Casa dos Braga de Brasil: freguesia de São Victor, arcebispado de Braga – recuperação de 400 anos de história familiar, 2015

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©2015 by Laércio da Silva Braga/E-Book 1ª edição Normatização e Diagramação Laércio da Silva Braga Capa Laércio da Silva Braga Revisão Débora Sarmento

B813c

Braga, Laércio Casa dos Braga de Brasil: freguesia de São Victor, arcebispado de Braga – recuperação de 400 anos de história familiar/Laércio da Silva Braga. – Belém: Laércio da Silva Braga, 2015. 255 p. ; E-Book. ISBN 978-85-916793-2-4 1. Portugal - Brasil - História. 2. Imigração - Migração. 3. Famílias. 4. Heráldica e Genealogia. 5. Celtas. 6. Povos. I. Braga, Laércio da Silva. II. Título.

CDU 920

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Laércio Braga

Laércio Braga

Casa dos Braga de Brasil: freguesia de São Victor, arcebispado de Braga, Portugal - recuperação de 400 anos de história familiar

1ª edição

Belém 2015

Casa dos Braga de Brasil

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ASA DOS BRAGA DE BRASIL

*Retrato de Otavio Furtado Braga.

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Laércio Braga

ÍNDICE

1.

CASA DOS BRAGA DE BRASIL..................................................9

2.

LUZ SOBRE A PÁTRIA MÃE.....................................................11

3.

BRAGA, SUA PRÉ-HISTÓRIA E SUAS COISAS......................33

4.

CELTA, O POVO DE BRACARA AUGUSTA...........................50

5.

FAMÍLIAS BRAGA E BARROSO DE PORTUGAL..................73

6.

EM BUSCA DA GENEALOGIA BRAGA...................................87

7.

A CIDADE ANFRITRIÃ BRASILEIRA: ITAPIPOCA-CE........95

8.

EM

BUSCA

DA

GENEALOGIA

E

HERÁLDICA

BARROSO...................................................................................121 9.

CONDURU,

O

BRAGA

CANGACEIRO

ANTES

DO

CANGAÇO..................................................................................124 10.

EM BUSCA DA GENEALOGIA E

HERÁLDICA DOS

FURTADO DE MENDONÇA....................................................139 11.

PRÉ-ESBOÇOS DE UMA ÁRVORE GENEALÓGICA...........152

12.

GENEALOGIA DA FAMÍLIA RODRIGUEZ...........................155

13.

GENEALOGIA DA FAMÍLIA GONÇALVES..........................158

14.

GENEALOGIA DA FAMÍLIA FERNANDEZ...........................160

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15.

GENEALOGIA DAS FAMÍLIAS FERREIRA E CUNHA........163

16.

A EPOPEIA PORTUGUESA NO BRASIL................................171

17.

ÁRVORE GENEALÓGICA DA FAMÍLIA BRAGA................212

18.

BRASÃO DOS BRAGA..............................................................218

19.

BIBLIOGRAFIA..........................................................................225

20.

ANEXOS......................................................................................232

.....

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ASA DOS BRAGA DE BRASIL

Contar mais de trezentos anos de história familiar é um tesouro bem mais precioso que a materialidade de uma abastança de bens móveis e imóveis, realmente. Não tem similar ser alguém tão desconhecido e ao mesmo tempo, tão estudado, enquanto pertencente a um clã que se desenvolveu em terras brasileiras deixando grande herança cultural e ao mesmo tempo, sem a proeminência nacional que a história guarda. Temos desta feita, memória e tradição acima de tudo. Reconheço que não é para todos tamanha influência, no engrandecimento de um lugar, como o foram aqueles portugueses, com histórias tremendas, às vezes escabrosas e às vezes épicas, nos tempos da colonização de terras estranhas, politicamente diferenciadas da original mater, totalmente distanciada do modelo europeizado padrão. Os trópicos inspiravam aventuras, desterros, saudades, distâncias, às vezes riquezas. As permanências através dos séculos são muitas, a continuação memorial contidas nos códigos fenotípicos e nas tradições orais e cotidianas, incontestáveis. Somos de fato portugueses vivendo em terras brasileiras! Somos originais e originários! Quem somos de fato se não sabemos quem somos em essência? Nossa trajetória e paisagens contam mais de nós que nós das nossas bocas. Somos bem mais que nomes, porque somos aquilo que permanece essencialmente e que se multiplica eternamente. O homem que não tem o que contar não existe para nada.

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Somos micropartículas existentes em muitas matérias. Há um pouco de nós em tudo e de tudo há um pouco de nós. De certa maneira, jamais deixaremos de existir no universo, porque em nós corre um rio, nasce uma floresta, ecoa o canto dos pássaros nas árvores, germina o broto adormecido entre pedras vulcânicas... Nada morre definitivamente. Dou Graças a Deus, pela memória prodigiosa que me garante o pertencimento das coisas do meu clã familiar. Sem essa memória sei que não seria absolutamente nada, nem nada significativo. O término do livro culminou num teste de DNA de ancestralidade (AncestryDNA), feito nos estados Unidos, que revelou exatamente o pesquisado, demonstrando nossa descendência, dividida pelos continentes e enfatizando que temos 69% de DNA europeu (Ibérico/Grego/Italiano), 15% de DNA de nativo americano (indígena) e 13% de DNA africano (Bantu) e 3% de DNA asiático.

Figura 1: retrato de Francisco Ferreira Braga (bisavô), nascido em Itapipoca-CE em 1864. Foto: álbum de família.

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UZ SOBRE A PÁTRIA MÃE

Interessante lançar luz sobre a pátria do colonizador, Portugal e entendermos por que nossos ancestrais saíram rumo ao desconhecido. É preciso entender quais as razões que levavam as pessoas e famílias a deixarem a Europa, desenvolvida, por lugares dominados por selva inexpugnável e gentios totalmente contrários à vida social de sua pátria. Segundo o Blog Histórico de Beatriz Junqueira Sulzbach e Newton Braga Rosa: 1) Por que os Europeus Emigravam? 1.1) Povoando as terras conquistadas Na época dos descobrimentos, por volta de 1500, o principal motivo para a emigração era assegurar a posse das terras descobertas. Lisboa era a maior cidade da Europa e Portugal dominava uma das mais sofisticadas tecnologias daquele tempo: técnicas de construção naval e a ciência da navegação astronômica (como Bússola, Quadrante e Astrolábio) usada até recentemente. As caravelas eram embarcações velozes e facilmente manobráveis. Entretanto, por serem construídas em madeira, eram frágeis para enfrentar as tempestades das navegações transoceânicas. Mesmo a maioria dos modernos iates que conhecemos hoje não está habilitado para navegação em mar aberto.

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Uma viagem transatlântica na época equivaleria, em complexidade e recursos, aos programas de conquista espacial dos dias de hoje. Portugal era uma das superpotências mundiais do século XV. O colunista da revista veja, Cláudio Moura Castro, tem um artigo que estabelece esta comparação (sem paginação)1.

Mas o que esperavam aqui encontrar? Vinham atrás do sonho de fazer fortuna nos trópicos? Vinham construir um status de nomes, como se fosse a tentativa de ingressar numa merecedora aristocracia? Graça (2009) começa seu artigo sentenciando aquilo que perguntamos: Ao longo do século XIX, milhares portugueses emigraram para o Brasil. Muitos, foram anónimos e por lá viveram e morreram anónimos. Outros, foram em busca das suas árvores das patacas, mas regressaram tão pobres como haviam ido, senão mais ainda. Apenas uns quantos conseguiram singrar, enriquecer, regressar e ostentar as suas boas fortunas (p. 1).

A colonização do Brasil deu-se, em grande parte, por pessoas degredadas. Não foi absolutamente o caso deste clã Braga. Em Portugal a família tinha raízes e carreira no militarismo, exercendo grande influência. Quando passou ao Brasil tal influência consolidou-se e adentrou os séculos, interrompendo-se no século XIX com o nascimento de nosso bisavô Francisco Ferreira Braga e renascendo no século XX na pessoa de nosso avô, Otavio Furtado Braga.

1

Fonte: Revista Veja 12 fev 1997.

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Todos os Braga de origem bracarense permitem o pertencimento sobre o brasão dos Braga? Tal simbologia os tipifica? Pela oralidade da família, sim podemos, mas cientificamente? Podemos nos dar esse luxo e tradição? Para obter essa resposta devemos abstrair sobre as recomendações de um autêntico heraldista que produza um trabalho científico e não seja um mero fazedor de brasões. Então, procuremos dar a partida refletindo sobre a ciência heráldica com Amazonline (2014): Chama-se Heráldica, a arte de formar e descrever Brasões de Armas, também designada ARMARIA ou Arte do Brasão. Teve seu princípio por volta do século XII, contudo sua origem vem a ser mais remota do que se pensa. Os símbolos pessoais e familiares são antiquíssimos e com eles veio a Heráldica, quando eles foram utilizados dentro dos escudos de combate. Esta Arte esteve ativa até o final do Século XVIII, quando a febre política da República, um movimento novo que tomava conta do mundo desde a Queda da Bastilha na França, extinguiu, por vezes a fio de espadas, o Ofício de Brasonaria. Muitos Mestres D'Armas foram assassinados, Famílias inteiras eram banidas por continuarem ostentando seus Brasões nas soleiras de suas casas e Armoriais, livros que continham os Registros Brasonários desde o século XII, foram queimados em praça pública, tudo isso porque os republicanos temiam que através desses símbolos o povo continuasse ligado à Monarquia ou até mesmo, reivindicasse a sua volta. Sob a constante ameaça das lâminas republicanas foi fácil impedir que isso acontecesse. Alguns clãs, no entanto, conseguiram fazer com que a Tradição da Brasonaria ficasse viva até os dias de hoje. Ocultaram os Armoriais em seus porões, alguns foram embalados em baús de madeira tratada, ou de louças e enterrados em suas Quintas. Outros,

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na clandestinidade, conseguiram passar de Mestre para Discípulo e de pai para Filho a Arte da Heráldica.

Como vemos, a tradição brasonária teve seu obscurantismo e sobreviveu onde lhe era permitido e, muitas vezes na clandestinidade, como se fosse um álbum de família. Sempre temos de ter um olhar aguçado para as questões de nomes e sobrenomes e suas origens. Antes de tudo, entendemos que a preservação histórica aconteceu de forma a se preservar a memória. Para se entender a origem brasonária familiar deve-se levar em consideração as informações orais produzidas ao longo dos anos, acerca de nossa família. Nada pode passar despercebido e desconsiderado, sem uma investigação apurada como nos fala Albuquerque (2010) sobre os cristãos-novos no Brasil: [...] O cemitério, ainda, abriga túmulos de muitos negros libertos e convertidos ao judaísmo no Brasil, passados para a Holanda quando da queda da Companhia das Índias Ocidentais e que entraram para a comunidade judaica. Vindo a exercer posições de destaque como Eliézer, o Sábio, o qual se fez doutor em lei judaica e estabeleceu-se como agente mercantil. Muitos desses negros eram genuinamente judeus por serem originários da Etiópia. Portanto, da etnia judaica falashita dos descendentes de Salomão com a Rainha Sabah: quem o inspirou o Cântico dos Cânticos. Alguns falashitas eram adquiridos junto às outras levas africanas em fato dos muçulmanos exercerem o monopólio da captação e tráfico negreiro na África. São estas famílias, entre muitas outras, os: Alencar, Almeida, Álvares, Alves, Andrade, Azevedo, Barbosa, Barreto, Barros, Bezerra, Berenguer, Borba, Braga, Cardoso ou Cardozo, Cardosa ou Cardoza, Castro, Costa, Coronel, Coutinho, Dias, Domingues, Ferreira, Ferro, Fernandes, Fonseca, Gondim, Gomes, Gonçalves, Gonzaga, Henriques, Jorge, Lima, Lins, Lopes, ou Lopez,

Laércio Braga Luna, Lucena, Madeira, Mattos ou Matos, Martins, Melo ou Mello, Mendes, Meneses ou Menezes, Miranda, Muniz ou Monis, Nunes, Oliveira, Ortiz, Pedrosa, Pereira, Pessoa, Pinheiro, Pinto, Queiroz, Salsa, Silva, Soares, Souza ou Sousa, Tabosa (Sabaot, decodificado) Teixeira, Veiga (português) e Vega [espanhol] (p. 26).

Ao iniciarmos a pesquisa sobre a família Braga nos anos 2000 começamos cada vez mais a nos interessar por nossa origem portuguesa, até porque repetíamos durante toda nossa vida hábitos comuns europeus e expressões que se passaram ao longo dos séculos. Acontece que, Raimundo Alves Braga, o Louro (1930-1983), nosso pai, de quem herdamos o sobrenome, faleceu aos 52 anos de idade e nosso avô, Otavio Furtado Braga morreu cerca de um ano antes que nosso pai. Não tínhamos grande referência do nosso avô paterno, pois, nosso avô nunca morou conosco, muito menos criou nosso pai. Aos 40 dias de vida nosso pai ficou órfão de mãe, vítima da promiscuidade do nosso avô. O que ficou para a posteridade foi uma história mal contada, pouco repetida que, só ao longo dos anos poderíamos esclarecer sem chocar ninguém. Nós que nos sentíamos superiores socialmente não podíamos permitir que, histórias tristes de traição viessem a tona e macular o nome da família. Mas a história exige resposta verdadeira para justificarmos nossa própria existência. Então, a vida deve ser passada a limpo sempre como forma de expiar os pecados, reforçar laços. Nosso pai não teve qualquer culpa nesse episódio da morte de nossa avó. Nosso avô teve a oportunidade de se desculpar, mas nunca o fez para o filho. Ficou para nós tal incumbência.

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E como poderíamos falar deste fato de morte sem sermos grosseiros ou desmedidos com nosso principal membro de nossa origem europeia? Simplesmente, falando e retratando-se da memória de nosso pai e livrando-o da culpa de seu ressentimento do mundo e como ser humano.

Figura 2: Brasão da família Braga, em fundo vermelho com a torre de prata ao centro, com uma mão direita empunhando uma Braga dourada, pronta a defender-se. Fonte: http://www.angelfire.com/moo n/braga/braga.html.

Nosso pai foi criado por nossa avó materna, Maria Alves de Lima e depois por um tio, Acrisio. Por causa da morte da sua mãe ainda no resguardo, nosso pai nunca falava da família e não era raro encontrá-lo taciturno, principalmente no dia das mães e no dia de seu aniversário. Se não fosse pelo nosso tio Abede-Nego (do segundo casamento do meu avô com a amazonense Francisca da Silva Braga) e seus filhos, não conheceríamos outros membros da família Braga durante mais de vinte anos. Por causa de nosso pai ter falecido jovem, ficou o estigma de que a família Braga não vivia muito, pelo menos para nós do clã Braga em Santa Maria do Pará. Outrossim, sabemos hoje que a maior causa de morte entre os Braga se dá por ataque cardíaco ou câncer.

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Figura 3: retrato de Raimundo Alves Braga (Louro), nascido em 1930 em Capanema-PA. Foto: álbum de família.

Ora, seu Louro era obstinado na intenção de aprender. Se não teve oportunidade de estudar, procurou aprender mecânica de automóveis e disso se aperfeiçoou tanto que virou referência. Era contratado facilmente por empresas, prefeituras, e com louvor. Apesar disso, era desapegado em relação a dinheiro. Sempre, inexplicavelmente, nunca procurou constituir patrimônio familiar. Apesar da dificuldade para estudar, procurou formar-se no ensino técnico profissionalizante. Estou por correspondência na famosa Escola Mundial de Cultura Técnica, São Paulo. Foi uma formação profissional importante e decisiva para nosso sustento. Louro aprendeu a consertar os veículos mais modernos por curiosidade e grandes máquinas a diesel no curso. Não bastasse isso, era um inventor e fazia experimentos para funcionar carro a carbureto com lubrificante de óleo de mamona.

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Figura 4: carteira da Escola Mundial de Cultura Técnica de Raimundo Alves Braga. Reprodução: Laércio Braga, 2014.

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Figura 5: Raimundo Alves Braga, o Louro junto com Laize Braga, no dia do casamento da mesma em 1982.

A apropriação do nome Braga não nos parecia elementar nem muito menos motivo de orgulho. A referência que tínhamos era a referência familiar materna, pois ouvíamos os relatos dos avós e tios desde criança. Mas nosso pai falava muito que tínhamos o sangue azul, especialmente quando estava de porre. Acreditávamos na sua fala, pois éramos crianças e acreditávamos nas nossas referências. Nosso pai era louro, dos cabelos cacheados e os olhos cor de mel, como os olhos de sua mãe, Ósea Alves de Lima. Antigamente não era raro associarmos a cor dos antecedentes como correspondentes originais à herança europeia, principalmente se o membro em questão atendesse a esse fenótipo como, aliás, era o caso de nosso vovô Otavio Furtado Braga, seu pai e seus avós.

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Nosso avô era o homem mais lindo que as pessoas se davam conta na nossa realidade. Era um homem de estatura mediana, louro, de olhos azuis. Seus traços europeus eram absolutamente diferentes da maioria dos paraenses, donos de uma forte mestiçagem, de olhos amendoados e castanhos escuros. Nosso avô era o terror e a cobiça das mulheres de sua época. Principiamos nosso trabalho (2000) providenciando uma árvore genealógica que privilegiasse nossos ascendentes até nossos bisavôs rabiscando numa folha qualquer as informações que tínhamos, de acordo com os documentos disponíveis. Depois evoluímos para outro mais sofisticado, indicado e disponibilizado por My Haritage (www.FamilySearch.org). As informações colhidas dos nossos bisavôs foram tiradas de um documento de Registro Civil de Casamento do nosso avô Otavio Furtado Braga, realizado em 1928 no Cartório Val-deCans, Belém (Anexo VIII). Já tivemos a grata ideia de promover buscas nos documentos relativos a esse casamento no dito cartório, na clara intenção de encontrar registro civil de nosso avô e avó, para chegarmos aos nomes de seus pais e assim, resgatarmos para história genealógica de nossa ascendência, entretanto, tal documento não tinha a obrigatoriedade de apresentação e arquivamento de suas informações, fato que só viria a acontecer a partir de 1945, segundo a Lei em vigor. Como saber se nossos hábitos familiares, puramente recheados de hábitos Portugueses nos faziam jus essencialmente? Mas foi mesmo nos anos 2000 que os fragmentos históricos sobre a família Braga começaram a aflorar, nos relatos dos nossos tios-avôs, no caso, o principal deles, foi do nosso tio-avô Raimundo Furtado Braga (1920-2003).

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Lembremos que, conhecemos tio Raimundo Braga em 2000 com quase 80 anos e o perdemos em 2003. Pouco tempo para tantas perguntas, levando-se em consideração que não morávamos na mesma cidade. Nós em Santa Maria do Pará e ele em Capanema-PA. Mas enfim, vamos às informações:

Figura 6: fotografia original de Otavio Furtado Braga. Foto: autor desconhecido.

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Confirmamos os nomes dos nossos bisavôs, seus pais e ele nos afirmou serem os mesmos, Francisco Ferreira Braga e Sabina Furtado de Mendonça. Tio-avô Raimundo revelou-nos que Braga e Barroso era uma só família no Ceará, especificamente no âmbito da região em que viviam, na serra da Uruburetama, na localidade de Arraial.

Figura 7: Rendeira de Bilros, óleo sobre tela de Hermes Pereira (tio materno). Reprodução de Laércio Braga, 2012.

Dizia que a bisavó, Sabina Furtado de Mendonça era exímia rendeira de bilros, que quando conheceu meu bisavô, Francisco Ferreira Braga (1864-1958). Nossa bisavó tinha os cabelos pela cintura ou mais, tão grandes que numa quermesse, ao passar ao lado do bisavô, os cabelos ficaram presos nos botões do seu casaco, motivo que os aproximou para sempre. Dizia que eram todos do mesmo lugar e que no Ceará tinham outros Braga. Francisco Ferreira Braga era branco, alto e louro, de olhos azuis e Sabina Furtado de Mendonça era alta, clara e de olhos castanhos. Quando já estavam de idade, Francisco assumiu uma amante e passou a viver com ela. Sabina separou-

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se, mas permaneceu amiga dele e de sua companheira. Sabina faleceu em 1953. O casamento entre Francisco Ferreira Braga e Sabina Furtado de Mendonça deu-se no Ceará, em Arraial. Foi consumado apenas na Igreja, por isso mesmo Sabina não assumiu o sobrenome definitivamente. Já no casamento de nosso avô, em 1928, já constava que seu nome era Sabina Furtado de Mendonça que estava com 50 anos de idade. Os filhos havidos desse casamento foram: 1. Antônio Braga (pai da Adalgiza Alves Braga de Lima) que casou com Anorata. 2. João Braga 3. José Braga 4. Maria Braga (Mariinha) [ficou no Ceará] 5. Otavio Furtado Braga (02.06.1909 a 1982) que casou com Ósea Alves de Lima 6. Dionizia Furtado Braga (20.12.1915 a 18.08.2009) que casou com Raimundo Ferreira Torres (11.02.1910) [morava na localidade de Tauary, Garrafão do Norte] 7. Raimundo Furtado Braga (10.03.1920 a 04.03.2003) que casou com Irinéia Braga de Araújo (25.02.1925). 8. Nazaré Braga 9. Otília Furtado Braga (mudou-se de São Miguel do Guamá para Porto Velho e nunca mais voltou).

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Foi perguntado ao tio-avô Raimundo Furtado Braga se éramos parentes de Lampião, o rei do Cangaço, e o mesmo reagiu negativamente, maldizendo o cangaceiro que, dizia, era um bandido, mas que a bisavó era parente de outro cangaceiro chamado, Erotides Martins. Esse era um cangaceiro bom. Aproveitando o ensejo do Cangaço, falou-me a respeito de um compadre de seu pai, nosso bisavô, que comprou briga com o governo. A bisavó Sabina Furtado de Mendonça teve de esconder-se debaixo de uma árvore de “ormeira” para escapar das balas, que eram muitas. O compadre do bisavô Francisco Ferreira Braga chamava-se Marçal. Investigando a existência deste Marçal2 encontramos um contemporâneo dos nossos bisavós em Pernambuco, que tinha fazenda pelos lados do Ceará. E havia um Erotides3, não

2

"Coronel" Marçal Florentino Diniz, poderoso e influente agropecuarista, dono da famosa fazenda Abóboras, localizada entre Serra Talhada (PE) e Triunfo (PE), a qual depois seria permutada pelo sítio Baixio com o "Coronel" José Pereira Lima, de quem era sogro e cunhado. A mãe do caboclo Marcolino, irmã do "Coronel" José Pereira, chamava-se Maria Augusta Pereira Diniz, filha do "Coronel" Marcolino Pereira Lima, natural de São João do Rio do Peixe (PB). O patriarca migrou dessa localidade paraibana em meados da segunda metade do século XIX e formou em Princesa um dos mais importantes blocos políticos que desfrutou a hegemonia política na Paraíba, principalmente após a consolidação do poder por seu filho José Pereira, quando do apoio a Epitácio Pessoa na disputa pelo senado na campanha de 1915, contra o monsenhor Walfredo Leal (Seminário Cariri Cangaço, 2013). 3

Nascido em São Braz, município de Alagoas, em 24 de março de 1873. Comerciante de primeira extirpe, vocacionado para o ramo, iniciou sua carreira como caixeiro viajante. Daí o porquê do apelido.

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necessariamente Martins, que morava no Estado de Sergipe e foi fazendeiro e governador nomeado deste estado. Mais que falar dos pais, tio-avô Raimundo Furtado Braga adorava falar do irmão, Otavio Furtado Braga, nosso avô. Contava muito sobre ele, desvirtuando nossa pesquisa dos ascendentes, porque as histórias eram realmente fantásticas e divertidas. Eram realmente muito amigos, já que o seu nome, Raimundo, foi dado ao nosso pai, também Raimundo. Lembrava fascinado do dia do casamento de nosso pai com nossa mãe em 1960. Dizia que foram um “bando” de Braga para o casamento do sobrinho, que nossa mãe, Maria Laide, era uma mulher bonita, nova (tinha 17 anos) e que se encantaram pelo casarão dos pais da noiva. Tinham medo de que nosso pai não fosse um bom marido para ela, pois, a ficha matrimonial dele era corrida.

Resolveu se estabelecer em Canhoba. Inicialmente tomou conta de uma loja na “Rua da Bambá” hoje praça da matriz, estabelecimento que pertencia ao major “Bilé” de São Braz, seu patrão. Mais tarde de mero empregado aos poucos passou a ser um concorrente. Enriqueceu como agiota, e como um comerciante incentivador da produção do algodão. E aí o simples caixeiro passou a ser influente senhor das terras de Canhoba e também de Gararu, Porto da Folha e outros locais do Sertão do São Francisco. Industrial, pecuarista, plantador e colhedor de arroz, milho, feijão e mandioca. Eronides era amigo de Lampião. Eronides foi apresentado a Lampião em agosto de 1929, durante os dias em que se restabelecia de uma enfermidade na fazenda Jaramataia propriedade de seu pai no município de Gararu (Blog Lampião Aceso, 2011).

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O bisavô Francisco Ferreira Braga faleceu em 1958, tinha cerca de 94 anos de idade e residiu durante muito tempo em Capanema, Pará. Os últimos 10 anos de vida, já viúvo, juntouse à Joana e mudou-se para Arraial do Caeté, localidade de Ourém-PA. Foi sepultado lá mesmo. Em junho de 2013 estivemos na localidade na intenção de encontrar seu túmulo, mas infelizmente não há nenhuma identificação.

Figura 8: tia-avó Dionizia Furtado Braga em 2007, na vila de Tauari, Garrafão do Norte-PA. Foto: álbum de família.

Em Capanema, bisavós Francisco Ferreira Braga e Sabina furtado de Mendonça residiam no que hoje é a casa de um seu neto, Francisco Ferreira Braga (inclusive, Francisco (Chico) residiu nos fundos do terreno desta casa quando o avô ainda era vivo). Francisco Ferreira Braga (Chico) era filho de Onória, era irmã de Otilia (segunda esposa de nosso avô) com Otavio Furtado Braga.

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No final da vida, Francisco Ferreira Braga (1864) estava praticamente surdo, com a vista curta, os cabelos brancos como algodão, mas completamente lúcido e conselheiro. Procurou entender o neto, nosso pai, Raimundo Alves Braga (19301983) sobre as razões que o levaram a deixar a mulher com quem tinha “mexido4”, engravidando-a. Levou-o para longe da cidade de Capanema-PA para que pudesse ouvi-lo melhor, para claro, dar-lhe razão pelo abandono da mulher grávida, com um filho na barriga. A mentalidade da época era outra e os costumes não estavam do lado das mulheres. Essa moça chamava-se Zenaide e faleceu nos primeiros meses de 2015, em Capanema-PA.

Figura 9: tio-avô Antonio Furtado Braga. Foto: álbum de família.

Os Braga no Ceará viviam do serviço militar, em sua maioria, e no Pará viviam da lavoura. Da família de nove filhos 4

O termo mexido antes da década de 1980 servia ao propósito de explicar e denegrir a defloração de uma mulher antes do casamento.

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apenas Otavio Braga, nosso avô, foi quem aprendeu a ler a escrever, o que o levou a aventurar-se em outras profissões, como motorneiro, militar (seguindo uma tradição familiar ancestral), comissário no KM-83 da rodovia Pará-Maranhão, talvez maçom, seringalista no Estado do Acre, dono de estabelecimento comercial (Farmácia) no KM-47 (Anexo XIII). O KM 47 é hoje, cidade de Santa Luzia do Pará na rodovia Pará-Maranhão. Bens, mulheres, filhos e orgulho do sobrenome Braga eram marcas preponderantes de nosso avô Otavio Furtado Braga, mas ao final da vida não teve mais dinheiro, disposição e andava senil, lembrando de um passado de aventuras e histórias, sobretudo, dos seus seringais invadidos no Acre. Sem ter nem para que, interrompia as conversas com os netos para conversar com a lua. Ríamos disso, mas não na sua frente, pois para nós, naqueles idos de 1970, era um avô benevolente, dócil e carinhoso. Segundo a segunda esposa de Otavio Furtado Braga, Francisca da Silva Braga, (Chiquinha, 06.09.1916 a 24.12.1996) tinha um filho em cada um dos estados da federação: “Andava o Brasil inteiro e deixava mulher e filhos para trás”. Era um galante. Questionado sobre a vinda da família Braga para o Pará, tio-avô Raimundo Furtado Braga (2000) foi taxativo: “não viemos para o Pará como retirantes, viemos porque quisemos. A gente pagou passagem e comprou as terras que moramos”. A filha de nosso tio-avô Raimundo, Dezinha nos disse que quando vieram ao Pará o pai relatava que ele tinha oito anos de idade. Para o autor o pai da mesma disse que “tinha nascido no Pará, assim como está na Certidão de Casamento de Dionizia Braga seu nascimento no Pará (Anexo IX). A segunda esposa de tio Raimundo a quem chamamos Bena (moradora de Capanema-PA, 2014) relatou que ele disse que a mãe veio

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grávida dele para o Pará. Já a filha de tio-avô Raimundo Braga, Doracy Braga de Souza confessou que eles não sabiam muito da própria origem, justificando que eram analfabetos e que, não se importavam com registros civis, a maneira de dizer que não se importavam com datas e lugares declarados. Ela mesma muitas vezes teve de sair às escondidas para estudar, o que contribuiu para que tivesse um bom futuro e ter conseguido aposentar-se. O fato é que nosso tio-avô Raimundo Furtado Braga conheceu o Pará ainda na barriga da mãe e aqui nasceu em 10.03.1920. Ao chegarem ao Pará, Francisco Ferreira Braga, nosso bisavô, comprou muitas terras e foram viver da lavoura, mas em dado momento, decidiu voltar às origens e retornou ao Ceará com toda a família. Foram viver no sertão, provavelmente numa fazenda ou localidade chamada Macambira. Oito anos mais tarde retornariam ao Pará com todos novamente, exceto pela filha Maria Braga, que já tinha constituído família e se resolveu permanecer para sempre no Ceará. Então, aconteceram duas migrações, a segunda em definitivo. Dizem, também, que no Ceará, na época em que os Braga arribaram de lá acontecia uma guerra. Provavelmente efeitos do flagelo das secas, com seus “campos de concentração de flagelados” e/ou cearenses arrebanhados para a Revolução de 1930.

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Figura 10: da esquerda para direita: prima Doracy Braga, tia-avó Dionizia Furtado Braga e prima Rosa Braga. Foto: Braga, 2007.

Figura 11: retrato de tio Francisco Ferreira Braga (1936) filho de Onória com Otavio Furtado Braga. Foto: álbum de família.

Corina (depoimento em 2013), esposa de Francisco Ferreira Braga, o neto de Francisco Ferreira Braga nosso tio e filho de nosso avô, Otavio Furtado Braga com Onória, disse

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que as irmãs Braga eram brabas uma com as outras, provavelmente por ser também Barroso, uma família destemida. A isso nosso avô Otavio Furtado Braga tinha herdado também. Era um homem destemido e corajoso. Notese que nosso tio Francisco Ferreira Braga é o quinto parente com esse mesmo nome. Nossa prima, Nezinha, filha de nosso tio-avô Raimundo Braga também disse (dia 27.05.2014) que nossa prima Delza, em conversa com ela, tinha dito que lembrava que seu pai falava que seus avós paternos chamavam-se também Francisco Ferreira Braga e Raimunda da Silva Braga. Observando o livro de Soares Bulcão, “Anastácio Braga” (1973, p. 53) já tínhamos concluído que nossa ascendência passava pelo biografado. No caso, imaginávamos que o supracitado tinha sido filho de nosso tio-tataravô, Anastácio Francisco Braga (1759-1826), mas faltava-nos a comprovação de fato e de direito. As pesquisas continuavam, inclusive com as documentações de batismos, casamentos e óbitos contidos nas igrejas católicas do Ceará. Mergulhado nos documentos de batismos, matrimônios, óbitos e outros da cidade de Itapipoca e Fortaleza, pesquisamos profundamente e fomos desvendando a árvore de nossos ascendentes, de acordo do que estava previamente esboçado. Fomos anexando documentos e comprovando a origem histórica. Mas a pesquisa só teve o efeito necessário ao entrarmos em contato com os microfilmes de um banco de dados que reúne mais de um bilhão de nomes, na cidade de Salt Lake City, a sede fundadora dos Mórmons nos Estados Unidos. As informações podem ser consultadas pela Internet no site www.familysearch.org, mantido pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e considerado um dos maiores e mais

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completos serviços de genealogia do mundo. Cadastramo-nos como voluntários e tivemos acesso ao banco de dados integralmente, pois os mórmons o construíram gigantesco na crença que os antepassados podem ser redimidos do pecado pelo batismo, mesmo falecidos. No sítio dos Mórmons existem até mecanismos sistematizados em forma de cartilha, para uma análise correta e identificação. Foi lá que encontramos todos os registros que confrontamos com as informações pesquisadas e que necessitávamos para enriquecer este trabalho.

Figura 12: CLT de Otavio Furtado Braga confeccionada em Santa Maria do Pará em 30 de julho de 1972.

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RAGA, SUA PRÉ-HISTÓRIA E SUAS COISAS

Parece-nos sensato falar mais intimamente de Braga, a cidade anfitriã de nossa genealogia e dos nossos sentidos, nossa mãe, nossas esperanças e aspirações. Perece que nunca a deixamos, nem ela deixou a nós. Braga é uma pronúncia forte, que nos remete a um sentido iminentemente guerreiro, como eram os povos que a habitavam antes mesmo da existência do estado português. Andando pelas ruas de Braga em 2013, pareceu-nos andar todos os dias, como todos os dias andavam nossos ascendentes. Neste sentido, não nos limitamos ao sobrenome, sabedor que tínhamos outras constituições heráldicas em nosso clã. Com certeza, o Universo está em perpétuo devir como diria o filósofo Figura 13: Arco da Porta Nova, Éfeso... Heraclitianos natos, Braga, Portugal. Foto: Laila Braga, homens e mulheres que 2014.

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fizeram escola, sem o saber que constituíam a História de homens comuns e homens para a História. Éfeso ou sua escola efésia, caracterizada principalmente pela afirmação de que a luta é princípio de todas as coisas, gerando as oposições de que decorrem os equilíbrios que se sucedem num universo em permanente movimento e transformação, segundo uma medida e um ritmo que expressam justiça e harmonia profundas: a sabedoria é o reconhecimento de que todas as coisas são regidas segundo um princípio supremo de unificação, o logos. É a vida mostrando a necessidade do autoconhecimento e do conhecimento de todos, são as razões de sua existência em ebulição, na tremenda epopeia de viver. Podemos adentrar Braga pelo Arco da Porta Nova, para ser o comecinho da nossa sabedoria e deixar, como um universo tridimensional, penetrar no tempo revertendo à gênese mater. Mas o caminhar por entre ruas seculares vai, enfim, nos embebendo das coisas nossas, como se fôssemos os proprietários que visitam os seus bens, distribuídos ao mundo, separados por milhares/centenas de quilômetros. Aqui e acolá, nossas referências, as marcas de nossa ancestralidade. Caras familiares, monumentos de épocas díspares e próximas de nosso íntimo conhecimento. Se fecharmos os olhos ainda vemos as hordas mouriscas invadindo, povos ibéricos nos afazeres diários, conquistadores romanos com seus estandartes, em suas charretes e em seus cavalos, escudos, espadas reluzentes, elmos, armaduras, lanças, arcos e flechas. Chegam os romanos alinhados, organizados e sedentos por mais um domínio. Mas hão de construir termas, aquedutos, ruas. Vão mudar, com certeza, a paisagem!

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Figura 14: famosa Torre Menagem, de onde podemos supor inspirou-se o Brasão da família Braga, que tem uma torre de prata ao centro do escudo. Foto: Laércio Braga, 2013.

É cidade mais antiga de Portugal (com mais de 2000 anos) e uma das maiores durante o Império Romano e sua ocupação pré-histórica vem da idade do bronze. É conhecida como a "Capital do Minho" ou o "Coração do Minho", por estar localizada no centro desta província. Dizem comumente que Braga reúne um pouco de todo o Minho e todo o Minho tem um pouco de Braga. O fascinante sítio Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Braga) nos revela:

Os vestígios da presença humana na região vêm de há milhares de anos, como comprovam vários achados. Um dos mais antigos é a Mamoa de Lamas, um monumento megalítico edificado no período Neolítico. No entanto, apenas se consegue provar a existência de aglomerados populacionais em Braga na Idade do Bronze.

