Caracterização das Condições de Vida e Saúde dos Indivíduos Diabéticos Tipo II em uma Unidade de Saúde da Família – Votuporanga, SP

May 28, 2017 | Autor: Monica Andrade | Categoria: Investigação
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Investigação. 2010;10 (Suppl 2):S23-S30

Investigação

ISSN 2177-4080 (on-line)

http://publicacoes.unifran.br

Artigo Original

Caracterização das Condições de Vida e Saúde dos Indivíduos Diabéticos Tipo II em uma Unidade de Saúde da Família – Votuporanga, SP Characterization of the Life and Health of Individuals With Type II in a Health unit of the Family – Votuporanga, SP Rosana Aparecida Benetoli Duran1*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler2, Branca M. O. Santos3, Mônica de Andrade Morraye3 Centro Universitário de Votuporanga, Votuporanga, São Paulo, Brasil; 2Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil; 3Programa de Mestrado em Promoção de Saúde da Universidade de Franca, Franca, São Paulo, Brasil. 1

resumo

A prevalência do Diabetes Mellitus tipo 2 tem aumentando de forma crescente, adquirindo características epidêmicas, sobretudo nos países em desenvolvimento. Prestar assistência aos portadores dessa doença crônica é papel do setor de saúde; no entanto, a participação da família e do indivíduo é importante para o autocuidado. O estudo pretendeu caracterizar as condições de vida (socioeconômicas, estilo de vida, fatores de risco) e de saúde (sinais e sintomas da doença, complicações, comorbidades, tratamento, conhecimento da doença) dos DM2 de uma Unidade de Saúde da Família do município de Votuporanga, SP. Utilizou-se um instrumento semiestruturado, em forma de entrevista, para levantamento dos dados, que foi aplicado em 87 indivíduos com DM2, nos meses de setembro de 2008 a janeiro de 2009, por meio de visitas domiciliares e na Unidade de Saúde. A faixa etária entre 51 a 70 anos concentrou 65,5% dos usuários. Com relação à escolaridade 43,7% foram considerados analfabetos funcionais e 25,3% analfabetos. Apenas 26,4% informaram praticar algum tipo de atividade física; 41,4% informaram que não fazem dieta alimentar. Em relação ao uso de medicamentos para comorbidades associadas, 97,7% responderam fazer o uso de diversos medicamentos. Grande parte (77%) referiu visão embaçada, dores nas pernas (77%), vontade frequente de urinar (73,6%), formigamento nas mãos e pés (57,5%), fadiga (52,9%), perda de peso e sede exagerada (48,3%), fome exagerada (28,7%), dificuldade de cicatrização (21,8%) e infecções repetidas na pele ou mucosas (20,7%). Para 55,2% indivíduos a doença não representa qualquer limitação. Concluí-se que, a falta de conhecimento sobre a doença e dos seus mecanismos de prevenção, controle e tratamento, evidenciam a necessidade de elaboração de ações de promoção de saúde que promovam o autocuidado e melhorem as práticas de saúde no âmbito da Estratégia de Saúde da Família. Palavras-chave: Diabetes mellitus 2; Programa de saúde da família; Enfermagem; Promoção de saúde.

abst r ac t

The prevalence of diabetes mellitus (DM) type 2 is increasing, acquiring epidemic characteristic, especially in developing countries. Assist individuals with this chronic disease is the role of the health sector, however, family involvement and the individual are important for self-care. The study aimed to characterize the living conditions (socioeconomic, lifestyle and risk factors) and health (signs and symptoms, complications, comorbidities, treatment, knowledge of disease) of diabetes type 2, a unit of Family Health in Votuporanga, SP. The interviews were conducted with 87 individuals, from September 2008 to January 2009, through home visits and the Health Unit. The group aged 51 to 70 years concentrated 65.5% of users with type 2 diabetes. As to education 43.7% were considered functionally illiterate and 25.3% illiterate. Only 26.4% reported practicing some form of physical activity, 41.4% said they do not diet. Regarding the use of drugs for co-morbidities, 97.7% responded to the use of various medications. Most 77% symptoms such as blurred vision, 77% leg pain, 73.6% frequent urination, 57.5% numbness in hands and feet, 52.9% fatigue, 48.3% weight loss and excessive thirst, 28.7% excessive hunger, 21.8% impaired wound healing, 20.7% recurrent infections in the skin or mucous membranes. For 55.2% of individuals the disease poses no limitation. We conclude that the lack of knowledge about diabetes, the mechanisms for prevention, control and treatment, highlight the need for the elaboration of health promotion to promote self-care and improve health practices in the Health Strategy for the Family. Keywords: Diabetes mellitus 2; Family health program; Nursing; Promotion of health. *Autor correspondente Endereço: Av. Dr. Armando Salles Oliveira, 201, 14404-600, Parque Universitário, Franca, São Paulo, Brasil. Telefone: (16) 3711 8972, Fax: (16) 3711 8886 | E-mail: [email protected]

