Casamento e Novo Céu e Nova Terra
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CASAMENTO NO NOVO CÉU E NOVA TERRA Jean Francesco Afonso Lima Gomes*1
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar as principais objeções de teólogos cristãos
sobre a continuidade do casamento no habitat futuro em literaturas acadêmicas e populares. Para tanto será necessário um estudo exegético da controvérsia entre Jesus e os Saduceus (Mt 22.23-‐33; Mc 12.18-‐27; Lc 20.27-‐40) e assim apresentar as principais leituras, contra e a favor, a respeito da continuidade do casamento. Ao final será questionada a veracidade bíblico-‐teológica das posições descontinuístas e defendida a tese que o escopo geral das Escrituras autoriza e favorece a continuidade do casamento na restauração de todas as coisas.
PALAVRAS-‐CHAVE
Escatologia; Casamento; Jesus e Saduceus; Novo céu e nova terra;
Continuidade; Descontinuidade;
INTRODUÇÃO
A maioria dos teólogos de tradição reformada fala do casamento em termos
de uma grande bênção de Deus. É comum ler que o casamento tem o propósito de nos levar a conhecer o amor profundo entre Cristo e sua Igreja, o quanto ele traz maturidade espiritual, pessoal, financeira e relacional para o povo de Deus, entre outros proveitos.2 Mesmo assim, a maioria desses teólogos tem dificuldade ao pensar que a bênção do casamento poderia ser para sempre. Um deles, John Piper, que eleva o casamento a um nível de primeira grandeza, defende que “o casamento é uma dádiva temporária, mas gloriosa”3.
1 O autor é bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e atualmente faz seu
mestrado em divindade em Teologia Sistemática pelo CPAJ. 2 KELLER, Timothy. O significado do casamento. São Paulo: Vida Nova. (primeiras páginas) 3 PIPER, John. Casamento Temporário. São Paulo: Cultura Cristã.
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Um dos problemas de afirmações como essa, é sua falta de evidência
bíblico-‐teológica. Geralmente os autores citam a passagem conhecida de Mateus 22.23-‐33, entre Jesus e os saduceus, e ponto final – todas as respostas estão ali. O único autor contemporâneo que se preocupa em aprofundar sua visão de descontinuidade do casamento para o NCNT (Novo céu e nova terra) é Randy Alcorn na seção 10 de seu livro “Heaven”4, lidando com a pergunta “com o que nossos relacionamentos se parecerão?” e, no capítulo 35 dessa seção, responde perguntas sobre continuidade de casamento, família e amizades.
Para ele a Bíblia não ensina que não haverá casamento no céu. De fato, fica claro
que haverá casamento no céu. O que é dito é que haverá um casamento, entre Cristo e sua noiva — e nós todos faremos parte disso. Paulo relaciona o casamento humano com a realidade mais alta que isso reflete: ‘Por essa razão o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne. Esse é um profundo mistério -‐ mas eu estou falando sobre Cristo e a Igreja.’”5
A ideia dominante de Alcorn é que a união marital “uma só carne” que
conhecemos na Terra é um indicador da nossa relação com Cristo como nosso noivo. Uma vez que alcançarmos o nosso destino, o indicador será desnecessário. O nosso único casamento — nosso casamento com Cristo — será tão pleno que mesmo o casamento terreno mais maravilhoso nem se compara a ele. Logo, ele interpreta o casamento terreno como uma sombra da relação superior que haveremos de ter e conhecer no céu.
Embora a maioria dos comentaristas bíblicos defenda a posição de
descontinuidade do casamento no habitat futuro, não há unanimidade entre eles nas interpretações de Mt 22.23-‐33; Mc 12.18-‐27; Lc 20.27-‐40. É fato que nenhum debate pode acontecer sobre esse tópico sem que tal texto seja levado em conta de forma exegética. Por essa razão, a primeira parte desta pesquisa consiste em apresentar as principais interpretações dos sinóticos e, ao final fornecer leituras alternativas à dominante.
4 ALCORN, Randy. Heaven. 5 ALCORN, Heaven, p. 336. Tradução minha.
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1. INTERPRETAÇÕES DA CONTROVÉRSIA JESUS X SADUCEUS
Como já foi dito, a maior parte dos teólogos protestantes creem na abolição
do casamento na nova criação. No entanto, na maioria das denominações cristãs — e também entre os Mórmons e outras seitas — existem defesas da continuidade do casamento. Veremos primeiro quais são as principais opiniões dos exegetas atuais, contra e a favor, e depois outras as visões da Igreja Ortodoxa e Católica Romana.
