Cartinha Com os Preceitos e Mandamentos.pdf

May 28, 2017 | Autor: G. Antunes de Araujo | Categoria: Língua Portuguesa, século XVI, Edição Critica, Joao De Barros
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Descrição do Produto

CARTINHA COM

OS DA

PRECEITOS

E

MANDAMENTOS

SANTA MADRE IGREJA

1539

EDITORA HUMANITAS

EDITORA PAULISTANA

Presidente Mario Miguel González

Diretora Adelia Maria Mariano da S. Ferreira

Vice-Presidente Marco Aurélio Werle

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS Diretor Gabriel Cohn

Rua do Lago, 717 – Cid. Universitária 05508-080 – São Paulo – SP – Brasil Tel.: 3091-2920 / Telefax: 3091-4593 e-mail: [email protected] http://www.editorahumanitas.com.br

Editora Paulistana Ltda. Rua Artur de Azevedo, 2.100 sala 3 Pinheiros 05404-005 São Paulo – SP www.editorapaulistana.com.br

Foi feito o depósito legal Impresso no Brasil / Printed in Brazil Julho 2008

J

O Ã O

B

D E

A R R O S

CARTINHA COM

OS DA

PRECEITOS

E

MANDAMENTOS

SANTA MADRE IGREJA

1 5 3 9 ou Gramática da Língua Portuguesa

Edição crítica, Leitura modernizada e Reprodução fac-similar

Gabriel Antunes de Araujo [organizador]

São Paulo, 2008

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja] Copyright © 2008 Gabriel Antunes de Araujo (Org.) Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem a autorização prévia da editora.

Editores Responsáveis Prof. Dr. Mario Miguel González (Humanitas) Adélia M. Mariano da S. Ferreira (Paulistana) Coordenação Editorial Mª. Helena G. Rodrigues – MTb n. 28.840 Adélia M. Mariano da S. Ferreira

Diagramação Gabriel Antunes de Araujo Selma Consoli – MTb n. 28.839 Revisão Adélia M. Mariano da S. Ferreira Rosane de Sá Amado Projeto de Capa Mulungu

Editora Afiliada à:

Associação Brasileira de Editoras Universitárias

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Sumário

Apresentação

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Aparato crítico

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Leitura modernizada

[77]

Reprodução fac-similar [115]

Apresentação 1 Introdução A Cartinha com os Preceitos e Mandamentos da Santa Madre Igreja de João de Barros foi publicada em Lisboa no ano de 1539. A Cartinha de João de Barros tinha uma dupla tarefa: educar e evangelizar, pois as cartilhas, além de ensinar as primeiras letras, serviam como instrumento de evangelização ao levar a doutrina católica aos povos recém-contactados pela expansão do Império. No mundo português do século XVI a expansão do império lusitano acarretou também a expansão da língua portuguesa. Por sua vez, a expansão da língua portuguesa escrita não se limitou ao ultramar e teve, como instrumentos pedagógicos, por um lado, as cartilhas para aprender a ler e, por outro, as gramáticas e ortografias, entre elas, as de Fernão de Oliveira (1536) e de João de Barros (1540), a de Gândavo (1574) e a de Nunes de Lião (1576). João de Barros (c. 1496-1570) iniciou sua carreira literária ao publicar, em 1530, um romance de cavalaria, a Crónica do Emperador Clarimundo, donde os Reys de Portugal descendem. O rei Dom João III, ao subir ao trono em 1521, concedeu-lhe o cargo de capitão da Fortaleza de São Jorge da Mina. Em 1525, foi nomeado tesoureiro da Casa da Índia, missão que desempenhou até 1528. Em 1534, Dom João III dividiu o Brasil em capitanias hereditárias. No ano seguinte, João de Barros (juntamente com Aires da Cunha e Álvares de Andrade) foi agraciado com a posse de uma capitania na costa do Maranhão. Constituiu uma armada de dez navios e novecentos homens e zarpou para o Brasil. No entanto, a armada navegou à deriva até aportar nas Antilhas espanholas, tornando a expedição ao Brasil um grande fracasso. Publicou em 1540 a Gramática da Língua Portuguesa, completando a Cartinha, publicada no ano anterior. Pouco depois, por sugestão do rei Dom Manuel I, iniciou sua obra historiográfica Décadas da Ásia (Ásia de Ioam de Barros, dos feitos que os Portuguezes fizeram na conquista e descobrimento dos mares e terras do Oriente), na qual narra os feitos portugueses na Índia. João de Barros faleceu em Pombal, em 20 de outubro de 1570. Publicada como volume único em 1539, o frontispício da Cartinha sugere que se tratava de uma parte da Grammatica da lingua portuguesa1. Não sabemos as razões que levaram o editor Luiz Rodrigues a publicar a Cartinha separadamente e o próprio Barros manifestou desagrado pelo fato de o impressor assim fazê-lo (Barros 1540, Buescu 1970: II). As evidências para essa conclusão são múltiplas e irrefutáveis. Em primeiro lugar, a página de rosto já explicitava que se tratava da Grammatica. Além disso, o sumário da Cartinha é amplo e inclui a Grãmatica da lingua portuguesa: e ortografia com que se á descreuer, 1

O termo ‘cartinha’ aparece somente na última página do volume em cujo frontispício se lê lingua portuguesa com os mandamentos da santa mádre igreja.

GRAMMATICA DA

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Hum diálogo em louuor da nóssa linguágem e Hum diálogo da viciosa vergonha como partes do volume. A obra completa, incluindo a Cartinha, a Gramatica da lingua portuguesa, o Diálogo em favor da nossa linguagem e o Diálogo da viciosa vergonha, compilada sob os auspícios dos monges do Mosteiro da Real Cartucha de Évora, veio a lume somente em 1785. Da edição Princeps de 1539, no entanto, há somente um exemplar conhecido, depositado na Biblioteca Nacional (BN) do Rio de Janeiro. A Cartinha de João de Barros é, possivelmente, o primeiro livro didático ilustrado da história. Assim, o emprego de ilustrações na Cartinha a torna precursora dos livros didáticos ilustrados que surgiriam mais de cem anos depois. Apresentar as letras do alfabeto associando-as a um desenho era, até então, um instrumento pedagógico inexplorado. A obra ilustrada Orbis sensualis pictus, de Johann Amos Comenius (1592-1679), considerada um dos primeiros livros didáticos ilustrados, apareceu somente em 1658. O didatismo do método da Cartinha de Barros parece estar baseado, como aponta Cagliari (1998), em uma experiência ampla e coesa, na qual as estruturas pedagógica, lingüística e religiosa são extremamente elaboradas (cf. Schlickmann 2001, Mattos e Silva 2003).

2 Fontes O trabalho de comparação das edições da Com os Preceitos e Mandamentos da Santa Madre Igreja considerou as seguintes edições: i) 1539. Grammatica da lingua portuguesa com os mandamentos da santa madre igreja. Lisboa, Luiz Rodrigues. Apesar do título da obra, o volume publicado em 1539 contém apenas a Cartinha Com os Preceitos e Mandamentos da Santa Madre Igreja. Em 1540, foi publicado em Lisboa, também por Luiz Rodrigues, a Grammatica da lingua portuguesa e o Dialogo em louvor de nossa linguagem. O único exemplar público da edição de 1539 encontra-se sob a guarda da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Este exemplar foi utilizado como base para a edição crítica de Maria Leonor Carvalhão Buescu em 1971. No entanto, Buescu teve acesso a uma cópia do exemplar da BN. Em 1996, a BN do Rio de Janeiro e a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses publicaram uma edição facsimilar do original depositado na BN. O documento depositado na BN serviu como base para a presente edição e será considerada a edição Princeps; ii) 1785. Grammatica da lingua portuguesa com os mandamentos da santa madre igreja. Lisboa: ?. Este volume contém a Cartinha para aprender a ler, a Grammatica da lingua portuguesa, o Dialogo em louvor de nossa linguagem e o Dialogo da viciosa vergonha. O exemplar depositado na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, contém duas folhas iniciais de um Prólogo [8]

[Apresentação]

(o exemplar está incompleto) provavelmente escrito pelos monges do Mosteiro da Cartucha do Céu de Évora. Não há, no volume consultado, o título Compilaçam das obras do insigne portuguez Joam de Barros como mencionado em Monteiro (s/d). Este exemplar será referido, doravante, como edição da Cartucha; iii) sem data. Grammatica da Lingua Portuguesa. Lisboa: ?. Esta edição contém a Cartinha, a Grammatica da lingua portuguesa, o Dialogo em louvor de nossa linguagem e o Dialogo da uiçiosa Vergonha. O volume consultado para esta edição está depositado na Biblioteca do Centro de Lingüistica da Faculdade de Letras de Universidade de Lisboa (CLUL). Entretanto, este volume, sem data, é diferente da edição da Cartucha, pois não contém o Prólogo. Além disso, faltam no volume as páginas 41 a 56. No canto inferior direito da página 40, há uma anotação a lápis, indicando as páginas perdidas, em que se lê [16 ps]. Ao final do volume, há três folhas, não-numeradas, que apresentam uma lista com erros e emendas. Este volume será referido como edição Faculdade de Letras; iv) 1957. Gramática da Língua Portuguesa, de João de Barros. 3ª Edição organizada por José Pedro Machado. Lisboa: ?; v) 1971. Gramática da língua portuguesa: cartinha, diálogo em louvor da nossa linguagem e diálogo da viciosa vergonha. Reprodução facsimilada, leitura, introdução e anotações por Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa: Faculdade de Letras. As edições facsimiladas reproduzem as edições já mencionadas. Dessa forma, este exemplar não foi considerado na comparação. Das cinco edições existentes, foram excluídas as edições de Machado (1957) e a de Buescu (1971). A primeira é tão-somente uma edição modernizada; e a segunda, acompanhada do facsímile, contém também uma lição modernizada e anotações. As seguintes edições foram utilizadas para o estabelecimento do texto da edição crítica: a edição Princeps, publicada em Lisboa em 1539, cujo exemplar único encontra-se depositado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; reprodução fac-similar da BN do Rio de Janeiro (1996); C a edição da Cartucha, publicada em Lisboa em 1785. A cópia que serviu de base está depositada na Biblioteca Nacional de Lisboa; FL o volume da Faculdade de Letras da UL (quase idêntica à edição da Cartucha). P

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

3 A estrutura da Cartinha A Cartinha com os Preceitos e Mandamentos da Santa Madre Igreja de João de Barros é, além de um livro didático ilustrado, uma peça de evangelização. Portanto, para João de Barros, a expansão da língua portuguesa e do catolicismo eram indissociáveis. No frontispício, há uma gravura de autoria desconhecida. A gravura, enquadrada em uma arcada, representa uma cena de uma escola para meninos. No alto da gravura, o monóstico de Catão Libros Lege (‘Leia livros’) está sendo instalado, por um grupo de anjos, na parte superior da entrada do edifício e, por este motivo, ainda não se encontra devidamente colocado. No primeiro plano, um mestre confere os cadernos de anotações de um grupo de alunos. Diante do mestre, um monitor reprime, com o dedo em riste, um outro aluno. Embaixo da arcada, um grupo de alunos lê seus cadernos e observa uma briga entre dois estudantes. A briga fez com que livros caíssem ao chão e se encontrem espalhados. Um pequeno cão tenta interceder e parar a briga. Atrás do cão, há um gato. Um outro pequeno grupo de alunos observa a disputa. Embaixo da entrada do edifício, em terceiro plano, há uma cena de castigo corporal. Um aluno, preso às costas de outro, é castigado por um monitor (reconhecível pelo barrete). Ao fundo, dentro do edifício, dezenas de alunos estudam em seus cadernos, alheios ao que acontece fora do prédio. Logo após o frontispício, a Cartinha traz uma Tauoa, isto é, um sumário que contém uma descrição do conteúdo da cartilha. No entanto, são também listados no sumário a Grãmatica da lingua portuguesa: e ortografia com que se á de screuer, Hum diálogo em louuor da nóssa linguágem e Hum diálogo da viciósa vergonha. João de Barros planejava uma obra que contivesse a cartilha, a gramática e os diálogos. No entanto, a cartilha veio à luz separadamente. A Cartinha é dedicada ao príncipe Dom Felipe (ou Dom Filipe II). Contudo, Dom Felipe, nascido em 25 de março de 1533, veio a falecer no dia 29 de abril de 1539, sendo sucedido, como príncipe herdeiro, por seu irmão, Dom João Manuel (1537-1554). A morte precoce de Dom Felipe (com apenas seis anos de idade) ocorreu antes da efetiva impressão das primeiras páginas da Cartinha cuja data de impressão é o dia 20 de dezembro de 1539, quase oito meses depois do passamento do príncipe. Mesmo assim, a dedicatória não foi alterada. Como solução a este problema, foi feita uma emenda no exemplar da BN do Rio de Janeiro, no qual o nome Felipe foi riscado e ao seu lado foi manuscrito o nome Ioam.

Após o prólogo, a Cartinha traz uma série de páginas ilustradas. Na Introduçam per a aprender a ler, há vinte e duas gravuras cujas primeiras letras remetem à letra correspondente do alfabeto português. Assim, a letra A é representada pelo desenho de uma árvore. A letra B, pelo desenho de uma besta, uma arma medie[10]

[Apresentação]

val. As letras I e V não estão representadas, mas a letra K está (com a gravura de um kágado). Além deste abecê, Barros menciona que há outro a.b.c, com trinta e uma letras, algumas dobradas. Neste outro abecê, Barros inclui a distinção ortográfica entre as vogais médias abertas e fechadas [e ´ / o ø], dois tipos de ‘a’ ‘á’ e ‘a’; a distinção entre ‘i’ e ‘y’; as consoantes ‘ç’, ‘r’ e ‘r’ (possivelmente a oposição entre vibrante múltipla e simples), dois tipos de ‘s’ e o ‘v’. Destas ‘letras’, oito servem de vogais. Em seguida, Barros apresenta uma mandala, na qual podem ser formadas algumas das sílabas possíveis da língua portuguesa. As consoantes ‘l’, ‘m’, ‘r’ e ‘s’ estão alocadas em triângulos e servem para formar a coda das sílabas. Entre os triângulos, há combinações de consoante e as cinco vogais cardinais. As dezesseis consoantes ‘b’, ‘ç’, ‘d’, ‘f’, ‘g’, ‘j’, ‘l’, ‘m’, ‘n’, ‘p’, ‘r’, ‘s’, ‘t’, ‘v’, ‘x’ e ‘z’ formam o onset das sílabas. Portanto, as consoantes ‘k’, como em kágado e as consoantes dobradas ‘ch’, ‘lh’ ‘nh’ e ‘qu’ não aparecem na esfera. Ao redor do globo, nota-se os níveis que comporiam os vários extratos nos quais se encontrariam as partes móveis da mandala. A figura é circundada pela frase: Meninos sabei nesta esp[h]era entrar Sabereies syllabando muybem soletrar. No original, falta, depois de ‘p’, a letra ‘h’ na palavra espera. No centro da mandala, há um globo envolto em uma faixa com desenho de seis dos doze signos do zodíaco. Mattos e Silva (2003) propõe que ‘a esfera sugere movimento e possibilidades combinatórias.’ A sugestão parece acertada, embora possa ter sido de difícil operacionalização ou até mesmo impossível no século XVI.

Posteriormente, Barros apresenta várias combinações de sílabas por ajuntamento de duas, três, quatro ou cinco letras. No exemplar da BN, algumas das combinações de sílabas são apresentadas com linhas, unindo as vogais à consoante no onset, entremeadas por uma flor-de-lis ramificada do lado esquerdo e, as vogais à consoante na coda, entremeadas pelas folhas e pelo bulbo da flor-de-lis, no

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

lado direito das vogais. Na edição da Cartucha, a flor-de-lis foi substituída por linhas e chaves, isto é, {}.

O fim da seção apresenta algumas sílabas próprias da língua portuguesa (‘ch’, ‘lh’ e ‘nh’) e um breve texto sobre o proveito que tem saber muitas sílabas. No verso do fólio A8, Barros inicia a apresentação dos preceitos e mandamentos da Igreja, divididos em vinte e sete itens, dos quais dois (os artigos de fé e o tratado da missa) têm subitens. Há orações (em latim e em linguagem, isto é, em português), listas com os mandamentos, sacramentos, obras da Misericórdia, virtudes, dons e frutos do Espírito Santo, os inimigos da alma, os sentidos humanos e os pecados capitais. A parte sobre a liturgia da missa inclui a benção da mesa, as graças, o tratado da missa, o evangelho de São João e outras orações. A lista dos itens, em ordem de aparição na Cartinha: • • • • • • • • • • • • • • • • • •

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A oração que Cristo ensinou a seus apóstolos (o Pai-nosso) Saudação do anjo a Nossa Senhora (Ave-Maria) (Ilustrado) Símbolo dos apóstolos (Credo) (Ilustrado) A divisão dos artigos da fé  os artigos que pertencem à Divindade  os artigos que pertencem à Humanidade Saudação da Igreja a Nossa Senhora (Salve-Rainha) (Ilustrado) Os dez mandamentos Os (cinco) mandamentos da Igreja Os sete sacramentos da Igreja As (quatorze) obras da Misericórdia As (sete) virtudes teologais e morais Os (sete) dons do Espírito Santo Os (doze) frutos do Espírito Santo Os (três) inimigos da alma Os (cinco) sentidos Os (sete) pecados capitais e as virtudes contra eles A benção da mesa As graças Tratado da missa  Primeira parte material  Segunda parte espiritual  Terceira parte moral O evangelho de São João (Ilustrado) O símbolo do Qvicunque uult (Ilustrado) A oração do Justo Juiz [12]

[Apresentação]

• • • • • •

A oração de Obsecro te Domina (Ilustrado) A oração à hóstia A oração ao cálice Os dias de jejuar e de guardar A oração ao anjo da guarda (custode) (Ilustrado) As quatro têmporas

4 Anotações de terceiros A edição da BN da Cartinha contém poucas intervenções de terceiros. Há, basicamente, dois tipos de intervenções: carimbos e anotações da BN e anotações manuscritas de um anônimo. Todas as anotações à tinta são do mesmo punho, exceto aquelas contendo números de tombamento da BN. Além das anotações, na primeira folha de guarda, há um selo verde e branco da BN com a notação [[coleção 3,26]]2. • Fólios rectos: no canto inferior esquerdo de todos os fólios rectos, há uma numeração crescente das páginas, escrita à mão (tinta azul), do número 1 ao número 28. • Fólio 1v: margem inferior esquerda, carimbo azul circular em que se lê [[Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro]]. Ao lado do carimbo, o número de tombo [[814.512]] seguido por uma rubrica e pela data [[16.07.92]]; • Fólio 1v: margem inferior centro-esquerda, carimbo azul circular em que se lê [[Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro]]. No centro do carimbo, há a sigla [[S.L.R]], para [[Setor de Livros Raros]]. Ao lado do carimbo, os números [[7378]] e [[1952]]; • Fólio 2r: o nome FELIPE foi riscado e, ao seu lado, foi manuscrito à tinta o nome [[Ioam]]. • Fólio 2r: na margem superior centro-esquerda, há um carimbo azul circular em que se lê [[Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro]]. No centro do carimbo, há a sigla [[S.L.R]], ou seja, [[Setor de Livros Raros]]; • Fólios 9r, 9v e 10r: as figuras dos apóstolos estão numeradas de 1 a 12. O apóstolo São Pedro é o primeiro e São Matias é o décimo segundo; • Fólio 10v: carimbo elíptico vermelho com dupla cercadura em que se lê [[Biblioteca Nacional][Rio de Janeiro]]; • Fólio 11r: no centro da margem esquerda, os artigos 6 e 7 estão manuscritos. No entanto, a emenda foi mutilada pela encadernação e está incompleta (cf. Reprodução fac-similar e Leitura semidiplomática.). 2 O trecho entre colchetes representa as anotações de terceiros; o trecho entre parênteses inclui a leitura por conjectura e o texto em itálico representa desenvolvimento de abreviaturas.

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

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[[6. (Crer) que subio aos (ceos)/e esta assenta(do á)/maõ dereyta (de deos)/Padre todo po(deroso)]] [[7. (Crer) que hade uir no (fim do)/mũdo a julg (ar os)/uyvos e os (mortos)]] Fólio 12r: na quinta linha, sobre as palavras vez na coresma, está manuscrita a expressão [[ao menos]]; na mesma linha, sobre as palavras ante/ou se, está manuscrita a frase [[saõ de obrigaçaõ]]. Fólio 12r: na margem inferior esquerda, na linha 15, ao lado da palavra Confirmaçam, está manuscrita a palavra [[crisma]]; Fólio 13r: linha 8, manuscrito [[de deos]] após a palavra temor. Fólio 17r: margem inferior esquerda, carimbo azul circular em que se lê [[Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro]]. Ao lado do carimbo, os números [[814.512]], seguido por uma rubrica e a data [[16.07.92]].