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Caracterizam-se por fossas e cerâmicas encontradas no Alto da Cividade, local onde existiria uma povoação e por uma necrópole que terá existido na zona dos Granjinhos. Na Idade do Ferro, desenvolveram-se os chamados "castros". Estes eram próprios de povoações que ocupavam locais altos do relevo. Os Celtas eram os seus habitantes e, nesta região em particular, habitavam os Brácaros (em latim, BRACARI), que dariam nome à cidade, após a sua fundação e os romanos terem forçado as populações descerem ao vale (sem paginação).

Sua fundação, segundo Wikipédia (2014) como Bracara Augusta aconteceu com a dominação romana (http://pt.wikipedia.org/wiki/Braga): No decurso do século II a.C., a região foi tomada pelos Romanos que edificaram a cidade no ano 16 a.C., com a designação de Bracara Augusta, em homenagem ao Imperador César Augusto. Bracara Augusta, capital da região da Galécia, integrava os três conventos do Noroeste peninsular e parte do convento Clúnia, com uma população de aproximadamente 285 mil tributários livre nas 24 civitates no ano 25. Desta época data também a criação do bispado de Bracara Augusta, segundo a lenda, São Pedro de Rates foi o primeiro bispo de Braga entre os anos 45 e 60, ordenado pelo apóstolo Santiago que teria vindo da Terra Santa, martirizado quando convertia povos aderentes à religião romana no noroeste da Península Ibérica. Mas, só no ano 385 é que o Papa S. Sirício faz referência à metropolitana de Bracara Augusta (sem paginação).

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Figura 15: Escudo da cidade de Braga. O brasão também está inserido na bandeira da cidade. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ wiki/Ficheiro:BRG.png

A história diz que Braga é reorganizada no século XI e desta data em diante, provavelmente advém a nova designação de "Braga". Segue assim, a construção da muralha e da Sé, por ordem do bispo D. Pedro de Braga, erguida sobre os restos de um antigo templo romano dedicado à deusa Ísis, depois transformado numa igreja Cristã. Tudo cresceu em torno da Sé e de dentro das muralhas, portanto os bracarenses são tão facilmente identificáveis no tempo e na história. Um monumento que chama a atenção é o Castelo de Braga que se localizava na freguesia de São João do Souto, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome. As muralhas atualmente são lembradas pela preservação de uma torre, a famosa Torre de Menagem, do antigo castelo. Talvez esta antiga torre seja a inspiração para os heraldistas que desenharam o brasão da cidade de Braga, com duas torres de prata. A leste, a Torre de Menagem, é o principal remanescente do castelo erguido sob o reinado de D. Dinis. De planta quadrada, em estilo gótico, ergue-se a aproximadamente trinta metros de altura, dividida internamente em três pavimentos.

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Atualmente, o mapa bracarense está dividido com suas freguesias administrativas unificadas em torno de um todo, após a reorganização administrativa acontecida em 2013, mas essencialmente é a mesma Braga de há séculos. Apesar da contemporaneidade continua clássica, altiva, contrita na sua importância.

Figura 16: Cidade de Braga: iconografia do século XVI. Vê-se o Castelo de Braga no canto superior direito da muralha Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Braga.

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Figura 17: desenho retratando uma cavalaria Celta com todo seu instrumental guerreiro e suas características nórdicas. Fonte disponível em: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2013/03/conhecendo-osceltas.html.

É um prazer visitar Braga, visto que é significativa. A vontade é de ficar para sempre, pois cá é nossa primeira casa. A freguesia de São Victor é logo ali. Diríamos que é o coração da cidade. De lá saíram os primeiros bracarenses que estão no Brasil, os mesmos que assumiram o seu nome amado. Talvez nosso coração não tenha saído jamais daquele lugar. Observamos nos olhos dos nossos parentes Braga o seu orgulho ao pronunciar o sobrenome, Braga! É um nome forte. Toda pessoa de sobrenome Braga deveria fazer uma peregrinação até a cidade de Braga, tal como fazem os muçulmanos a Meca. Em Braga está a essência de ser, respirase, pisa-se, inebria-se no todo.

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Figura 18: mapa com as freguesias de Braga. http://pt.wikipedia.org/wiki/Braga. Acesso em 21/06/2014.

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Imagem:

Para sermos mais sensatos, devemos falar especificamente da freguesia de São Victor, primeiramente analisando os seus pormenores e o exposto na JUNTA DE FREGUESIA DE SÃO VICTOR (http://juntasvictor.pt//wpcontent/uploads/2013/12/orago.jpg): A Freguesia de São Victor situa-se no Concelho de Braga. A História desta Freguesia, com cerca de 5 Km² e 32.000 habitantes, perde-se no tempo. De São Victor sentiu-se o aroma inconfundível em todo o país e no mundo através dos incomparáveis sabonetes e perfumes com origem na Saboaria Perfumaria Confiança. Também os chapéus fabricados numa indústria, que foi florescente na freguesia,

Laércio Braga correram o mundo, tendo como destino a Europa, África e América (sem paginação).

Ouvimos falar na tradição daqueles profissionais sombreireiros. Muitos documentos pesquisados demonstram que a cidade tinha muito deles, talvez uma característica peculiar dos locais desde os primórdios. Em São Victor “mora” um valioso património nacional, onde se destaca a sua Igreja Paroquial reedificada no Sec. XVII e o valioso Complexo Monumental das SETE FONTES, que se deve à acção de D. José de Bragança (idem, sem paginação).

Então, o que podemos dizer que é mais representativo para o clã Braga além de ser um dos seus membros? Respondo: a igreja de São Victor, a mesma igreja palco dos batizados e casamentos através dos anos, aquela que postergou à História e à atualidade a existência de nossa essência, além do sobrenome. Está lá, imponente por séculos e séculos. O III FESTIVAL INTERNACIONAL DE POLIFONIA PORTUGUESA: Igreja de São Victor (2014), diz o seguinte: A igreja paroquial de São Victor, posicionada no topo da rua com o mesmo nome, na cidade de Braga, é um edifício religioso de nave única, capela-mor, duas sacristias laterais e torre sineira posterior. Este edifício, que é símbolo da dinâmica renovadora empreendida pelo arcebispo D. Luís de Sousa, foi por este mandado construir em 1686 e é considerado um dos exemplares arquitectónicos que inaugura o barroco em Portugal e cuja influência se disseminará por todo o território da arquidiocese bracarense.

CÂMARA MUNICIPAL DE BRAGA - DIVISÃO DE TURISMO (2014) descreve o entorno da igreja de São Victor justificando sua origem e importância:

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Nas proximidades da Igreja de São Victor identificaram-se vestígios arqueológicos de uma necrópoletardo-romana e alto-medieval, associada a um templo paleocristão. Apesar da actual igreja nada conservar da edificação medieval, são abundantes as referências documentais desde o século IX, testemunhando a existência de um importante núcleo de povoamento nos arredores de Braga, à margem da “estrada real” (de origem romana), que ligava Braga a Póvoa de Lanhoso e Chaves (sem paginação).

Pode até ser que a parte física da igreja de São Victor não esteja exatamente preservada, mas a sua essencialidade é eterna e imutável. Tudo gira como os mistérios, os grandes mistérios das coisas sagradas. A conformidade urbana da cidade de Braga ainda é praticamente a mesma da época dos hexavós. Impressionante a igreja de São Victor, imponente e preservada em todos os sentidos. Por isso dizemos que Braga é um lugar que devemos sempre retornar e conviver. A nossa essência caminha pelas ruas. E, se um Braga quer se sentir exaltado é lá que deve estar. Experimentar a sensação de visitar o mesmo lugar em que seus antepassados foram batizados, crismados e casados é embeberse da cultura de seu clã, com todos os seus códigos e suas permanências. É possível sentir a atmosfera, a história do lugar e experimentar uma sensação de pertencimento muito grande, pois bem antes da civilidade atual, já estávamos ali. Estávamos ali como Celtas, Ibéricos, Gregos, Romanos... Qualquer outro povo que a habitaram nos seus primórdios. A igreja de São Victor pode ser considerada um monumento memorial dos Braga de antigamente. Tudo nela nos diz respeito, sua história é nossa história. Há um link entre esse sagrado e nós do clã Braga.

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Figura 19: 1ª foto: interior da igreja de São Victor. Fonte disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Victor. 2ª foto: Laércio Braga, 2014.

A sensação maior que temos é que nunca nos despedimos definitivamente de Braga. Parece que fomos dar um passeio no Brasil e para lá voltamos, para visitar coisas nossas, rememorar as coisas passadas. Passadas tantas gerações, continuamos os mesmos bracarenses. Parece que nunca saímos dali para nada. Deus nos permita sempre voltar, porque lá também é nossa casa. Muito antes da Bracara Augusta povos ibéricos e celtas ocupavam a península. As marcas ainda hoje permanecem, tanto das primeiras ocupações, como as da conquista romana.

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Figura 20: mapa do Roteiro Medieval de Braga destacado. Fonte: CÂMARA MUNICIPAL DE BRAGA - DIVISÃO DE TURISMO. Braga: Gráfica PEB, 2014.

Pensava-se antigamente que na Península Ibérica existia um povo original, não migrante, mas estudos e escavações concluíram que tal fundamento era no mínimo questionável, pois a Península deveria ser pensada de forma mais distribuída: Pensa-se que a península Ibérica era habitada inicialmente por povos autóctones, que vieram a ser conhecidos como iberos. Posteriormente, cerca de 1.000 a.C. ou antes, chegaram à região povos Indo-Europeus de origem celta, que coexistiram com os iberos habitando regiões distintas: os celtas viviam principalmente na zona Norte e Ocidental da península, enquanto que os iberos viviam na zona Sul e Leste. Na meseta central, os povos celtas mesclaram-se com os povos iberos dando origem aos celtiberos, que não se devem confundir com os celtas ibéricos (celtas da península Ibérica). Os geógrafos gregos deram o nome da Ibéria, provavelmente derivado do rio Ebro (Iberus), a todas as

Laércio Braga tribos instaladas na costa sueste. Avieno no poema Ode Marítima (século IV) relata as aventuras de um navegador grego nos finais do século VI a.C. que descreve a existência de várias etnias na costa meridional atlântica, que já praticavam a cultura megalítica e seriam, provavelmente, os responsáveis pelo comércio com o atlântico norte — os estrímnios e os cinetes [ou cónios] (http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ib%C3%A9ricos_pr% C3%A9-romanos).

Na própria história de Braga temos uma salada mista com influência de diferentes povos, uns com muita influência, outros relativamente, tudo o que Braga é hoje foi erguido multiculturalmente: Gregos e fenícios-cartagineses também habitaram a península, onde estabeleceram pequenas colónias-feitorias comerciais costeiras semipermanentes de grande importância estratégica. Contudo estes últimos povos terão exercido influências mínimas para a ascendência dos povos da península, contribuindo apenas culturalmente, por exemplo com o alfabeto grecoibérico para as escritas paleohispânicas (idem, sem paginação).

A linha ascendente de Braga, através daqueles que migraram no século XVII ao Brasil, nos permite conjecturar sobre nossa descendência mais intimamente, pois podemos perceber que parentes, respeitando graus de consanguinidade, casavam-se constantemente, preservando os principais laços. Pesquisando a vasta documentação da freguesia de São Victor, concelho de Braga, referidas nos assentos de batismos, casamentos e óbitos, chegamos ao resultado sobre o nascimento de Domingos Francisco Braga em 21 de outubro de 1704 (Anexo II). Seus pais casaram em 19 de janeiro de 1692 (Anexo I). Eram eles: Manoel Francisco e Mariana Francisca. Manoel Francisco tinha como pai Antônio Gonçalves

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(23/09/1653) e mãe Maria Rodrigues (22/03/1654). Mariana Francisca tinha como pai Migel5 Fernandez e Maria Francisca de Vilar. Pais de Domingos Francisco Braga (matrimônio em 19/01/1692; Anexo I):  

Manoel Francisco Mariana Francisca

Avós paternos de Domingos Francisco Braga (Anexos II e III):  

Antonio Gonçalves (23/09/1653) Maria Rodriguez (22/11/1654)

Avós maternos de Domingos Francisco (matrimônio em 05/12/1670) [Anexo III]:  

Braga

Migel Fernandez Maria Francisca de Vilar

Bisavós paternos de Domingos Francisco Braga (Anexo III):  

Francisco Gonçalves e Maria Antonia Custodio Gonçalves e Elena Fernandez

Bisavós maternos de Domingos Francisco Braga (Anexo III):   5

Domingos Fernandes e Maria Rodrigues Sebastião Ferreira e Margarida Fernandez

A grafia deste nome é esta mesma no registro que encontramos, portanto, resolvemos não alterá-la em nossa árvore genealógica.

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Pedro Barroso Valente (Anexo IV), nascido em 20 de maio de 1689, nasceu em São Victor, concelho de Braga, Portugal, tinha como pais, casados em 05 de dezembro de 1670:  

Paschoal Barroso Paula Francisca

Figura 21: soldado português do século XVI. A imagem foi catada da Internet, sem datação ou autor.

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Bracarenses Ilustres * Nascidos em Braga André Soares; Carlos Amarante; Domingos Leite Pereira; Elísio de Moura; Francisco Sanches; Gabriel Pereira de Castro; Irmãos Roby; João Penha; Maria Ondina Braga; Paulo Orósio. * Nascidos não em Braga, mas com relevo na cidade de Braga Caetano Brandão; Conde de Agrolongo; Cónego Luciano Afonso dos Santos; Diogo de Sousa; Frei Bartolomeu dos Mártires; Gaspar de Bragança; Geraldo de Moissac; João Peculiar; Martinho de Dume; Moura Coutinho; Papa João XXI.

Figura 22: Câmara de Braga. Foto: Laércio Braga, 2014.

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Figura 23: autor em frente a Torre de Menagem de Braga, Portugal, 2014. Foto: Laila Braga, 2014.

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ELTA, O POVO DE BRACARA AUGUSTA

Os Iberos foram o primeiro povo que habitou a Península Ibérica, ocupando de Sul a Sudeste. Das terras mais frias do centro da Europa, vão chegar os Celtas que eram um povo de guerreiros, que já dominavam a fabricação de armas de ferro. Por terem escolhido se fixar no Norte não combateram com os Iberos. Para referendar, os ibéricos eram, segundo o pesquisador e historiador francês Antoine Fabre D’Olivet6 constante no seu livro ‘História Filosófia do Gênero Humano (1915), os árabes, como eram os lígures e como eram os lusitanos, e todos eles beberam, de algum modo, a influência de fenícios (a partir do Séc. X a.C e de gregos (a partir do Séc. VII a.C). E torna-se prudente salientar o que esclarece definitivamente HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA II (2010) quando diz que: A aceitação geral da hipótese da origem monogenética e africana da humanidade suscitada pelos trabalhos do professor Leakey tornou possível colocar em termos totalmente novos a questão do povoamento do Egito, e 6

Original em: Histoire philosophique du genre humain; ou, L'homme considéré sous ses rapports religieux et politiques dans l'état social, à toutes les époques et chez les différents peuples de la terre. Précédée d'une dissertation introductive sur les motifs et l'objet de cet ouvrage. Por Antoine Fabre d'Olivet; Paul Sédir. Editora: Paris, Bibliothè que Chacornac, 1910.

Laércio Braga mesmo do mundo. Há mais de 150 mil anos, a única parte do mundo em que viviam seres morfologicamente iguais aos homens de hoje era a região dos Grandes Lagos, nas nascentes do Nilo. Essa noção − e outras que não nos cabe recapitular aqui − constitui a essência do último relatório apresentado pelo Dr. Leakey no VII Congresso PanAfricano de Pré-História, em Adis Abeba, em 1971. Isso quer dizer que toda a raça humana teve sua origem, exatamente como supunham os antigos, aos pés das montanhas da Lua. Contra todas as expectativas e a despeito das hipóteses recentes, foi desse lugar que o homem partiu para povoar o resto do mundo.

As primeiras referências que temos dos celtas está inserido na literatura grega, por volta de 500 a.C. Tudo indica que, por este tempo, já deveriam habitar uma vasta área geográfica, que incluía França e Espanha e que se estendia até ao Danúbio superior, na Europa Oriental. É correto afirmar essa ocupação, pois nas escavações arqueológicas as datações dos achados confirmam sua história e informam sobre o passado pré-histórico dos celtas. Não podemos pensar os celtas como se fosse um único povo, e sim um conjunto de povos (Brácaros, Bretões, Batavos, Calaicos, Caledônios, Celtiberos, Célticos, Gauleses, Eburões, Escotos, Pictos, Trinovantes). Se a primeira referência foi feita durante a Idade Antiga, nós a situaremos no século VI a.C. A cultura celta era constituída por múltiplas tribos pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milênio a.C. As características físicas dos celtas eram constituídas de indivíduos fortes, altos e geralmente loiros. Dedicavam-se muito à arte da guerra, mas como em toda sociedade humana também havia seus artistas. Os celtas dominavam a fabricação

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de joias, armaduras e armas usando os metais. Seus carros de guerra eram temidos por seus inimigos.

Figura 24: mapa da Península Ibérica situando a localização dos celtas no Norte e outros povos pela Europa em cores. Fonte: .

A palavra celta é derivada da ancestral Keltoi que os gregos antigos usaram para denominar as tribos europeias ao norte deles. Para os gregos e estudiosos modernos, a palavra distingue diferentes culturas, do mesmo modo que foi usada no passado para denominar diferentes tribos, referindo-se à cultura e não ao povo geograficamente delimitado. Culturas celtas, ao contrário do que se fala, ainda existem.

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Na Antiguidade os celtas foram conhecidos por três designações diferentes, pelos autores greco-romanos: celtas (em latim Celtae, em grego Κελ τοί, transl. Keltoí); gálatas (em latim galatae, em grego Γαλ άται, transl. Galátai); e galos ou gauleses (latim gallai, galli; grego Γάλ λ οί, transl. Galloí). O termo celta começou a ser usado para culturas europeias atuais (portanto vivas) a cerca de 300 anos atrás. Para algo ser chamado de celta significa, portanto que se desenvolveu e existe numa cultura que fala a língua celta. Para complicar o enredo, temos James MacKillop, Myths and Legends of the Celts apud Claudio Quintino Crow (2010) que diz: [...] 'celta' pode ser a mais poética forma já legada pelos estudiosos. Sua raiz pode ser facilmente traçada ao grego Keltoí, significando 'oculto' - ou seja, o povo oculto da visão dos mais civilizados. Foi somente por volta de 1700 que os sábios começaram a aplicar o termo 'celta' à família de línguas então faladas na periferia do noroeste europeu: irlandês, gaélico escocês, manquês, galês, córnico e bretão. Esta origem no discurso acadêmico e não oral explica porque há sempre dúvidas sobre a forma correta de se pronunciar a palavra e, por razões etimológicas, os especialistas sempre preferem o c 'duro' (kelt) ao c 'suave' (celt) - como seria de se esperar de acordo com o padrão fonético inglês. Para complicar as coisas, os povos a que chamamos de celtas jamais usaram o termo até recentemente, nem possuíam alguma outra expressão que denotasse sua comunidade linguística (sem paginação).

Pode ser que seja uma nova nomenclatura para estes povos, entretanto é o que temos para mencioná-los. Para situarmos melhor o povo Celta que queremos destacar, ressaltamos o povo Brácaro (em latim bracari). Eram

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um povo pré-romano de cultura céltica que habitava o noroeste de Portugal. O que é seu território entre os rios Douro e Lima, por volta do ano 16 a.C, foi onde está edificada Bracara Augusta a mando do imperador romano Augusto. O nome romano da atual cidade de Braga. Adoravam a deusa galaicolusitana Nabia. Mas antes queremos referendar que, um dos celtas mais lembrados na história ou na história das lendas é o famoso rei Arthur de Camelot, numa fase pós-romana, embora a aventura desse herói seja em outra geografia. Com certeza é o mais conhecido dos heróis celtas. É difícil afirmar que a história, recheada de rituais pagãos, seja verdadeira como contada por vários autores. Está mais na categoria de lendas mesmo já que se considera que, as primeiras narrativas do homem, como se encontram na History of Britons do século XIX, e na History of the Kings of Britain do século XII, por Geoffrey de Monmouth, são duvidosas e extremamente discutíveis, mas é inevitável extrair história dentro da lenda, uma vez que temos registros da existência do rei Arthur. Poemas como os de Chrétien de Troyes, escritor do século XII, dão-nos as versões mais antigas do romance arturiano, assim como a versão em prosa de Sir Thomas Malory, La Mort d’ Arthur, de 1485, foi uma das primeiras obras impressas em inglês. No fim do século XVIII e durante o século XIX, os escritores românticos fizeram reviver os romances arturianos medievais, que culminaram, no período vitoriano, com o poema de Lord Alfred Tennyson, Idylls of the King. O mundo musical explorou igualmente os romances: o compositor alemão Wagner reuniu enormes audiências para as suas óperas arturianas românticas Lohengrin, Parsifal e Tristão e Isolda (A ILHA AFORTUNADA, 2010). Como se vê as hipóteses lendárias são muitas e as incorporações também. O

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universo céltico está presente, seja na lenda, no romance ou na realidade. Procuramos ler nas entrelinhas. Existe um mosaico da catedral de Otranto, Itália; séc.XII que cita Rei Arthur de Camelot e o retrata. Pesquisadores arqueólogos britânicos ainda hoje escavam lugares na intenção de encontrar o castelo do rei Arthur, chamado pelo próprio de Camelot, onde estava a famosa Tábula Redonda. Estudos apontam, diante as possibilidades de evidências míticas, que talvez existiu um famoso guerreiro romanobritânico-céltico (provavelmente chamava-se Artorius), a combater por uma Bretanha deixada indefesa pela partida das legiões romanas, nos princípios do século V. Seus inimigos incluíam, provavelmente, os Pictos célticos e os Escoceses, embora as suas batalhas principais pareçam ter sido contra os Anglo-Saxões não célticos. Mas a intenção nossa é falar dos celtas, não propriamente de Sir Arthur. Apenas fizemos esta introdução para que o leitor imagine o universo celta a partir das imagens da corte e dos vassalos do famoso personagem. E como bem é conhecida a história desse rei, podemos formalizar em nossas mentes um pouco deste universo celta em que o cristianismo estava impregnado de rituais pagãos. Ou seria o contrário? O paganismo estava impregnado de cristianismo. O que podemos observar é que, na corte do rei Arthur e o próprio vivia-se a atmosfera celta em um período de transição entre o paganismo e o cristianismo dominante, uma mudança de mentalidade. Nada mais seria como antes, nunca. Realinhando o pensamento, os celtas eram povos ou tribos indo-européias que se espalharam pela Europa no século II a.C . Eram tribos que se denominavam Brácaros, Bretãs, Belgas, Gaulesas, Pictos, Batavos e etc. Criou-se uma polêmica

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para os historiadores saber de que povos surgiram os Celtas, pois há quem diga que vieram dos arianos ou caucasianos, alguns dizem que eles já existiam em pequenas comunidades na Era do Gelo e depois, 5.000 a.C, e que depois começaram a se espalhar pela Europa. Eles dominaram a Grã-Bretanha, a Gália, partes da Ásia e o norte de Portugal e Espanha.

Figura 25: O rei Artur (mosaico da catedral de Otranto, Itália; séc.XII). Fonte: http://ailhaafortunada.bl ogspot.com.br/2010/06/ artur.html.

Figura 26: recorte dos anos 80 da Revista Manchete. Gravuras que mostram uma reunião dos famosos cavaleiros da Távola Redonda e o momento da retirada da espada Excalibur, que o levou ao trono. Foto: Editora Abril. A foto da távola é da Biblioteca Pública de Nova York.

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Políbio (203-120 a.C.) apud Vilar (2013) nos conta que os gálatas (termo também utilizado para se referir aos celtas) eram interessantes no que diz respeito a aparência e nesse caso os melhores relatos que possuímos dizem respeito aos gauleses, as tribos celtas que habitavam a vasta região chamada de Gália ou Céltica, que hoje corresponde em grande parte ao atual território da França, embora no passado a Gália fosse bem mais extensa: Guerreiros fortes e bravos, tinham uma estatura mais alta do que dos gregos, e um porte físico mais acentuado; possuíam a pele mais branca, e entre seu povo era mais comum haverem pessoas de cabelos louros e olhos claros, pois em geral os gregos antigos e os romanos eram na maioria morenos e de olhos escuros. A estatura média dos homens era em torno de 1,60 a 1,65. Acredita-se que os gauleses tivessem um estatura média de 1,75 m, daí entre os romanos, os mesmos irem até as Gálias buscarem escravos para serem gladiadores, pois eram mais altos e mais fortes, algo que os germanos também se equiparavam.

O historiador e geógrafo grego Políbio (203-120 a.C) descreveu algumas características dos celtas, provavelmente ele teve acesso a retratos falados, pois algumas tribos celtas chegaram a atacar o norte da Grécia no século III a.C., antes de serem expulsas para a Ásia Menor. Compara-se os celtas com características étnica similar a dos povos Germânicos, pois eram altos, com muitos pelos e de olhos e cabelos claros e não era estranho, na verdade muito comumente, aparecerem com pelos ruivos e alaranjados. Entretanto, são ramos étnicos e culturais distintos espaçados geograficamente e historicamente.

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Figura 27: pintura de uma comunidade celta. http://3fasesdalua.blogspot.com.br/2011/08/os-celtas.html.

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Fonte:

Seu modo de governar foi o mais diferente de todos os povos, já que não tinham um modelo padrão baseado na monarquia tradicional. A ideia que se tem era um tanto quanto parecida com a Democracia, mas existia um rei. O rei "geral" (presidente) que governava todo o território, o rei "regional" (governador) aquele que governava uma certa parte desse território e o rei "municipal" (prefeito) que governava uma cidade. Depois da morte do rei, outro era eleito por uma espécie de conselho, onde várias pessoas de confiança (juízes, druidas, ricos, deputados, senadores e etc) escolhiam o novo rei. Não existia empecilho para um homem da família anterior candidatar-se ao trono.

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Figura 28: Cópia romana da estátua grega O Gaulês Agonizante, esculpida no século III a.C, para simbolizar a vitória da colônia grega de Pérgamo sobre os gálatas. A estátua é uma das representações mais antigas conhecidas acerca da aparência dos celtas, originalmente era de bronze. Fonte: http://3fasesdalua.blogspot.com.br/2011/08/os-celtas.html.

A sociedade celta era dividida em clãs e os laços familiares eram muito valorizados. As mulheres celtas se assemelhavam aos homens não apenas pela sua estatura e altivez, mas também com respeito à coragem e participação ativa nas batalhas. Podiam combater igualmente. A se confirmar, temos o relato sobre mulheres poderosas e líderes deificadas como Boudicca e Maeve, que muitos preferem chama-las rainhas, mesmo que as convenções culturais sejam próprias. Estrabão, Diodoro de Siculo, Plínio Apud Leandro Vilar (2013) nos diz que: Entre outros historiadores, geógrafos e estudiosos gregos e romanos, também compartilham dessa similaridade. Nesse caso, eles diziam que as mulheres celtas eram mais altas do

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que as mulheres romanas e gregas, e muitas eram louras e até mesmo havia algumas ruivas. Porém, a ressalva que deve ser feita aqui, é o fato de que como os celtas se espalharam pela Europa, em alguns casos, seus traços físicos mudaram devido a miscigenação com outros povos. Por exemplo, os celtiberos, as tribos que viviam na Península Ibérica, não seriam tão iguais aos gauleses, eles seriam mais morenos e teriam olhos escuros. Por sua vez, os gálatas que viviam na Ásia Menor, mas que também eram celtas, possuíam suas diferenças, por terem se miscigenado com povos do Oriente Médio.

Com o exposto logo mais acima, podemos supor que a organização política dos celtas podia ser uma espécie de monarquia eletiva, totalmente diferente da cultura helênica para quem as mulheres eram consideradas seres inferiores. As vilas célticas na Irlanda eram chamadas de túath, onde cada um possuía seu líder e de certa forma cada família possuía direitos e deveres. Em alguns casos, o túath poderia conter um forte, onde viveria a nobreza ou a família aristocrata governante. Ao estudar a estrutura social dos celtas, poderíamos dividi-la nas seguintes classes: druidas, nobreza, aristocracia, plebe, escravos, embora houvesse diferenças entre alguns povos celtas. A estrutura social colocava os druidas especificamente à frente, pois formavam uma classe ou grupo ligado às questões religiosas, mas também ligados à tradição e a questões políticas e judiciais. Nota-se que os druidas necessariamente não cuidavam de questões do governo. Essa figura importante dentro da sociedade celta era, segundo nos esclarece Powell (1974, p. 160) a partir do seu significado linguístico: A palavra 'druida', tal como é usada nas línguas europeias modernas, deriva do céltico continental através dos textos gregos e latinos. César, por exemplo, refere-se a druides e Cícero a druida ambas são, é claro, formas latinizadas do

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Figura 29: tipos de habitação celta em Portugal. Fonte: http://tribodomorcego.wordpress.com/2011/08/17/celtas-e-culturacastreja/. Figura 30: Desenho original celta, a "triskle", um símbolo solar de três braços derivado da roda, aparentado da "suástica", que continua a carregar uma imagem negativa, especialmente na Europa, nos Estados Unidos e em Israel, devido ao seu mau uso durante a Segunda Guerra Mundial, pelo déspota Adolf Hitler, de triste memória. Foto: .

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Figura 31: Druida, o sacerdote celta. Fonte: .

Desconhece-se a existência de uma realeza celta antiga típica de um regime monárquico como o apresentado hoje em dia, entretanto, na Irlanda, ilha na qual a tribo dos bretões colonizou, chegaram a se formar pequenos reinos como o próprio Powell (1974) atesta. O mais sensato é afirmar que a estrutura social dos celtas era baseada no patriarcalismo e em núcleos familiares (fine), pois muitos dos celtas viviam em vilas ou em aldeias, uma vez que as cidades celtas ainda eram poucas. Existiam fortes ou fortalezas, mas essas eram mais comuns na Gália. Na Bélgica também temos a formação de uma realeza Celta no poder até 1830, com destaque para o clã dos Limme Van Overloop.

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Figura 32: evento religioso no monumento megalítico de Stonehenge, Inglaterra. Fonte: http://paradigmatrix.net/?p=11760.

A cultura celta era muito religiosa com seus deuses sempre interligados à natureza. Apesar da religiosidade rotineira, não construíam templos. Seus rituais eram realizados nos bosques (bosques sagrados chamados Nemeton) ou como no monumento megalítico Stonehenge7 na Inglaterra. O Flawegmann's Blog (2010) teoriza que, no sentido religioso celta, estava intimamente ligado com a vida cotidiana: Aquele povo nórdico mantinha uma vida simples se comparada com a do mundo civilizado atual, e primava pela utilização das forças telúricas em todas as suas atividades, expressas basicamente através de ritos 7

Na Europa há muitos mistérios em volta destes círculos de pedra que parece ter sido usados mais tarde pelos druidas como templo, contudo Stonehenge foi construído por uma civilização das ilhas britânicas anterior aos celtas. Arqueólogos desfizeram o mito de que os famosos círculos de pedra, como Stonehenge foram construídos pelos celtas ou druidas.

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propiciatórios. Consideravam a natureza como a expressão máxima da Deusa Mãe.

Os celtas sofreram muita aculturação, desde a dominação romana, até a chegada do cristianismo, mas como vimos um dia os romanos retiraram-se de suas terras, deixaram um legado cultural e arquitetônico, uma nova forma política de organização sem, contudo, dispersá-lo na essencialidade existencial. A arte celta era muito parecida com a românica: afresco, esculturas, desenhos, colunas e etc. Quando buscamos o guerreiro na sua essencialidade dentro da cultura celta encontramo-lo inserido numa série de narrativas. As narrativas permitem buscar, na verdade, o sentido inicial que, no final, encontra-se a verdade dos deuses e a essência do próprio guerreiro. É por isso que era um povo guerreiro, porque o grande desafio de todo celta guerreiro é essa busca pelo sentido essencial, mesmo que a busca não tenha fim. A missão era sempre ir além, ultrapassando seus próprios limites e enfrentando as muitas provações na sua caminhada. Outra busca importante para os celtas era a busca do ser amado. Encontrar o ser amado é unir dois fragmentos dispersos no cosmos com a finalidade de criar a união divina e fundamental. Para os celtas eram impostas duras provas na busca da mulher amada. Aquele que vencia essas provas era digno do amor dessa mulher. E isso então, torna essa busca uma iniciação também. Dessa forma, pensamos como um ritual de passagem apesar de, necessariamente não significasse a ascender à fase adulta. Os Guerreiros apreciavam festas e bebida. Lutavam com ferocidade, mas sem disciplina e foram facilmente conquistados pelos romanos. No entanto, os guerreiros celtas eram terríveis - pelo menos na aparência. Os homens

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normalmente vestiam tocas de lã, mas, nas batalhas combatiam nus, usando apenas os seus colares. Seus corpos eram pintados de azul com uma tintura extraída das folhas de uma planta chamada ísatis. Os guerreiros lutavam avançando com espadas, lanças e fundas e protegiam-se com escudos de bronze ou de madeira. Eles avançavam sobre o inimigo a pé, gritando e batendo nos próprios escudos. Alguns sopravam cornetas. Embora fossem combatentes destemidos, os celtas nunca foram um exército eficiente, por causa da indisciplina. A coragem valia mais que ela, na verdade. Os guerreiros celtas também tinham um código particular de honra em combate. Eles consideravam inaceitável, por exemplo, que um só homem fosse atacado por dois inimigos ao mesmo tempo. Como resultado, foram com facilidade batidos pelas altamente disciplinadas e treinadas legiões romanas que não observavam tais códigos e evidenciavam as estratégias. Numa entrevista para a agência Reuters, Daniel Bradley explicou que ele e sua equipe propunham uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do Atlântico: pelo menos 6000 anos atrás, ou até antes disso. Os grupos migratórios teriam saído de áreas em torno do que são hoje Espanha e Portugal em fins da Idade do Gelo. Figura 33: guerreiros celtas combatendo inteiramente nus, como era o costume que impressionaram os romanos. Fonte: http://3fasesdalua.blogs pot.com.br/2011/10/osguerreiros-celta.html.

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O geneticista Bryan Sykes8 confirma esta teoria no seu livro "Blood of the Isles" (2006), a partir de um estudo efetuado em 2006 pela equipe de geneticistas da Universidade de Oxford. O estudo analisou amostras de DNA de 10.000 voluntários do Reino Unido e Irlanda. Sykes chegou à conclusão de que os celtas que habitaram estas terras, escoceses, galeses e irlandeses, eram descendentes dos celtas da Península Ibérica, que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4.000 e 5.000 a.C. Outro geneticista da Universidade de Oxford, Stephen Oppenheimer, corrobora com esta teoria no seu livro "The Origins of the British" (2006). 8

Bryan Sykes (nascido em 9 de setembro de 1947) é um professor de Genética Humana da Universidade de Oxford e membro do Wolfson College. Sykes publicou o primeiro relatório sobre a recuperação de DNA a partir do osso antigo (Nature, 1989). Sykes foi envolvido em uma série de casos de alta visibilidade que lidam com DNA antigo, incluindo os de Ötzi o Iceman e Cheddar Man, e outros relativos a pessoas que afirmam ser membros dos Romanovs, a família real russa. Seu trabalho também sugeriu que um contador da Florida pelo nome de Tom Robinson era um descendente direto de Genghis Khan, uma reivindicação que foi posteriormente desmentida. Sykes é mais conhecido fora da comunidade de geneticistas por seus livros best-seller sobre a investigação da história humana e pré-história através de estudos de DNA mitocondrial. Ele também é o fundador da Oxford Ancestors, uma empresa de teste de DNA genealógica. Disponível em: [tradução nossa]. The Blood of the Isles. Bryan Sykes. Bantam Press. 2006. 400pp. £17.99. ISBN: 0-593056523 Para saber mais acessar o mesmo site.

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Estes estudos levaram também à conclusão de que os celtas originaram não na Europa central, mas entre o povo que se refugiou da última Idade do Gelo na Península Ibérica.

Figura 34: retrato de um celta com elmo. Fonte: http://3fasesdalua.blogsp ot.com.br/2011/08/osceltas.html.