1.1 Comentaristas contra a continuidade escatológica do casamento
Donald Hagner (Word Biblical Commentaty – WBC), comentando a
passagem de Mateus afirma que a vida na esfera da ressurreição, enquanto em muitos aspectos continua semelhante à presente experiência, é pelo menos diferente de algumas coisas presentes, especialmente por não haver casamento. Para ele a frase “na ressurreição não se casam, nem se dão em casamento” é categórica de que não haverá casamento no contexto da ressurreição. Hagner não traz reflexões a respeito da cultura hermenêutica dos saduceus e não menciona as interpretações contrárias à sua; ele simplesmente endossa a interpretação convencional como se fosse a única. Infelizmente não há muita argumentação além disso, pois o autor aceita a leitura mais “natural” do texto e chega a conclusão acima.6
John Nolland (WBC), chega a mesma conclusão acima com respeito a
passagem de Lucas. Ele entende que no estado da ressurreição, “casar e dar em casamento” são atividades que ficarão para trás. O casamento é uma instituição para este mundo, já para aqueles que Deus confere direito a vida ressurreta, haverá uma nova maneira gloriosa de existência. Por essa razão, não terá mais espaço para quem quiser ter filhos carregando o nome da família.7
Pao e Schnabel8 fazem uma excelente contextualização da cultura, religião e
papel dos Saduceus na sociedade judaica, porém, sua visão com relação a frase: “serão como anjos” é determinante para a posição descontinuísta. Para eles Jesus 6 HAGNER, Donald. Matthew 14-‐28. Word Biblical Commentary, Dallas, 1995, p.255. 7 NOLLAND, John. Luke vol III, Word Biblical Commentary. 8 PAO, D.; SCHNABEL, E. In: BEALE, G.K.; CARSON, D.A (Orgs). Commentary on the New Testament
use Of Old Testament. Grand Rapids, Mi: Baker Academic, 2007, p. 368.
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assegurou que aqueles que alcançam a vida na ressurreição são filhos de Deus e filhos da ressurreição, isso significa que eles serão como anjos, e fazendo referências à 1 Enoque, Sabedoria de Salomão, 2 Baruque e outros textos, tentam provar que anjos “nem comem comida nem se casam”, por isso os relacionamentos na era da ressurreição serão diferentes dos relacionamentos atuais. Isso significa que o dilema de múltiplos maridos que os Saduceus construíram desaparece totalmente.
Para Ulrich Luz, comentarista mais respeitado do Evangelho de Mateus, a
ideia central da controvérsia é apresentar a tese fundamental dos saduceus, negar a ressurreição dos mortos, e a tese principal de Jesus, a de que haverá ressurreição dos mortos. Jesus não se pronuncia em absoluto sobre matrimônio, anjos e sexualidade, porque sua intenção é desfazer o absurdo teológico apresentado pelos saduceus e levar o povo a crer no poder de Deus e da ressurreição.9 Contudo Luz se opõe à ideia de que Jesus estava abolindo apenas o casamento de levirato, e afirma: "Tão pouco disse o texto que os ressuscitados ainda que não se casem no céu seguirão levando sua vida conjugal como seres sexuados.” Para Luz a intenção do texto não é definitivamente atacar o matrimonio de levirato como instituição. Embora o autor diga que Jesus não estava se pronunciando em absoluto sobre casamento, parece acreditar que não haverá continuidade do casamento na nova criação.
Embora essa seja a perspectiva dominante, vários autores defendem a
continuidade escatológica do casamento, de formas distintas. A seguir a opinião de alguns exegetas da controvérsia Jesus x Saduceus dos sinóticos (Mt 22.30; Mc 12.25; Lc 20.35).
1.2 Comentaristas a favor da continuidade escatológica do casamento
Ben Witherington10 faz sua contribuição em seu comentário de Marcos. Ele
não interpreta as palavras de Jesus como um rompimento do casamento atual, mas
9 LUZ, Ulrich. Evangelio Segun San Mateo. 336-‐343. 10 WITHERINGTON, Ben. The Gospel of Mark: A Socio-‐ Rhetorical Commentary” p. 328-‐329.
Tradução minha.
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relacionada apenas ao contexto específico da passagem, segundo ele o casamento de levirato. A parte chave para entender o texto é notar o que Jesus não disse. Para Witheringhton, Jesus não disse que não haverá casamento na era porvir.
Na argumentação desse autor o uso dos termos "γαμουσιν" (gamousin) e
"γαμιζονται" (gamizontai) são importantes pois se referem aos papéis específicos da sociedade judaica antiga, no processo de um homem se casar com uma mulher. O homem, tendo a iniciativa do processo numa cultura patriarcal, “casa”, enquanto a mulher é “dada em casamento” pelo seu pai ou algum membro mais velho da família.
Witheringhton salienta também que Marcos está dizendo que os novos
casamentos não serão iniciados no estado escatológico. Isso difere daqueles que creem que todos os casamentos existentes irão desaparecer no estado escatológico, mas também fecha a porta para novos casamentos e o mandato cultural “sede fecundos e multiplicai-‐vos”. Para esse autor Jesus parece argumentar contra uma visão bem específica defendida pelos Saduceus sobre a continuidade entre essa vida e a porvir, a saber, a continuidade de casamentos praticados sob a lei do levirato.
Ele assevera que na era escatológica existirão seres que não serão mais
capazes de morrer. O casamento de levirato existe precisamente por causa da morte. Quando, enfim, não houver mais morte, a razão para o levirato também termina. Haverá continuidade dos casamentos feitos aqui na terra, não haverá, contudo, novos casamentos na ressurreição.