5 Ortografia Barros (1540: 40-50) propõe, em sua obra pedagógica, uma ortografia para a língua portuguesa. Na Grãmatica, Barros (1540: 42-3) enumera cinco regras ortográficas gerais: • escreuer todalas dições com tantas leteras com a quantas a pronunçiamos, sem poér consoantes oçiósas; • nenhũa diçám ou syllaba podemos escreuer acabáda em muda (...) por que todalas as nóssas dições e syllabas se terminam nestas semiuogáes, l, m, n, r, s, z, e assi se pódem terminár em todalas as uogáes. • nenhũa diçã podemos escreuer cõ letera dobráda: senã cõ estas semiuogáes, l, m, n, r,s • toda diçám que se escreuer com letera dobráda, a primeira das leteras ser´da preçedente syllaba, e a segunda da seguinte, como nesta diçám, nósso [em] que a primeira syllaba é, nós, e a segunda, so • todo nome que no singulár acába em algũa syllaba destas, am, em, im, om, um, no plurár em lugár de, m, se porá o tíl: o quál liquesçe na prolaçám do nome: como nestas dições. Pães, homẽes, ceitĩis, bõos, atũus. Após as cinco regras gerais, Barros estabelece regras particulares para cada letra, separando as leteras vogáes das leteras consoantes. As vogais, em ordem de apresentação são ‘á’, ‘a’, ‘é’, ‘e’, ‘i’, ‘y’, ‘ó’, ‘o’, ‘v’ e ‘u’); as consoantes: ‘b’, ‘c’, ‘ç’, ‘d’, ‘f’, ‘p’, ‘t’, ‘x’, ‘z’, ‘g’, ‘h’, ‘l’, ‘m’, ‘n’, ‘q’, ‘r’ (um brando e um forte) e ‘s’ (um no onset e outra na coda). No entanto, por inconstância do autor ou por inconsistência do impressor, há muita variação no uso desta ortografia, tanto na Cartinha como na Grãmática. Os seguintes exemplos foram retirados da Cartinha: inconsistência na acentuação, como em homem, hómem; no uso do cedilha antes de ‘i’ e ‘e’, como em céo, [14]

[Apresentação]

çéo; uso da consoante ociosa, como em substancia, transustanciando; no uso das vogais, como em avangélho, avãgélho, evangelho, evangélho; na grafia para a mesma palavra, como em fruito, fruto; no uso de letra dobrada ou vogal dobrada, como em honrra, honra, honraar, entre outros. (Para discussões sobre a aplicação da ortografia de Barros, confrontar Machado 1957, Buescu 1971, Monteiro s/d).

6 Normas de transcrição da edição da Cartinha As três edições empregadas para o estabelecimento do texto da edição crítica apresentam diferenças textuais consideráveis. Essas diferenças estão listadas no pé das páginas da edição crítica. As seguintes normas gerais balizaram o trabalho: • Geral: 

   

Com o objetivo de tornar acessível a colação, as leitura semidiplomática com aparato crítico e a reprodução facsimilar apresentam uma paginação correspondente aos fólios da edição Princeps, acrescidas da informação sobre o fólio recto (r) ou verso (v), assim como a numeração do aparato corresponde à numeração justalinear do texto. As divergências entre os textos são apresentadas, no aparato crítico, após a numeração da linha em que ocorrem. As abreviaturas C, P e FL, listadas imediatamente após cada divergência, indicam a fonte do texto alternante. Embora não haja numeração na edição Princeps, os fólios foram numerados de acordo com a disposição da edição Princeps, considerando-se os fólios rectos e versos; As abreviaturas da edição Princeps foram desenvolvidas e realçadas (em itálico, quando o texto usa fonte normal e vice-versa); A nota tironiana foi substituída, no texto em português, pela conjunção copulativa e e, no texto latino, por et; As intervenções feitas por terceiros, editores ou arquivistas são mencionadas em nota; O traço de translineação da edição Princeps (representado por dois traços, um hífen ou às vezes ausente) foi normalizado para hífen, na leitura semidiplomática com aparato crítico, enquanto que na leitura modernizada foi ignorado.

• Na edição crítica:   

Intervenções mínimas são justificadas em notas; Erros tipográficos foram corrigidos e mencionados em nota; Os títulos foram uniformizados e alinhados; [15]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]





 

A pontuação foi modernizada quando necessária, sem, no entanto, uso exagerado de remodelação frasal, assim como o uso de letras maiúsculas e minúsculas, seguindo as regras da ortografia atual do português brasileiro; Os trechos em latim foram normalizados. Dessa forma, eliminou-se a variação e o uso idiossincrático do sinal de nasalização nos textos em latim, entre outras idiossincrassias da impressão. O texto original em latim encontra-se no aparato; Separação de vocábulos entrelinhas com hífens simples, hífens duplos ou sem hífens foi normalizada para hífen simples. Separação de vocábulos, atualmente grafados juntos, foi mantida como no original; A leitura por conjectura, sem possibilidade de falha, foi assinalada com o uso de colchetes simples. No caso de leitura duvidosa ou de trecho danificado, empregou-se parênteses nos trechos em que uma outra interpretação era possível ou naqueles em que, embora legíveis, havia dúvidas em relação à sua interpretação.

• Na leitura modernizada: 

   

A pontuação foi modernizada quando necessária, sem, no entanto, uso exagerado de remodelação frasal. No texto da Edição Princeps, por exemplo, o uso de vírgula, dois pontos, barras inclinadas correspondem, de forma irregular, ao uso moderno da vírgula; A variação entre i/j e u/v consonânticos foi modernizada, de acordo com a ortografia atual; Nomes próprios foram modernizados; Os vocábulos grafados separados, na edição Princeps, foram grafados juntos, como na norma vigente; A leitura por conjectura, sem possibilidade de falha, foi assinalada com o uso de colchetes simples. No caso de leitura duvidosa ou de trecho danificado, empregou-se parênteses nos trechos em que uma outra interpretação era possível ou naqueles em que, embora legíveis, havia dúvidas em relação à sua interpretação.

7 Organização do livro Este livro está organizado da seguinte maneira: a seção I traz a edição crítica. Esta seção reproduz o ornamento dos fólios, com numeração justalinear e fidelidade ao original. Apresento, também, as variantes entre as edições. A edição Princeps foi publicada em Lisboa em 1539 e a edição da Cartucha foi publicada em Lisboa em 1785. A edição FL, cujo volume encontra-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, possui uma errata em relação ao exemplar da Cartucha, mas não foi possível datá-la. [16]

[Apresentação]

Na seção II, o leitor encontrará uma leitura modernizada da Cartinha. A leitura inclui as partes em latim seguidas da parte em vernáculo produzidas pelo próprio autor. Na leitura modernizada, os trechos finais foram rearranjados para condizer com a ordem apresentada no sumário. Na seção III, está a reprodução mecânica da edição de 1539. Esta reprodução facsimilar baseia-se no único exemplar conhecido da obra, depositado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e disponível gratuitamente na página da web htpp://www.bn.br.

Agradecimentos A presente edição tornou-se possível graças à ajuda de muitas pessoas, a quem agradeço. Em São Paulo, o professor Manoel Mourivaldo Santiago Almeida me iniciou no estudo da Filologia. No Rio de Janeiro, contei com o apoio dos atenciosos funcionários da Biblioteca Nacional, especialmente da senhora Leila Marzullo de Almeida. Os funcionários da Biblioteca Nacional de Portugal ajudaram-me inúmeras vezes, assim como os funcionários da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em especial o senhor José Saramago. Agradeço também aos monges da Cartucha de Évora. Em Quioto, agradeço aos funcionários da Biblioteca da Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto e aos professores Ikunori Sumida, Tadokoro Kiyokatsu e Pedro Aires. Daniela Crocco, como sempre, foi paciente durante minhas ausências. Os erros remanescentes devem ser todos atribuídos a mim e, naturalmente, nenhuma pessoa citada pode ser responsabilizada por qualquer erro deste trabalho. O International Research Institute for Peace and Languages da Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto forneceu apoio financeiro parcial a esta publicação.

Referências Buescu, Maria Leonor Carvalhão. 1971 (org.). Gramática da língua portuguesa: Cartinha, Gramática, diálogo em louvor da nossa linguagem e Diálogo da Viciosa Vergonha. Reprodução facsimilar, leitura, introdução e anotações do organizador. Lisboa: Faculdade de Letras. Barros, João de. 1540. Grammatica da lingua portuguesa. Lisboa: Luis Rodrigues. Barros, João de. 1996. Grammatica da lingua portuguesa. Reprodução facsimilar. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional. Cagliari, Luiz Carlos. 1998. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione. Gândavo, Pêro de Magalhães. 1574. Regras que ensinam a maneira de escrever e orthographia da lingua portuguesa; com hum Diálogo que a diante se segue [17]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

em defensam da mesma lingua. Lisboa: Antonio Gonsalvez. Mattos e Silva, Rosa Virgínia. 2003. A língua e a fé: origens da escolarização em língua portuguesa no império luso. Filologia e lingüística portuguesa 3: 281295. Machado, José Pedro. (org.) 1957. Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: sem editora. Monteiro, José Lemos. (sem data). As idéias gramaticais de João de Barros. (Acessado em 01 de abril de 2007). http://www.geocities.com/Paris/Cathedral/1036/barros.htm?20077 Nunes de Lião, Duarte. 1576. Orthographia da lingoa portvgvesa. Lisboa: João de Barreira. Schlickmann, Maria Sirlene. 2001. As cartilhas no processo dealfabetização. Revista Linguagem em (Dis)curso 2 (1). (Acessado em 06 de abril de 2007). http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0201/09.htm

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Edição crítica

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

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| Fólio Folio |Page 21 1r|1r 21| r21

1 2 3

G R A M M A T I C A D A lingua portuguesa com os mandamentos da santa mádre igreja.

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1

Fólio 1v |

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Tavoa. Tavoada do que se contem neste livro. Introduçam pera brévemente aprender a ler. Pater noster e Aue Maria em latim e linguágem. Credo em latim e linguágem. Divisam destes artigos da fé. Salue Regina em latim e linguágem. Os X mandamentos da ley, e os V da igreja. Os séte sacramentos da igreja. As XIV óbras da misericórdia. As virtudes theologáes e moráes. Os dões e fruitos do espirito santo. Os imigos dálma e os .V. sentidos. Os pecádos mortáes e as virtudes contra elles. A bençã da mesa e as gráças. Tratado da missa. Oraçam á hostia e oraçam ao cáliz. As orações de Obsecro te Domina, e Juste iudex. Evangélho de sam Ioam: e o quicumqve uult. Os dias de jejũár e guardár, com as IV temporas. Grãmatica da lingua portuguesa: e ortografia com que se á descrever. Hum diálogo em louvor da nóssa linguágem. Hum diálogo da viciósa vergonha.

8 10 13 14 18 19 20

Os .x. mandamentos da ley/e os .V. da igreja P As .xiiij. óbras P; As XIIII. óbras C imigos d’alma: e os V. sentidos C mortaes C As orações Obsecro te: e Juste iudex P; judex C quicũqve vult P; quicumque vult C com as .iiij. temporas P; as quatro C

[22]

[Edição crítica]

1

AO

2

E EXCELENTE PRINCIPE DOM FELIPE

3 4 5 6

nósso senhor, Ioam de Bárros, em a introduçam da grammatica da lingua portuguesa.

7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

MVITO

ALTO 1

| |Fólio 23 Folio Fólio 4r 3r | Fólio 2r 3r

Lemos, muy exçelẽte Príncipe, na vida de Esopo, fabulador morál, que, perguntado per hum [h]ortelã, a causa por que a terra mais facilmẽte criáva as hervas que nã reçebiã beneficio da agricultura, que aquellas cuja semente lhe era entregue com tantos benefícios e mimmos pera à criar, respondeo que a terra era madre das hervas que per si dava e madrásta das que nós queriamos que desse, porque assi punha sua virtude e força na criaçam das proprias, como as mádres em à de seus filhos, e tanta remissam nas sementes alheas, como as madrástas na criaçam de seus enteádos. E a esta razam filosofal, ajudam os medicos com outra da criaçam dos mininos, dizendo que mayór beneficio e mais nutrimento reçebem do leite de suas próprias mádres que das amas, posto que mais grósso e de milhór compleissam seja. Próvanse estes segredos e força da natureza ẽ os mesmos mininos, os quáes quando coA ji

3 7 10

Senhor C excelente principe C q~ nã recebiã C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 2v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

meçam formar nóssas palavras, em menos de dous annos sabem toda a linguagem que mammaram no leite. E as aprendidas depois de crecidos assi lhe ficam em logar de madrástas, que sempre, na pronunciaçam, trávam da mádre. Os preceitos da qual assi lhe sam doces e naturaes, que com deleitaçam òs aprẽdem, com amor òs recebem, e com viva memoria em toda a vida òs retem. Qual será, lógo, a linguágem que nesta tenra e dilicáda idade de vóssa alteza mais natural e obediente vos deve ser, senam a vóssa portuguesa, de que vos deos fez principe e rey em esperança? Aquella que em Európa é estimada, em África e Ásia por amor, armas e leys tam amáda e espantósa, que per justo titolo lhe pertençe a monarchia do már e os tributos dos infiees da terra. Aquella que, como hũ novo apóstolo, na força das mesquitas e pagódes de todalas seitas e idolátrias do mundo, desprega pregãdo e vençẽdo as reáes quinas de Christo, com que muitos pouos da gentilidade sam metidos em o curral do senhor. Da qual óbra óra temos hum divino exemplo, na conversam de cinquoenta e sete mil almas na terra do Malabá, onde Sam Thomé com tanto trabálho e martirio passou desta vida à celestial gloria. Com zelo de aprender a qual lĩgua, quatro dos principaes deste pouo veeram este anno, por, mais sem peio dos empedimentos da patria, cá nestes reinos a podessem milhor praticar e, per ella, aprender os preceitos da ley em que esperam acabar. Aos quáes elrey vósso padre, como zelador da fé, mãdou recolher na casa de Santo Eloy desta cidade, pera ahi aprenderem com os outros Etiopas de

1 5 6 10 12 15 19 20 21

nossas C deleitaçam os aprẽdem C amor os recebem C em Africa & Assia P; em Africa e Assia C pertence C uencẽdo C tanto trabalho C vida á celestial C lingua C

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[Edição crítica]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

Congo, de que ja temos bispos e theólogos, cousa çerto muy nóva pera a igreja de deos, inda que profetizáda no salmo setẽta e hum. Pois gente em que tanto obrou a lingua portuguesa, e que o amor della òs tráz tantas mil légoas, que linguágem per árte pódem mais facilmente aprender senam aquella que nelles obrou salvaçam? Porque, elles, com amor do tal beneficio, e os mininos destes reinos, por lhe ser mádre e nam madrásta, mádre e nam ama, vóssa e nam alhea, com tanto amor receberám os preceitos della, que, quãdo forem aos da grãmática latina e grega, nã lhe serám trabalhósos os que cada hũa destas tem, por a conformidáde que antrellas [h]á, como se póde ver nestes preceitos da grammatica de vóssa lingua portuguesa que ofereço a vóssa alteza, a quem sam devidas as primicias de todolos nóvos e proveitósos fruitos. E ante que se tráte da grammática, poerey os primeiros elementos das leteras, em módo de árte memorativa, por mais facilmẽte aprenderẽ a ler; e de si os preceitos da ley e os mãdamẽtos da igreja, cõ hum tratádo de ouvir a missa. E no fim da grammática vam dous diálogos, hum em louvor da lingua portuguesa e outro da sobeja vergonha, materia conveniente á idade em cujo proveito esta vóssa óbra se cõpos.

| Fólio | |Fólio 25 Folio Fólio 3r3r 4r 3r

A iij 1 2 4 6 7 10 12 17 24

certo C inda q~ profetizáda C q~ o amor della os tráz C; q~ C Por quelles PC ná P nã lhe serãm C grammatica de uossa C os mãndamentos da igreja cõ hum C uossa C

[25]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

I N T R O D U Ç A M A P R E N D E R A

1

P E R L E R

A

.

Fólio 3v |

Arvore/

Bésta/

Cesto/

Dado/

Espelho/

Fogareiro/

Gáto/

Hómẽ/

Járro/

Kágado/

Livro/

Moucho/

5

[26]

[Edição crítica]

1

Náo/

Olho/

Pẽtem/

Quadrãte/

| Fólio | 27 Folio 4r 4r

Raposa/

5

Serea/

Tisoira/

Xarroco2/

Zodiaco/

Vióla/

Outro a.b.c que temos em que [h]á algũas leteras dobràdas. A iiij

[27]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1

Fólio 4v |

A á a b ç c d é e f g h j i y k l m n ó o p q r 3 r s4 s t v u x z Destas trinta e hũa leteras oito sérvem de vogáes. sendo.

5

á a é e i

ó o u

Módo de compoer as syllabas com duas com tres e com quátro leteras.

[28]

[Edição crítica]

Syllabas per ajuntamento de duas leteras.

1

⎧a ⎪e ⎪⎪ B ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

5

Fa fe fi fo fu. ⎧a ⎪e ⎪⎪ L ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

10

15

20

Pa pe pi po pu Ra re ri ro ru Va ve vi vo vu a⎫ e ⎪⎪ ⎪ i ⎬l o⎪ ⎪ u ⎪⎭

Ca çe ci ço çu

⎧a ⎪e ⎪⎪ D ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Ga gue gui go guu ⎧a ⎪e ⎪⎪ M ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Sa se si so su Xa xe xi xo xu

Am em im om um An en in on un Ar er ir or ur As es is os us

| Fólio | 29 Folio 5r 4r

Ja je ji jo ju. ⎧a ⎪e ⎪⎪ N ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Qua que qui quo quu Ta te ti to tu Za ze zi zo zu a⎫ e ⎪⎪ ⎪ i ⎬z o⎪ ⎪ u ⎪⎭

Syllabas per aiuntamento de tres leteras.

25

Bal bel bil bol bul. Cal çel çil çol çul. Cal col cul.

[29]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1

Fólio 5v | 5

10

Dal del dil dol dul. Fal fel fil fol ful. Gal guel guil gol gul. Lal lel lil lol lul. Mal mel mil mol mul. Nal nel nil nol nul. Pal pel pil pol pul. Qual quel quil quol quul. Ral rel ril rol rul. Sal sel sil sol sul. Tal tel til tol tul. Val vel vil vol vul. Xal xel xil xol xul. Zal zel zil zol zul. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ B ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ C ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Cam com cum. Dam dem dim dom dum. 15

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ F ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

Lam lem lim lom lum.

20

25

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Gu ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ M ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ N ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Pam pẽ pim pom pũ. Quã quem quim quom quum.

[30]

[Edição crítica]

1

5

10

15

20

25

Ram rem rim rom rum. Sam sem sim som sum. Tam tem tim tom tum. Vam vem vim vom vum. Xam xem xim xom xum. Zam zem zim zom zum. Bar ber bir bor bur. Car çer çir çor çur. Car cor cur. ⎧a ⎫ ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ G ⎨i ⎬ m D ⎨i ⎬ m ⎪o ⎪ ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪ ⎩⎪u ⎭⎪ Jar jer jir jor jur Lar ler lir lor lur. Mar mer mir mor mur. Nar ner nir nor nur. Par per pir por pur. Quar quer quir quor quur. Rar rer rir ror rur. Sar ser sir sor sur. Tar ter tir tor tur. Var ver vir vor vur. Xar xer xir xor xur. Zar zer zir zor zur. ⎧a ⎫ ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ cas cos cus C ⎨i ⎬ a B ⎨i ⎬ a ⎪o ⎪ ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭ ⎪⎩u ⎪⎭ Das des dis dos dus. Fas fes fis fos fus. Guas gues guis guos gus. Jas jes jis jos jus. Las les lis los lus. Mas mes mis mos mus. Nas nes nis nos nus. Pas pes pis pos pus.

[31]

| Fólio | 31 6r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1

Quas ques quis quos quus. Ras res ris ros rus Sas ses sis sos sus. Tas tes tis tos tus. Vas ves vis vos vus. Xas xes xis xos xus. Zas zes zis zos zus.

5

Outra maneira de syllabas de tres leteras, a meya das quáes é liquida.

Fólio 6v |

Bla ble bli blo blu. Cla cle cli clo clu. Fla fle fli flo flu. Gla gle gli glo glu. Pla ple pli plo plu. Vla vle vli vlo vlu. 10

⎧a ⎪e ⎪⎪ Br ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

15

20

⎧a ⎪e ⎪⎪ Cr ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Fra fre fri fro fru. Gra gre gri gro gru. ⎧a ⎪e ⎪⎪ Pr ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Tra tre tri tro tru.

Syllabas per ajuntamento de quàtro leteras.

25

⎧a ⎪e ⎪⎪ Dr ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Blam blem blim blom blum. Clam clem clim clom clum. Flam flem flim flom flum. Glam glem glim glom glum. Plam plem plim plom plum.

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⎧a ⎪e ⎪⎪ Tr ⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

[Edição crítica]

1

5

10

15

20

25

Bral Cral Dral Fral Gral brel crel drel frel grel bril cril dril fril gril brol crol drol frol grol brul crul drul frul grul Pral prel pril prol prul. Tral trel tril trol trul. Vral vrel vril vrol vrul. Bram brem brim brom brum. Cram crem crim crom crum. Dram drem drim drom drum. Fram frem frim from frum. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Gr ⎨i ⎬ M ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

| Fólio | 33 7r

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Pr ⎨i ⎬ M ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

Tram trem trim trom trum. Vram vrem vrim vrom vrum. Brar Crar Frar Grar Prar brer crer frer grer prer brir crir frir grir prir bror cror fror gror pror brur crur frur grur prur Trar trer trir tror trur. Vrar vrer vrir vror vrur. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Br ⎨i ⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

[33]

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Cr ⎨i ⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Outra maneira de Syllabas ditongádas.