A cosmogenia celta estava interligada ao respeito profundo à Natureza, honrando a Terra e suas criaturas como elos sagrados na teia da criação e na magia da vida. Esta reverência e o culto de inúmeras divindades ligadas às forças da natureza mantiveram-se intactos mesmo depois da romanização das terras celtas e do sincretismo com os deuses romanos, mas com o cristianismo as perseguições e mudanças foram acontecendo de forma sistemática. Evidentemente que, o choque de culturas proporcionou falta de relativismo profundo como a dificuldade de compreensão e aceitação pela cultura cristã na associação no protótipo da sagração feminina com a guerra. Os celtas acreditavam no sagrado feminino soberanamente sobre a terra, sempre representado por uma Deusa Mãe que tinha características protetoras e defensoras. Não existia um Deus,

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mas uma Deusa Mãe. A Deusa poderia ser representada por uma sacerdotisa ou rainha imbuída de poderes especiais, que até mesmo podia ser divinizada, como se conclui das lendas de Macha, Maeve e Boudicca (O nome Boudicca ou Boadiceia se origina na palavra celta bouda que significa vitória). É por isso que, nas batalhas de celtas estavam presentes mulheres. Os contos e os mitos do mundo céltico são crenças antigas que estão graficamente preservadas em vários textos ou manuscritos, que vão desde o irlandês "Lebor Gabála Érenn - O Livro das Conquistas" ao Mabinogion - coletânea escrita em prosa, no galês medieval - baseado nas tradições dos primeiros contadores de histórias, conhecidos como bardos, na tradição druídica. Como todos os povos da época, entre a arte e a guerra eles buscavam a ajuda dos deuses. Seus amores eram abençoados por Aína, os jovens eram abençoados por Angus Mac Og (ou Oengos) para que quando virassem homens feitos fossem abençoados por Badb, deusa (repare, deusa) da guerra. Os bardos que tocavam nas tabernas faziam suas preces a Brigit, que abençoava seus dedos para que pudessem tocar replicas de sua harpa. Os romanos e gregos chamavam os celtas de bárbaros porque eles usavam calças e não saias. Tanto homens e mulheres usavam túnicas (léine) geralmente feitas de linho ou de lã e que dependendo do lugar poderiam ter mangas curtas, longas ou mesmo não ter manga nenhuma. No caso das destacadas lideranças, alguns chegavam até mesmo a usar roupa de seda, provinda da Ásia Menor. Os homens usavam túnicas até a altura dos joelhos e as mulheres mais longas, chegando aos tornozelos. As túnicas eram presas por um cinto ou cinta (criss). Homens e mulheres também usavam uma pequena capa (brat) geralmente feita de lã e em formato

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retangular. Além dessas capas curtas eles também usavam capas longas e outros tipos de tecidos nos quais usavam para formar capas ou laços nas roupas prendendo-os com alfinetes feitos de bronze. As mulheres também usavam vestidos e no caso dos homens esses usavam calças (bracae). Os celtas calçavam sandálias e sapatos. Políbio diz que os celtas usavam roupas coloridas, diferentes das roupas unicolor geralmente usadas pelos romanos e gregos (Leandro Vilar, 2013). Sobre a aparência dos celtas, tais aspectos reforçavam a noção que os romanos e os gregos tinham deles como bárbaros, principalmente os romanos. Entre os romanos era normal e até mesmo uma conduta social, os homens manterem os cabelos curtos e a barba feita, embora que entre os plebeus houvesse homens que usassem bigodes e barba, mas os cabelos longos não eram habituais entre os romanos. Para eles, a aparência dos celtas ajudava a corroborar sua ideia de serem bárbaros. Homens que deixavam os cabelos crescer e não se barbeavam com regularidade, não tinham aspecto de "civilizados".

Figura 35: desenho retratando guerreiros celtas. Fonte: SEGUINDO OS PASSOS DA HISTÓRIA. Disponível em: http://seguindopassoshistoria .blogspot.com.br/2013/03/co nhecendo-os-celtas.html.

Os trajes militares, pelas descrições que temos de Políbio, Dionísio e Estrabão Apud Leandro Vilar (2013), a maioria dos guerreiros celtas, válido para aqueles que lutaram na Itália, usavam apenas calças e sandálias. Alguns usavam as capas curtas, mas em geral lutavam sem camisa, mas em

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épocas geladas usavam blusas, dependia muito do guerreiro e da intensidade do frio. Os líderes ou se trajavam iguais aos seus comandados ou usavam túnicas, calças, podiam usar armadura de couros retorcidos ou de malhas de ferro, que cobria o corpo (cotas) e elmos. Em alguns casos os soldados também usavam túnicas e calças, e num caso mais específico, os gaesatae (lanceiros) lutavam nus. Como viviam em tribos, os laços familiares eram bem mais próximos e cultivados. A maioria dos celtas praticava a agricultura e a pecuária e dela vivia, assim toda a família ajudava nas tarefas da lavoura e do cuidado dos animais. O direito à terra era hereditário. Um grande diferencial, na Irlanda, era que as mulheres também tinham direito a posse da terra e a tinham como parte do dote. A sociedade era patriarcal, logo o chefe da casa era responsável por todos e pelo nome e honra de sua família em sua comunidade. No caso dos direitos, Powell aponta que as leis celtas eram transmitidas oralmente e eram debatidas pelos senhores de cada comunidade, em alguns casos, os druidas faziam a transmissão dessas leis, pois a eles estava associado a preservação e continuação dos saberes dos antepassados. Podemos pensar neles como guardiões da cultura, memória e história dos celtas. Praticavam a agricultura, a pecuária e o comércio. Basicamente os celtas viviam da agricultura e da pecuária, no entanto dependendo da região, eles poderiam ser mais agrícolas ou mais pecuaristas. Além disso, as aldeias e vilas que ficavam próximo a rios, lagos e do mar, eram fontes de pescado. Os celtas costumavam criar vacas, cabras, ovelhas, porcos e cavalos. Domesticavam animais de estimação como cães. Os celtas também eram caçadores, quando havia abundância de caça (javalis, patos selvagens, faisões, cervos, lebre, etc). Diferente do que vemos nas histórias em quadrinhos

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de Asterix, onde os gauleses se fartavam em banquetes com carne de javali, na realidade, os gauleses preferiam mais carne de porco (principalmente assada ou cozida em um grande caldeirão), pois nem sempre era fácil se caçar javalis ou encontrá-los, pois a caça excessiva reduziu as populações desse animal selvagem ou as fizeram migrar para outras regiões. Também, pode-se dizer que, quando havia abundância de javali a mesma era fartamente aproveitada. Na Gália, o cultivo do trigo e da cevada era a base da alimentação gaulesa. Do trigo faziam o pão e da cevada a cerveja e, ambos os produtos tinham em abundância. Também consumiam frutas e outros tipos de plantas que poderiam encontrar na floresta, e até mesmo cogumelos. Neste sentido, eram coletores. Bebiam leite de vaca e de cabra e se fosse o caso até de égua. Dominavam a fabricação de queijo e manteiga. Por dominarem a confecção de objetos de ferro, os celtas praticavam o comércio há vários séculos. Foi o povo responsável pela difusão da metalurgia à base de ferro na Europa Central e Ocidental. Os celtas por muito tempo chegaram a comercializar bronze, ferro, estanho e outros metais com os gregos, romanos, etruscos e até com outros povos do leste europeu. Os celtas comercializavam tanto os metais puros como também objetos de metais, pois a arte celta era uma das mais avançadas da Europa Central. Além disso, eles também comercializavam utensílios cerâmicos e escravos. Um aspecto notável de alguns dos centros de povoamento agrícola celtas, que não podemos deixar passar em claro, era o do uso de fundos poços para armazenagem, espécie de silos, cavados sob o solo da casa ou do recinto da habitação. É de crer que estes poços tivessem sido aproveitados principalmente para armazenagem de cereais, e, pelos menos

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na Grã-Bretanha, eram revestidos de esteira de vime e serviam apenas por algumas estações, devido aos efeitos da umidade. Depois os enchiam de entulho e terra e abriam outros. (POWELL, 1974, p. 95). Powell (1974) conta que os celtas faziam as refeições geralmente no chão, sentados sobre peles ou tapetes, em círculos, em torno de uma mesa baixa, onde a comida era posta em pratos e travessas, mas em outras regiões, os celtas faziam as refeições sentados em cadeiras ou bancos e em mesas mais altas. Comia-se normalmente com as mãos. Em alguns casos, mesas e bancos eram postos no lado de fora, e toda a aldeia ia participar de um jantar coletivo, com música e dança. Neste aspecto, os celtas eram conhecidos por apreciarem a música, a poesia e a dança, principalmente nos períodos de celebrações religiosas, em casamentos ou nas celebrações de vitórias militares. Arrastava-se o tempo em comemorações. Júlio César descrevera que os celtas não possuíam hábitos à mesa, comiam como verdadeiros bárbaros, arrancando pedaços de carne vorazmente, arrotando, falando alto, cuspindo, etc. Quando o Imperador Constantino, o Grande, tornou o cristianismo legal pelo império em 31 3 DC, ocorreram consequências irreversíveis na cultura dos celtas romanizados. Os santos cristãos entraram na História, como S. Patrício da Irlanda, S. David de Gales e S. André da Escócia, que são os mais conhecidos. As populações celtas foram cristianizadas e a Igreja celta tornou-se a religião principal.

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AMÍLIAS BRAGA E BARROSO DE PORTUGAL

Figueiredo (2010) nos fala acerca da formação dos nomes de família em várias sociedades pelo mundo, especialmente em Portugal, um dos berços de nossa cultura: Na maioria das línguas indo-europeias, o prenome precede o sobrenome (apelido de família) na forma de designar as pessoas. Em algumas culturas e idiomas (por exemplo em húngaro, vietnamita, chinês, japonês ou coreano), o sobrenome precede o prenome na ordem do nome completo. Na maioria das culturas as pessoas têm apenas um sobrenome, geralmente herdado do pai. Muitas vezes, porém na cultura anglo-saxónica entre o nome próprio e o sobrenome usam ainda um nome do meio, por vezes escolhendo o sobrenome materno para esse segundo nome próprio. Já na cultura lusófona é costume os filhos receberem um ou mais sobrenomes de ambos os progenitores. Também assim se procede na cultura hispânica, porém note-se que, enquanto na Lusitana os sobrenomes maternos precedem os paternos na disposição final do nome completo, na Espanha e na América hispânica a ordem é a inversa. Em Portugal o número máximo de sobrenomes permitidos é quatro, o que permite o uso de sobrenome duplo quer materno, quer paterno, enquanto que na Espanha é de dois, mas esses dois podem ser duplos, unidos por hífen, resultando na realidade em quatro. Já no Brasil e nos restantes países de língua portuguesa não existe essa limitação. Em muitas culturas também é normal uma mulher assumir o sobrenome do marido após o casamento. Em Países como a França, a Alemanha e nos países anglo-saxônicos é normal a mulher "abdicar" do seu sobrenome de solteira (o chamado maiden

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name) e ficar apenas com o sobrenome do seu cônjuge [...]. Na Espanha e em alguns países de língua espanhola a mulher costumava substituir o seu sobrenome materno pelo sobrenome do marido, precedido da preposição "de". Contudo, nas últimas décadas esta prática tem sido gradualmente abandonada. Em Portugal a lei apenas obriga, ao registar-se um neófito, a que este receba um nome próprio, e um dos sobrenomes paternos, do pai, não necessariamente o último sobrenome do pai, pode ser até o da mãe do pai, ou sobrenome paterno do meio. Um segundo nome próprio, sobrenomes maternos, ou mais sobrenomes paternos, até ao número de quatro, são facultativos legalmente, ou seja, dependem da vontade dos pais. A partir do final do século XIX apenas, e por influência da burguesia francesa, tornou-se algo comum as mulheres portuguesas acrescentarem o sobrenome (ou duplo sobrenome) do marido aos seus sobrenomes, sem no entanto perderem os seus próprios de solteira. [...] no entanto que a repetição na mulher de sobrenomes comuns aos noivos é legalmente facultativa em Portugal, e depende apenas do gosto da noiva (p. 2)

Confrontando as informações dos nossos tios-avôs com a realidade das pesquisas, chegamos a seguinte conclusão, partindo da análise documental existente: O documento do cartório Val-de Cans, Registro Civil de Casamento dos nossos avós paternos (Anexo VIII) foi o ponto de partida para que nos interessássemos pela origem do sobrenome Braga. Mas tivemos de esperar muito tempo (até os 30 anos) para termos acesso aos documentos de nossa família, nem sabemos o por quê. Na certidão de Casamento, no dia 23 de junho de 1928, casavam-se Otavio Furtado Braga e Ósea Alves de Lima. Ele nascido no Estado do Ceará (Maranguape), em 02 de junho de 1908, profissão militar e ela nascida no Estado do Ceará,

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também aos 1º de março de 1912. Otavio Furtado Braga era filho de Francisco Ferreira Braga, nascido em 1864 e morreu em 1958 (tinha 94 anos quando morreu) e Sabina Furtado de Mendonça, nascida em 1884 e morreu em 1953 (tinha 69 anos). Ósea era filha de Zacharias Alves de Lima, já falecido no Pará e Maria Alves de Lima, nascida em 1878. Trataremos o nome do nosso avô Octavio Furtado Braga, na grafia atual, ou seja Otavio, sem o C mudo após o O. Bom, já tínhamos informações suficientes para começar uma pesquisa, mas faltava-nos ainda mais detalhes. O fato é que nossa família já estava no Pará na década de 20 do séc. XX. Eram todos, basicamente, migrantes nordestinos e tinham vindo ao Pará – no caso dos Braga – não por causa da seca, mas para investir melhor numa terra que diziam ser abençoada e de grandes oportunidades.

Figura 36: tio-avô Raimundo Furtado Braga em 2001. Nosso grande relator de muitas histórias dos Braga. Foto: álbum de família.

Nosso tio-avô Raimundo Furtado Braga (nascido em 10.03.1920, na vila de Porto Seguro, talvez vila de Igarapé-Açu

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ou Timboteua) dizia também que tínhamos um parente cangaceiro, mas que era um cangaceiro bom, chamado Erotides Martins parente da bisavó, Sabina Furtado de Mendonça (1884-1953). Falava também de um lugar chamado Macambira, que parecia ser uma vila ou uma fazenda, não sabia precisar muito bem. Os Braga em sua maioria tinham a cor branca ou a pele clara, geralmente os cabelos louros. Dizia que nosso vovô Otavio era comunista, que uma vez ele foi preso a mando do presidente Castelo Branco e levado em um Jipe pelo exército. Falava isso sorrindo porque ele de fato era comunista. Nossa prima Doracy Braga (1943) dizia que ele era ocultista e que tinha o livro de São Cipriano. Quando éramos crianças e íamos visitar tia Lurdinha (Maria Serafim da Silva) em São Miguel do Guamá-PA conhecíamos que era sua vizinha uma tia-avó Braga, já com idade avançada e bem baixinha chamada Otília Braga, que tinha parentes em Porto Velho e para lá se foi um dia, para nunca mais voltar. Com nosso avô Otavio Braga só tivemos apenas uns três ou quatro contatos na vida. Uma vez fomos visitar vovô e a segunda esposa, Chiquinha, uma negra de olhos verdes. Chiquinha devia ter sido muito bonita na juventude. Com ela, vovô teve Abede-Nego Braga, branco quase albino, que morreu aos 41 anos de idade num acidente de carro: ele dirigia um caminhão de transporte de bebida para a Distribuidora de Bebidas JM. Na entrada da rodovia estadual para vila de Mosqueiro um ônibus bateu na lateral do caminhão, que capotou e o vitimou. Estivemos no seu enterro. Os filhos, Reginaldo, Rosimeire (Meire), Regiane (Branca), Abede-Nego (Galego) e Rosiane (Neném) ficaram orfãos de pai e mãe, pois sua esposa Rosa morreu um ano ou dois antes, vítima de câncer de mama.

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Quando éramos crianças, vovô Otavio morava na localidade do km 47 da rodovia Pará-Maranhão (hoje Santa Luzia do Pará). Havia uma pequena quantidade de Braga por lá, mas a gente não tomava muito conhecimento, pois nosso pai não era muito de falar em família. Tudo porque a mãe morreu nos seus primeiros 40 dias de vida, diziam que fora em consequência de seu parto. Nos seus aniversários, nosso pai ficava muito triste e nem podíamos comemorar direito a data e ai de quem fizesse alguma coisa que significasse algo de errado. O couro da gente respondia pela sua angústia. Quando apanhávamos éramos quase que espancados ou espancados mesmo, já que ficávamos com marcas de sola ou cinturão pelo corpo todo. Nosso pai não fora criado pelo nosso avô, Otavio Braga. Viúvo entregou-lhe à sogra para criá-lo, Maria Alves de Lima que já era viúva também. Quando esta morreu, uma tia sua ficou encarregado de criá-lo. Se bem não nos enganamos foi tia Otília. Ele não tinha um relacionamento muito bom com o pai, mas eram cordiais, inclusive nosso pai visitava-o e ele o tratava por Raimundinho. Nosso pai não gostava do próprio nome, Raimundo Alves Braga, não pelo Alves Braga e mais pelo Raimundo mesmo. Era para chamá-lo de Louro. Assim ele se apresentava e queria ser tratado. Em 1948, aos 18 anos de idade, nosso pai, Raimundo Alves Braga envolveu-se com uma jovem de sua terra, Capanema-PA e desta relação legitima temos um irmão, Paulo. Antes mesmo da moça completar os nove meses de gravidez, nosso pai abandonou-a para sempre... E ao filho em consequência. Passados muitos anos, temos uma relação amistosa e respeitosa com nosso irmão e sua família. É muito bom contemplar que nosso avô, Otavio Furtado Braga, fosse um sujeito politizado. Soubemos que ele apoiou

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nosso tio Abede-Nego quando este se candidatou a vereador pelo que é hoje a cidade de Santa Luzia do Pará, mas nosso tio perdeu a eleição e seu negócio no ramo de farmácia declinou. Sabemos que os gastos em uma campanha são altíssimos, que dizer em município do interior em que a compra de votos sempre é uma prática comum? Mas ouvíamos também nosso pai falar para nossa mãe que nosso avô ficou logo senil por ter entrado para a maçonaria e esteve em desacordo com os princípios desta, mas não acreditamos nisso, até porque a causa de sua senilidade foi uma viagem para recuperar seringais de sua propriedade no Acre, sem sucesso. Lá uma cobra venenosa o teria picado e ele ficou entre a vida e a morte. As terras que procurava resgatar tinham sido invadidas e griladas, portanto, isso o atingiu profundamente.

Figura 37: retrato de Abede-Nego da Silva Braga (tio) filho de Otavio Furtado Braga e Francisca da Silva Braga (Chiquinha). Foto: álbum de família.

Quando a família do tio Abede-Nego Braga estava de mudança para Tucuruí-PA (nosso tio arranjou emprego na empresa que construía a hidrelétrica de Tucuruí) nosso vovô ficou um tempo em casa (1979), em Santa Maria. Infelizmente vovô estava precocemente senil, às vezes não falava coisa com coisa, mas era carinhoso conosco. Sem ver para quê, vovô nos

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largava falando sozinhos, à noite, ia ao quintal para observar e conversar com a lua... E às vezes era lúcido. Como éramos muito pequenos, a época, não lhe fizemos perguntas sobre seu passado e sua família, nem ele falou qualquer coisa. Só sabemos que em seus acessos de senilidade queimou uma mala cheia de documentos e chegou a agredir fisicamente Chiquinha (segunda esposa) com ciúmes desta que queria aposentar-se.

Figura 38: a família de meu tio Abede-Nego Braga em Tucuruí-PA. Da esquerda para direita: Chuiquinha (2ª esposa de Otavio Braga), Regiane, Rosimeire, Rosiane, Reginaldo, Abede-Nego Filho, Abede-Nego Braga e Rosilda. Foto do início dos anos 80: do álbum de família.

Com certeza, existem muitas histórias de Otavio Braga e nosso tio-avô Raimundo Braga, seu irmão. Nosso tio-avô nos contou que vovô era sedutor naturalmente, por ser muito bonito, entretanto, que ninguém confiasse em sua cara de anjo, era lindo sim, mas perverso no sentido que não se deixava

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dobrar. Quando vovô era militar, soube que tinha uns dois cabras metidos a cangaceiros em Capanema-PA e pediu ao comandante que o designasse para delegado lá. O comandante desdenhava perguntando “o que um homem com cara de moça ia fazer lá?”. Nosso avô insistia para que ele o mandasse que não se arrependeria. Depois de muita insistência o comandante liberou para que ele assumisse o cargo. A notícia correu a cidade: “que o militar Otavio Braga vinha dar um jeito na bandidagem”. Capanema vivia um momento violento e de muito medo. Todos viviam subjugados. Os bandidos não se mostraram receosos com a vinda de seu Otavio Braga e foram esperá-lo na estação do trem. Quando nosso avô saltou do trem os bandidos já estavam a esperá-lo para afrontá-lo e disseram galhofeiros: “É esse o delegado com cara de moça?”. Saltando do trem e os identificando pela piada, seu Otavio sacou da arma e matou logo um e colocou o revólver na boca do outro, que pediu clemência ao que meu avô disse: “Cara de moça sim, mas coragem de macho!”. E assim, a saga de cangaço dos bandidos que estavam amedrontando Capanema se acabou. E nosso avô ainda tripudiou da cara do que ficou vivo para contar a história e Capanema rendeu homenagens ao nosso avô. Ser Braga é sinônimo de valentia! De militar a revolucionário foi um pulo. Vovô foi preso pela polícia de Castelo Branco por ser comunista, mas ele era um cidadão de muita índole, que pensava no outro e apoiava as instituições democráticas. Amava o governo de Juscelino Kubitschek e não hesitou em escrevê-lo para parabenizá-lo pela construção das rodovias federais unindo Norte e Sul. Exaltá-lo pela Reforma Agrária que promovia, demarcação de terras aos índios, a criação de reservas ambientais e a denunciar grileiro no Guamá, a construção de Brasília. A carta é de 27 de julho de

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1959. Abaixo a transcrição da carta enviada ao presidente da República (anexos X e XI): Santa Teresinha (Ourém) 27 de julho de 1959. Exmo. Sr. Tenente Manoel Dr. Juscelino Kubistcheck D.D. Presidente da República Saudações -S. Excia, eu como um caboclo brasileiro, congratulo-me com V. Excia, por meio destas mal traçadas linhas, tenho a mais elevada satisfação do povo brasileiro, possuir um Presidente da República, de um sentimento tão nobre, e de uma tiologia desenvolvida, e o maior administrador que o Brasil já possuiu, que dos 17 Presidentes da República, que já existiram nenhum deles suplantou V. Excia, em batalha, em patriotismo, pois todos os vossos feitos, e demais alto estima, louvo a vossa faculdade de ter incentivado todos os seus esforços, em uma feliz orientação de vossa personalidade, em ter se dedicado em uma coisa meritória, que é a construção da Capital da Brasília, com uma estrada de Rodagem, que liga nosso Estado do Pará, com a Capital Federal, que tanto vem favorecer o povo paraense, que há muitos vivem semizolado, esta idéia somente poderia brotar em coração brasileiro que ama a sua Pátria e que deseja o bem estar do seu próximo. A cima de tudo é um pensamento de um verdadeiro Patriota exemplar. Se todos os brasileiros tivesse um sentimento, de um desenvolvimento nacional, faziam todos os esforços para a criação de uma emenda Constitucional, para S. Excia poder ser reeleito, pois isto era um dever sagrado, porque era para um bem estar nacional.

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-Sendo assim, V. Excia realizava os vossos objetivos, pois os vossos planos tem sido magníficos e coroados de êxitos. Soubesses escolher o vosso ministro para o exterior, homem de tempora segura e firme, sem fetismo (talvez fetichismo) e sem demagogia, e de convicção segura, que achas que não devesse prosternar, e sabe estudar a sua rede comercial, com as outras nações. Folgo em ver o meu Brasil com um governo civilizado, e sem superstição e sim com a justiça... (trecho ilegível) (...)tremidades da Estrada de Belém Brasília, e que vai ceder estes lotes para agricultores, pois realmente estes são quem precisam; e que os ricos querem as terras, para mais tarde venderem aos colonos, por preços desorbitantes (provavelmente queria dizer, exorbitantes) como fez o sr. Antonio Veloso, no Rio Guamá, como V. Excia faz agradar aos camponeses, pois eles reconhecem que é um gesto de brasilidade, é um progresso da nação e quis com justiça lembrança de ceder por direito uma área de terra aos gentis pois esses são os verdadeiros Brasileiros, e que entercedem para uma lei que separa um patrimônio Florestal para a Nação, pois assim feito ficará com maioria para o Brasil da manhã, que é uma grande manutenção Nacional, e criasses as leis de Proteção as florestas em todo território Nacional, porque o povo por indolência atiram fogo nos roçados sem tomarem as devidas precauções, e o fogo devasta as florestas todos os vossos feitos são de favor coletivo, e que defendesse os americanos se apuderarem das terras do Amazonas, que estes sindicatos capitalistas vinha se tornar um jogo nacional, só em voz mesmo podemos esperar a vossa proteção, defendendo o pais das incoincidencias que segundo o noticiários das imprensas estão tencionando a realizar uma grande causa nacional que é dar Conselho para a voz sensacional como um governo desenvolvido será um grande conceito e servindo para S. Excia, servirá para os brasileiros.

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-Vem esse povo achar um caminho de uma maior polidez, assim foram rumo a uma civilidade mais perfeita, que assim seja que ficamos com V. Excia, como uma coluna brasileira, Outro que V. Excia está sabendo bem escolher o vosso substituto legal, que é o grande Marechal Lote pois, esse senhor é útil a nossa Pátria, e que grande coisa ele fez garantiu a vontade do povo empossando nosso governo eleito, e a sua fama já corre por todo recanto do Brasil, que tem cooperado muitamente com os vossos planos, com o desenvolvimento do nosso Brasil, pois com os homens de fibra e que tem virtude de conhecimento das coisas, é que devemos ser fortes e lutar em seu favor, para vermos ele enfrentando o destino da nossa Pátria. Precisamos de homens que venha desenvolver (parte ilegível) mais que vossas instruções admira o próprio adversário. Portanto digníssimo Presidente, aqui termino, tenho muito a lhe falar, mais a escrita está muito longa, mais digo que seja firme e constante se aplicando cada vez mais em vossas obras, sabendo que os vossos trabalhos, não serão em vão lembrando-se sempre do povo pobre do teu Brasil, pois sábio é o homem que sabe concretizar os pequeninos porque eles lhe acompanham, que mesmo eu como um caboclo pequenino, e quase analfabeto, mais farei propaganda dos vossos benefícios, e mais com apreço e consideração.

Subscrevo-me atenciosamente. OTAVIO FURTADO BRAGA Nas primeiras pesquisas que empreendemos sobre a chegada dos Braga ao Brasil se deu na oralidade dos Braga antigos (tio-avô Raimundo Furtado Braga, 1920-2003), que conhecemos em 2000 e que faleceu em 2003 aos 82 anos de

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vida (Anexo XII). Tio Raimundo Braga era muito comunicativo e dono de uma memória fantástica. Ele dizia que nossa origem era realmente o Estado do Ceará e que pertencíamos também à família Barroso. Dizia que Braga e Barroso era uma só família, que monsenhor Tabosa, que inclusive é nome de rua em Fortaleza, era nosso parente. Mais tarde investigando, descobrimos que o nome completo desse monsenhor é Monsenhor Tabosa Braga, natural do Ceará mesmo. Fomos atrás dos documentos de parentes mais antigos e descobrimos a tia-avó Dionizia Furtado Braga (Anexo IX), residindo numa vila para os lados de Garrafão do Norte-PA, onde mora uma prima, Doracy Braga de Souza (1943), filha do tio-avô, Raimundo Furtado Braga. Procuramos sempre referências para ampliar a árvore genealógica da família Braga e os seus ascendentes. Um documento foi uma fonte preliminar, pois tratava-se de um batistério, para efeito de casamento religioso com nossa mãe (Maria Laide). O documento em só serviu mesmo para justificar o casamento com nossa mãe, pois nosso pai fora obrigado a casar com Zenaide (já falecida) de Capanema-PA, obrigado ao casamento civil, mas casou com ela com o nome de Raimundo Alves Lima, nome que não correspondia ao seu verdadeiro nome. Nesta época não havia a necessidade de se apresentar documentos, a pessoa apenas declarava no cartório seu nome, não necessitava comprovar com uma certidão. O casamento com nossa mãe foi em 1960, na paróquia de São Jorge do Jabuti. Nossa mãe não herdou o sobrenome Braga, para evitar constrangimentos judiciais, porque Raimundo Alves Braga não era casado, mas o Raimundo Alves

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Lima sim e ambos eram a mesma pessoa. Nossa mãe, Maria Laide da Silva tinha 17 anos de idade e nosso pai 30. Já em Santa Maria do Pará, expedida no Cartório Botelho, encontramos a nova e original certidão de nosso pai, com o devido sobrenome Braga guardada no cofre da família. Com o advento da Internet ficou muito mais fácil pesquisar. Para tanto conseguimos muitas informação em um site cearense: OS PRIMEIROS COLONIZADORES PORTUGUESES NO CEARÁ – 1700-1800. No dia 30.05.2014, depois de meses de procura, em documentos de batizados e casamentos, encontramos a prova cabal de nossa descendência nos registros de batismos de Itapipoca, entre outubro 1861 a janeiro de 1865, no anverso da folha nº 162 do Livro de Batismos da Freguezia de Imperatriz, criada em 30 de agosto de 1757. Foi minha maior emoção até então. Francisco Ferreira Braga nosso bisavô nasceu em 19 de fevereiro de 1864.

Figura 39: Família Braga unida em 2003, nos 60 anos de Maria Laide, nossa mãe. Da esquerda para direita: Lenize Braga, Ladio Braga, Laize

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Braga, Maria Laide, Lenilson Braga, Leila Braga e Laércio Braga. Foto do álbum de família.

Figura 40: Francisca da Silva Braga (Chiquinha) e Otavio Furtado Braga quando moravam na Vila do KM 47 (Santa Luzia do Pará-PA).

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M BUSCA DA GENEALOGIA BRAGA

Quando pensamos em escrever sobre a família Braga, Barroso e Furtado de Mendonça, ocorreu-nos escrever sobre a linha ascendente até nossos trisavós, entretanto, avançado os trabalhos, arrebatou-nos a ideia de chegar até nossos ascendentes portugueses. A pesquisa seria longa e difícil. Seria preciso reunir todas as informações orais colhidas ao longo de dez anos (a partir da data que nos interessamos pelo estudo: 2000) e quatorze anos (como agora: 2014) quando começamos efetivamente. As primeiras linhas foram escritas nas agendas e em cadernos comuns, além da verificação da documentação dos membros mais antigos, sistematizando uma linha do tempo e localização geográfica.

Figura 41: brasão completo e original da família Braga descendentes de Gonçalo Esteves de Braga que fundou a família em 1369, na cidade de Braga, Portugal. Fonte: http://www.angelfire.com/moon/ braga/braga.html.

Também, basicamente, a maioria dos membros da família dizia que tínhamos origem nobre, porque Braga seria uma descensão da casa dos Bragança. Um primo terceiro,

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Ronilson Braga, filólogo e jesuíta, chegou a estudar o sobrenome Braga em Portugal e sua história. Na família nuclear de nossa mãe um irmão mais novo dizia que, em um centro de genealogia no Rio de Janeiro, obteve a informação que a casa de Bragança e Braga era uma só. Há cerca de 23 anos, adquirimos um certificado abrasonado, perdido infelizmente, de um armorial lusitano que dizia, praticamente, a mesma informação que Adilson F. Braga Junior, que mantém um blog sobre a família Braga: Muitos dizem que o sobrenome Braga tem origem na Família Real de Portugal sendo eles BRAGANÇAS, mas oficialmente a Família Braga nasceu originalmente em 6 de outubro de 1369, quando o Rei de Portugal Dom Fernando I, concedeu o brasão de armas da Família BRAGA a Dom Gonçalo Esteves de Braga, senhor de muitas terras na região de Coimbra, amigo do Rei e Membro do Conselho de Sua Magestade. Dom Gonçalo tomou seu sobrenome da cidade onde nasceu, sendo o primeiro desta hoje enorme família”.

Entretanto, é absolutamente salutar e ético que estabeleçamos uma descendência que nos habilite a utilizar o brasão da família Braga, pois, a menos que pertençamos diretamente à família de Gonçalo Esteves de Braga, não poderemos ostentá-lo, já que, institucionalmente não podemos acolhê-lo como nosso e nem poderemos enveredar sobre a origem real do sobrenome Braga, uma vez que, pode ter sido adotado no Brasil, e não parte de uma descendência daquele primeiro. Arruda (2005), em seu trabalho genealógico primoroso nos fala:

Laércio Braga Até meados do séc. XVIII, conforme demonstra profusamente a documentação disponível da época, os portugueses adotavam, como seus nomes próprios, apenas duas palavras: o prenome de batismo e o sobrenome do genitor. Ao chegarem ao Brasil, acrescentavam o topônimo da localidade de origem com mais um sobrenome. Os casos são incontáveis: Porto, Lisboa, Viana, Lima, Ponte, Ferreira, Braga (o grifo é nosso), etc (p. 5).

A observação de Arruda não deve passar despercebida e a razão deve ceder lugar ao ufanismo da família e, portanto, não pode se entregar aos caprichos, por orgulho, honra ou pavulagem. Não podemos deixar-se envolver pela mentira e pelos superlativismos de nobrezas inexistentes. Ao longo dos anos e com as pesquisas sistemáticas fomos, em razão dos resultados, tomado pela sensatez da História. Escrever a história de sua família requer isenção partidarista e praticidade para contar os seus pecados, tal qual eles existem, as glórias se foram feitas, as derrotas se aconteceram e as heranças, sejam ela do caráter ou materialista. Um texto de Ademir José Knakevicz introdutório à genealogia nos orienta a: A Genealogia é a ciência que tem como objeto o estudo das famílias, sua origem e evolução. Seus primórdios remontam aos Celtas, cerca de três mil anos, que já a estudavam, bem como aos gregos que buscavam nela sua origem divina. Além disso, a Bíblia, principalmente no evangelho de Lucas, explorou bem a matéria. Dito estudo, no entanto, ganhou mais força no período medieval, em razão da necessidade de provar as linhagens nobres para a concessão de benefícios. Atualmente, pode-se dizer que a genealogia está "em voga", pois muitos indivíduos buscam estudá-la com o fito

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de ter reconhecida dupla cidadania, por curiosidade, e até mesmo como forma de buscar suas raízes e preservar a memória familiar - reflexo da globalização mundial, que pôs fim, de certa forma, ao próprio conhecer dos laços dos seus clãs e suas histórias (p. 1).

O que nos traz a esse resultado científico são inúmeras razões, mas nenhuma outra mais significante que o orgulho de pertencer a um clã portador de muitas histórias que remontam à colonização do Brasil e à origem do sobrenome propriamente dito, que nos fazem migrantes dentro deste país hóspede e guardiões da origem portuguesa nas atitudes, no falar, no fenótipo e reproduzidos quase inconscientemente por seus membros. Neste interessante desejo, todo trabalho genealógico precisa levar em consideração as classificações dos ascendentes em nossa árvore genealógica, tais como: O pai do meu avô é meu bisavô, o pai do meu bisavô é meu tataravô, o que o pai do meu tataravô é meu? Bisavô bis (dois) - segundo avô; Trisavô tri (três) - terceiro avô; Tetravô ou Tataravô tetra (quatro) - quarto avô; Quinto avô no lugar de pentavô; Sexto avô no lugar de hexavô; Sétimo avô no lugar de heptavô; Oitavo avô no lugar de octavô; Nono avô no lugar de nonavô; Décimo avô no lugar de decavô9.

Começamos nossa história principiando pela heráldica e o brasão dos Braga que fala genericamente de nossa origem, mas insinua que talvez nossa origem se dê na Casa dos 9

Informações advindas do sitio: ().

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Bragança, denotando uma origem real sem, contudo, confirmar e comprovar essa origem. O que se sabe ao certo é que em Portugal é a gênese de fato, especialmente na região de Braga10. Queremos usar Ex-libris o brasão familiar como forma de pertencimento direto, mesmo que tal brasão hoje seja usado genericamente por quem detém a alcunha Braga como sobrenome. Mas podemos? Ao longo de nossas pesquisas responderemos a estas questões. O FASHIONBLOG apresenta-nos a mesma definição para o brasão da família Braga, mas o brasão em si muda em muitos aspectos, embora a essência com a torre centralizada permaneça. O autor não acrescenta suas pesquisas históricas e não explica o traçado singular do brasão. Pelas pesquisas concluímos que o brasão que é apresentado no blog não foi inspirado no brasão da cidade de Braga em Portugal, porém, 10

Braga é uma cidade portuguesa, fundada pelos romanos como Bracara Augusta, com mais de 2 000 anos de História em constante desenvolvimento, crescimento e expansão. Situada no Norte de Portugal, mais propriamente no Minho (Capital do Minho), considerada a terceira cidade Portuguesa, possui 112 129 habitantes e é sede de um concelho com 181 894 habitantes (2011),1 sendo o centro da região minhota, com mais de um milhão de habitantes. Sede das cidades com o título anual de Capital Europeia da Juventude, concedido pelo Forum Europeu da Juventude, é um local cheio de cultura e tradições, onde a História e a religião vivem lado a lado com a indústria tecnológica e com o ensino universitário. Cidade bimilenar com um passado Guerreiro, composta maioritáriamente por jovens e que sabe e gosta de receber quem a visita. Em Braga a "Porta está sempre aberta" como sinal de bem receber. Disponível em: .

