Caracterização Química de Terra Preta Arqueológica na Região de Portos Trombetas, Estado do Pará

Share Embed


Descrição do Produto

Caracterização Química de terra preta arqueológica na região de portos trombetas, Estado do Pará1

Renan da Silva e Silva(2); Daniel Silva do Carmo Santos(3) ; Diana Rocha dos Anjos(3); Allyne dos Santos Araújo (3); Morgan J. Schmidt (4); José Paulo Sarmento(5)

(1) Trabalho executado com recursos do PIBIC/ CNPq e parte do Projeto Arqueológico de Porto Trombetas do Museu Paraense Emílio Goeldi, coordenado por Dra. Vera Guapindaia.
(2) Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); Belém, Pará; E-mail: [email protected]; (3) Graduando(a) do curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); (4) Pesquisador Doutor do Museu Paraense Emílio Goeldi vinculado ao Projeto Arqueológico de Carajás – MPEG; (5) Técnico do Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia - MPEG/CCTE.

RESUMO: A Terra Preta de Índio por serem extremamente férteis destacam-se dos solos circunvizinhos pela sua coloração escura, materiais arqueológicos, elevados teores de Ca, Mg, Zn, Mn e P, de carbono orgânico (CO), CTC e SB, proporcionando condições favoráveis ao desenvolvimento das plantas. Foram formadas pela deposição de materiais orgânicos e inorgânicos e normalmente contém grandes quantidades de carvão, o qual acaba contribuindo com a sua alta fertilidade. Esta pesquisa objetivou analisar quimicamente as propriedades de terra preta em um sitio pré-histórico na região do baixo rio Trombetas, a fim de descrever a sua distribuição e quantificação em duas áreas escavadas. Para as análises, os procedimentos de laboratório foram conduzidos segundo os métodos da EMBRAPA (1997). Eles incluem determinação de Al, Ca, Mg disponíveis por KCl 1M; teores de P, K, Na, Cu, Fe, Mn e Zn disponíveis por Mehlich-1; pH em água a 1:2,5; C orgânico por Walkley-Black modificado; e N Total por micro-Kjeldhal. Estas análises foram realizadas com amostras oriundas de pares de escavações provenientes de áreas planas e áreas de montículo associadas a uma e outra. Os nutrientes que mais se destacaram foram o P, Mg, Mn e N junto com o CO elevados principalmente nas áreas de montículo. De acordo com a hipótese, isso ocorre devido os montículos serem áreas de lixeiras onde foi descartado uma maior quantidade de materiais orgânicos, elevando os teores desses nutrientes já existentes no solo.

Termos de indexação: Terra Preta de Índio, fertilidade, montículo e área plana.


INTRODUÇÃO

Apesar de sua exuberante vegetação, os solos da região Amazônica em geral são pobres em nutrientes, porém ainda agricultáveis. Entre esses solos destacam-se os da classe dos Latossolos e Argissolos. A maior parte dos solos agricultáveis na Região Amazônica são ácidos, com baixa CTC, consequentemente, com baixa fertilidade e potencial produtivo. O grau de fertilidade do solo, por ser considerado baixo, é, portanto, um fator limitante para a produtividade e sustentabilidade ambiental e econômica.
Contrapondo-se a essa realidade, solos originados a partir da ação humana, são encontrados meio a essa vegetação. Esses solos, conhecidos como Terra Preta de Índio (TPI) ou Terra Preta Arqueológica (TPA), que apresentam horizonte A antrópico, são caracterizados por apresentarem cor escura, restos de material arqueológico (fragmentos cerâmicos e de artefatos líticos), grandes quantidades de carvão e altos teores de Ca, Mg, Zn, Mn, P e CO (Kern et al, 2009). Os locais denominados de sítios arqueológicos foram locais de moradia no passado pré-histórico que serviram de verdadeiros depósitos de resíduos de origem vegetal (folhas e talos de palmeiras diversas, cascas de mandioca e sementes) e de origem animal (ossos, sangue, gordura, fezes, carapaças de quelônios e conchas), além de uma grande quantidade de cinzas e resíduos de fogueiras (carvão vegetal).
Nesse sentido, objetivou-se analisar quimicamente as propriedades desse tipo de solo a fim de descrever a sua distribuição e quantificação em duas áreas escavadas ( plana e de montículo), sendo a área plana identificada como um local de estrutura de moradia, enquanto o montículo uma área de descarte ou lixeira, localizada na região de Porto Trombetas.