John Kilgallen 11 comentando o texto de Lucas segue essa mesma linha
exegética de Witheringhton e adiciona que a resposta de Jesus se adapta aos pontos da estrutura do problema que os Saduceus levantaram. Ele os deixa determinar os limites dentro dos quais ele os responde. Kilgallen sustenta que esse é um princípio cardeal pelo qual as palavras de Jesus devem ser entendidas. O Senhor mostra como os Saduceus confundiram profundamente a natureza da vida
11 KILGALLEN, John. “The Sadducees and the Resurrection from the Dead: Luke 20:27-‐40” Biblica
67:4, 1986, p. 479-‐487. Tradução minha, cf. ______. A Brief Commentary on the Gospel of Luke. New Jersey: Paulist Press, 1988, p.195
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na era por vir. Ele prova isso ao por sua atenção precisamente na questão dos Saduceus e, então, desfaz totalmente seu pressuposto. Ele prefere corrigir essa confusão em vez de determinar qual dos sete homens será o marido da mulher.
Partindo do contexto judaico o autor afirma que a morte lida com a extinção
do nome do homem, da sua família, de seu patrimônio. E um dos principais significados do casamento na antiguidade era que “ele oferecia o impedimento do efeito destrutivo da morte.” A lei do Levirato foi desenvolvida em particular para evitar essa consequência dolorosa da morte. É contra isso que o próprio Jesus responde, a era vindoura é caracterizada apenas pela vida, não há morte, logo o casamento continua, o levirato não.12
Joel Green13 em seu comentário de Lucas também segue a linha de que Jesus
não aboliu a ideia de casamento na ressurreição, mas com uma argumentação diferente dos dois primeiros. Ele explica o texto fazendo três contrastes: 1. Dois tipos de “filhos”; 2. Dois tipos de tempo; 3. Duas visões de casamento.
Em primeiro lugar vem os “filhos desta era” (Saduceus), e os “filhos da
ressurreição” (Jesus). Os Saduceus são chamados de filhos desta era porque acreditam na durabilidade da vida através de um progenitor, garantida pela lei do casamento de levirato. Por outro lado, Jesus afirma que existem outros filhos, os “filhos de Deus” ou “filhos da ressurreição”, aqueles que não dependem dos esforços e leis humanas, pois eles alcançam a vida após a morte por meio da ressurreição (poder de Deus).
Segundo, existem duas noções de tempo (aeons). Uma que sempre é
dependente da era presente, o outro da vindoura. Os Saduceus não acreditam nem na vida após a morte, muito menos numa ressurreição corpórea; para eles só resta o fim. Entretanto, na era vindoura os filhos da ressurreição serão como os anjos, não no sentido de não ter sexualidade, mas de não passar pela realidade da morte.
12 Existem outros autores que defendem apenas a abolição do casamento de levirato. Dois bastante
conhecidos são: FIORENZA, E. Schussler Fiorenza. In Memory of Her. New York, 1984, 144; MYERS, Ched. Binding a Strong Man: A Political Reading of Mark’s Story of Jesus. Maryknoll, 1998, 314-‐317. 13 GREEN, Joel. The Gospel of Luke: The New International Commentary on New Testament. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1997, p. 717-‐722.
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Terceiro, duas visões de casamento. A primeira está alinhada com as
necessidades da presente era; pessoas que participam do sistema defendido pelos Saduceus baseado na legislação do levirato, no qual mulheres são dadas e tomadas em casamento como veículos para a continuação da família e da herança. Já a outra, da era porvir, está fundamentada na ética da ressurreição, na qual pessoas são semelhantes a anjos, no sentido de que não enfrentam mais a morte. Sem ter que lidar com a morte, a necessidade do levirato é apagada.
Green afirma que o enfraquecimento da lei do levirato é por si só uma
crítica radical do casamento como este foi definido em torno da necessidade de procriação. Nunca mais as mulheres precisarão encontrar seu valor gerando filhos para simples patrimônio. Jesus acaba com qualquer tentativa de réplica dos Saduceus, pois desfaz todas as suas premissas, a principal, negar a vida após a morte. Green não é tão claro quanto poderia ser, mas em suas palavras fica implícito que ele crê na continuidade do casamento escatológico.
Mais recentemente, Héber Campos 14 fez uma leitura diferente das
anteriores. Ele também defende a continuidade do casamento, mas não se limita apenas aos matrimônios feitos aqui na terra como Witherington e Kilgallen15. Para Campos, quem não casou poderá ter oportunidade de casar e procriar, pois há uma continuidade não apenas do casamento, mas de todo o mandato cultural de Gênesis 1-‐2. A grande diferença de Campos para com as demais alternativas continuístas é que ele não interpreta a resposta de Jesus para os saduceus a partir da noção de levirato, mas de sua análise especial da palavra “ressurreição”. Campos defende que o único ambiente em que o casamento foi negado por Jesus é o “céu”, lugar intermediário onde a Igreja permanecerá provisoriamente até a ressurreição e restauração do cosmos. Como essa abordagem é a mais destoante das demais, apresentaremos um breve esboço do argumento em um capítulo a parte.
14 Material ainda não publicado. 15 A posição de Joel B. Green não fica clara, portanto não é possível fazer nenhuma dedução de seu
pensamento.