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preserva a essencialidade da torre de prata observada em todos os brasões que representam a família Braga. Entretanto, explicar um brasão tal qual ele é forjado, requer exame especializado de um heraldista. Braga, de onde parece ser a origem do sobrenome Braga está situada no coração do Minho numa região de transições de Este para Oeste, entre serras, florestas e leiras aos grandes vales, planícies e campos verdejantes. Terras construídas pela natureza e moldadas pelo Homem. Físicamente situa-se a 41° 32' N 08° 25' O,5 no Noroeste da Península Ibérica, precisamente entre o Rio Douro e o Rio Minho. Ocupando 183,51 km², e variando entre 20 a 572 metros de altitude, o concelho é bastante diversificado. O terreno a Norte situado na margem esquerda do Rio Cávado, é semi-plano, graças ao grande vale do Rio Cávado. A parte Este caracteriza-se por montanhas, tais como a Serra do Carvalho (479m), Serra dos Picos (566m), Monte do Sameiro (572m) e o Monte Sta Marta (562m). Entre a Serra do Carvalho e a Serra dos Picos nasce o Rio Este, formando o vale d'Este, já a Sul da Serra dos Picos desenvolve-se o planalto de Sobreposta-Pedralva. A Sul, como a Oeste o terreno é um misto de montanhas, colinas e médios vales. O centro da cidade situa-se no alto da colina de Cividade (215m), desenvolvendo-se para o vale do Rio Cávado a Norte e Oeste, e para o vale do Rio Este a Este e Sul (Wikipédia, 2013).

Braga, enquanto cidade, guarda tradições plurisseculares que a destaca no roteiro turístico a nível mundial. Pertencer àquela cidade portuguesa é estar inserido na história clássica, de grande curiosidade como bem enfatiza Leitão (2011): A tradição multisecular coloca Braga em primeiro lugar na rota das pregações de S. Tiago aos povos das Espanhas e atribui ao apóstolo a ressuscitação do primeiro bispo bracarense, S. Pedro de Rates. Mas, com lendas ou sem

Laércio Braga elas, a história concede a Braga um papel de relevo na expansão do Cristianismo na Europa Ocidental. A partir de meados do século VI, o bispado de Dume, nos arredores de Braga, foi um importante centro de difusão cultural, por ação do seu primeiro bispo, S. Martinho, que ali criou uma escola de tradutores, permitindo transpor para o Latim obras da Cristandade até então escritas em Grego. [...] Braga guarda a lenda “mais extraordinária” do apóstolo S. Tiago: A ressuscitação em Braga de S. Pedro de Rates pelo apóstolo S. Tiago, que o proclamou 1º Bispo da Cidade e de todas as Espanhas, no ano de 37 depois de Cristo, “é a lenda mais extraordinária que nos chega dos primórdios do Cristianismo sobre a missão apostólica de Santiago em Bracara Augusta”, realça Victor de Sousa. [...]. Segundo a tradição, o corpo de S. Pedro de Rates repousava, havia seis séculos, numa “sepultura célebre” de Bracara Augusta, a cidade romana de Braga. [...]. Mal chegou a Braga, o apóstolo foi atraído pela enigmática sepultura e, na presença de “infinito povo”, fez o milagre de trazer à vida o profeta judeu, dando-lhe o nome de Pedro, quando o batizou. Pelo espanto que causara, a ressuscitação levou à conversão de muitos habitantes de Bracara Augusta, entre os quais judeus descendentes dos fugitivos da Babilónia, considerando então o apóstolo “como homem vindo do Céu”. S. Tiago percorreu depois outras cidades das Espanhas, mas voltou a Braga para consagrar, “em forma de capela”, uma cova que ficava junto ao templo da Deusa Isis, no sítio com o nome de Banhos. Segundo a lenda, dedicou esse primitivo templo cristão em Braga à Virgem, o que faz também da “Cidade dos Arcebispos” a primeira igreja a ser instituída nas Espanhas em honra de Santa Maria (sem paginação).

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Figura 42: pós-casamento entre Otavio Furtado Braga e Ósea Alves de Lima em 1928. Foto: arte digital de Laércio Braga, 2002.

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CIDADE ANFRITRIÃ BRASILEIRA: ITAPIPOCA-CE

A cidade cearense de Itapipoca foi o cenário escolhido pelos primeiros ancestrais chegados de Portugal para residirem, depois de algum tempo estabelecidos no estado de Pernambuco, especialmente em Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. Basicamente, os pioneiros da fundação do Ceará, entraram na colônia lusitana a partir destas cidades.

Figura 43: 1º Regimento de Bragança, uma das 5 doze Companhias Avulsas que serviram no exército volante no séc. XVIII em Portugal. Disponível em: .

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Não é de se causar estranheza que, parentescos distantes subsistam naquele estado, pois além do ancestral paterno/pentavô, Domingos Francisco Braga (Anexo II) e o outro ancestral materno, Pedro Barroso Valente (Anexo IV), seu sogro, tem registro e passagem e vida sedentária por ali.

Figura 44: Mapa Theberge Ceará, 1861. No mapa, Itapipoca ainda pontuava como Vila Imperatriz.

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Figura 45: modelo de vestimenta de soldado do séc. XVIII. Disponível em: .

Domingos Francisco Braga ao migrar para o estado do Ceará levou consigo dois filhos, nascidos em Olinda e filhos de Luiza Barbosa, solteira: Virgínio Francisco Braga e o mestre de campo, Inocêncio Francisco Braga. Antigamente Itapipoca dominava uma vasta região e, originalmente, nascera na Vila de Imperatriz, no alto da serra. A família Braga e Barroso são consideradas famílias de muita influência na fundação e no desenvolvimento da região. Supomos, e na verdade estávamos corretos, que quando nossos parentes relatavam que tinham vindo de uma localidade chamada Arraial, na Serra da Uruburetama, falavam exatamente desse lugar, pois até sua emancipação política

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ocorrida em 31 de agosto de 1915 a região que compreendia as cidades de Itapagé, Uruburetama, Trairi, Gonçalo do Amarante, Santa Quitéria eram lugares que concentravam a mesma tipologia. Portanto, nesta área observamos a influência e a existência dos sobrenomes Braga e Barroso em grande quantidade.

Figura 46: Soldados brasileiros do séc. XIX. Disponível .

em:

Portugueses colonizaram o que seria a cidade de Itapipoca em 1683, entretanto, apenas em 1744 que Francisco Pinheiro do Lago que era sargento-mor, solicitou à coroa portuguesa uma sesmaria no alto da serra da Uruburetama (Vila da imperatriz). Apesar do mesmo deter a posse da sesmaria, foi seu genro, Jerônimo Guimarães de Freitas que foi o verdadeiro fundador de Itapipoca. Jerônimo casou com a filha do sargento-mor, Francisca Pinheiro do Lago. Foi ele quem tomou conta da sesmaria, agindo com determinação, transformando a floresta em povoado.

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Fomos ao encontro dos signos dos Braga nas terras do Ceará e encontramos, respeito e admiração total à simbologia dessa família marcante, simbioticamente integrada à concepção da cidade. O nome Braga em si é a memória viva dos aspectos históricos e memorial das pessoas de Itapipoca. O nome Braga impõe respeito, admiração e aguça a curiosidade.

Figura 47: terço de militares pagos na Restauração de Portugal. Se Pedro Barroso Valente pertenceu ao Terço, trajava-se exatamente assim. Fonte: .

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Sob todos os aspectos, a cidade é um palco para o abrasileiramento dos portugueses que para aqui migraram. A própria geografia estética da cidade relembra o interior de algumas vilas portuguesas, inclusive, alguns locais evocam a fisionomia portuguesa. Modos e ações lusas parecem estar presentes mais arraigadamente, apesar do forte sotaque nordestino. Sobre a fisionomia, podemos constatar que, ao longo dos séculos os Braga preservaram o lusitanismo genético casando-se entre si, para preservar a estipe e as heranças. Na cidade de Itapipoca vemos bem mais e, consequentemente, nossos parentes mais próximos e a total confirmação de que esta cidade foi o palco maior do desenvolvimento dos Braga de Brasil. Existem ruas dedicadas aos Braga, como a Av. Anastácio Braga, também o nome da escola mais antiga do lugar. A cidade guarda na memória histórias de momentos pitorescos e fatos dantescos sobre a família. O nome Braga, realmente, impõe respeito e admiração aos itapipoquenses. Itapipoca foi uma terra de coronéis em seu sentido pleno. Os próprios Braga e Barroso assumiram fisicamente essa posição militar, no que já tinham herdado dos ancestrais lusitanos. Lembremos que os Celtas eram um povo guerreiro por sua própria natureza.

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Figura 48: casa do Capitão-Mor de Aquiraz, considerada a antiga capital do Ceará. Foi construída em meados do séc. XVIII, para abrigar as autoridades da capitania. Seu primeiro morador foi Manuel Francês, fundador da vila de Fortaleza. Fonte: http://agageaquiraz.wordpress.com/2012/02/13/313-anos-de-historiaparabens-aquiraz/.

A existência da família Braga e Barroso no Ceará era respeitada em todos os sentidos e seus membros se portavam a altura do significado e da importância que exerciam. Tinham uma empáfia própria e eram absolutamente corporativistas, influenciadores políticos e a personificação da liderança, da soberba e da belicosidade.

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Figura 49: Escola Anastácio Braga, Itapipoca, Ceará. A escola mais antiga do lugar. Foto: Marcos Braga, 2015.

Nenhuma família teve mais influência ao longo dos séculos em Itapipoca, das coisas das religiões, à pecuária, ao comércio, à política, tanto faz que no Brasil Colônia, com Reino Unido, após a Independência com o Império... Acreditamos que perdemos força com a República, momento em que, as velhas oligarquias cedem lugar a outra classe dominante. Perdemos força, mas não poder. Adentramos o séc. XX representativos, atuantes, notícias (boas e más). A ressonância das famílias Braga e Barroso repercutem e são prontamente propagadas, tanto nos colóquios familiares, quanto em trabalhos acadêmicos e nas sinalizações de monumentos.

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Figura 50: escravos do fim do séc. XIX atravessando rio enquanto outros estão banhando-se próximo da Casa do Pico-Assunção, Itapipoca-CE. Foto: do acervo digital do Museu Itinerante de Itapipoca. Reprodução: Marcos Braga, 2014.

Ainda hoje, permanecem os relatos da vinda de Portugal, séculos depois como a posição militarista de Pedro Barroso Valente, o comportamento passional de Elena Ferreira da Cunha e a imaturidade principiante de Domingos Francisco Braga. Quando falamos em religião era pelo hábito das famílias de entregarem sempre um filho para a vida monástica: é o caso de Monsenhor Tabosa Braga e Pe. Solon Teixeira, de grande memória na região, boas e más. Mas não só por esse fato: Itapipoca também guarda em suas igrejas, imagens de santos trazidos pelo próprio Domingos Francisco Braga, exposta até hoje, como se houvesse chegado ontem de Portugal. Além

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disso, ajudaram a construir as igrejas que existem na atualidade. As famílias Braga e Barroso sempre professaram como fé o catolicismo, herança genuinamente portuguesa.

Figura 51: Igreja do Arapari, Vila Imperatriz, Itapipoca, Ceará. Foto: Laércio Braga, 2015.

Quando passaram ao Pará, nada foi diferente, continuaram católicos e devotados, cumprindo os rituais da igreja condignamente, embora o poder financeiro e político fosse outro amplamente diferente do que era no Ceará. Mas, em terras paraenses sobrepujavam as histórias, os arroubos de soberba, uma comedida arrogância e uma devotada alegria na alma. Parece que Braga respira outro ar!

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Toda família age e se porta como se ainda estivéssemos naquele passado de glórias e influências, mesmo que ele esteja implícito para a maioria dos membros.

Figura 52: Imagem de Nossa senhora das Mercês doado por Domingos Braga, trazida da Europa, por volta de 1752, para a igreja do Arapari. Hoje esta imagem está na catedral de Itapipoca, Ceará. Foto: Laércio Braga, 2015.

Ao longo dos anos, conseguimos nos fechar no círculo Braga e com as características originárias, porque somos originários maternos e paternos do lugar Braga, freguesia de São Victor, Portugal, até muitos vocábulos por nós usados, são os mesmo de Camões. Acho que hoje em dia, somos como nos versos de Manoel Bandeira:

Vão destruir essa casa/ mas meu quanto vai ficar/ não como forma imperfeita neste mundo de aparências/ vai ficar na eternidade/ com seus livros/ com seus quadros/ intactos/ suspensos no ar.

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Figura 53: Igreja do Arapari com detalhe do cruzeiro, Vila Imperatriz, Itapipoca, Ceará. Foto: Laércio Braga, 2015.

Figura 54: casa de Anastácio Alves Braga, o prefeito assassinado em 1928. Foto: Laércio Braga, 2015.

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Figura 55: Mapa de Fortaleza em 1730. O lugar ainda era insipiente na entrada de Domingos Francisco no Brasil. Esta planta foi feita pelo capitão-mor Manuel Francês quando da instalação da vila de Fortaleza de Nossa Senhora d’Assunção do Ceará Grande (Arquivo Nerez). Fonte: .

Itapipoca se delineia contemporaneamente em torno do significado de uma tragédia: a morte do ex-deputado e exprefeito, Anastácio Alves Braga (Anexo VII) em janeiro de 1928. Creio que a memória da família não seria costumeiramente preservada se tal tragédia tivesse ocorrido e não alcançasse a ressonância que teve. A guerra entre famílias, entre as cidades de Itapipoca e Sobral, se não tivesse ecoado na capital, Fortaleza, até mesmo na modernidade neoclássica impressa na administração pública do próprio assassinado. A cidade de Itapipoca respirava ares modernistas graças à administração de Anastácio Alves Braga enquanto prefeito, numa escala infinitamente inferior a impressas nas capitais

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brasileiras, lógico, mas muito significativas. O assassinato desse líder político, de família influente, causou um alvoroço fenomenal. TEIXEIRA (2015) conta uma história que diz que pouca gente em Itapipoca conhece: sobre o assassinato de Anastácio Braga, o Sanharão. Uma história escrita por Antônio Barroso Pontes, em seu livro Mundo dos Coronéis. Duas famílias entrelaçadas por larga tradição de convívio e parentesco terminaram desembocando um dia numa luta político-partidária das mais ferrenhas. Tais disputas tornavamse rixas de famílias arrastadas por gerações, perdendo-se as estribeiras nas suas ações, de modo que a justiça jamais poderia tomar partido pela barbárie que se apresentava: [...] De um lado estava o coronel Anastácio Alves Braga, o Sanharão, do outro, o coronel Francisco Braga Filho, o Mingueira, homens de uma alta noção de dignidade pessoal, personalidades sertanejas com tôda fôrça do caráter reto, justiceiro e inquebrantável do homem formado dentro do conceito tradicional de honra e respeito próprios, característico de larga área do Nordeste brasileiro. Ora, a violência era a linguagem comum dos coronéis dessa época passada de Itapipoca, fosse da coisa simples às graves. Do lado do Sanharão chefe situacionista desenhava-se costumes correntes e comumente aceitos como verdades incontestáveis e, portanto, justificáveis. As eleições eram feitas com votos a descoberto e sob as vistas de todos, de forma que o sistema de coação era absolutamente legal. A situação não deveria perder eleição. Só que em anos passados, Itapipoca teve o coronel Liberato Barroso, homem de grandes recursos econômicos e grande número de homens armados (como era natural), sustentando em várias

Laércio Braga oportunidades fogo cerrado com seus adversários políticos, considerados, por extensão, também inimigos pessoais. Em sua época há um registro o tiroteio estabelecido entre a residência do coronel Liberato em Itaquarema e o Paço Municipal, com mortos e os feridos gravemente. Itapipoca era famosa pelo seu poderio firmado no trabuco. As famílias se dividiam em apoiar e ser opositor dos dois coronéis que estavam dos dois lados políticos. O coronel Sanharão que era tabelião público; o coronel Mingueira que era excelente farmacêutico, o melhor médico da região. Quase sempre se confrontavam em encontros armados em nome da política e na “defesa” de seu povo. Os que estavam ao lado do Sanharão, se destacavam o major Antônio Teixeira, o coronel Antônio Barroso, Quinca Barroso, José Romero, os Teixeira, os Barroso, os Alves, os Montenegro e os Braga. Do lado do Mingueira ficaram os Souza, os Pontes, os Madeira, Joaquim Jerônimo de Souza, o Quincoló, dr. José Borba de Vasconcelos, ex-juiz e político de influência na Capital do Estado, Francisco Pontes, Antônio Madeira e tantos outros O acusado de atirar mortalmente em Anastácio Alves Braga, Quincoló, era comerciante de tecidos e proprietário de fazendas de gado. Era amigo do Mingueira e aconteceu que uma vez precisou de cuidados médicos para sua esposa, dona Lia Madeira de Souza, esperava dar à luz e estava desenganada pelas parteiras da cidade e teria de ir a Fortaleza às pressas, à procura de melhores recursos. O fato das estradas precárias impedia a assistência urgente. Quincoló aflito e desesperado, imaginando o que poderia fazer. Aproveitando uma saída de Quincoló seu sogro, Antônio Madeira foi à presença de Mingueira, que era reconhecido como médico respeitado na cidade (conhecido como salvador de muitas vidas no município). Pediu a ele que salvasse sua filha. O “médico” a princípio declinou, pois tinha

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um antagonismo existente entre Mingueira e o esposo da filha, mas, por outro lado, havia também a amizade de Antônio Madeira com o “médico”. Mingueira cedeu e foi atender à parturiente na residência de Quincoló. A criança nasceu e Lia se salvou e Mingueira negou a receber qualquer despesa. Quincoló ficou muito agradecido por isso, mas a maledicência dava conta que o mesmo tinha aderido a Mingueira. Fuxicos a parte, só romperam mesmo por questões de terras: a Fazenda Enxada foi tomada de um correligionário de Quincoló e entregue a um correligionário de Sanharão. Dêsse dia em diante não houve mais sossêgo. A cidade enchia de cabras vindos de todos os recantos do município, e, como se achassem pouco, importaram jagunças de Juàzeiro, além de outros, vindos do município de Aurora, onde José da Borba tinha crédito inabalável e dispunha de grande força em armas. Os preparativos continuavam e as famílias não tomavam conhecimento de nada, como se estivessem acostumadas a tais rebuliços. Grande número de soldados permaneciam na cidade, aguardando os acontecimentos. Não se podiam prever as consequências (idem, sem paginação).

Um confronto deflagrado acirrou ainda mais os ânimos, pois a cidade respirava rixas e vaidades pelo poder. A casa do Sanharão estava inteiramente protegida por seus jagunços, armados de rifles, postos em buracos nas paredes. Uma fortaleza! Um dos seu homens, conhecido como Batata, acerta mortalmente com seu rifle um de seis homens do opositor que estavam na praça e vendo a situação da casa do coronel

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Sanharão, aponta em sua direção. Estavam a uma distância de 500 metros, o tiro atravessou o crânio Foi o estopim para se estabelecer uma guerra, que afastou as famílias da cidade de Itapipoca, forçando o povo a refugiar-se nas fazendas. O comércio de secos e molhados teve grande prejuízo. Quincoló vendo a superioridade numérica do coronel Sanharão foi queixar-se ao governador Moreira da Rocha conseguindo deste um bom contigente policial. Mas, antes da saída da força policial para Itapipoca, surgiu inesperadamente o Monsenhor Tabosa Braga, itapipoquense, irmão do Mingueira e primo do Sanharão, que, com sua fôrça moral e desassombro propôs: Não vai ninguém, quem vai sou eu (idem, sem paginação).

Monsenhor Tabosa Braga, legítimo Braga, acompanhado apenas de dois amigos e com uma bandeira branca na mão e sua batina preta surrada, desmoralizou todos os piquetes, penetrando na cidade conturbada e conseguindo um verdadeiro milagre: sustar o fogo cerrado que dominava Itapipoca. A calma voltou a imperar em Itapipoca. Tudo voltou ao normal, na rotina sagrada nordestina. No fatídico dia do assassinato do prefeito... A vítima (coronel Sanharão) teve um encontro inesperado sem direito a defesa de sua parte:

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[...] Meses depois, no dia 7 de janeiro de 1923, Quicoló dirigia-se à farmácia de seu amigo Mingueira quando deparou, nas proximidades da Matriz, com o seu inconciliável inimigo Sanharão. Quincoló, em ágil movimento, eliminou o desafeto com vários tiros, evadindo-se a seguir com extraordinária calma. Contase que, antes de alcançar sua fazenda, dormiu aqui e ali, até em casa de inimigos, que seriam os últimos a vê-lo. Daí rumou para o sul do país.

Figura 56: Monsenhor Tabosa Braga. Foto. Foto: Vila Imperatriz, Facebook, 2014.

O assassinato de Sanharão acirrou ainda mais os ânimos, ocorrendo cenas de violência, mortes, apedrejamento, saques e distúrbios. E, se a cidade não foi incendiada, deve-se a interferência de Quinca Barroso, que, na qualidade de amigo do Sanharão, teve

Laércio Braga fôrça moral para evitar a hecatombe, evitando um massacre que parecia inevitável (idem, sem paginação).

Então, foi dessa maneira que a cidade de Itapipoca conseguiu o seu mártir Braga e a perpetuação do seu nome. O crime repercutiu nacionalmente e chamou a atenção das autoridades. Pelas circunstâncias e pelo situacionismo político tornou-se admirado. Mas justiça administrativa seja feita ao seu nome, pois, apesar das condições econômicas do lugar, tinha feito excelente administração, inserindo arquitetonicamente Itapipoca com obras importantes que ficariam para sempre. A cidade de Itapipoca, com a morte do coronel Sanharão (Anastácio Alves Braga) viveu 7 dias de luto.

Figura 57: Igreja de São Sebastião em Itapipoca. Foto: Laércio Braga, 2015.

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Figura 58: Igreja das Mercês, no centro de Itapipoca, onde hoje repousa a imagem de N. S. das Mercês doada pelo capitão Braga Filho. Foto: Laércio Braga, 2015.

Figura 59: interior da Igreja das Mercês, Itapipoca. Foto: Verônica Ratts, 2015.

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Figura 60: Jornal Diário do Ceará, com as notícias após o assassinato de Anastácio Alves Braga em 1928.

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Figura 61: O GLOBO 10 de Janeiro de 1928, Matutina Geral, Pág 4. O jornal carioca o Globo, trazia em suas páginas a notícia de morte de Anastácio Braga. Quincoló desfechou-lhe, pelas costas o primeiro tiro. o projetil alcançou o coronel Braga pelos rins, indo depois alojar-se em um dos pulmões". Fonte: .

Mas Itapipoca não pode viver das desgraças dos Braga. Grandes nomes do humor e da política como o palhaço e deputado Tiririca são citados, também o do escritor Soares

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Bulcão parente do prefeito assassinado Anastácio Alves Braga e nosso contraparente e pai da atriz internacional Florinda Bolkan11. Itapipoca também apresenta destacado poder feminino, como a bela Natália Braga, miss Ceará, 2013.

Figura 62: Miss Ceará, da cidade de Itapipoca, Natália Braga. Fonte: O Estilo, 2013.

Além das proeminências culturais destacamos figuras religiosas como Monsenhor Tabosa Braga. Podemos citar o ingresso contemporâneo de primos como sacerdotes: é o caso do jesuíta e filólogo Antonio Ronilson Braga de Sousa (nascido em 14/05/1976), ordenado presbítero dia 25 de julho, na Sé de Belém pelas mãos de Dom Alessio, bispo de Manaus, pela 11

Para saber mais sobre Florinda Bolkan: http://cearanobre.blogspot.com.br/2011/07/florinda-bolkan-uma-historiade-vida.html.

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imposição de seus irmãos jesuítas, por seus familiares, amigos e demais paroquianos e pelas graças do Espírito Santo.

Figura 63: padre Antonio Ronilson Braga de Sousa em sua primeira missa em Garrafão do Norte-PA, depois de ordenado presbítero. Foto: Francisco Anderson Braga, 2015.

Podemos contar ainda com o membro da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, Francisco Anderson Lima Costa (nascido em 28/06/1985), subdiácono. Francisco Anderson é neto de Adalgisa Braga de Lima, filha do tio-avô Antonio Braga. Também fazemos menção honrosa ao pedagogo Marcos Braga, do Museu Itinerante de Itapipoca, que presta relevante serviço à sua cidade natal (Itapipoca-CE) e à família Braga e

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Teixeira, com sua sistemática pesquisa e exposição museológica, enquanto técnico. Na verdade Marcos é Técnico da Coordenadoria de Cultura de Itapipoca. Como diz um seu conterrâneo, Sílvio Teixeira dos Santos (2015), provavelmente primo do mesmo, em seu perfil no Facebook: Parabéns meu amigo, sua missão é a mais bela de todas: muita pesquisa, muita conversa... Muita dedicação e, acima de tudo, muito Amor, coisa que só os puros de coração entendem. Os nossos antepassados te aplaudem em suas catacumbas!

Não é para menos, Marcos é uma proeminência memorialística e prova o que diz com seu acervo museológico e, principalmente, como membro do clã Braga, descendente de Domingos Francisco Braga (1688-1773). Figura 64: Francisco Anderson Lima da Costa (nascido em 28/06/1985), subdiácono da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia. Foto: Facebook, 2015. Figura 65: prima Adalgiza Alves Braga de Lima, filha do tio-avô Antônio Furtado Braga, avó de Francisco Anderson. Adalgiza é uma das poucas Braga evangélica. Disse-nos que aceitou Jesus por uma graça alcançada em nome de um filho. Foto: Laércio Braga, 2014.

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Figura 66: Cartaz do Museu Itinerante de Itapipoca. Reprodução: Marcos Braga, 2015.

Figura 67: Marcos Braga em um dos eventos do Museu Itinerante de Itapipoca. Foto: Watison Nascimento, 2015.

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M BUSCA DA GENEALOGIA E HERÁLDICA BARROSO

Determinante para consecução da uma árvore genealógica, forjada na veracidade das investigações, não poderíamos desfocar do sobrenome Barroso, uma vez que ele traz identidade quando se soma ao Braga e delimita geograficamente a existência dessa família no Norte do estado do Ceará. Os dois nomes compõem um símbolo histórico de uma epopeia que atravessa os anos e senhores de grande geração pelo Ceará, que anima as conversas nos alpendres das casas. Falar na junção dessa família é o mesmo que dizer de um caráter belicoso, como, aliás, é a herança trazida nas embarcações de Portugal. É o caso de um hexavô (Pedro Barroso Valente), que trataremos mais adiante, quando a árvore começar a ser esboçada. Relevante e esclarecedor, lugar comum. No sítio, SABE, NÓS SOMOS PARENTES discute-se o sobrenome Barroso e sua toponímica:

Figura 68: brasão da família Barroso de armorial português original que a família Braga de Brasil pode apropriarse como seu. Fonte: http://www.sabenossomosparentes.co m.br/site.main.php?page=conhecanoss osbrasoes.

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BARROSO Sobrenome de origem geográfica. Do adjetivo barroso, aplicado a terreno abundante em barro (Antenor Nascentes, II, 39). Sobrenome tirado da terra do Barroso, comarca de Ribadavia, província de Orense. Na Galiza (Carrafa, XIV, 200) – onde tiveram uma torre (Sanches Baena, II, XXIV). Felgueiras Gayo principia esta família em D. Egas Gomes Barroso, que teve o seu solar nas terras de Barroso na torre que chamam de Sepoens (Gayo, Barroso, Tomo VI, 125). Brasil: Numerosas foram as famílias, que passaram com este sobrenome para diversas partes do Brasil em várias ocasiões. Não se pode considerar que todos os Barrosos existentes no Brasil, mesmo procedentes de Portugal, sejam parentes, porque são inúmeras as famílias que adotaram este sobrenome pela simples razão de ser de origem geográfica, ou seja, tirado do lugar de Barroso. O mesmo se aplica no campo da heráldica; jamais se pode considerar que uma Carta de Brasão de Armas de um antigo Barroso, se estenda a todos aqueles que apresentam este mesmo sobrenome, porque não possuem a mesma origem. [...]. Heráldica: em campo vermelho, cinco leões de prata, cada um com duas faixas xadrezadas de ouro e vermelho, postas em santor. Timbre: um dos leões do escudo (Sanches Baena, II, 25); (Zózimo Bráulio Barroso – Requerida a 11.03.1867. Passada a 18.03.1867. Registro: Cartório da Nobreza, Livro VI, fls. 75): um escudo esquartelado com as Armas das famílias Barroso (I), Melo (II), Albuquerque (III) e Barroso (IV). Elmo: de prata, aberto, guarnecido de ouro. Paquife: das cores e metais do escudo; Timbre: dos Barroso. Diferença: uma brica de ouro com um Z de sable (sem paginação).

A única certeza de sobrenome que podemos usar com todo seu aparato heráldico é o da família Barroso, pois chegou

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naturalmente, sem a designação geográfica muito comum à época. E, em terras portuguesas, o sobrenome Barroso já estava inserido nos quadros militares, como bem podemos compreender através do hexavô Pedro Barroso Valente (Anexo IV), que tinha uma história militar em Braga e em outras cidades portuguesas. Portanto, podemos usar comumente o brasão da família Barroso com todo seu aparato, pois o nome é genuíno desde o século XVII, com o nascimento de Pedro.





Figura 69: Raimundo Alves Braga, diante a estátua de Padre Cícero, o santo popular em Juazeiro do Norte em 1980. Foi o sonho de sua vida conhecer este lugar. Foto: Ladio Braga.

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ONDURU, O BRAGA CANGACEIRO ANTES DO CANGAÇO

A maioria dos ascendentes Braga masculinos estavam inseridos dentro do universo militar. Antônio Ferreira Braga, o Conduru, infringiu esta regra. Filho de Francisco Ferreira Braga (filho legitimado de Anastácio Francisco Braga, 30/07/1790) com Vicência Teles de Meneses. Nasceu a 12/05/1822. Antônio Ferreira Braga casou-se 20/02/1833 com sua prima terceira, Maria Teresa Rabelo de Sousa. Era de família influente e, portanto, imbuiu-se desta empáfia para escapar, durante muito tempo, das garras da Justiça. Era péssimo em essência, talvez transtornado, pois os relatos de suas histórias são escabrosos. Vejamos o que nos diz Ceará em Fotos e Histórias − Sobre Cangaço e Cangaceiros12 (2014): Há quem veja os cangaceiros como espécies de Robin Hood dos sertões, tirando dos ricos e dando aos pobres. Bandoleiros como Antônio Silvino, que se autoproclamava o “governador dos sertões”, quando assaltava uma localidade, na maioria das vezes dava um

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Disponível em: . Acesso em 14 JUL 2015.

Laércio Braga passeio de braços dados com o prefeito ou o delegado de polícia, fazendo depois a bolsa, ou seja, coletava dinheiro entre os proprietários e comerciantes, ficando com a quantia da qual necessitavam e distribuindo o restante entre os populares. Os cangaceiros obtinham apoio também pela coação e medo. Para os populares e coronéis as únicas alternativas eram ajudar os bandoleiros, ou então sofrer perseguições. Os bandos do cangaço eram extremamente brutais com quem os traía ou ajudava os inimigos. A simples suspeita já bastava para os atos de crueldade. Puniam não só os faltosos, mas também a família destes e até mesmo o povoado onde por acaso residisse (sem paginação).

Neto do major Anastácio Francisco Braga (27/09/1759) com Matilde Maria de Oliveira, homem de grande importância econômica e relevante ascendência, passaria inteiramente despercebido não fosse um assassino compulsivo, perverso e sanguinário. Matava por simples prazer, sem motivo aparente que não os seus demônios internos. Lembra-se, de certa forma, o personagem de Patrick Susinsk na magnífica obra O Perfume13: Jean Baptiste Grenouille por conta das adversidades 13

Em Paris, no ano de 1738, nasceu Jean Baptiste Grenouille. Filho de uma feirante, ele veio ao mundo em uma barraca de peixe na cidade mais suja e mal cheirosa do mundo ocidental no século XVII. Após a morte de sua mãe, sobrevive a doenças e pestes em diversos lares miseráveis. Contra todos os prognósticos, Grenouille acaba desenvolvendo duas características que mudariam sua vida - ao mesmo tempo em que não tinha nenhum cheiro, ele era dotado de um olfato apuradíssimo. Este último talento permite que deixe para trás a pobreza para brilhar na indústria da perfumaria. Mas

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da vida torna-se um assassino meticuloso em busca de um ideal de produzir o perfume perfeito e irresistível. No caso do Conduru, a perfeição almejada, seria tornar-se temido pelo simples prazer de o ser, haja vista que a família gozava de prestigio e bens suficientes para torná-lo um cidadão exemplar. Talvez Conduru promovia suas barbáries levado pelo complexo da fealdade e de sua aparente fragilidade. Diziam que era baixo e desprovido de beleza. Os crimes e a maldade intrínseca, o tornavam grande no sentido do temor. Com certeza, utilizava a influência da família a seu favor, não obstante, esquivou-se várias vezes da ação das autoridades competentes. Devia ser uma pedra no sapato da família Braga, que destilava sua importância e honradez pelos rincões do Ceará. Paulino Nogueira (NOGUEIRA,1973, 4v. : 151-152), apud Ernesto Pimentel Filho (2004) comenta a remoção de Antonio Ferreira Braga Conduru para a ilha de Fernando de Noronha Grenouille, um personagem amoral, não ambiciona a fama ou a fortuna que sua habilidade poderia lhe proporcionar, mas um poder maior sobre as pessoas, baseado na sedução dos odores sobre a alma humana. Assim, Grenouille dedica-se obsessivamente, e sem recuar diante do crime, à preparação de um perfume irresistível, que permitisse conquistar e dominar qualquer ser humano. A Paris, em total reboliço revolucionário, serve de cenário para esse romance maravilhoso onde a condição humana as vezes se confunde com a condição animal ou até sobrenatural. Esse livro é impagável por prender o leitor a uma narrativa cheia de informações e de uma precisão em detalhes que quando o lemos chegamos a sentir o cheiro fétido das ruas de Paris e um cheiro de perfume nos nossos sentimentos.

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nos anos 1851: “Conduru havia já evadido da ilha e praticado mais violências, inclusive contra uma jovem da cidade de Granja”. Em seguida comenta o conteúdo das informações do mesmo autor: Não devo porém, esquecer a crença que deixou Conduru de profundo arrependimento depois da sua evasão de Fernando (de Noronha). A conversão deste criminoso nato de Lombroso faz lembrar também a de Jean Valjean, dos Miseráveis de Victor Hugo, convertido em Magdalena depois que se evadiu das galés de Toulon. (idem, p. 9).

As ações bandoleiras de Conduru ultrapassavam as fronteiras do Estado do Ceará, no sentido do estapafúrdio e torpe. Matava por puro prazer. E a quem reclamar se as autoridades do lugar eram os próprios parentes e, de certa forma, zelosos pelo bom nome da família? Os Braga estavam na dicotomia entre a autoridade e o banditismo de um de seus membros. Com certeza, suas ações eram reprovadas, mas o sentido de justiça passou sempre ao largo do cangaceiro, durante muito tempo, evidenciando uma omissão parental. O escritor cearense Soares Bulcão, pai da atriz hollywoodiana Florinda Bolkan, contraparente nosso, na página 52 do seu livro “Anastácio Braga – sua vida e sua obra – gênese do seu assassinato – notas genealógicas”14 (1973) fala de Antônio Ferreira Braga, Condurú numa única linha, BULCÃO, Soares. Anastácio Braga – sua vida e sua obra – gênese do seu assassinato – notas genealógicas. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1973. 14

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justamente para não incitar o leitor, no momento em que biografa o parente assassinado para evitar que fosse feita uma analogia com o parente cangaceiro. Então, Bulcão o descreve assim: “[...] Antônio Ferreira Braga, Condurú, bem conhecido na história criminal do Ceará”. Se se estendesse mais, seria tocar o dedo na ferida das vaidades da família.

Figura 70: Escritor Soares Bulcão em foto dos anos 1920. Disponível em: .

