o neoliberalismo toma conta da ideologia econômica nacional, e tem um projeto como carro chefe o “Plano real”. Como já comentamos anteriormente entramos na era da globalização, na qual a relação entre o capital e o Estado se escancarou, os Estados-Nação estão todos endividados e só realocam seus programas e funções ‘rolando’ as dividas anteriores e conseguindo mais empréstimos, nos anos 90 assistiremos o Brasil procurar empréstimos junto ao FMI (Fundo monetário internacional) por três vezes, mas além disso existe um segundo mecanismo – que já comentamos- que é a dependência do investimento das bolsas de valores nos países, mais especificamente nas dividas destes países, enquanto os investidores acreditam que seu investimento vira com os juros que o banco central de determinado país, o próprio banco-central consegue acumular capital para honrar com suas dividas e pagar a taxa de juros desejada. Neste cenário não basta ser um investimento seguro, você deve APARENTAR ser um investimento seguro.

É neste bojo que surge o plano real, ele tenta fortalecer a moeda nacional, - para cada dólar um real de inicio-, para tal o Brasil precisa atrair para si montantes imensos de investidores – que invistam na divida nacional, para capitalizar o banco para que tenha capital suficiente e sustente o valor de moeda- para tal o Brasil aumentou a taxa de juros a níveis absurdos ( chegou aos 45% com FHC ), isso só acelerou o crescimento da divida do Estado, ao

13

Vale destacar que Collor abre os mercados sem planificação, isso mata, por exemplo, o setor de informática nacional. O COBRA fica beira da falência e para evitar o fechamento o Banco do Brasil compra a empresa que faz o parte do desenvolvimento informático da empresa.

mesmo tempo que trouxe um investimento incapaz de sustentar esta estratégica. Em uma segunda via , para levantar capital – e por ideologiaprivatizou-se neste período uma miríade de estatais que garantiam alguma receita ao Estado, além de uma indústria saudável porém a bala de para a indústria paulista pode ser considerada o desfazimento da proteção estatal para a indústria nacional, associada a valorização da moeda – mesmo após desistir da equidade com o Dólar, o Real era uma moeda forte em relação as anteriores- esta politica encareceu as exportações brasileiras, ao mesmo tempo que incentivou as importações, isso desmobilizou a indústria nacional que era incapaz de competir sem travas com os produtos estrangeiros, isso causa uma retração impressionante na indústria, a falência generalizada da indústria dos anos 90.

O endividamento público não afetou apenas a esfera federal, os estados e municípios também são ferozmente afetados pela politica de endividamento dos nos 90’.Sousa(1994) analisa o endividamento do estado de São Paulo na virada dos anos 80’ aos anos 90’. Sua analise vai a fundo nas formas de receita, despesa e politicas publicas de crédito bancário. O primeiro dado interessante que o autor nos traz é a transformação da estrutura PIB(produto Interno Bruto) do Estado.

(tabela 11)

O primeiro movimento que percebemos é o crescimento da agricultura na composição do PIB, isso se da pela modernização do campo além de um espraiamento a produção (a cidade toma áreas rurais, as áreas rurais se embrenham na floresta criam novas área de cultura e pecuária, mas com tecnologias mis produtivas), o segundo dado , premonitório, é , pela primeira vez em décadas, a diminuição da participação industrial e o tímido crescimento da importância dos serviços, isso é uma amostra do que viria a ocorrer.

Sousa(1994) destaca que a divida do Estado vem de uma estrutura entre as estruturas do Estado disforme, o Estado de São Paulo sempre influencio na produção, como vimos , desde a produção cafeeira até a industrialização, porém com a ditadura militar os impostos eram arrecadados para a União e não para o Estado de São Paulo, que não reverte seus investimentos e cria uma bolsa deficitária que ira explodir na década de 80, Collor piora a situação tirando a liquidez para rolar a divida. Isso tira do Estado, pouco a pouco, a capacidade de gerir a economia e o desenvolvimento da cidade (mesmo com estímulos e desestímulos) , o autor também coloca a precária situação social, a educação insuficiente que segundo ele “Apesar do Estado ter 80% da clientela na faixa escolar de 7 aos 14 anos, só aplica 1,22% do PIB paulista no setor educacional”(SOUSA,1994:344), aponta também a questão da saúde que ele salienta “Na área de saúde a situação é mais drástica, pois somente 0,56 % do PIB é aplicado, enquanto que os padrões internacionais é de 1,7%”(SOUSA,1994:344),o que mostra a fragilidade deste estado em oferecer o mínimo. Claro, a ideologia do Estado mínimo veio bem a calhar para estes administradores que vem o mundo de um gabinete e em números e não se preocupam com as pessoas reais no mundo real, ao observar a divida do Estado que evoluiu mais de 500%(como vemos abaixo) em dez anos abrem mão do básico.

(Tabela 12) Um fator contraditório foi a presença da Federação das Industrias do Estado de São Paulo (FIESP) neste processo, corroborando para seu próprio findar “Em agosto de 1990 a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, comandada naquele momento pelo empresário Mário Amato, publica um documento que expõe de forma explícita o ideário da entidade e as propostas concretas que deveriam ser tomadas rumo à inserção do “Brasil moderno” na “nova ordem econômica do mundo”: Trata-se do livro intitulado Livres para crescer – proposta para um Brasil moderno”(DEO,2005:91)

O ‘livres para crescer’ era um documento que apregoava, escorado na crise dos 70’ e 80’, o fim do Estado intervencionista na indústria, visava um novo papel do Estado no qual “A função do Estado seria corrigir distorções, através da política fiscal e monetária, onde o orçamento é peça vital. A administração deveria passar por uma reestruturação, a começar pela redução drástica do número de funcionários. Segundo a FIESP, era (e ainda é) preciso adotar um “perfil administrativo” de empresa privada, no processo de comando da máquina pública. Este “perfil” resultaria num alto grau de produtividade, baixando sensivelmente os gastos do governo com as folhas de pagamentos, o que liberaria maiores montantes de recursos

para o investimento em áreas sociais e de infra-estrutura, estas, outras funções da União, segundo o documento. ”(DEO,2005:94)

Desta forma a critica recai sobre o “Estado Empresário”(DEO,2005:98), ou seja sobre o papel do estado na economia e as estatais, o caminho seria a privatização, inclusive de serviços como saúde, educação, etc. De certa forma, o ‘livres para crescer’ é a versão brasileira do ‘consenso de Washington”, que versava sobre como retomar o crescimento da América

Observamos junto deste processo de enfraquecimento do Estado, desindustrialização e crescimento do setor de serviços uma mudança na vida das pessoas comuns, o proletariado ganha nova face, e seu trabalho também é diferenciado. Se antes o trabalho regido pela CLT (Constituição das Leis Trabalhistas) era regra, agora temos o trabalho informal e a queda do valor salarial, e das relações formais de trabalho, observe no quadro abaixo que a partir dos anos 90’ existe uma queda considerável nos índices de trabalho formal, e uma alta em todos os outro meios empregatícios, principalmente o informal e o ‘por conta’ , que pode ser desde uma (micro) empresa até a vendas informais de itens urbanos e alimentos rápidos (camelos e banquinhas), além do desemprego mascarado nestes dados ( misturado com subempregos) , e pelo PEA (População Economicamente Ativa), ou seja, gente fora do mercado por opção ou pela falta dela – além de fatores como idade e invalidez, como podemos observar abaixo:

(Tabela 13) Podemos observar (na tabela abaixo) também que no período a informalidade atingiu a toda a classe trabalhadora, mas a parcela da classe trabalhadora que faz parte de uma camada da classe média, e classe média alta, que possui acesso a estudos universitários será a classe mais atingida pela informalidade, com índices de crescimento da informalidade alarmantes a partir dos anos 90’. Isso é a precarização do trabalho do especialista, e mais, é a redução desta camada, antes realmente na média entre o trabalhador e o proprietário, á uma condição de proletário. A proletarização (ou seja, o fato da classe letrada atingir índices de progressão da informalidade ao ponto que aqueles que já eram informais se mantém na informalidade) é um dado importantíssimo para entendermos este novo mercado de trabalho.

(Tabela 14)

O trabalhador comum também teve dificuldade até nos pontos mais fundamentais. A alimentação dos mais simples foi prejudicada. Em um artigo sobre a alimentação nos anos 90, Barreto e Cyrillo(2001:52), concluem que “Infere-se a existência de uma provável inadequação dietética nos domicílios de São Paulo e de riscos associados a uma ingestão insuficiente de legumes, verduras e frutas.” Os autores ainda completam: Para todas as classes de renda familiar, observou-se um aumento relativo nos dispêndios com os produtos industrializados e uma clara redução na percentagem gasta com os itens semi-elaborados e in natura. O grupo dos in natura compreende características dietéticas em boa medida similares: legumes, verduras e frutas são alimentos ricos em vitaminas, minerais antioxidantes e fibras; conseqüentemente, são agentes importantes na prevenção das doenças crônico-degenerativas. Portanto, a diminuição na parcela dos orçamentos familiares relativa aos produtos in natura, conforme descrito, representaria um risco potencial à maior frequência dessas morbidades e estaria contribuindo para o estabelecimento da transição nutricional e epidemiológica no País. Os motivos que levaram a população paulistana a diminuir o percentual das despesas com legumes, verduras e frutas, na década de 1990, não parecem ter suas origens unicamente nos preços de mercado. Pela comparação

entre os períodos das POF Dieese e IBGE, manteve-se a tendência de decréscimo na parcela dos gastos com o grupo in natura, apesar da queda dos seus preços relativos. Conseqüentemente, pode-se inferir que, para elevar o consumo dos produtos in natura, o aumento da renda seria um incentivo econômico mais adequado que a redução dos preços relativos. Isto porque a participação do grupo in natura nos gastos domiciliares é maior para as classes de renda mais elevadas, independentemente do período em análise, e verificou-se a queda da participação desse grupo no total dos gastos com alimentos, mesmo quando seus preços relativos estavam em declínio.

(Barreto e Cyrillo, 2001:58) Grosso modo, o que é descrito pelo artigo, sem mesmo que ele toque no assunto, são duas características básicas da época que estão interligadas.

A primeira é mais simples, o artigo descreve o fato dos paulistas não estarem fazendo as compras típicas da ‘feira-livre’, mesmo quando o valor da feira não registra aumento, o que ajuda em um quadro de epidemia de ‘má alimentação’ em todo o país, a conclusão deste fato para os autores esta ligada á compras qualitativamente ‘erradas’, pela preferencia dos industrializados e etc; eles citam o marketing como fator importante. Não discordamos totalmente dos autores, a alimentação esta ligada ao habito, e o modo de vida urbano não se mescla bem com o do campo, dos produtos in natura,- mesmo com a subida de preço dos industrializados eles são de preparo mais rápido e sabor mais exagerado- porém existe uma segunda característica.

A segunda característica é que as medidas anti-inflacionárias clássicas (subida da taxa de juros associada a cortes de gasto do Estado) contém a inflação pois retira a moeda de circulação (que fica detida nos bancos, em investimentos, poupanças ou simplesmente para de ser gerado pois as pessoas estão desempregadas), este fator básico da ‘anti-inflação’ não permite o consumo, então mesmo com os preços ‘congelados’ as vendas de qualquer produto – até alimentícios- não se alavancam, pois as pessoas não tem dinheiro para comprar, estão poupando ou simplesmente desempregadas, aos mais simples, neste tempo de ‘vacas magras’, até a feira foi negada.