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2. UMA NOVA LEITURA DA CONTROVÉRSIA
A posição deste artigo segue mais de perto a estrutura argumentativa
continuísta de Héber Campos e se aproveita das demais colaborações teológicas para fortalecer a tese de que haverá casamento no Novo Céu e Nova Terra. Primeiramente, alguns elementos do contexto histórico e literário da passagem são fundamentais para a compreensão do texto. De fato, o contexto histórico e literário dos sinóticos sugere que os saduceus não tinham nenhuma intenção de tirar dúvidas sobre casamento na ressurreição com Jesus. Pelo contrário, eles desejavam a morte de Jesus (Jo 11.47-‐53).
2.1 A intenção de Jesus e dos Saduceus
John MacArthur16 afirma que a maioria dos membros do Sinédrio eram
saduceus. Praticamente todos os líderes políticos a favor da dominação romana eram Saduceus — o que os tornava impopulares diante do povo. Eles tinham muito poder e influência. Eram homens ricos que compravam e vendiam toda sorte de coisas para a sustentabilidade do seu próprio poder. Eles acreditavam que o corpo e a alma saíram da existência na morte, sem punições e sem recompensas, sem futuro, nada, apenas a não-‐existência.
A intenção deles ao fazer aquela pergunta enquanto Jesus ensinava no
templo era óbvia: desacreditá-‐lo diante dos judeus. Por qual razão? A mais provável é a de que Jesus acabou interrompendo seus “negócios”. No dia anterior Jesus havia limpado o templo, expulsou os cambistas, jogou fora todos os bens dos compradores e vendedores. Em outras palavras, Jesus invadiu o território dos Saduceus.
Eles viram as multidões chegando em torno de Jesus. Eles assistiram
quando ele entrou na cidade e as pessoas atiraram ramos de palmeira a seus pés e o saudaram como o Filho de Davi, o Messias, o Salvador, o Rei. Os Saduceus
16 MACARTHUR, John. The God of Living. Para conferir o artigo na íntegra:
Acesso em 30 de Março de 2015.
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provavelmente se sentiram vulneráveis diante de uma possível revolução contra Roma — e contra eles mesmos.
A intenção deles, portanto, é convencer Jesus de que não há vida após a
morte utilizando um enigma razoavelmente inteligente sobre casamento. Por esta razão, o propósito maior de Jesus nesse texto é convencê-‐los que há sim vida após a morte, pois Deus é Deus de Abraão, Isaque e Jacó, Deus de vivos e não de mortos (Mt 22.32). A resposta de Jesus é direta ao problema dos saduceus, pois eles apenas criam em uma parte do Antigo Testamento, a Torah, exatamente os cinco livros que narram as histórias de Abraão, Isaque e Jacó. Jesus está afirmando que os personagens principais que compõe a Revelação dos saduceus estão, neste exato momento, vivos e não mortos, isto é, eles não conhecem a “sua” própria Escritura.
Tendo esclarecido o contexto, necessário é analisar o sentido em que Jesus
emprega a palavra “ressurreição”.
2.2 O Sentido não convencional da expressão “ressurreição”
A proposta de Campos é a de que os termos escatológicos usados na
passagem — “ressurreição”, “era vindoura”, “céu”, — não tem nenhuma importância ou diferença para os saduceus, pois eles categoricamente não criam em nenhuma possibilidade de vida após a morte (At 23.8).
N. T. Wright 17 afirma que as razões para os saduceus não crerem em
nenhuma noção de vida após a morte são duas. Primeira, eles insistiam que as tradições não continham essa doutrina “ultramoderna” e que ressurreição não era um pensamento vindo da Torah. Segundo, a ressurreição era uma doutrina revolucionária, que tinha a ver com crenças firmemente mantidas sobre o clímax da história de Israel. Era exatamente o tipo de coisa que, do ponto de vista Saduceu, apenas fariseus de classe baixa e inquietos abraçariam para sustentar seus sonhos revolucionários sobre a derrubada da ordem existente e o estabelecimento do reino de Deus. O objetivo deles era negar uma doutrina que
17 WRIGHT, N. T. Christian Origins and the Resurrection of Jesus: The Resurrection of Jesus as a
Historical Problem. Sewanee Theological Review 41.2, 1998.
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lhes parecia (e com razão) representar uma ameaça para a sobrevivência de seu poder dentro da ordem atual.
Em segundo lugar, Jesus não utiliza a palavra “ressurreição” em seu sentido
convencional (Jo 6.39). Esse é um ponto crucial a ser notado nos três sinóticos. A palavra ressurreição em todo o Novo Testamento se refere ao retorno de Jesus, quando ao som da última trombeta os mortos ressuscitarão para viverem unidos a Cristo no Novo céu e nova terra (1Co 15.52). Diferente deste uso, Jesus utiliza a palavra ressurreição a fim de provar que, embora no corpo Abraão, Isaque e Jacó estejam mortos, com Deus eles permanecem vivos.18
Ora, é certo que Abraão, Isaque e Jacó ainda não participaram da
ressurreição do corpo, mas estão vivos com suas almas na presença de Deus. Jesus utiliza a expressão ressurreição livremente apenas para dizer que eles estão vivos, sem dar a devida importância geográfica dos personagens, isto é, o “lugar-‐estado intermediário” (céu) ou no “lugar-‐estado final” (NCNT).