1

Fólio 7v |

Dras dres dris dros drus. Fras fres fris fros frus.

5

10

15

20

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Gr ⎨i ⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Pr ⎨i ⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Tr ⎨i ⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ Vr ⎨i ⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

Bai bei boi bui. Cai çei çoi çui. Dai dei doi dui. Fai fei foi fui. Gai guei goi gui. Jai jei joi jui. Lai lei loi lui. Mai mei moi mui. Nai nei noi nui. Pai pei poi pui. Rai rei roi rui. Tai tei toi tui. Vai vei voi vui. Xai xei xoi xui. zai zei zoi zui. ⎧a ⎫ ⎪ ⎪ B ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Gau gueu gou 25

⎧a ⎫ ⎪ ⎪ C ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Jau jeu jou

⎧a ⎫ ⎪ ⎪ D ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Lau leu lou

Mau meu mou

⎧a ⎫ ⎪ ⎪ F ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Nau neu nou

Pau peu pou

Rau reu rou. Sau seu sou. Tau teu tou. Vau veu vou. Xau xeu xou. Zau zeu zou.

[34]

[Edição crítica]

Outra maneira de syllabas próprias da lingua portuguesa.

1 2 3 4

Cha Nha

chi nhi

cho nho

chu. nhu.

Lha

lhe

lhi

Dado que em nóssa linguágem nam sirvam algũas destas syllabas e assi as terminádas em cõsoante como as ditongádas falando e escrevendo aconteçam poucas vezes, nã me pareçeo sem fruito poer exemplo déllas, ca to das sérvẽ assi no latim como en outras linguágẽes. E o trabalho que se nestas levar será [de] gram proveito pera os mininos, ca lhe faz a lingua tã solta e costumada a esta generalidáde de syllabas que se nam empeça em a pronunciaçã das dições; e mais tiralhe o çeçear que é tam natural a todos, porque syllabãdo e ditongando perigrinas dições, faz perder muita parte da pevide em quanto a lingua é tenra. E estes pequenos principios nam pareçam ociósos e sem fruito, porque, como diz Quintiliano: nam é pouco sem o qual o muito nam póde ser. 1 9 12 13 15 16 17 18 21

lho

lhu. | Fólio | 35 8r

O proveito que tem saber muitas syllabas.

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

che nhe

proprias da lingua portugeza C ditongadas C dellas C seruẽ C; linguagẽes C meninos C generalidade C e mais tiralhe C cecear que é taõ C naõ pareçam ociosos C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 8v | 4

Preceitos e mandamentos da igreja, com algũas doutrinas cathólicas em que os mininos devem ser doutrinados. A Oraçam que Christo ensinou a seus apostolos.

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Pater noster qui es in cœlis sanctificetur nomen tuum. Adueniat regnum tuum. Fiat voluntas tua, sicut in cœlo et in tærra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie. Et dimitte nobis debita nostra. Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo. Amen. Padre nósso que estás nos céos, santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu reino. Seja feita a tua vontade, assi no çéo como na terra. O pam nósso de cada dia, nos dá [h]oje. E perdoanos nóssas dividas, assi como nós perdoamos aos nossos devedores. E nam nos tragas em tentaçam, mas livra nos de mal. Amen. Saudaçam do anjo a nossa senhora.

23 24

2 7 9 10 12 15 16 17 18 19

q~ os C cœlis C; celis P cœlo et C; celo P terra P dimmitte P; dimmittimus P Céos C seia P; seja C Ceo C nosso C nossas diuidas, assi como nos C

[36]

[Edição crítica]

1 2 3 4 5 6 7

Ave Maria gratia plena, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictus fructus ventris tui, Iesus. Sancta Maria, mater dei, ora pro nobis peccatoribus. Amen.

8 9 10 11 12 13 14

Deos te salve, Maria, chea de graça. O senhor é cõtigo. Benta tu entre as molheres e bẽto o fruto do teu ventre, Iesu. Santa Maria, mádre de deos, róga por nós, pecadores. Amen.

| Fólio | 37 8r

Simbolo dos apostolos.

15

S. PEDRO Credo in deum patrem omnipotentem, creatorem cœli et tærre.

S. ANDRE Et in Iesum Christum filium eius vnicum, dominum nostrum. B 2 8 9 11 13 18 21

tecũ P; tecum C sálue C sñor PC bento C; mádre de Deos roga por nos C cæli et tærræ C; celi et terre P nostrũ C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

S. IOANE Fólio 9v |

Qui conceptus est de Spitiru Sancto natus ex Maria virgine.

S. IACOME Passus sub Pontio Pilato: cruxifixus, mortuus et sepultus.

S. THOMAS Descendit ad inferos, tertia die resurrexit a mortuis.

S IACOME menor Ascendit ad cœlos: sedet ad dexteram dei patris omnipotentis.

Inde venturus est iudicare vivos et mortuos.

2 5 8 11 14

santo P; sancto C põtio pilato C; põcio pilato P; cruxifixus C, crucifixus Descẽdit P; Descendit C; ressurrexit P cælos C; celos P; sed et P judicare C

[38]

[Edição crítica]

S. BARTOLOMEV Credo in Spiritum Sanctum.

S. MATHEVS Sanctam ecclesiam catholicam.

S. SIMAM Sanctorum communionem, remissionem peccatorum.

S. IVDAS Thadeu Carnis resurrectionem.

S. MATHIAS Vitam æternam. Amen.

1 3 6 7 8 10

S. Bartholomeu C S. Matheus cõmunionem P S. Judas Thadeu ressurrectionem P eternam P

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| Fólio | 39 10r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 10v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Creo em deos pádre, todo poderoso, criador do çeo e da terra. E em Iesu Christo, seu filho, hum só nósso senhor. O qual foy conçebido do espirito santo; naçeo de Maria virgem. Padeçeo sopoder de Põcio Pilatos, foi crucificádo, morto e sepultádo. E deçendeo aos inférnos; ao terçeiro dia resurgio dos mórtos. Subio aos çéos e está assentádo á déstra de deos pádre todo poderoso. E dahi [h]á de vir julgar os vivos e mórtos. Creo em o espirito santo e a santa igreja católica. [N]o ajuntamento dos santos e remissam dos pecádos. [N]a ressurreiçam da cárne. [N]a vida etérna. Amen. Devisam destes artigos.

14 15 16 17 18 19

Estes quatorze artigos do simbolo apostolico sam divididos em XIV, sendo séte que pertençem á divindade: e séte5 que pertençem á humanidáde. Os que pertençem a divindàde.

20 21 22 23 24 25

I. II. III. IV. V.

2 3 5 6 7 8 10 15 16

Crer em hum só deos todo poderoso. Crer em deos pádre. Crer em deos filho. Crer em deos espirito santo. Crer que é criador. Christo C Senhor C Padeceo C sepultado. E decendeo C terceiro C asentádo P; céos, e está assentado C mortos C doze6 artigos P; .xiiij. s. P; quatorze s. C pertencem á diuindade C

[40]

[Edição crítica]

1 2

VI. Crer VII. Crer

que é salvador. que é glorificador.

Os que pertençem á humanidáde.

3

| Fólio | 41 11r 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

I.

Crer que o filho de deos foi cõçebido do espirito santo. II. Crer que naçeo de Maria, virgem ante do párto e em o párto e depois do párto. III. Crer que reçebeo mórte e paixám por saluár os pecadores. IV. Crer que deçendeo aos inférnos e tirou os santos pádres que la jaziam, os quáes esperávam sua vinda. V. Crer que resurgio ao terçeiro dia em corpo glorioso.7 VI. Crer que subio aos Ceos e esta assentado á maõ direita de Deos padre todo poderoso. VII. Crer que ha de vir no fim do mundo a julgar os vivos e os mortos. Saudaçam da igreja a nóssa senhora.

18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28

Salue regina, mater misericordiæ, vita dulcedo et spes nostra, salue. Ad te clamamus, exules filii Euæ. Ad te suspiramus gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eya ergo aduocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos conuerte. Et Iesum benedictum fructum ventris tui nobis post hoc exilium ostende. O clemens, o pia, o dulcis virgo semper, Maria. B iij 3 4 6 8 11 13 18 19 20 22

humanidade C cõcebido C parto, e em C paixam por saluár os peccadores. C padres C; esperauam C terceiro C Saudaçam da igreja á nossa senhora C misericordia P vité P filij P; Eué PC

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 11v | 4 5 6 7 8 9

Deos te sálve, rainha mádre de misericordia, doçura da vida e esperança nóssa, deos te sálve. A ti bradamos, desterrádos filhos de Eva. A ti suspiramos gemendo e chorando em este válle de lágrimas. Eya, pois, avogáda nóssa, volve a nós aquelles teus misericordiósos ólhos. E depois deste desterro nos móstra a Iesu, bento fructo do teu ventre. Ó clemente, ó piedósa, ó doçe virgem sempre, Maria. Os dez mandamentos da ley.

10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X.

Estes déz mandamentos se ençérram em dous.

21 22 23 24

Amár a deos sobre todalas cousas. Nam jurár o seu nome em vám. Guardár domingos e féstas. Honrár pádre e mádre. Nam matár. Nam fornicár. Nam furtár. Nam levantár fálso testemunho. Nam desejár a molhér do proximo. Nam cobiçár cousa alhea.

Em amár a deos sobre todalas cousas, E amár o próximo como a si mesmo. 3 6 9 11 12 13 14 19 20

brádamos P; bradamos desterrados C auogáda P; valle C piadósa P; piedósa, O doce C Amar C vam C Guardar C Honrrár P; Honrrar C Nam deseiár P; Naõ deseiar C Naõ cobiçár C

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[Edição crítica]

Cinquo sam os mandamentos da igreja.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

I. Ouvir missa inteira aos domingos e féstas de guárda. II. Confessár hũa vez na corésma, ou ante ou se espéra entrár em algum perigo de mórte. III. Tomár comunham per obrigaçám em dia de Páscoa ou ante ou depois, segundo o costume do bispádo. IV. Jejũár quando manda a igreja. V. Pagár dizemo e primicias.

Os séte sacramentos da igreja sam.

12 13 14 15 16 17 18 19 20

| Fólio | 43 12r

Bautismo. Confirmaçam. Confisám. Comunhám. Estrema unçám. Ordẽ saçerdotál. Ordẽ matrimoniál.

I. II . III. IV. V. VI. VII.

⎫ ⎪ ⎪ ⎬ ⎪ ⎪ ⎭

⎫ ⎬ ⎭

Estes sam de neçesidáde. Estes sam de von= táde.

As óbras de misericórdia sam quatorze.

21 22

B iiij 4 5 6 7 8 11 12 16 19 20

guarda C Confessar C entrar em algum perigo de morte C Tomar C pascoa C; bispado C Pagar C sete sacramentos da igreja C necessidade C saçerdotal C Ordem C

[43]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 12v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Visitár os infermos. I. Dár de comer ao que [h]á fame. II. Dár de beber ao que [h]á sede. III. Remir os cativos. IV. Vestir o nuu. V. Dár pousáda ao peregrino. VI. Enterrár os finádos. VII. Ensinár os simples e sẽ doutrina. VIII. Dár bõ conselho a quẽ o [h]á mistér. IX. Castigár a quẽ [h]á mistér castigo. X. Consolár o triste e desconsoládo. XI. Perdoár a quẽ tem errádo. XII. Sofrer as injurias cõ paciẽcia. XIII. Rogár a deos por os vivos XIV. que os livre de pecádo mortal. E por os mórtos que os livre das penas do purgatório e os léve á sua glória.

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Estas sã corporaes

Estas sã espirituáes.

As séte virtudes theologáes e moráes.

18 19 20 21 22 23 24 25 26

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Fé. Esperança. Charidáde. Prudencia. Fortaleza. Temperança. Iustiça. 1 9 12 13 15 17 18 22

I. II. III. IV. V. VI. VII.

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Estas sam theologáes.

Estas sam cardeáes.

Visitar os C bõo C quem C Soffrer C; sam espirituaes C q~ os livre do peccado C purgatorio e os léve á sua gloria C sete virtudes theologaes é moráes C Charidade C

[44]

[Edição crítica]

Os dões do espirito santo sam séte.

1 2 3 4 5 6 7 8

Sapiencia. Intendimento. Conselho. Ciencia. Fortaleza. Piedáde. Temor de Deos

I. II. III. IV. V. VI. VII.

| Fólio | 45 13r

Os frutos do espirito santo sam XII.

9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. XI. XII.

22 23 24

Os imigos dalma que nos empédem. obrár virtude. 1 7 8 9 10 15 16 17 18 20 21 23 24

Charidáde com Deos e com o proximo. Prazer em o serviço de deos. Paz com o proximo. Paciencia nas cousas advérsas. Continuaçam em os divinos serviços. Bondáde na própria vida. Beninidáde acerca do proximo. Modéstia no habito, gésto e nas óbras. Mansidam em as tribulações. Humildáde nas óbras. Verdáde nas palávras. Castidáde em os pensamentos.

Sam

⎧ O mundo. ⎨ A cárne. ⎩ O diábo.

doẽs do espirito santo sam sete C Piadáde C Temor P; Temor de deos C saõ C com deos, e com o proximo C Bondade C Beninidade C Modestia no habito, gésto, e nas C tribulaçoẽs C Verdade C Castidade C q~ C; carne C diabo C

[45]

I. II. III.

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 13v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Ver Ouvir. Cheirár. Gostár. Apalpár.

Sam

Os .VII. pecados mortáes. I. Soberba. II. Avareza. III. Luxuria. IV. Ira. V. Gula. VI. Envéja. VII. Preguiça.

As virtudes cõtrélles Humildáde. Largueza. Castidáde. Paciencia. Temperança. Charidáde. Diligencia.

I. II. III. IV. V.

A bençam da mesa.

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⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎩⎪

Os çinquo sẽtidos que nos Deos deu pera nós= sa salvacã e seu serviço.

Benedicite. Dominus. Oculi omnium in te sperant domine: et tu das illis escam illorum in tempore oportuno. Aperis tu manum tuam: et imples omne animal benedictione. Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio et nunc et semper: et in secula seculorum. Amen. Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison. Pater noster. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo. Oremus. Benedic nos domine et donaque de tua largitate sumus sumpturi. Per Christum dominum nostrum. Amen. 2 3 6 16 19 21 24 25

cinquo sẽtidos q~ C nossa saluaçã C; Cheirar C Os sete pecados mortáes. As virtudes cõtrelles C; vtudes P sperãt PC spiritu sancto P seculorũ P; seculorum C donaqué C sums P

[46]

[Edição crítica]

1 2

Iube domne benedicere, Mense celestis participes faciat nos rex eterne glorie. Amen.

3 4 5

Deus charitas est: et qui manet in charitate in deo manet et deus in eo: et nos maneamus semper cum eo. As graças.

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

Omnis spiritus laudet dominum. Tu, autem, domine, miserere nostri. Deo gratias. Agimus tibi gratias, omnipotens eterne deus, pro universis beneficiis tuis, qui viuis et regnas deus in secula seculorum. Amen. Laudate dominum omnes gentes, laudate eum, omnes populi. Quoniam confirmata est super nos misericordia eius, et veritas domini manet in eternum. Gloria. Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison. Pater noster. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo. Dispersit dedit pauperibus. Iustitia eius manet in seculum seculi. Benedicam dominum in omni tempore. Semper laus eius in ore meo. In domino laudabitur anima8 mea. Audiant mansueti et letentur. Magnificate dominum mecum. Et exaltemus nomem eius in id ipsum. Sit nomem domini benedictum. Ex hoc nunc et vsque in seculum. Oremus. Retribuere dignare domine Iesu Christe omnibus nobis bona facientibus propter nomem sanctum tuum vitam eternam. Amen. Benedicamus domino. Deo gratias. Deus det nobis pacem: defunctis requiem et nobis, post hanc vitam, vitam eternam. Amen. Tratado da missa

28

1 2 7 9 12 13 14 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Jube C; Mensé cælestis C Eterné glorié C dominũ C éterné C; beneficijs P; beneficiis C eũ PC; Quoniam cõfirmata P; confirmata C ejus C éternum C tẽtationem P; tentationem C Justicia PC Benedicã dñm P; Benedicam dñm in omni tẽmpore C; Sẽper P; ejus C In dño PC; aĩa mea. Audiãt mãsueti P, aiã mea. Audiãt mãsueti et létentur C dñm mecũ PC nomẽ eius in id ipisum P; ejus C; dñi PC; bendictũ P; benedictum C vsq in seculũ P; usque C dñe PC; Iesu xpe P; Jesu xptẽ C nomẽ sanctũ tuũ P; tuum C; eternã P; éternam C

[47]

| Fólio | 47 14r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 14v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

Todo o mistério da nóssa salvaçã se ençérra em o sacramento da Eucharistia, o qual, por a existẽcia do corpo e sangue de Christo, é a mais exçelẽte de todalas ofértas e sacreficios que se pódem ofereçer a deos, por reverẽcia do qual é çelebrádo o oficio da missa cõ grande solenidáde. E segundo a ethimologia que lhe dérã, missa é hũ mãdado ou embaixada, a quál Christo começou a cõprir entrando neste mundo; e se acabará quãdo a igreja, sua esposa, for trespassada da mundana Babilónia á çelestiál Jerusalem. Este oficio da missa çelebrou Christo, nósso verdadeiro saçerdóte (segundo a órdẽ de Melchisedech) em o dia da çea, transustanciando o pam e vinho em seu verdadeiro corpo e sangue; e mandou a seus apóstolos que çelebrássem este santo sacramento em memória de sua paixam. E está ordenado com tam divina órdẽ, que todalas cousas que per Christo e em Christo sam feitas, a mayór parte se contem nesta missa, e per hũa maravilhósa semelhança as representa assi em palávras como em sináes. Tambem é representáda nella a peleia e vitória do saçerdóte contra o demónio, em defensám nóssa. Pera a qual guérra se árma com estas vesteduras sagrádas: loriga de justiça, cinto de continencia, escudo de fé, capaçete de saude, cutéllo de espirito. E assi se árma com orações e çerimonias divinas que diz e faz do principio té o fim della. E o primeiro que a celebrou foi sam Pedro, pastor da igreja, e 4 5 6 7 8 10 12 15 17 18 21 26 27 29

excelẽte C q~ P; que C; reuerencia C celebrado C q~ lhe C qual C trespassada da mundana Babilonia a célestiál C celebrou C q~ C ordenádo C q~ todalas cousas q~ per C palauras C cutelo C cerimonias C; fáz C q~ C; igreja C

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[Edição crítica]

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antre os apóstolos, Jacóbo Alfeu, e foilhe dádo per elles esta honra, por razam da excelençia de sua santidade. Consiste esta missa em quátro cousas, em pessoas, em óbras, em palávras e em cousas. Nas pessoas9 á hi tres órdẽes: os que çelébram,os que ministram e os circunstantes. Nas óbras, tres especias: gestos, autos e movimentos. Nas palávras, tres diversidádes: orações, modulações e lições. E nas óbras tres fórtes: ornamentos, instrumentos e elementos. E leixádas muitas divisões que os cathólicos fázem do oficio da missa: nós ó repartimos em tres partes pera os mininos, cuja esta óbra é por que tenham doutrina cõfórme a sua idade. A primeira párte será material: em que se cõtem as cousas materiáes della, com declaraçam do que sinificam. A segunda ispiritual, em que se trátã orações, modulações, autos e çerimonias ispirituáes, dando dellas algũus significádos e assi que pontifices ás ordenáram. A terçeira será moral, em que veremos o que deve fazer todo fiel Christã em quanto a ella estiuér. Primeira párte material.