O desemprego em alta é uma constante desta nova forma de capitalismo que se instaura no Brasil, a desindustrialização e crescimento do

ramo de serviços causa a classe trabalhadora como um todo um crescimento nos desempregados, visivelmente a partir da década de 90’. Como já dissemos, Harvey (2005) descreveu o sistema capitalista como um sistema que necessita de um exercito industrial de reserva, este exercito de desempregados derrubam o valor dos salários- por isso a necessidade que existam em todos os ramos e escolaridades- podemos adicionar que isso diminui o custo das mercadorias, logo, aumenta o lucro e pode cair o preço, caindo a inflação. É este o mecanismo real mecanismo anti-inflacionário que o Brasil adota nos anos 90, o desemprego estrutural com a valorização da moeda. Como veremos a seguir nos dados de desemprego:

(Tabela 15) Este efeito de transição do trabalho formal ao desemprego e trabalho informal parece atingir todas as metrópoles nacionais mas em graus diferentes “Quanto às regiões metropolitanas, os maiores aumentos nas transições diretamente para a informalidade ocorreram em São

Paulo, Porto Alegre, Recife e principalmente Salvador, ao passo que o aumento das transições para o desemprego foi mais forte em São Paulo, Recife, Salvador e principalmente Belo Horizonte. Em termos gerais, as regiões que menos sofreram em termos de queda na formalidade foram as do Rio de Janeiro e Porto Alegre” (CURE&MENEZES-FILHO,2006:24)

No Brasil a transição salarial entre o trabalho formal e informal nos anos 90’, significou uma perda pequena em porcentagem, mas gigantesca em direitos, o trabalho formal traz em si encargos como INSS, FGTS e afins que o empregador arca. Com o fim deste encargo, assim como o fim das funções onerosas ligadas a demissão o trabalhador esta desprotegido e seu custo ao empregador , no emprego e no descarte, é menor. Logo a aproximação que veremos a seguir da oferta formal e informal é uma estratégia do empresariado para precarizar o trabalhador e burlar seus direitos – sem que o mesmo observe isso até sua demissão-. Como Curi nos mostra a diferença: Estes diferenciais reduziram-se significativamente na segunda metade da década de 1990. O diferencial de salários entre o setor formal e o informal, que estava entre 8% e 10% até 1995, caiu para porcentuais entre 4,6% e 5,7%, ou seja, caiu pela metade. Já o diferencial entre o setor formal e o trabalho por conta própria, que estava entre 3,4% e 11%, passou para zero, indicando ausência de segmentação. Por fim, o diferencial entre o trabalho por conta própria e o setor informal, que estava na faixa entre 7,7% e 15%, continuou nesta mesma faixa. (CURE&MENEZES-FILHO,2006:32)

O valor, circulante em moeda nas mãos do trabalhador não diminui drasticamente, mas enfraquece o Estado, ao não cobrir seus impostos (que deveriam ser pagos pelo empregador) e o trabalhador perde a proteção que o aparato estatal construiu ( a partir de muita luta dos trabalhadores) para ele. É como se o neoliberalismo estivesse retomando a luta-de-classes da estaca zero.

Contraditoriamente, temos em 1989, associada ao Partido dos Trabalhadores a prefeita Luiza Erundina, ela inicia um processo de ‘mutirões’ para a construção e revitalização das favelas da cidade de São Paulo, como destaca Santos(2014:67)seu projeto possui algo “inédito até então: a participação popular”.

Em

contraposição

surge

o

projeto

posterior

o

Cingapura

de

verticalização de favelas, levado a cabo por Paulo Maluf, o trabalho de França (1999) foi comparar os dois projetos a nível de desenvolvimento de uma cultura politica, mas iremos nos ater as descrições deste processo de reconstrução e revalorização/verticalização das favelas de São Paulo que marcam os anos 90’. Segundo o autor seu objetivo é comparar: "Programa de Urbanização de Favelas", mediante o qual a prefeitura pretendeu viabilizar a participação dos moradores de favelas em todas as etapas do processo, por meio de reuniões semanais entre favelados e técnicos da prefeitura, e, por outro, o "Projeto Cingapura", programa de urbanização de favelas desenvolvido pelo governo municipal de São Paulo gestão Paulo Maluf, do qual não se têm noticias de que tenha havido participação dos favelados para as delimitações dessa política pública.”(FRANÇA,1999:06)

Ambos os programas, segundo o autor, tem a característica em comum de não deslocar o morador, mas construir sobre a antiga favela os conjuntos habitacionais, além do mais ambos previam uma inserção deste, antes local precarizado, ao bairro tem uma proposta arquitetônica mais ‘agradável’ em relação aos Conjuntos Habitacionais da década anterior, porém Apesar das semelhanças em relação à não remoção de favelas e da vinculação entre arquitetura e habitação social, é importante citar aquele que parece ser um dos principais pontos de desencontro entre as duas políticas habitacionais: o formato arquitetônico das moradias. Enquanto o Projeto Cingapura tem como ponto de partida a verticalização de favelas, a política habitacional levada a cabo durante a gestão Luiza Erundina previa a urbanização de favelas como sendo o primeiro passo a adotar no atendimento à população de baixa renda na cidade de São Paulo (FRANÇA,1999:06)

O peso ideológico da construção recai sobre o valor, o autor destaca que os condomínios construídos nos mutirões de Erundina custavam em média seis a nove mil reais a menos para serem levantados que os do empreendimento Cingapura, logo o valor agregado do segundo se sobrepôs ao do primeiro, ao mesmo tempo que o Cingapura é construído com uma diferença de dez meses de antecedência por dispensar a participação popular, que afirma o autor, é introduzida na ocupação para adaptação a nova vida.

Uma dificuldade na pesquisa de França é um aspecto importantíssimo para nossa avaliação, a venda destes apartamentos, mesmo somente com o "Termo

de

Permissão

de

Uso

a

Título

Precário

e

Oneroso"(FRANÇA,1999:46),que não garantia a propriedade até 25 anos de ocupação,

os

imóveis

foram

sendo

vendidos

e

uma

característica

impressionante ocorre, Ironicamente, a venda de imóveis no conjunto habitacional Minas Gás trouxe um fator positivo que dificilmente poderia ser antevisto por qualquer formulador de políticas públicas. Dada a pauperização da classe média brasileira em geral e paulista em particular, muitas famílias que anteriormente suportavam pagar aluguel foram vítimas de um decréscimo em seu padrão de vída, tendo assim que se adequar a novos padrões que podiam ser considerados aquém do seu estilo de vida anterior. Essa ex-classe média ocupa hoje grande parte dos apartamentos vendidos pelos moradores originais(FRANÇA,1999:72)

O que é qualificado como ‘fator positivo’ pelo autor na verdade demonstra um mecanismo bastante típico desta nova cidade e da ação do Estado deste momento em diante, o Estado atua como um valorizador do espaço nos locais periféricos, onde existe escassez produzida, ou seja, os ‘territórios de reserva’, na ideia de Robira(2005), a cidade vai revalorizar espaços apropriando de espaços desvalorizados, realçando capital a partir do Estado

(que age pela ausência e pela presença), transformando estas

localidades que são ‘territórios reserva’. Robira (2005) irá se apoiar nas ideias de Harvey e Rosa Luxemburgo de que o capitalismo tem uma tendência de expansão, ou seja, o capitalismo precisa da absorção gradual de espaços pré-capitalistas para expandir-se e reproduzir o processo de acumulação primitiva de capitais. Neste processo Robira apoiada em Harvey irá denominar de ‘acumulação por espoliação ou despocessão’. Valorizando-se (estes locais), a classe trabalhadora – conscientemente para obter lucro, ou inconscientemente por não conseguirem pagar pelo nível de vida que tomou aquele novo local- é expulsa, periferizando-se (geralmente nas cidades ao derredor de São Paulo) e dando espaço para uma nova classe média, ou uma classe média empobrecida, como nestes casos estudados. Este processo de migração da classe média e ocupação de espaços antes periféricos é uma ‘gentricacion indireta’, por assim dizer, o processo típico é descrito por Serve Martinez Rigol (2005) nos traz a ideia de ‘gentrificacion’, após analisar 25 anos de reestruturação e transformação de metrópoles ele

aponta para um processo de transformação dos bairros neste período pósindustrial, um processo de substituição de bairros degradados em bairros de classe média, tal processo pro autor é a marca de um conflito interclasses, onde uma ‘nova classe média’ expulsa o (lupen)proletariado para instalar-se no bairro sobre uma nova arquitetura e valorização, ccultural e econômica, expulsando os descamisados e trabalhadores, já a ‘gentrificacion indireta’ é o mesmo processo só que ocorrendo por obras indiretas (não se coloca espinhos debaixo de pontes para que os moradores de rua não durmam lá, ao contrario disto se constrói um item publico)que agregam valor e atrai uma classe média em ascensão e uma classe média alta em declínio- que como vimos esta em um processo intenso de declínio- este processo tem suma importância para entendermos a dinâmica da ação do Estado sobre o espaço. Ainda sobre os conjuntos habitacionais, vale pensar a ação do governo do Estado nesta área a partir do CDHU(Companhia de Desenvolvimento de Habitação Urbana), que é do governo do Estado, e cai na mão do PSDB(Partido Social Democrata do Brasil)

em 1995 e o governa até o

momento que estas palavras estão sendo escritas, entre 1995 e 2003 o governo do Estado foca em um programa de multirões, o qual se investem 180 milhões somente

para se ‘regularizar’ os grupos associativos de bairro, o

governo então transfere verba para os municípios e associações construírem as residências, isso ele denominou de ‘autoconstrução-assistida’, porém o programa tropeça em problemas como os terrenos supervalorizados no qual são construídos (próximos a hospitais e equipamentos governamentais) aumentam o custo – e isso é tomado como problema pelo governo, sem considerar as condições de moradia que iriam entregar na reformulação de 2002- , o nível de organização prévia da comunidade para executar a tarefa da construção, a necessidade de técnicos além da comunidade( o programa não visava forma-los) e a precária estrutura de acompanhamento do CDHU associado aos contratos indiretos tomados para a obra – contratos entre associações de bairro e prefeituras com empresas e população, não com o CDHU cerceavam seu poder de cobrança e fiscalização-.(ROSSI,2012:91).Isso mostra um típico programa conservador, com pinceladas de progressismo na fachada, a ideia é basicamente, o governo do Estado da o terreno e a verba e

terceiriza a função de contratar alguém para a construção, e isso ele chama de mutirão, pela comunidade ter alguma participação no processo, não é ela quem decide, é o Estado. O conservador passando-se por progressista. A cidade de São Paulo neste momento tem uma característica transitória interessante, entre as unidades permanentemente ocupadas para moradia (ou seja, aquelas que não estão vagas ou estão paradas para especulação) em 1991, 78,3% eram residências horizontais e apenas 21,7%

eram

verticais,

nesta proporção entre as residências de alto padrão temos 3% da primeira e 12% da segunda, isso é proporcionalmente interessantíssimo, pensando que o Estado

constrói

apartamentos

para

o

proletariado,

significa

que

os

apartamentos do ramos privado tem uma tendência à serem de alto padrão, para classes em ascensão, estas são observações de Wissenbach(2008:66), em uma proporção de 100 residências (aproximando) 78 seriam residências horizontais e 22 verticais, porém entre estas as de luxo seriam 2,3 horizontais e 2,6 verticais. Perceba que conforme o numero aumente as unidades de luxo em apartamento se destacam. O mesmo vale para as residências de baixo padrão que são em sua suma maioria horizontais como veremos nos dados abaixo

(Tabela 16)

Percebemos então uma segmentação residencial e uma diferença de classe, o modelo de residência de luxo enquanto casarão esta sendo abandonado, no lugar entra em cena os ‘superapartamentos’, lançados com diversos ‘adereços’ para agregar valor, uma parte deles investimentos do Estado no bairro, este empreendimento é levado a cabo por incorporadoras de imóveis. Devemos perceber que esta cidade, na qual 47% de seu terreno era direcionada para residências, sendo o uso primordial da cidade, se considerar os terrenos vazios a relação sobre para 62%, os apartamentos por sua vez, ocupavam um espaço bastante concentrado, o centro expandido detinha 65% dos apartamentos, enquanto dos outros 35% para além destas fronteiras, parte expressiva foi construída pela ação estatal, (Wissenbach,2008:67) desta forma se conclui que “temos uma evidência que a lógica privada foi, até o inicio da década

de

90,de

uma

produção

concentrada

espacialmente”

(WISSENBACH,2008:68), podemos ver a tendência de concentração ao avaliarmos os dois mapas a seguir:

(Mapa 18) Perceba que conforme nos afastamos do centro expandido o ‘coeficiente de não edificação’ aumenta proporcionalmente sua distancia da centralidade, a concentração de terrenos não edificados e sua relação periférica são um indicio do seu contrario, para onde os investimentos privados se voltariam, uma segunda evidencia vem no segundo mapa que mostra a centralidade dos apartamentos, além da visível mão do Estado no braço leste da cidade. Estas

edificações usam do centro para se valorizar, é esta a estratégia privada neste momento.

(Mapa 19) A produção imobiliária ganha uma nova arquitetura, uma financeirização e se torna um mercado de moradia Mas como vimos não é o fluxo de pessoas e veículos o que mais importa no meio técnico-cientifico-informacional-comglobalização, mas a circulação de capital e do meio financeiro, este meio financeiro financeiriza o espaço e as relações de construção da cidade. O setor imobiliário se desprende do Estado, (do BNDES), e funda uma nova forma de financeirização,

o

“autofinanciamento”,

cooperativas

habitacionais

ou

consórcios imobiliários se financiam a partir de depósitos dos futuros moradores, estes consórcios criam cartas de créditos no valor do futuro

apartamento (BOTELHO,2005:213), vale destacar que não foi incomum neste período obras inacabadas ou golpes nestes consórcios .