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Introdução A prevenção do Diabetes Mellitus (DM) e de suas complicações é hoje uma das prioridades da saúde pública, considerando o fato de ser uma das principais doenças crônicas que atingem a população mundial e a elevada carga de morbimortalidade associada. Na atenção básica, ela pode ser efetuada por meio da prevenção dos fatores de risco, tais como sedentarismo, obesidade e hábitos alimentares não saudáveis; da identificação e tratamento de indivíduos de alto risco para diabetes (prevenção primária); da identificação de casos não diagnosticados de diabetes (prevenção secundária) para tratamento; e intensificação do controle de pacientes já diagnosticados, visando prevenir complicações agudas e crônicas (prevenção terciária) (Brasil, 2006). Dentre as diferentes classes clínicas da doença, destaca-se o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM 2). De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. No Brasil, em 2006, havia cerca de 6 milhões de portadores, e este número deve alcançar 10 milhões em 2010 (Brasil, 2006). Trata-se de uma enfermidade sem cura, porém com possibilidade de tratamento com base em dieta nutricional, atividade física, medicamentos hipoglicemiantes orais e insulina (Smeltzer; Bare, 2005). A prevalência do DM-2 está aumentando de forma exponencial, adquirindo características epidêmicas em vários países, particularmente naqueles em desenvolvimento, adquirindo uma crescente importância como problema de saúde. Caracteriza-se como um distúrbio metabólico caracterizado pela deficiência relativa da produção de insulina e uma diminuição na ação desta. O início geralmente é insidioso, sendo geralmente associado a fatores de risco e à história familiar. Vários aspectos têm contribuído para o aumento do número de portadores de DM2, destacando-se, segundo Sartorelli e Franco (2003) e Grossi (1998), a maior taxa de urbanização e de industrialização, o aumento do sedentarismo, as alterações da estrutura da dieta, a falta de atividade física e o consequente aumento da obesidade. Dentre os fatores que são considerados de risco para o desenvolvimento do DM-2, encontram-se a idade (acima de 45 anos); o excesso de peso; o sedentarismo; a hipertensão arterial; as alterações nas taxas de colesterol e triglicérides sanguíneos e a história familiar de diabetes, com destaque ao sobrepeso e sedentarismo. Estudos têm demonstrado que o incremento do Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta a incidência ou o risco de se desenvolver diabetes (Berlese et al., 2007). As manifestações clínicas mais frequentes, decorrentes do aumento da glicemia, são: poliúria, nictúria, polidpsia, boca seca, polifagia, emagrecimento rápido, fadiga, fraqueza, tonturas, dentre outras. Caso não haja o controle dos índices glicêmicos, além dos sinais e sintomas citados, o paciente pode evoluir para uma cetoacidose diabética e coma hiperosmolar (Brasil, 2001). As complicações do DM-2 constituem um verdadeiro desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS); para as sociedades científicas e as associações de portadores da doença, pois são situações