As ações do cangaceiro só tiveram freio quando interferiu diretamente nas convenções da Igreja católica, obrigando o padre Luis Antonio da Rocha Lima a casar uma menor de idade (14 anos), raptada para casar com um cangaceiro. A menina chamava-se Francisca Gonçalves Rabelo, filha de Davi Gonçalves Rabelo. O cangaceiro chamava-se José Lourenço da Silva. O padre realizou o casamento para salvar a própria vida. Aliás, Conduru tinha

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prazer por raptar noivas antes do casamento consumado, para fazê-las casar com seus cangaceiros. Promovia o terror na Serra da Uruburetama. Matava mesmo por puro prazer. Certa vez atirou um menino que brincava com outros tomando banho num poço. Ao atirar no garoto, ficou admirando o corpo boiando, com a água tinta de sangue. Matou um compadre e uma comadre, só porque cismou que queria matar a comadre, por nada. Matou os dois e depois reparando que a comadre estava grávida, tirou-lhe o filho do ventre com uma faca e o batizou com a areia úmida do curral. Atirou em um homem quando ele estava o mais alto possível num pé de carnaubeira, a seu pedido. Só para vê-lo cair. Notícia que dá conta das ações governamentais, no caso, o presidente da Província Inácio Francisco Silveira da Motta:

Contra o crime - No tempo da monarquia brasileira, o Ceará teve um presidente de província que tornou-se célebre pelo combate obstinado ao crime organizado marca do relacionamento político da província. Chamava-se Inácio Francisco Silveira da Motta (de 14.11.1850 a 6.7.51). O Ceará estava infestado de celerados, bandoleiros de outras terras, pistoleiros de aluguel convocados pelas chefias políticas locais. O presidente Ignácio Silveira Motta entrou na luta . Começou a limpeza com a prisão de Conduru (Antônio Ferreira Braga), foragido da prisão de Fernando Noronha que atemorizava os sertões. Prendeu Fandango (Antônio Bernadino), pistoleiro a serviço das lideranças políticas da região do Quixeramobim e que trazia nas

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costas até a morte de um padre. Igualmente foi capturado Antônio Brandão que participara do assassinato do Major Facundo e estava a dez anos livres. Ignácio Silveira Motta foi o terror dos Criminosos. Curiosamente era um homem de fino trato. Administrava preocupado com as grandes realizações. É sua por exemplo, a iniciativa de trazer para o Ceará, em 1851, a primeira máquina de descaroçar algodão (que seguiria para Maranguape, para uso do agricultor Inácio Pinto de Alencar). O presidente Ignácio Ferreira da Motta deixou o Governo debaixo de aplauso de toda a população o que era raro naquela época ().

No dia em que foi preso Conduru estava na casa de um irmão em Itapipoca. A casa foi cercada de início por doze homens que receberam reforços de mais duzentos, até que conseguiram prendê-lo e ser remetido para Fortaleza e depois para Fernando de Noronha. Mas fugiu de lá com outros companheiros de prisão, em uma jangada que eles próprios construíram. Todos morreram de fome e sede em alto mar, menos Conduru que sobreviveu e apelou à Virgem Maria que o atendeu, fazendo com que a jangada fosse parar em Almofala, próximo de Itapipoca, sendo posteriormente resgatado por um vaqueiro. Tivera a sorte de ser a casa de um parente próximo e receber o socorro necessário. Depois desse episódio o cangaceiro mudou totalmente a vida medonha que levava, mas um fato fez com que voltasse a vida cangaceira: no tempo em que esteve preso sua mulher

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engravidou de outro. Voltou ao crime e foi preso novamente. Fugiu mais uma vez e foi se esconder na Amazônia, dizem que ao Pará, onde faleceu no anonimato. Sabemos que muitos parentes Braga residiam tanto no Pará, Acre, Roraima e no Amazonas. Algum parente deve lhe ter dado guarita e proteção. Antigamente, bastava ao criminoso fugir de seu estado e se esconder em outro para que a polícia não o encontrasse nunca, e nos rincões amazônicos a coisa piorava. Mas não é a toa que a família Braga tem fama de braba. Mas a redenção verdadeira de Conduru ficou a cargo de seu filho com Vicência, o coronel Antônio de Sousa Braga (*23/03/1841 +1900?) que restaurou o nome da família e restituiu a carreira militar que a família se orgulhava de tradicional. O filho do bandoleiro tornou-se um homem probo e respeitado, dono de terras e seringais no Acre, e substituiu a Luiz Galvez15, proclamador da independência do Acre, como 15

Luis Gálvez Rodríguez de Arias (San Fernando, 1864 - Madrid, 1935) foi um jornalista, diplomata e aventureiro espanhol (muitas vezes erroneamente apontado como boliviano) que proclamou a República do Acre em 1899. Governou o Acre entre 14 de julho de 1899 e 1 de janeiro de 1900 pela primeira vez, e entre 30 de janeiro e 15 de março de 1900, pela segunda e última vez. Gálvez estudou ciências jurídicas e sociais na Universidade de Sevilha e depois trabalhou no serviço diplomático espanhol em Roma e Buenos Aires. Migrou para a América do Sul para procurar o Eldorado da Amazônia, em 1897. Em Belém do Pará foi jornalista no Correio do Pará. Em Manaus, escreveu para o jornal Commercio do Amazonas. Logo depois do governo boliviano celebrar um acordo de comércio e exportação de borracha, através de um Contrato de Arrendamento com um sindicato de capitalistas estrangeiro, o Bolivian Syndicate, presidido pelo filho do então presidente dos Estados Unidos,

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chefe da revolução, em 14 de julho de 1899. Na fala popular dizem que os filhos pagam as contas das ações dos pais, negativamente. Não foi o caso de Antônio de Sousa Braga. Gálvez recebe um cópia do documento para ser traduzido para o inglês, como funcionário do Consulado boliviano em Belém. Fonte: . Luís Galvez era de fato espanhol, estudou jornalismo, ciências jurídicas e diplomacia na Europa e se mudou para a América do Sul em busca do eldorado da Amazônia. Escreveu em alguns jornais em Manaus, fez traduções de textos bolivianos e foi dessa forma que soube da situação do Acre, então território boliviano, mas já com ideias separatistas. Galvez, se aproveitando dessas ideias seguiu para a região com financiamento do governo do amazonas que desejava anexar o Acre a seu território. A região do atual estado era rica em seringais e, majoritariamente habitada por brasileiros. Em 14 de julho de 1899, Galvez promoveu uma rebelião juntamente com seringueiros e veteranos de guerra cubanos. O movimento fundou a República Independente do Acre desligando a região da Bolívia e do Brasil. Sua justificativa foi: "não podendo ser brasileiros, os seringueiros acreanos não aceitavam tornar-se bolivianos". Dessa forma foi instituído o governo do país que foi classificado pelos EUA como "país da borracha". Chamado de Imperador do Acre, Galvez, assumiu o cargo provisório de presidente por seis meses até sofrer um golpe de estado. Então, por um mês, a República Independente do Acre foi governada pelo seringalista cearense Antônio de Sousa Braga tendo sido devolvido o cargo para Galvez após esse período. Em 1900, numa operação conjunta entre Brasil e Bolívia, o governo de Galvez foi destituído e o Acre devolvido à Bolívia sendo, no entanto, anexado definitivamente ao território brasileiro três anos após pelo Tratado de Petrópolis. Fonte: .

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Sendo justo, um mês depois de assumir o cargo que era de Galvez, reintegrou o mesmo ao seu posto, visto que nas análises documentais, não encontrou demérito que o comprometesse. Analiticamente, nosso grau de parentesco com Antônio de Sousa Braga dá-se porque era bisneto do nosso quarto avô (tetravô) Anastácio Francisco Braga (1759), portanto, primo ascendente. Seu pai, Antônio Ferreira Braga, o Conduru (1822) era primo ascendente também, filho de um tio-trisavô, Francisco Ferreira Braga (30/07/1790), da Serrinha.

Figura 71: Antonio de Sousa Braga, filho do Conduru. Foto: .

Figura 72: foto de Luis Galvez Rodrígues de Arias, “O Imperador do Acre”. Disponível em: .





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Mas estes não foram os nossos únicos pecados, infelizmente. Precisamos falar pra expurgar tudo de ruim do passado e reparar o futuro. Paulo Henrique de Souza Martins, Graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, Sobral – CE. Pós-graduando em História do Ceará pela mesma escreveu sobre os Braga: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO NA FAZENDA MALHADA GRANDE, SANTA QUITÉRIA – CE: Os Bragas em preto e branco e apresentou seu artigo durante a ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Martins apresenta a história de escravidão na Fazenda Malhada Grande, atualmente distrito de Santa Quitéria – CE, situada entre os rios Jucurutu e Guoaíras, afluentes do rio Acaraú no Norte do Ceará (p.1). O cenário é em Santa Quitéria e fica na microrregião de Uruburetama . Havia na fazenda Malhada Grande um senhor de escravos chamado Domingos Braga. O apetite sexual do senhor Domingos Braga era pavoroso. Atacava suas escravas e formou com isso uma geração de Braga negros (p. 2-3). Histórias de lá afirmam que os Braga eram pedantes e que os escravos se apropriavam do nome do senhor, mas não era muito o caso. Maria Gustavo de Mesquita dizia que (p.3): A família de Braga é família grande e tem Braga espalhado nesse mundo todo, agora esses nego aqui é porque era uns nego, as nega véia cativa né deles né aí

Laércio Braga as nega véia ficaram com essa firma (sobrenome)

besta […] com essa firma de Braga. Mas ao acusar de pedantismo os Braga negros da fazenda Malhada Grande e chamá-los pejorativamente de bestas, dona Maria Gustavo de Mesquita não levava em conta que as coisas aconteciam contra a vontade das escravas. Foi, então, que justificou dona Maria Geli Martins (ibidem): […] Aí foi o tempo da escravidão né aí foi que depois que terminou o escravidão ainda voltou, voltou nego pra Malhada Grande, justamente é por isso que os nego da Malhada Grande se assina como Braga. É por causa do véi Domingos Braga. Eles são da mesma geração de Braga […]

Diz mais dona Maria Geli (p.4) que os Braga que muito se orgulhavam de seu nome tinham vindo corrido de Portugal: […] De besta que nego que só [os] nego besta ficaram com essa firma de Braga que Braga eu sei porque os mais véi dizia que essa Braga esses Braga vieram da dessa Bragança […], saíram de lá corridos tiraram eles de lá porque eles eram ruim.

Dona Maria Mesquita defende os negros da fazenda Malhada grande a uma comadre sua, de pronome Nazaré (p. 5): Aí eu respondi assim “Dona Nazaré, ‘cê’ sabe por que é que esses nego se assina assim? É por que os branco os Braga nunca se deram ao respeito. Botavam um nega véia, uma escrava véia uma nega dentro de casa pra torrar um café, pra pelar um arroz um mi (milho) pra elas e eles não deixavam… doidin pra fazer o mal às

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nega véia aí puxavam pela espada e elas pediam ‘pelo amor de Deus, me deixe meu senhor, não faça umas coisa dessa não senhor…’ chorando pedindo pelo amor de Deus pra elas num… pra eles não fazer nada com elas. E eles ficavam [dizendo que] se não se assujeitasse matavam elas, matava, se elas não se assujeitasse, e as nega véia coitadinha não queriam morrer o jeito que tem [teve] foi se assujeitarem, se assujeitavam, e aí impestou aqui a Maiada Grande desses Braga véi, Braga véi sem vergoin [vergonha] que não respeitava as nega véia”. […] eu que respondi pra dona Nazaré assim “o que é que elas [as escravas] podiam fazer? por que elas não queriam aceitar e eles queriam matar elas o que é que as pobrezinha… ou chorando ou não se entregaram a eles, se entregavam nem que não quisessem, contra a vontade, mas coitadinhas, pra não morrer se assujeitavam e aí ficou, saiu grávidas, impestaram, os Braga véi impestaram as nega véia. Raça de nego aqui é impestado de Braga, sangue de Braga. “Não fique com raiva não dona Nazaré que é porque eles que não prestaram, não foi as nega véia não porque elas não iam procurar eles, eles é que iam matar se não se assujeitasse a eles. As pobrezinhas eram o jeito…” O que eu respondi pra dona Nazaré foi isso, na casa dela. [Ela] Calou-se e não disse mais nada (Ibidem).

Tais histórias escabrosas sobre os Braga da fazenda Malhada Grande não é o mínimo de absurdos que talvez acontecesse e dona Maria Geli revela (p. 6): A mãe Júlia Braga me contava do avô dela né que tinha uma nega véia dentro de casa e a mulher dele,

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aí todos os anos, a nega véia tinha um filho […]. Aí diz que quando os filho tava assim “crescidin” ele pegava e levava pra vender no Maranhão, trocar por foice por enxada […]. Dona Maria Mesquita revelava também que não era apenas Domingos Braga que fazia mal às escravas da casa, também seu filhos era malfeitor (p. 7): […] eu alcancei a minha vó falando dizendo dizia muito que quando elas viam um desses, eu acho que era um tal de Josino Braga, Josino, […], aí diz que quando as nega véia viam eles, coitadinha, choravam corriam se escondendo né e eles… Ora, com medo e eles perseguindo né e as pobrezinha choravam pediam pelo amor de Deus que não fizesse nada com elas não e eles armavam as as traziam aquelas espada horríveis pra fazer medo a elas não é, pra se assugeitarem a eles.

Mas Domingos Braga chegava a registrar alguns dos filhos e existem relatos de uma menina Mariana Braga filha Gertrudes Pinto de Mesquita, sendo batizada por uma Paula e um Pedro Braga ambos escravos de Domingos Braga (p. 8) revelando assim, uma farta descendência de Braga, negros e brancos no Ceará, a partir da fazenda Malhada Grande. Francisco Ferreira Braga meu bisavô também tinha um histórico um pouco luxuriante, não de se meter com escravas e ter tido filhos com ele, mas ele era cego de um olho por estar espiando mulheres no igarapé. De tanto prestar atenção nelas escondido acabou atingido no olho por um galho seco. Minha prima Doracy Braga foi quem me contou esta história em 2005.

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Ao contar essa história Doracy Braga de Souza riu muito, como se a observar que essas atitudes é um traço marcante entre os Braga, não da maneira de Domingos Braga, mas atirado às mulheres. Meu bisavô também se separou de minha bisavó Sabina para viver com uma Joana, com essa mulher passou seus últimos dias quando faleceu e foi sepultado no Arraial do Caeté, em Ourém. Mas minha bisavó não tinha ressentimentos dessa separação. Era amiga tanto do bisavô Francisco quanto de sua amásia Joana. Eram amigas antes e assim permaneceram.

Figura 73: Reclame de escravo fugido de Villa de Imperatriz, Itapipoca pertencente ao senhor Domingos de Pinto Braga em 1839 e abaixo Antonio de Souza Braga. Imagens disponíveis em: http://www.facebook.com/villaimperatriz?fref=ts.

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M BUSCA DA GENEALOGIA E HERÁDICA DOS FURTADO DE MENDONÇA

Figura 74: brasão da família Furtado de Mendonça que, por causa de bisavó paterna, podemos contar como de uso de nossa família. Disponível em: http://www.antonildesbiografia -vicentinho.com/obras%C3%A3o-da-familiamendon%C3%A7a-/.

A família FURTADO DE MENDOÇA vem a ser de nossa árvore de costado16, da bisavó Sabina Furtado de

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Árvore de costados é a árvore genealógica que apresenta toda a genealogia ascendente (ascendências paterna e materna) de uma pessoa.

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Mendonça, desde sempre, suscitou a mais aguçada curiosidade. A primeira pergunta que nos fazemos é: por que Sabina não usou o sobrenome Braga ao casar-se com o bisavô Francisco Ferreira Braga? Em parte podemos responder que, a cerimônia de casamento não aconteceu num processo civil, mas religioso. A obrigação de mudar o nome aconteceria, por livre arbítrio, levando-se em consideração o costume da época. Acreditamos que a bisavó não trocou de nome por sabê-lo enobrecido e ser orgulhosa de sua origem, portanto, vamos transcrever um artigo de Guarino Alves: “CLARAS FIGURAS DO PASSADO: Genealogia e história da família Furtado de Mendonça e Meneses” (1980), da mesma região a que encontramos Braga e Barroso. O artigo é muito interessante sobre essas famílias, a seguir: ARCO DA ALIANÇA Meus trisavôs maternos e a sua descendência Doze anos são passados desde o meu primeiro intento de escrever um estudo mais ou menos vigoroso sobre o português Antônio Furtado de Mendonça e Meneses e a sua descendência. Mencionou-o em seu artigo Genealogia & Prosápia. Ayres de Montalbo, pseudônimo do Pe. Aloísio Furtado, cronista e poeta cearense. Consoante alguns escritores europeus, o exótico Furtado originou-se de um episódio interessante: dona Urraca, filha de D. Fernando, Rei de Espanha, raptara uma criança de nome Fernandez Perez de Lara, cujo pai se chamava D. Pedro González de Lara; e assim, por o ter por furto, surgiu o discutido Furtado. Os pais formam dois costados da pessoa cuja genealogia se estuda, os avós 4 costados, os bisavós 8 costados, os trisavós 16 costados, e assim por diante.

Laércio Braga Uma filha do raptado Fernandez Hurtado Pérez de Lara, dona Leonor Hurtado, casou com Diego Lopez de Mendoza originando a família HURTADO-MENDOZA, da qual um Fernando Hurtado transferindo-se para Portugal com dona Brites, que contraiu núpcias com o rei Afonso III, deu princípio aos FURTADO DE MENDONÇA portugueses, os quais por seu turno se uniram aos MENESES e terminaram formando um só brasão: chanfrado de verde, dividido diagonalmente por uma banda de vermelho, tendo nas franjas de ouro dois S de negro, e por timbre uma asa de águia, dourada, com um S de negro. Crônicas da Espanha e de Portugal registam grandes vultos dessas famílias. Por exemplo: Diego Hurtado de Mendoza, nascido em Granada no ano de 1503, Diplomata e Capitão de Carlos I, e autor do livro: La historia de la guerra contra los moriscos de Granada; André Hurtado do Mendoza, conquistador do Chile, 2.° Marquês de Cañete e 8.° ViceRei do Peru; Heitor Furtado de Mendonça, Licenciado, Visitador do Santo Ofício no Brasil cm 1591; D. Duarte de Meneses. Conde de Tarouca; D. Henrique de Meneses, Senhor de Louriçal; e Pedro César de Meneies. Governador de Angola. A decadência da figalguia portuguesa, com termo de economia privada, declínio paulatino, foi conseqüência indireta da derrota de D. Sebastião na batalha de Al Kasr al-Kcbir ou Alcazar Quivir, em 1580. Fidalgos de sangue, ou apenas de titulo, trocaram a boa vida sedentária pela aventura nos hemisférios americanos com o intuito de recuperar fortunas e prestígio perdidos (Sem paginação).

Até este ponto, não encontramos uma ligação mais estreita que não o nome Furtado de Mendonça, pois o texto acima é introdutório para falar da família Furtado de Mendonça e Menezes, assim não encontramos uma integração e ficamos distantes de um esclarecimento. Outro fato agravante é o de não encontrarmos documentação de batismos e casamentos

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com o nome de Sabina Furtado de Mendonça, pelo menos não na região de Itapipoca. Mas uma justificativa de Guarino Alves (idem) nos aguça o entendimento que talvez nossa bisavó pode ter sido filha ilegítima de um Furtado de Mendonça: A vida inquieta de Antônio Furtado não pode ser objeto de profunda análise. O tempo extinguiu quase por completo a tradição oral. Entretanto, sabemo-la fecunda e incansável no labor do campo. Para quem nascera e, talvez, se criara em uma ilha superpovoada, reducente a produção de cereais, café, gado, vinho e pescados, para quem saíra com interesse de conquistar no outro lado do Atlântico mais largos horizontes, a meta única e segura só podia ser a da vitória sobre os mais sérios obstáculos. Com efeito, encontramo-lo no Riacho do Sangue, em Baturité em terras norte-rio-grandenses de Santa Cruz, de São Gonçalo do Amarante e do Ceará-Mirim, levantando fazendas e engenho de açúcar.

Existem extensos estudos sobre a família Furtado de Mendonça, porém não esclarecedores para nós, descendentes de Sabina Furtado de Mendonça, apesar de a vida de Antônio Furtado ser repleta de aventuras que o coloca no olho do furacão. Certo que falamos da família Furtado de Mendonça e Menezes, entretanto, o acréscimo do nome Menezes não pode comprometer nosso trabalho, porque já sabemos que a prática de nomes complexos não era exatamente uma preocupação do imigrante e sua geração no Brasil. Nem mesmo em Portugal essa preocupação existia.

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Figura 75: retrato de Sabina Furtado de Mendonça (bisavó), nascida em Trairi-CE em 1884. Foto: álbum de família.

Originalmente, o nome Furtado de Mendonça nos chega através de uma discussão de Geneall, sitio apropriado para estudo genealógico, que levanta o histórico extra aventura brasileira, até supostamente encontrar-se com nossa geração, mas para nós do clã cearense, sem maiores esclarecimentos de José de Azevedo Coutinho, Barão de Mearim sobre a carta d’armas para conferimento de eventual ramo familiar de Semeanda Furtado de Mendonça17: 218. ANTÓNIO JOSÉ CORRÊA DE AZEVEDO COUTÏNHO (Tenente), natural da cidade do Maranhão, filho de Theodoro Corrêa de Azevedo Coutinho capitão de cavallaria auxiliar, a quem se passou brazão de armas a 6 de maio de 1790, e de sua mulher D. Antonia de Araújo Cerveira; neto paterno de Constantino Corrêa de Araújo, e de sua mulher D. Leonarda Mendes de Amorim; bisneto de 17

Disponível para leitura em: .

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Ignacio Corrêa Coutinho de Cerveira, secretario do estado do Maranhão, e de sua mulher D. Simeanna Furtado de Mendonça; terceiro neto de Manuel de Araújo Cerveira, que serviu vários postos na tropa paga, foi cidadão e juiz presidente do Senado d'aquele estado, e ouvidor da capitania de Cumá, e de sua mulher D. Margarida Corrêa de Lucena; quarto neto de Domingos de Cerveira Bayão, filho de António Cerveira da Camará e de D. Anna Fernandes de Araújo, que foi o primeiro restaurador d’aquele estado do Maranhão do poder dos hollandezes, e senhor das Torres de Tamanacú e Canavieiras d'aquella capitania de Cumá; e sua bisavó D. Simeanna Furtado de Mendosça era bisneta de Diogo de Campos Moreno, sargento-mór de todo o estado do Brazil, primeiro conquistador do Maranhão do poder dos francezes, e commandante general d'elle em 1614, sendo general do Brazil Gaspar de Sousa, devendo-se-lhe toda a felicidade d'aquelle estado: e D. Margarida Corrêa de Lucena, sua terceira avó era filha de Agostinho de Menezes, capitão de infantaria e governador da fortaleza de Santa-Cruz da barra do Rio de Janeiro, e senhor da ribeira do Meari; neta de Sebastião de Luce Via de Azevedo, capitão-mór e governador do Grão-Pará em 1643, cavalleiro da ordem de Christo e capitão governador da torre de Cascaes, filho de Mattheus de Freitas de Azevedo, fidalgo da casa real e alcaide-mór de Pernambuco, filho de Sebastião de Lucena de Azevedo, commendador da Malta de Lobos, da ordem de Christo, e guarda-mór da cidade de Lisboa, e de sua mulher D. Jeronyma de Mesquita, filha de Thomé Borges de Mesquita, neta de D. Pedro Alves de Mesquita, fidalgo castelhano e senhor do morgado de Meões; bisneta de Vasco Gil de Moniz. O dito Sebastião Lucena de Azevedo, commendador da Matta de Lobos, era filho de Vasques Fernandes Lucena de Azevedo, fidalgo da casa real, um dos primeiros descobridores e povoadores de Pernambuco, a quem se fez mercê da alcaidaria-mór de Pernambuco. Um escudo esquartejado; no primeiro o quarto quartéis as armas dos Correas, no segundo as dos Azevedos, e no

Laércio Braga terceiro as dos Furtados de Mendonça. — Br. p. a 10 de março de 1800, Reg. no Cari. da N., liv. vn, íl. 121.

Torna-se importante referendar a informação do moderador Geneall.net (2014) sobre a família Furtado de Mendonça. A discussão é muito instigante e fomenta mais conhecimento sobre a heráldica dessa família. Esclarecer a trajetória deste clã simplifica a existência. Também tenho interesse no assunto Família Furtado de Mendonca, porem, não tenho dados devidamente concretos. Descobri recentemente que a esposa do ancestral em nossa família: Luis Barbalho Bezerra, o velho, D. Maria Furtado de Mendonca (que na Árvore Genealógica do Geneall.net está identificada como Maria Nunes de Andrade), foi filha de Aires Furtado de Mendonca e D. Cecilia de Andrade Carneiro. Portanto nada tenho além desse ponto. No próprio GeneAll.net encontra-se uma referencia de data para o Luis Barbalho de 1590. A esposa dele deve ter nascido poucos anos depois. Sendo assim, espera-se que o pai dela tenha nascido pelo menos uns 20 ou 30 anos antes. Estaríamos, então, falando em data em torno de 1560 a 1570. Nisso se resume que não haviam muitos portugueses no Brasil naquela época [...]. Eh possível, então, que estejamos falando de um dos primeiros, senão o primeiro Furtado de Mendonca a pisar no Brasil. Melhor dizendo, como os colonos chegavam geralmente em grupos familiares, deve ter havido mais que um primeiro e simultaneamente primeiro Furtado de Mendonca no Brasil. Acredito que dai para frente todos os Furtado de Mendonca no Brasil descendam deles, ou lhes sejam aparentados; assim como os descendentes de outros

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povoadores que foram para o Brasil, levando o sobrenome em datas posteriores. Deve haver uma fonte, um local geográfico, de onde os primeiros Furtado de Mendonça saíram. No inicio deve ter sido apenas uma pequena família. Os que ficaram, multiplicaram e continuaram enviando povoadores. Mas, no fundo, devemos pertencer todos a algum tronco familiar comum. Embora, como no caso de meus muitos familiares por descendermos pelo lado feminino, desde aquela época não temos notícia de termos outros Furtado de Mendonca entre nossos ancestrais. Como as possibilidades são muitas, não se pode afirmar que elas não existam. Somente não a conhecemos18 (sem paginação).

Evidentemente que, podemos estudar a exaustão a origem dos Furtado de Mendonça e integrá-los ao nosso projeto, com o fito histórico em primeiro plano. A disponibilidade de documentação é uma realidade atraente, transformando a possibilidade de nobreza meramente consequente, entretanto, esclarecer cientificamente tal origem soma-se aos interesses pelo mundo, haja vista que Furtado de Mendonça junta Portugal e Espanha com um só esboço. Observemos o que nos diz a Heráldica Pelotense (2013): Sobrenome de origem toponímica, tomado da propriedade da família e de origem biscainha. Adaptação do espanhol Mendoza, o que acredita em agouros. Conta-se entre as mais ilustres e antigas famílias da Espanha por descender dos senhores de Biscaia. D. Inigo Lopes, sexto senhor soberano de Biscaia, de Durango e de Nájera, desde o ano de 1025 até o de 1076, contraiu matrimônio com D. Toda 18

Os que desejarem mais informações devem visitar as notas genealógicas do blog: val51mabar.wordpress.com. o autor do mesmo afirma que terá “prazer em partilhar com todos os dados que possue”.

Laércio Braga Ortiz, filha herdeira de D. Ortiz Sanches, senhor de Nájera e Navarra, de quem teve por filho segundo a Dom Sancho Iñigues que morreu em 1070, vivendo seu pai e contraindo novas núpcias com Dona Teresa, deles nascendo Dom Lopo Sanches. Este teve senhorio de Alaba e do Vale de Lodio, sobre os quais confirmou privilégios nos anos de 1081, 1094 e 1101.Dom Iñigo Lopes teve por neto D. Iñigo Lopes, que foi Senhor de Lodio e Mendonça, de onde tirou o apelido Mendonça, como consta de um documento datado de 1164. Em 1184 doou o lugar de Pedra longa ao mosteiro de Uvarenes. Deixou numerosa descendência do seu casamento, com D. Teresa Ximenes, entre eles, D. Diogo Lopes de Mendonça, quarto senhor de Lodio, Laiterim e Mendonça, rico-homem, casado com D. Leonor Furtado, filha de Fernão Peres de Lara, chamado o Furtado, meio-irmão de D. Afonso VII, rei de Castela. Por este casamento de D. Diogo Lopes de Mendonça com D. Leonor Furtado se uniram os dois apelidos, chamando-se Furtados de Mendonça ou Mendonça Furtados. Um dos filhos deste casal, D. Fernão Furtado de Mendonça, passou a Portugal no tempo de D. Afonso III, na companhia da Rainha D. Brites, onde foi o patriarca desta família Furtado de Mendonça. [...] No Brasil em Pernambuco, entre as mais antigas, a de Diogo Tomas de Ávila, que deixou geração do seu casamento em 1672, com Maria de Mendonça e Sá (o grifo é nosso). [...] Uma destas famílias de origem judaica estabelecida, no Brasil, durante o período holandês em Pernambuco, foi a de João Mendonça da Muribeca, documentado no ano de 1644. Entre a nobreza titular constam José Antônio de Mendonça, agraciado a 11.07.1888, com o título de barão de Mundaú; outro José Antônio de Mendonça, que foi agraciado a 04.03.1860, com o título de barão de Jaraguá. Na heráldica o brasão de linhagem da família é descrito como um escudo franchado, o primeiro e quarto em campo verde, com banda de vermelho perfilada de ouro; o segundo e terceiro em campo de ouro, com um S de negro. Timbre: uma asa de ouro, carregada de um S de negro (sem paginação).

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Não nos custa observar que na sociedade cearense encontraram-se cidadãos agraciados com títulos de nobrezas, e não nos custa referendar que nossa bisavó, Sabina Furtado de Mendonça conservou seu sobrenome de solteira. Haveria uma explicação maior que o orgulho de pertencer a esse ramo familiar? Poderia nossa bisavó, sem ter consciência do seu ato, guardado para a posteridade o pertencimento desse clã? E, por que esse pertencimento perde-se em nossos dias? Valbarbalho apud Geneall (2014) depois de longa discussão no blog genealogista afirma, desculpando-se na intenção de mostrar-se superior que: Em função disso não ha porque nos preocuparmos em relação a termos ou não origem nobre, também do lado Pimenta de Carvalho. O Capitão-mor Joao nasceu em Portel, por volta de 1590. Portel fazia parte do Ducado de Braganca, cujo capital era Vila Vicosa, onde Manoel Pimenta de Carvalho nasceu. As duas cidades não são tão distantes uma da outra. E como os sobrenomes são iguais, ha a possibilidade de terem sido parentes próximos. Os Pimenta de Carvalho podem mesmo ter algum vinculo familiar com os duques de Braganca. Talvez este seja um dos motivos que permitiu a eles se projetarem na escala social no Rio de Janeiro. O João Pimenta de Carvalho foi fidalgo da casa real, porem, não se pode confundir com a pessoa de mesmo nome dada como pai do Belchior, pai da ancestral Josepha, pelo genealogista Carlos Rheingantz. Belchior nasceu em 1791, e o capitão-mor faleceu em 1660 aos 70 anos de idade. Portanto, há a possibilidade do João ter sido bisavô do Belchior. Não pensem que estou mencionando as nossas origens nobres porque considere isso algum privilégio. A verdade eh que, com a capacidade reprodutiva que Deus Concedeu ao ser humano, o provável eh que todos tenhamos muitos

Laércio Braga ramos ascendentes, descendentes da nobreza. E se alertarmos para o fato de que tem os indígenas e os africanos tinham suas nobrezas, nos somos triplo-nobredescendentes. Isso eh um privilégio que compartilhamos com todos. Mas este não eh um assunto que devera excitar os neurônios dos Furtado de Mendonca, por agora. A menos que também descubram que são Pimenta de Carvalho (idem, sem paginação).

Com efeito, resgataremos a glória de seus primeiros dias como se fosse invenção de nossa contemporaneidade. Mas uma pista temos: a bisavó Sabina Furtado de Mendonça falava de um lugar chamado Macambira e desse lugar provém os Furtado de Mendonça e Menezes do livro de Guarino Alves (1980, p. 84), que descreve o testamento de Tereza Cândida de Menezes. Encontramos um registro de nascimento de Sabina Furtado de Mendonça na cidade de Trairi, Ceará, depois de muito investigar nos arquivos da região da Uruburetama. A mesma nasceu em 11 de julho de 1884, p. 454, record-image (52) Sabina em Trairi 1875-1885 nascida em 11/07/1884 P.454:

Figura 76: batizado de Sabina, filha legitima de João Furtado da Costa e Maria Joana da Conceição. Padrinhos: Pedro Barrozo [...] e Ana Maria de Jesus. Livro de Batizados de Trairi 1875-1885, fragmentos da freguesia d'Arneiroz. Nº 6, p. 454.

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A data de nascimento de Sabina Furtado de Mendonça não bate com o citado no documento de casamento de nosso avô Otavio Furtado Braga, nascido em1909 (Anexo VIII), mas como sempre, não o desmerece, já que a prática, como vimos, é absolutamente normal. Ademais, tendo nascido em 1884 pariu a Otavio Braga aos 25 anos de idade, data mais que plausível para se ter um primeiro filho. Com a idade sugerida no documento de 1928 (Certidão de Casamento) teria 31 anos de idade, velha demais para uma primeira concepção e fora da realidade daqueles anos. Naturalmente, Sabina Furtado de Mendonça procede do Córrego dos Furtados, na cidade de Trairi e seja descendente direto, nas suas primeiras gerações de D. Maria Furtado de Mendonça, uma das fundadoras, quase lendária e rica figura portuguesa, que quase naufraga na costa do lugar e que doou uma légua de terra quadrada como patrimônio de Trairi e em honra de Nossa Senhora do Livramento por ter escapado do naufrágio certo. Ela própria trouxe, três meses depois do ocorrido, a imagem da santa, para quem tinha feito uma promessa, acaso se salvasse do naufrágio. Membros da família de D. Maria Furtado de Mendonça foram trazidos para o Trairi por ela mesma. O seu irmão chamava-se Antônio Furtado de Mendonça que teve um filho chamado Antônio Furtado Junior. Mas além de Antônio, D. Maria Furtado de Mendonça também trouxe mais dois irmãos, Raimundo e João. Excetuando o que foi para o Amazonas, trabalhar nos seringais, os demais prosperaram em terras trairenses, inclusive, multiplicaram-se e preservaram-se casando entre si durante muitos anos, salientando nos descendentes os traços portugueses evidentes. Como um dos irmãos torna-se padre e a própria D. Maria Furtado de Mendonça entrega-se ao hábito de freira, devotando sua vida às causas de Deus, restou ao irmão Antônio a continuidade familiar.

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De Antônio Furtado de Mendonça, temos pelo menos três ou quatro gerações até Sabina Furtado de Mendonça, mas a analogia é essa mesma, visto que os dados batem conclusivamente. No futuro poderemos esmiuçar esta genealogia.



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RÉ-ESBOÇOS DE UMA ÁRVORE GENEALÓGICA

Antes de nos aprofundarmos na construção de uma árvore genealógica familiar, de forma científica, seria bom tratarmos as possibilidades que se apresentam que são as ascendências nobres, épicas e históricas. Ter na composição de sua árvore nomes de pesos dá uma sensação de pertencimento ainda maior, e o caso da repercussão de um nome familiar, mesmo que numa temporalidade distante, traznos um evidente estufar de peito, como se disséssemos: eu não disse! Para um jovem país como o nosso, deveria ser facílimo verificar a genealogia de qualquer sobrenome, pelos menos quanto aos migrantes seiscentistas e setecentistas, mas não é o verificado. A conservação deste material não é boa, não é um tipo de documento exatamente acessível e dispende, além de muito tempo, numerário, ingredientes indispensáveis. Para quem tem a possibilidade de contratar serviço especializado é perfeito, mas para alguém como eu, apenas a obstinação fala mais alto. Entretanto, Figueiredo (2010), com sua benevolente e inspiradora fala, nos diz: Pesquisa Genealógica e a origem dos sobrenomes. Uma das ciências auxiliares da História, a Genealogia está intimamente ligada aos sobrenomes. A busca pela origem dos nomes das famílias é uma das formas de obtenção dos registros que permitem conhecer a árvore genealógica de uma pessoa, bem como dados importantes sobre a origem

Laércio Braga de sua parentela. A internet revolucionou a pesquisa genealógica, reunindo recursos que diminuíram muito o tempo necessário para construir uma árvore de ancestrais. Tecnologias como as redes sociais são empregadas de forma a facilitar a busca por pessoas distantes que tenham o mesmo sobrenome, parentes esquecidos, perdidos ou por registros relevantes (p. 8).