Percebemos um aumento das cooperativas de habitação na segunda metade dos anos 90’, pela constituição liberar as cooperativas de controle e fiscalização externos, o fato de não poderem utilizar o FGTS direciona as cooperativas para as classes médias autônomas, outro fator é que ela não possui fins lucrativos enquadrando-se no terceiro setor em expansão na cidade. A mesma se desenvolveu em dois rumos, o planejando na década de 60’ quando aconteceu a sua primeira menção na legislação, voltada aos sindicatos para dar acesso à moradia (tem como exemplo o METRO de São Paulo com a COOPERMETRO), em um segundo ramo ligado à produção privada de moradias

ligadas a empresas de ‘assessoria técnica’ que

conseguem criar estratégias para se apropriarem do valor produzido, cobram taxa de 5 a 15% do empreendimento, além de ter o controle de todo o fluo, deturpando a finalidade do cooperativismo e se assemelhando muito aos consórcios e muitas são consórcios disfarçados fugindo ilegalmente dos tributos. (BOTELHO,2005:219).

Os consórcios têm crescido de maneira estrondosa a nível nacional, surgidos na década de 60, cresceram 213% entre 1995 e 2001- dados da Associação Brasileira de Administradora de Consórcios- o publico mais comum do consorcio é aquele que procura o segundo bem, dividindo a dianteira com aqueles que procuram uma alternativa ao aluguel e não cumprem o enquadramento especifico dos bancos. Porém oferece uma dupla perspectiva a demora de conseguir o imóvel associada a possibilidade de não conseguir retira-lo devido a inadimplência no grupo se contrapesa com o fato dos imóveis serem 25% a 35% mais baratos em relação ao financiamento federal, destinando-se assim a uma classe média e uma classe média baixa ( a classe média em declínio que vimos) (BOTELHO,2005:221).

O boom das cooperativas de habitação na década de 90 tem diversos fatores, a estabilização da moeda cria uma possibilidade de planejamento em longo prazo para aqueles que não estavam no ramo industrial, a juro alto fez

valer mais a pena investir na divida nacional em contrapeso a especulação urbana e atendem a uma parcela expulsa do ramo financeiro comum (BOTELHO,2005:226). Os empreendimentos das ‘assessorias técnicas’ procuram terrenos desvalorizados ao derredor da capital de preferencia, já as cooperativas procuram bairros de classe média, ligados aos residenciais de alto padrão. Mesmo com estas características as cooperativas tem papel importante na verticalização de áreas desconcentradas iniciando a quebra do que vimos no ultimo mapa, isso pode ser percebido pelo mapa abaixo, mostrando

que os empreendimentos com

cooperativas de

habitação

ultrapassaram os limites do centro expandido de 1991 já na década seguinte:

(Mapa 20) A cidade deve ser fluida e o Estado tem seu papel nisto, o meio-técnicocientifico-informacional-com-globalização é formado por ligações e integrações (i)materiais que se desenvolvem na cidade, dês do desenvolvimento mais agilizado da telefonia até as vias que se transformam e abrem uma cidade mais integrada, como nos diz Santos e Silveira “A questão da fluidez do espaço apresentasse agora com outros termos. Como informação as finanças passam a ser dados

importantes , se não fundamentais, na arquitetura da vida social, o espaço total de um país, isto é o seu território enquanto suporte de produção em todas suas instancia, equivale ao mercado”(SANTOS & SILVEIRA,2008:53)

Este processo se materializa na própria cidade que apresenta em seu plano diretor de 1991 além de diversos tópicos a fluidez da cidade como uma necessidade e apresenta este novo mapa. Uma tendência (marcada pelas vias cor de rosa), é uma reestruturação radical da zona leste paulista, assim como a zona sul (antes da Billings e do Guarapiranga) e o Butantã, etc..

(Mapa 21) O projeto era de que a que a ação do Estado levasse a urbanização a cabo nestas zonas afastadas e vencesse o padrão concentrado de valorização, isso como vimos tem papel fundamental na valorização dos terrenos e na gentrificacion direta e indireta da cidade. As incorporadoras, cooperativas de habitação e de assessoria técnica’ começam então o século XXI firmemente neste caminho.

Com esta desindustrialização acelerada por determinadas politicas de Estado causando a quebra das industrias nacionais , que chegou nos anos 80’ a ter a décima maior produção do mundo, surge então das entranhas da cidade anterior, uma cidade de serviços ligados as próprias TIC’s, ao turismo, ao comercio ilegal, aos serviços-não padronáveis , um grande exemplo são os Call centers, outro fator é o ganho e reinvestimento no setor imobiliário na cidade que se transformou entre o inicio dos anos 90’ e o inicio dos anos 2000, Dessa forma, a indústria cede terreno diante do avanço das áreas residenciais e de serviços, não para evitar perdas, mas para usufruir ganhos com a especulação imobiliária. Esta tendência era bem conhecida nas metrópoles mais antigas e já podia ser notada em São Paulo. De modo que nada mais fiz do que projetar para o futuro uma tendência então já presente. No que eu estava certo. Hoje, praticamente todos os antigos bairros industriais de São Paulo, do Brás ao Tatuapé, da Casa Verde à Lapa e da Pompéia à Barra Funda se transformaram em bairros residenciais e de serviços. (Singer,2004:227)

Singer cita a expansão do serviço de Saúde, educação, inovação tecnológica e é claro o setor financeiro, em todos estes setores São Paulo tornou-se prontamente a ponta do mercado brasileiro, Portanto, apesar da calamidade social, que a desindustrialização e a precarização das relações de trabalho acarretaram, São Paulo também foi beneficiada pela terciarização. Como a maior metrópole nacional, São Paulo tem mais mercado para serviços novos, derivados de inovações tecnológicas ou do surgimento de novas necessidades, que os demais centros urbanos. Cursos sofisticados de pós-graduação, centros médicos especializados em novos tratamentos ou em enfermidades raras, cardápios refinadíssimos de produtos financeiros, para todos os gostos e todos os bolsos, além de uma profusão de cursos não convencionais, tratamentos corporais, teatros e salas especiais de cinema são alguns dos novos serviços que vêm colorindo o panorama econômico de São Paulo. E um efeito do ganho de escala que só a maior cidade do país pode proporcionar. (Singer,2004:230)

Vejamos a seguir :

(Singer,2004:231)- Tabela 17-

O crescimento do ramo de serviços é uma constante , ocupa em 2001 um quarto de toda a ocupação da metrópole, somado ao ‘outros setores’ chega a mais de 43% de toda a ocupação, Singer ainda aponta para o ramo social, repleto de ONG’s (organizações não governamentais) que tiveram um crescimento de quase 100% no período, isso mostra a transformação da cidade

de

São

Paulo

,

no

que

o

autor

chama

de

“metrópole

madura”(Singer,2004:235), uma nova metrópole com uma vocação aos serviços e altamente produtiva nisto. A ‘metrópole madura’ não surge sem uma pequena transformação no poder estabelecido, devemos primeiro nos situar aqui. Vimos até aqui que o poder estabelecido- o modelo de poder com o qual o Estado se organiza- se transforma quando uma crise politica e uma crise econômica se encontram de forma dialética (se alimentando ao mesmo tempo em que se excluem entre si), neste ponto da história que os regimes se transformam em outros e o poder é tomado por uma parcela de grupos ou outra, logo a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao poder

não é – diferentemente do que sua militância

argumenta- uma transformação do Estado brasileiro, ou da jovem democracia, a eleição de Luís Inácio Lula da Silva é um ajuste de qual grupo e qual projeto econômico levaria o Brasil. Nota de rodapé acrecentar : isso de certa forma finda o ciclo politico da ditadura militar, que em sua força de repressão cria

dialeticamente a

aglutinação da esquerda em um único partido. Ao chegar no poder, a sinteseao

chegar encontra a sua antítese a esquerda se fragmenta e o partido dos trabalhadores sai a cada dia de seu espectro ideologico. Apos as apertadas eleições de 2001, Luís Inácio Lula da Silva chega ao presidência da republica com o Partido dos Trabalhadores, assumindo em 2002. Sua chegada ao poder, como analisamos não é uma ruptura, mas uma continuidade ao analisarmos a acumulação de capital. No primeiro decênio do século XXI acontece na América do Sul uma resposta as politicas neoliberais da década de 90’, diversos partidos de centroesquerda chegam ao poder, eles são os ‘trabalhistas’ ligados a sindicatos e a uma politica econômica muito mais peronista (politica tipicamente Argentina de sindicatos atrelados ao governo associado a um Estado intervencionista com uma casta corporativa prosperando neste meio) que aos socialistas do século anterior. A ‘onda vermelha’ na América latina segue até 2009 sua expansão, tomando Brasil Peru, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile, Paraguai, equador, Venezuela, Panamá, Nicarágua, Honduras, Guatemala e Haiti tem governos com algum espectro dentro do trabalhismo. Isso não significa que seus governos se tornaram anticapitalistas, eles só tinham outra forma de gerencialo.

(Mapa 22) Do ponto de vista geopolítico o Brasil adota nova postura, como Cepaluni e Vigevani(2007) destacam o Brasil tem conseguido articular uma politica externa que de um modo geral segue uma politica dos ditos ‘em desenvolvimento’. Alinhando-se assim a Rússia, Índia, China e África do Sul (os BRICS), estas relações não são lineares e perfeitas, existem problemas – como o crescimento de importações de produtos subvalorizados da China e a negação da mesma de votar a favor de uma cadeira ao Brasil no Conselho de Segurança da ONU-. Chegou- se na geografia a ensejar-se uma leitura ‘a lá’ guerra fria, de dois blocos opostos, um apelidado de ‘azul’ e ‘vermelho’. O que chamaremos de bloco ‘azul’ será o grupo hegemônico da economia capitalista atual, forjado entre o bloco de influencia dos EUA Europa , concentrado nos grupos econômicos União Europeia e Nafta e militarmente apoiados na OTAN. É na OTAN que se incrusta no espaço isto que chamamos de "bloco azul" um bloco ocidental de onde a atual estrutura econômica deve ser mantida, temos então na face da OTAN a própria face do bloco reacionário ( bloco que reage à) o bloco azul.

O segundo bloco ‘vermelho’ marcado por MERCOSUL e BRICS e União euro Asiatica. Brasil, Rússia, Índia ,China e à África do Sul, países de ideologia vermelha forjando um bloco diferenciado do esperado até então, culminando com a formação do banco internacional dos BRIC’s, com credores em potencial na América do sul, assim associando-se ao MERCOSUL tendo o Brasil como pendulo de equilíbrio entre estes blocos econômicos, vale pensar também o possível papel de aliança que a UEE (União euro asiática ) que promete se forjar em 2015, grupo de 5 países (Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirquistão e Tajiquistão) todos membros da antiga URSS que promete aumentar a influencia disso que chamamos aqui de "bloco vermelho", bloco geopolítico que tem procurado a hegemonia econômica mundial formada por MERCOSUL, BRIC'S e UEE.

Esta afirmação se dá pela resistência investida pelos Estados Unidos da América e União Europeia a cada movimento de aproximação

dos países do

dito bloco vermelho, segundo esta leitura teríamos na divisão econômica e geopolítica algo próximo do mapa abaixo:

(Mapa 23) Como o próprio mapa demonstra esta imagem é limitada e limitante, esta leitura perde de vista que não temos aqui dois sistemas econômicos conquistando territórios, ambos os grupos são capitalistas, quer dizer que este grupo hegemônico que chamamos de 'bloco azul' mesmo ameaçado pelo 'bloco vermelho' do ponto de vista econômico, depende do mesmo para que sobreviva economicamente. Os dois grupos acabam no embate econômico se retroalimentando sendo um o combustível contra a falência dos demais formando um complexo fluxo econômico mundial, tendo na linha da navalha a falência , a guerra , a prosperidade e a paz.

A maior imagem disso é o regime socialista Chinês, apesar de ter uma politica deliberada anti-americana é hoje o maior fornecedor norte-americano, se a China sair do mercado mundial ela deixa de ser uma ameaça para os EUA ao mesmo tempo que o leve a falência, ou seja, na competição 'os dois vencem' pois crescem e dependem um do outro, com o fim da competição 'ambos perdem' pois tanto o bloco vermelho ( representado aqui pela china), quanto o bloco azul (representado aqui pelos EUA) dependem um do outro para existir.

Lembrando que ambos os blocos carregam consigo o modo de produção capitalista, oque torna esta situação dialética a descrita acima, os contrários geram um equilíbrio estável e instável. Se um vencer, os dois perdem. Se um perder, os dois perdem.