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Peró que este divino sacrificio en nenhũa párte seja mais açeito a deos que em os templos, por serẽ pera isso dedicados a elle, nam trataremos das suas pártes e do que sinificam: sómente dos sinos que nos chamam a orar 2 4 5 6 10 13 14 15 16 18 19 22 23 25 26

honrra PC; excellẽcia de sua santidáde C palauras PC; Nas paláuras áhi P ordeẽs C; q~ ministram C circumstantes C q~ os C porque tenham doutrina confórme C em q~ se C q~ sinificam C ispirituál em q~ se tratã oraçoẽs, modulaçoẽs, autos e cerimonias C alguũs C q~ pontifices as C parte C q~ C; nenhũa C q~ em P do q~ sinificam somente C

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| Fólio | 49 15r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 15v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

a deos, per os quaes podemos entẽder as trombetas do vélho testamento e a pregaçám do novo que chama os povos á fe. O vaso do sino sinifica a boca do pregador e, em ser de metal, denóta a fortaleza de seu intendimento. E o badálo, que o faz soár dãdo em hũa e outra parte, é a lingua do prégador que tóca em ambos testamentos: novo e vélho. A imágẽ da cruz deve estár sempre na igreja, por que ella representa Christo crucificádo, nóssa redẽçám, a qual imágem sempre devemos ter em nóssas almas. As prosições representam como Christo veo ao mũdo do seo do pádre e do presépe ao templo e de Betania a Jerusalẽ e de Jerusalẽ ao monte olivete, pera nos tornar deste mundo á pátria çelestiál. Aguoa benta que se aspérge sobre o povo é pera que fugam os espiritos immũdos assi de nóssas almas como dos lugáres sagrádos pera podermos louvár e glorificár a deos, a qual ordenou Alexãdre, pápa. O saçerdóte é medico espiritual que, com os séte sacramẽtos da igreja compõem mezinhas pera nos purgár e alimpár de todolos pecádos. O qual, pera çelebrar esta missa, primeiramẽte se déspe, sinificãdo pedir que se renóve nelle o novo hómem (como diz sam Paulo). E, desi, láva as mãos á denotar que a sua conciencia per contriçam é laváda e limpa de todo pecádo. O amito, que é a primeira péça que põem sobre a 1 2 3 6 7 9 10 16 17 20 21 22 24 25 26 29

os quáes C apregaçám do P; pregaçam C do nouo q~ C a fé C badalo q~ C; huã C q~ tóca C imagẽ da C; por q~ C nossa redẽnçam C; nossas almas C patria celestiál C q~ PC; se espérge C; q~ PC; fugã C quál C sacerdote C; q~ C igreja C celebrár C; sinificando q~ C lauaas mãos á denotar q~ C q~ é C; q~ põem C [50]

[Edição crítica]

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cabeça, sinifica o pano cõ que os judeus cobriram o vulto de Christo dizendo: profetiza quẽ te deu. A alva sinifica a vestedura que Heródes vestio a Christo, a qual éra mayor que o seu corpo pera que lhe empedisse o andar e fosse causa de cair muitas vezes. E por isso deve ser mayór que o saçerdote. O manípulo sinifica o baráço cõ que foy preso. A estóla, as cordas com que o atáram á coluna, onde foi açoutado. O cordam cõ que se o saçerdóte cinge sinifica as vergas com que lhe dérã os açoutes. A casula é a vestidura de purpura que lhe Pilátos vestio. E, assi revestido, chega o saçerdote ao altar, representando como veo á cruz. O altár sinifica esta cruz em que padeçeo. O calez, o sepulcro em que foi posto. A patena, a pédra que foi pósta á entráda do moimento. Os corporáes, o sudairo do rostro. A pálea sinifica o lençol em que o envolveram quando o sepultáram. Segunda párte espiritual. Armádo o saçerdóte nestas espirituáes ármas e posto ante o altár, começa o introito da missa, o qual sinifica as vózes que os sãtos pádres dávã em o limbo, cõ desejo da encarnaçã do filho de deos. A este introito se ajũ1 2 4 6 7 8 9 10 12 13 15 16 17 20 23 24 25 26

q~ C q~ te C q~ C; q~ o PC mayor q~ o sacerdote C manipulo C; q~ C q~ C açoutádo C q~ C A casula, a vestudidura C; Pilatos C sacerdote C altar sinifica esta cruz em q~ padeceo C q~ C qué P q~ C o Saçerdóte C coméça C; vozes que os santos pádres dauã C com deseio C

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| Fólio | 51 16r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 16v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

ta gloria patri porque ainda que ao filho sómente pertençe a encárnaçam, toda a trindáde obrou este mistério. E, a rogo de sam Jeronimo, Damáso, papa, instituio que apos os salmos se repetisse este gloria patri, o qual se cõpos ẽ o cõcilio Niçeno. O salmo Judica me deus que se diz ante da confisam, Celestino instituio que se dissése aquelle tempo e Damáso a confisam. Os quirios, Siluéstre, papa, ó[s] tomou do Grego e sam Gregório instituito que se cantássem a missa tres vezes, em louvor da trindáde, e sã tres vezes tres, em memória das nóve órdẽes dos anjos. E per este Kyrie eleison, que quer dizer senhor deos amerçeate de nós é senificáda a sua vinda em nóssas almas. E o mesmo sam Gregório ordenou a antifona que se ségue. Hilário mandou cantar gloria in excelsis deo, que os anjos cantáram em o nacimento de Christo. E acreçentou daquelle logar laudamus te, a té o fim della. E Symacho mandou que se cãtasse em os dias de fésta. Acabáda a gloria volvese o sacerdóte ao povo e diz: Dominus vobiscum. A qual palávra foi tiráda do testamento vélho da saudaçam cõ que Booz saudou os seus segadores e elles responderam: Benedicamus Domino, que tambem se diz no fim da missa. Peró, o coro nam responde com esta palávra, mas com outra das epistolas de Sam Paulo que diz: Et cum spiritu tuo. E, em toda a missa, se vólve o saçerdóte cinquo vezes ao povo: em memória que 1 5 6 7 9 10 12 13 19 20 23 27 28

q~ ao C; somente pertence a encarnaçam C Niceno C q~ se diz C; q~ se C Damaso C o tomou C q~ PC memoria das noue ordeẽs C q~ PC; Senhor amerceate C até C mandou q~ se cãtásse C com C s. PC cũ P; cum C; volue o sacerdóte C

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[Edição crítica]

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no dia da resureiçám apareçeo Christo cinquo vezes. E séte sauda o povo: primeira ante da primeira oraçám; a segunda, ante do evangélho; a terçeira, depois do crédo; a quárta, no prĩcipio do prefáço; a quinta, depois que diz: pax domini sit semper vobiscum; a sexta, depois da comunhã; a seitema no fim da missa, a denotár que emtam é o senhor cõnosco, quando temos os séte dões e graças do espirito sãto que, por estas séte saudações, sam sinificados. E, quando o saçerdote acába de saudár o povo e se vira ao altár dizendo Oremus, convóca, cõ esta palavra, os fiées a orar, mostrando ser indigno pera, per si só, o fazer; e tambem é sinificando o que Christo disse aos apóstolos: oray, nam entreyes em tẽtaçám. E, em proseguir na óraçám, denóta que, orãdo, Christo nos deu exemplo que o fizessemos. As quáes orações Gelásio, pápa, mandou que se cantássem. As epistolas e avangélhos, sam Jerónimo os recolegio, e Alexandre instituio que se lessem á missa. E Damaso determinou que se dissésem como se óra dizem. A epistola sinifica o oficio de sam Joam, precursor de Christo que veo ante a sua fáçe e a dizer: fazei penitençia; responde o graduál, e por que depois da penitençia se segue o prazer, a este responde: alleluia, que é canto dalegria; e estas duas partes compos santo Ambrósio e sam Gregório instituio que se cantássem á missa. E porque, sobre a doutrina de sam Joam, veo a de Christo seguese o auangélho, depois do quál vem a fé dos apostólos, que

| Fólio | 53 17r

C 1 3 4 5 7 8 9 10 11 12 23 28

resurreiçam C terceira C principio de C q~ diz PC; dñi PC; vobiscũ PC denotar C; q~ PC séte doẽs e gráças C saudaçoẽs sam sinificádos C; sacerdóte C altar C conuoca C orár C fazei penitencia C; porque depois da penitencia se ségue C séguese C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 17v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

se denóta pelo crédo. E este se compos no concilio Niceno, o quál Martinho, pontífice, mandou que, nos dias de fésta, se cantásse á missa. E, em se ler o avangélho, a parte senéstra do altár, denóta que per Christo sam os pecadores chamádos. E diz se contra o aquilã pera evitár os máos espiritos e imitár os bõos, ca per o aquilám, se entende o diábo, contra o quál é o auangélho. A oferenda, sam Gregório a compos e mandou que, a ella, a cantásse o choro, a denotár que com alegria devemos oferecer a deos. Symacho cõpos hũ prefáço que é o quotidiano e Gelasio nove, segundo as féstas do anno. Rapresenta o prefáço aquelle prazer dos mininos que hiam cantando deante de Christo o dia de ramos. E no fim do prefáço ordenou Sisto que se dissese: sanctus, sanctus, sanctus, dominus deus sabaoth, que foi tirádo de Isaya, proféta e sursum corda, de Geremias e gratias agamus domino deo nostro, do apóstolo Páulo. Vã nesta missa tres linguágẽes: Kyrie eleison (grega), sabaoth (osana) e amen (hebraica); e todalas outras pártes sám latinas, em memória e confirmaçám do titolo da cruz, a denotár que a todalas gẽtes foi noteficáda a paixám do filho de deos e que nella seam todos de sálvár. Alexandre, Gelásio e Sirico composséram o canon Te igitur até aquelle logár: Qui pridie quam pateretur. E Liám, pápa, acrecentou Hanc igitur oblationem até aquella palávra placatus accipias. 2 3 6 7 9 12 16 17 20 22 24 25 29

qual C; pontifice C; q~ P auangelho boõs C aquilã C cõpos C prefaço C Sanctus, Sanctus, Sanctus, dominus deus Sabaoth C; sãctus, sãctus, sãctus P q~ foi P; que foi C Paulo C; linguagẽes C partes sam latinas em memoria e cõfirmaçam C paixam C saluár C palaura C

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[Edição crítica]

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E sam Gregório acrecentou estas tres petições: Diesque nostros in tua pace disponas, Ab eterna dam natione nos eripi. In electorum tuorum iubeas grege numerari. Em o quál canone se contém muitos sacramẽtos e espiritualidádes que, por a excelencia das palavrás sacramẽtáes, fiquem em sua religiám, porque tanbém a linguágem o nam padeçe. Pax domini sit semper vobiscum se tirou do testamẽto novo; Inoçẽcio cõstituio que se dissése á missa. Inoçẽcio, o primeiro, ordenou o beijar da páz antre os sacerdótes, e Liám, o segũdo, mandou que se désse ao povo, em memória da páz que Christo dáva aos seus apóstolos. Sérgio, pápa, compos o agnus dei e mãdou que se cantasse á missá. Ite missa est foi tirádo do testamẽto vélho, quando faraó mandou ir o povo de Igypto ou quando Cyro ó mandou ir de Babilónia e representa o que foi dito aos apóstolos quando Christo sobio aos çeos viri galilei, etcetera. Outras muitas pártes e cerimónias tém este sacramento da missa que contém em si grandes mistérios e doutrina pera contémplaçám nóssa, de que ó raçional dos divinos oficios copiósamente tráta e assi outros tratádos onde os devótos pódem estudár.

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C ij 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 14 16 17 18 19 20 23 25

etérna PC tuornm10 C qual C sacramentos C; q~ por a excellencia C sacramẽntáes C; religiã C padece C vobiscũ PC; testamento C Innocencio constituio C; q~ PC; se dissese C; Incẽcio P; Inocẽcio o C paz antre C; q~ se C em memoria da páz q~ Christo daua C cõpos C; q~ se cãtasse C tirado do testamento vélho C; quãdo Faraó C jr P Cyro o mando11 C apostolos C ceos C; τc P; &c C; cerimonias tem C q~ ó racional C podem estudar C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Terçeira párte morál.

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Fólio 18v |

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Chamádos per os sinos que vamos a este santo sacrificio que, por nóssas culpas, se ofereçe no templo, entrando pela pórta diremos: Introibo in domum tuam adorabo ad templum sanctum tuum et consitebor nomini tuo domine. E, chegando á pia dágua benta, quando nam for da mã do saçerdóte, a tomaremos com a nóssa própria e, fazẽdo o sinál da cruz na fronte, na boca e sobre o coraçám, diremos: aqua benedicta sit nobis salus et vita. Faremos o sinal na fronte porque nella está o conhecimento, per o quál entendemos ser feitura de deos; na boca, porque, com ella, o avemos de confessár; e no coraçám porque, cõ todo elle o avemos de amár. Recebida agua benta, poẽdo ambos os giolhos ẽ térra, adoraremos o crucifixo, se estevér na igreja ou a cruz, em sua memória, representãdo nella Christo encravádo por nóssa redemçám. E dirá cada hũ a óraçam de que for mais devóto, com os olhos póstos na imágẽ e atẽçám em deos, ca, segundo a escritura, áquella óra estamos ante a sua magestáde. Feita nóssa óraçam, se for domingo, começãdo o asperges: levantár nos emos em pé, té o fim da oraçam. E, entrãdo ao intróito da missa, póstos os giolhos ẽ térra, cõ a cabeça descubérta, faremos o sinál da cruz acostumádo, imitando o sacerdóte e respondendo aos seus vérsos, o[s] qua[es] coméça[m] assi: 2 3 4 6 7 8 9 12 14 16 19 20 21 23 25

sinos q~ C sãto C; q~ por C oferece C cõsitebor PC d’agua C sacerdóte C sinal C porq~ C coraçaõ porq~ com C poendo C nossa C; redẽçám C; hum C de q~ C tẽçam C óraçám C introito C

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[Edição crítica]

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Sacerdóte. Sancti spiritus assit nobis gratia. Ministro. Amen. Sacerdóte12. Confitemini domino quoniam bonus. Ministro. Quoniam in seculum misericordia eius. Sacerdóte13. Iudica me deus et discerne causam meam de gente non sancta: ab homine iniquo et doloso erue me. Ministro. Quia tu es deus fortitudo mea: quare me repulisti et quare tristis incedo dum affligit me inimicus. Sacerdóte. Emitte lucem tuam et veritatem tuam: ipsa me deduxerunt et adduxerunt14 in montem sanctum tuum et in tabernacula tua. Ministro. Et introibo ad altare dei: ad deum qui letificat iuuentutem meam. Sacerdóte. Confitebor tibi in cithara, deus, deus meus: quare tristis es anima mea: et quare conturbas me. Ministro. Spera in deo quoniam adhuc confitebor illi: salutare vultus mei et deus meus. Sacerdóte. Gloria patri et filio et spiritui sancto. Ministro. Sicut erat in principio et nunc et semper: et in secula seculorum. Amen. Sacerdóte. Dignare domine die isto. Ministro. Sine peccato nos custodire. Sacerdóte. Confitemini domino quoniam bonus. Ministro. Quoniam in seculum misericordia eius. Sacerdóte. Ego peccator confiteor deo et beate Marie virgini: et beatis apostolis Petro et Paulo et omnibus sanctis dei: quia peccaui nimis in vita mea contra legem dei mei, ore, corde, cogitatione, locutione, omissione, consensu, visu, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo deprecor beatissimam virginem Mariam et omnes sanctos et sanctas dei: et vos pater vt oretis pro me peccatore ad dominum deum nostrum vt misereatur mei. Ministro. Misereatur vestri omnipotens deus et di-

| Fólio | 57 19r

C iij 1 2 4 5 9 10 11 12 18 19 21 23 24 28

Sãcti PC Cõfitemini PC Judica P; Iudica C; meã PC nõ PC; sãcta PC montẽ sanctũ PC deũ PC létificat iuuentutẽ C; iuuentutẽ P me P15 Cõfitemini PC seculũ PC beaté Marié C legẽ P cõsensu PC dominũ P; dominum nostrũ C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 19v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

missis omnibus peccatis vestris: perducat vos dominus noster Iesus christus cum suis sanctis ad vitam eternam. Sacerdóte. Amen. Logo dira ho ministro. Ego peccator. etcetera. Sacerdóte. Indulgentiam et absolutionem omnium peccatorum vestrorum tribuat vobis omnipotens et misericors dominus. Ministro. Amen. Sacerdóte. Deus tu conuersus viuificabis nos. Ministro. Et plebs tua letabitur in te. Sacerdóte. Ostende nobis domine misericordiam tuam. Ministro. Et salutare tuum da nobis. Sacerdóte. Domine exaudi orationem meam. Ministro. Et clamor meus ad te veniat. Sacerdóte. Dominus vobiscum. Ministro. Et cum spiritu tuo. Sacerdóte. Oremus. Aufer a nobis que sumus domine cunctas iniquitates nostras vt ad sancta sanctorum puris mereamur mentibus introire per Christum dominum nostrum. Ministro. Amen. Acabáda esta oraçã, sóbese o saçerdóte ao altár, depois por o discurso do oficio da missa diz estas palávras a que avemos de responder cõ suas respóstas que vam defronte dellas. Sacerdóte. Per omnia secula seculorum. Ministro. Amen. Sacerdóte. Initium sancti euangelij secundum Ioannem. Ministro. Gloria tibi domine. Sacerdóte. Sursum corda. Ministro. Habemus ad dominum. Sacerdóte. Gratias agamus domino deo nostro. Ministro. Dignum et iustum est. Sacerdóte. Pax domini fit semper vobiscum. Ministro. Et cum spiritu tuo. Sacerdóte. Ite missa est. Ministro. Deo gratias. Sacerdóte. Benedicamus domino. Ministro. Deo gratias. E, quando na confissám passáda dissérmos, mea culpa, mea culpa, mea grauissima culpa, bateremos tres vezes no peito, denotando as tres pártes da penitençia: contriçám, confissám e 3 4 7 8 12 15 16 18 19 22 23 26

eternã PC; ministrro P τc P; &c C létabitur C misericordiã PC quésumus C Acabada C Sacerdóte C repóstas PC; q~ C seculorũ PC dominũ PC iustũ P; iustum C confissam passada dissermos C

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[Edição crítica]

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satisfaçám. E, porque, em quãto estevérmos á missa, somos obrigádos fazer algũas cousas, poellas-emos aqui, como régras geráes. A primeira e principál régra é estármos muy atẽtos em quanto se dissér a missa, assi quãdo ouvirmos o que se nella diz como quando rezármos. Porque, praticãdo ou fazendo rumor, ja nam ouvimos missa, mas desacatamos ao misterio della e damos torvaçám áquelles que nos ouvem. A segunda é que, quando ouvirmos nomeár o nome de Iesu, inclinemos a cabeça com muita reverençia e ponhamos os giolhos em térra. Por que (segundo sam Paulo) a este nome todo giolho se inclina celestiál, terreál e infernál. A terçeira, ante da missa acabáda, nam se deve alguẽ sair da igreja, se nam com grandissima neçessidáde. Principálmente ás missas do domingo e féstas16, por serem de obrigaçám. A quárta: que em os domingos e féstas ofereça mos á missa nóssas ofertas: ca diz a escritura, nã apareçerás vazio ante deos. A quinta: que nestes táes dias ouçamos missa enteira. A sexta: as vezes que o sacerdóte se voluer a nós dizẽdo Dominus vobiscum, porque fála comno[s]co, nos levantaremos em pé e responderemos a sua saudaçám: Et cum spiritu tuo. E tambem nos levantaremos em pé quando, ante do prefáço, se vira a nos e diz: Orate pro me fratres vt meum ac-

| Fólio | 59 20r

C iiij 1 2 3 4 6 7 9 10 12 16 25 26

q~ P; porq~ C; estiuérmos C alguãs C geráes! C pricipál P; principál C q~ se C; Porq~ C iá C q~ C q~ C Porq~ C necessidade C; Principalmente C; e fés festas C; q~ C porq~ comnosco C; co m noco P á sua C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 20v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

vestrum sacrificium acceptabile fiat apud deum omnipotentem. Ao quál responderemos: Suscipiat dominus sacrificium de manibus tuis ad laudem et gloriam nominis sui ad vtilitatem quoqve nostram totiusqve ecclesie sue sancte. Seitima régra: em quanto disserem as orações a que chámam colletas, evãgélho, crédo, prefáço e ite missa est, avemos de estár em pé e muy prontos e atentos (posto que nam entẽdámos estas cousas), pedindo a deos, em nóssos corações, que nos fáça participantes do que nóssas orelhas ouvem. Prepóstas estas régras géráes, como o saçerdóte estevér aos quirios, nos podemos asentár e rezár a elles nóssas devoções; e assi nos podemos asentár á epistola e responso com seu vérso e Alleluia, tirãdo ás missas do espirito santo. Porque, depois da alleluia, quando se diz: Veni sante spiritus, nos devemos poer em giolhos com as mãos levantádas, pedindo a deos que ouça os ministros daquelle altár, os quáes, naquelle vérso, pédẽ que venha sobre nós o espirito santo e nos açenda em fogo de seu amor. Começãdo o avangélho, levãtados em pé, faremos o sinál da cruz na frõte, na boca e no coraçã, pedindo a deos que per virtude daquelle santo sinál, no entẽdimẽto sejamos alumiádos, pera crer; na boca, poderósos pera cõfessár; e no coraçã esforçádos pera defẽdér e punár por aquelle sãto avãgélho. E desi17 tornaremos fazer outro sinál da cruz da cabeça18 té os peitos, por que o demónio nã seja poderoso de nos levár 1 3 4 6 8 9 10 11 14 16 18 20 22 24 26 27 28 29

omnipotẽtem PC sacrificiũ PC; vtilitatẽ P; vtilitatem quóq~ C; nostrã PC; totiusq~ ecclesié sué sancté C oraçoẽs a q~ C estar em pé e mui C q~ naõ C coraçoẽs q~ C do q~ C deuaçoẽs C sancto. Porq~ C con P; com C quáes C; nos C leuãtádos C q~ per C esforcádos P; esforçados C; defẽder C aq~lle sãto auãgelho C; de si C, desi FL sinál da cabeça C; sinál da cruz da cabeça FL por q~ PC; demonio C [60]

[Edição crítica]