MATERIAL E MÉTODOS

As amostras de solos trabalhadas foram coletadas no Sítio PA-OR-127: Cipoal do Araticum, em 2011, localizado na área do Projeto Trombetas, área de estudo do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). Essas amostras foram coletadas em níveis de 5 cm, retiradas de duas partes da Escavação, a Esc. 27.1, 27.2 e a Esc. 35 e 36. O primeiro de cada parte (27.1 e 35) foram feitas em áreas planas adjacente aos dos montículos (27.2 e 36).
O processamento das amostras de solo consistiu em organizar, e selecionar as amostras para análise, em seguida foram secas ao ar e tamisadas a 2mm . Os procedimentos de laboratório foram conduzidos segundo os métodos da EMBRAPA (1997). Eles incluem determinação de Al, Ca, e Mg disponíveis por KCl 1M; teores de P, K, Na, Cu, Fe, Mn e Zn disponíveis por Mehlich-1; pH em água a 1:2,5; CO por Walkley-Black modificado; e N Total por micro-Kjeldhal. Nesse estudo serão apresentados apenas os dados de pH em água, CO, Ca, Mg, P e Cu.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As amostras das Escavações 27.2 e 36 foram as que apresentaram teores mais elevados de nutrientes, devido serem coletadas em áreas de montículo. Enquanto que as amostras de solos das escavações 27.1 e 35, coletadas em locais planos, apresentaram teores relativamente baixos, devido que nesses locais a quantidade de dejetos lançados não foi tão frequente quanto nas supostas áreas de descartes nos montículos (Schmidt et al. 2014).
Observou-se que os valores de pH em água variam de 4,8 a 5,1 em áreas planas, enquanto que para as áreas de montículos seus valores variam de 5,1 a 6,1. Essa discrepância entre os valores, pode ser explicada devido as áreas planas estarem mais próximas do solo original, ficando com o pH mais ácido que o das áreas de montículo onde maiores quantidades de matérias orgânicas e possivelmente cinza foram descartados. Observa-se também que essa discrepância ocorre com todos os nutrientes, evidenciando que nas áreas de montículos a quantidade de dejetos lançados no decorrer dos tempos causaram grandes modificações no solo original. Quando comparado o CO de cada escavação, pode-se perceber que na escavação 27.1 os teores são bem menores que os da escavação 27.2. Isso se deve ao fato de que esta última escavação estar em uma possível área de lixeira, onde a maior quantidade de carvão e cerâmica encontrada era bastante visível. O carvão encontrado na TPA garante a longa retenção do carbono no solo, ao contrário do que deveria acontecer na região amazônica, em que a temperatura e a umidade são elevadas (Mangrich et al, 2011). Em relação ao cálcio observa-se que na Esc. 27.2 seu teor está elevado em todo o perfil. Isso se deve ao fato deste ser facilmente lixiviado, principalmente, na área de lixeira onde a densidade do solo é menor, facilitando, ainda mais o transporte deste elemento para os níveis inferiores. Os altos teores de cálcio na escavação 27.1, devem-se ao fato desta estar 40 cm abaixo da escavação 27.2, e, possivelmente houve grande perda de materiais da segunda para a primeira (Tabela 01).
Ao analisar as amostras das escavações 35 e 36 observa-se que na escavação 35 a concentração de fósforo é bem pequena, porém ainda sim, é visível a distribuição desse elemento em todo o perfil, enquanto que na escavação 36 a concentração desse elemento é mais elevada, principalmente nos 40 a 60 cm do perfil (Tabela 02). Para Kern e Kӓmpf (1989), a distribuição do fósforo em profundidade no solo pode ser resultante de lixiviação, dada a elevada precipitação pluvial na região (1.750 mm/ano), concentrada em dez meses.
Tabela 01: Atributos químicos de TPI das Escavações 27.1 e 27.2
Prof
pH
 