Desfeita esta confusão, voltemos às ideias de Cepaluni e Vigevani(2007) eles enxergam nas relações SUL-SUL que o Brasil constrói no governo Lula são uma continuação das politicas do FHC, como o por exemplo o G-3 da era de Fernando Henrique Cardoso que se torna o germe do que viria a ser o BRICS. Esta continuação tem uma característica de aprofundamento como a missão do Haiti e a liderança regional são exemplos disto. A principal diferenciação é a opção(forçada por uma onda de manifestações) de saída da ALCA e fortalecimento do MERCOSUL. A estratégia trabalhista então, longe de ser uma estratégia de diferenciação e afastamento é uma estratégia de “Autonomia pela Diversificação” (Cepaluni e Vigevani,2007:283), que pode ser definida, segundo os autores, como: “autonomia pela diversificação”, enfatizando a cooperação SulSul para buscar maior equilíbrio com os países do Norte, realizando ajustes, aumentando o protagonismo internacional do país e consolidando mudanças de programa na política externa. como a adesão do país aos princípios e às normas internacionais por meio de alianças Sul-Sul, inclusive regionais, e de acordos com parceiros não tradicionais (China, ÁsiaPacífico, África, Europa Oriental, Oriente Médio etc.), pois acredita-se que eles reduzem as assimetrias nas relações externas com países mais poderosos e aumentam a capacidade negociadora nacional.” (Cepaluni e Vigevani,2007:283).

Este detalhamento da politica externa brasileira ( que é quase uma exceção no trabalho) é necessário para desmistificar tanto o movimento do capitalismo global e principalmente o governo trabalhista, que longe de ser revolucionário é um ‘reformador sem reformas’, mas que tem uma atuação a nível nacional que modifica- por algum período- o nível de consumo da classe trabalhadora. Ao que parece o governo do Partido dos Trabalhadores tirou a poeira de cima dos livros de J. Keynes e decidiu utilizar uma politica hibrida de neoliberalismo com keynesianismo, alguns aspectos da politica keynesiana são claramente vistos nas politicas do séc. XXI brasileiras. O Brasil era um país de grande população, uma grande disponibilidade de recursos, mas com baixo consumo. A solução encontrada pelo governo para sanar este problema era criar uma classe-trabalhadora-consumidora, os caminhos traçados seguem dois caminhos o primeiro é a distribuição de riqueza e busca pela inexistência de miseráveis (nos critérios da ONU) em território nacional, isso foi alcançado pela ‘bolsa família’ que oferece para aqueles que estão alijados do mercado de trabalho ou tem uma renda miserabilíssima um valor que os retira da linha de miséria internacional, isso gera números grandiosos, como os 22 milhões de pessoas saindo da pobreza, mas a propaganda ideológica pro governo utilizasse geralmente de um dado a mais, o que se ve de forma geral é a afirmação : “Tiramos 22 milhões de pessoas da pobreza e criamos a nova classe média”. De onde veio esta nova classe média? De um duplo polo, o aquecido mercado interno e o pleno emprego com aumento salarial, ( afinal, mais moeda, mais gente compra, com mais gente comprando, mis lucro, mais gente empregada, que compra mais, etc) conquistados com uma grande politica governamental e empresarial, a abertura de credito para TODOS, sobre a garantia implícita do governo federal, criamos aqui a “inexistência do risco moral”(KRUGMAN,2009), grosso modo, para os bancos no Brasil-que se multiplicam, em cada rincão do país-, se o devedor pagar ele ganha se não pagar o governo perde. Isso eleva o nível de consumo do mercado interno,

criando uma espiral de crescimento impressionante para o Brasil que se torna a 5° economia do mundo em determinado momento. Observe o gráfico abaixo, o consumo das famílias brasileiras no período

(tabela 18) Este

consumo

é

impulsionado

pelas

dividas

familiares,

e

concomitantemente com o modelo de custos do Estado (que destina cerca de 50% de sua arrecadação para dividas e títulos) com o endividamento do Estado, formasse -principalmente no meio urbano como de São Paulo- uma nova forma de sociabilidade, descrita por Zizek (2015), na qual na falta da opção da proteção estatal nos cada pessoa se torna “empresários de si mesmo”(ZIZEK,2015:54), em um mundo onde os trabalhadores tem ”de pagar acionistas para emprega-los” ”(ZIZEK,2015:54) em uma escala global, pois pagam ao Estado para remunera-los, e de forma geral tem de empresáriar a si mesmo decidindo onde investir o pequeno capital que conseguem (por empréstimo) para além da sobrevivência, decidem investir em educação ou moradia, uma viajem quem sabe..., neste ponto caímos no oposto dialético, o “empresário de si mesmo” é o proletário par excellence dono de tudo, menos de si e do que produz. De modo geral caímos no nexo credor-divida (ZIZEK,2015:54), como o autor argumenta:

“Desta maneira, sem substituir todas as relações existentes, o nexo credor-divida vem suplanta-las: os trabalhadores tornam-se trabalhadores endividados[...],os consumidores tornam-se consumidores endividados, os cidadãos tornam-se cidadãos endividados, tendo de assumir a divida do país” (ZIZEK,2015:54).

A liberdade ‘imposta’ ao trabalhador de quando investir no futuro, quais decisões tomar, como viver neste meio urbano ou como escalar socialmente são a forma de sua servidão, aludindo a Nietzsche, Zizek continua e nos diz que a divida é o mecanismo de controle mais eficaz, capaz de gerar – no nosso caso- a ‘pax-urbana’, ao passo que estão todos tão imersos em suas obrigações, em suas dividas para com o sistema que não podem se dar ao luxo de questiona-lo ou combate-lo. (ZIZEK,2015:58). . O ‘homem endividado’ entra em uma espiral de trabalho infinita, e é aqui que encontramos seu contrário dialético. Ao mesmo tempo em que na ponta do trabalho a espiral do trabalho fica mais árdua, no lado do capital a divida – paga diversas vezes pelos juros – “se torna um excesso ostensivamente ridículo. Entramos então no domínio da obscenidade, quando o crédito é concedido, nem mesmo se espera que o devedor venha a salda-lo- a divida é diretamente tratada como meio de dominação e controle.” (ZIZEK,2015:58). O autor usa o paradoxo da divida grega como exemplo, mas não vemos o mesmo nos financiamentos de simples lojas – com bandeiras de bancos elas te dão cartões-? Elas possuem um amplo sistema de revenda de divida, enquanto a divida faz um caminho extremamente contraditório, quanto mais a divida se acumula, (trocando de mãos constantemente) maior a chance de conseguir um acordo com valor menor que o nominal, ela foi concedida sem a expectativa que fosse paga. Vale pensar também o valor materialista nesta nova conjuntura, se do ponto de vista subjetivo a divida cria uma espiral de enrijecimento do trabalho, do ponto de vista da geração de valor é um eterno contar com o ‘trabalho futuro’, tanto individual e subjetivo quanto do coletivo, este mecanismo cria de forma objetiva um necessidade de continuação ininterrupta do capitalismo para sua própria manutenção, é uma espécie de tentativa econômica de fechamento da história, ao mesmo tempo em que é seu elo mais frágil (um sinal disso é a reação e o eterno observar sobre a necessidade dos Estados-Nações pagarem

suas dividas e manterem o “pacto keynesiano”(KRUGMAN,2009) de bancarem os bancos em caso de barrocad, temos então um novo paradoxo, ao mesmo tempo que se empresta e não se espera o pagamento (observem a reação do FMI na devolução da divida Argentina antes da data, não houve congratulações, mas, sim, censura.), também não se pode abandonar a divida – pois isso significaria a barrocada de todo o sistema- então, assim como a disputa entre o ‘bloco vermelho e o bloco azul’ o importante é continuar no jogo. Carlos(2009) nos fala sobre esta tercearização da economia, e da criação desta nova metrópole, quanto a isso a autora assinala: Esse fenômeno é tratado por muitos como desconcentração produtiva. Os dados do Anuário Exame (2001), referente às 500 maiores empresas no Brasil, nos ajudam a detectar dois comportamentos opostos em relação ao movimento dos estabelecimentos industriais na metrópole: enquanto o número de empresas brasileiras concentradas em São Paulo diminuiu, no período 1990-2000, de 141 para 76, o número de empresas estrangeiras aumentou de 89 para 130, no mesmo período. Ainda mais significativa é a informação sobre o faturamento em vendas dessas empresas, uma vez que em ambos os casos o número é ascendente. As empresas brasileiras apresentam aumento de US$ 32,4 para US$ 37,7 bilhões em seu faturamento, enquanto as estrangeiras passaram de US$ 35,6 para US$ 91,3 bilhões, um aumento substantivo. Por sua vez, as mudanças no setor econômico apontam de forma inequívoca a expansão do setor de serviços (pela prestação dos mais variados serviços) com crescimento acentuado do setor bancário. Do ponto de vista da centralização do dinheiro, potencialmente capital, os dados mostram que se concentram em São Paulo 19 das 30 instituições financeiras do país, bem como 49 das 100 sedes referentes às maiores empresas privadas brasileiras. Localizam-se também em São Paulo as sedes de 104 dos 177 bancos que atuam no Brasil (representando 59% do total). No que se refere aos lucros do setor bancário, no ano de 2000 permaneceram em São Paulo 87% dos lucros gerados em todo país.(Carlos,2009:303)

É impressionante esta nova centralidade urbana, São Paulo concentra o centro de poder, ou seja a nodosidade no espaço, é da capital que partem as principais decisões, inclusive da indústria nacional, observe em 2000 que quase 90% do capital arrecadado por bancos (o centro desta estrutura econômica que remontamos anteriormente) se concentra na metrópole, não mais nacional, mas de capital internacional que se multiplica e circula em uma velocidade inimaginável. Observe o quadro abaixo e veja a preponderância do setor de serviços a nível nacional

(Tabela 19) Isso (endividamento, financeirização e tercearização) gera um novo ‘ser urbano’, e explica fenômenos culturais cognitivos como o ‘funk ostentação’ e a tercearização do trabalho sem grandes solavancos para o novo modelo urbano. Para São Paulo gerasse uma nova perspectiva de cidade ,a nova metrópole tem como principal forma de acumulação ligadas ao espaço : os setores financeiros, de ‘lazer e turismo’ e os setores ilegais (como o tráfico de drogas). Sobre isso a autora diz que no primeiro setor : “O primeiro deles é o capital financeiro, e, nessa dimensão, assistimos ao fato de que, para continuar se reproduzindo, o capital o faz por meio da compra da terra urbana (que é o que vai se constituir no eixo empresarial e comercial), em que vamos encontrar as sedes das empresas. Significa, portanto, que o capital sobrante do processo industrial vai ser aplicado no setor imobiliário, com a construção de edifícios inteligentes voltados para o setor de aluguel no qual se abrigarão os novos setores econômicos” (CARLOS, 2009:306)

Perceba, este o primeiro setor é um setor financeiro altamente ligado a terra e a transformação do meio urbano, de um meio de barracões industriais em grandes ‘trade-centers’, porém a renda da terra e a construção da mesma ( as torres criam espaço para valor de uso e de troca) não é realizável apenas na venda, como a autora salienta, o aluguel é altamente empregado neste sentido, afinal o ramo financeiro é um ramo volátil, hoje uma empresa estar no auge e alugar um escritório para negócios de ponta no eixo que ira se fortalecer nos anos 2000 da Av. Berrini ou da já estabelecida Av. Paulista, amanhã pode ser

outra, isso acelera a utilização dos escritórios assim como garante uma forma continua de exploração da terra. O segundo setor São Paulo é, sintomaticamente, o lugar no Brasil que recebe o maior número de turistas – trata-se, todavia, de uma atividade associada às atividades econômicas modernas, o que se convencionou chamar de “turismo de negócios”. Isso quer dizer que essa atividade acaba também permitindo a construção de uma infraestrutura hoteleira localizada na área de expansão do centro moderno da metrópole. Nessa área, encontram-se, ao lado dos escritórios de altas tecnologias (que são chamados de escritórios AA), os novos hotéis que atendem preferencialmente as pessoas que vêm aqui a trabalho e não a passeio. A produção dessa região de edifícios e hotéis na metrópole se insere, assim, numa nova lógica de reprodução do capital financeiro que agora tende a englobar o solo urbano como possibilidade de sua reprodução. Desse modo, o movimento da transformação do dinheiro em capital vai agora percorrer novos caminhos, revelando os novos conteúdos para o processo de urbanização atual. O turismo é um novo setor importante da economia (tanto quanto o capital industrial), realizando-se por meio do espaço e produzindo e consumindo um determinado tipo de lugar na metrópole. (CARLOS, 2009:308)