Wright esclarece que na época de Jesus já havia essa noção de um lugar
intermediário entre a morte e a ressurreição do corpo. Os mortos, ou pelo menos os justos mortos, foram pensados para continuar a viver, antes da sua ressurreição em um estado comparável ao dos anjos ou espíritos. Neste contexto, para além dos vários textos judeus não-‐cristãos, é interessante observar a passagem de Atos que aponta precisamente nesse sentido. Em Atos 12 a empregada Rode ouve Pedro batendo na porta e, em vez de abrir a porta, ela corre e diz ao grupo reunido. Eles dizem que, curiosamente, "Deve ser o seu anjo." Eles assumem que Pedro foi executado na prisão, entrou no estado desincorporado entre morte e ressurreição e seu anjo veio visitá-‐los. Meu ponto aqui é que os judeus nesse período tinham ideias razoavelmente bem desenvolvidas sobre um estado intermediário, ou pelo menos uma gama de conceitos e vocabulário à mão para se referir a ele19. No evangelho de Lucas parece bem claro que este é o significado das expressões “Seio de Abraão”(Lucas 16.22-‐23) e o “Paraíso” que esperava o ladrão 18 Um comentarista apoia a ideia de que o fato de Abraão, Isaque e Jacó estarem vivos diante de
Deus significa “ressuscitados”: SCHWANKL, Otto. Die Sadduzaerfrage. Mk 12.18-‐27, 1987, BBB 66, p. 404. 19 WRIGHT, 1998,
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crucificado que se arrependeu ao lado de Jesus. Portanto, Jesus não está usando o termo ressurreição em paralelo com a ideia de ressurreição do corpo, faz mais sentido entender que ressurreição está conectada, aqui, com uma existência como a dos anjos num lugar provisório; desta forma, Jesus não traz nenhum ensino quanto a descontinuidade do casamento no habitat futuro.
2.3 O significado da expressão: “serão como anjos no céu”
Em terceiro lugar, tendo feito toda a interpretação do texto até aqui, é
fundamental entendermos adequadamente a frase dita por Jesus em Mt 22.30: “na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu.” É um texto muito difícil de interpretar, vejamos alguns pontos:
Primeiro, Jesus utiliza a palavra ressurreição para afirmar que seremos
como os anjos no céu. Entretanto, na escatologia reformada não funciona assim — muito menos no Novo Testamento. Na ressurreição os crentes terão corpos físicos glorificados, já os anjos são seres incorpóreos, eles simplesmente podem assumir uma forma, que de qualquer jeito não é essencial a eles como é a nós humanos.
Segundo, de fato, Jesus não está dizendo nenhuma heresia. A melhor
maneira de entender o texto é que o Mestre usa a palavra ressurreição novamente apenas no sentido de “vida após a morte”, em paralelo com a expressão “era vindoura”. Isso ganha um peso maior quando ele adiciona a palavra “céu”.
Terceiro, na escatologia bíblica o céu não é o lugar final para onde vai o
povo de Deus, mas o lugar intermediário onde ficam apenas as almas dos crentes que esperam a ressurreição do corpo. O que deduzimos das palavras de Jesus é que não haverá casamento, sexo ou procriação no “céu” porque lá não existe contato físico, estaremos sem os nossos corpos, como poderia haver relações sexuais? Impossível. No entanto, no NCNT estaremos com os nossos corpos novamente, homens e mulheres, e ali, nós cremos que não haverá impedimento nenhum para casar, ter relações sexuais e dar à luz a filhos e filhas.
3. RESPOSTAS ÀS DEMAIS HIPÓTESES CONTRÁRIAS
A controvérsia entre Jesus x Saduceus é certamente a passagem mais
decisiva no debate entre continuítas e descontinuístas em relação ao casamento
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escatológico. Contudo, existem pelo menos seis argumentos a mais defendidos por alguns descontinuístas. A seguir uma relação com um breve resumo delas.
(1) Antes de criar o casamento Deus percebeu um problema com Adão. Ele
se sentia solitário, e por isso, necessitava de uma companheira. A conclusão dessa afirmação é a de que a razão primeira para o casamento foi a solidão do homem. Note como o autor do artigo expõe a questão: Eve was the solution to the problem of Adam’s loneliness, as well as his need for a “helper,” someone to come alongside him as his companion and go through life by his side. In heaven, however, there will be no loneliness, nor will there be any need for helpers. We will be surrounded by multitudes of believers and angels (Revelation 7:9), and all our needs will be met, including the need for companionship.20
(2) Outro objetivo que Deus tinha em mente ao instituir o casamento foi a
procriação. Tendo completado o número de salvos no livro da vida, não haveria mais necessidade de procriação. E se não há necessidade de procriação, logo não há razão para a continuidade do casamento21;
(3) Há um consenso entre alguns Pais da Igreja e teólogos hodiernos de que
os corpos dos crentes quando ressuscitados e glorificados continuarão com as mesmas diferenças de gênero, macho e fêmea, porém, pelas razões 1 e 2 Alcorn argumenta que não haverá mais contato sexual entre homem e mulher: I think that the components of our sexuality that make us distinctly male and distinctly female are things that we have every reason to believe would carry over to our new bodies. The very fact that we are eating and drinking suggests stomachs and digestive systems strongly, I would think. And so just as we would have our organs that help our bodies function in the distinct ways that they do, we could still have our sexual organs without having the sexual desires but having still the sexuality that defines us as male and female22. 20 Disponível em: http://www.gotquestions.org/marriage-‐heaven.html#ixzz3dpCRtuFa -‐ Acesso
em 10 de Fevereiro de 2015. 21 Ibid. 22 Disponível em: http://www.desiringgod.org/interviews/sex-‐in-‐heaven Acesso em 10 de
Fevereiro de 2015.