CO
 
Ca
Mg
 
P
Cu
Cm
27.1
27.2

27.1
27.2

27.1
27.2
27.1
27.2

27.1
27.2
27.1
27.2




g.kg ¹

Cmolc. kg-1

mg.kg ¹
0-5
5,1
6,0

16,4
32,9

1338
2362
32,0
33,9

21,1
29,6
Nd
0,17
5 10
5,0
6,1

14,3
12,2

661
746
25,6
57,7

16,1
21,4
Nd
0,29
10 15
4,9
5,7

7,1
7,9

417
670
21,0
58,8

15,5
34,8
Nd
0,38
15-20
5,0
5,4

8,6
11,4

367
517
15,5
57,2

13,4
33,2
Nd
0,35
20-25
5,2
5,5

10,7
14,3

353
497
7,0
56,4

15,2
38,4
0,04
0,26
25-30
4,9
5,6

7,1
17,9

158
447
3,5
52,5

19,0
97,7
Nd
0,32
30-35
4,8
5,7

7,9
14,3

111
400
Nd
48,9

22,3
111,7
Nd
0,43
35-40
4,8
5,8

4,3
10,7

91
203
Nd
32,5

15,6
181,5
0,05
0,44
40-45
4,8
5,7

4,3
6,4

75
171
0,7
30,2

9,8
80,3
Nd
0,62
45-50
4,8
5,7

1,4
5,7

73
140
1,9
25,3

6,9
66,3
Nd
0,49
50-55
5,0
5,7

2,9
5,0

80
94
2,3
16,6

8,0
52,4
Nd
0,40
55-60
5,2
5,6

0,7
4,3

72
96
14,9
14,4

8,4
59,3
Nd
0,70
60-65
5,2
5,5

1,4
4,3

76
86
4,5
20,7

9,1
38,4
Nd
0,22
65-70
5,1
5,4

2,1
4,3

63
88
9,4
15,9

9,1
55,8
Nd
0,46
Nd.: não detectado; Prof.: profundidade
Com relação ao magnésio, os resultados obtidos foram bem mais elevados nas Esc. 27.1 e 27.2 do que nas escavações 35 e 36. Esses valores de magnésio trocável nas terras pretas arqueológicas apresentam maior concentração nos horizontes superficiais, com variações nos teores desse elemento entre as áreas de TPA estudadas, o que pode ser reflexo da variação do tempo e da densidade da ocupação humana nas áreas (Campos, 2012). Além do fato de que as Escavações 35 e 36 serem mais antigas que as Escavações 27.1 e 27.2, tendo mais tempo para o Mg ser disperso pelo processo de lixiviação.
Tabela 02: Atributos químicos de Terra Preta de Índio das escavações 35e 36.
Prof
pH
 