Observe que diferentemente do aluguel o turismo é uma forma de consumo do espaço completamente diferente, ele depende de um ‘contexto vendável’, este contexto vendável é necessariamente a privatização do espaço. A privatização de facto, ou seja, a compra de um determinado espaço atrativo para si – como acontece em resorts que compram pedaços de praia para o turismo a passeio -, a privatização simbólica algo que só aquela empresa conheça ou possa apresentar sobre aquele lugar- quando se contrata trilheiros locais, por exemplo, pratica comum nos parques estaduais no interior de São Paulo-, e em ultimo caso a privatização do construído, quando se constrói um espaço que em seu próprio contexto é vendável – como se faz com a Disney, por exemplo-. Digamos que São Paulo é uma Disneylandia do trabalho, e sua estrutura de turismo é ‘hotéis inteligentes’ apropriada para trabalho de escritório árduo, reuniões extenuantes, encontros sigilosos e happy hours dos mais variados. Por ultimo a autora cita setores ilegais, a autora foca no narcotráfico Finalmente, a reprodução do capital no mundo moderno se realiza num terceiro setor econômico, que é o do narcotráfico, que, por sua

vez, só se realiza produzindo o seu próprio espaço, como normatização estrita do uso e dos acessos. A ilegalidade do narcotráfico faz que o domínio sobre determinado lugar passe a ser central para que essa atividade possa se realizar, e convém não esquecer que, se o narcotráfico fosse extinto hoje, o mercado financeiro entraria em colapso. (CARLOS, 2009:309)

Discordamos neste ponto da autora, o narcotráfico e a criminalidade em geral são importantes para o mercado financeiro e para a produção da cidade e suas territorialidades periféricas, isso é bem verdade, porém se vamos falar de ilegalidades, ou anormalidades, devemos focar na acumulação financeira passando ao largo do poder normativo do Estado em geral, desde o ‘desvio e lavagem de dinheiro’ até o montante mais preocupante – que resultara na crise de 2008- todo um ramo financeiro que circula em uma espécie de economia supra estatal, sem regulamentos claros e a ‘maré’ do mercado, este ramo representado de forma otima pelos ‘subprime’ é o verdadeiro reino da ilegalidade, o que é a ASFARC ou o PCC *nota perto de um banco ou uma seguradora média dos Estados Unidos da América. Como costuma parafrasear Zizek “o que é roubar um banco perto de abrir um?” (ZIZEK,2015:20). O Estado, desta perspectiva, é um grande motor, pela ação e pela ausência. No macro da grande economia global e no micro da metrópole. Ocorre à transformação da cidade na criação de novas centralidades e deterioração dos antigos polos produtivos da indústria, neste processo, o Estado surge, como um ator de produção desigual do espaço, ele é ator preponderante nesta renda da terra (CARLOS,2005).As grandes obras, o local de obra nenhuma...os pequenos consertos, os bairros dos desleixos... Abastecimento de água, a rua da inundação... Todos estes detalhes, estes contrapontos, entre onde o braço do Estado alcança e s locais que ele decide não afagar se transformam em geração de valor. Aqui surge a ideia já exposta de Robira (2005) da “escassez produzida”, das periferias e rincões, dos centros abandonados, tudo isso é uma escassez de serviços – em certo sentidooferecida pelo Estado, criando os “territórios reserva” (Robira,2005) a espera de uma intervenção criando a gentrificacion. De certa forma, estamos no mesmo paradoxo do êxodo rural descrito por Singer (1998), nos locais onde existe a escassez produzida (o campo estagnado de Singer), o proletariado exige melhora, esta melhora (qualitativamente, e por mecanismos, diferentes)

expulsa os trabalhadores, mas no sentido inverso do processo de êxodo rural, os trabalhadores não vão para o centro dinâmico da economia, mas, sim, novamente para a periferia. Neste processo de migração do capital industrial para um capital altamente impregnado no espaço, dividido entre o setor de serviços financeiros (e na produção

destes espaços) “um setor quaternário e o setor

imobiliário”(CARLOS,2005:55), esta dinâmica integra a cidade de São Paulo no mercado global enquanto se desintegra a vida privada/cotidiana, a cidade torna-se uma grande mercadoria a céu aberto que traz a contradição entre a cidade

mercadoria

(valor

de

troca)

e

do

nosso

dia-a-dia(valor

de

uso)(CARLOS,2005).Nesta dinâmica(metamorfose entre indústria e serviço) ocorre uma transformação arquitetônica nos centros de capital e de classe média, os centros de capital, recebem os “prédios inteligentes”, os novos bairros de classe média as torres (CARLOS,2005)pautado no endividamento coletivo. Logo, é sobre estes dois focos que devemos olhar para entender a produção do espaço da acumulação flexível de capitais. A autora nos faz um panorama das características desta nova metrópole e principalmente deste novo processo, ela elenca que:

Assim, o processo de reprodução do espaço da metrópole, no contexto mais amplo do processo de urbanização, a) marca a desconcentração do setor produtivo e a acentuação da centralização do capital na metrópole, bem como cria um outro conteúdo para o setor de serviços (basicamente o que se desenvolve é o financeiro e de serviços sofisticados e, com ele, uma série de outras atividades de apoio como aqueles de informática, serviços de telecomunicações, consultorias); b) sinaliza um novo momento do processo produtivo no qual novos ramos da economia ganham importância – trata-se, particularmente, do que se chama de “nova economia”, contemplando o setor do turismo e lazer, bem como a redefinição de outros setores, como é o caso do comércio e serviços para atender ao crescimento dessas atividades; c) estabelece o movimento de transformação do dinheiro em capital, que percorre agora, preferencialmente, outros caminhos – a criação dos fundos de investimento imobiliários atesta, por exemplo, que o ciclo de realização do capital se desloca para novos setores da economia reproduzindo os lugares como condição de sua realização –; d) revela uma nova relação Estado/espaço – que aparece, por exemplo, por meio das políticas públicas que orientam os investimentos em determinados setores e em determinadas áreas

da metrópole com a produção de infraestruturas e “reparcelamento” do solo urbano por meio da realização de operações urbanas e da chamada requalificação de áreas – especialmente centrais – mediante a realização de “parcerias” entre a prefeitura e os setores privados que acabam influenciando e orientando essas políticas; e) centraliza o capital financeiro em São Paulo em relação ao resto do território brasileiro; f) redefine a centralidade da metrópole no território nacional; g) efetua o aprofundamento da desigualdade socioespacial, uma vez que, no plano da metrópole, a transformação do espaço em mercadoria, condição da extensão do mundo da mercadoria, entra em conflito com as necessidades de realização da vida urbana(CARLOS, 2009:311)

De modo geral podemos nos apegar nesta descrição em uma metrópole que concentra em si a acumulação financeira, assim como possui um ramo de serviços novo e amplo, isso se mostra por existir um novo modo de acumulação, na qual o dinheiro deixa de ser físico e se torna algo impalpável e circulante no mercado financeiro, o Estado tem papel importante em reformular a metrópole e abrir espaço para este investimento profundo do capital financeiro assim tirando a margem da vida urbana periférica, expulsando-a pela ‘melhora’. Esta novo setor de acumulação gera um surto de verticalização, levada a cabo pelas incorporadoras e cooperativas. A absorção da renda da terra se torna um dos principais meios de acumulação no meio urbano, vejamos o gráfico abaixo demostrando como a acumulação á partir do solo urbano se distribuía em 2002 quando esta nova metrópole já começava a se configurar:

(Tabela 20) Observe que assim como descrevemos temos um ramo de locação extremamente importante na cidade, porém avaliemos bem o que o autor nos coloca como exemplificação e contrapeso – assim como também importante pra a construção civil- a locação de maquinas pesadas e veículos, esta locação tem o segundo lugar no numero de empresas (33%) e pessoal empregado (40%) porém é primeiro em receita liquida (37%), isso mostra a importância de outros setores ( serviços todavia) na economia da metrópole, mas observem o setor de locação, com alto numero de empresas(54%), metade do pessoal ocupado (50%) e a segunda receita liquida(36%), vale destacar que mesmo em desvantagem a incorporação tem grande papel na incorporação da renda da terra com 12% do numero de empresas, 8% do pessoal ocupado e 26% da receita liquida. Esta comparação é para demonstrar a relação entre locação de bens e imóveis, acrescentando outra atividade da renda da terra- a incorporação- para méritos de comparação e demonstração da eficiência de cada ramo na multiplicação de capital. Faremos aqui um exercício matemático simples, transformaremos as três atividades e os três dados em uma base de 100 para

descobrirmos quais tipos de empresas acumulam mais e tem mais eficiência em transformar o trabalho de seus funcionários em capital. A locação de bens teria 33 empresas, como 40 funcionários e 37 partes da renda, isso significa que cada empresa fica com 1.2 funcionários, 1.1 de renda e cada funcionário fica com uma eficiência de aproximadamente 1.0. O ramo de locação de imóveis teria 54 empresas, com 50 funcionários e 36 partes da renda, isso significa que cada empresa fica com 0.9 funcionários, 0.6 de renda e cada funcionário teria a eficiência de aproximadamente 0.6. O ramo de incorporação teria 12 empresas, 8 funcionários e 26 partes da renda, isso significa que cada empresa fica com 0.6 funcionários, 2.1 de renda e cada funcionário fica com uma eficiência de aproximadamente 3.5. Perceba que isolando os dados encontramos que o seguimento com maior potencial empregatício é o de locação de bens, mas as incorporadoras mostraram que a aparente desvantagem esconde uma eficiência de multiplicação de capital tremenda, o dobro da acumulação por empresa em relação à locação de bens e quase quatro vezes a da locação de imóveis, e uma eficiência de acumulação por funcionário três vezes e meia maior que a locação de bens, e seis vezes mais que a locação de imóveis. Demonstrada esta capacidade de acumulação das incorporadoras que obtém um ganho exorbitante ara transformar a cidade, neste sentido o ramo imobiliário esta intrinsicamente ligado, pois o financiamento é o principal fator para as incorporadoras, WissenBach, citando o próprio Botelho, nos salienta: O ramo das incorporadoras possui uma dependência estrutural em relação as condições de financiamento [...] Do lado do incorporador pois requerem alto investimento e alto tempo de rotação do capital. E das famílias, pois há necessidade de financiamento de uma mercadoria de alto custo”(BOTELHO apud WISSENBACH,2008)

Neste cenário á partir de 2003 vemos uma mudança na direção da politica nacional, uma proteção implícita do estado ao comprador e uma flexibilização na forma de levantar a ‘entrada’ deu a possibilidade de uma alta de financiamentos ( e construções) fora do comum, vivemos um mercado em ascensão, como podemos observar:

(Tabela 21) Observe o mercado em crescimento constante, perceba alguns dados importantes, na ‘largada’ a demanda ampliada pode ter feito o valor do imóvel tornar-se constante ou ter caído, como vale observar principalmente em 2004, porém em 2007 o aquecimento do mercado, quatro vezes maior que em 2004, traz consigo a valorização tremenda dos imóveis, isso traz uma valorização tremenda para o solo urbano, a restruturação viária que se inicia em 2001 na metrópole urbana, seguindo para as periferias – como vimos no plano diretor de 2001- cria uma possibilidade de expansão do investimento e a carestia do solo da metrópole como vemos nos mapas abaixo:

(Mapa 24) Este mapa mostra o valor venal da terra em 2000, é uma demonstração de como os terrenos mais valorizados se concentravam no centro expandido, no eixo ‘cento velho e centro novo’, em um processo de queda de valor ao se marchar para a periferia. No mapa comparativo abaixo percebemos a transformação desta estrutura, causada pela construção de infraestruturas pelo Estado ( ou pela perspectiva de ):

(Mapa 25) Perceba que a ‘mancha de valor’ invade o eixo sul, toma o centro expandido e até se faz valer em uma ‘ilha’ na zona leste. O valor médio toma boa parte da periferia que vê as casas subvalorizadas jogadas as margens, locais nem considerados para cotação de valor pela prefeitura em 2001. Esta carestia da terra é uma marca da década de 2000 na cidade, a lei da oferta e da demanda parecem se inverter na lógica da cidade, quanto maior a oferta maior o valor, ois mais imóveis de alto valor estão sobre ela – vide a crescida na oferta de apartamentos de alto padrão. Temos o que Wissembach chama de “”ciclo virtuoso” de valorização dos imóveis”(WISSENBACH,2008:116).Que como todo ciclo virtuoso acaba em um excesso do optimismo. A criação e aceleração imobiliária cria uma estrutura interessante, o numero de residências cobre a demanda necessária, ou seja, existem residências formais para todos os moradores da metrópole, como se vê neste gráfico