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do coraçam a semente daquella santa palávra, mas em virtude della respõdámos cõ óbras de fruito çentenario. E, quando começár o crédo, tambem nos levãntaremos em pé, a denotár a prontidám e deligẽçia que temos pera defensam daqueles artigos. E em dizẽdo esta palávra: Et homo factus est, poeremos ambos os giolhos em térra, dando gráças a deos que, por nos salvár, lhe aprouve vestir nóssa humanidáde. Entrando ao prefáço, nos levantarémos em pé e, a esta palávra, sursum corda, faremos o sinál da cruz acostumádo. E dizẽdo gratias agamus domino deo nostro, poeremos os giolhos en térra e desi nos levantaremos té que digam: Sanctus, sanctus, sanctus, dominus deus sabaoth. E a esta palávra: Benedictus qui venit, nos benzeremos e póstos em giolhos, podemos rezár nóssas devações, té que o saçerdóte tome a óstea pera a levantár. Aqui, com toda eficácia e prontidam, nos encomendaremos a deos, pedindolhe perdam de nóssos pecádos, per as mais humildes palávras que lhe sua devaçam e fervor espirituál ensinár. Peró a óraçam que mais convem a todo fiél cristám é o pater noster, ca esta nos ensinou Christo e nelle se ençérram todalas petições justas que em outras podemos pedir a deos e esta lhe é a mais açeita por a excelençia e devindáde do méstre que a compos e ensinou. ¶Depois que a segũda vez levantár a óstea, quando disser a oraçam do pater noster, á ouuiremos muy atentos. E a esta palávra, sed libera nos a malo, pediremos a deos que per enter-

| Fólio | 61 21r

Cv 5 6 7 8 13 16 17 20 21 23 24 25 26 29

q~ C palaura C q~ C saluar C téq~ C; deuacoẽs C; sacerdóte C aleuantár P q~ C oraçam q~ C nellé P; nelle C; petiçoẽs C q~ C a mais aceita por a excelencia C; q~ C q~ a segunda C liberanos C; q~ per PC; enter(cesam) C [61]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 21v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

çesam de Christo, que esta oraçam nos ensinou, e, per rogos da virgẽ, sua mádre, e dos apóstolos Pedro, Páulo, André e todolos outros santos, nos livre dos máles passádos, presentes e foturos, segundo o saçerdóte por si e por nós péde. E como elle fáz o sinal da cruz cõ a páz e depois a beija, assi nós faremos o mesmo sinál ẽ nós. ¶Quando dissér o Agnus Dei, diremos a Christo: assi como tu senhor és chamádo cordeiro pela obediẽçia que teuéste ao pádre e noticia da mádre e redençam do género humano, pedimoste que nam desistas de te amerçeár de nós, como nã desististe de nos remir com os tromentos de tua paixã té mórte. ¶Estas palávras que o sacerdóte diz Domine non sum dignus, vt intres sub tectum meum, sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea, nós as diremos com elle contemplando a fé que o centurio teve quando as disse a Christo, com que mereçeo dizer Christo por elle que nam achára tãta fé em Israél. E porque se dizẽ tres vezes bateremos outras tantas em os peitos, em memória da sanctissima trindáde a que ofendemos em pensár, falár e obrár. Acabando o sacerdóte de comungár, porque té o fim da missa sam orações é saudações, estaremos em pé e assi ao evangélho. Somente á saudaçam de nóssa senhora, estaremos em giolhos, tirando os tẽpos que por memória da resureiçam de Christo, manda a igreja que estemos levantádos. Ao quál per os mereçimẽtos deste santo sacrificio, memória de sua paixam, prazerá levarnos áquella glória em que elle 1 2 5 7 9 11 12 13 14 16 17 18 19 21 22 23 24 26 27 28

(enter-)cesam C; q~ C virgem C sacerdóte C Quãdo disser C obediencia C; q~ PC q~ C cõ C q~~ PC nõ PC; sũ C; ut C q~ o C; com q~ C q~ nam C; tanta C; Israel C E porq~ C aq~ C; a que P porq~ C sã orações e saudaçoẽs C saudaçaõ C q~ C; resurreiçaõ C Igreja q~ C; merecimẽtos C sãcto [62]

[Edição crítica]

1 2

com o pádre vive e reina per infinita seculorum secula. Amen. Deo gratias.

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| Fólio | 63 22r O evangélho de Sam Ioam.

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Em o começo éra a palávra e a palávra éra acerca de deos, e deos éra a palávra. Esto éra em o começo acerca de deos, e todalas cousas sám feitas per elle e sem elle é feito náda. O que é feito em elle éra a vida, e a vida éra luz dos hómẽes. E a luz luze em as trévas e as trévas o nam comprenderam. Hum hómem foy enviádo de deos, o quál [h]avia nome Ioam. Este veo em testemunho, porque désse testemunho do lume pera que todos cressem per elle. Nam éra elle luz, mas porque désse testemunho do lume. Era luz verdadeira que alumia todo hómẽ que vem em este mundo. Em o mundo éra, e o mundo per elle foy feito e o mundo nam o conheceo. E em suas próprias cousas veo e os seus nam o receberã. E a todos os que o receberam, deulhes poderio de serem feitos filhos de deos, áquelles que crem em o seu nome, que nam de sangues nem de deleite de carne, nẽ de deleite de barã, mas sam nascidos de deos. E a palávra é feita carne e morou em nós, e vimos a sua glória, glória de hum verdadeiramente gérado do pádre cheo de gráça e verdáde. 10 11 8 14 16 17 27

q~ C homẽes C Ioam C porq~ C porq~ C q~ C; homẽ C graça e verdade C

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

O simbolo de quicumque uult.

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Fólio 22v |

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Quem quisér ser salvo ante todalas cousas á mister que tenha a fé católica. A qual se cada hũ nã guardár enteira e nam corrompida, sem duvida perecerá pera sempre. E a fé católica é ésta: que honremos hum deos em trindade, e a trindáde em unidáde. Nam cõfundindo as pessoas nem apartando a substancia. Em verdáde outra é a pessoa do pádre, outra a do filho, outra a do spiritu santo. Mas do pádre e do filho e do spiritu santo, hũa é a divindáde igual glória sempre durável magestáde. Qual é o pádre tal é o filho, tal é o spirito santo. Nam criado é o pádre, nam criado é o filho, nam criádo é o spirito santo. Sem medida é o pádre, sem medida é o filho, sem medida é o spirito santo. Etérno é o pádre etérno, é o filho etérno, é o spirito santo. Porem, nam sam tres eternos, mas hum etérno. Assi como nam sam tres nam criádos, nem tres grandes sem medida, mas hum nam criado, e hum sem medida. Semelhavelmente o pádre é todo poderoso, o filho é todo poderoso, o spiritu santo é todo poderoso. Porem, nam sam tres todos poderosos, mas hum todo poderoso. Assi é deos pádre deos filho, deos spiritu santo. Porem nam sám tres 1 2 4 8 11 15 17 21 22 23 28

quicunq~ uult P; quicumque vult C quizer C q~ C honrremos PC a pessoas C durauel C criádo C; criádo C sã tres etérnos C nã sã C nã C sãto. Porem nã sã C

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[Edição crítica] 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

deoses, mas hum só deos. Assi, senhor é o pádre, senhor é o filho, senhor é o spiritu santo. Porem, nã sam tres senhores, mas é hum senhor. Porque como pella verdade christã somos constrangidos confessár cada hũa pessoa per si ser deos e senhor, assi tres deoses ou senhores dizer pella religiám christã nos é defeso. O pádre nam é feito de algum nem criádo, nem gerádo. O filho do padre so é nam feito nem criádo, mas gerádo. O spiritu santo é do pádre e do filho, nam criádo, nem gerádo, mas procedente. Por tanto, hum é o pádre e nam sam tres padres, hum é o filho e nam sam tres filhos, hum é o spirito santo e nam sam tres spiritos santos. Em esta trindáde nam áhi cousa primeira, nem derradeira, nenhũa cousa é mayór nã menór, mas todas tres pessoas sam juntamente sempre duraveis e igoaes. Assi19, que por todalas cousas como ja sobre dito é e a vnidáde em a trindáde e a trindáde em a vnidáde se á de honrar. Poys, todo aquelle que quiser ser salvo assi senta da trindáde. Mas cousa neçessária é á saude perdurável que outrosi a encarnaçam de Iesu christo nósso senhor cada hum fielmente crea. Poys20 é fé dereita que creamos e confessemos que nósso senhor Iesu christo filho de deos, é deos e hómem21. Deos é da substancia do pádre, antes do ségres gerado, homem é da substancia da mádre, em o ségre nacido. Perfeito deos, perfeito hómem de álma racional e de cárne humanal subsistente. Igual ao pádre, segundo a divindáde, e menór ao pádre, se1 2 4 6 8 9 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 23 24 25 28

Assi Senhor C sã C pela C; christaã PC christãa PC só: é nã C gerado C nã sã C nam sã C nã sã tres spiritos sãtos C nã á hi C; nẽ derradeira C maiór C sã C; igoáes C q~ C; já C trindade C honraar PC necessária C perdurauel q~ C; encarnaçã de Jesu C Pois C; q~ C nosso C; filho de deos: é deos: e deos hómẽ C; de deos: é deos e homem FL antes dos C Iguál C

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| Fólio | 65 23r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

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gundo a humanidáde. O quál ainda que seja deos e hómem, porem nã sam dous, mas hum Christo. Digo hũ, nam por convertimento da divindáde em carne, mas por recebimẽto da humanidáde em deos. Hum, sem duvida, nam por a confusam da substancia, mas por unidáde da pessoa. Porque assi como a álma racionál e a cárne, é hũ hómem, assi deos e hómem é hũ Christo. O quál padeceo por nóssa saude, descendeo aos inférnos, ao terceiro dia resurgio dos mórtos. Subio22 aos céos e está á déstra de deos pádre todo poderoso. E di á de vir julgár os vivos e os mórtos. A cuja vinda todos os hómẽes am de resurgir com seus córpos e hã de dár de seus feitos próprios razã. E, os que bõas cousas fezéram, irám em a vida perdurável. E os que más cousas fezérã, em o fogo sem fim. Esta é a fé católica, a quál se cada hũ fiél e firmemente nã crer, nam poderá ser salvo. Oraçam de Justo juyz.

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Justo juyz Iesu Christo, rey dos reys e senhor, que com o pádre reinas sempre e cõ o spirito santo, tem por bem de receber agóra os meus rogos piadosamente, tu dos çeos descendeste em o ventre da virgem, donde tomando verdadeira carne visitaste o mundo, remindo tua feitura per teu próprio sangue. Peçote, deos meu, que a tua gloriósa paixam me defenda sempre de todo perigo porque persevére sempre em o teu serviço. Seja 1 2 3 6 7 8 10 11 12 14 16 18 19 21 22 25 26 27

seja C porẽ nã sã C nã C vnidade C; Porq~ C carne C; hũ hómẽ C; hómẽ é C qual C; saúde C Céos C; estáa PC; dí C amde C q~ P; jrám PC hum C Iusto iuyz P; Justo iuyz C Iusto P; juiz C; Christo C; sñor PC sãto C céos C qC glorioza C por q~ P [66]

[Edição crítica]

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sempre comigo a tua virtude, saude e defensam, porque o encõtro dos imigos nã tórve o meu coraçã, nem o meu corpo seja danádo por láço enganoso. Cõ a tua déstra fórte cõ que abriste as pórtas infernáes, quebranta os meus imigos e as suas espreitãças, com as quáes querem ocupar as careiras do meu coraçam. Ouve, Christo, a mi que brádo miserável rogando e, a mi que busco piedáde, manda consolaçam por que se nam levantẽ os imigos em doesto meu. Sejã destroidos e enfraqueçã os que me quérẽ perder, o láço da envéja seja a elles em quéda; Iesu, bõ e piadoso, nã me queiras desamparár, tu sejas meu escudo guardador e defendedor por que resista aos que de mi detráhem, sendo tu governador e, depois delles vencidos, me alegre longamẽte. Envia, das altas sendas, o santo cõsolador que alumia o meu conselho em o teu resplandor, e tu arréda de mi todos os que mál me quérẽ. O sinál da tua santa cruz23 guareça os meus sentidos e cõpẽdam de vẽcimento me faça vẽcedor, e vencido o imigo faleçam as suas forças. Amercea-te de mi, Christo, filho de deos unigenito, amercea-te de mi que te rógo senhor dos anjos, tu, dador do perdám, sey sempre de mi lẽbrádo, deos pádre, deos filho, deos spirito santo, que sempre hum deos e senhor chámado es, a ti seja virtude perduravel e honrar pera sẽpre. Amẽ. A oraçam de Obsecro te domina.

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2 8 9 10 13 15 16 17 21 24 25

por q~ P; porq~ C porq~ C nã C; emdoesto C q~ C porq~ C; q~ C sedas PC q~ C q~ PC q~ C q~ C; Deos C perdurauel C; honrrar PC

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| Fólio | 67 24r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 24v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

Rogo te senhora santa Maria, mádre de deos, mádre de piedáde muy comprida, do muy álto rey filha, mádre muy gloriósa, mádre dos órfãos, consolaçam dos desconsoládos, carreira dos errádos, saude dos que espéram em ti, virgem ante do párto, virgem no párto, virgem depois do párto. Fonte de misericórdia, de saude e gráça, fonte de consolaçam e de perdam, fonte de piedáde e alegria. Rógo-te per aquella santa alegria que nam poderia falar, pella qual se alegrou teu spiritu em aquella hóra quando, pello anjo, Gabriel foy dito e annunciádo o concebimento do filho de deos em ti. E por aquele divinal mistério que entam o spiritu santo obrou em ty. E por aquella santa e non estimável piedáde, gráça e misericórdia, amor e humildáde, por as quáes o teu filho deçeo a tomár cárne em o teu muy honrádo ventre. E por aquelles ólhos com os quáes te olhou quando estando em a cruz te encomendou a sam Ioam, apóstolo e evangelista. E quando te exalçou sobre os choros dos anjos e por aquella santa e nam comparavel humildáde em a qual tu respondeste ao arcãjo Gabriel dizendo. Ex aqui a sérua do senhor, seja feito em my segundo a tua palávra. E por aquelles quinze prazeres muy santos que ouveste do teu filho Iesu christo nósso senhor. E por aquella santa e muy grande paixam e muy armagósa dor do teu coraçam que ouveste quando o teu muy doce filho ante a cruz24, nuu e 5 7 10 11 13 14 18 20 22 23 24 26 27 28

árfãos P; consolaçã C q~ C piedade C; Rogote C q~ C anio C diuinál C; q~ C deceo C; honrrádo PC estãdo C; Ioã PC sãta e nã C humildade C Exaqui a serua C q~ C equella P paixã C; armagása P; q~ C

[68]

[Edição crítica]

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

em ella alevãtádo, viste pẽder crucificádo: chagado avẽdo sede lhe dár fél e brádár ouviste e morrer viste. E por as cĩquo chágas do teu filho. E por o apertamento das suas entranhas: e pola grãde dor das suas chágas. E pella dor que ouvéste quãdo o viste chagar. E por as fõtes do seu sangue: e por toda sua paixã e toda dor do teu coraçám. E pola fonte das tuas lagrimas, que cõ todolos santos e escolhidos de deos venhas e te achegues em minha ajuda e conselho, em todas minhas orações e requestas, e em todas minhas angustias e necessidádes. Em todas aquellas cousas que tenho de fazer, falár e cuidár em todo los dias, hóras e momẽtos da minha vida. E a mi, indigno sérvo teu, impétres do teu amádo filho comprimento de todalas virtudes com toda misericórdia e consolaçám: conselho e ajuda cõ toda bençam, sanctificaçám com toda saude, páz e bõa andança, com todo prazer e alegria. E outrosi avõdança de todolos bẽes spirituáes e corporáes e gráça do spirito santo, a qual me ordene bem em todalas cousas e guarde minha álma, reja meu corpo, levante a minha vontáde e correja o meu siso, e enderence o meu curso da vida, componha os meus costumes, proveja os meus feitos, e cumpra os meus vótos e desejos, e me ensine os santos pensamentos, perdoe todos meus máles e pecádos passados, e os presentes emmende, e os por vir tempére, e me de vida honesta e dina de honor, vencimento contra todalas adversidádes deste mundo, verdadeira luz 1 2 3 5 7 11 12 13 15 17 19 20

chagádo C bradár C cinquo C q~ PC coraçam C necessidades C q~ PC momentos C misericordia C santificaçã C beẽs C sãto C

[69]

| Fólio | 69 25r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 25v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

spirituál e corporál, esperança, fé, charidáde e castidáde, paciencia, humildáde, e os cinquo sentidos de meu corpo guárde e reja, e as séte óbras de misericórdia me fáça cumprir, e os doze artigos da fé firmemente ter e crer, e os déz mandamentos da ley guardar e cumprir, e me livre e defenda de todos os séte pecádos mortáes a té fim. E em os meus derradeiros dias me mostra a tua muy gloriósa face e me revéles o dia de minha mórte, e que ouças e recebas esta humildósa oraçá, e me des a vida perdurável. Ouveme senhora, ouveme muy doce virgem Maria, mádre de deos, mádre de piedáde e misericórdia. Amen. Oraçám á hóstia.

14 15 16 17 18 19

Adoramos te senhor Iesu christo e benzemos a ti que pella tua santa cruz remiste o mundo, desataste senhor as minhas cadeas. A ti sacrificarei hóstia de louvor, e a teu nome chamarei, rógo te senhor que me perdoes os meus pecádos. Amen. Oraçam ao calez.

20 21 22 23 24

Adórote sangue de nósso senhor Iesu christo, o quál foy derramádo por a humanál linhágem. Rógo te senhor, te apráza de te amerceár da minha álma. Amen. 2 4 6 7 9 10 16 17 19 20 23

humildade C; sentidos do meu corpo C comprir P; comprir C cõprir P; comprir C peccados C q~ C oraçã C q~ C sñor q~ C peccádos C Calez C Rógote C

[70]

[Edição crítica]

1

Os dias de jejũár e guardár sam os que se séguem.

2

Janeiro tém XXXI dias.

3 4 5 6

A circuncissám de nósso senhor, guardár. O dia dos reys, guardár e nam jejũár. Sam Vincente, jejũár e guardár, no arcebispádo de Lisboa. Fevereiro tém vintóito dias.

7 8

A purificaçám de nóssa senhora, jejũár e guardár. Março tém XXXI dias.

9 10 11 12 13 14

Páscoa com tres dias, jejũár e guardár. Annunciaçám de santa Maria, jejũár e guardár. A quinta feira das endoenças, des a quinta feira á missa ate sésta feira acabáda a missa, jejũár e guardár. Abril tém XXX dias.

15 16

Ascensám, guardár e jejũár de costume. Mayo tém XXXI dias.

17 18 19 20

Sam Felipe e santiágo, jejũár e guardár. A envençám da véra cruz, guardár. Penthecóste, jejũár e guardár com tres dias. Junho tém XXX dias.

21 22 23 24

O dia de corpo de deos, guardár. Sam Ioam bautista, jejũár e guardár. Sam Pedro e sam Paulo, jejũár e guardár. 1 3 4 5 8 13 18 23

sã os q~ C circunsissám C nã C S. C guardar C a te C; acabada C S. Felipe e santiago jejũar C Sam Ioam C

[71]

| Fólio | 71 26r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Julho tem XXXI dias.

1

Fólio 26v |

2

Santiágo apóstolo, jejũár e guardár. Agosto tém XXXI dias.

3 4 5 6 7

Sancta Maria das néves, guardár. Sam Lourenço, jejũár e guardár. Assumpçám de sancta Maria, jejũár e guardar. Sam Bartolameu apóstolo, jejũár e guardar. Setembro tém XXX dias.

8 9 10 11 12 13

A nacença de nóssa senhora, jejũár e guardár. Tresladaçám de sam Vincente, jejũár e guardár em Lisboa. Sam Mattheus apostolo, jejũár e guardar. Sam Miguél arcãjo, guardár. Outubro tém XXXI dias.

14 15

Sã Simã e sam Iudas apóstolos, jejũár e guardár. Nouembro tém XXX dias.

16 17 18

Todolos santos, jejũár e guardár. Santo André apóstolo, jejũár e guardár. Dezembro tém XXXÍ dias.

19 20 21 22 23 24

A conçeyçám, jejũár e guardár de costume. Santa Maria ante do natal, jejũár e guardár. Sam Thome apóstolo, jejũár e guardár. O Natal com tres dias, jejũár e guardár. A quarésma com quátro temporas, jejũár. 1 10 15 17 20

tém C Tresládaçam C Iudas C guaadár P; guaardár C conceiçam C

[72]

[Edição crítica]

Oraçám ao anjo custóde.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28

O Anjo de deos que és minha guarda pella piedáde supérna a mi a ti cometido, salva, defende e govérna. Amen. Rogo-te, anjo bento, a cuja providẽcia eu sou encomendádo, que sempre sejas presente em a minha ajuda, ante deos, nósso senhor, presenta os meus rogos ás suas muy piadósas orelhas, porque per sua misericórdia e tuas prézes me de perdam de meus pecádos passádos, verdadeiro cõhecimẽto e contriçám dos presentes, e aviso pera evitár os pecádos vindoiros, e me de gráça pera bem obrár e a té o fim perseverár. Afasta de mi, pela virtude do todo poderoso deos, toda tẽtaçã de satanás, e o que eu nã mereço por minhas óbras, tu alcança per teus rogos por mi ante nósso senhor que em mi nam ája lugár mestura dalgũa máldade, e se algũas vezes me vires errár o bõ caminho e seguir os errores dos pecádos, tu procura de me volver a meu salvador pellas carreiras de justiça. E, quando me vires em algũa tribulaçám e angustia, faze que me venha ajuda de deos per teus doces socorros. Rógote que nunca me desampáres, mas sempre me cubras, visites, ajudes e defendas de toda fadiga e guérra dos demónios, vigiãdo de dia e de noite ẽ todallas hóras e momẽtos, onde quér que andár guardame e acõpanha comigo. Isto mesmo te pe2 7 8 10 11 12 14 16 18 19 23 24 26 27

q~ PC encomẽdádo C; q~ PC nosso C porq~ C pacádos P; pecádos C cõtriçám C té a fim PC q~ PC q~ PC; nã C errar C q~ me C q~ C demonios C q~ PC [73]

| Fólio | 73 27r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

1 2 3 Fólio 27v | 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

ço, meu guardador, que quando desta vida partir nã leixes que me espantem os demonios, nem me leixes cair em desesperaçám, nem me desampáres, até me levár á bẽavẽturáda vista de deos, nósso senhor, onde eu contigo e com a bénaventuráda virgém mádre de deos, e com todolos anjos e santos pera sempre folguemos em a glória do paraiso, que nos dará Iesu christo, nósso senhor. O quál, com o pádre e com o spiritu santo, vive e reina pera sempre. Amen. Pera saber as quatro temporas.