CO
 
Ca
Mg
 
P
Cu
Cm
35
36

35
36

35
36
35
36

35
36
35
36




g.kg ¹

cmolc kg-1

mg.kg ¹
0-5
4,4
6,0
21,2
32,9

291
2362
15,8
33,9

13,2
97,7
Nd
Nd
5 10
4,4
6,1
15,6
12,2

75
746
Nd
57,7

13,2
192
Nd
Nd
10 15
4,6
5,7

14,9
7,9

82
670
5,5
58,8

20,9
254,8
Nd
Nd
15-20
5,3
5,4

17,7
11,4

116
517
28,7
57,2

14,7
272,3
Nd
Nd
20-25
4,9
5,5

18,4
14,3

52
497
21,5
56,4

6,3
261,8
Nd
Nd
25-30
4,5
5,6

17,7
17,9

27
447
0,6
52,5

3
321,1
Nd
Nd
30-35
4,5
5,7

18,4
14,3

25
400
Nd
48,9

3,6
359,5
Nd
Nd
35-40
4,6
5,8

18,4
10,7

24
203
Nd
32,5

7,2
394,4
Nd
0,21
40-45
4,8
5,7

15,6
6,4

29
171
Nd
30,2

8,9
411,9
Nd
0,44
45-50
4,8
5,7

15,6
5,7

24
140
Nd
25,3

9,1
390,9
Nd
0,66
50-55
4,8
5,7

17
5

24
94
Nd
16,6

6,2
408,4
Nd
0,83
55-60
4,8
5,6

15,6
4,3

23
96
Nd
14,4

5,1
464,2
Nd
0,85
60-65
4,7
5,5

15,6
4,3

20
86
Nd
20,7

6,9
314,1
Nd
0,78
65-70
4,6
5,4

15,6
4,3

17
88
Nd
15,9

5,6
237,4
Nd
0,56
Nd: não detectado; Prof.: profundidade

CONCLUSÃO

A partir do estudo fica notório que nas áreas de montículos, devido ao acúmulo de materiais orgânicos e inorgânicos lançados pelo Homem, houve uma maior concentração de nutrientes como P, K, Ca, Cu e Mg bem como CO, tornando-se mais fértil que o solo das áreas planas.

REFERÊNCIAS

CAMPOS, M.C.C., SANTOS,L.A.C., SILVA, D.M.P., MANTOVANELLIS B.C., SOARES, M.D.R. Caracterização física e química de terras pretas arqueológicas e de solos não antropogênicos na região de Manicoré, Amazonas. Revista Agro@mbiente On-line, v. 6, n. 2, p. 102-109, Boa Vista, RR. 2012. Disponível em: http://revista.ufrr.br/index.php/agroambiente/article/viewFile/682/776. Acesso em: 28 de junho de 2013.
EMBRAPA. Manual de Métodos de Análise de Solo. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solo, Rio de Janeiro, 1997.
GUAPINDAIA, V., Relatório de Atividades de campo Sitio PA-OR-127: Cipoal do Araticum: 17 de outubro a 16 de novembro de 20011; 25 de novembro a 14 de dezembro de 2011. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 2012.
GUAPINDAIA, V., J. A. DA FONSECA, e G. CHUMBRE. Relatório de Atividades de Campo Sítio PA-OR-127: Cipoal do Araticum: 22 de Novembro a 22 de Dezembro 2010 (18o Relatorio). Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, Projeto Arqueológico Porto Trombetas, 2011.
GUAPINDAIA, V., J.A. DA FONSECA, G. CHUMBRE, e C.P. BARBOSA. Relatório de Atividades de Campo Sítio PA-OR-127: Cipoal do Araticum: 10 de Agosto a 09 de Setembro de 2009, 11 de Novembro a 23 de Dezembro de 2009 (16º Relatorio). Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, Projeto Arqueológico Porto Trombetas, 2010.
MANGRICH, A. S.; MAIA, C. M. B. F.; Novotny, E. H. As Terras Pretas de Índio e o Sequestro de Carbono. Ciência Hoje, vol. 47. Maio, 2011. Disponível em: http://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/894661/1/biocarvao281.pdf. Acesso em: 28 de junho 2013.
NETO, A. E. F. Fertilidade do Solo / Antônio Eduardo Furtine Neto, Fabiano Ribeiro do Vale, Álvaro Vilela de Resende, Luiz Guimarães Guilherme, Geraldo Aparecido de Alquino Guedes. Lavras. UFLA/ FAEP, 2001.


Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.