(Tabela 22) Ao passo que o ritmo de vacância dos terrenos auentou até o inicio dos 2000 e se manteve á partir de então, ou seja existem hoje na cidade condições de todos serem alocados como se vê abaixo

(Tabela 23)

Esta tendência se mantém durante toda a década de 2000 e fortalece os movimentos por moradia, afinal existem pessoas que vivem sem moradia ou então em moradias precárias as margens da proteção do Estado, esta estrutura dialeticamente contraditória de especulação imobiliária para ganho de valor leva esta população a se organizar, estes grupos são popularmente conhecidos – e se fazem conhecer- pelos ‘Sem Teto’ uma demonstração de como a luta de classes nunca esta ausente. Sua estratégia assim como os ‘Sem Terra’ no campo é a de ocupar terrenos subutilizados para moradia, apesar de ser um movimento antigo ele inicia a ganhar notoriedade em 1997 onde inicia sua ocupação em prédios públicos, em seguida transforma sua estratégia, escolhe também os terrenos ‘ocupáveis’ terrenos vacantes com problemas junto à prefeitura (como a atrasos honrosos e gigantescos de IPTU), ou com a defesa civil (infestações de ratos por abandonos é outro exemplo). Veja a tabela abaixo para compreender a magnitude destes movimentos:

(Tabela 24) Vale aqui uma observação do autor, são 63 localidades e 72 ocupações , pois existem locais dos quais os movimentos sociais foram expulsos e reocuparam posteriormente. Vale olhar também os levantes dos sem teto,

organizados em vários movimentos, eles se articularam em ‘megaocupações’, vale destaque a de 2002 (NEUROLD,2009:62). Vale

salientar que estas ocupações se

da por uma parcela

extremamente marginalizada do proletariado, que perdeu o mínimo da dignidade humana material com os avanços neoliberais, não cairemos aqui na ideia de ‘precáriado’, uma mistura de proletariado com precário que tenta expandir a noção de proletariado de Marx, para o lupen-proletáriado também, devemos, antes de aceitar esta noção, retornarmos aos escritos marxistas, proletariado é uma categoria diferente de classe trabalhadora, enquanto a classe trabalhadora enquadrasse na mão de obra empregada ou empregável, o proletariado é toda a população explorada pelo sistema(ZIZEK,2015:100), neste ponto de vista o precáriado já é o proletariado. E vamos um pouco além, um exercício de contextualização da obra de Marx, ele observa um trabalhador, majoritariamente inglês, que tende a se organizar, pois não possui direito algum sobre si, este trabalhador industrial era uma minoria social cercada por um exercito de desempregados vivendo de pequenos serviços artesanais para sobreviver, isso não é proletariado? Não voltamos às condições politicas da classe trabalhadora do sec. XIX? Logo, ao contrario de superar os conceitos básicos do marxismo não deveríamos voltar a ele? Devemos ter a observação e Zizek em mente para não cairmos na armadilha do ‘pós-industrialismo’: Os que afirmam que a classe trabalhadora está desaparecendo têm razão em certa medida- esta desaparecendo de nossa vista. Há uma nova classe trabalhadora surgindo à nossa volta, dos Emirados Árabes Unidos à Coréia do Sul, uma classe nômade de trabalhadores migrantes invisíveis, separados de seus lares e suas famílias, vivendo em dormitórios isolados em subúrbios de cidades prósperas , quase sem direitos políticos ou jurídicos.(Zizek,2015:253)

O autor descreve, claramente, o levante de migrantes econômicos que surgem no mundo todo, mas o ideal de trabalhador é o mesmo, para o local ou o migrante, este trabalho degradante e informal tem sido a via de acumulação flexível, mas esta acumulação pelo trabalho também se dá pela terra, como? Para caminhar neste sentido retornaremos mais um passo e iremos pensar á partir de Marx, como se acumula capital a partir da terra, vale lembrar

que nosso tomo teórico mostrou como o modo de acumulação transforma a terra, não se acumula a partir dela. Vamos nos ater ao fato que “toda renda da terra é mais-valia”(MARX apud BOTELHO,2005:59) A renda fundiária pode ser entendida de três formas: “renda fundiária absoluta,

renda

diferencial

e

renda

de

monopólio”(MARX

apud

BOTELHO,2005:61). a) Renda absoluta: “tributo pago a classe proprietária de terras que monopolizam este fator de produção” (MARX apud BOTELHO,2005:61), o autor complementa que “ resulta da posse privada do solo e a oposição existente entre o interesse do dono da terra e da sociedade como um todo” (OLIVEIRA apud BOTELHO,2005:61). Isso de da, por exemplo, pelo aluguel ou pela venda da terra valorizada. b) Renda diferencial: é a renda pela diferenciação de valores individuais dos solos, a produção superior de valor em determinados solos cria uma sobre renda deste solo. Ou seja, é quando “duas quantidades de capital e trabalho se aplicam em extensões de terra, com resultados desiguais, o que gera um lucro suplementar para quem melhor explorar a terra” (MARX apud BOTELHO,2005: 63), ou quando quantidades diversas de capital atingem retorno diferenciado no mesmo terreno ( MARX apud BOTELHO,2005:63) c) Renda de monopólio: Renda obtida pelo lucro extraordinário que se pode alcançar quando se tem o monopólio de uma mercadoria, é uma renda que só diz respeito aos limites que se pode pagar, sendo o monopolista e único sem oneração no processo.

Dito isso temos de perceber algumas características do solo urbano, primeiramente, ele não se transforma para gerar renda propriamente dita. Pensemos que a renda é uma decorrência da produção e não transformadora da mesma, ter isso em mente auxilia a compreender o porquê disto estar fora do tomo teórico e estar aqui inserido no corpo do desenvolvimento, pois a renda da terra é um fator e não a causa da metamorfose urbana – que como vimos decorre da transformação do modo de acumulação-.

Mesmo assim podemos percebem claramente na transformação urbana a renda absoluta da terra surgir sobre a mão das incorporadoras, que são instrumento da trabsformação e não propriamente a causa. Isso deve ficar frisado para entendermos esta nova cidade que se molda.

Observemos os empreendimentos do Estado em habitação, os novos CDHU, construídos até 2009, mostram uma ação de construção da cidade que tem participação das construtoras (pois o Estado as contrata para fazer as novas moradias) porém com capital do Estado, transformando a cidade de forma que ela possa funcionar, observe o pequeno mapa abaixo:

(Mapa 26) Os CDHU são exemplos de uma verticalização que passa ao largo das incorporadoras, e que tentam entrar em bairros desvalorizados da cidade, sua

dinâmica é principalmente voltada para a zona leste da cidade de São Paulo e principalmente a metrópole sobre a lógica do “Pro lar, limitante na gestão do Estado que torna a obra lenta”(ROSSI,2012:45). Os empreendimentos do Estado se da em espaços ‘abandonados’ ao largo de linhas de trêm, na extrema periferia da cidade, porém nem todas as dinâmicas negativas da periferia acontecem , o que nos traz uma necessidade de repensar o periférico para além do estereótipo ‘ultra-realista’ e tentar entender o movimento deste periférico, neste sentido Fani (2009:312) nos auxilia fazendo as seguintes observações: As áreas não integradas ao setor globalizado da economia que formam grandes periferias são os lugares onde a população pode morar, o que lhe sobra até o novo momento de valorização do espaço que vai expulsá-la para mais longe. Mas a periferia é complexa, e não é só o lugar do pobre, o que significa que esse sentido sociológico de periferia está superado, não encontrando respaldo na realidade, pois: a) em São Paulo, a periferia recebe as indústrias, posto que as áreas valorizadas pelo processo de extensão do espaço urbano valorizam também a terra e expulsam as indústrias para áreas cujo preço do metro quadrado de terreno seja menor, de modo a não onerar os custos de produção; b) nela também se encontram os condomínios de luxo que são construídos como estratégia de reprodução do setor imobiliário, uma vez que a metrópole superedificada, com escassez de terrenos incorporáveis para a construção, exige a busca de novas soluções. O setor de construção dos condomínios é produto de uma lógica imobiliária que vende o espaço da periferia para a classe média, que, todavia, precisa ser convencida dessa nova “necessidade de habitar”. É dentro dessa lógica que se produzem as novas estratégias de marketing assentadas na ideia de “qualidade de vida”, que contempla um conjunto de itens todos eles voltados à necessidade de ampliar a base social sob a qual se desenvolve a sociedade de consumo – agora como consumo também do espaço. Dessa faz parte a necessidade de segurança, da proximidade de pessoas de mesma renda, da vida junto à natureza, onde o verde aparece como elemento importante nesse processo. Com isso assistimos ao fato de que o processo de produção transforma a natureza em recurso natural, e, nessa condição, essa natureza passou a ser mercadoria; e a busca do lucro imediato fez que ela fosse degradada, uma vez que o processo teve de ser rapidamente realizado. Nessa condição de degradação, a natureza se transforma em raridade, e a crise ecológica é um produto incontestável do modo como o capital se reproduziu, especialmente nos países periféricos. Na condição de raridade essa natureza sobrante, ou simbolicamente sobrante – trata-se na realidade da natureza reproduzida socialmente –, é vendida no mercado imobiliário para justificar a construção dos conjuntos habitacionais para a classe de renda alta que, caso contrário, não se deslocaria para longe de seus empregos, lugares de lazer etc.; c) a massa de desempregados, subempregados, empregados mal pagos, em suma, uma população de baixíssima renda que não pode morar nesses condomínios, vai morar nas áreas menos valorizadas também na periferia, às vezes muito próxima desses, mas em áreas com menos serviços e infraestrutura que são

elementos valorizadores do espaço, posto que trabalho materializado – fundamento do valor do solo urbano.

Ou seja, devemos olhar as periferias como áreas receptivas das industrias reorganizadas e de pequeno porte, com terrenos barateados nos quais a nova classe média e a antiga classe média (real) decadente irão morar em apartamentos ‘incorporados’ em busca da renda absoluta da terra esta verticalização avança, os moradores para além das ilhas dos condomínios são paupérrimos, reproduzem os favelamentos e as casa de baixo padrão, se envolvem em um ciclo inferior da economia, vivendo de uma economia por vezes circular e local. É neste ponto que os “deixados para traz” (ZIZEK,2015:25) do capitalismo global se concentram, é neste mesmo espaço que se configura o “urbano negativo”(DAMIANI,2000), uma cidade que não é de todos, que não é para todos, que a circulação de pessoas e informação superou a sua necessidade de alocação, que existe apenas “aparência de trabalho”(Damiani,2000:22), o trabalho no ramo de serviços e não registrado, o conhecido ‘bico’ cria um ciclo que ‘aprisiona’ o ser periférico nesta localidade. Todo este processo se dá por uma abertura no capitalismo local e global que permite um crescimento razoável entre os anos 2000 e 2008, mesmo com diversas crises. Porém existem limites para estas politicas, como aponta Caetano (2014) o Brasil é um anão na politica econômica global e sua economia oscila em conjunto com ela, porém 5% do capital capitado foi desviado para programas a classe trabalhadora o que auxiliou

e a difícil

conjuntura econômica ( a quase depressão de 2008 que perdura até os dias de hoje). A crise 2008 talvez tenha sido o maior impacto econômico desde 1930, sua correlação em magnitude (no momento e posteriormente) talvez se de por ser um paralelo do mesmo problema, Bancos desregulamentados quebraram aos montes sem uma ação rápida (ou possível) do Estado, a diferença é que antes era um ramo ‘legal’ de bancos e desta vez são bancos que jogam em uma zona escura do mercado financeiro, financiadoras, seguradoras de imóveis, vendedores de dividas. É este mercado bancário que

entra

em

colapso, porém temos uma surpresa ao descobrir que o que esta sobre o sol e

fora dele não é tão claro, todo o sistema financeiro estava de alguma forma inserido neste ‘mercado negro’ e caíram junto dele.(KRUGMAN,2009). A crise global

grosso

modo,

é

uma

crise

de

superprodução

também,

a

superprodutividade é irmã do desemprego e da perda salarial, o nível de consumo global tem de aumentar enquanto o poder de compra universal decai, a saída é a divida –como já dissemos- mas e se por um instante fugíssemos dos riscos de emprestar dinheiro, vendendo as dividas ‘ruins’ para outros? E se o outro pagar pela divida ruim e revende-la por mais?