que necessitam de intervenção imediata, pela alta prevalência na população brasileira, pelo grau de incapacidade, pela alta taxa de internações prolongadas, incapacidades, invalidez, aposentadoria precoce e morte evitável, as quais causam grande prejuízo ao sistema público de saúde, inclusive em nosso país (Barbui; Cocco, 2002). O tratamento do DM-2 é especialmente uma mudança no comportamento e estilo de vida para hábitos mais saudáveis, principalmente relacionados à alimentação e prática de atividade física, que prolongam a expectativa e a qualidade de vida. No entanto, nem sempre essas mudanças são realizadas, o que acarreta a evolução da doença, com o desenvolvimento de várias complicações que acabam por provocar alterações negativas na qualidade de vida de seus portadores (Silva et al., 2008). Deve-se investir no incentivo à prática da atividade física não somente nos pacientes com DM-2, mas em toda a população (Brasil, 2007a). Neste cenário, sobressai a promoção de saúde que tem como estratégia melhorar as condições de saúde, ressaltando a importância da capacitação do portador da doença, sua família e da comunidade, incluindo a participação dos mesmos no controle desse processo, além da preocupação com as medidas relacionadas ao ambiente físico e estilo de vida (Buss, 2000). Uma vez que o DM2 exige do indivíduo um manejo eficaz de atividades de autocuidado, é necessário que o profissional de saúde, ao realizar seu plano de cuidado, considere os aspectos individuais do cliente, a fim de que juntamente com ele consiga encontrar, medidas adequadas para promover sua saúde. Dessa forma, para alcançar um potencial elevado de saúde, por meio de estímulo de adoção de hábitos saudáveis, devem-se considerar fatores pessoais dos indivíduos, tais como o comportamento em situações de saúde-doença, percepções acerca da situação vivenciada ou mesmo autocontrole de suas vidas (Sampaio et al., 2008). Para Milhomen et al. (2008), a família e os amigos influenciam tanto no controle da doença como no seguimento do tratamento, da dieta e na participação em um programa regular de atividade física. A doença na família afeta tanto o relacionamento entre o casal, entre os irmãos, bem como as relações estabelecidas com o sistema de saúde. Essas constatações ressaltam a necessidade de uma melhor capacitação dos profissionais de saúde, conforme considera Costa (2008); como elemento técnico capaz de viabilizar as orientações aos portadores de DM que transcenda o tratamento puramente medicamentoso, considerando que a ausência de uma equipe multiprofissional leva à vulnerabilidade dos serviços de saúde, quanto à adoção dos hábitos de vida saudáveis preconizado pela Organização Mundial de Saúde. O estudo teve como objetivo caracterizar as condições de vida (socioeconômicas, estilo de vida, fatores de rico) e de saúde (sinais e sintomas da doença, complicações, comorbidades, tratamento, conhecimento da doença) dos DM2 de uma Unidade de Saúde da Família do município de Votuporanga-SP. Material e Métodos Trata-se de um estudo descritivo, uma vez que visa à descrição das características dos pacientes DM2.

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Fizeram parte do estudo os portadores de DM2 cadastrados no PSF II - Dr. Rui Pedroso, do município de Votuporanga-SP, sendo que 87 concordaram em participar e apenas um recusou a participação. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: estar cadastrado na referida unidade, no mês de agosto de 2007; ter diagnóstico médico de DM2 (no prontuário da Unidade de Saúde); concordar em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O instrumento de coleta de dados foi elaborado em forma de entrevista estruturada para levantamento de dados relativos aos

quesitos: sexo, idade, estado civil, nível de instrução, renda familiar, situação de trabalho, naturalidade, história familiar, hábitos pessoais quanto à atividade física, ao sono e repouso, tabagismo, consumo de bebida alcoólica e a dieta; sintomas referidos; comorbidade associados, tempo de diagnóstico da doença, tratamentos, aspectos relevantes do adoecimento condicionantes do cotidiano, tendo por referência Andrade et al., (2003). As entrevistas foram realizadas no PSF II, em visitas domiciliárias ou na própria Unidade de Saúde, nos meses de setembro de 2008 a janeiro de 2009. Os resultados obtidos foram apresentados em figuras e tabelas

Figura 1 - Distribuição da faixa etária dos DM2, cadastrados na unidade Dr. Rui Pedroso em Votuporanga, SP, setembro 2007.

Figura 2 - Distribuição do nível de instrução dos DM2, cadastrados na unidade Dr. Rui Pedroso em Votuporanga, SP, setembro 2007.

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Resultados e Discussão

Com relação à atividade física, 73,6% dos sujeitos informaram que não praticam nenhum tipo de atividade.

Por meio dos resultados obtidos foi possível observar que o sexo feminino foi predominante (78,2%).