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(4) Alcorn afirma que nosso relacionamento será perfeito com Cristo no
“céu”. Por causa disso, a metáfora do matrimônio entre Cristo, isto é, o nosso casamento com o Senhor, será tão pleno que não haverá necessidade para outro casamento23;
(5) Outro argumento para descontinuidade do casamento escatológico é a
suposta falta de registros do pensamento continuísta na história da Igreja. Alguns afirmam que nenhum personagem na história do cristianismo levantou essa perspectiva, logo, essa forma de pensar é uma novidade sem base histórica;
(6) O último argumento levantado popularmente é parecido com o dos
Saduceus para Jesus. Caso uma viúva tenha alguém se casado novamente ou outra pessoa legitimamente tenha divorciado e casado novamente nesta vida, com quem tal pessoa estará casada no NCNT?
Lidar com este assunto não é uma tarefa tão fácil, e não há muitos recursos
escriturísticos para tomarmos como base, todavia, existem problemas sérios na maioria dos argumentos defendidos pelos descontinuístas.
1. PECADO ANTES DA QUEDA? A primeira hipótese contrária à
continuidade do casamento no NCNT tem sérios problemas. Essa interpretação está baseada em Gênesis 2.18: “não é bom que o homem esteja só”. Porém, o pressuposto deste argumento é o de que há uma consequência do pecado antes da própria queda, a saber que Adão era um homem solitário.
A solidão é uma consequência direta da queda, por isso não poderia haver
solidão antes do pecado. O texto bíblico não diz que Adão se sentia solitário — seria muito estranho sentir-‐se solitário na presença de Deus. O que na verdade ele tinha era uma necessidade de complementaridade, alguém que lhe correspondesse, o que aliás é necessidade antes da queda, depois da queda e inclusive na glorificação.
O primeiro homem criado tinha o próprio Deus em sua companhia, mas
mesmo assim, Deus o fez com o propósito de constituir uma família, por isso a mulher entra como o ponto chave da criação da raça humana. Qual seria a razão
23 ALCORN, Randy. Heaven, p. 336.
14
para Deus retirar o seu projeto inicial da criação — casamento — do projeto final da restauração?
2. CASAMENTO APENAS PARA PROCRIAÇÃO? A segunda hipótese contrária
tem um lado verdadeiro. Deus realmente designou o casamento para procriação. Contudo, afirmar que esse foi o propósito principal de Deus para o casamento é reduzir toda a beleza e glória do casamento. O que dizer dos casais que não tem filhos? Qual seria a razão para permanecerem casados? Outro questionamento a ser levantado é: Deus inspirou Salomão a escrever o livro de Cânticos dos Cânticos para defender a procriação? A resposta mais sensata é que Deus projetou o casamento para a alegria e complementaridade humana. A procriação é uma das formas do casal experimentar tal alegria e fertilidade na terra. Além disso, é comum por parte dos continuístas deixarem para trás o texto de Isaías 11.8: “A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco.” É interessante que no capítulo 11 o profeta Isaías descreve justamente o Novo Céu e a Nova Terra. Como podem existir crianças de peito no habitat final do povo de Deus? Nosso argumento é que Deus não vai anular o mandato cultural, pelo contrário, a terra continuará a se encher de filhos, não mais nascendo no pecado, e sim já glorificados.
3. ORGÃOS GENITAIS DESNECESSÁRIOS? Outra hipótese contrária e ao
nosso ver incoerente é a preservação dos gêneros sexuais diferentes sem o contato sexual. Os defensores da descontinuidade do casamento asseveram que continuaremos sendo homens e mulheres, mas sem contato sexual. Esse é um ponto que certamente não faz sentido. Os órgãos sexuais masculino e feminino são complementares entre si, Deus os criou exatamente para o sexo, prazer e procriação. Dizer que há continuidade de gêneros e anatomia corporal sem o contato sexual é uma afirmação sem base teológica e biológica.
4. O CASAMENTO PREJUDICA NOSSA SATISFAÇÃO EM CRISTO? A quarta
hipótese traz dentro de si uma verdade gloriosa: Cristo nos satisfará por completo porque de uma forma misteriosa estaremos perfeitamente unidos à ele, como um casamento, sendo uma só carne. Por outro lado, esta hipótese salienta que devido a plenitude de nossa relação com Cristo, não haverá mais a necessidade do homem
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se completar com a mulher. Isso não faz sentido com o ensino geral das Escrituras, por pelo menos quatro razões: (1) Antes do pecado, Adão e Eva tinham necessidades de mútua complementaridade; (2) O casamento, sexo e procriação fazem parte de um mandato do próprio Deus para a humanidade antes do pecado; (3) O casamento em todo escopo das Escrituras é uma maneira nobre de experimentar e glorificar a Deus; (4) Há um livro inteiro no cânon — Cântico dos Cânticos — que exalta o amor conjugal ilustrando o amor de Cristo por nós.