Embalados nesta suposição formulada, como se a pesquisa genealógica acontecesse sem necessidades a mais, injetamos gás novo à pesquisa, pois, ao longo de sua construção Figueiredo (ibidem) sistematiza o conhecimento e a busca de resultados de forma convincente: Uma árvore genealógica é um histórico de certa parte dos ancestrais de uma pessoa ou família. Mais especificamente, trata-se de uma representação gráfica genealógica para mostrar as conexões familiares entre indivíduos, trazendo seus nomes e, algumas vezes, datas e lugares de nascimento, casamento, fotos e falecimento. O nome se dá pelo fato da semelhança ao ramificar das árvores, que normalmente segue o padrão Fibonacci, enquanto a representação da árvore duma ascendência tende a ter um crescimento exponencial de base 2. Progressão de 20, 21, 22, 23, 24, etc. Uma árvore genealógica também pode representar o sentido inverso, ou seja, de um ancestral comum sendo a raiz da árvore até todos seus descendentes colocados nas suas inúmeras ramificações. O uso destas se faz para prova de ancestralidade, o indivíduo que constrói árvores genealógicas, quando da própria família é denominado probandus ou de cujus. É também usada na medicina, para estudo de doenças de cunho genético, tais como adicção, gota, diabetes, etc. No caso especifico da representação dos descendentes diretos próximos é denominado pedigree ou linhagem, sendo que pedigree, tem por vezes denotações pejorativas (p. 9).

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Sonho comum de todo mundo que deseja construir sua árvore é encontrar pessoas de destaque, baseado nos sobrenomes dos ancestrais. No nosso caso: Alves, Braga, Barroso, Cunha, Fernandez, Furtado de Mendonça, Ferreira, Francisco, Lima, Moreira, de Souza, Rodriguez, Valente, Vilar... São tantos sobrenomes que poderiam ser relacionados com nomes especificamente destacados de nosso país que poderiam ser parte de uma constelação de estrelas, nacionais e estrangeiras. Sobrenomes destacados, com ações altruístas ou não. Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador do Pará entre 1775 é um deles. Irmão do marquês de Pombal, ministro do rei D. João V de Portugal. Da parte dos Braga, constatamos uma série de servidores militares como capitãesmores, coronéis, majores, sargentos, políticos. Os Furtado de Mendonça poderiam herdar fidalguias várias, barões, cavaleiros, condes e poderiam ser até parentes ou contraparentes de Cristóvão Colombo, o descobridor da América. Índios, negros poderiam compor parte dessa árvore, padres e cangaceiros, com certeza.

Figura 77: Francisca da Silva Braga (Chiquinha, segunda esposa) e Otavio Furtado Braga. Foto: álbum de família, 1970.

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ENEALOGIA DA FAMÍLIA RODRIGUEZ

Do hexavô Manoel Francisco de São Victor, arcebispado de Braga, retiramos o sobrenome Rodriguez que pode nos levar a uma ascendência romano-céltica. Tal revelação nos coloca na formação do Estado português em sua proeminência imemorial, mas tal conclusão demanda um tempo considerável. Seria natural criarmos um link com os parentes lusos, se a informação interessar.

Figura 78: brasão da família Rodrigues (Rodrigo ou Rodriguez). Fonte: http://familiasouzadeitabise.blogspot.com.br/.

No ÁLBUM DE FAMÍLIA RODRIGUES SOUZA DE ITABI-SE (2009) pontua a descrição sobre essa família:

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Esta designação familiar foi, no princípio, patronímico, pelo que há muitíssimas famílias assim chamadas, mas com origens absolutamente diversas, algumas, de certo, vindas de Espanha, pois tanto cá como lá o nome de Rodrigo foi vulgar. Em Portugal usam-se três brasões de armas diferentes, relativos a famílias Rodrigues, as quais são: a proveniente de Martim Rodrigues, que não se sabe identificar, mas cujas armas figuram no Livro do Armeiromor, o que indica ser personagem que existiu antes de 1509 ou vivia por essa época; a que verifiquei do bacharel António Rodrigues, principal Portugal rei de armas, a quem o Imperador da Alemanha concedeu armas, talvez por 1510; e a originária de Espanha conhecida pelos Rodrigues de las Varillas, chamam Rodrigues de Salamanca, por serem daqui a que também naturais, de onde vieram no tempo de Filipe II. Alguns autores citam mais uma família Rodrigues com armas próprias, a que descende de André Rodrigues de Austria, mas outros consideram a representação heráldica pertencente ao apelido Austria, que se ignora se o era na verdade ou se foi apenas designação de proveniência, que não se haja fixado. As armas deste André Rodrigues são também, anteriores à feitura do Livro do Armeiro-mor. António Rodrigues, rei de armas, usou: Escudo partido; o primeiro, de negro, com meia água de ouro estendida; o segundo, de prata, com faixa de vermelho acompanhada de duas pombas de púrpura, voantes, uma em chefe e outra em ponta. Braamcamp Freire atribui-lhe, erradamente, as armas de João du Cros, que são: Cortado: o primeiro de vermelho com uma águia de prata, estendída; o segundo faixado de ouro e de azul, de oito peças. Armas: De ouro, com cinco flores-de-lis de vermelho, postas em santor, e um chefe do segundo esmalte, carregado de uma cruz florenciada e vazia do primeiro.

Laércio Braga Timbre: Um leão de ouro, sainte, com uma flor-de-lis do escudo sobre a espádua. (sem paginação).

Muito importante evidenciar mais esse nome dos ascendentes, pois ele é iminentemente português ou puramente original, assim como a família Barroso. O fato do nome Rodrigues ter origem na freguesia de São Victor, concelho de Braga também é um motivo muito significante, pois retroage aos anos 1600, podendo servir de base para uma investigação mais a fundo, e que, com certeza traria bons resultados. Mas o importante no momento é investigar a família Braga.



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ENEALOGIA DA FAMÍLIA GONÇALVES

Iniciamos o capítulo sobre a família Gonçalves sabedor que trata-se de uma das famílias das mais nobres de Portugal, com brasão constante em Armorial lusitano e registro de armas no livro próprio do armeiro de Sua Majestade, na época em que foi instituído para tão nobre clã. O blog da Família Gonçalves19 (sem datação) descreve, com orgulho, o breve histórico e sua simbologia: ARMAS De verde, uma banda de prata, carregada de dois leopardos passantes de púrpura, armados e lampassados de vermelho. -Timbre: um leão de púrpura, sainte, armado e lampassado de vermelho. Do latim Gundisalvici, de formação patronímica - "filho de Gonçalo" - A família é de origem espanhola , do reino da Galícia, com Moniz Gonzalo. Seu descendente Dom Antão Gonçalves foi o primeiro da linhagem portuguesa. Senhor de Alentejo, Visconde e Arquiduque, títulos nobiliários reconhecidos com méritos pelos serviços prestados à Coroa, a quem antes do séc. XVI, foram concedidas armas que já figuram no Livro do Armeiro-Mor datado de 1.509. 19

Blog da Família Gonçalves. Disponível em: http://familiagoncalves.com.br/. Acesso em 18/08/2014.

Laércio Braga Da baixa latinidade Gundisalvici (de Gundissalbici): Gundisalbiz [897], Gundisaluiz [928], Gundissalbici [1026], Gunsaluizi [1077], Gunzaluiz. Gonçalo: do germânico composto de gundi, batalha, luta, no ant. alto al., e o segundo elemento, salo, escuro em ant. alto al. - cego pela luta (Antenor Nascentes, II, 127). Assim como os demais patronímicos antigos - Eanes, Fernandes, Henriques, etc. - este sobrenome espalhou-se, desde os primeiros anos de povoamento do Brasil, por todo o seu vasto território (p. 1).

Figura 79: brasão completo http://familiagoncalves.com.br/.

da

família

Gonçalves.

Fonte:

Muito nos orgulhamos em pertencer à família Gonçalves, mas é bom referendar que este nome não passou ao Brasil, pois perdeu-se nos consórcios havidos em Portugal. Apenas ele subsiste na história dos Braga, mas de qualquer maneira assinalamos um pertencimento original.

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ENEALOGIA DA FAMÍLIA FERNANDEZ

De uma certa forma, por falta de experiência mesmo, nunca imaginamos pertencer ao clã Fernandez, porém, observamos nossa ingenuidade ao longo das pesquisas. Qualquer outro nome pode constar em nossa genealogia. O fato de o nome Fernandez não estar presente no Brasil em nosso sobrenome, claro, deu-se pelos muitos consórcios da família. Encontramos uma página na Internet, sobre Heráldica da Família Fernandes20 (2012) que sinteticamente expõe o histórico da genealogia Fernandez: Sobrenome de origem espanhol! Fernandes é um sinal orgulhoso de um rico património e antiga. As primeiras formas de sobrenomes hereditários na Espanha foram os sobrenomes patronímicos, que são derivados do nome dado ao pai, e sobrenomes metronymic, que são derivados do nome dado à mãe. Ao contrario do que a maioria acredita sufixo mais comum sendo patronímico "ez" é derivado de Fernandes surgindo assim a derivação Fernandez. O nome Fernandes é derivado dos elementos espanhol "faro", que significa "viagem" e "nano", que significa "corajoso". As primeiras famílias a usarem o nome Fernandes surgiram na região espanhola de Aragão, que é uma região do nordeste da Espanha na Península Ibérica. Já o nome Fernando, do qual deriva o sobrenome, vem do germânico Frithunanths ("frithu" [paz] + "nanths" [audaz, corajoso]), com o sentido 20

Esta página pode ser acessada em: http://espanhafernandes.blogspot.com.br/. Acesso em: 15 de agosto de 2014.

Laércio Braga de intrépido na defesa da paz, latinizado em Fredenandus e, posteriormente, em Fernandus. Não se sabe ao certo por que mais acreditasse que os Fernandes foram subindo a Espanha em direção ao norte na região das Astúrias e depois Galícia e continuaram essa migração ao decorrer de anos até se estabelecerem em território Português! Algumas fontes dizem que o Contrario aconteceu , ou seja os Fernandes nasceram nas Astúrias e depois se espalharam pelo território espanhol e português! Fernandes em Portugal Um dos primeiros Fernandes portugueses de que se tem notícia foi Diogo Fernandes, o 3º Conde de Portucale até o ano de 924. Genro de Lucídio Vimaranes, 2º Conde de Portucale (o primeiro havia sido seu pai, Vímara Peres), por seu casamento com Onega Lucides. Outro antigo possuidor deste sobrenome foi Dom Ero Fernandes. Nascido em Lugo (o antigo povoado romano de Lucus Augusta na Galícia) por volta do ano de 865, foi Conde de Lugo entre 895 e 926. Se casou com Adosinda, com quem teve os seguintes filhos Dom Godizindo Eris Conde de Lugo e D. Teresa Eris (ou Ermesenda Eris), esta última a mãe de Paio Gonçalves Betote e Hermenegildo Gonçalves Betote). Tudo que se sabe é que os primeiros Fernandes a chegarem ao Brasil datam do anos de 1600 e entraram no pais pelo Ceará e que com o passar dos anos foram se estabelecendo cada vez mais ao sul (p. 1-2).

Sem dúvidas que nos interessa a origem espanhola, mas a origem portuguesa, para nós é bem mais relevante, apesar de, antes do Estado português consolidado, a Espanha aparece primeiro enquanto nação. Quanto ao fato não nos traz menos orgulho de ser de um país ou outro, e a isso, registramos para a posteridade, e para os interessados em heráldica. Mas ao encontrarmos os ascendentes Fernandez nos registros

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portugueses não encontramos as referências nobiliárquicas que, tanto pode ter se perdido no tempo quanto enfatizar que as migrações do nome entre Portugal e Espanha pode ter acontecido da forma sugerida no histórico. O importante nesta questão é, realmente, enriquecer o registro familiar.

Figura 80: brasão completo da família http://espanhafernandes.blogspot.com.br/.



Fernandez.

Fonte:

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ENEALOGIA DAS FAMÍLIAS FERREIRA E CUNHA

Elena Ferreira da Cunha (1726-1800) era prima terceira de Domingos Francisco Braga. Era filha única do primeiro casamento de Pedro Barrosos Valente, com dona Ana Ferreira da Cunha (?-1730). Muito não se pode verificar sobre os Ferreira da Cunha, pois um incêndio em julho de 1852 no cartório de Itapipoca, Ceará, queimou documentos preciosos. Soares Bulcão, para sua pesquisa de 1928, ainda teve em mãos fragmentos de documentos de inventário que atestam que Elena Ferreira da Cunha, filha de Ana, faleceu por volta dos 1800 aos 74 anos de idade. Mas é certo que a segunda esposa de Pedro Barroso Valente chamada Maria Moreira de Sousa (casaram-se em 1733) era parente chegada de Ana Ferreira da Cunha. O sobrenome Ferreira nos chega de forma sucinta, sem muito esmiuçamento, justo porque o foco maior está em torno do nome dos Braga, obviamente levando em consideração que tal nome compõe o caule de nossa árvore. Podemos acompanhar o que nos diz o Blog Brasão de Família (2009): O sobrenome Ferreira é de origem ibérica, mas existem os sobrenomes Ferrara ou Ferrari na Itália que surgiram pela mesma força ideológica que criou o nome Ferreira, provavelmente uma referência à profissão de ferreiro, muito importante na Idade Média, já que o desenvolvimento de um país durante a

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Baixa Idade Média até a Idade Moderna era ditado pela capacidade de produzir os mais diversos tipos de ferramentas agrícolas, o que poderia facilitar e aumentar a produção nacional, também cabia aos ferreiros a produção de armamentos e quase todos os derivados da matéria prima metálica. O nome Ferreira pode ter sido usado como sobrenome primeiramente na Espanha, na forma de Herrera ou Herreira, onde havia regiões com o mesmo nome, o que determinava que ali houvesse ou houve uma família ferreira, ou seja, que trabalhava ou estava ligada ao ofício de ferreiro. O sobrenome pode ter chegado a Portugal por meio de imigrantes espanhóis. D. Fernando Alvares Ferreira seria o patriarca da família Ferreira portuguesa, este teria chegado a Portugal no reinado de D. Sancho I, vindo de Castela e era descendente dos condes de Astúrias de Santilhana, o apelido teria sido tomado de uma vila chamada Herrera em Leão (sem paginação).

Figura 81: brasão da família Ferreira. Desenho de Miguel Ângelo Boto, 2015.

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O que concluímos é que o nome Ferreira é de pertencimento imemorial das origens portuguesas, portanto, merece uma boa referência em nossa árvore genealógica, assim como o sobrenome Cunha muito singularmente aproveitado pelos descendentes de Ana Ferreira da Cunha. Como Ana Ferreira da Cunha era parente muito chegada de Maria Moreira de Sousa, supomos que a mesma homenageava-a, batizando filhos com o apelido de Cunha, como é o caso de Mariana de Paiva e Cunha, nascida a 19 de setembro de 1734 e que faleceu solteira, na idade de 60 anos, a 16 de outubro de 1794. No Blog FAMÍLIA CUNHA (2009) temos um interessante histórico que podemos nos aprofundar no sentido do pertencimento: A Origem do sobrenome Cunha O sobrenome CUNHA designa uma das linhagens mais antigas de Portugal e Espanha. Eis aqui as teorias mais credíveis – científicas - para a origem do nome Cunha. A origem “Divina”: Desde o começo do judaísmo que Kohen é o nome dado aos sacerdotes na Torá, cujo líder era o Kohen Gadol (Sumo Sacerdote de Israel), sendo que todos deveriam ser descendentes de Moisés. Embora seja verdade que muitos descendentes de kohanim ostentam sobrenomes que refletem a sua genealogia, existem muitos outros com o sobrenome (ou qualquer variação), que nem sequer são os kohen judeus. Existem inúmeras variações ao sobrenome Kohen. Estas são frequentemente alteradas pela tradução ou transliteração para outras línguas, tais como: Cohen (Inglês), Kohn (Alemão), Conklin

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(Holandês/Neerlandês), Caen (Francês), Coen (Italiano), canno (Espanhol), Cunha (Português), etc. Depois da destruição de Jerusalém pelos romanos, os judeus iniciaram uma diáspora, tendo muitos deles vindo para a península Ibérica (Portugal e Espanha), tendo ficado conhecidos como Judeus Sefarditas (A palavra “Sefardita” tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica: “Sefarad”). Com a conquista de Granada pelos Reis Católicos (Espanha), a inquisição forçou a expulsão ou a conversão da população “não cristã” ao catolicismo. Os que não fugiram – denominados de “Cristãos Novos” – esconderam e adaptaram os seus costumes e nomes às exigências dos fanaticamente católicos. Batizados à força, estavam ligados ao comércio e à navegação (sobretudo, aos descobrimentos portugueses), muitos dos judeus foram mandados para as novas colónias portuguesas de então, nomeadamente para o Brasil (apesar da origem do nome deste País estar normalmente associado ao “Pau Brasil” mas, a palavra hebraica “Barzel” quer dizer FERRO…). A origem “Nobre”: Segundo a tradição, D. Payo Guterres (da Silva [?]), homem nobre e rico, natural da Gasconha (sudoeste de França), que veio para o Condado Portucalense com seu Pai, D. Guterre, na companhia do Conde D. Henrique de Borgonha - pai do primeiro Rei de Portugal - foi o responsável por este nome. Essa tradição está envolta em quatro teses, a saber:

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Figura 82: Brasão da Família Cunha. Brasão de Nuno Leitão da Cunha, Capitão da caravela "Anunciada", na 1º. expedição ao Brasil. Fonte: .

Cunhas de ferro "D. Payo ganhou Torres Novas e que foi o primeiro que se chamou "Cunha", porque durante os cercos colocava cunhas de ferro nas portas, para que os inimigos não pudessem sair; e por isso lhe deram por divisa nove cunhas azuis em campo de oiro" (Visconde Sanches de Baena, "Pombeiro da Beira"). Estandarte Esta versão dá conta de que, quando de um cerco dos Mouros a Lisboa, uma bandeira Portuguesa colocada na muralha do Castelo estava prestes a tombar, vergada sob a força do vento. Apercebendo-se do facto, os Mouros impediam que os Portugueses se lhe acercassem - pois obter o estandarte Português seria já uma vitória - e faziam cair uma verdadeira chuva de setas naquele lugar. D. Payo Guterres terá desafiado a morte para segurar a bandeira com duas cunhas, ao que El-Rei D. Afonso Henriques, acompanhando a peripécia, teria exclamado: "A cunha, a cunha!". E desta voz real e das cunhas lhe terá ficado o apelido. 9 Cunhas

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Esta versão conta que, quando o Rei Cristão cercava Lisboa em 1147, D. Payo Guterres mandou meter várias cunhas no castelo e por elas subiu com os seus, conquistando-o assim por este ato de bravura. O rei ordenou então que, como prémio desse feito, aquele personagem usasse do apelido Cunha e que adotasse como brasão d'armas, as nove cunhas de que se tinha servido para escalar o castelo. Toponímia Sobrenome encontrado em Portugal e Espanha, classificado como sendo um toponímico (estudo linguístico ou histórico da origem do nome próprio de um local), pois tem origem geográfica. Tal classificação se refere aos sobrenomes cuja origem se encontra no lugar de residência do nominado original. Nomes de origem habitacional alertam para a origem do progenitor da família, seja uma cidade, vila ou simplesmente um lugar identificado por uma característica topográfica. No que diz respeito ao sobrenome Cunha, este é derivado do lugar denominado Cunhas, em Portugal. O primeiro a batizar um filho com o sobrenome Cunha foi Dom Payo Guterres da Silva, já citado, homem nobre e rico, governador das muitas terras do Rei de Portugal. Ao nascer o seu terceiro filho, Dom Payo registou-o com o nome de Fernão Dias da Cunha, em homenagem ao lugar denominado Cunhas onde se localizava a Quinta da Cunha, que era a sede do governo local, e cujo prédio possuía o formato de uma cunha. Era um lugar de destaque na região, onde o rei costumava passar os seus dias de descanso. Fernão Dias da Cunha tornou-se o senhor da Quinta da Cunha, vindo a participar do conselho do reino. Ao longo de sua existência ele ocupou várias posições de importância na

Laércio Braga casa real. Foi o provedor da Ordem de Cristo e mestre da Ordem da Rosa. Por decreto Real, foi-lhe concedido o brasão de armas. O Brasão O brasão é uma insígnia ou distintivo de pessoa ou família nobre conferido, em regra, por grande merecimento. O brasão de armas dos Cunha contém nove cunhas na cor azul, postas em 3, 3 e 3. O ouro simboliza a nobreza e a generosidade. A cor azul denota fidelidade e firmeza. O timbre contém grifo sainte de ouro, semeado de cunhas na cor azul, com asas de um no outro. A origem do brasão é portuguesa (sem paginação)21.

Então, podemos constatar que a origem da família e do brasão dos Cunha é realmente Portugal, mas no Brasil quem o precede? É uma pergunta pertinente para que possamos nos incluir na história deste clã. Podemos dizer que o brasão é de Nuno Leitão da Cunha, Capitão da caravela "Anunciada", na 1º. expedição ao Brasil. Nobre e antiga família portuguesa, surge documentada já no séc. XIII. O primeiro a entre nós usar o nome de Cunha foi D. Paio Guterres da Cunha, Cavaleiro oriundo da Gasconha que como já dissemos veio para o Condado Portucalense com seu Pai, D. Guterres, na companhia do Conde D. Henrique de Borgonha pai do primeiro Rei de Portugal a quem o Conde terá

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Fonte: .

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concedido Póvoa do Varzim e outras terras em Guimarães, Braga e Barcelos. A cidade de Braga sempre em nossas vidas! D. Paio Guterres participou na defesa da Fortaleza de Leiria contra os mouros, e esteve na tomada de Lisboa onde quebrou com cunhas de ferro a porta da cidade, por ali entrando o Rei D. Afonso Henriques. Este Cavaleiro teria tal tática por hábito: segundo Sanches de Baena, a tradição relaciona D. Paio Guterres com Cunha-a-Velha, no termo de Guimarães, o que atribuiria ao seu apelido natureza toponímica; mas acrescenta que, de acordo com Jerónimo de Aponte, "D. Payo ganhou Torres Novas e que foi o primeiro que se chamou "Cunha", porque durante os cercos punha cunhas de ferro nas portas, para que os inimigos não pudessem sair; e por isso lhe deram por divisa nove cunhas azuis em campo de oiro" (cfr. Visconde Sanches de Baena, "Pombeiro da Beira").



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EPOPEIA PORTUGUESA NO BRASIL

Muito já falamos da faustosa cidade Braga, principalmente de sua freguesia de São Victor em Portugal, terra de nossos hexavós. Terra que guarda muito da ocupação romana e da própria concepção de Portugal como Estado. Bracara Augusta, no tempo da invasão romana, constituiu-se em sua maioria de celtas22, ibéricos e romanos e, portanto, nossos hexavós descendem destes povos, guardando suas principais características até nossos dias. A presença das principais características celtas está incorporada na própria genealogia linguística portuguesa. É 22

A primeira referência escrita aos Celtas é feita no século VI a.C. pelo historiador grego Hecateu de Mileto. A origem deste povo está envolta em controvérsia, já que existem algumas dúvidas sobre as fontes que chegaram até nós. Com alguma certeza e segundo os estudos efectuados por Daniel Bradley do Trinity Colleg of Dublin, pode-se dizer que a partir do século VI a.C. as tribos Celtas invadiram a Europa Central e a Península Ibérica. Pensa-se que esta invasão possa ter sido causada por alguma mudança climática, tendo as tribos Celtas sido forçadas a procurar climas mais amenos. [...] A verdade é que até praticamente ao século II a.C. a Europa Central, a Península Ibérica e as ilhas britânicas estavam povoadas por tribos Celtas. Muitas das grandes tribos Celtas deixaram forte herança em alguns povos europeus. Regiões como o País de Gales, a Cornualha, a Gália (França), Galiza e Norte de Portugal, possuem ainda hoje fortes vestígios da cultura Celta. Texto disponível em: .

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grande a influência da língua celta, até o nome de Braga deriva do nome do povo Brácaro que habitava a região. É correto, também afirmarmos que nossa descendência é Celta23, pois as características dos Braga de Brasil correspondem com características deste povo. Na freguesia de São Victor, arcebispado de Braga, Portugal, Manoel Francisco e Mariana Francisca casaram-se em 19 de janeiro de 1692. Manoel filho de Antônio Gonçalves e de Maria Rodriguez desta freguesia, moradores da vila da Barca e Mariana filha de Miguel Fernandez e Maria Francisca 23

Os Celtas em Portugal. Apesar de pouco divulgada a influência Celta em Portugal é muito grande. As teorias apontam o ano 900 a.C. para a chegada à Península Ibérica das primeiras tribos Celtas. A mistura com as culturas locais deu origem aos Celtaibéros (ou Celtiberos), sendo por exemplo os Lusitanos o seu povo mais conhecido entre nós. Os Celtas habitaram muitas localidades às quais atribuiram nomes: Brigantia é Bragança, Bracara é Braga, Pendraganum é Pedrógão e Cambra é Vale de Cambra. Diz-se ainda que os portugueses loiros que encontramos no norte do país, têm ascendência Celta. A cultura Celta no imaginário popular quem não leu na sua infância as histórias do Asterix e Obelix? Estas histórias não são mais que a recreação da vida de uma aldeia Celta numa Gália ocupada pelos Romanos. Neste retrato encontramos tudo aquilo que existia numa tribo Celta: o Rei ou Chefe, os guerreiros, o druida, o bardo, etc.. Crê-se ainda que a história do Capuchinho Vermelho (ou Chapeuzinho Vermelho) foi criada no âmbito do druidismo Celta de forma a exemplificar o Sol (o Capuchinho Vermelho) a ser devorado pelo Lobo (a noite de inverno). Acredita-se também que as histórias do Rei Artur têm também origem neste povo. Texto disponível em: http://www.celtasgps.com/pt/inspiracao.html 1/.

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de Vilar desta freguesia. Testemunharam João Trancoso e João Francisco, todos moradores de São Victor. Assina padre Adriano Duarte. A descendência ibero-celta-romana é evidente e com o andamento da pesquisa, a partir de 1692, torna-se mais evidente, pois subtraindo 15 anos antes, data possível de nascimento, podemos antecipar graus de parentesco por volta de 1677, substabelecendo laços familiares entre Francisco, Rodriguez, Fernandez e Gonçalves. Mas avançamos sempre mais, até onde a documentação nos permita retroceder.

Figura 83: casamento entre Manoel Francisco e Mariana Francisca em 19 de janeiro de 1692, em Braga, Portugal. Reprodução: Laércio Braga, 2014. Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) – Conc. Braga. Freg. São Victor. Anos 1678-1703. Liv. Cas. Nº 1, p. 77v.

Neste capítulo, comentaremos sobre a geração anterior a que passou ao Brasil, por volta de 1715 já que o filho de Manoel Francisco e Mariana Francisca de Vilar, Domingos Francisco (1704) resolveu aventurar-se no Brasil, assumindo postos militares, com grande destaque.

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A aventura brasileira não era coisa magnificamente desenvolvida, apesar que, as grandes navegações eram uma conquista tecnológica sem precedentes para a época, similar à conquista espacial no século XX. A viagem era de fato uma aventura. Os navios portugueses, apesar da grande tecnologia, não eram exatamente salubres, tampouco a viagem era tranquila. Creio que ao tomar a decisão de cruzar o atlântico e viver na colônia, era praticamente uma decisão sem volta, pois, o tempo de travessia e as condições de bordo, conspirariam para o desenvolvimento de algum trauma. Somente uma alma aventureira se ariscaria em tamanha empreitada repetidas vezes.

Figura 84: detalhe do navio portucalense Rosa-dos-Ventos que demonstra o tipo de embarcação utilizada nos primeiros tempos até o século XIX. Foto: disponível em: .

Migrar para Brasil, no início do século XVIII, era uma empreitada ariscada, pois já não o foi no século XIX, na transmigração da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808? A migração de Portugal fugindo das tropas napoleônicas foi um suplício para a família real, sem acomodações dignas da nobreza, sem alimentação adequada, nem locais específicos

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para aliviar suas funções biológicas, sem banho e água potável suficiente e sadia. As condições atmosféricas era outro complicador, pois encontravam no caminho tempestades, calmarias e o terror sobrenatural relatado pelos marinheiros que diziam de sereias, monstros marinhos, recifes e piratas. Portanto, ao decidir-se por imigrar para a colônia ou era em definitivo ou tremendamente abastado, motivo que justificava o sacrifício do regresso. Mas aquele que progredia na colônia e aqui desenvolvia uma senhoria que jamais teria em Portugal, não regressava por livre e espontânea vontade, pois, só o fato de ser europeu numa terra mestiça, alocava-o com certa aristocracia. O ideal seria reproduzir o ambiente português nas terras brasileiras, e isso já vinha sendo feito, com um caráter superlativo, nem tanto nobre e absolutamente próprio dos imperialistas. Entretanto, entre nós amazônidas temos bons exemplos gastronômicos incorporados pelo colonizador na sua alimentação... Incorporação com toque europeizado. É fato que não dava para desprezar as tecnologias alimentares dos indígenas no Brasil, pelo paladar e pela abundância, ainda hoje referenciais. Portanto, Domingos Francisco veio para o Brasil estabelecendo-se primeiramente na capitania de Pernambuco, para onde aportou provavelmente menor de idade. Pernambuco fora antes da capitania do Ceará a principal concentração urbana que recebia o emigrado da freguesia de São Victor, Braga. Nomes supracitados para explicar a presença portuguesa no Nordeste é Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes. Em Pernambuco, Domingos Francisco adotou o nome Braga, para ficar obvio sua natividade. A partir dele, descendem os Braga atuais do Norte do Ceará e passados ao Pará, no início do século XX. Domingos Francisco Braga (1704) ao passar ao Ceará, casou-se em 1744 com Elena Ferreira da Cunha (1726). Elena

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era filha de Pedro Barroso Valente (1689) e Ana Ferreira da Cunha (?). O primeiro procedente da freguesia de São Victor, arcebispado de Braga, Portugal. Pedro Barroso Valente, nosso hexavô por parte materna vinha de uma tradição militar em Portugal. Deve ter adotado o sobrenome Valente em terras brasileiras, justamente devido à sua função militar para a coroa portuguesa como o fez Domingos Francisco, também procedente de Braga. Dessa forma, Pedro Barroso veio ao Brasil como militar e inicialmente, também, por Pernambuco. Concluímos que as famílias de Pedro Barroso e Domingos Francisco eram aparentadas em Portugal. O livro de Soares Bulcão (1928/1973, p. 60) dá conta desse parentesco, já que o mesmo casou com dispensa de consanguinidade. Esse fato julgava o grau de parentesco. Pelas pesquisas podemos concluir que a maioria dos bracarenses natos antigos sejam aparentados, visto existirem sobrenomes coincidentes nos termos de batizados e casamentos analisados. O relato sobre Pedro Barroso Valente é que veio, por alguma questão significativa para o Brasil, sem volta. Diziam os antigos que matou alguém importante em Portugal e, por tal feito, assumiu a alcunha de Valente. Elena Ferreira da Cunha era cearense, batizada na Matriz de Fortaleza em 17 de junho de 1726. Era filha única do primeiro casamento de Pedro Barroso Valente e sua mulher Ana Ferreira da Cunha, natural de Pernambuco, como se pode observar no documento de batismo de sua filha Anna, nascida a 5 de agosto de 1760. Anna foi uma dos 8 filhos que o casal Domingos Francisco Braga e Elena Ferreira da Cunha tiveram que não sobreviveu, restando apenas os 6 seguintes:

1. Padre Domingos Francisco Braga (28.09.1745 a 9.08.1816);

Laércio Braga 2. Germana Francisca de Avelar (1750 a 24.07.1791); 3. Mariana Francisca de Avelar (07.02.1754 a 3.12.1800); 4. Sargento-mor de Sobral Luiz Francisco Braga (1755 a 29.01.1819); 5. Major Anastácio Francisco Braga (27.09.1759 a 1826); 6. Capitão Pedro Barroso Valente, do Peixe (24.11.1766 a 14.12.1822).

Figura 85: batizado de Elena Ferreira da Cunha, filha de Pedro Barroso Valente e sua mulher, Ana Ferreira da Cunha em 17 de junho de 1726, em Fortaleza, Ceará. Fortaleza – São José da Catedral, Livro nº 30, p. 73 – 1726, jun-1770 nov. Reprodução de Laércio Braga, 2014.

O casamento entre Domingos Francisco Braga e Elena Ferreira da Cunha em 11 de novembro de 1744, descrito no livro de Soares Bulcão (1928/1973, p. 133): Registo do assento de casamento do capitão Domingos Francisco Braga e Elena Ferreira da Cunha. Aos onze de novembro do ano de mil setecentos e quarenta e quatro de tarde no lugar Muritipicú, feitas as denunciações na forma do sagrado Consílio Tridentino, nesta matrícula sem se descobrir impedimento algum e de

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licença minha em presença do Reverendo Padre Secretário da Visita, presente José Pereira de Sá e sendo presentes as testemunhas o Dr. Ouvidor Geral Manoel José de Faria e o capitão de infantaria desta Guarnição do Ceará Paulo Paz Pereira pessoas conhecidas, se casaram solenemente por palavras Domingos Francisco Braga, filho de Manoel Francisco e de sua mulher Mariana Francisca, natural da freguesia de São Victor, do arcebispado de Braga, com Elena Ferreira da Cunha, filha do capitão-mor Pedro Barros Valente e de sua mulher Ana Ferreira da Cunha, já defunta, natural desta freguesia e nela moradores; tomaram as bênçãos conforme o Rito e Cerimônia da Igreja ex-vi de um mandado que em meu poder fica do Reverendo Dr. Visitador Manoel Álvares de Figuerêdo pelos haver dispensado no terceiro grau de consanguinidade do que tudo fiz este assento que por verdade assino. O vigário Antônio de Aguiar Pereira

Através dos séculos perpetuou-se a história que Elena Ferreira da Cunha (1759), nossa pentavó, era determinada e braba. Marcos Braga24 contou-nos que Elena apaixonou-se por Domingos Francisco Braga (1704) ao vê-lo pela primeira vez. Apesar de seguir carreira militar, Domingos Braga era dado à bebida, jogos e farras. Pedro Barroso Valente (1689), seu futuro sogro, era rígido na moral e um militar completamente consciencioso do seu posto. Por causa de arruaças de Domingos Francisco Braga (1704) o futuro sogro, Pedro Barroso Valente teve de mantê-lo a ferros, na cadeia. Porém, Elena Ferreira da Cunha (1759) 24

Primo Marcos Braga entrevistado em Itapipoca-CE em 26 de junho de 2014.

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insistia num relacionamento. O pai era contrário, pois, sendo ela filha única de seu primeiro casamento, queria preservá-la de uma vida sofrida. Acontece que Elena quis pagar a pena de um pretenso futuro de sofrimento. Juntou escravos da propriedade do pai, afanou-lhe dinheiro, bens e resgatou o futuro marido da cadeia, fugindo com ele e os escravos, deixando o pai em sérias complicações financeiras. A cadeia não tinha lá essas seguranças. Pedro Barroso Valente, disseram, rogou praga contra a filha e o futuro genro dizendo “que jamais seriam felizes”, mas a história resgata-lhe o perdão, uma vez que Domingos Francisco Braga herdara bens cabíveis à Elena Ferreira da Cunha e, por muitas vezes, estavam em plena convivência familiar, como comprovam os documentos pesquisados e a história social. Elena Ferreira da Cunha era impulsiva, altiva, loura, branca alvíssima e dentuça, características similares das mulheres da família Braga daqueles tempos que, excetuando os dentes grandes, herdaram quase todas as mulheres da família até meados do séc. XX. Não sabemos até que ponto Elena Ferreira da Cunha era complacente com os escravos, uma vez que a família Braga daqueles tempos não refrescava o couro dos escravos e procurava não misturar os tons de pele. Na verdade, a família tinha verdadeira ojeriza em não conservar o tom europeu. Próximo à virada do milênio ainda se preocupava com isso nas terras do Ceará. E há de ser como referência de Itapipoca foi o último lugar no Ceará a aderir à abolição da escravatura. Resistiu o quanto pôde a esse direito dos negros. Mas, lógico não se pode creditar todo preconceito aos

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Braga e Barroso, muitas famílias portuguesas escolheram a Serra da Uruburetama como moradia, fossem de livre arbítrio ou degredados.

Figura 86: batizado da inocente Anna, nascimento nº 68, em 5 de agosto de 1760, filha legitima de Domingos Francisco Braga e Elena Ferreira da Cunha em Fortaleza, Ceará. Reprodução de Laércio Braga, 2014.

