CARACTERÍSTICAS GERAIS DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NO BRASIL, DE GILBERTO FREYRE

May 26, 2017 | Autor: Léo Vinicius | Categoria: Colonial Brazil
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LEONARDO VINICIUS BRISOLA BARBOSA - NOITE Contraste com a bibliografia do curso referente ao capítulo 1 de “Casa-Grande & Senzala”, intitulado “Características gerais da colonização Portuguesa do Brasil” Na obra Casa-Grande & Senzala, 1933, Gilberto Freyre busca nos antepassados coloniais uma resposta para a constante dúvida da época: “o que é ser brasileiro?”. Famoso adepto da eugenia, Freyre argumenta que no Brasil houve uma degradação das “raças” atrasadas pelo domínio da adiantada, e para explicar seu ponto de vista, dá grande relevância aos fatores que ele chama de sociais (que na verdade são puramente étnicos, climáticos ou como mencionado várias vezes por ele, “raciais”), deixando os fatores econômicos e políticos apenas como circunstâncias sociais. No início do capítulo, Freyre mostra a vida colonial estritamente pelo ponto de vista português; baseando-se em suas ideias eugênicas, destaca que havia uma indecisão étnica e cultural em Portugal, devido a sua proximidade com o norte da Europa e o norte do continente africano. Refletindo sobre isso, Oliveira Marques, em 1972-74, toca na questão das influências externas sob os portugueses, mas ao contrário de Freyre, não contempla as questões étnicas, mas foca exclusivamente nas questões técnicas, atribuindo grande relevância às contribuições muçulmanas como a ciência náutica e os conhecimentos geográficos. Freyre enfatiza também a miscigenação e a mobilidade portuguesa na conquista de terras e no domínio de povos como um dos segredos da vitória, pois sem elas “não se explicaria ter um Portugal quase sem gente (...) salpicar virilmente do seu resto de sangue e de cultura populações tão diversas e a tão grandes distâncias umas das outras”. Rodrigo Ricupero (2009), por outro lado, ignora a questão da mestiçagem e enfatiza que os maiores “segredos” para a conclusão de um sistema administrativo no Brasil foram a necessidade de defesa das terras contra estrangeiros, os incentivos da coroa à colonização e principalmente a necessidade de aproveitamento econômico por meio do açúcar, segundo o próprio Ricupero: “pode-se dizer que o sucesso do empreendimento colonial nas partes do Brasil dependia do sucesso da economia açucareira e vice-versa”. Gilberto Freyre refuta a ideia de superioridade racial do colonizador loiro sobre o moreno, argumentando que, enquanto a Nova Inglaterra possuía clima e vegetação parecidos com os da Europa, no Brasil tudo era desequilibrado: o solo estava longe de ser bom para a policultura, os rios eram inimigos da atividade agrícola com suas enchentes mortíferas e suas secas esterilizantes, e os viveiros de larvas, as multidões de

insetos e os vermes eram quase todos nocivos aos homens. Por esses fatores, segundo Freyre é que a colônia se estabeleceu e se desenvolveu através da monocultura de açúcar. Stuart Schwartz (1995), concordando com o conceito do desenvolvimento monocultor da colônia, mas discordando dos fatores que acarretaram a isso, explica detalhadamente a trajetória histórica do açúcar, argumentando sobre a inevitabilidade da cultura açucareira no Brasil. Schwartz não nega que as condições eram ruins para a policultura, mas foca na contextualização do grande valor econômico do açúcar no período, da experiência portuguesa com a produção açucareira nas ilhas atlânticas, da disponibilidade de mão de obra e principalmente, segundo ele, o território “oferecia ótimas condições geográficas e climáticas (...) índices pluviométricos apropriados e solos excelentes”. Gilberto Freyre defende em seu texto que a eficiência dos escravos era bastante prezada pelos senhores, por isso eles recebiam alimentação farta: abundante em milho, toucinho e feijão. Segundo o próprio, “o escravo negro no Brasil parece-nos ter sido, com todas as deficiências do seu regime alimentar, o elemento melhor nutrido em nossa sociedade”. Schwartz rebate novamente Freyre, dessa vez baseado em estatísticas de mortalidade e no Manual do fazendeiro, de João Imbert, 1832, salientando que os escravos recebiam alimentação insuficiente e tão grosseira que quando não passavam fome estavam sofrendo graves problemas estomacais. Ao todo, Freyre dá uma extrema importância a elementos raciais na formação da sociedade colonial brasileira. Podendo ser considerado um adepto do determinismo, ele diverge da opinião majoritária dos autores da bibliografia exatamente por esse aspecto. Anacronicamente porém não erroneamente chamado de racista, ele usa a eugenia para basear e complementar diversas de suas teorias, como a predisposição de Portugal para a colonização híbrida, a preguiça e a luxúria dos indígenas e as diferenças da sociedade paulista perante as outras regiões. Mas apesar dessa divergência geral, Gilberto Freyre conclui seu texto com uma ideia unânime entre todos os autores presentes na bibliografia: a formação brasileira tem sido um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos entre europeus e indígenas (Monteiro, 1999), portugueses e franceses (Ricupero, 2009) africanos e indígenas (Schwartz, 1995), economia agrária e pastoril (Simonsen, 1937), católicos e hereges (Siqueira, 1998), jesuítas e fazendeiros (Zeron 2011), holandeses e portugueses (Boxer 1961), mas predominante sobre todos os antagonismos, o mais geral e mais profundo: o senhor e o escravo.

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