16 17 18 19 20 21

As quátro temporas sám quárta feira, sesta e sábado, depoys de pẽthecóste. E depois do dia de santa Cruz de Setembro, e depois do dia de santa Luzia, e depois de quárta feira de cinza. 1 2 4 8 14 17

q~ quando C q~ me C bemauẽturada C; nosso C q~ C; qual C sẽpre C sã C

[74]

[Edição crítica]

1

A LOVVOR DE DEOS

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Maria, acábasse a Cartinha com os preceitos e mandamentos da sánta mádre igreja, e cõ os mistérios da missa e responsoreos della, empremida em a muy nóbre e sempre leál cidáde de Lizboa per autoridáde da santa inquisiçam em cása de Luis Rodriguez livreiro delrey nósso senhor, com privilégio reál aos .xx. de Dezembro de 1 5 3 9. annos.

E DA GLORIOSA VIRGEM

4 11

santa mádre igreja C Luis rodriguez P;Luis rodriguez C

[75]

| Fólio | 75 28r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

(Folha de guarda) [[BN-00157665-8]] 5

[[BARROS, João de, 1496-1570 – Grammatica da lingua portuguesa com os mandamentos da santa mádre igreja. |Lizboa... 1539|. 10

Talvez seja o primeiro livro didático ilustrado, antecedendo ao de Comenius. Segunda gramática da língua portuguesa. Exemplar único no mundo.]] NOTAS 1 No exemplar da Biblioteca Nacional, a palavra Felipe está riscada. Ao seu lado, está manuscrito Ioam. 2 Xarroco: peixe-pescador (Lophius piscatorius). 3 No original, há dois tipos de r (cf. Apresentação). 4 No original, há dois tipos de s (cf. Apresentação). 5 Na edição P, há somente cinco artigos que pertencem à humanidade. Na edição C, há sete artigos. 6 Possivelmente: quatorze? 7 Os artigos VI e VII não constam na impressão original. No exemplar da BN, os artigos 6 e 7 estão manuscritos: [[6. (Crer) que subio aos (ceos)/e esta assenta(do á)/maõ dereyta (de deos)/Padre todo po(deroso)]] [[7. (Crer) que hade uir no (fim do)/mũdo a julg (ar os)/uyvos e os (mortos)]] 8 No original: aĩa. 9 Tanto na edição P, como na edição C, ocorreu este erro tipográfico. 10 Este erro tipográfico não está mencionado na Errata do exemplar da FL. 11 Erro tipográfico mencionado na Errata do exemplar FL: mado > mandou 12 Na edição P, a primeira abreviatura par sacerdote é Sacer, enquanto que todas as outras são Sa. A forma abreviada de Ministro é Mi. 13 Na edição C, a forma abreviada de sacerdote é Sa., enquanto que a forma curta para Ministro é Mi. 14 Na edição FL, há uma lacuna de dezesseis páginas, entre as folhas 41 a 56. 15 Na edição P, há o símbolo {9}, semelhante ao número nome sobrescrito, imediatamente depois da palavra me. 16 Na edição C, há um erro tipográfico, apontado no exemplar FL. 17 No exemplar FL, há menção a um erro tipográfico neste trecho, possivelmente encontrado na edição C, pois a grafia correta seria desi, embora na edição P, a palavra de si aparece grafada corretamente. 18 No exemplar FL, há menção a um erro tipográfico, pois as palavras da cruz foram suprimidas da edição C. 19 A marcação de parágrafo segue a edição C. 20 A marcação de parágrafo segue a edição C. 21 No exemplar FL, há menção a um erro tipográfico, pois as palavras é deos foram acrescentadas indevidamente à edição C. 22 A marcação de parágrafo segue a edição C. 23 No original, há a figura de uma cruz pátea. 24 No original, há a figura de uma cruz pátea.

[76]

Leitura modernizada

[Leitura modernizada] | Fólio 1r

G R A M Á T I C A

D A

língua portuguesa com os mandamentos da Santa Madre Igreja.

[79]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Fólio 1v | Sumário

Sumário do que se contém neste livro 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18.

Introdução para brevemente aprender a ler Pai Nosso e Ave Maria em latim e em português Credo em latim e em português Divisão destes artigos da fé Salve Rainha em latim e em português Os dez mandamentos da lei, e os cinco da Igreja Os sete sacramentos da Igreja As quatorze obras da misericórdia As virtudes teologais e morais Os dons e frutos do Espírito Santo Os inimigos da alma e os cinco sentidos Os pecados mortais e as virtudes contra eles A benção da mesa e as graças Tratado da missa Evangelho de São João, o Símbolo de Quicumqve uult e a Oração do Justo Juiz A oração de Obsecro te Domina Oração à hóstia e Oração ao cálice Os dias de jejuar e guardar, com as quatro têmporas, Oração ao Anjo da Guarda

[80]

[Leitura modernizada]

AO MUITO ALTO

| Fólio 2r

E EXCELENTE PRÍNCIPE DOM FELIPE nosso senhor, João de Barros, na introdução da gramática da língua portuguesa. Lemos, excelentíssimo Príncipe, na vida de Esopo, fabulador moral, que, perguntado por uma hortelã a causa pela a qual a terra mais facilmente criava as ervas que não recebiam benefício da agricultura, do que aquelas cuja semente lhe era entregue com tantos benefícios e mimos para ela as criar, respondeu que a terra era mãe das ervas que por si dava e madrasta das que nós queríamos que desse, porque assim punha sua virtude e força na criação das próprias, como as mães na criação de seus filhos, e tanta remissão nas sementes alheias, como as madrastas na criação de seus enteados. E a esta razão filosofal, ajudam os médicos com outra da criação dos meninos, dizendo que maior beneficio e mais nutrimento recebem do leite de suas próprias mães do que das amas, posto que mais grosso e de melhor compleição seja. Provam-se estes segredos e força da natureza nos mesmos meninos, os quais quando co|meçam a formar nossas | Fólio 2v palavras, em menos de dois anos sabem toda a língua que mamaram no leite. E as aprendidas depois de crescidos assim lhe ficam no lugar de madrastas, que sempre, na pronúncia, travam da mãe os preceitos da qual assim lhe são doces e naturais, que com deleite os aprendem, com amor os recebem, e com viva memória em toda a vida os retêm. Qual será, logo, a língua que nesta tenra e delicada idade de Vossa Alteza mais natural e obediente vos deve ser, senão a vossa portuguesa, de que Deus vos fez príncipe e rei em esperança? Aquela que na Europa é estimada, na África e na Ásia por amor, armas e leis tão amada e temida, que por justo título lhe pertence a monarquia do mar e os tributos dos infiéis da terra. Aquela que, como um novo apóstolo, na força das mesquitas e pagodes de todas as seitas e idolatrias do mundo, desprega pregando e vencendo as reais quinas de Cristo, com que muitos povos da gentilidade são metidos no curral do Senhor. Da qual obra agora temos um divino exemplo, na conversão de cinqüenta e sete mil almas na terra do Malabar, onde São Tomé, com tanto trabalho e martírio, passou desta vida à celestial glória. Com zelo de aprender a qual língua, quatro dos principais deste povo vieram este ano, por, mais sem pejo dos impedimentos da pátria, aqui neste reino a pudessem melhor praticar e, por ela, aprender os preceitos da lei em que esperam acabar. Aos quais o rei, vosso pai, como zelador da fé, mandou recolher na casa de Santo Elói desta cidade, para aí aprenderem com os outros africanos do |Congo, de que já temos | Fólio 3r bispos e teólogos, coisa decerto muito nova para a Igreja de Deus, ainda que

[81]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

profetizada no salmo setenta e um1. Pois gente em que tanto obrou a língua portuguesa, e que o amor dela os traz a tantas mil léguas, que língua por arte podem mais facilmente aprender senão aquela que neles obrou salvação? Porque eles, com amor do tal benefício, e os meninos destes reinos, por lhe ser mãe e não madrasta, mãe e não ama, vossa e não alheia, com tanto amor receberam os preceitos dela que, quando forem aos preceitos da gramática latina e grega, não lhe serão trabalhosos os que cada uma destas têm, pela conformidade que entre elas há, como se pode ver nestes preceitos da gramática de vossa língua portuguesa que ofereço a Vossa Alteza, a quem são devidas as primícias de todos os novos e proveitosos frutos. E antes que se trate da gramática, porei os primeiros elementos das letras, em modo de arte memorativa, por mais facilmente aprenderem a ler; e depois os preceitos da lei e os mandamentos da Igreja, com um tratado de ouvir a missa. E, no fim da gramática, vão dois diálogos, um em louvor da língua portuguesa e outro da sobeja vergonha, matéria conveniente à idade em cujo proveito esta vossa obra se compôs.

1 Salmo 71 da Vulgata: “Coram illo procident Aethiopes, et eius terram lingent. Reges Tharsis et insulœ munera offerent; Reges Arabum et Saba dona adducent”. Nas traduções portuguesas, trata-se do Salmo 72: “8 Domine de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra/9 Inclinem-se diante dele os seus adversários, e os seus inimigos lambam o pó/10 Paguem-lhe tributo os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Seba ofereçam-lhe dons.”

[82]

[Leitura modernizada]

1

INTRODUÇÃO PARA APRENDER A LER

Árvore/

Besta/

Cesto/

Dado/

Espelho/

Fogareiro/

Gato/

Homem/

Jarro/

Kágado/

Livro/

Moucho/

[83]

| Fólio 3v

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Fólio 4r |

Nau/

Olho/

Pente/

Quadrante/

Raposa/

Sereia/

Tesoura/

Viola/

Xarroco/

Zodíaco/

Outro a.b.c que temos em que há algumas letras dobradas. Fólio 4v |

l

á a b ç c d é e f g h j i y k m n ó o p q r r s s t v u x z

Destas trinta e uma letras, oito servem como vogais, sendo á a é e i ó o u

[84]

[Leitura modernizada]

Modo de compor as sílabas com duas, com três e com quatro letras.

| Fólio 5r

Sílabas por ajuntamento de duas letras. ⎧a ⎪e ⎪ B ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Fa fe fi fo fu.

Ça çe çi ço çu.

Ga gue gui go guu.

[85]

⎧a ⎪e ⎪ D ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Ja je ji jo ju.

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

⎧a ⎪e ⎪ L ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Pa pe pi po pu Ra re ri ro ru Va ve vi vo vu a⎫ e ⎪⎪ ⎪ i ⎬l o⎪ ⎪ u ⎪⎭

⎧a ⎪e ⎪ M ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Sa se si so su Xa xe xi xo xu

⎧a ⎪e ⎪ N ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Qua que qui quo quu Ta te ti to tu Za ze zi zo zu a⎫ e ⎪⎪ ⎪ i ⎬z o⎪ ⎪ u ⎪⎭

Am em im om um An en in on un Ar er ir or ur As es is os us

Sílabas por ajuntamento de três letras.

Fólio 5v |

Bal bel bil bol bul. Cal çel çil çol çul. Cal col cul. Dal del dil dol dul. Fal fel fil fol ful. Gal guel guil gol gul. Lal lel lil lol lul. Mal mel mil mol mul. Nal nel nil nol nul. Pal pel pil pol pul. Qual quel quil quol quul. Ral rel ril rol rul. Sal sel sil sol sul. Tal tel til tol tul. Val vel vil vol vul. Xal xel xil xol xul. Zal zel zil zol zul. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ B ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ C ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Cam com cum. Dam dem dim dom dum.

[86]

[Leitura modernizada]

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ F ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Gu ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Lam lem lim lom lum. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ M ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ N ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

Pam pem pim pom pum. Quam quem quim quom quum. Ram rem rim rom rum. sam sem sim som sum. Tam tem tim tom tum. Vam vem vim vom vum. Xam xem xim xom xum. Zam zem zim zom zum. Bar ber bir bor bur. Çar çer çir çor çur. Car cor cur. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ D ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ G ⎪⎨i ⎪⎬ m ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Jar jer jir jor jur Lar ler lir lor lur. Mar mer mir mor mur. Nar ner nir nor nur. Par per pir por pur. Quar quer quir quor quur. Rar rer rir ror rur. Sar ser sir sor sur. Tar ter tir tor tur.

[87]

| Fólio 6r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Var ver vir vor vur. Xar xer xir xor xur. Zar zer zir zor zur. a ⎧ ⎫ ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪e ⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪ ⎪ cas cos cus B ⎨i ⎬ a C ⎪⎨i ⎪⎬ a ⎪o ⎪ ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭ ⎪⎩u ⎪⎭ Das des dis dos dus. Fas fes fis fos fus. Guas gues guis guos gus. Jas jes jis jos jus. Las les lis los lus. Mas mes mis mos mus. Nas nes nis nos nus. Pas pes pis pos pus. Quas ques quis quos quus. Ras res ris ros rus Sas ses sis sos sus. Tas tes tis tos tus. Vas ves vis vos vus. Xas xes xis xos xus. Zas zes zis zos zus.

Fólio 6v |

Outra maneira de formar sílabas com três letras, das quais a do meio é uma líquida. Bla ble bli blo blu. Cla cle cli clo clu. Fla fle fli flo flu. Gla gle gli glo glu. Pla ple pli plo plu. Vla vle vli vlo vlu. ⎧a ⎪e ⎪ Br ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

⎧a ⎪e ⎪ Cr ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Fra fre fri fro fru. Gra gre gri gro gru.

[88]

⎧a ⎪e ⎪ Dr ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

[Leitura modernizada]

⎧a ⎪e ⎪ Pr ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

⎧a ⎪e ⎪ Tr ⎪⎨i ⎪o ⎪ ⎪⎩u

Tra tre tri tro tru.

Sílabas por ajuntamento de quatro letras. Blam blem blim blom blum. Clam clem clim clom clum. Flam flem flim flom flum. Glam glem glim glom glum. Plam plem plim plom plum. Bral Cral Dral Fral Gral brel crel drel frel grel bril cril dril fril gril brol crol drol frol grol brul crul drul frul grul Pral prel pril prol prul. Tral trel tril trol trul. Vral vrel vril vrol vrul. Bram brem brim brom brum. Cram crem crim crom crum. Dram drem drim drom drum. Fram frem frim from frum. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Gr ⎪⎨i ⎪⎬ M ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Pr ⎪⎨i ⎪⎬ M ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Tram trem trim trom trum. Vram vrem vrim vrom vrum. Brar Crar Frar Grar Prar brer crer Frer grer prer brir crir Frir grir prir bror cror Fror gror pror brur crur Frur grur prur Trar trer trir tror trur. Vrar vrer vrir vror vrur.

[89]

| Fólio 7r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Br ⎪⎨i ⎪⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭ Fólio 7v |

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Cr ⎪⎨i ⎪⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Outra maneira de formar sílabas ditongadas. Dras dres dris dros drus. Fras fres fris fros frus. ⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Gr ⎪⎨i ⎪⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Pr ⎪⎨i ⎪⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎩⎪u ⎭⎪

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Tr ⎪⎨i ⎪⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

⎧a ⎫ ⎪e ⎪ ⎪ ⎪ Vr ⎪⎨i ⎪⎬ S ⎪o ⎪ ⎪ ⎪ ⎪⎩u ⎪⎭

Bai bei boi bui. Cai çei çoi çui. Dai dei doi dui. Fai fei foi fui. Gai guei goi gui. Jai jei joi jui. Lai lei loi lui. Mai mei moi mui. Nai nei noi nui. Pai pei poi pui. Rai rei roi rui. Tai tei toi tui. Vai vei voi vui. Xai xei xoi xui. zai zei zoi zui. ⎧a ⎫ ⎪ ⎪ B ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Gau gueu gou

⎧a ⎫ ⎪ ⎪ C ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Jau jeu jou

⎧a ⎫ ⎪ ⎪ D ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Lau Leu Lou

Mau meu mou

[90]

Nau neu nou

⎧a ⎫ ⎪ ⎪ F ⎨e ⎬ u ⎪o ⎪ ⎩ ⎭

Pau peu pou

[Leitura modernizada]

Rau reu rou. Sau seu sou. Tau teu tou. Vau veu vou. Xau xeu xou. Zau zeu zou.

Outra maneira de formar sílabas próprias da língua portuguesa. Cha Nha

che nhe

chi nhi

cho nho

chu. nhu.

Lha lhe

lhi

lho

| Fólio 8r

lhu.

O proveito que tem saber muitas sílabas. Dado que em nossa língua não sirvam algumas destas sílabas e assim tanto as terminadas em consoante como as ditongadas, falando e escrevendo, aconteçam poucas vezes, não me pareceu sem fruto pôr exemplo delas, pois todas servem, assim no latim como em outras línguas. E o trabalho que nestas se levar será de grande proveito para os meninos, porque lhe faz a língua tão solta e acostumada a esta generalidade de sílabas que não se impeça na pronúncia das dicções; e, por mais, tira-lhe o cecear que é tão natural a todos, porque silabando e ditongando dicções estrangeiras, faz perder muita parte da pevide enquanto a língua é tenra. E estes pequenos princípios não parecem ociosos e sem fruto, porque, como diz Quintiliano: não é pouco sem o qual o muito não pode ser. Preceitos e mandamentos da Igreja, com algumas doutrinas católicas em que os meninos devem ser doutrinados. 2

| Fólio 8v

A Oração que Cristo ensinou a seus apóstolos.

Pater noster qui es in cœlis sanctificetur nomen tuum. Adueniat regnum tuum. Fiat voluntas tua, sicut in cœlo et in tærra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie. Et dimitte nobis debita nostra. Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo. Amen. Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o voos reino. Seja feita a vossa vontade, assim no céu como na terra. O pão nosso de cada dia, nos dai hoje. E perdoai nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixais cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém. Saudação do anjo a Nossa Senhora. Ave Maria gratia plena, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et | Fólio 9r benedictus fructus ventris tui, Iesus. Sancta Maria, mater dei, ora pro nobis peccatoribus. Amen.

[91]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores. Amém. 3

Símbolo dos apóstolos.

SÃO PEDRO Credo in deum patrem omnipotentem, creatorem cœli et tærre.

SANTO ANDRÉ Et in Iesum Christum filium eius vnicum, dominum nostrum.

Fólio 9v |

SANTA JOANA Qui conceptus est de Spitiru Sancto natus ex Maria virgine.

SÃO JÁCOMO Passus sub Pontio Pilato: cruxifixus, mortuus et sepultus.

SÃO TOMÁS Descendit ad inferos, tertia die resurrexit a mortuis.

SÃO JÁCOMO Menor Ascendit ad cœlos: sedet ad dexteram dei patris omnipotentis.

[92]

[Leitura modernizada]

SÃO FELIPE Inde venturus est iudicare vivos et mortuos.

SÃO BARTOLOMEU

| Fólio 10r

Credo in Spiritum Sanctum.

SÃO MATEUS Sanctam ecclesiam catholicam.

SÃO SIMÃO Sanctorum communionem, remissionem peccatorum.

SÃO JUDAS Tadeu Carnis resurrectionem.

SÃO MATIAS Vitam æternam. Amen.

Creio em Deus Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, | Fólio 10v seu único filho, Nosso Senhor. O qual foi concebido do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria. Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu aos infernos; ao terceiro dia ressurgiu dos mortos. Subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso. E daí há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo e na Santa Igreja Católica. No ajuntamento dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém. [93]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

4

Divisão destes artigos.

Estes artigos do Símbolo apostólico são divididos em quatorze, sendo sete que pertencem à divindade e sete que pertencem à humanidade. Os que pertencem à divindade. I. II. III. IV. V. Fólio 11r | VI. VII.

Crer em um só Deus todo poderoso Crer em Deus Pai Crer em Deus Filho Crer em Deus Espírito Santo Crer que Deus é criador Crer que é salvador Crer que é glorificador

Os que pertencem à humanidade. I. II.

VII.

Crer que o filho de Deus foi concebido do Espírito Santo Crer que nasceu de Maria, virgem antes do parto, no parto e depois do parto Crer que recebeu morte e paixão para salvar os pecadores Crer que desceu aos infernos e tirou os santos padres que lá jaziam, os quais esperavam sua vinda Crer que ressurgiu ao terceiro dia em corpo glorioso Crer que subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso Crer que há de vir no fim do mundo e julgar os vivos e os mortos

5

Saudação da Igreja a Nossa Senhora.

III. IV. V. VI.

Salue regina, mater misericordiæ, vita dulcedo et spes nostra, salue. Ad te clamamus, exules filii Euæ. Ad te suspiramus gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eya ergo aduocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos conuerte. Et Iesum benedictum fructum ventris tui nobis post hoc exilium ostende. O clemens, o pia, o dulcis virgo semper, Maria. Fólio 11v | Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A vós

bradamos os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, estes vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria.

[94]

[Leitura modernizada]

7

Os dez mandamentos da lei.