De acordo com as recomendações da American Diabetes Association (2004), os principais fatores de risco do DM são: idade igual ou superior a 45 anos, IMC igual ou superior a 25 Kg/m 2, pais ou irmãos com diabetes, inatividade física, hipertensão arterial maior do que 140/90 mmHg, HDL menor do que 35 mg/ dL ou triglicerídeos maior que 250 mg/dL.

A população feminina é, em geral, maior que a masculina. Este fato explica, em parte, a maior proporção de mulheres acometidas, e maior proporção de mulheres diagnosticadas, pois procuram os serviços de saúde com maior frequência que os homens (Miranzi et al., 2008). A faixa etária variou de 21 a 88 anos, com maior frequência nas faixas correspondentes a 51 a 70 anos (65,5%), ainda que 18,4% possuíam mais de 77 anos. Chama a atenção, no entanto, o fato de 97,7% dos participantes terem idade acima dos 40 anos, conforme figura 01. Esses dados corroboram com os encontrados na literatura, o DM2 atinge indivíduos de qualquer idade, principalmente maiores de 40 anos, compreendendo cerca de 7,6% do total da população brasileira (Brasil, 2001). Em relação à escolaridade, 69,0% dos participantes referiram ter uma baixa escolaridade, sendo considerados analfabetos funcionais (figura 02), uma vez que 43,7% possuíam ensino fundamental incompleto, 25,3% eram analfabetos. Na América Latina, a Unesco (2004), relata que o processo de alfabetização só se concretiza de fato para as pessoas que completaram a 4ª série. Já para aqueles que não completaram este ciclo de ensino, tem-se verificado elevadas taxas de analfabetismo. O baixo nível de escolaridade, certamente, pode limitar o acesso às informações, devido ao possível comprometimento das habilidades de leitura, escrita, compreensão ou mesmo da fala. Essa condição pode reduzir o acesso às oportunidades de aprendizagem relacionadas ao cuidado à saúde, especialmente ao reconhecer que, de modo geral, as pessoas adultas desenvolvem seus próprios cuidados diários (Pace et al., 2006). Na investigação sobre a renda familiar mensal dos DM2 do estudo, 56,3% informaram renda de um salário mínimo e 43,7% de dois a cinco. A maior frequência de renda per capita identificada neste estudo foi de R$ 465,00 (57,5%). Este dado evidencia que os DM2 deste estudo possuem baixo poder aquisitivo. Para avaliação do cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), foi utilizada a fórmula: peso (em quilogramas) dividido pela altura ao quadrado em metros (IBGE, 2010). Pelos resultados dessa avaliação pode-se constatar que 36,8% dos diabéticos apresentaram IMC classificado como sobrepeso, 25,3% como obesidade classe I, 12,6% como obesidade classe II e 4,6% como classe III (obesidade mórbida). Portanto, 79,3% dos diabéticos participantes do estudo apresentaram IMC acima de 25 kg/m². A obesidade é um dos fatores de riscos mais importantes para as doenças cardiovasculares e o DM. O DM e a hipertensão arterial ocorrem 2,9 vezes mais em indivíduos obesos do que naqueles com peso adequado e, além disso, um indivíduo obeso tem 1,5 vezes mais propensão de apresentar níveis sanguíneos elevados de triglicerídeos e colesterol (Ministério da Saúde, 2007b).