O casamento não prejudicará nosso “casamento” com Cristo, antes,
aumentará o seu brilho. Não faz sentido Deus se valer de uma metáfora Cristo x Igreja que não existirá mais. Deus só utilizou dessa metáfora na história humana por causa de sua realidade cotidiana. No Antigo e Novo Testamentos ter uma relação com Deus é como trata-‐lo como o marido, provedor e maior amor da vida. Acabando a realidade do casamento entre homem e mulher, não haverá mais razão para referir-‐nos a Cristo como nosso marido. Sem a realidade do casamento a metáfora Cristo x Igreja morre. Deus não criou o casamento porque o homem precisava de uma companheira para não sentir-‐se solitário. Adão experimentava a presença de Deus sem a influência do pecado — semelhante ao que acontecerá conosco no NCNT! Deus criou o casamento enquanto Adão já era feliz. O propósito do casamento não é a felicidade, mas a complementaridade, pois a felicidade humana não pode ser encontrada em casamentos, e sim no próprio Deus. Jesus ensinou muito bem esse princípio à mulher samaritana que tivera 5 maridos e cada vez mais sede de amor. Se Deus criou o casamento antes da queda e da morte, por que ele, então, mudaria seu plano para o habitat restaurado que também não terá a presença do pecado? Pelo fato de Deus criar o casamento antes da morte, faz sentido afirmar que ele criou o matrimônio para não ter fim.
5. O CASAMENTO ETERNO NA HISTÓRIA DA IGREJA. A quinta maneira de
negar a continuidade do casamento através da falta de registros na história da Igreja é falsa. Existem vários personagens na história da Igreja que defenderam a ideia do casamento como uma aliança interminável.
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John Meyendorff, acadêmico da Igreja Ortodoxa, embora não adote a interpretação reformada sobre o casamento, nem faça uma exegese profunda do texto, interpreta a controvérsia Jesus x Saduceus em termos de uma “não carnalidade”. Para ele o próprio Senhor disse que quando eles ressuscitarem dos mortos, nem casam, nem são dados em casamento, mas são como os anjos no céu (Marcos 12.25). Para Meyendorff, essa passagem não deve ser entendida implicando que o casamento cristão não será mais realidade no Reino futuro, mas certamente isso aponta para o fato de que os relacionamentos humanos não serão mais “carnais”24, esse para ele é o sentido de ser como os anjos no céu. Meyendorff é só uma das vozes da Igreja Ortodoxa, a qual em seus documentos oficiais define o casamento da seguinte forma:
According to Christ, in order for the love of a man and woman to be that which God has: perfectly created it to be, it must be unique, indestructible, unending and divine. The Lord himself has not only given this teaching, but he also gives the power to fulfill it in the sacrament of Christian marriage in the Church. In the sacrament of marriage, a man and a woman are given the possibility to become one spirit and one flesh in a way which no human love can provide by itself. In Christian marriage the Holy Spirit is given so that what is begun on earth does not “part in death” but is fulfilled and continues most perfectly in the Kingdom of God.25
Três partes importantes da definição dos ortodoxos: 1. O casamento foi
criado para não ter fim; 2. O casamento não termina na morte; 3. O casamento é cumprido e continua mais perfeito no Reino de Deus. Diante desse documento antigo da história da Igreja, não há o que argumentar. Em um fórum de discussões sobre esse assunto, alguns ortodoxos 26 defendem a visão de continuidade do casamento argumentando que o estrato mais
24 MEYENDORFF, John. Marriage: An Orthodox Perspective. Crestwood: St. Vladimir’s Seminary
Press, 1970, p.57. 25 Veja o documento por completo: Acesso em 30 de Março de 2015. 26 A opinião desses ortodoxos foi retirada do seguinte forum:
Acesso em 6 de Abril de 2015.
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antigo da Tradição, tanto no Oriente como no Ocidente viu o casamento como um vínculo eterno que transcende a morte.
Eles afirmam que foi por causa da doutrina do casamento escatológico que a
Igreja primitiva se recusou a abençoar o segundo casamento, por qualquer motivo. No Oriente, até o século 9, a Igreja não abençoou o segundo casamento, mas o casamento civil estava disponível para aqueles que queriam casar-‐se novamente após o divórcio ou viuvez, e a Igreja preferiu se concentrar na reintegração aqueles que fizeram no Corpo de Cristo. No Ocidente, com o colapso da autoridade civil, a Igreja tornou-‐se o regulador de fato do casamento. No século 9, o Imperador Leo VI aboliu o casamento civil e fez a Igreja responsável por todos os aspectos do casamento. Por isso a Igreja teve de lidar com os aspectos sociais e legais do casamento, bem como o aspecto sacramental. Ela teve de reconhecer que os casamentos se quebram, e que homens e mulheres podem sentir a necessidade de voltar a casar, após o divórcio ou viuvez. Mas isso não comprometeu sua compreensão do matrimónio cristão como sacramento que perdura na história. A solução de compromisso foi o "Rito do segundo casamento", aberto a todos aqueles que são viúvos e as partes inocentes em um divórcio, que não era sacramental, mas meramente contratual, e altamente penitencial na natureza. Não há coroação, não há dança de Isaías, não há vedação com a Eucaristia. Na verdade, aqueles que se casam novamente são excluídos da comunhão por um período de 3-‐ 5 anos, que em si significa que as segunda cerimônia de casamento não é sacramental.