Os hexavós maternos, Pedro Barroso Valente e Ana Ferreira da Cunha tiveram uma única filha que foi Elena Ferreira da Cunha. Como foi dito, Pedro Valente era natural de Braga e Ana Ferreira da Cunha de Pernambuco. Encontramos documentação de Pedro Barrozo na freguesia de São Victor, arcebispado de Braga, filho de Paschoal Barrozo e de sua mulher Paula Francisca, no livro de batismos 1675-1692, p. 162 de batizados de Braga, freguesia de São Victor, nascido a 11 de maio de 1689 (discute-se a data de 1688). Foi batizado pelo padre Pedro Barrozo, morador de Nossa Senhora Abranca

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e Angela da Silva filha que ficou de João Mendes. Como se pode observar o sobrenome Valente pode ter sido incorporado no Brasil, para designar a pessoa saída da região dos vales. Então, pudemos afirmar muito tranquilamente que, da parte de Pedro Barroso Valente somos Barroso originalmente e Valente por designação de lugar (geograficamente), da região do Minho e muito provavelmente descendentes de ibéricos, celtas e romanos. E da parte de Manoel Francisco e Mariana Francisca, somos originalmente Francisco, Rodriguez, Fernadez e Gonçalves.

Figura 87: batizado de Pedro Barroso aos 11 de maio de 1689, na freguesia de São Victor, arcebispado de Braga, Portugal. Arquivo Distrital de Braga. Freguesia de São Victor. Anos 1675-1682. Livro Nasc. Nº 1, p. 162. O livro assinala que termina em 1682, mas na verdade segue até mais de 1689. Reprodução: Laércio Braga, 2014.

Pedro Barroso Valente faleceu com mais de 80 anos como está em seu óbito, descrito no livro de Soares Bulcão (1928/1973, p. 83) que o coloca (segundo descrição do seu registro de óbito) como nascido em Lisboa, entretanto, outros documentos aqui apresentados, prevalecendo declarações do

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mesmo em vida, que o situa em Braga, na freguesia de São Victor: Aos doze de outubro de mil setecentos e setenta e três faleceu da vida presente Pedro Barroso Valente, natural da cidade de Lisboa, casado que foi com Maria de Sousa, de idade de oitenta anos; faleceu de achaques de velho, com todos os sacramentos, em hábito de São Francisco, encomendado pelo padre Francisco Moreira de Sousa, filho do dito defunto. Foi sepultado das grades para dentro, junto ao altarmor das almas, nesta matriz (a) Francisco Vaz de Sousa, Pároco da Vila de Fortaleza. O capitão-mor Pedro Barroso Valente, natural de São Victor, arcebispado de Braga casou duas vezes no Brasil. Pelos documentos estudados na freguesia de São Victor, nasceu em 11 de maio de 1689. Não temos uma data concreta de seu primeiro casamento com Ana Ferreira da Cunha. Presume-se a data de 1724, enviuvando em 1730. O segundo casamento foi com Maria Moreira de Sousa em 1733. Mas para nós fica interessante falar do primeiro consórcio, pois dele está a nossa descendência (BULCÃO, 1973, p. 65). Pedro Barroso Valente trouxe junto de Portugal a carreira militar de muitos descendentes, mesmo quando a família misturou-se aos Braga, mesmo quando a Colônia passou à Independência, mesmo no advento da República. Seguiu-se uma sequencia de militares e integrantes de milícias com capitães-mores, majores, sargentos, capitães, coronéis. Encontramos o nascimento de Domingos Francisco Braga no Arquivo Distrital de Braga, na mesma freguesia de São Victor, assinalando seu nascimento em 21 de outubro de 1704 e tendo como pais, Manoel Francisco e Mariana Francisca.

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Figura 88: Batizado de Domingos aos 21 de outubro de 1704 - Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) - Concelho de Braga - Freguesia de São Victor. Anos 1692-1702 - Livro Nasc. nº 3, p. 62. O livro especifica que os batismos são de até 1702, mas na verdade ultrapassa essa data e alcança o ano de 1710.

A partir do casamento de Domingos Francisco Braga e Elena Ferreira da Cunha, podemos alinhavar nossa descendência, no Brasil, possibilitando avançar na casa dos Braga até os dias atuais selecionando o quinto filho, Anastácio Francisco Braga, como nosso pentavô. Anastácio Francisco Braga, seguindo a tradição militar, tornou-se major e casou-se a 8 de setembro de 1791, com dona Maria Luisa de Santiago (nascida a 25 de julho de 1779). Ao casar-se contava com 32 anos e sua mulher tinha apenas 12 anos de idade. A história conta que fora um homem de posses e prestígio no tempo da Capitania, permanecendo no topo até a Independência do Brasil, quando sua influência já estava consolidada (BULCÃO, 1928/1973, p. 50-51).

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Figura 89: documento de batizado do Major Anastácio Francisco Braga em 27 de setembro de 1759. Livro nº 2, p. 55, freguesia de São José da Catedral – Iniciado: 28 de agosto de 1738. Encerrado: maio de 1799. Reprodução: Laércio Braga, 2014.

Anastácio Francisco Braga serviu à Coroa de Portugal e ao Império brasileiro, com o mesmo afinco e dedicação, tanto quanto os descendentes na República. A influência e o prestígio de Anastácio Francisco Braga fora herdada dos avós, Domingos Francisco Braga e Pedro Barroso Valente e que atravessou os anos, chegando ao seu neto, Anastácio Alves Braga (1873-1928) que veio a ser prefeito assassinado de Itapipoca-CE, consolidando o que, desde os primórdios representava a família Braga no Brasil (Anexo III). Vejamos o que nos diz Soares Bulcão (1928/1973, p. 17) sobre esse político: Vindo ao mundo com a responsabilidade de uma tradição social e política, - oriundo que era de uma família da maior importância e respeitabilidade na região de Uruburetama, filho e neto de chefes do mais incontestável prestígio na política partidária da então Província, [..].

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Viveu o major Anastácio Francisco Braga até os 67 anos, deixando 11 filhos legítimos e um legitimado, mas além desses tiveram muitos outros filhos, brancos e pardos, fora da legitimidade do sagrado matrimônio, entre eles Francisco Ferreira Braga (nosso trisavô). Há de se registrar que, antes de nosso avô Francisco Ferreira Braga existiram mais três parentes com o mesmo nome: nosso trisavô, Francisco Ferreira Braga, o outro Francisco Ferreira Braga, nascido na Serrinha, filho de Matilde Maria e o terceiro, Francisco Ferreira Braga (1823) filho de Laura Vaz ou Laura Maria do Espirito Santo (negra). Os Braga sempre foram muitos férteis e pouco monogâmicos. Os 11 filhos de seu casamento com Maria Luisa Santiago são os seguintes: 1. Tenente-coronel Luiz Francisco Braga (falecido a 29 de julho de 1885); 2. Capitão João Francisco Braga (Chaves) [falecido a 6 de novembro de 1880]; 3. Antônio Ferreira Braga (nascido em julho de 1805); 4. Francisco Barroso Braga (Nascido em maio 1807); 5. Domingos Francisco Braga (falecido solteiro); 6. Joaquim Francisco Braga (de Maranguape, falecido em 1885); 7. Luiza Francisca de Avelar Braga (casada a 10 de janeiro de 1821); 8. Manoel Francisco Braga (nascido em junho de 1813); 9. Ana Francisca Braga (nascida a 26 de maio de 1815); 10. Inocêncio Francisco Braga (nascido em janeiro de 1817); 11. Tenente-coronel Anastácio Francisco Braga (nascido em 1801 e falecido a 24 de maio de 1870).

O filho legitimado foi o capitão Francisco Ferreira Braga, da Serrinha (localidade de Itapipoca-CE), de relacionamento

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que teve com Matilde Maria de Oliveira. Esse Francisco Ferreira Braga, meu tio-tataravô e homônimo ao meu trisavô, também chamado Francisco Ferreira Braga, foi casado com Vivência Teles de Meneses e foram pais do bandoleiro/cangaceiro Antonio Ferreira Braga, de alcunha Conduru, muito conhecido pelos crimes praticados em solo cearense. Por isso, foi mandado para a prisão que existia em Fernando de Noronha, em Pernambuco, de onde fugiu, foi preso novamente e empreendeu ainda uma derradeira fuga, definitiva, mas a ele dedicamos um capítulo inteiro. Podemos afirmar o parentesco de acordo com a documentação que tivemos acesso, nos livros batismos de Itapipoca-CE onde existe a legitimação de Francisco Ferreira Braga. Um dos Francisco Ferreira Braga, da Sericódia, filho da negra Laura Maria do Espírito Santo, tem seu batismo em Itapipoca, p. 98 v do Livro de Batismos de Itapipoca 18211832. Nota-se que, embora seja genuinamente branco e de ascendência portuguesa, o major Anastácio Braga não tinha limites quanto aos seus envolvimentos, engravidando provavelmente uma escrava e produzindo um filho pardo, como muitos dos ascendentes. O fato do reconhecimento deste filho em Certidão de Batismo, bem ou mal, demonstra um caráter distinto para a época, de plena escravidão. E Itapipoca vivia essa época com profunda crueza e sem admissão destes envolvimentos. Haja vista que, outro Braga tinha Fazenda, com muitos escravos e vivia de emprenhar suas negrinhas, para depois vender os filhos como escravos no Maranhão. É o caso de Domingos Francisco Braga de Santa Quitéria-CE, da fazenda Malhada Grande, provavelmente neto do primeiro Domingos Francisco Braga no Brasil.

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Figura 90: Batismo do pardo Francisco Ferreira Braga, da Sericódia, filho de Laura Maria do Espirito Santo. 98 v do Livro de Batismos de Itapipoca 1821-1832. Reprodução do site Family Search: .

A legitimação de Francisco Ferreira Braga (nascido em 30 de julho de 1790), morador de Nova Serrinha da Conceição de Amontada, ocupa quase uma página e meia do referido documento e foi realizada em Itapipoca em 20 de maio de 1823, quase 33 anos após o seu nascimento. O pai, Major Anastácio Francisco Braga (1759) viria a falecer em janeiro de 1826. Para a época em questão, a legitimação não era coisa preponderante. A questão era mais financeira que jurídica, pois o batismo era algo muito mais recompensador para o filho reconhecido que papéis. Há ainda a questão que o cartório de Itapipoca foi incendiado criminosamente em 1852, fazendo com que muita documentação importante se perdesse. Visitamos a casa onde estava instalado o antigo cartório no Arapari. Como a casa encontra-se preservada entendemos o

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direcionamento do fogo para os documentos que, com a destruição facilitou sobremaneira a grilagem de terras.

Figura 91: legitimação de Francisco Ferreira Braga, da Serrinha, p. 88 v do Livro de Batismos de Itapipoca 1821-1832. Reprodução do site Family Search: .

Já nosso trisavô, Francisco Ferreira Braga (1822), não foi legitimado formalmente, mas o foi por nome e por ter sido totalmente inserido no meio social da família Braga. Soares Bulcão (ibidem, p. 53) revela que, além dos seus filhos legítimos e legitimados tinha tidos outros, entre eles nosso trisavô: Além destes, tiveram outros filhos, entre os quais o capitão Francisco Ferreira Braga, falecido em novembro de 1894, tendo casado na Vila Velha, antiga Imperatriz, no advento de 1863, com dona Raimunda Portela, filha de Luís da Silva Pintado e

Laércio Braga dona Tereza da Silva Portela. Destes ficou um único filho: ─ Francisco Ferreira Braga, nascido a 19 de fevereiro de 1864, que constituiu família e vive ainda nesta capital (Fortaleza).

No Livro de Batismos de Itapipoca, nº 150 da Freguesia de Imperatriz, criada em 30 de agosto de 1757, livro de batizados iniciado em 6 de janeiro de 1861 e encerrado em 31 de janeiro de 1865, p. 152 v encontramos o batismo do nosso bisavô Francisco Ferreira Braga (19.02.1864), na Matriz do lugar, com a própria trisavó, Tereza da Silva Portela, como sua madrinha.

Figura 92: Batismo de Francisco Ferreira Braga (bisavô), nascido em 19 de fevereiro de 1864, no Livro de Batismos de Itapipoca, nº 150 da Freguesia de Imperatriz, criada em 30 de agosto de 1757. Livro nº 10, p. 152 v. Iniciado: 6 de janeiro de 1861. Encerrado: 31 de janeiro de 1865.

Raimunda Evaristo da Silva Portela, nossa trisavó tinha como pais Luís da Silva Pintado e dona Tereza da Silva Portela, encontramos o nome de seu genitor como padrinho de Rita, nascida em 15 de janeiro de 1865, registrado no Livro de Batismos de Itapipoca-CE (Anexo V). Segundo o primo distante, Marcos Braga, ainda existe Portela vivendo na região

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de Itapipoca-CE, como pudemos constatar em viagem em 2015. Já o nome Pintado, perdeu-se no tempo, pelo menos naquele local. Encontramos no livro de batismos de Itapipoca (Freguesia de Imperatriz, Livro nº 150, p. 32) o casal Francisco Ferreira Braga (1864) e Raimunda Evaristo da Silva Portela como padrinhos de Isabel em 1863, filha legitima de Cândido José da Silva e de Maria José da Gloria (Anexo V). A mãe do Capitão Francisco Ferreira Braga, nascido aos 2 de janeiro de 1822 (trisavô) foi provavelmente dona Maria de Sampaio como podemos constar de um batizado de Joaquina, filha legitima de Manoel Barroso Braga e de Vivencia Francisca Braga, ocorrido no dia 13 de fevereiro de 1863 (Anexo VI), mas outro documento a coloca como Maria da Anunciação. Nada estranho em se tratando de documento da época referida, cuja palavra era garantia documental. Comumente, encontramos nomes de mulheres trocados ao bel prazer dos registradores e registrados. Não houve tempo para um reconhecimento formal registrado para nosso trisavô, Francisco Ferreira Braga, uma vez que seu pai, nosso tataravô, Major Anastácio Francisco Braga faleceu em janeiro de 1826, de acordo como menciona Soares Bulcão (1928/1973, p. 50). No Livro de Batismos de Itapipoca, p. 40, iniciado em 17.06.1821 e encerrado em 10.04.1832, temos o nascimento de Francisco aos 2 de janeiro de 1822, na capela de Nossa senhora das Mercês, filial da Matriz de Itapipoca, batizado solenemente com os santos óleos a Francisco (nosso trisavô), nascido a 27 de janeiro de 1822, filho natural de Maria da Anunciação, cujos padrinhos foram Inocêncio Antônio Sousa e [...] Maria.

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Figura 93: No Livro de Batismos de Itapipoca, p. 40. Iniciado: 17.06.1821. Encerrado: 10.04.1832. Nascimento de Francisco aos 2 de janeiro de 1822, na capela de Nossa senhora das Mercês, filial da Matriz de Itapipoca.

O fato de Francisco Ferreira Braga (o trisavô, 1822) não ter sido formalmente legitimado em cartório não quer dizer absolutamente nada. Fazia parte do convívio social da família Barroso/Braga, mas não fora aquinhoado de bens. Os bens ficaram para aqueles que eram filhos de Anastácio Francisco Braga (1759-1826) e Maria Luiza Santiago (1779-1848), pois quando o pai faleceu, Francisco Ferreira Braga estava apenas com 4 anos de idade. Não foi o caso do legitimado, o outro Francisco Ferreira Braga (1790), filho de Matilde Maria, que já estava com 33 anos de idade. Então, Francisco Ferreira Braga, nosso trisavô, estava envolvido no universo cultural da família e, cumprindo uma tradição, tornou-se capitão e ao mesmo tempo agricultor. Nota-se que o filho, também Francisco Ferreira Braga (1864) deixou como herança as boas histórias de família, com suas glórias e empáfia, além do relato epopeico da vinda de Portugal e uma saga na vida agriculturável nas terras secas do Nordeste brasileiro. Tinha imenso orgulho de pertencer ao clã Barroso/Braga.

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Continuando a descendência dos próceres portugueses aventurados no Brasil seguiu o filho e neto de Francisco Ferreira Braga, nosso avô Otavio Furtado Braga, nascido aos 2 de junho de 1909, e de acordo com Registro Civil de Casamentos entre Octavio Furtado Braga e Osea Alves de Lima. A informação primeira sobre Otavio Furtado Braga diz que nasceu aos 2 de junho de 1908 em Maraguape-CE, porém declaração do próprio, para sua Carteira de trabalho, muda a data para 2 de junho de 1909.

Figura 94: Registro Civil de Casamentos do Cartório de Val-de-Cans entre Octavio Furtado Braga e Osea Alves de Lima.

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O protagonismo dos Braga no Ceará, especialmente em Itapipoca, gerou entre os familiares e agregados um clima de pretensão, prepotência e arrogância. A filha do prefeito assassinado, Anastácio Alves Braga (1873-1928), chamada de Silvia como a mãe, incorporou o poder local como nenhuma outra figura de Itapipoca-CE. Era casada com Perilo Teixeira, uma das figuras mais importantes de Itapipoca-CE: político competente, foi prefeito de Aracati-CE quando tinha apenas 18 anos de idade. Sendo depois deputado estadual e federal. Por ser dama proeminente, não recebia todo mundo em sua casa, pelo menos quem não fosse de família tradicional e endinheirada. Se batessem em sua porta e não fosse pessoa de seu agrado, não deixava entrar, nem subir a escada que dava acesso à porta da frente. Ficava de cima, olhando e atendendo impaciente a pessoa até que fosse embora. Otavio Furtado Braga, nosso avô, tinha uma alma irrequieta, mas era muito consciencioso de sua descendência. Por um tempo, seguiu a carreira militar, como era próprio dos primeiros Braga de Brasil. Na sua Certidão Civil de Casamento em 1928, tem como profissão o ofício militar, onde se manteve até meados dos anos 1950. Estava nas suas características físicas a descendência portuguesa e, particularmente, a belicosidade na alma, herança, dote ou maldição dos Braga, mas não podemos ver as coisas pejorativamente, porque Braga age por impulso, tem caráter forte e é extremamente corajoso. Otavio Braga teve inúmeras aventuras amorosas que resultaram em filhos espalhados pelo Brasil inteiro, como se revivesse o comportamento dos homens da família. Infelizmente, muitos documentos de sua propriedade foram incinerados por ele mesmo, num ataque de senilidade e ciúmes de sua segunda esposa, Francisca da Silva Braga, nos anos 70. Poderíamos ter mais informações acerca de imóveis no Acre, proveniente de seringais, dos tempos de

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Galvez, entre outras informações acerca da maçonaria e documentos de expediente do comércio de medicamentos. Otavio era um símbolo bracarense incontestável, nos arquétipos e biótipo, com a mesma belicosidade céltica. Além do mais, era muito galante e extremamente fértil.

Figura 95: RG de Otavio Furtado Braga tirada em Rio Branco em 1957. Reprodução de Meire Braga, 2013.

As informações contidas no Registro Civil de Casamentos do cartório de Val-de-Cans, documento de 1928, cita Francisco Ferreira Braga (bisavô) com 60 anos de idade e sua mulher, Sabina Furtado de Mendonça (bisavó) com 50 anos de idade. O documento foi requerido em 2ª via por nosso pai, Raimundo Alves Braga (Louro) aos 29 de junho de 1960, na ocasião em que preparava os papéis para seu casamento com minha mãe, Maria Laide. Aliás, é bom lembrar que, o motor

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propulsor para as informações acerca da constituição da genealogia da família Braga foi este documento. Sobre Otavio Furtado Braga temos o Registro de Civil de Casamento citado e inserido neste texto, o Registro Civil de Identidade, a Carteira de Trabalho, documentação mais que preciosa garimpada nos arquivos próprios e do restante da família, especialmente nos arquivos da prima Rosemeire Braga (1971), filha de Abede-Nego da Silva Braga (1952-1993). Este último, filho único de Otavio Furtado Braga e Francisca da Silva Braga (segundo casamento). Não foi tarefa fácil dissecar todas as informações que esse documento poderia revelar, pois na época em que o evento foi realizado não havia a obrigação de apresentar e arquivar informações de Registro Civil de Nascimento. Pagamos uma busca para não obter respostas. Apenas a pesquisa sistemática e incansável, nos arquivos cearenses da Igreja Católica Apostólica Romana, trouxe o resultado esperado, começando por esclarecer a data de nascimento de nosso bisavô, Francisco Ferreira Braga em 1864 e não 1868, como consta no referido documento. Como podemos observar no Registro geral de Otavio Furtado Braga, expedido em Rio Branco-AC, em 12 de junho de 1957, o mesmo não esquentava lugar. Além do Acre, onde dizem foi dono de seringais. Residiu, também, em Roraima e no Amazonas. Em todos esses lugares constituiu família, mas só foi casado oficialmente com nossa avó, Ósea Alves de Lima e com Francisca da Silva Braga. Nosso pai, Raimundo Alves Braga, dando sequência às informações obtidas pelo documento de casamento de Otavio furtado Braga, providenciou seu Batistério (novembro de 1960) em Capanema-PA, sem o qual não poderia casar-se na cerimônia religiosa exigida por minha avó materna, Francisca

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Serafim da Silva (1925). Garimpando as informações entre os familiares com os quais tinha sido educado, em fração de meses, passava à existência civil comprovada, dentro do clã Braga. O casamento obedeceu às regras costumeiras e provincianas da então vila de Santa Maria (a emancipação só ocorreria em 29 de dezembro de 1961), com todas as convenções que a etiqueta local exigia. Era um ritual seguido por gerações. Quem nos conta do namoro, noivado e casamento é a própria Maria Laide, nossa mãe numa página simples de caderno, no ano 2000: Conheci meu marido em um lugar chamado fazenda Santa Terezinha, onde os moradores chamavam “Fronteira” (fazia fronteira com os municípios paraenses de Irituia, São Miguel do Guamá e Ourém). Lá estive por uns meses para tomar o lugar de minha irmã, Lucimar que era professora e como a mesma adoeceu tive que substitui-la. Foi aí que o Louro, como o chamavam, me conheceu, daí começou a chegar recadinhos, bilhetinhos, etc. Começamos a namorar e entre namoro e noivado que durou três meses, casamos. O casamento foi na vila de São Jorge do Jabuti (Km18), pois naquele tempo eu morava na vila de Santa Maria, e como os padres, Pedro e Cornélio, no Km 18, tivemos que ir em um caminhão velho, para casarmos lá. Foram poucos os convidados, somente os familiares de ambas partes e os padrinhos, que não pertenciam à família. Meu vestido era um Chanel de mangas curtas, e luvas ¾, branco, todo fechado. A recepção foi simples, na casa dos meus pais. Foi servido um jantar, também simples: galinha assada, arroz com galinha, carne de porco assada, peru, salada e refrigerantes. Viajei no dia seguinte, para a Fronteira para onde me acompanhou a Carminha, Lucimar... Não lembro mais

Laércio Braga quem foi. Naquele tempo, quando uma moça casava, quando ia para sua nova morada, era costume ir acompanhada por outras moças (sem paginação).

Figura 96: Batistério de Raimundo Alves Braga, da Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de CapanemaPA, de 12 de novembro de 1960.

Antes do casamento a busca pela identificação nunca tinha sido uma preocupação do jovem Raimundo, por ser órfão de mãe e não ter morado com o pai, no sentido de uma orientação para uma existência civil correta. Raimundo Alves Braga nunca tinha se preocupado com o fato até conhecer Maria Laide Serafim da Silva (05.01.1943), filha de Valdemar Pereira da Silva e Francisca Serafim da Silva, nascida em Santa Maria do Pará. Conheceu a esposa quando a mesma foi substituir a irmã, Lucimar Serafim da Silva como professora na vila de Fronteira

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(Irituia-PA) no ano de 1959. Ela tinha 17 anos de idade e ele 30 anos. Baseado nas informações da Certidão de Casamentos dos pais, Raimundo providenciou seu documento civil, no Distrito de Urucuriteua, em São Miguel do Guamá-PA. Raimundo nunca falou muito dos seus pais e avós. Sequer comentava dos parentes que ainda estavam vivos em Capanema-PA e dos originais no estado do Ceará. A única coisa que dizia quase frequentemente é que podia ser descendente de holandeses que ocuparam o Ceará, séculos antes, por causa da cor branca e cabelos loiros, e a do pai, Otavio Furtado Braga (branco de olhos azuis). Nunca nem comentou a convivência de perto do avô Francisco Ferreira Braga, outro de cor branca, cabelos loiros e olhos azuis. A única convivência estreita que tinha era com seu meio irmão, Abede-Nego da Silva Braga. Para a constituição da família Braga em Santa Maria do Pará seria necessário o casamento religioso entre meus pais. A necessidade do casamento religioso era uma obrigação dos membros da família materna, com todo ritual católico apostólico romano presente. Raimundo Braga (1930) era um homem provinciano, embora crescido durante a “Revolução de 1930”, nas insurgências do Partido Comunista no Brasil e no mundo, na geração de mudanças de mentalidade política e social. A pessoa que viveu a Revolução de 30 e atingiu a maioridade nos Anos Dourados e as mudanças comportamentais dos Anos 60 tinha, no mínimo, que dar um tom jovial ao seu comportamento enquanto cidadão. Grandes Revoluções antropológicas tinham sido encampadas nestes anos, mas foi mais fácil viver o machista e imitar e encampar as principais características morais dos homens da colonização.

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Figura 97: Registro Civil de Nascimento de Raimundo Alves Braga, filho de Otavio Furtado Braga, documento expedido em 17 de agosto de 1960.

Depois de tantas aventuras e, de um casamento mal explicado a vida toda (de um nome que nunca foi dele) Raimundo caiu de amores pela jovem Maria Laide, de apenas 17 anos de idade; a moça mais bela da vila de Santa Maria, uma localidade de Igarapé-Açu-PA. O balzaquiano Raimundo Braga, o Louro, não mediu esforços para preparar a documentação verdadeira com o fim de subir ao altar e desposar da formosa noiva. Os pais dela, Valdemar Pereira da Silva e Francisca Serafim da Silva eram contra o enlace, por causa da vida pregressa do moço. Existiam filhos e muitas mulheres na vida dele. Eram pais zelosos aos bons costumes. Mas Maria Laide encantou-se por ele assim

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mesmo, enfrentando os pais, ameaçando fugir com o mesmo, o que causaria um escândalo na sociedade local. O pior de tudo é que Raimundo não os tinha participado do casamento anterior

Figura 98: Certidão de Casamento da igreja católica entre Raimundo Alves Braga e Maria Laide da Silva, expedida em 24 de fevereiro de 1976.

com Zenaide, ajuizado em cartório, com um nome trocado, que não corresponderia ao seu verdadeiro nome, o que poderia ser interpretado como Crime de Falsidade Ideológica

Figura 99: Raimundo Alves Braga (Louro) na década de 80. Foto: autor desconhecido.

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Claro que a não formalização em cartório com Maria Laide não o colocou na mira da Justiça, pois o tempo e os termos trataram de separar Igreja e Estado e a união de 23 anos (até a morte de Raimundo em 1983) tornou possível a jurisprudência. Ademais, viveu com a primeira esposa apenas alguns meses, antes mesmo dela ter seu primeiro filho.

Figura 100: a jovem Maria Laide aos 19 anos de idade. Foto: álbum de família.

O que o habilita para a boa fé é que Raimundo Braga era jovem demais (18 anos) ao envolver-se com a primeira esposa. Fato é que o pai da moça forçou-o ao casamento e ele jamais se sentiu obrigado a desposá-la, pois, a mesma era mais velha que ele. Usava o argumento que a mesma o teria seduzido, e não o contrário. Durante muito tempo todos os filhos do casal, Maria Laide e Raimundo (Louro) eram batizados apenas com os sobrenomes do pai, só em época mais recente é que os registros foram retificados, de acordo com a Justiça. Algumas pessoas

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do passado nos conhecem pelo antigo nome, pois passei boa parte da vida com ele. Uma curiosidade é que nosso nome deveria ser Laércio Otavio, em homenagem ao nosso avô, mas o cartório suprimiu a homenagem e, quando nosso Registro de Nascimento foi alterado, não repuseram o nome, até porque não fomos consultados para a mudança. Há de se convir que foi absolutamente desnecessária. Do casamento entre Raimundo Alves Braga e Maria Laide Serafim da Silva resultou 7 filhos, sendo que um deles morreu com poucos dias de vida. Na sequência por nascimento, assim alinhamos: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Laize do Socorro da Silva Braga (10/11/1962); Ladio da Silva Braga (02/01/1965); Lenize da Silva Braga (03/03/----); Laércio da Silva Braga (30/01/1967); Leandro Braga (falecido neonatal, 1969); Lenilson da Silva Braga (10/05/1972); Leila Lizandra da Silva Braga (05/10/1973).

Um dia, os filhos de Raimundo Alves Braga, éramos os Alves Braga e, no futuro passamos a nos chamar da Silva Braga. Uma história não muito boa sobre a vida de nossos pais foi quando ele faleceu, em 1983, e nossa mãe foi buscar uma pensão, para que pudesse terminar a educação dos quatro filhos mais novos, ao solicitar o benefício a funcionária do Instituto de Previdência foi extremamente mal educada: Quando Laide apresentou os documentos que dispunha a mesma falou num tom acima do normal, para que todos pudessem ouvir: A senhora é concubina! O certo é que as Leis da época não tinham a mesma empregabilidade atual, pois hoje, na união instável pressupõem-se direitos da parte em que se vive maritalmente. Mas não era o que a funcionária pública,

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prepotente e, com certeza mal amada, quis parecer que fosse. Falou em bom tom, para que todos os presentes pudessem ouvir e julgar sua situação civil.

Figura 101: Paulo Glins de Lima, 1º filho de Raimundo Alves Braga com Zenaide. Foto: autor desconhecido, álbum de família.

Minha mãe, com a educação que tinha, limitou-se a ruborizar-se, até porque existem leis que respaldam o funcionário público de reações hostis, mas ela bem que mereceu uma resposta a altura de sua empáfia. Nossa mãe não estava ao lado de uma pessoa por vinte e três anos como amante. Tinham se casado no que era imprescindível e necessário para nossa cultura: na Santa Igreja Católica Apostólica Romana! Mas moral da história, nossa mãe saiu de lá, apesar da funcionária desqualificada, com a pensão garantida por lei. Não pela eficiência da funcionária, mas por respaldo da Lei. Às vezes ficamos pensando... Quantas pessoas aquela funcionária não desancou na vida? Quantas pessoas não foram sumariamente humilhadas, mesmo veladamente? Felizmente, não temos um nome para ela, não temos um rosto, porque

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pessoas assim não ficam para a história de absolutamente nada. Trata-se de um mecanismo necessário, mas como tudo que é sistemático, desaparece num coletivismo de resultados. O importante é extrair o sim, mesmo que as bocas malditas digam não. Raimundo Alves Braga, nosso pai, faleceu em 3 de agosto de 1983, ainda nos 52 anos de idade. Completaria 53 anos a 25 do mesmo mês. Nunca foi de médicos. Vivia inventando medicamentos e formas curativas para os seus males e dos outros. Uma única vez internou-se para tratamento médico no hospital da cidade vizinha e, antes de terminar o tratamento, fugiu do hospital, surpreendendo a todos com sua chegada.

Figura 102: Certidão de Nascimento de Laércio da Silva Braga, do cartório de Santa Maria do Pará, expedido em 14 de maio de 1981.

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Raimundo, nosso pai, gostava muito de beber conhaque e comer carne de porco assada no forno. Coisas gordurosas eram com ele mesmo. Nunca gostou de futebol e jamais brincou uma partida que fosse. Formou-se mecânico, como já falamos anteriormente, pela Escola Mundial de Cultura Técnica, tornando-se uma referência na profissão. Era bastante solicitado e recomendado. Era brincalhão, bem humorado e capaz de dançar a noite toda sem cansar-se, mas a bebida o tirava da complacência e da razão. Produzia cenas, às vezes hilárias, às vezes irritantes e, muitas vezes, desprezíveis. Não guardamos boas recordações dos efeitos da bebida no seu juízo. O fato é que viveu pouco e intensamente. Se vivo estivesse estaria com 85 anos de idade e, com certeza, calmo, comedido e dedicado aos filhos e netos. No leito de morte, Raimundo infartado, cantou para a esposa, Laide, numa verdadeira declaração de amor. Enfartou na manhã do dia 3 de agosto de 1983 quando trabalhava no motor de seu carro. Neste dia, estava calado, esmurrando o peito, talvez com dores agudas. Não revelou para ninguém que sentia dores peitorais. Vomitou uma vez, andava do pátio a cozinha da casa. Antes do meio dia, antes de nossa mãe chegar da loja de confecções que tinha no comércio local, em Santa Maria do Pará, começou o processo de ataque cardíaco, com dores fortes e vômitos. Nossa mãe foi chamada urgentemente e ele levado ao hospital. Se o hospital da Ordem Terceira de São Francisco tivesse um profissional competente e desfibrilador, Raimundo Alves Braga teria se salvado, mas os primeiros socorros foram feitos por um acadêmico de medicina, despreparado e literalmente conformado com a sua falta de experiência. Foi medicado e internado, para esperar um segundo ataque cardíaco fulminante. Antes do meio dia estava morto.

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Ao redor da cama estavam a filha e o filho mais velho, Ladio e Laize, a filha do meio, Lenize e a esposa, Laide. Raimundo segurava a mão da esposa, adivinhava que não sairia mais de lá com vida. Cantou para ela uma música de Nelson Gonçalves e Adelino Moreira, talvez como se pedisse desculpas pelas infidelidades, pelas vezes que fora bruto, infiel, inconveniente e indelicado quando estava bêbado, tinham sido anos sofridos, mas felizes também. Morreu literalmente cantando. A letra música de Nelson Gonçalves e Adelino Moreira era essa: Meu ex-amor Coitado de você meu ex-amor, Da tristeza portador, Quem foi que lhe magoou? Quem foi que lhe deu tanto desgosto? Quem pôs rugas no seu rosto E tanto lhe maltratou? Parece que no seu itinerário Dos amores do seu rosário Só o meu amor restou. Malvadas, mulheres sem coração, Fizeram meu ex-amor Aprender nova lição! Mas eu farei das suas chagas cicatrizes E ainda seremos felizes Pra viver nova ilusão.

Depois do seu casamento com a jovem Zenaide, de quem se separou alguns meses depois, antes do nascimento de seu

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filho, Paulo, Raimundo Alves Braga teve um envolvimento com Raimunda Lins de Oliveira (já falecida). Com ela teve um primeiro filho que morreu ainda pequeno e Dilberto que nasceu em 13 de agosto de 1954. Dilberto, foi batizado na igreja de Nossa Senhora da Conceição em 2 de maio de 1955, sendo padrinhos Orlando Oliveira e Eloisa Fernandes de Oliveira (Neném). Por alegações maledicentes Raimundo abandonou Raimunda Lins de Oliveira e a mesma guardou mágoa para a vida inteira, maldizendo-o sempre. Raimunda contraiu matrimônio com Pedro e formou outra família, tendo outros filhos, inclusive, Pedro adotou Dilberto por amor à mulher, pois nem sempre o tratou como filho, embora o tempo tenha aparado qualquer desavença. Conhecemos toda a família em 1984, mãe, pai adotivo, esposa e filhos (sobrinhos). Encontramos Raimunda ainda rancorosa de nosso pai, maldizendo-o às profundezas do inferno, “um demônio, que devia estar pagando junto ao diabo”, mas após a morte do esposo, revelaria que nunca o tinha esquecido. O ódio que dizia sentir por ele, na verdade era amor. No dia em que revelou seus sentimentos, arrancou das mãos da nora uma foto de Raimundo Alves Braga e beijou-a insistentemente, para nunca mais devolvê-la. Nunca quisemos admitir o abandono dos filhos de nosso pai, porque afinal, pais se separam não os filhos. Mas Raimundo Alves Braga abandonava as mulheres e os filhos para sempre. Tinha acontecido com Paulo, com Dilberto e ainda com uma filha chamada Ósea (nunca tivemos contato com ela).

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Figura 103: Dilberto e sua mãe, Raimunda. Foto: autor desconhecido.

Mas a redenção de nosso pai talvez se explique nos acontecimentos de sua juventude. No caso de Raimunda Lins de Oliveira, ele a amou de verdade, de seu jeito, claro. Foi muito perseguido pelo pai dela, apelidado de “Sem Tarefa” em Irituia-PA, cidade em que residiam. O pai não via o relacionamento da filha com bons olhos, pois Raimundo Alves Braga era motorista municipal de caçamba que, entre outras atribuições, transportava o lixo da cidade. Chamava-o de lixeiro. Por esta época, Raimundo ainda assinava Raimundo Alves de Lima.

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Figura 104: batismo de Dilberto (batizado como Diorberto) de Oliveira Barbosa, anterior à adoção do padrasto Pedro, constando como seu pai legitimo, Raimundo Alves de Lima (Louro). Livro de Batismos da Paróquia da Conceição, 1954-1957, nº 500.

