CARNAVAL, FUTEBOL E RELIGIÃO COMO ARMAS POLÍTICAS

June 12, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Sociology, Economics, Social Sciences, Political Science
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CARNAVAL, FUTEBOL E RELIGIÃO COMO ARMAS POLÍTICAS Fernando Alcoforado* Desde o berço até a vida adulta passamos a adotar crenças, opiniões, ideias sem saber de onde vieram, sem pensar em suas causas e motivos, sem avaliar se são ou não coerentes e verdadeiras. Falamos, agimos, pensamos, temos comportamentos e práticas que nos parecem perfeitamente naturais e racionais porque a sociedade os repete, os aceita, os incute em nós pela família, pela escola, pelos livros, pelos meios de comunicação, pelas relações de trabalho, pelas práticas políticas. Este é o caso do carnaval, do futebol e da religião que não são considerados pela população como armas políticas utilizadas pelos detentores do poder para manter o povo sob seu controle. Tanto o carnaval quanto o futebol podem ser interpretados como o “Circo” da época do Império Romano que para conter distúrbios sociais, o Estado romano criou a política do “Pão e Circo”. Esta política era absolutamente necessária porque a situação social em Roma durante o período da República era tensa. Uma pequena parcela da população detinha muita riqueza, em consequência das guerras de expansão territorial e da exploração do trabalho escravo. Porém, a grande maioria de romanos vivia na pobreza, em péssimas condições de vida nas cidades. O “Pão” estava relacionado à distribuição gratuita de trigo a preços baixos para a população pobre porque suas condições de alimentação eram péssimas. Com a distribuição gratuita ou a preço baixo, o Estado romano pretendia conter revoltas populares que ocorriam pela falta de acesso do povo a alimentos. Outra medida utilizada pelos governantes romanos para evitar as rebeliões populares era o oferecimento de atividades de lazer gratuitas relacionadas com a palavra “Circo”. Um dos principais locais de apresentação era o Circo Máximo. Nele eram realizadas uma das diversões mais adoradas pelos romanos: as corridas de carros puxados por cavalos. Outros eventos prestigiados pela população romana eram as manobras militares, corridas de pedestres e as lutas dos gladiadores. Estas últimas ocorriam geralmente em anfiteatros, como o famoso Coliseu de Roma. A política do “Pão e Circo” foi de extrema importância para se buscar a estabilidade social na sociedade romana. Com ele, as classes dominantes buscavam controlar e conter o ânimo da população pobre, evitando, dessa forma, que as rebeliões se tornassem cada vez mais constantes. Para manter sua dominação, o Império Romano se utilizou também da religião como arma política. Assim, em 313 dC, o imperador Constantino converteu-se ao cristianismo e permitiu o culto dessa religião em todo o Império. Em 325 dC, o imperador Constantino havia promovido um encontro em Nicéa com autoridades eclesiásticas para definir as principais crenças e normas que deveriam nortear a conduta dos cristãos. Esse acordo foi chamado de Concílio de Nicéa e foi um marco na constituição da religião católica. Em 391 dC, o cristianismo não só se tornou a religião oficial de Roma, como todas as outras religiões pagãs passaram a ser perseguidas. A partir do momento em que o Império Romano resolveu tornar a religião cristã oficial para os romanos e todos os povos por eles dominados no século 4, a Igreja Católica começou a ganhar força, como uma instituição poderosa. No entanto, a consolidação definitiva do poder da Igreja Católica iria acontecer nos séculos seguintes, a partir da Idade Média quando se constituiu na principal instituição medieval.