Embora existam diferenças entre a opinião Ortodoxa e a Reformada,
especialmente pela primeira considerar o casamento como um sacramento, os princípios que sustentam a posição da Igreja Ortodoxa estão de acordo com o escopo geral das Escrituras.
Na Igreja Católica Romana também existem posições diferentes. Dr. Raniero
Cantalamessa 27 , padre franciscano, publicou em um artigo que aqueles que 27 Leia o artigo na íntegra em: Acesso
em 30 de Março de 2015.
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defendem o não casamento no céu cometeram um erro. Em sua interpretação do texto sinótico o que Jesus está rejeitando é a caricatura que os Saduceus pintaram do céu, como se fosse uma simples continuação do relacionamentos que tinham com suas esposas. Jesus não exclui a possibilidade de que será possível redescobrir em Deus o vínculo que os uniu na terra.
Para Cantalamessa o casamento não chega a um término na morte, mas é
transfigurado, espiritualizado, livre de limites que marcam a vida na terra, como também os laços entre pais e filhos ou entre amigos não será esquecido. Para ele o casamento é parte da vida, assim será transfigurado, não anulado.
Por outro lado, o padre John Diezten afirmou que não haverá vida de casado
no céu.28” Citando o papa Pio XII, ele diz que embora o casamento não continuará no céu, o amor de casados sim. Para ele isso significa que no céu haverá intimidade consciente e comunhão com aqueles que eram especiais para nós aqui na terra. Isso também vale para os casais que se amaram aqui na terra; eles continuarão se amando de um jeito diferente no céu.
6. CASADOS COM QUEM? Talvez, depois de uma exegese da controvérsia
entre Jesus x Saduceus, essa seja a pergunta mais difícil de responder. Com quem estará casado aquele que se casou mais de uma vez legitimamente? Muitas teses tem sido propostas: 1. A primeira esposa(o); 2. A pessoa mais amada; 3. Marido escolhe uma e as demais podem casar novamente. São várias as opções, mas nenhuma delas pode alcançar a verdade ou descortinar o mistério que nos aguarda. O mais sábio a fazer é responder como Jesus: que uma dúvida como essa não nos deve fazer perder de vista a ressurreição dos mortos e o poder de Deus. Ele certamente colocará todos os relacionamentos em ordem e fará tudo para a sua glória e alegria de seu povo.
28 Para ler o artigo na íntegra veja:
Acesso em: 30 de Março de 2015.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi analisar os principais argumentos daqueles
que defendem a descontinuidade do casamento no habitat futuro do povo de Deus e apresentar a tese de que faz mais sentido com totalidade da Escritura crer na continuidade do casamento no habitat restaurado que conhecemos por Novo céu e Nova Terra. E após apresentar nossa tese, as hipóteses contrárias e tê-‐las respondidas, segue algumas considerações finais a partir da hipótese de que haverá casamento, sexo e procriação no habitat escatológico.
Deus criou o casamento, o sexo, a família e a procriação antes da queda. Da
mesma forma o NCNT será uma realidade de descontinuidade com o pecado. Em toda Escritura não há sinais de pecado e mancha no casamento, sexo, e no ato de constituir família e gerar filhos. Logo, não há razão para pensar que o casamento será descontinuado.
Os elementos do casamento supracitados fazem parte do mandato cultural,
também pré-‐queda e que em nenhuma parte das Escrituras parece ter sido anulado;
Deus criou o ser humano como macho e fêmea com seus respectivos
gêneros sexuais e nada indica que deixaremos de ser macho e fêmea no NCNT. Por que continuar com tais diferenças na ressurreição do corpo sem a presença do casamento, sexo e procriação? O propósito de Deus só pode ser o de continuar a aliança de complementaridade entre homem e mulher eternamente.
Deus não criou o casamento visando seu término ou uma separação, pelo
contrário, no seu estabelecimento ainda não havia a consequência penal do pecado: a morte. Por esta razão, a Escritura sugere que o casamento foi criado para não ter fim.
A metáfora do casamento foi criada para ilustrar a relação santa de Deus
com seu povo de Gênesis à Apocalipse. Não faz sentido Deus empregar uma metáfora tão santa com o propósito de descontinuá-‐la no habitat perfeito do NCNT. A metáfora santa do casamento só terá sentido com Cristo no habitat perfeito se ainda existir a possibilidade de casar, ter relações sexuais e procriar.
Além do controverso texto nos sinóticos entre Jesus e os Saduceus que já foi
pormenorizado acima, não há nenhuma referência bíblica que apoie a
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descontinuidade do casamento no NCNT. Jesus não queria dar uma aula sobre casamento após a morte e sim provar que há vida após a morte, assim o texto ganha um sentido em consonância com todo o ensino geral das Escrituras sobre o casamento, que é algo bom, santo e instituído por Deus.
Por essas razões e o apoio geral do cânon escriturístico concluímos que
haverá continuidade daquilo que conhecemos por casamento também no habitat restaurado. Essa continuidade deve ser entendida pela Igreja de Deus como uma grande bênção, prazer e consolo, especialmente àqueles que já desfrutam de um casamento repleto de alegria.
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