E se alguma hora

isso se mostra-se e as dividas fossem impagáveis e tivéssemos que cumprir aquilo que era uma “proposta falsa”(ZIZEK,2015:110), ou seja, aquele tipo de proposta feita para ser negada- como as hipotecas americanas-? Este é o pior dos mundos e aconteceu diante dos nossos olhos, em uma ponta pessoas sendo despejadas aos montes, casas se desvalorizando em velocidades impressionantes, carros sendo caçados nas ruas americanas, o ‘sonho americano’ desmoronando para os trabalhadores, do outro os bancos perdendo quase todo seu capital – fechando e deixando correntistas e pensionistas sem seu dinheiro-

ao mesmo tempo que os bancos se entulham de imóveis

invendáveis sem crédito. O mundo sustentado pelo crédito sofre com a escassez dele agora, o pior dos mundos para o recém capital financeiro estava nascendo. No Brasil as ondas da crise aparecem – em 2008- como uma marolinha, esta façanha se dá pelo Estado sustentando alto gastos em uma ponta e isentando impostos na outra, o capital do Estado estava se esvaindo, até que em 2011 o Brasil já dava sinais de estagnação, até que em 2013 temos a bizarra situação de recessão com pleno emprego que inaugura a crise que se aprofunda até o momento que escrevia esta pagina. Uma crise de liquidez se apresenta, os que têm capitais tem medo de investir, o desemprego faz os empregados guardarem o dinheiro, o que desacelera a economia e cria mais desempregados e por sua

vez mais

poupança

dos assalariados (

KRUGMAN,2009), no Brasil ainda existe uma leitura que o modo de regulação não se enquadra ao modo de acumulação, logo teríamos de tirar as proteções trabalhistas para a economia fluir, no fundo os liberais que propõe isso sabem

que este tipo de medida da uma margem de lucro a empresa no micro, mas não olham o macro, se o trabalhador não da custo, quem ira comprar? Uma marca disso é a queda do juros natural, algo como lucro na economia de mercadorias sem o ramo financeiro, nos últimos trinta anos, a marca do surgimento da acumulação flexível de capitais. Em São Paulo, e no Brasil, observa-se em 2013 um levante gigantesco. As jornadas de junho de 2013, milhões e pessoas foram às ruas protestar, de alguma forma este movimento se enquadra em um movimento global de grandes

ocupações,

que

surge

em

2011.

“O

ano

que

sonhamos

perigosamente” (Zizek,2012), Zizek aponta que da primavera árabe até o ocupy wall street e as jornadas de junho são movimentos bastante parecidos, em primeira instancia são revoltas por motivos pequenos que de alguma forma tocam na instancia do real de forma rofunda e colocam toda a sociedade em movimento. Mas qual a pauta deste movimento? É tão múltipla que é vazia (Zizek,2012) e talvez por isso que seja poderosa (Zizek,2015) é a falta de dialogo, a falta de representantes que assusta a ordem estabelecida, pois isto não pode ser absorvido pera o corpo politico, é obvio que não podemos nos manter nesta direção em algum lugar a pauta há de nascer, por isso a necessidade das revoltas, para serem revolucionárias, virem em pares. Existe uma primeira união e a formação daquilo que chamamos de povo, em seguida isto se divide em dezenas de frações é neste segundo levante, o onde as pautas se estruturam, que devemos estar de olho,(Zizek,2015) no Brasil este movimento foi capturado pela direita formando o “Fora Dilma”, porém existe algo mais nas jornadas de junho, algo emancipatório, os desejos universais estavam lá , saúde, transporte, educação. Este núcleo duro pautado pela margem objetiva da perda da vida cotidiana, da vida da segurança estatal, e por que não da vida no bairro é a centelha comum o mundo e também é a margem emancipatória de todas estas manifestações a nível global. A questão em São Paulo, da revolta pela passagem, tem um amago do dia-a-dia da cidade, o padrão periférico ( residência na periferia e trabalho nos centros) se mantém e o trabalhador se envolve na selvagem migração pendular

pela cidade entre o dormitório e o trabalho, Ojima et al comentam este processo ao falarem sobre mobilidade: Apesar de este ser um assunto caro a qualquer residente de regiões metropolitanas, sobretudo São Paulo, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro, não é apenas o aumento da frota de veículos a causa do aumento do tempo de deslocamento. As viagens entre casa e trabalho estão mais longas. Além disso, os desafios de deslocamento, antes restritos aos contextos metropolitanos, hoje tendem a se expandir para realidades não metropolitanas. Isso ocorre por uma mudança no modelo de produção e consumo do espaço urbano, condicionado cada vez mais por uma sociedade baseada na mobilidade( OJIMA et al,2015:01)

O transporte é uma questão imanente das grandes metrópoles maduras, elas se mostram incapazes de lidar com este problema fixo em sua composição, a multiplicação automobilística acompanhada da incapacidade de construção de um transporte publico, confortável e eficiente gera uma cidade que é o seu contrario, enquanto a fruição de informações é o essencial na cidade a circulações de pessoas é comprometida. Veja o gráfico abaixo a megalópole de São Paulo e a metrópole do Rio de Janeiro alavancam a posição do sudeste no tempo de viajem para o trabalho semanal, ultrapassando às 35 horas, um dia e meio da semana se perde no transito. Extrapolando este dado para um ano chegamos ao assustador numero de 78 dias, é como se ficássemos os meses de janeiro e fevereiro presos em um automóvel.

( Tabela 25 )

Observando estes dados podemos materializar o ‘empreendedor de si mesmo’ o homem endividado que despende seu tempo de forma perene entre o trabalho e sua residência, um ciclo em espiral que engole a classe trabalhadora, além deste passo podemos nos indagar sobre a reestruturação que o transporte físico – não de informação- passa em São Paulo com a reestruturação produtiva.

Uilian(2008), ao analisar que a reestruturação produtiva não alterou, de fato, a concentração de trabalho na região metropolitana de São Paulo, apenas distanciou ainda mais o trabalhador da sua residência, que tornou os sistemas de transporte de pessoas por trilhos entre as cidades e a capital parte importante na jornada diária do trabalhador. O novo arranjo produtivo espraiou São Paulo para as suas cidades satélites e a casse trabalhadora foi atraída para lá, á partir do final dos anos noventa até 2008 – recorte analisado pela autora- o desenvolvimento metroviário foi razoável a ponto de tornar possível a jornada ‘centro- divisa’ agora estabelecido, mas não para garantir uma mobilidade real – para além do trabalho- é nesta divisa que surge a cidade sem mobilidade, do trabalhador encarcerado em um fluxo, a “cidade oculta, disfarçada e dissimulada”(MARICATO Apud UILIAN,2008:288). Temos uma segregação no espaço marcada por uma divisão de classe, próximo aos equipamentos de transporte publico metropolitano (metrô, por exemplo), que levam rapidamente ao trabalho, o valor da residência é alta e expulsam a classe trabalhadora, distante destes equipamentos ( na CPTM em outros municípios) o valor torna-se acessível, e a jornada massacrante.- devemos ter em mente que paralelo à este processo existe a resistência das comunidades e favelamentos, por vezes perto dos equipamentos urbanos, é aqui que processo puro descrito acima é ameaçado. “A demanda pelo transporte ferroviário entre 1997 e 2007 duplicou” (Uilian,2008:295) isso se da pelo surgimento de um ramo de serviços ligados – ou não- pela indústria (Uilian,2008:298), isso mostra uma migração pendular brutal, um ser humano que vendeu ao trabalho muito mais que as suas 40 horas semanais, mas perde o dobro no transporte, em uma extrapolação simples, entre trabalho e transporte, um trabalhador comum utiliza 75 horas

semanais, ele – para manter-se saudável- dorme em média 56 horas, nisso temos 131 horas voltadas ao trabalho, a semana tem 168 horas. Logo, temos 37 horas semanais livres. O que o trabalhador faz com pouco mais de 5 horas livres por dia? Vide o mapa abaixo sobre a estrutura da cidade:

(imagem 04) E quanto ao fluxo de mercadorias? As exportações de São Paulo são ainda as mais volumosas a nível nacional, porém tem perdido importância ano a ano, como podemos ver no gráfico abaixo:

(Tabela 26) Porém ao observarmos a balança comercial atual doestado percebemos que existia um déficit até o ano de 2001 que cessa entre 2002 e 2007 ( o crescimento econômico de todo o país), pela importância do interior com a produção de cana de açúcar e de produtos industriais mais barateados no exterior, á partir de 2008 ( com a crise global) até 2011 (ultimo ano dos dados ) o déficit se multiplica a níveis não vistos no séc. XXI

(Tabela 27) Arroyo (2012) argumenta que o setor industrial, por ser globalizado, importa uma quantidade impressionante de peças, principalmente o setor automobilístico, a alta do valor da moeda torna, novamente, São Paulo uma importadora compulsiva. Os pequenos produtores locais não alimentam mais as indústrias interioranas, mas as megaempresas da China e EUA. O argumento se finaliza com a ideia de que o consumo dos veículos se da na própria metrópole, por isso ela não o exporta novamente. O autor então nos mostra outra face desta questão, os eletrônicos fabricados por empresas que existem em São Paulo como os eletrônicos que importam mercadorias, as produzem aqui, e vendem aqui mesmo criam-se este déficit, o mesmo podemos falar para as principais exportadoras “se destacam: aviões e veículos aéreos, terminais portáteis de telefonia celular, automóveis e veículos pesados, partes e acessórios, máquinas e motores etc. Isto explica o lugar que ocupam no ranking empresas exportadoras como Embraer, Motorola, General Motors, Volkswagen, Daimler Chrysler, Scania, Ford, Toyota, Mercedes-Benz,

Caterpillar, muitas das quais são também grandes importadoras” (ARROYO,2012:13)

O município de São Paulo segue com o saldo mais negativo neste processo, é a cidade com menor capital nesta balança, vale como referencia suas novas atividades, o ramo financeiro e de serviços são eximindo importadores de materiais e exportadores de capital, logo segue-se na cidade um defict palpável impressionante, a antiga industrial paulista, hoje é o centro de consumo desenrolado pela divida estatal e municipal como se pode observar.

(Tabela 28)

Neste ponto podemos perceber, de forma mais clara o que o modo de acumulação flexível de capitais, a acumulação á partir do ramo financeiro e de serviços com uma urbanização pela ‘despossessão’ que causa a migração da ‘classe média decadente’ e a ‘nova classe média’ para áreas antes do urbano periférico, enviando o trabalhador – por diversos mecanismos- para outras localidades. A metrópole madura, é uma metrópole que apesar de reproduzir o arquétipo centro periferia criou um mosaico deste dentro de si, a periferia esta em todos os lugares, o ser urbano, com a queda gradual dos direitos – privatizados- torna-se ‘o empresário de si mesmo’, ou melhor, o ‘homem endividado’ preso a ordem estabelecida ela necessidade eterna de saldar seus débitos- inclusive pagar aos acionistas para que lhe de emprego, pois o desemprego se alastra. Vale saudar também uma característica desta nova acumulação, ela supera a burguesia como indivíduos proprietários e á partir do mercado de ações mostra a burguesia enquanto classe de proprietários dos meios de produção, alienados completamente desses meios, comprando e vendendo as empresas – as ações- que muda de dono uma dúzia de vezes por dia. Deste prisma podemos ver a classe burguesa em sua face mais exposta articulando o Estado pelas reações do ‘mercado’ o tempo todo, chantageando-o, e na outra ponta podemos ver a própria propriedade privada se esvaindo, com a morte gradual da figura do ‘grande patrão’, qual a função produtiva do burguês? Quem é dono da General Motor, da volkswagen, ou do citybank?

O

aparato

de

transformação

da

cidade

pode

ser

percebido

arquitetonicamente, os ‘prédios inteligentes’ ou os ‘trade-centers’ surgem nos centros de serviços da cidade, os pontos neurais, das tomadas de decisões. A classe média ‘migrante’ segue para as novas torres que se espraiam para antigas preferias, o centro da cidade se divide entre o ‘centro novo expandido’, algo entre a Av. Paulista e a Av. Berrini e o ‘centro velho’, verdadeiro centro da cidade, aparentemente abandonado, mas com valores em constante subida e com a presença dos movimentos por moradia – talvez seja o coração desta contradição-que forma esta feição.

(Mapa 27) É esta a nova São Paulo da acumulação flexível de capitais. Mantém a contradição básica entre capital e trabalho, porém com novos caminhos, o capital se multiplica pela renda e pelo setor financeiro, criando uma nova metrópole, madura em estrutura e renascida em aparência.

2.2 Considerações A partir do momento que o ser humano se sedentarizou o seu modo de produção iniciou uma transformação do espaço, no sentido Kantiano, este trabalho criou o próprio espaço, preencheu o mesmo de significado e projetou as suas transformações. A cada transformação de modo de produção que o ser humano passou/criou as paisagens se transformaram, assim como suas própria forma de se enxergar e de lidar com a realidade. A cidade é fruto deste processo, a cidade como conhecemos é principalmente fruto de um modo de produção especifico o capitalismo. Este modo de produção que visa à reprodução do capital e sua acumulação por uma determinada classe, porém se pensarmos no modo capitalista de produção perceberemos que ele mesmo se transforma o tempo inteiro, se transformam os modos de acumulação destro deste sistema, esta transformação muda também a forma de lidar com o próprio espaço, o que reifica o próprio ser humano neste processo.