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Pode-se afirmar que o equivalente no Brasil ao “Pão” do Império Romano é o programa de transferência de renda “Bolsa Família” que, ao invés de distribuir pão para matar a fome dos pobres, distribui dinheiro. O “Circo” no Brasil tem seu sinônimo no carnaval que é a maior festa popular e no futebol que é o esporte mais praticado no País. O Carnaval e o futebol servem no Brasil para entorpecer corações e mentes das pessoas com as emoções que eles proporcionam. No fundo, a coisa é sempre a mesma: criar fortes emoções para cegar, entorpecer, nublar as ideias para que se possa ludibriar o povo, surripiá-lo em seus direitos, tirando-lhe a capacidade de exercer o livre arbítrio. No Brasil, carnaval e futebol têm atuado ao longo da história como poderosas armas políticas pelos detentores do poder como instrumentos de alienação do povo brasileiro. No Brasil contemporâneo, a religião tem sido utilizada, também, como arma política pelos detentores do poder ao longo da história visando a alienação do povo brasileiro. Sobre a religião, é preciso observar que Karl Marx, filósofo alemão, a considera como uma forma de alienação. Marx afirma que nela se verifica a fratura entre o mundo concreto e um mundo ideal em que o homem desejaria viver. O mundo ideal que corresponde ao mundo celeste desejado pelo homem é o resultado de um protesto da criatura oprimida contra o mundo em que vive e sofre. Ou seja, procura-se um refúgio no mundo divino porque o mundo em que o homem vive é desumano. Em um mundo em que "o homem é o lobo do próprio homem", não há "família humana", o homem não se sente neste mundo como em sua casa. Para Marx, a procura de uma família celeste deve-se à perda da família terrestre, à separação do homem de seus semelhantes. As degradantes condições materiais de vida, a exploração do homem pelo homem, com o consequente desprezo pela vida humana, que levam o homem a sentir-se órfão na terra e a procurar um pai no céu. Segundo Marx, o homem não pode esperar a sua libertação e emancipação através da religião. Ela é um "sintoma" da desumanidade do mundo dos homens e não o remédio para esse mal. Mais do que isso, ela é um "ópio", um produto tóxico, que entorpece, aliena e enfraquece porque a esperança de consolação e de prometida justiça no "outro mundo" transforma o explorado e oprimido num ser resignado, tendendo a afastá-lo da luta contra as causas reais do seu sofrimento. Assim, a religião é, para Marx, um instrumento que, apesar de apresentar o Céu como lugar da justiça e da compensação, justifica o estado de coisas existentes. A ilusão de um mundo transcendente e justo serve para que as injustiças se perpetuem na sociedade humana. Por isso, segundo Marx, não basta criticar a religião. É preciso não só criticar a raiz material (a alienação do trabalho, a exploração econômica) da alienação religiosa, como também eliminar revolucionariamente as condições de miséria terrestre das quais deriva a necessidade do "mundo celeste". A religião tem se constituído, também, ao longo da história da humanidade em fator de instabilidade e risco constante de conflitos, sobretudo no Oriente Médio. Nesta região, surgiram as três maiores religiões monoteístas (doutrina ou corrente religiosa que reconhece a existência de um único Deus) do mundo, são elas: o islamismo, o cristianismo e o judaísmo. O islamismo é a religião que detém o maior número de adeptos no Oriente Médio, são aproximadamente 253 milhões de pessoas. Assim, é possível notar que o cristianismo e o judaísmo figuram como minorias religiosas nessa região do mundo. A religião islâmica é o principal elemento cultural na região, fazendo com que seja o princípio fundamental e verdadeiro para sua população.

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A religião tem se constituído em fator de grande parte dos conflitos que hoje acontecem no mundo se misturando com uma complexa rede de fatores políticos, econômicos, raciais e étnicos. Por exemplo, no Afeganistão, estão em conflito fundamentalistas radicais muçulmanos e não muçulmanos. Na Nigéria, estão em conflito cristãos e muçulmanos. No Iraque, xiitas e sunitas, em Israel, judeus e muçulmanos, no Sudão, muçulmanos e não muçulmanos e na Tailândia, budistas e muçulmanos. A religião islâmica atua como ópio do povo pelo Estado Islâmico ao pregar o Jihad, isto é, a guerra santa contra o Ocidente. O conflito religioso no Oriente Médio assume grande proporção com o surgimento do Estado Islâmico que ameaça o mundo através do terrorismo praticado por seus adeptos. Pode-se afirmar, portanto, que através do carnaval o povo brasileiro busca esquecer seus problemas embalados pela orgia que caracteriza esta festa e com o futebol busca compensar as dificuldades que enfrenta na vida com as vitórias de seu clube de coração e de sua seleção nacional. Quanto à religião, ela serve de refúgio para as pessoas que desejam a interferência divina para melhorar suas condições de vida na Terra e alcançar o paraíso celeste após sua morte, bem como serve como instrumento de muitos oportunistas para ganharem dinheiro ao criarem uma multiplicidade de igrejas, sobretudo no Brasil. Criar igrejas para explorar a crença das pessoas passou a ser uma forma de ganhar dinheiro no Brasil. Carnaval, futebol e religião servem, portanto, para desviar a atenção do povo de seus problemas fundamentais. No Brasil, enquanto o povo estiver celebrando o carnaval nos próximos dias, o País caminha celeremente rumo ao desastre econômico de consequências sociais e políticas imprevisíveis sob o comando de governantes incompetentes. * Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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