Dilberto não teve mais que um contato com o pai na vida, isso quando era pré-adolescente (quando tinha cerca de 8 anos de idade), entretanto, devemos admitir ter todas as características de nosso pai. Consegue reproduzir, mesmo sem ter tido convivência, os principais traços de sua personalidade. Até mecânico é, tem a mesma alegria e alguns dos principais fenótipos. Diria que moralmente é um Braga. Infelizmente a sequência de nomes foi alterada pela adoção, suprimindo o nome do pai biológico de forma ilegal, mas a história está esclarecida, para que não restem dúvidas. O próprio Dilberto nos contou que em determinado porto de Belém-PA, por volta de 1962 estiveram muito próximos e alguém do meio apontou nosso pai para ele e disse: “Olha ali, aquele é teu verdadeiro pai”. Chamou Raimundo Alves Braga (Louro) e o apresentou dizendo que Dilberto era seu filho com Raimunda. Ele sorriu para ele e perguntou-lhe como estava. Não teve abraço, festa ou outra manifestação mais extravagante, mas houve cordialidade e gentileza. Foi a única vez que reencontrou o pai. Quando veio saber dele novamente foi em 1984, quando investigamos sua existência e o visitamos, mas nosso pai tinha morrido a 3 de agosto do ano anterior.

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Não acho que nosso pai fosse vilão, afinal era um produto do seu tempo, da mentalidade de sua época. Se vivo estivesse, estaria convivendo com todos os filhos alegremente, rindo das coisas do passado, tentando rever os erros. O tempo cura e transforma!

 Figura 105: Otavio Furtado Braga nos anos 1970. Foto: álbum de família.

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Figura 106: Maria Laide e Raimundo (Louro) Alves Braga no início da década de 80. Foto: reprodução álbum de família. 

Figura 107: Vila Fronteira, local de nascimento do autor em 1967, que hoje não existe mais como núcleo populacional. Foto: arte gráfica de Laércio Braga, 2013.

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RVORE GENEALÓGICA DA FAMÍLIA BRAGA

 Em Portugal, precisamente em São Victor, casaram-se:

Hexavós paternos: MANOEL FRANCISCO x MARIANA FRANCISCA Casamento em 19 de janeiro de 1692. O casal teve um filho em São Victor, arcebispado de Braga, Portugal, nascido por volta de 1700: 1. Domingos Francisco Braga Ainda em São Victor, Portugal, nasceu em 1688 PEDRO BARROSO VALENTE, que também veio ao Brasil e aqui se casou duas vezes. Pedro faleceu em 12/10/1773. O segundo casamento foi em 24/11/1766: Hexavós maternos: Capitão-mor PEDRO BARROSO VALENTE (1668 - 1773) x ANA FERREIRA DA CUNHA (?) Casamento em 1724. Da união desse casal nasceu uma menina, batizada em 17 de junho de 1726: 1. Elena Ferreira da Cunha.

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Interessante perceber que o sobrenome da filha desse casal atendeu apenas ao sobrenome da mãe. Aos vinte três (23) anos de idade Elena foi responsável pela união da família Braga aos Barroso em 1744 (ANEXO I):  Começa a genealogia dos Barroso/Braga, no Ceará. Pentavós: Capitão DOMINGOS FRANCISCO BRAGA (21/10/1704 1783) x ELENA FERREIRA DA CUNHA (1726 - 1800) Esse casal viveu junto até a morte, na fazenda Caioca em Aracatí-Assu. Os filhos do casal foram seis (06): 1. Domingos Francisco Braga 2. Mariana Francisca de Avelar 3. Germana Francisca de Avelar 4. Luiz Francisco Braga 5. Anastácio Francisco Braga (27/09/1759) 6. Pedro Barroso Valente (do peixe, como se fosse apelido).

Tetravós: Major ANASTÁCIO FRANCISCO BRAGA (27/09/1759 +1826) x MARIA LUIZA SANTIAGO (25/09/1779 - +?) Juntos formaram grande família. Tiveram 11 filhos: 1. Tenente coronel Luiz Francisco Braga 2. João Franscisco Braga

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3. Antonio Ferreira Braga 4. Francisco Braga 5. Domingos Francisco Braga (seria pai de monsenhor Tabosa Braga?) 6. Joaquim Francisco Braga 7. Luiza Francisca de Avelar Braga 8. Manoel Francisco Braga (1813) 9. Ana Francisca Braga (25/05/1830) 10. Inocêncio Francisco Braga (1817) 11. Anastácio Francisco Braga (1801)

*Francisco Ferreira Braga; era filho bastardo de Anastácio Francisco Braga (1759) com Maria de Sampaio ou Maria da Anunciação. Trisavós: Capitão FRANCISCO FERREIRA BRAGA (1822-1894) x RAIMUNDA DA SILVA BRAGA  Pais de Raimunda da Silva Braga: Luis da Silva Pintado e Tereza da Silva Portela Bisavós: FRANCISCO FERREIRA BRAGA (1864-1958) x SABINA FURTADO DE MENDONÇA (11/07/1884-1953?) 1. Antônio Braga (pai da Adalgiza Alves Braga de Lima) casado com Anorata Braga 2. João Braga

Laércio Braga 3. José Braga 4. Maria Braga (Mariinha) [ficou no Ceará] 5. Otavio Furtado Braga (02/06/1909 a 1982) 6. Dionizia Furtado Braga (20/12/1915 a 18/08/2009) [morava na localidade de Tauary, Garrafão do Norte-PA] 7. Raimundo Furtado Braga (10/03/1920 a 04/03/2003) 8. Nazaré Braga 9. Otilia Furtado Braga (mudou-se de São Miguel do Guamá para Porto Velho e nunca mais voltou)

Avós: Soldado OTAVIO FURTADO BRAGA (02/06/1909-1982) x ÓSEA ALVES DE LIMA (01/03/1912-04/10/1930); [primeiro casamento] O casal teve apenas um único filho: 1. Raimundo Alves Braga Soldado OTAVIO FURTADO BRAGA (02/06/1909 A 1982) x OTÍLIA MARQUES [segundo casamento] O casal teve dois filhos. 1. José Marques Braga (25/10/1941) 2. Cícero Marques Braga 3. Esmael Braga (falecido) 4. Ruth Braga

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Soldado OTAVIO FURTADO BRAGA (02/06/1909-1982) x ONÓRIA Onória era irmã de Otília. Teve um filho com a dita. 1. Francisco Ferreira Braga (04/10/1936) Soldado OTAVIO FURTADO BRAGA (02/06/1909 a 1982) x FRANCISCA DA SILVA BRAGA (06/09/1916 a 24/12/1996); [terceiro casamento]. O casal teve alguns filhos que não vingaram, sobrevivendo apenas esse último. 2. Abede-Nego da Silva Braga Pai: Como Raimundo Alves de Lima teve os seguintes filhos: Paulo Glins de Lima, filho de Zenaide. Diorberto de Oliveira Barbosa, com Raimunda Lins de Oliveira. Diorberto fora adotado pelo padrasto , Pedro Barbosa e seu nome passou a ser, Dilberto de Oliveira Barbosa. RAIMUNDO ALVES BRAGA (1930-1983) x MARIA LAIDE SERAFIM DA SILVA (1943); [terceira relação marital] Filhos do casal: 1. Laize do Socorro da Silva Braga (10/11/1962) casou em 1982 com Raimundo Nonato de Pinho Araújo. I- Larissa Braga Araújo; II- Alice Braga Araújo.

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2. Ladio da Silva Braga (02/01/1965) com Erliene Carvalho de Lima: I- Lana Carvalho Braga; II- Laís Carvalho Braga. Com Kercyane Araújo: I- Luide 1º (falecido neonatal); II- Luide Araújo Braga 3. Lenize da Silva Braga (03/03/----); 4. Laércio da Silva Braga (30/01/1967) casou com Lia Cuimar. I- Lutti Cuimar de Souza Braga; II- Lucas Cuimar de Souza Braga; III- Laila Cuimar de Souza Braga. 5. Leandro Braga (falecido neonatal, 1969); 6. Lenilson da Silva Braga (10/05/1972) com Vera Ribeiro Vale (1º consórcio): I- Leonardo Ribeiro Braga. Com Nubia da Silva: I- Leticia da Silva Braga; II- Luan da Silva Braga. 7. Leila Lizandra da Silva Braga (05/10/1973) com Aldrin Gonçalves: I- Loui Braga Gonçalves.

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RASÃO DOS

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RAGA

Podemos observar que, de acordo com a tradição heráldica, o brasão originalmente constituído e simbológico da família Braga, descendentes de Gonçalo Esteves de Braga que fundou a família em 1369, na cidade de Braga, Portugal, não nos diz respeito. Mas a cidade de Braga nos é comum e original. Ora, a torre de Menagem, remanescente do Castelo de Braga é um ícone daquela cidade e o brasão da família Braga antigo, patronímico, exibe também uma torre em prata sobre fundo vermelho e encimando um braço em riste empunhando uma braga25. Braga é um sobrenome toponímico. É o mesmo que dizer que é de origem geográfica. Falam que há uma tradição antiga sobre este nome, que dizem ter pertencido a um fidalgo preso pelos Mouros26 que conseguiu libertar-se da torre onde foi encerrado e algemado no pé (com uma braga). Neste ponto, o brasão da família Braga torna-se um símbolo cultural da cidade de Braga, Portugal e, portanto, símbolo cultural de 25

Substantivo feminino: 2.Marinh. Gato de escape ou manilha, com que se prende o chicote da amarra à paixão2 (q. v.), no paiol da amarra. 26

Indivíduo dos mouros, povos que habitavam a Mauritânia (África); mauritano, mauro, sarraceno.

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pertencimento coletivo memorial. O brasão da cidade de Braga também ostenta duas torres em seu escudo. Assim, o fato da torre aparecer no brasão alude ao evento do pertencimento de um e de outro. Então, sobre o brasão e bandeira da cidade de Braga: Ordenação heráldica do brasão e bandeira publicada no Diário da República, III Série de 23/03/1989. Bandeira gironada de azul e branco, cordões e borlas de prata e azul. Haste e lança de ouro. Figura 108: bandeira com escudo de Braga. CONEXÃO EMANCIPACION ISTA: BRAGA – PORTUGAL, 2000 ANOS D E HISTÓRIA Disponível em: .

Armas - Escudo de azul, a imagem de Santa Maria de Braga (Nossa Senhora vestida com uma túnica de púrpura e com um manto azul cerúleo, coroada à antiga de prata, tendo um lírio de sua cor na mão dextra e sustendo o Menino Jesus no braço sinistro), ladeada de duas torres de prata, lavradas de negro, e acompanhada em chefe de três escudos de Portugal – antigo (de prata, cinco escudetes de azul, posto em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes de prata). Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco com a legenda em

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maiúsculas de negro: ().

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"BRAGA".

O projeto de brasão familiar foi encomendado a Miguel Ângelo Boto27, famoso heraldista português. Toda a argumentação foi-lhe repassada por nós para a confecção do brasão dos Braga constituídos patronimicamente no Brasil. Achou-se interessante fazer referencia à Torre de Menagem do antigo Castelo Braga, em prata, como no Brasão oficial da família Braga fundada em 1369. Só para lembrarmos, nós Braga hoje éramos os Francisco em Portugal (lembrar-se de Manoel Francisco e Mariana Francisca em Anexo I). Destarte, conservamos a torre destacada no brasão original, mas homenageamos a cidade de Braga e sua Torre de Menagem, ultra significativa. A cor de fundo do escudo permanece vermelha, mas o escudo é atravessado do flanco esquerdo ao direito, horizontalmente, por uma faixa em verde e amarelo, os tons principais da bandeira brasileira, para constar que nos constituímos Braga no Brasil. O Timbre28 permanece com o braço em riste empunhando a Braga dourada a favor de sua

27

MIGUEL ÂNGELO BOTO – HERÁLDICA BLOGUE DIRIGIDO AOS APRECIADORES DA DISCIPLINA E DA ARTE HERÁLDICA. http://miguelboto.blogspot.com.br/ 28

Timbre [Do fr. timbre.]. Substantivo masculino. 1.Insígnia apensa exteriormente ao escudo para designar a nobreza do proprietário. 2.P. ext. Marca, sinal. 3.Selo, carimbo. 4.Fig. Honra, capricho, orgulho.

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liberdade e em prol de sua defesa, pois denota um traço de valentia e virol29 trançado em dourado e vermelho. Paquife30 em tons de vermelho e dourado evoluindo para os lados do elmo prateado com detalhes em ouro, seguros por cinturão verde, afivelado, com detalhes do metal precioso. Doravante este brasão elaborado pelo português Miguel Ângelo Bôto torna-se um símbolo da família Braga (de Brasil) e pode ser usado pelos seus membros, desde que obtenha autorização desta casa e que seja membro deste clã descrito nesta obra. Os escudos heráldicos representam os escudos de guerra, onde os combatentes pintavam suas armas para serem facilmente identificados, e podem ter diversas formas. Na atualidade, são mais utilizados o modelo francês e o português (boleado). Assim, optamos pelo escudo boleado, do modelo português.

29

Aro metálico que aperta ou reforça um objeto e às vezes serve para ornamento. 30

Substantivo masculino. Heráld. 1.Ornatos que, nascendo do elmo, guarnecem o escudo de um lado e do outro: “No escudo, formado por uma brica de prata, .... via-se um elmo também de prata, paquife de ouro e de azul” (José de Alencar, O Guarani, I, p. 84). 2.Adorno arquitetônico de folhagens. 3.Enfeite vistoso.

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Figura 109: Brasão da família Braga constituída no Brasil elaborado esteticamente por Miguel Ângelo Bôto de acordo com as regras que regem a heráldica, 2015.

As cores utilizadas em armaria são conhecidas genericamente como esmaltes, que se dividem em Metais (ouro e prata), os Esmaltes propriamente ditos: Vermelho (goles), Azul (blau), Verde (sinople), Púrpura, Preto ou Negro (sable) e os Forros ou Peles: Arminhos e Veiros. Também são incluídas a carnação e as cores naturais, embora não sejam Esmaltes. O esmalte vermelho: vitória, fortaleza e ousadia. Esmalte Prata: pureza, integridade, firmeza e obediência.

Figura 110: Brasão de armas elaborado de acordo com as regras heráldicas por Miguel Ângelo Bôto, 2015.

Figuras Heráldicas podem ser:

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Naturais: animais, plantas, árvores, astros, figura humana, etc. Artificiais: guerra, caça, artes, ofícios, arquitetura militar, armaria, marinha, cavalaria, cerimônias religiosas, etc. Quiméricas, Fantásticas: grifo, dragão, centauro, águia bifronte, serpe, unicórnio, etc.

Figura 111: família Laércio Braga. Da esquerda para a direita, Lucas Braga, Lutti Braga, Laila Braga e Laércio Braga. Foto: álbum de família.

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Figura 112: casamento de Maria Laide e Raimundo Alves Braga (Louro) em 1960 em Santa Maria do Pará. Foto: arte digital de Laércio Braga, 2000.

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D’OLIVET, Antoine Fabre. História filosófica do gênero humano. Paris, 1915. FAMÍLIA CUNHA. quinta-feira, 26 de novembro de 2009. Disponível em: . Acesso em: 16 Set 2015. FASHIONBLOG. História da família Braga. Escrito em fevereiro de 2010. Disponível em: . Acesso em: 12 Jun 2013. FIGUEIREDO, Daniel C. Vinte Mil Descendentes de Arnaud de Holanda: Milhares de descendentes do nobre holandês que chegou ao Brasil no Século XVI e faleceu em Pernambuco em 1614. Publicado por Daniel Sabóia: Sobral – Ceará. Abril de 2010. O autor observa que utilizou como Fonte de consulta – Site da Wikipedia - http://pt.wikipedia.org para os textos empregados, também, nesta obra. FILHO, Ernesto Pimentel. Violência e a vida provinciana do Império do Brasil: o caso do Ceará. Recife: UFPE, 2004. FLAWEGMANN’S BLOG. A deusa celta e a ligação com os Atlantes. Disponível em: . Acesso em: 12 Ago 2014. GRAÇA, Manuel de Sampayo Pimentel Azevedo. ILUSTRES DE CÁ E LÁ. REGRESSADOS DO BRASIL NO PORTO DE OITOCENTOS. P.18 (in SOUSA, Fernando de; MARTINS, Ismênia; MATOS, Izilda – Nas Duas Margens: Os Portugueses No Brasil, Porto, 2009).

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[RS]-

JUNTA DE FREGUESIA DE SÃO VICTOR KNAKEVICZ, Ademir José. Introdução à genealogia. (texto em PDF, sem datação). LEITÃO, Pedro. Memórias urbanas: Braga em primeiro lugar na rota das pregações de S. Tiago nas Espanhas Regeneração Urbana mostra caminhos da história. Disponível em: (). Acesso em: 12 Mai 2011. MACIEL, Paulo. Itapipoca, 314 anos de sua história. ItapipocaCeará: Editora Premius, 1997. MARTINS, Paulo Henrique de Souza. HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO NA FAZENDA

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ANEXO I Casamento de Manoel Francisco e Maria Francisca. Casamento entre Manoel Francisco e Mariana Francisca em 19 de janeiro de 1692, em Braga, Portugal. Reprodução: Laércio Braga, 2014. Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) – Conc. Braga. Freg. São Victor. Anos 1678-1703. Liv. Cas. Nº 1, p. 77v.

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ANEXO II Batismo de Domingos Francisco Braga. Batizado de Domingos aos 21 de outubro de 1704 - Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) - Concelho de Braga - Freguesia de São Victor. Anos 1692-1702 - Livro Nasc. Nº 3, p. 62. O livro especifica que os batismos são de até 1702, mas na verdade ultrapassa essa data e alcança o ano de 1710.

Batismo de Antonio Gonçalves. Batizado de Antonio aos 23 de dezembro de 1653 - Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) - Concelho de Braga - Freguesia de São Victor. Anos 1643-1655 Livro Nasc. Nº 5, p. 109 v.

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ANEXO III Batismo de Maria Rodriguez. Batizado de Maria aos 22 de março de 1654 - Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) Concelho de Braga - Freguesia de São Victor. Anos 1643-1655 - Livro Nasc. Nº 5, p. 113 v.

Casamento de Migel Fernandez e Maria Francisca em 05/12/1670. Arquivo Distrital de Braga (Registro Civil) - Concelho de Braga - Freguesia de São Victor. Anos 1643-1668 - Livro Nasc. Nº 7, p. 150.

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ANEXO IV Batismo de Pedro Barroso Valente. Batizado de Pedro Barroso aos 11 de maio de 1689, na freguesia de São Victor, arcebispado de Braga, Portugal. Arquivo Distrital de Braga. Freguesia de São Victor. Anos 1675-1682. Livro Nasc. Nº 1, p. 162. O livro assinala que termina em 1682, mas na verdade segue até mais de 1689.

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ANEXO V Documentos que colocam Luís da Silva Pintado, pai da trisavó Raimunda Evaristo da Silva Pintado, como padrinho de batismo de Rita e o casal Francisco Ferreira Braga (1822) e Raimunda Evaristo da Silva Portela como padrinhos de Isabel.

Figura 20: Batizado de Rita, filha legitima de Joaquim da Silva Sousa e Maria Vicência de Lima, nascida em 15 de janeiro de 1865. Livro nº 151, p. 1 v. Freguesia de Imperatriz - Batizados. Iniciado: 19 de março de 1865. Encerrado: 17 de dezembro de 1866.

Figura 21: Batizado de Isabel, filha legitima de Cândido José da Silva e de Maria José da Gloria. Livro nº 150, da Freguesia de Imperatriz, criada em 30 de agosto de 1757 - Batizados – Iniciado: 6 de janeiro de 1861: Encerrado em 31 de janeiro de 1865.

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ANEXO VI Documento de batizado em que o trisavô Francisco Ferreira Braga e sua mãe, Maria de Sampaio, aparecem como padrinhos.

Figura 22: Batizado de Joaquina, filha legitima de Manoel Barroso Braga e de Vivência Francisca Braga, nascida aos dois de abril de 1862, cujos padrinhos são Francisco Ferreira Braga Netto (solteiro) e sua mãe, Maria de Sampaio. “Livro nº 150, p. 17v – Feguezia de Imparatriz, Itapipoca-CE. Creada em 30 de agosto de 1757 – Batizados – Iniciado: 06 de janeiro de 1861. Encerrado: 31 de janeiro de 1865”.

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ANEXO VII Documento de casamento de Anastácio Alves Braga e Silvia Hilda de Souza.

Figura 23: Registro de casamento de Anastácio Alves Braga e Sylvia Hylda de Souza em 1907. Livro de Casamentos Itapipoca-CE, p. 106, casamento nº 12.

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ANEXO VIII Certidão de Casamento Civil de Otavio Furtado Braga e Ósea Alves de Lima em 1928.

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ANEXO IX Certidão de Casamento de Dionizia Furtado Braga.

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ANEXO X Primeira parte de uma carta endereçada ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1959, por Otavio Furtado Braga (a grafia do nome de meu avô já era sem o acréscimo do C mudo).

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ANEXO XI Segunda parte de uma carta endereçada ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1959, por Otavio Furtado Braga (a grafia do nome de meu avô já era sem o acréscimo do C mudo).

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ANEXO XII Certidão Civil de Casamento do tio-avô Raimundo Furtado Braga com Irineia Braga de Araújo, em 22 de outubro de 1966. Os mesmos já viviam maritalmente desde os anos 40.

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ANEXO XIII Documentos relativos à farmácia que meu avô Otavio Furtado Braga mantinha no KM 47 (hoje Santa Luzia do Pará).

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ANEXO XIV Registo de uma portaria do Provedor da Fazenda Real, do capitão Domingos Francisco Braga, por despacho do capitão-mor comandante Pedro de Moraes Magalhães (BULCÃO, p.134). Por quanto o Doutor Ouvidor Provedor da Fazenda Real desta Capitania se acha ausente desta Vila par passar a Ribeira do Acaracú várias diligências de sua incumbência e serviço de S. Magestade e porque, em virtude da ordem do dito Senhor de 22 de maio de 1719, é servido a ordenar que os capitães-Mores durante impedimento que os Provedores da Fazenda Real houverem de ter por ausência ou sobrevenha a morte prover o dito cargo de Provedor da Fazenda Real na pessoa que lhe parecer pode ser de maior satisfação e verdade, porque estes requisitos concorrem na pessoa do capitão Domingos Francisco Braga, além da experiência que já tem de haver servido o ofício de escrivão da mesma Fazenda Real de que deu boa conta, ordeno ao dito capitão Domingos Francisco Braga sirva o dito cargo de Provedor -da Fazenda Real durante o impedimento e ausência do Dr. Ouvidor Geral, Provedor da mesma Fazenda com o qual goza de todas as honras, privilégios e emolumentos que em razão do dito cargo pertenciam corno os mais que custuma ter o mesmo. Almoxarife da Fazenda Real e mais seus subordinados, etc., etc. (Em 15 de outubro de 1750).

Pedro de Moraes Magalhães

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ANEXO XV Registo da Patente do capitão de Auxiliares Domingos Francisco Braga, do distrito do CURU (BULCÃO, p. 134135). Dom Marcos de Noronha, do Conselho de S. M., Governador e Capitão-mor-General de Pernambuco e mais Capitanias anexas etc. Faço saber aos que esta Carta Patente virem que por quanto, na forma das ordens de S. M. eu deva prover os postos de auxiliares dos terços desta Capitania, Rio Grande e Ceará na sua primeira criação e havendo respeito a me propor o Capitão-mor da Capitania. do Ceará a Domingos Francisco Braga, para ocupar o posto de Capitão de uma das Companhias do terço de auxiliares da quinta Companhia de que é Mestre de Campo Jorge da Costa Gadelha que compreende o distrito do Curú por nele concorrerem as partes e requisitos necessários para o servir tanto pelo bem que tem servido a S. M. nas tropas de ordenança e Cavalaria daqueles distritos com muita satisfação e zelo e dispêndio de sua fazenda, como por ser um dos homens nobres e abastado de bens e de honrado procedimento da mesma Capitania; e esperando que de aqui em diante, nas obrigações do dito posto se haverá muito coma deve a confiança que faço de sua pessoa; Hei por bem nomear ao dito Domingos Francisco Braga no referido posto de Capitão de Companhia do dito distrito e terço, o qual terá as praças em que estiverem limitadas as mais com todos oficiais, e não haverá nenhum soldo, mas gozará de todas as honras, graças, franquezas, privilégios, liberdade e isenções que em razão dele lhe pertencerem, pelo que o dito Capitão-Mor lhe mandará sentar praça e o Mestre de Campo lhe dará posse e juramento na forma do estilo, de que tornará assento nas costas .desta; e aos oficiais e soldados seus subalternos, ordeno que em tudo lhe obedeçam como devem e são obrigados e recomendo a S. M, para a sua

Laércio Braga confirmação, e por verdade de tudo lhe mandei passar a presente por mim assinada e selada com o sinete de minhas armas, que se registrará na Secretaria deste governo e Provedoria do Ceará. Dada e passada em Recife de Pernambuco a vinte e dois de Março. Manoel Coelho de Souza, a fez. Ano de mil setecentos e quarenta e sete. 0 Secretário José Antunes a fez escrever. Estava selada. Dom Marcos de Noronha. Registrada em Fortaleza a 29 de Junho de 1747. (Livro de Registo de Provisões 1749 a 1755 - pág. 70 - 22 de Março de 1747).

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ANEXO XVI Registo de Patente de Sargento-Mor de Pedro Barroso Valente do distrito desta Vila do Regimento do Joá (BULCÃO, p. 136137): Domingos Simões Jordão cavaleiro profeço na ordem de Cristo Capitão-Mor da Capitania do Ceará Grande e Governador da Fortaleza de N. S. da Assunção, por S. Majestade que Deus guarde etc. Faço saber aos que esta minha Carta Patente virem que por estar vago o. posto de Sargento-Mor de infantaria de Ordenança do Regimento de fé do distrito desta Vila de Fortaleza de que é Coronel João Diniz Penha por deixação que dele fez Manoel dos Santos da Silva Fradique que o servia e convir provê-lo em pessoa de satisfação e merecimento, havendo em respeito a que estes requisitos concorrem na pessoa de Pedro Barroso Valente pelo bem que tem servido a Sua Majestade nas guerras que houve em Portugal com praça de soldado e cabo de esquadra na Companhia do Capitão Manoel Mendes de Carvalho do regimento de que foi Coronel João .Batista Magalhães da Província do Minho, desde o ano de 1707 -até o mês de abril de 1714 e no decurso do dito tempo haver-se achado com o dito Regimento em todas as marchas e campanhas em a Província de Alentejo, na restauração da cidade de Miranda, nas guarnições de várias Praças onde se achavam e em outras operações da mesma Companhia, depois haver passado a Pernambuco onde- logo sentou praça de soldado e prosseguindo na de cabo de esquadra passou a Sargento supra que exerceu muito tempo na Companhia do Capitão-Mor Patrício da Nóbrega e Vasconcelos e ultimamente haver passado a esta Capitania do Ceará Grande onde :foi muitos anos Ajudante por Patente do Governador de Pernambuco assistindo com vários Capitães e a retificação que mandou fazer o Capitão-Mor João Batista Furtado nesta Fortaleza assistiu com muito zelo como sempre se achou ele pronto para tudo

Laércio Braga o que era serviço de S. Majestade sendo muito obediente aos seus maiores, e dando inteiro cumprimento a várias ordens dos mais Capitães-Mores que nesta Capitania tem governado; procedendo em tudo como bom soldado como melhor constará de seus serviços e certidões; e por ser um dos homens nobres e afazendados desta Capitania, hei por bem de o elejer e nomear como pelo presente elejo nomeio no dito posto de Sargento-Mor da infantaria de Ordenação e Regimento da gente de fé, do distrito desta vila da Fortaleza_ de que é Coronel João Diniz Penha, para que como tal o seja, use e exerça e goze de todas as honras graças, privilégios, isenções e liberdades que em razão do dito posto lhe tocarem; pelo que ordeno ao seu Coronel lhe dê posse e juramento na forma costumada, de que se fará assento nas costas desta, e aos oficiais e soldados seus subordinados o conheçam, honrem e estimem e lhe obedeçam, cumpram e guardem suas ordens de palavras e por escrito como devem e são obrigados que para firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por mim assinada e selada com o sinete de minhas armas a qual se registrará nos livros da Secretaria deste Governo e nas mais a que tocar; dada nesta vila de Fortaleza do Ceara Grande aos 23 dias do mês de agosto de 1737 anos, e eu Jose Bernardo Uchoa secretário deste governo que o escrevi: Domingos Simões Jordão. (Livro de Patentes 1756 a 1760-Fag. 31 Verso - 23 Agosto 1737).

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ANEXO XVII Registo de Patentes de, Sargento-Mor, confirmada, de Pedro Barroso Valente, do Distrito de Fortaleza:

Dom Francisco Ximenes de Aragão etc. Faço saber aos que esta minha carta Patente em confirmação virem que chegando eu a esta Capitania, com o emprego de Capm. Mor dela, achei a Pedro Barroso Valente exercitando por patente do meu antecessor o posto de sargento-mor de infantas' a de Ordenança com muito honrado procedimento e satisfação e por me ser Licito referendar-lhe o dito posto tendo respeito ao bem que tem servido a S. Majestade nas guerras que houve em Portugal com praça de soldado e cabo de esquadra da Companhia do Capitão Manoel Mendes de Carvalho do Regimento do Coronel João Batista Magalhães, da Provincia do Minho desde o ano de 1707 até o mês de abril de 1714 no decurso do tempo etc, etc., etc. Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção 30 de setembro de 1739. Francisco Ximenes de Aragão (Livro de Patentes 1756 a 1760 - Pag. 97-30 de setembro de 1739).

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ANEXO XVII Registo de nomeação de Pedro Barroso Valente para Capitão-Mor desta vila de Fortaleza (BULCÃO, p. 138-139):

Dom Francisco Ximenes de Aragão, Capitão-Mor desta Capitania do Ceará Grande a cujo cargo está o Governo deste e da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção por Sua Majestade que Deus guarde etc. Por quanto S. Majestade, que Dedo Guarde me ordena por carta de seu Conselho de 21 de abril ano passado de 1739 que por evitar a multiplicidade de requerimentos que hão no dito Conselho por causa de multiplicidade de Patentes das ordenanças resolveu por consulta de 12 de fevereiro de 1735 que em cada Vila e seu distrito em que reouvesse um Capitão-Mor, Sargento-Mor e os Capitães conforme o número de gente que tiver, e que os pastos que de novo criarem, pertencia a criação deles aos limos. Exmos. Senrs. Governadores e Capitães Generais de cada Governo e pela faculdade que tenho dos Ilmos e Exmo. Senr. Henrique Luis Pereira Freire, Governador e Capitão General de mais Capitanias anexas, para nomear CapitãoMor para esta Vila de S. José de Ribamar do Ceará Grande e seu distrito: Nomeio a Pedro Barroso Valente, Sargento-Mor atual de Ordenança desta mesma Vila pelo muito bem que tem servido a S. M. nas guerras em Portugal no decurso de 7 anos, principiados em 1707 com praça de soldado e cabo de esquadra na Companhia do Capitão Manoel Mendes de Carvalho do Regimento do Coronel João Batista Magalhães do partido da província do Minho, acompanhando o dito Regimento todo este tempo ru todas as suas marchas, e campanhas na Província de Alentejo e presídios em :Campo Maior, Albuquerque, Valença e Alcântara, até entrar por Castela a dentro, avenindo muitas vilas e cidades até a vila de Safra e restauração da cidade de Miranda e em todas as mais operações de guerra, e no ano de 1714 se passou a Pernambuco e Praça do

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Recife onde declarou praça, sem exceder, nem faltar a serviço, conformando nele a Companhia do Capitão Patrício da Nóbrega e Vasconcelos uma das guarnições da Praça do Recife cone praça de soldado, cabo de esquadrão e sargento supra, e em 1721 fez passageira. Para Ajudante desta Fortaleza do Ceará por patente do Mestre de Campo Governador Dom Francisco de Sousa, para onde se passou e exercitou o dito posto, até que o Sr. General Eduardo Sodré Pereira houve por escuso o dito posto como constará, tudo melhor as suas certidões e por ser outro sim um . dos homens nobres e afazendados da Capitania, tendo ocupado os cargos mais honrosos da república dele e não ter crime algum como consta de sua folha corrida lhe dei a presente por mim assinada e selada com o sinete das minhas armas, que não ter vigor algum e nem exercício no dito Posto de Capitão-Mor desta Vila sem patente do dito limo. Exmo. Sr. Governador e Capitão General de Pernambuco que a mandará requerer logo pela Secretaria do dito governo. Ceará Grande, 29 de fevereiro de 1740 Dom Francisco Ximenes de Aragão - Antunes Pereira, secretário. (Livro de Patentes de 1756 a 1760 - Pág. 1.02. 29 de fevereiro de 1740).

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ANEXO XVIII Registo da Provisão de Capitão-Mor desta Vila Pedro Barroso Valente (BULCÃO, p. 139-141): Henrique Luiz Pereira Freire, do Conselho de S. M,, Governador e Capitão General de Pernambuco e mais Capitanias etc. Faço saber aos que esta Carta Patente virem que em a forma da ordem de S. Majestade que manda haja em todas as cidades e vilas desta Governação, Capitães Mores de Ordenança, e nas Freguesias onde haja Comandantes e como deva de nomear Capitão-Mor de Ordenança para a vila de S. José de Riba-Mar, e seu distrito da Capitania do Ceará Grande fazendo a dita nomeação em pessoa de merecimento e capacidades, serviços e merecimentos, e estes requisitos concorrem na de Pedro Barroso Valente pela boa informação que me deu o Capitão-Mor daquela Capitania D. Francisco Ximenes de Aragão, e haver servido nas guerras em Portugal por decurso de sete do Minho, fazendo várias marchas em campanha na província anos em praça de soldado pago, Cabo de esquadra na província de Alentejo, e achando-se nos presídios de Campo Maior, e Albuquerque e nas tomadas das praças de Valença e Alcântara, marchando com o exército par Castela a dentro, sendo obdiente aos seus oficiais e passando-se para esta Capitania de Pernambuco sentou nela praça de soldado em que continuou com boa satisfação e passando a Cabo de esquadra, sargento supra, sorveu com a mesma no decurso de sete anos, até ser provido -em Ajudante da Fortaleza do Ceará para onde foi assistir, e proximamente o estar ocupando o posto de Sargento Maior da dita Vila em que foi provido, assim vivendo rico e abastado de béns e com honrado procedimento e esperando que daqui em diante se haverá muito como deve á confiança que faço de sua pessoa: dei por bem de o nomear como par esta faço ao referido posto de Capitão Mor daquela Vila e seu Termo da Capitania do Ceará Grande por

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tempo de três anos, no fim dos quais será residenciado na forma das ordens de S. Majestade, e com o dá Posto não haverá soldo algum da Fazenda do mesmo Sr. sendo subordinado ao Capitão-Mor da mesma Capitania do Ceará Grande e gozará de todas as honras, graças, franquezas, Liberdades, Privilégios e isenções que em razão do dito Posto lhe tocarem: pelo que ordeno ao Capitão-Mor da mesma Capitania do Ceará Grande e Oficiais da Câmara da :Mesma vila de S. José de Riba-Mar que lhe dêm posse o juramento na forma costumada, no que se fará assentos nas costas desta, e aos Oficiais das mesmas Ordenanças, e soldados do seu distrito que em tudo lhe obedeçam, cumpram e guardem suas ordens por escrito e de palavras tão pontualmente como devem e são obrigados e por firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por mim assinada e selada com o sinete de minhas armas que se registarão na Secretaria deste Governo, vedoria Geral e Câmara' daquela Vila, sem o que não haverá efeito; Dada na Praça do Recife de Pernambuco em os vinte dias do mês de outubro do ano de mil setecentos e quarenta. O Secretário José Antunes o fez escrever, «estava o selo. Henrique Luiz Pereira Freire» Carta Patente por que V. Excia. há por bem nomear a Pedro Barroso Valente no Posto de Capitão-Mor da Vila de S. José de Riba-Mar e seu termo da Capitania do Ceará Grande do que Capitão-Mor Dom Francisco Ximenes de Aragão por tempo de três anos pelos respeitos nele declarado «Para V. Excia. ver» Registado a fl. 12 do livro 3.° da Patente de Governador que serve na Secretaria deste Governo. Recife de Pernambuco a 21 de Outubro de 1740 «José Antunes» Cumpra-se coma o Sr. General manda e registe-se na forma do estilo. Vila de Fortaleza 12 de março de 1741. «Dom Francisco Ximenes de Aragão». (Livro de Patentes de 1756 a 1760 - Pág. 124 --- 20 de outubro de 1740).

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