I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X.

Amar a Deus sobre todas as coisas Não invocar seu nome em vão Guardar domingos e festas Honrar pai e mãe Não matar Não pecar contra a castidade Não furtar Não levantar falso testemunho Não desejar a mulher do próximo Não cobiçar coisa alheia

Estes dez mandamentos se encerram em dois. Em amar a Deus sobre todas as coisas, e amar o próximo como a si mesmo. | Fólio 12r

Cinco são os mandamentos da Igreja. I. II.

Ouvir missa inteira aos domingos e festas de guarda Confessar uma vez na Quaresma, ou antes, ou se espera entrar em algum perigo de morte Comungar por obrigação em dia de Páscoa ou antes ou depois, segundo o costume do bispado Jejuar quando manda a Igreja Pagar dízimo e primícias

III. IV. V.

Os sete sacramentos da Igreja são. I. II. III. IV. V.

Batismo Crisma Confissão Comunhão Extrema unção

VI. VII.

Ordem sacerdotal Ordem matrimonial

⎫ ⎪ ⎪ ⎬ ⎪ ⎪⎭ ⎫ ⎬ ⎭

[95]

Estes são de necessidade.

Estes são de vontade.

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

As obras de misericórdia são quatorze. Fólio 12v |

Fólio 13r |

I. II. III. IV. V. VI. VII.

Visitar os enfermos Dar de comer a quem tem fome Dar de beber a quem tem sede Remir os cativos Vestir o nu Dar pousada ao peregrino Enterrar os finados

VIII. IX. X. XI. XII. XIII. XIV.

Ensinar os simples e sem doutrina Dar bom conselho a quem o há mister Castigar a quem há mister castigo Consolar o triste e desconsolado Perdoar a quem tem errado Sofrer as injúrias com paciência Rogar a Deus pelos vivos, que os livre do pecado mortal, e pelos mortos que os livre das penas do purgatório e os leve à sua glória

9

As sete virtudes teologais e morais.

I. II. III. IV.

Fé Esperança Caridade Prudência

V. VI. VII.

Fortaleza Temperança Justiça

⎫ ⎪ ⎬ ⎪ ⎭ ⎫ ⎬ ⎭

Estas são teologais.

Estas são cardeais.

10

Os dons do Espírito Santo são sete.

I. II. III. IV. V. VI. VII.

Sapiência Entendimento Conselho Ciência Fortaleza Piedade Temor a Deus

[96]

⎫ ⎪ ⎪⎪ ⎬ ⎪ ⎪ ⎪⎭ ⎫ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎬ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎭

Estas são corporais.

Estas são espirituais.

[Leitura modernizada]

Os frutos do Espírito Santo são doze. I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. XI. XII.

Caridade com Deus e com o próximo Prazer no serviço de Deus Paz com o próximo Paciência nas coisas adversas Continuação nos divinos serviços Bondade na própria vida Bondade acerca do próximo Modéstia no hábito, gesto e nas obras Mansidão nas adversidades Humildade nas obras Verdade nas palavras Castidade nos pensamentos

11 Os inimigos da alma que nos impedem de obrar virtude são

Os cinco sentidos que Deus nos deu para nossa salvação e seu serviço são

12 I. II. III. IV. V. VI. VII.

Os sete pecados mortais Soberba Avareza Luxúria Ira Gula Inveja Preguiça

13

A benção da mesa.

⎧ ⎨ ⎩

I. II. III.

⎧ I. ⎪ II. ⎨ III. ⎪ IV. ⎩ V.

o mundo. a carne. o diabo.

ver. ouvir. cheirar. gostar. apalpar.

As virtudes contra eles Humildade Largueza Castidade Paciência Temperança Caridade Diligência

Benedicite. Dominus. Oculi omnium in te sperant domine: et tu das illis escam illorum in tempore oportuno. Aperis tu manum tuam: et imples omne animal benedictione. Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio et nunc et semper: et in secula seculorum. Amen. Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison. Pater noster. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo. Oremus.

[97]

| Fólio 13v

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Benedic nos domine et donaque de tua largitate sumus sumpturi. Per Christum dominum nostrum. Amen. Fólio 14r | Iube domne benedicere, Mense celestis participes faciat nos rex eterne glorie. Amen. Deus charitas est: et qui manet in charitate in deo manet et deus in eo: et nos maneamus semper cum eo. As graças. Omnis spiritus laudet dominum. Tu, autem, domine, miserere nostri. Deo gratias. Agimus tibi gratias, omnipotens eterne deus, pro universis beneficiis tuis, qui viuis et regnas deus in secula seculorum. Amen. Laudate dominum omnes gentes, laudate eum, omnes populi. Quoniam confirmata est super nos misericordia eius, et veritas domini manet in eternum. Gloria. Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison. Pater noster. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo. Dispersit dedit pauperibus. Iustitia eius manet in seculum seculi. Benedicam dominum in omni tempore. Semper laus eius in ore meo. In domino laudabitur anima mea. Audiant mansueti et letentur. Magnificate dominum mecum. Et exaltemus nomem eius in id ipsum. Sit nomem domini benedictum. Ex hoc nunc et vsque in seculum. Oremus. Retribuere dignare domine Iesu Christe omnibus nobis bona facientibus propter nomem sanctum tuum vitão eternam. Amen. Benedicamus domino. Deo gratias. Deus det nobis pacem: defunctis requiem et nobis, post hanc vitam, vitam eternam. Amen. 14

Tratado da missa

Fólio 14v | Todo o mistério da nossa salvação se encerra no sacramento da Eucaristia, o

qual, pela existência do corpo e sangue de Cristo, é a mais excelente de todas as ofertas e sacrifícios que se podem oferecer a Deus, por reverência do qual é celebrado o oficio da missa com grande solenidade. E, segundo a etimologia que lhe deram, missa é um mandado ou embaixada, a qual Cristo começou a cumprir entrando neste mundo; e se acabará quando a Igreja, sua esposa, for trespassada da mundana Babilônia à celestial Jerusalém. Este oficio da missa celebrou Cristo, nosso verdadeiro sacerdote (segundo a ordem de Melchisedech) no dia da ceia, transubstanciando o pão e o vinho no seu verdadeiro corpo e sangue; e mandou a seus apóstolos que celebrassem este santo sacramento em memória de sua paixão. E está ordenado com tão divina ordem, que todas as coisas que por Cristo e em Cristo são feitas, a maior parte se contém nesta missa, e por uma maravilhosa semelhança as representa assim em palavras como em sinais. Tão bem é representada nela a peleja e vitória do sacerdote contra o demônio, em nossa defesa. Para a qual guerra se arma com estas vestimentas sagradas: loriga de justiça, cinto de continência, escudo de fé, capacete de saúde, cutelo de espírito. E assim se arma com orações e cerimônias divinas que diz e faz do [98]

[Leitura modernizada]

princípio até o fim dela. E o primeiro que a celebrou foi São Pedro, pastor da Igreja, e |entre os apóstolos, Jacob Alfeu, e foi-lhe dado por eles esta honra, por | Fólio 15r razão da excelência de sua santidade. Consiste esta missa em quatro coisas: em pessoas, em obras, em palavras e em coisas. Nas pessoas, há aí três ordens: os que celebram, os que ministram e os circunstantes. Nas obras, três espécies: gestos, autos e movimentos. Nas palavras, três diversidades: orações, modulações e lições. E nas obras, três fortes: ornamentos, instrumentos e elementos. E deixadas muitas divisões que os católicos fazem do ofício da missa, nós o repartimos em três partes para os meninos, cuja esta obra é para que tenham doutrina conforme a sua idade. A primeira parte será material: em que se contém as coisas materiais dela, com declaração do que significam. A segunda espiritual, em que se tratam das orações, modulações, autos e cerimônias espirituais, dando delas alguns significados e é assim que os pontífices as ordenaram. A terceira será moral, em que veremos o que deve fazer todo fiel Cristão enquanto nela estiver. Primeira parte material Para que este divino sacrifício em nenhuma parte seja mais aceito a Deus do que nos templos, por serem para isso dedicados a ele, não trataremos das suas partes e do que significam, somente dos sinos que nos chamam a orar |a Deus, para os | Fólio 15v quais podemos entender as trombetas do Velho Testamento e a pregação do Novo que chama os povos à fe. O vaso do sino significa a boca do pregador e, em ser de metal, denota a força de seu entendimento. E o badalo, que o faz soar dando em uma e em outra parte, é a língua do pregador que toca em ambos os testamentos, o Novo e o Velho. A imagem da cruz deve estar sempre na Igreja porque ela representa Cristo crucificado, nossa redenção, cuja imagem sempre devemos ter em nossas almas. As procissões representam como Cristo veio ao mundo do céu do Pai, do presépio ao templo, de Betânia à Jerusalém e de Jerusalém ao Monte das Oliveiras, para nos levar deste mundo à pátria celestial. Água benta que se asperge sobre o povo é para que fujam os espíritos imundos, tanto de nossas almas como dos lugares sagrados para podermos louvar e glorificar a Deus, como ordenou o Papa Alexandre2. O sacerdote é médico espiritual que, com os sete sacramentos da Igreja, compõe mezinhas para nos purgar e limpar de todos os pecados. O qual, para celebrar esta missa, primeiramente se despe, significando pedir que se renove nele o novo homem (como diz São Paulo3). E, depois, lava as mãos a denotar que a sua consciência por contrição é lavada e limpa de todo o pecado.

2 3

Possivelmente Alexandre II, cujo papado foi de 1061 a 1073. Vulgata: Efésios IV (23-24). [99]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja] Fólio 16r |

O amito, que é a primeira peça que põe sobre a |cabeça, significa o pano com que os judeus cobriram o vulto de Cristo dizendo: profetiza quem te deu. A alva significa a vestidura que Herodes vestiu a Cristo, a qual era maior que o seu corpo para que lhe impedisse o andar e fosse causa de cair muitas vezes. E, por isso, deve ser maior que o sacerdote. O manípulo significa o baraço com que foi preso. A estola, as cordas com que o ataram à coluna, onde foi açoitado. O cordão com que o sacerdote se cinge significa as vergas com que lhe deram os açoites. A casula é a vestidura de púrpura que Pilatos lhe vestiu. E, assim revestido, chega o sacerdote ao altar, representando como Cristo veio à cruz. O altar significa esta cruz em que padeceu. O cálice, o sepulcro em que foi posto. A patena, a pedra que foi posta à entrada do monumento. Os corporais, o sudário do rosto. A pálea significa o lençol em que o envolveram quando o sepultaram. Segunda parte espiritual.

Armado o sacerdote com estas armas espirituais e posto diante do altar, começa o intróito da missa, o qual significa as vozes que os santos padres davam no Fólio 16v | limbo, com desejo da encarnação do filho de Deus. A este intróito se jun|ta Glória ao Pai porque, ainda que ao filho somente pertença à encarnação, toda a trindade obrou este mistério. E, a rogo de São Jerônimo, Papa Dâmaso I instituiu que, após os salmos, se repetisse este Glória ao Pai, o qual se compôs no Concílio Niceno. O salmo Iudica me Deus que se diz antes da confissão, Celestino I instituiu que se dissesse aquele tempo e, Dâmaso I, a confissão. Os quírios, Papa Silvestre os tomou do grego e São Gregório instituiu que se cantassem à missa três vezes, em louvor da Trindade, e são três vezes três, em memória das nove ordens dos anjos. E por este Kyrie eleison, que quer dizer Senhor Deus amercea-te de nós é significada a sua vinda em nossas almas. E o mesmo São Gregório ordenou a antífona que se segue. Bispo Hilário mandou cantar Gloria in excelsis deo, que os anjos cantaram no nascimento de Cristo. E acrescentou daquele lugar Laudamus te, até o fim dela. E Papa Símaco mandou que se cantassem nos dias de festa. Acabada a Gloria o sacerdote se volta ao povo e diz: Dominus vobiscum, expressão tirada do Velho Testamento, da saudação com que Booz4 saudou os seus seguidores e eles responderam: Benedicamus Domino, que também se diz no fim da missa. Entretanto, o coro não responde com esta palavra, mas com outra das epístolas de São Paulo que diz: Et cum spiritu tuo. E, em toda a missa, o sacerdote se Fólio 17r | volta cinco vezes ao povo, em memória que |no dia da ressurreição Cristo apareceu cinco vezes. E este saúda o povo, a primeira vez, antes da primeira 4

Vulgata: Rute I (1-4). [100]

[Leitura modernizada]

oração; a segunda, antes do evangelho; a terceira, depois do Credo; a quarta, no princípio do prefácio; a quinta, depois que diz: Pax domini sit semper vobiscum; a sexta, depois da comunhão; a sétima no fim da missa, a denotar que então é o Senhor conosco, quando temos os sete dons e graças do Espírito Santo que, por estas sete saudações, são significados. E, quando o sacerdote acaba de saudar o povo e se vira ao altar dizendo Oremus, convoca, com esta palavra, os fiéis a orar, mostrando ser indigno para, por si só, o fazer; e também significa o que Cristo disse aos apóstolos: Orai, para que não caias em tentação. E, em prosseguir na oração, denota que, orando, Cristo nos deu exemplo que o fizéssemos. As quais orações Papa Gelásio mandou que se cantassem. As epístolas e evangelhos, São Jerônimo os recolheu, e Papa Alexandre instituiu que se lessem à missa. E Dâmaso determinou que se dissessem como se ora dizem. A epístola significa o oficio de São João, precursor de Cristo que veio ante a sua face e a dizer: Fazei penitência; responde o gradual, e porque depois da penitência se segue o prazer, a este responde: Alleluia, que é canto de alegria; e estas duas partes Santo Ambrósio compôs e São Gregório instituiu que se cantassem à missa. E porque, sobre a doutrina de São João, veio a de Cristo segue-se o evangelho, depois do qual vem a fé dos apóstolos, que |se denota pelo | Fólio 17v Credo. E este se compôs no Concílio Niceno, o qual Martinho, pontífice, mandou que, nos dias de festa, se cantasse à missa. E, em se ler o evangelho, a parte esquerda do altar denota que os pecadores são chamados por Cristo. E dizse contra o aquilão para evitar os maus espíritos e imitar os bons, porque pelo aquilão se entende o diabo, contra o qual é o evangelho. A oferenda, São Gregório a compôs e mandou que, a ela, cantasse o coro, a denotar que com alegria devemos oferecer a Deus. Símaco compôs um prefácio que é o quotidiano e Gelásio compôs nove, segundo as festas do ano. Representa o prefácio aquele prazer dos meninos que iam cantando diante de Cristo no Dia de Ramos. E, no fim do prefácio, Sisto ordenou que se dissesse: Sanctus, sanctus, sanctus, dominus deus sabaoth, que foi tirado de Isaías, profeta e Sursum corda, de Geremias e Gratias agamus domino deo nostro, do apóstolo Paulo. Vão nesta missa três línguas: Kyrie eleison (grega), Sabaoth, hossana e Amen (hebraicas); e todas as outras partes são latinas, em memória e confirmação do título da cruz, a denotar que a todas as gentes foi notificada a paixão do filho de Deus e que nela hão-se todos de salvar. Alexandre, Gelásio e Sirico compuseram o cânone Te igitur até aquele lugar: Qui pridie quam pateretur. E o Papa Leão, o Grande, acrescentou Hanc igitur oblationem até aquela palavra Placatus accipias. E São Gregório acrescentou estas três petições: Diesque nostros in tua pace | Fólio 18r disponas, Ab eterna dam natione nos eripi. In electorum tuorum iubeas grege numerari. No qual cânone se contém muitos sacramentos e espiritualidades que, pela excelência das palavras sacramentais, fiquem em sua religião, porque também a língua não o padece. Pax domini sit semper vobiscum se tirou do Novo Testamento; Inocêncio constituiu que se dissesse à missa. Inocêncio, o [101]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

primeiro, ordenou o beijar da paz entre os sacerdotes, e Leão, o Segundo, mandou que se desse ao povo, em memória da paz que Cristo dava aos seus apóstolos. Papa Sérgio compôs o Agnus dei e mandou que se cantasse à missa. Ite missa est foi tirado do Velho Testamento, quando o Faraó mandou ir o povo do Egito ou quando Ciro o mandou ir da Babilônia e representa o que foi dito aos apóstolos quando Cristo subiu aos céus Viri galilei, etcetera. Outras muitas partes e cerimônias tem este sacramento da missa, que contém em si grandes mistérios e doutrina para a nossa contemplação, de que o racional dos divinos ofícios copiosamente trata e assim outros tratados onde os devotos podem estudar. Fólio 18v |

Terceira parte moral. Chamados pelos sinos que vamos a este santo sacrifício que, por nossas culpas, se oferece no templo, entrando pela porta diremos: Introibo in domum tuam adorabo ad templum sanctum tuum et consitebor nomini tuo domine. E, chegando à pia de água benta, quando não for da mão do sacerdote, a tomaremos com a nossa própria e, fazendo o sinal da cruz na fronte, na boca e sobre o coração, diremos: Aqua benedicta sit nobis salus et vita. Faremos o sinal na fronte porque nela está o conhecimento, pelo o qual entendemos ser feitura de Deus; na boca, porque, com ela, havemo-nos de confessar; e no coração porque, com todo ele havemo-nos de amar. Recebida a água benta, pondo ambos os joelhos na terra, adoraremos o crucifixo, se estiver na Igreja ou a cruz, em sua memória, representando nela Cristo encravado por nossa redenção. E dirá cada um a oração de que for mais devoto, com os olhos postos na imagem e a atenção em Deus, porque, segundo a escritura, àquela hora estamos ante a sua majestade. Feita nossa oração, se for domingo, começando o asperges, levantar-nos-emos em pé, até o fim da oração. E, entrando ao intróito da missa, posto os joelhos em terra, com a cabeça descoberta, faremos o sinal da cruz acostumado, imitando o sacerdote e respondendo aos seus versos, os quais começam assim:

Fólio 19r | Sacerdote. Sancti spiritus assimt nobis gratia.

Ministro. Amen. Sacerdote. Confitemini domino quoniam bonus. Ministro. Quoniam in seculum misericordia eius. Sacerdote. Iudica me deus et discerne causam meam de gente non sancta: ab homine iniquo et doloso erue me. Ministro. Quia tu es deus fortitudo mea: quare me repulisti et quare tristis incedo dum affligit me inimicus. Sacerdote. Emitte lucem tuam et veritatem tuam: ipsa me deduxerunt et adduxerunt in montem sanctum tuum et in tabernacula tua. Ministro. Et introibo ad altare dei: ad deum qui letificat iuuentutem meam. Sacerdote. Confitebor tibi in cithara deus deus meus: quare tristis es anima mea:et quare conturbas me.