A atividade física é fundamental para o controle glicêmico dos portadores de DM2, uma vez que o sedentarismo é a principal causa do aumento da incidência de várias doenças. Hipertensão arterial, diabetes, obesidade, ansiedade, aumento do colesterol, infarto do miocárdio são alguns dos exemplos das doenças às quais o indivíduo sedentário se predispõe (Neuhouser et al., 2002). Existem evidências consistentes dos benefícios do exercício físico no DM2 como a melhora do controle glicêmico, reduzindo a hemoglobina glicada, independente da redução do peso corporal, e ainda a redução do risco cardiovascular, a contribuição para redução de peso e melhora da autoestima. Além disso, o exercício regular pode prevenir o aparecimento de DM2 em indivíduos de risco elevado. O exercício aeróbico é o mais recomendado para os portadores de DM, como, por exemplo, caminhada, ciclismo, corrida, natação, dança, entre outros, numa frequência de três a cinco vezes por semana e duração de 30 a 60 minutos por dia (SBD, 2007; ADA, 2009). Neste estudo, 41,4% informaram não fazer dieta alimentar e em relação ao recordatório alimentar, 85,1% referiram fazer de 3 a 4 refeições/lanches diários. Segundo Sartorelli et al. (2006), a literatura tem apontado um baixo seguimento da dieta recomendada pelos pacientes. O ato de comer é bastante complexo e envolve uma amplitude de emoções e sentimentos, além de valores culturais específicos. Segundo o referido autor, a literatura tem apontado um baixo seguimento da dieta recomendada pelos pacientes. O ato de comer é bastante complexo e envolve uma amplitude de emoções e sentimentos, além de valores culturais específicos. A educação alimentar é um dos pontos fundamentais na prevenção primária e no tratamento do DM, não sendo possível um bom controle metabólico sem uma alimentação saudável. O objetivo geral da orientação nutricional é auxiliar o indivíduo a fazer mudanças em seus hábitos alimentares; favorecendo um melhor controle metabólico, enquanto os objetivos específicos visam a contribuir para a normalização da glicemia, diminuir os fatores de risco cardiovasculares, fornecer calorias suficientes para obtenção e/ou manutenção do peso corpóreo saudável, prevenir complicações agudas e crônicas do DM, e promover a saúde através de uma nutrição adequada (Ministério da Saúde, 2007b). Quanto aos sinais e sintomas referidos, as respostas mais comuns foram visão embaçada e dores nas pernas por causa da má circulação, vontade de urinar diversas vezes, formigamento nas mãos e pés, fadiga, perda de peso involuntária e muita sede. Em menor frequência foram referidos: fome exagerada, dificuldade de cicatrização, além de infecções repetidas na pele ou mucosas que são clássicos do diabetes.

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Figura 03 - Distribuição dos sinais e sintomas referidos nos últimos 12 meses dos DM2, cadastrados na unidade Dr. Rui Pedroso em Votuporanga, SP, setembro 2007.

Figura 04 - Distribuição das complicações dos pacientes com DM2, cadastrados na unidade Dr. Rui Pedroso em Votuporanga, SP, setembro 2007.

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As principais complicações citadas, em ordem decrescente de frequência foram: depressão, acidente vascular, retinopatia diabética, infarto agudo do miocárdio, pé diabético, neuropatia e nefropatia diabética, sendo que um mesmo paciente pode ter informado mais de uma complicação. Essas complicações podem ocorrer em estágios precoces da doença ou mais tardiamente e se apresentam de forma mais difusa e severa do que em pessoas não diabéticas. São as principais responsáveis pela morbidade dos pacientes e representam a principal causa de morte em pacientes com DM2, que têm uma propensão (de duas a quatro vezes) maior de morrer por doença cardíaca em relação a não diabéticos, e quatro vezes mais chance de ter doença vascular periférica e acidente vascular encefálico (Oliveira, 2003; Strong et al., 2005; SBD, 2007; Santos et al., 2008). Para a promoção de saúde, as estratégias envolvidas no controle e redução dos fatores de risco cardiovasculares devem enfatizar o controle do tabagismo, da obesidade, do sedentarismo,

do consumo de sal e de bebidas alcoólicas e o estímulo a uma alimentação saudável (Ministério da Saúde, 2007b). Na figura 05 é possível observar as doenças/agravos de saúde que os entrevistados referiram, sendo que 74 (85,1%) mencionaram problemas com a Hipertensão Arterial (HA); 29 (33,3%) Arritmia, 23 (26,4%) Insuficiência Cardíaca (IC); 5 (5,7%) Insuficiência Renal Crônica (IRC); 4 (4,6%) Hipotireoidismo e 3 (3,4%) Hipertireodismo. O mesmo paciente pode informar mais de uma comorbidades associada. A hipertensão arterial; agravo mais citado pelos participantes, é uma comorbidade associada ao DM que pode desencadear uma série de complicações e dentre as metas para o seu controle está à redução da ingestão de sódio que deve ser limitada a 6g/dia. Portanto, os alimentos processados, como embutidos, conservas, enlatados, defumados e salgados devem ser evitados. Ao contrário, temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são recomendados em substituição aos condimentos industrializados (Franz et al., 2002; WHO, 2003; ADA, 2004).