O que pretendemos demonstrar neste trecho do trabalho é que São Paulo não foge deste processo, a cidade esta imersa nele se constitui enquanto essência e aparência destras deste processo, a cada momento que o modo de acumulação se transformou dentro e fora da cidade(e principalmente a partir dela) uma nova centralidade emergiu, a paisagem se transformou, o território e as territorialidades também, e nós exploramos as evidências destas transformações e seus desfechos.

A primeira forma de acumulação ligada à região é a acumulação pela circulação, com fracas relações urbanas, a acumulação é principalmente ligada á uma circulação dentro do mercado interno de mercadorias, sendo São Paulo um ponto e travessia dando acesso para o Norte o Sul e o Centro Oeste, além de ser passagem quase obrigatória para o Rio de Janeiro – que se tornaria o centro de decisão da colônia. São Paulo então surge nas entranhas do sistema colonial, quebrando diversas regras econômicas impostas pelo mesmo como um atravessador de mercadorias com mão de obra indígena, mestiça e negra (quase sempre escrava). É nessa estrutura de interligação que

a cidade ira se estruturar para além da acrópole central, tendo como ponto importante os aldeamentos para sua ocupação e de seu derredor e também – como em todo país- a expropriação da terra dos povos locais á partir das sesmarias, esta estrutura pontilhada e com baixíssima comunicação é a estrutura de ‘Brasil arquipélago’ com diversas ilhas urbanas da ‘urbanização de fachada’ litorânea.

Em seguida, quando esta localidade já estava construída como uma cidade, acontece o que chamamos de acumulação pela ‘agro-exportação’, com os primeiros estímulos urbanos, durante o império e a republica a acumulação da região se dá pela exportação de produtos agrários, um em especial, o café. A monocultura se espalha pela frente de café que vem do Vale do Paraíba até a região de São Paulo e se espalha posteriormente, a industrialização aumenta a demanda e a queda da concorrência diminui a oferta, isso coloca São Paulo como um polo de oferta importantíssimo e acumula capitais na região a ponto de reestruturar toda a modelação urbana, a lei de terras de 1850 surge para legitimar e direcionar esta acumulação nas mãos de pequeno número de famílias, ao mesmo tempo a estrutura de arquipélago

estava

se

diluindo

pelos

sistemas

de

comunicação

se

desenvolvendo principalmente pelo sistema ferroviário, além disso, a cidade se torna um polo de imigração e começa se configurar melhor aquilo que conhecemos como ‘centro velho’.

No período que se sucede, a acumulação se da pela industrialização de volume (indústria restringida), marca o inicio da formação da região concentrada, durante a republica e se transformando no varguismo, o capital acumulado no café começa a ser invertido para uma indústria de volume, voltada ao mercado interno, são produtos não duráveis de baixo valor e qualidade, porém já carregavam em si o germe da industrialização posterior, a acumulação se dá pelo volume de venda de materiais industriais e manufaturados. As atuações industriais e o acumulo do capital propiciados pelo café transformaram as relações, deixando-as com uma face propriamente capitalista, o sistema bancáro já estava fortificado e as classes sociais já estavam amadurecendo (assim como a luta de classes) a formação do

proletariado (sobre a greve geral e os imigrantes) e da burguesia (sobre a ditadura) são uma marca da industrialização. A imigração aumenta a população local, a moradia tem de ser pensada, as pessoas viviam em cortiços com baixíssimo nível sanitário e renda, no melhor dos casos se vivia nas vilas operarias sobre as ordem do patrão, o fordismo ganha face. São Paulo concentra a integração nacional e vive a primeira aceleração urbana, o processo de espraiamento da cidade se formula, se configura a cidade radial vide os projetos e a construção das Av. Paulista e do Av. do Estado.

No quarto período a acumulação se da pela indústria pesada, com o crescimento urbano, durante a quarta republica, percebemos a finalização do projeto de integração nacional e o inicio da integração do país com o mundo, e a acumulação acontece pela via da indústria pesada. Estamos diante da guerra fria e o país não possuía posição solida no conflito, porém pendia ao lado americano e a integração nacional pendia para a integração ao capital internacional, no Brasil temos a construção de Brasília ( que modificou o eixo industrial do sudeste da competição Rio de Janeiro x São Paulo, para uma supremacia paulista) , as ferrovias são trocadas pela solução das rodovias mais apropriadas ao novo nível da indústria nacional. A indústria, concentrada em São Paulo, constituía uma indústria de base impressionante (de metal, concreto, etc) associada à uma produção de bens duráveis(vale de exemplo o setor automobilístico) , forma-se a cidade industrial, o espraiamento para leste e sul é o evento levado a cabo pela necessidade do proletariado que cria as residências no processo de autoconstrução sobre o antigo cinturão verde que circundava o meio urbano, esta ocupação atraiu de- até alguma medida- ações do Estado sobre si-, no centro a verticalização surge como solução para ‘multiplicar o espaço’, surgem no centro prédios com térreos comerciais mas de andares residenciais, o espaço começa a ser repensado no centro assim como sua arquitetura, passamos por um processo de modernização latente para sua consolidação arquitetônica, isso se vê da calçada as torres centrais e pela construção e valorização de vias, notadamente o Parque do Ibirapuera, a Av. Paulista e a Av. Consolação, existe uma mudança de eixo da construção e modelo de cidade – junto com a transformação geopolítica-, saímos de Paris para Nova York, o modelo europeu foi abandonado para a cópia de uma

urbanidade norte americana, a vida industrial cria a ascensão de uma classe média que investe na renda da terra, a locação de imóveis é uma atividade importante no período. Temos então pela acumulação industrial, a formulação da cidade industrial, de Estado no centro e falta dele nos bordos, de capital sendo investido diretamente pela ação do Estado ao mesmo tempo em que a propriedade se espalha entre a burguesia e parte da classe média. Entramos então no processo no qual

a acumulação se

da pela

indústria madura, isso gera o meio técnico-ciêntifico-informacional diante da explosão do Brasil urbano, o Brasil sofre um golpe militar e transformasse em uma ditadura , o desenvolvimento sobre uma visão tecnocrata e autoritária da indústria ( a história se repete do varguismo até aqui a modernização vem sobre a face da violência) ela desenvolve seu setor químico além da indústria pesada, o que gera uma indústria agraria, a modernização do campo se alastra rapidamente, assim como tecnologias de informação . São Paulo concentrava o processo de produção e tomada de decisões, a modernização no campo liberou uma mão de obra do nordeste que migra em massa para a região, formasse e se engrossa novamente a classe trabalhadora e o exercito de reserva na cidade, o ‘sonho da casa própria’ – parte do ‘american way of live’ – se espalha pela cidade e as empresas especializadas neste produto ganham força, as incorporadoras de imóveis, elas criam uma verticalização em série ( algo como um produto industrial), padronizam o pé-direito, elevador, tamanho , equipamentos das torres, temos um novo centro com a classe média em ascensão e uma classe média baixa se expandindo sobre o eixo Norte-Sul na cidade, esta região compreende e cria a cidade de proprietários e locatários, a logica da renda da terra sobrevive, porém na periferia mantem-se os cortiços ( já aparecendo como um mosaico da riqueza no centro, vizinho dos bairros nobres), este contraponto da origem aos movimentos populares por moradia e a ação Estado em destinar determinados espaços (desvalorizados) para isso, temos então um centro expandido dentro da lógica de uma classe média e toda uma

periferia

empobrecida

de

habitação

construída

pelo

Estado

e

favelamentos. Nesta expansão constante da mancha urbana, com a industrialização em suas diversas fazes nasce a metrópole- alguns consideram como megalópole- urbana.

Na atualidade estamos diante do modo de acumulação flexível de capitais, dentro do meio-tecnico-ciêntifico-informacional-com-globalização que ocorre durante a redemocratização do Brasil, e a crise da indústria nacional dando lugar ao novo meio de acumulação de capitais para as cidades. O processo de globalização ensejou (sem sucesso) criar uma heterarquia de produção

industrial,

isso

descentralizou

a

indústria

nacional

e

vem

desmantelando a concentração de São Paulo. A acumulação flexível vem de tirar um ‘sobre-lucro’ diante das brechas do legalismo, ou seja, desmantelando direitos trabalhistas, nas infiltrações das leis de proteção bancárias (isso levara a crise de 2008) e em serviços- como serviços financeiros, saúde, educação, de lazer e turismo-, a classe trabalhadora tem uma perda considerável no nível de vida, o mesmo vale para a classe média letrada que tem uma queda drástica em sua empregabilidade formal. A gentrificacion atinge a periferia com a ação do Estado e no centro expandido acontece à verticalização de luxo, tal processo é levado a cabo pelas cooperativas e consórcios. O consumo sobe a nível nacional pela divida, o proletariado tornasse,

com a queda do Estado,

‘empresário de si mesmo’, tendo de pagar a acionistas para emprega-los e pagando dividas empreendendo em educação, moradia, etc. O ‘empresário de si mesmo’ é o proletário par escelence, alienado de seu trabalho, de seus direitos e de sua renda, o importante é manter-se endividado, dentro da regra gerando o ‘homem endividado’. Logo, a acumulação de capitais em São Paulo se da em quatro vias a centralização de decisões e bancária, turismo e setores informais e ilegais, no centro surgem os prédios inteligentes e na periferia surgem as torres, a cidade radial se dissipa, a riqueza e a pobreza tornam-se espelhos de si, um mosaico. A luta de classes se reconfigura entre os capitalistas e os alijados de trabalho.

Devemos fazer algumas observações importantes. É notável que o modo de acumulação se diferencia um do outro de forma mais ou menos identificável com a transformação de regime politico no Brasil. Devemos pensar isso sobre o prima que Harvey(2005) nos deu, que o modo de acumulação se transforma ou se racionaliza durante uma crise, a própria mudança do modo de acumulação como um todo acontece diante das grandes crises capitalistas, o

mesmo vale para o Brasil, porém com a crise econômica diversas crises politicas se configuram as frações da burguesia que estão no poder não podem manter-se pois são elas a barreira para a transformação e alavancagem, do capital (superação da crise),não é impossível que a crise de 2008 (e seus desdobramentos) transforme a acumulação flexível em, outra maneira de acumulação

o

que

tornaria

qualquer

tipo

de

prognóstico

para

o

desenvolvimento urbano desatualizado.

Uma segunda observação

é a natureza da analise, um modo de

acumulação se sobrepõe sobre o outro, não o anula por completo, uma realidade capitalista, uma atividade ou a arquitetura que ela cria não desaparecem por completo, ou seja mesmo na ultima etapa temos a acumulação pela circulação (ou seja circuitos inteiros de capital que se acumulam pela circulação de mercadorias), acumulação agro exportadora, vide a produção de cana-de-açúcar e soja do país, acumulação pela indústria de volume(ramos da economia voltados a produção de não-duráveis), a indústria pesada ( de base e de duráveis), a indústria madura ( produção fechada dentro da nação em escala, que abarque todos os insumos), tudo isso não parou de existir, porém o giro de capital e o montante nestas atividades diminuiu ( ou de forma absoluta ou em relação) nestas modalidades de acumulação e temos uma alavanca de capital nos ramos flexíveis ( que de certa forma envolvem todos os outros), um modo de acumulação depende necessariamente do outro.

A terceira observação segue o caminho do desenvolvimento da cidade, do aldeamento até a metrópole madura, sendo um termômetro para todo o processo urbano do Brasil. A acumulação do próximo estagio se infiltra e tece novas relações sociais e formas organizativas sobre a base geográfica anterior, lembremos que o capital é uma relação social, desta forma muito mais que uma relação material-objetiva, tem ligação com valores subjetivos que são incutidos para a melhor circulação de capitais entre um modo e outro, eles se reproduzem por infiltração, pala destruição criativa se recria o capital. Este é o processo do Orbi, ou seja, do mundo capitalista, e o arcabouço do praeteritum, processos passados/presentes no desenvolvimento do espaço da cidade, a transposição Orbi et Urbi e praeteritum et tempore apesar de próximas não são

idênticas, enquanto a primeira diz respeito ao espaço e a transformação do mesmo a segunda trata do tempo e das temporalidades históricas instituídas no trabalho (nota-se processos que apesar de serem contemporâneos são praeteritum para a transposição de analise, perceba que o praeteritum trabalhara como um arcabouço no restante do trabalho).

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