Carta ao Colégio

DETRITOS’03

carta ao colégio

EDUARDA NEVES

CARTA AO COLÉGIO

Ao cuidado de Sua Magnificência

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O Enunciado Onto-Pedagógico - O Uno, o Todo, a Razão, o Sujeito, o Conserto e o Sermão. Por extenso e tudo em itálico - traduz, como bem se vê, a vocação meta-fenomenológica da Academia, sustentada nos seguintes pressupostos: 1. A Academia aspira ao Uno 2. A Academia aspira ao Todo 3. A Academia aspira à Razão 4. A Academia aspira ao Sujeito 5. A Academia aspira ao Sermão 6. A Academia não tem Conserto É certo, Senhor, que a Academia sofre de falha ontológica, tão perfeitamente ilustrada no pressuposto A Academia não tem Conserto. Porém, sabemos que nenhuma falha escapa ao argumento pedagógico. Considerando a proposição A Academia sofre de falha ontológica mas nenhuma falha escapa ao argumento pedagógico, teríamos que: 1. A Pedagogia é a Ciência de todas as Ciências, excepto quando falha, o que não é o caso 2. A Ontologia deixa-se de pretensões, o que é o caso 3. A Academia não tem a letra O, ao contrário de Uno, Todo, Razão, Sujeito, Sermão e Conserto 4. A Academia não tem a letra O, sofrendo, portanto, de solidão ontológica. Se Uno, Todo, Razão, Sujeito, Sermão e Conserto perdessem os respectivos Ós, poderíamos, Senhor, aproximar-nos de uma esquizofrenia onto-semiótica, embora a Academia só tivesse a ganhar com a mudança.

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Caso nada disto aconteça, como é provável, o problema mantém-se, como é habitual, na Academia. Enfim, a verdade é que nunca saberemos. Perdoe-me, Senhor, este momento de fraqueza onto-pedagógica. E como nunca saberemos, a solidão ontológica torna-se a falha total, o constrangimento absoluto, que, no seu registo itálico, em semi-queda, por extenso, ou em claridade iluminada, se torna uma sequência académica. Embora a sequência seja incluída na consequência, graças a esse grandioso esforço de contracção, nada é mais fatal, pois quanto mais a sequência académica se quer fazer ouvir, mais a consequência se funde com o argumento onto-pedagógico, agora já não em semi-queda, mas em queda absoluta, ou o que podemos chamar A Grande Queda. Ora, sendo a Grande Queda um dos géneros mais difíceis e ingratos, a Academia, à falta de melhor, transforma-se em Monumento, evitando a visibilidade do défice construtivo. O Uno, o Todo, a Razão, o Sujeito, unem-se e formam uma Comissão de Estudos e Pesquisas Diversas que aconselha o Conserto a uma aprendizagem singular: como circular em portas giratórias sem se arruinar. O Uno, o Todo, a Razão, o Sujeito e o Sermão, assimilados pelo argumento onto-pedagógico, já só funcionam em grupo e em regime inter, multi ou até transdisciplinar, vulgarmente chamado um por todos e todos por Uno, ou, caso as circunstâncias variem, um para cada lado.

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