Figura 05 - Distribuição das comorbidades associadas, de acordo com o CID- 9 dos pacientes com DM2, cadastrados na unidade Dr. Rui Pedroso em Votuporanga, SP, setembro 2007. Atualmente, o tratamento do DM consiste em modificação do estilo de vida, uso de drogas orais e insulinoterapias. As modificações do estilo de vida, indicadas como parte do tratamento do DM, envolvem hábitos de vida saudáveis que incluem: dieta balanceada, com restrição de carboidratos de absorção rápida e gorduras saturadas, atividade física regular, pelo menos de 3 a 4 vezes por semana, suspensão do tabagismo e do consumo do álcool. Hábitos alimentares adequados são uma das pedras angulares do tratamento (Ponte, 2006). Quanto ao conhecimento que o portador de diabetes apresenta sobre sua patologia, pode-se observar que 29,9% referiram não possuir conhecimento sobre o DM2 e 70,1% relataram que já receberam informações sobre o DM.

Percebeu-se no decorrer das entrevistas que a ausência de informações dos diabéticos quanto ao tipo de DM, seus respectivos sintomas e tratamento e a importância do autocuidado são reflexos da ausência de ações educativas em saúde, próprias do sistema vigente. O conhecimento é elemento fundamental na terapêutica instituída ao indivíduo portador de DM, ao permitir a conscientização para mudança de hábitos, manutenção da autonomia e melhoria da qualidade de vida. Ele pode ser oferecido em grupos de pessoas que vivenciam os mesmos dilemas cotidianos o que favorece o aprendizado e possibilita ao participante a capacidade de se perceber e se modificar (Santos, et al. 2007; Rêgo; Nakatani; Bachion, 2006).

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Nesse sentido, Oliveira et al. (2009) e Péres et al. (2007) reforçam a importância do planejamento adequado para a realização dos grupos e a capacitação dos coordenadores que devem aliar conhecimento à sensibilidade de avaliação dos resultados; buscando a efetividade das atividades realizadas, reforçando que a abordagem educativa não deve ser reduzida apenas à transmissão de conhecimentos, mas é importante englobar os aspectos emocionais, sociais e culturais que influenciam no seguimento do tratamento. O desenvolvimento de atividades educativas para pacientes diabéticos em nível individual ou em grupos, para promoção de saúde e prevenção, são atribuições sugeridas a todos os profissionais de saúde que compõem as equipes da Estratégia de Saúde da Família das UAPS (Ministério da Saúde, 2006). Na atenção em DM é recomendável que o atendimento em saúde seja conduzido por uma equipe multiprofissional, que pode contemplar fatores biológicos, emocionais, sociais e comportamentais que abrangem a vida do diabético (Silva, 2009; Ministério da Saúde, 2006; Guimarães; Takayanagui, 2002; ADA, 2009). Os resultados do estudo possibilitaram a constituição de um panorama da realidade estudada e levantaram algumas reflexões acerca da condição de vida e saúde do portador de DM2. O DM, sem dúvida alguma, constitui-se em um problema de saúde pública, caracterizando-se por etiologia incerta, diversos fatores de risco, longos períodos de latência, curso prolongado e associado a deficiências e incapacidades funcionais. Esta simples constatação acaba por fortalecer a convicção da importância da detecção precoce e da minimização das complicações através de ações que incluam a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Para a qualificação do cuidado ao seu portador, portanto, faz-se necessário buscar estratégias efetivas mediante abordagem integral, envolvendo os elementos fisiopatológicos, psicossociais, educacionais e até de reorganização da atenção à saúde. Essa tarefa não é fácil, pois requer a mudança de paradigma na forma de abordagem aos portadores da doença, capaz de promover o seu empoderamento através de um modelo de educação em saúde; centrado não só no conhecimento profissional, mas no conhecimento e nas experiências deles próprios, valorizando, sobretudo, a sua participação no controle da mesma e na modificação do estilo de vida. O fato de a maioria dos DM2 cadastrados na referida unidade de saúde apresentar baixa escolaridade e baixa renda per capita; revela um quadro preocupante, pois embora tenham referido receber orientações sobre a doença e seguir corretamente o tratamento medicamentoso, muitos já apresentam comorbidades associadas à fase crônica da doença, principalmente a hipertensão, relacionadas principalmente à falta de percepção em relação às limitações decorrentes do DM2 e à sua gravidade. Referências

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