[102]

[Leitura modernizada]

Ministro. Spera in deo quoniam adhuc confitebor illi: salutare vultus mei et deus meus. Sacerdote. Gloria patri et filio et spiritui sancto. Ministro. Sicut erat in principio et nunc et semper: et in secula seculorum. Amen. Sacerdote. Dignare domine die isto. Ministro. Sine peccato nos custodire. Sacerdote. Confitemini domino quoniam bonus. Ministro. Quoniam in seculum misericordia eius. Sacerdote. Ego peccator confiteor deo et beate Marie virgini: et beatis apostolis Petro et Paulo et omnibus sanctis dei: quia peccaui nimis in vita mea contra legem dei mei, ore, corde, cogitatione, locutione, omissione, consensu, visu, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo deprecor beatissimam virginem Mariam et omnes sanctos et sanctas dei: et vos pater vt oretis pro me peccatore ad dominum deum nostrum vt misereatur mei. Ministro. Misereatur vestri omnipotens deus et di|missis omnibus peccatis | Fólio 19v vestris: perducat vos dominus noster Iesus christus cum suis sanctis ad vitão eternam. Sacerdote. Amen. Logo dira o ministro. Ego peccator. Etcetera. Sacerdote. Indulgentiam et absolutionem omnium peccatorum vestrorum tribuat vobis omnipotens et misericors dominus. Ministro. Amen. Sacerdote. Deus tu conuersus viuificabis nos. Ministro. Et plebs tua letabitur in te. Sacerdote. Ostende nobis domine misericordiam tuam. Ministro. Et salutare tuum da nobis. Sacerdote. Domine exaudi orationem meam. Ministro. Et clamor meus ad te veniat. Sacerdote. Dominus vobiscum. Ministro. Et cum spiritu tuo. Sacerdote. Oremus. Aufer a nobis que sumus domine cunctas iniquitates nostras vt ad sancta sanctorum puris mereamur mentibus introire per Christum dominum nostrum. Ministro. Amen. Acabada esta oração, sobe o sacerdote ao altar, depois pelo discurso do ofício da missa diz estas palavras, a que havemos de responder com suas respostas que vão diante delas. Sacerdote. Per omnia secula seculorum. Ministro. Amen. Sacerdote. Initium sancti euangelij secundum Ioannem. Ministro. Gloria tibi domine. [103]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Sacerdote. Sursum corda. Ministro. Habemus ad dominum. Sacerdote. Gratias agamus domino deo nostro. Ministro. Dignum et iustum est. Sacerdote. Pax domini fit semper vobiscum. Ministro. Et cum spiritu tuo. Sacerdote. Ite missa est. Ministro. Deo gratias. Sacerdote. Benedicamus domino. Ministro. Deo gratias. E, quando na confissão passada dissermos, Mea culpa, mea culpa, mea grauissima culpa, bateremos três vezes no peito, denotando as três partes da Fólio 20r | penitência: contrição, confissão e |satisfação. E, porque, enquanto estivermos à missa, somos obrigados a fazer algumas coisas, colocaremo-nas aqui, como regras gerais. A primeira e principal regra é estarmos muito atentos enquanto se disser a missa, assim quando ouvirmos o que nela se diz como quando rezarmos. Porque, praticando ou fazendo rumor, já não ouvimos missa, mas desacatamos ao mistério dela e damos torvação àqueles que nos ouvem. A segunda é que, quando ouvirmos nomear o nome de Jesus, inclinemos a cabeça com muita reverência e ponhamos os joelhos na terra. Por que, segundo São Paulo5, a este nome todo joelho se inclina celestial, terreno e infernal. A terceira: antes da missa acabada, não se deve alguém sair da Igreja, senão com grandíssima necessidade. Principalmente nas missas do domingo e festas, por serem de obrigação. A quarta: que nos domingos e festas ofereçamos à missa nossas ofertas: porque diz a escritura não aparecerás vazio diante de Deus. A quinta: que nestes tais dias ouçamos a missa inteira. A sexta: às vezes que o sacerdote se voltar a nós dizendo Dominus vobiscum, porque fala conosco, nos levantaremos em pé e responderemos a sua saudação: Et cum spiritu tuo. E também nos levantaremos em pé quando, antes do Fólio 20v | prefácio, se vira a nós e diz: Orate pro me fratres vt meum ac|vestrum sacrificium acceptabile fiat apud deum omnipotentem. Ao qual responderemos: Suscipiat dominus sacrificium de manibus tuis ad laudem et gloriam nominis sui ad vtilitatem quoqve nostram totiusqve ecclesie sue sancte. Sétima regra: enquanto disserem as orações a que chamam ‘Coletas’, ‘Evangelho’, ‘Credo’, ‘Prefácio’ e ‘Ite missa est’, havemos de estar em pé e mui prontos e atentos, posto que não entendamos estas coisas, pedindo a Deus, em nossos corações, que nos faça participantes do que nossas orelhas ouvem. Prepostas estas regras gerais, quando o sacerdote estiver aos quírios, nós podemos sentar e rezar a ele nossas orações; e assim nós podemos sentar à epístola e responder com seu verso e Alleluia, tirando as missas do Espírito 5

Vulgata: Flipenses II (1-11). [104]

[Leitura modernizada]

Santo. Porque, depois da aleluia, quando se diz: Veni sante spiritus, nós devemos nos por em joelhos com as mãos levantadas, pedindo a Deus que ouça os ministros daquele altar, os quais, naquele verso, pedem que venha sobre nós o Espírito Santo e nos acenda no fogo de seu amor. Começando o evangelho, levantados em pé, faremos o sinal da cruz na fronte, na boca e no coração, pedindo a Deus que pela virtude daquele santo sinal, no entendimento sejamos iluminados, para crer; na boca, poderosos para confessar; e no coração, esforçados para defender e lutar por aquele santo evangelho. E daí tornaremos a fazer outro sinal da cruz da cabeça até os peitos, para que o demônio não seja poderoso de nos levar |do coração a semente daquela santa palavra, mas em | Fólio 21r virtude dela respondamos com obras de fruto centenário. E, quando começar o credo, também nos levantaremos em pé, a denotar a prontidão e diligência que temos para a defesa daqueles artigos. E em dizendo esta palavra: Et homo factus est, poremos ambos os joelhos na terra, dando graças a Deus que, por nos salvar, lhe aprouve vestir a nossa humanidade. Entrando ao prefácio, nos levantaremos em pé e, a esta palavra, Sursum corda, faremos o sinal da cruz acostumado. E dizendo Gratias agamus domino deo nostro, poremos os joelhos na terra e daí não nos levantaremos até que digam: Sanctus, sanctus, sanctus, dominus deus sabaoth. E a esta palavra: Benedictus qui venit, nos benzeremos e postos em joelhos, podemos rezar nossas orações, até que o sacerdote tome a hóstia para a levantar. Aqui, com toda eficácia e prontidão, nos encomendaremos a Deus, pedindo-lhe perdão por nossos pecados, pelas mais humildes palavras que sua devoção e fervor espiritual lhe ensinar. Entretanto, a oração que mais convém a todo fiel cristão é o Pai Nosso, porque esta nos ensinou Cristo e nela se encerram todas as petições justas que em outras podemos pedir a Deus e esta lhe é a mais aceita pela excelência e divindade do mestre que a compôs e a ensinou. Depois que a segunda vez levantar a hóstia, quando disser a oração do Pai Nosso, a ouviremos muito atentos. E a esta palavra, Sed libera nos a malo, pediremos a Deus que por inter|cessão de Cristo, que esta oração nos ensinou e, | Fólio 21v pelos rogos da Virgem, sua mãe, e dos apóstolos Pedro, Paulo, André e todos os outros santos, nos livre dos males passados, presentes e futuros, segundo o sacerdote que por si e por nós pede. E como ele faz o sinal da cruz com a paz e depois a beija, assim nós faremos o mesmo sinal em nós. Quando disser o Agnus Dei, diremos a Cristo: assim como tu Senhor és chamado cordeiro pela obediência que tiveste ao pai e à notícia da mãe e à redenção do gênero humano, pedimos-te que não desistas de te amercear de nós, como não desististe de nos remir com os tormentos de tua paixão até tua morte. Estas palavras que o sacerdote diz Domine non sum dignus, vt intres sub tectum meum, sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea, nós as diremos com ele, contemplando a fé que o centurião teve quando as disse a Cristo, com que mereceu dizer Cristo por ele que não achara tanta fé em Israel. E porque se dizem três vezes, bateremos outras tantas nos peitos, em memória da Santíssima Trindade a que ofendemos ao pensar, ao falar e ao obrar. [105]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Acabando o sacerdote de comungar, porque até o fim da missa são orações e saudações, estaremos em pé e assim também ao ‘evangelho’. Somente à saudação de Nossa Senhora estaremos em joelhos, tirando os tempos que por memória da ressurreição de Cristo, manda a Igreja que estejamos levantados. Ao qual pelos merecimentos deste santo sacrifício, memória de sua paixão, prazerá Fólio 22r | levar-nos àquela glória em que ele |com o Pai vive e reina per infinita seculorum secula. Amen. Deo gratias. 15

O Evangelho de São João

No começo era a palavra e a palavra era acerca de Deus, e Deus era a palavra. Isto era no começo acerca de Deus, e todas as coisas são feitas por ele e sem ele nada é feito. O que é feito nele era a vida, e a vida era luz dos homens. E a luz brilha nas trevas e as trevas não o compreenderam. Um homem foi enviado de Deus, o qual havia por nome João. Este veio em testemunho, para que desse testemunho da luz para que todos cressem nele. Ele não era luz, mas para que desse testemunho da luz. Era luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo. No mundo era e o mundo foi feito por ele e o mundo não o reconheceu. E nas suas próprias coisas veio e os seus não o receberam. E a todos os que o receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aqueles que crêem no seu nome, que não de sangue nem de leite, nem de carne, nem de leite de barão, mas são nascidos de Deus. E a palavra é feita carne e morou em nós, e vimos a sua glória, glória de um verdadeiramente gerado do Pai cheio de graça e verdade. Fólio 22v |

O Símbolo de Quicumque Uult.

Quem quiser ser salvo, antes de todas as coisas há mister que tenha a fé católica. A qual se cada um não guardar inteira e não corrompida, sem dúvida perecerá para sempre. E a fé católica é esta: que honremos um Deus em Trindade, e a Trindade em unidade. Não confundindo as pessoas, nem apartando a substância. Em guardar outra é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas do Pai e do Filho e do Espírito Santo, uma é a divindade igual glória, majestade sempre durável. Qual é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo. Não criado é o Pai, não criado é o Filho, não criado é o Espírito Santo. Sem medida é o Pai, sem medida é o Filho, sem medida é o Espírito Santo. Eterno é o Pai, eterno é o Filho, eterno é o Espírito Santo. Porém, não são três eternos, mas um eterno. Assim como não são três não criados, nem três grandes sem medida, mas um não criado, e um sem medida. Semelhantemente o Pai é Todo Poderoso, o Filho é Todo Poderoso, o Espírito Santo é Todo Poderoso. Porém, não são três todos poderosos, mas um Todo Poderoso. Assim Fólio 23r | é Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. Porém, não são três |deuses, mas

[106]

[Leitura modernizada]

um só Deus. Assim, o Senhor é o Pai, o Senhor é o Filho, o Senhor é o Espírito Santo. Porém, não são três Senhores, mas é um Senhor. Porque, como pela verdade cristã, somos constrangidos a confessar cada uma pessoa por si ser Deus e Senhor, assim dizer três deuses ou três Senhores, pela religião cristã, não nos é permitido. O Pai não é feito de alguém, nem criado, nem gerado. O Filho do Pai não é feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não é do Pai e do Filho criado, nem gerado, mas procedente. Portanto, um é o Pai e não são três pais, um é o Filho e não são três filhos, um é o Espírito Santo e não são três espíritos santos. Nesta Trindade, não há aí coisa primeira, nem derradeira, nenhuma coisa é maior nem menor, mas todas as três pessoas são juntamente sempre duráveis e iguais. Assim, que por todas as coisas como já é sobredito, a unidade na Trindade e a Trindade na unidade há de se honrar. Pois, todo aquele que quiser ser salvo assim senta da Trindade. Mas coisa necessária é a saúde perdurável que outrossim a encarnação de Jesus Cristo, Nosso Senhor, cada um fielmente creia. Pois é fé direita que creiamos e confessemos que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. Deus é da substância do Pai, antes do tempo gerado, homem é da substância da mãe, no tempo nascido. Perfeito Deus, perfeito homem de alma racional e de carne humana subsistente. Igual ao Pai, segundo a divindade, e menor do que o Pai, se|gundo a humanidade. O qual | Fólio 23v ainda que seja Deus e homem, porém não são dois, mas um Cristo. Digo um, não por conversão da divindade em carne, mas por recebimento da humanidade em Deus. Um, sem dúvida, não pela confusão da substância, mas pela unidade da pessoa. Porque assim como a alma racional e a carne é um homem, assim Deus e homem é um Cristo. O qual padeceu por nossa saúde, desceu aos infernos, ressurgiu dos mortos ao terceiro dia. Subiu aos céus e está à direita de Deus Pai Todo Poderoso. E daí há de vir julgar os vivos e os mortos. A cuja vinda todos os homens hão de ressurgir com seus corpos e hão de dar razão de seus próprios feitos. E, os que boas coisas fizeram, irão à vida perdurável. E os que más coisas fizeram, irão ao fogo sem fim. Esta é a fé católica, a qual se cada um fiel e firmemente não crer, não poderá ser salvo. Oração do Justo Juiz. Justo juiz, Jesus Cristo, rei dos reis e Senhor, que com o Pai reina sempre e com o Espírito Santo tem por bem de receber agora os meus rogos piedosamente. Tu descendeste dos céus no ventre da Virgem, de onde, tomando verdadeira carne, visitaste o mundo, remindo tua feitura por teu próprio sangue. Peço-te, Deus meu, que a tua gloriosa paixão me defenda sempre de todo perigo, para que persevere sempre no teu serviço. Esteja |sempre comigo a tua virtude, saúde e | Fólio 24r defesa, para que o encontro com meus inimigos não torve o meu coração, nem o meu corpo seja danado por laço enganoso. Com a tua direita forte, com que abriste as portas infernais, aquebranta os meus inimigos e as suas espreitações, [107]

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

com as quais querem ocupar as carreiras do meu coração. Ouve, Cristo, a mim que brado, miserável, rogando e, a mim, que busco piedade, manda consolação, para que não se levantem os inimigos em doesto meu. Sejam destruídos e enfraqueçam os que me querem perdido, seja o laço da inveja a eles em queda. Jesus, bom e piedoso, não me queira desamparar, sejas tu meu escudo guardador e defensor para que resista aos que de mim detraem, sendo tu governador e, depois deles vencidos, me alegre longamente. Envias, das altas sendas, o santo consolador que ilumina o meu conselho no teu resplendor e tu arredais de mim todos os que me querem mal. Guarneça os meus sentidos com o sinal da tua santa cruz e, com o pendão da vitória, me faça vencedor e, vencido o inimigo, faleçam as suas forças. Amercea-te de mim, Cristo, filho de Deus unigênito, amercea-te de mim que te rogo, Senhor dos anjos, tu, dador do perdão, nunca se esqueça de mim, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, que sempre um Deus e Senhor é chamado, a ti seja virtude perdurável e honra para sempre. Amém.

16

A oração de Obsecro te domina

Fólio 24v | Rogo-te Senhora Santa Maria, mãe de Deus, mãe de piedade mui comprida,

filha do muito alto rei, mãe mui gloriosa, mãe dos órfãos, consolação dos desconsolados, carreira dos errados, saúde dos que esperam em ti, virgem antes do parto, virgem no parto, virgem depois do parto. Fonte de misericórdia, de saúde e graça, fonte de consolação e de perdão, fonte de piedade e alegria. Rogo-te por aquela santa alegria que não poderia falar, pela qual se alegrou teu espírito naquela hora quando, pelo anjo Gabriel foi-lhe dito e anunciado a concepção do filho de Deus em ti. E por aquele divino mistério que então o Espírito Santo obrou em ti. E por aquela santa e não estimável piedade, graça e misericórdia, amor e humildade, pelos quais o teu filho desceu a tomar carne no teu muito honrado ventre. E por aqueles olhos com os quais te olhou quando, estando na cruz, te encomendou a São João, apóstolo e evangelista. E quando te exaltou sobre os choros dos anjos e por aquela santa e incomparável humildade na qual tu respondeste ao arcanjo Gabriel dizendo Eis aqui a serva do Senhor, seja feito em mim segundo a tua palavra. E por aqueles quinze prazeres mui santos que houveste do teu filho Jesus Cristo, Nosso Senhor. E por aquela santa e mui grande paixão e muito amargosa dor do teu coração que houveste quando Fólio 25r | o teu muito doce filho, diante da cruz, nu e |nela levantado, viste pender crucificado, chagado, havendo sede viste lhe darem fel, e ouviste-o bradar e viste-o morrer. E pelas cinco chagas do teu filho, e pelo apertamento das suas entranhas, e pela grande dor das suas chagas, e pela dor que houveste quando o viste chagar, e pelas fontes do seu sangue, e por toda a sua paixão e toda a dor do teu coração, e pela fonte das tuas lágrimas, que com todos os santos e escolhidos de Deus venhas e te achegues em minha ajuda e conselho, em todas as minhas orações e pedidos, e em todas minhas angústias e necessidades. Em

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[Leitura modernizada]

todas aquelas coisas que tenho de fazer, falar e cuidar em todos os dias, horas e momentos da minha vida. E a mim, indigno servo teu, impetres do teu amado filho cumprimento de todas as virtudes com toda misericórdia e consolação, conselho e ajuda com toda benção, santificação com toda saúde, paz e boa andança, com todo prazer e alegria. E, outrossim, abundância de todos os bens espirituais e corporais e graça do Espírito Santo, a qual me ordene bem em todas as coisas e guarde minha alma, erija meu corpo, levante a minha vontade e corrija o meu siso, e endireite o meu curso da minha vida, componha os meus costumes, proveja os meus feitos, e cumpra os meus votos e desejos, e me ensine os santos pensamentos, perdoe todos meus males e pecados passados, e emende os presentes, e tempere os por vir, e me dê vida honesta e digna de honra, vencimento contra todas as adversidades deste mundo, verdadeira luz espiritual e corpórea, esperança, fé, caridade e castidade, paciência, humildade, e | Fólio 25v os cinco sentidos de meu corpo guarde e erija, e as sete obras de misericórdia me faça cumprir, e os doze artigos da fé firmemente ter e crer, e os dez mandamentos da lei guardar e cumprir, e me livre e me defenda de todos os sete pecados mortais até o fim. E nos meus derradeiros dias me mostre a tua mui gloriosa face e me reveles o dia de minha morte, e que ouças e recebas esta humilde oração, e me dês a vida eterna. Ouve-me Senhora, ouve-me mui doce Virgem Maria, mãe de Deus, mãe de piedade e misericórdia. Amém.

17

Oração à hóstia.

Adoramos-te Senhor Jesus Cristo e benzemos a ti que, pela tua santa cruz remiste o mundo, desataste Senhor as minhas correntes. A ti sacrificarei hóstia de louvor, e a teu nome chamarei; rogo-te, Senhor, que me perdoes os meus pecados. Amém. Oração ao cálice. Adoro-te sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual foi derramado pela linhagem humana. Rogo-te, Senhor, te apraza de te amercear da minha alma. Amém.

18

Os dias de jejuar e guardar são os que se seguem. Janeiro tem trinta e um dias.

A circuncisão de Nosso Senhor, guardar. O dia dos reis, guardar e não jejuar. São Vicente, jejuar e guardar, no arcebispado de Lisboa.

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| Fólio 26r

[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Fevereiro tem vinte e oito dias. A purificação de Nossa Senhora, jejuar e guardar. Março tem trinta e um dias. Páscoa com três dias, jejuar e guardar. Anunciação de Santa Maria, jejuar e guardar. A quinta-feira das indulgências, desde a missa da quinta-feira ate sexta-feira acabada a missa, jejuar e guardar. Abril tem trinta dias. Ascensão, guardar e jejuar como de costume. Maio tem trinta e um dias. São Felipe e Santiago, jejuar e guardar. A invenção da Vera Cruz, guardar. Pentecostes, jejuar e guardar por três dias. Junho tem trinta dias. O dia de Corpo de Deus, guardar. São João Batista, jejuar e guardar. São Pedro e São Paulo, jejuar e guardar. Fólio 26v |

Julho tem trinta e um dias. Santiago apóstolo, jejuar e guardar. Agosto tem trinta e um dias. Santa Maria das Neves, guardar. São Lourenço, jejuar e guardar. Assunção de Santa Maria, jejuar e guardar. São Bartolomeu apóstolo, jejuar e guardar. Setembro tem trinta dias. O nascimento de Nossa Senhora, jejuar e guardar. Traslado de São Vicente, jejuar e guardar em Lisboa. São Mateus apóstolo, jejuar e guardar. São Miguel arcanjo, guardar. Outubro tem trinta e um dias.

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[Leitura modernizada]

São Simão e São Judas apóstolos, jejuar e guardar. Novembro tem trinta dias. Todos os Santos, jejuar e guardar. Santo André apóstolo, jejuar e guardar. Dezembro tem trinta e um dias. A Concepção, jejuar e guardar como de costume. Santa Maria antes do natal, jejuar e guardar. São Tomé apóstolo, jejuar e guardar. O Natal com três dias, jejuar e guardar. A Quaresma com quatro têmporas, jejuar. Oração ao anjo da guarda.

| Fólio27r

O Anjo de Deus que és minha guarda pela piedade suprema a mim, a ti cometido, salva, defende e governa. Amém. Rogo-te, anjo bento, a cuja providência eu sou encomendado, que sempre sejas presente na minha ajuda. Diante de Deus, Nosso Senhor, apresente os meus rogos às suas mui piedosas orelhas, para que por sua misericórdia e tuas preces me dê perdão de meus pecados passados, verdadeiro conhecimento e contrição dos presentes, e aviso para evitar os pecados vindoiros, e me dê graça para bem obrar e até o fim perseverar. Afasta de mim, pela virtude de Deus todo poderoso, toda tentação de satanás, e o que eu não mereço por minhas obras, tu alcança pelos teus rogos por mim diante de Nosso Senhor. Que em mim não haja lugar mistura de maldade alguma, e se algumas vezes me vires errar o bom caminho e seguir os erros dos pecados, tu procura de me devolver a meu salvador pelas carreiras da justiça. E, quando me vires em alguma atribulação e angústia, faz com que me venha ajuda de Deus pelos teus doces socorros. Rogo-te que nunca me desampares, mas sempre me cubras, visites, ajudes e defendas de toda fadiga e guerra dos demônios, vigiando de dia e de noite em todas as horas e momentos, onde quer que andar, guarda-me e acompanha comigo. Isto mesmo te pe|ço, meu guardador, que quando desta vida partir não deixes que me | Fólio 27v espantem os demônios, nem me deixes cair em desespero, nem me desampares, até me levar à bem-aventurada vista de Deus, Nosso Senhor, onde eu contigo e com a bem-aventurada Virgem mãe de Deus, e com todos os anjos e santos para sempre folguemos na glória do paraíso, que nos dará Jesus Cristo, Nosso Senhor. O qual, com o Pai e com o Espírito Santo, vive e reina para sempre. Amém.

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[Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja]

Para saber as quatro têmporas. As quatro têmporas são quarta-feira, sexta e sábado, depois de Pentecostes. E depois do dia de Santa Cruz de setembro, e depois do dia de Santa Luzia, e depois da Quarta-feira de Cinzas.

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[Leitura modernizada]

A LOUVOR DE DEUS E DA GLORIOSA VIRGEM Maria, acaba-se a Cartinha com os preceitos e mandamentos da Santa Madre Igreja, e com os mistérios da missa e responsórios dela, imprimida na mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa pela autoridade da Santa Inquisição na casa de Luiz Rodrigues, livreiro do rei, nosso Senhor, com privilégio real aos 20. de Dezembro de 1 5 3 9. anos

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